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INTERPRETAÇÃO DOS CONTRATOS 3.1 Conceito e extensão Toda manifestação de vontade necessita de interpretação para que se saiba o seu significado e alcance. O contrato origina-se de ato volitivo e por isso requer sempre uma interpretação. Nem sempre o contrato traduz a exata vontade das partes. Muitas vezes a redação mostra-se obscura e ambígua, malgrado o cuidado quanto à clareza e precisão demonstrado pela pessoa encarregada dessa tarefa, em virtude da complexidade do negócio e das dificuldades próprias do vernáculo. Por essa razão não só a lei deve ser interpretada, mas também os negócios jurídicos em geral. A execução e um contrato exige a correta compreensão da intenção das partes. Essa se exterioriza por meio de sinais ou símbolos, dentre os quais as palavras. Interpretar o negócio jurídico é, portanto, precisar o sentido e alcance do conteúdo da declaração de vontade. Busca-se apurar a vontade concreta das partes, não a vontade interna, psicológica, mas a vontade objetiva, o conteúdo, as normas nascem da sua declaração. 3.2 Princípios básicos Dois princípios hão de ser sempre observados, na interpretação do contrato: o da boa-fé e o da conservação do contrato. No tocante ao primeiro, deve o intérprete presumir que os contratantes procedem com lealdade e que tanto a resposta como a aceitação foram formuladas dentro do que podiam e deviam eles entender razoavelmente, segundo a boa-fé (artigo 422, CCB). Já o segundo, tem o seguinte significado: se uma cláusula contratual permitir duas interpretações diferentes, prevalecerá a que possa produzir algum efeito, pois não se deve supor que os contratantes tenham celebrado um contrato carecedor de qualquer utilidade. 3.3 Regras esparsas Além do que prevê os artigos 112, 113 e 114, todos do Código Civil Brasileiro, há outros artigos esparsos no Código Civil e em leis especiais, estabelecendo regras sobre interpretação de determinados negócios: quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente (artigo 423, CCB); a transação interpreta-se restritivamente (artigo 843, CCB); a fiança não admite interpretação extensiva (artigo 819, CCB); sendo a cláusula testamentária suscetível de interpretações diferentes, prevalecerá a que melhor assegure a observância da vontade do testador (artigo 1899, CCB). 3.4 Interpretação dos contratos no Código de Defesa do Consumidor O Código de Proteção e Defesa do Consumidor, em seu artigo 47, prevê que: “as cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor”. A excepcionalidade decorre de previsão específica do rol dos direitos fundamentais, como disposto no artigo 5.º, XXXII, combinado com o artigo 170, V, da Constituição Federal. 3.5 Critérios práticos de interpretação dos contratos Algumas regras práticas podem ser observadas no tocante à interpretação dos contratos: a) a melhor maneira de apurar a intenção dos contratantes é verificar o modo pelo qual o vinham executando, de comum acordo; b) deve-se interpretar o contrato, na dúvida, da maneira menos onerosa para o devedor (in dubiis quod minimum est sequimur); c) as cláusulas contratuais não devem ser interpretadas isoladamente, mas em conjunto com as demais; d) qualquer obscuridade é imputada a quem redigiu a estipulação, pois, podendo ser claro, não o foi (ambiguitas contra stipulatorem est); e) na cláusula suscetível de dois significados, interpretar-se-á em atenção ao que pode ser exeqüível (princípio da conservação ou aproveitamento do contrato). 3.6 Interpretação dos contratos de adesão O novo Código Civil estabeleceu regras de interpretação dos contratos de adesão, regras estas previstas em seus artigos 423 e 424, in verbis: “Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente.” “Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente a direito resultante da natureza do negócio.”
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