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TROTSKY, Leon. A História da Revolução Russa, v. 2

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Un1 
Testemunho 
Autentico 
Pela pnme1ra veL. na hist6na das revolur;oes 
que transformaram o mundo, um dos seus 
lideres de1xa para a Hist6ria seu testemunho. E 
o fal de maneira inteligente. ousada. dominan-
do o fato e o processo que lhe deram causa, 
numa analise profunda e nota vel de acuidade e 
percepr;iio da importancia da Revolur;ao de 
Outubro de 1917. 
A Hist6rta do Revolucoo Ruua. de Leon Trols-
k)', nao consutu1 um desenrolar de fatos e da-
tas t um livro de tese. t um livro de interpre-
tar;iio poliuca e soc1ol6g•ca. t o hvro de um 
ob ervador e psic61ogo prof undo, que nos da o 
quadro revolucionano e a personahdade dos 
homens-desllno da Revolur;iio de 1917. Eo li-
vro de um homem que niio conheceu o medo 
dos m1tos e das coisas estabelecidas. 
Um hvro delin1l1vo. "Uma obra imparcial: isto 
c. racional , objetiva, Clentilica", no dizer do 
M irroir de /'II inoire. 
Por ~ua vez, The Times Literary Supplement 
co menta: 
" A 1/imirta da Re1·olucoo Russo e descrita por 
Mall Eastman como a primeira hist6ria cientl-
fica de um grande acontecimento ... escrita por 
um homem 4ue desempenhou um papel domi-
nante nele Escrita no edlio mais de dez anos 
A H I"S T 0 RIA D A 
REVOL U<;AO R USSA 
Cole~iio PEN SAM ENTO CRITICO 
Vol. II 
Ficha catalogn\fica 
( Preparada pelo Centro de Cataloga~iio-na-fonte do 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ) 
T772h 
76-0609 
Trotsky, Leon, 1879-1940. 
A His tori ada Revolu~iio russa; tradu~iio de E. Huggins. 
2.ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1977. 
Jv. {Pcnsamento critico, v. 11) 
Do original em ingles: The history of the Russian Revo-
lution 
Apendices 
Conteudo.- v.l. A queda do tzarismo.- v.2. A tentativa 
de contra-revolu~iio. - v.3. 0 triunfo dos sovietes 
I. Russia- Hist6ria- Revolu~iio, 1917-1921 I. Titulo II. 
serie 
COD - 947.084 
CDU- 947"1917/1921" 
EDITORA PAZ E TERRA 
Conselho Editorial 
Antonio Callado 
Celso Furtado 
Fernando Henrique Cardoso 
LEON TROTSKY 
A HIST6RIA DA 
REVOLU<;AO R USSA 
TRADU~AO DE E. HUGGINS 
8IICJtrJiiDO VOL11MJII 
Paz e Terra 
© Copyright by The University of Michigan Press, 1932. 
Titulo do original em ingles: 
The History of the Russian Revolution 
Montagem da capa: Mario Roberto Correa da Silva 
(sobre original de Maria Luisa Campelo) 
Dircitos desta ediciio adquiridos pela 
EDITORA PAZ E TERRA S.A. 
Rua Andre Cavalcanti, 86 
Rio de Janeiro, RJ, 
que se reserva a propriedade desta traduclio. 
1977 
lmpresso no Brasil 
Primed in Brazil 
Segundo Volume 
A TENTATIVA 
DE CONTRA-REVOLU<;AO 
~~.~ 
~·w 
~ ... 0 
z~. 
--l<o: ~UJ:S: 
<i.i'<( 
<.<J-~ 
Introdugflo aos volumes II e III 
1-"-..::' 
Ul'<l-z. 
0
"' - COM TAMANBO atraso realiZou a Russia sua revolugiio burguesa, 
"' que se v!u forgada a transtormd-14 em revolugiio proletlirla, 
" Em outras palavras: a Russia estava tiio atrasada em rela a ou-
0 tr.os patses, pelo "!mi.Qt~~f!!,~ certos s~~es. !1!1~ tot--· -·lllil: 
_, tz:gpas§!!:..~. Isto parece abliiTiro:"":A Hlst6rla, en re anto, est re-
:0: pleta de parado:z:os semelhante•. A Inglaterra cap!tal!sta ultrapas-
'~ sou de tal manelra 08 outros palsea, que se vtu torgado a detzar-se 
«: ultrapassar, depots, por 'le8. Imaglnam 08 pedantes que a dtaletlca 
niio passa de simples 16go !ntelectual. Na realldode, ela r~uz o 
processus do desenvolvlmento que vtve e que se ~tro de 
~t!aa!Coes. 
0 prime!ro tomo desta obra deverla ezpl!car por que raziio 
o regime democrdt!co, tard!amente chegado a H£st6rla para subs-
tltuir o t2artsmo se revelou totalmente !nvldvel. 0 presente volu-
me trata da conqui8ta do poder pelos bolchevlques. A ezpostgiio, 
alnda aqu!, e baseada em na"attva. 0 leltor deve · procurar nos 
processus do desenvolvlmento que v!ve e que 8e move dentro de 
dugoes. 
0 autar niio quer diZer em absoluto que tenha evttado as 
generaliZagoes soclcl6glcas. A H!st6rla niio terta valor algum se n6.o 
- !~~~~~~~~~~~~io~~~~~~~ \u ..J 'U > e. pot conseguinte~ a ';:: compreensiio tambl!m da humana. Porque pode-se ava- -. 
liar, provar mesmo, atraves de toda a marcha da Htstliria, que qual ~ 
quer socledade d!lacerad or antagontsmos tnt consegue ~ 
esv ar comp e ente, tan o a a anatomiuQ~_o ~q_-
pTia ""11111Ui";i>rectsamente em uma ~·EM MO Vi ~e.NTo~ 
De maneira mals lmedtata, a pre8ente obra deve a1udar a 
compreenslio do cartiter da Unliio Sovletlca. Nosso tema e atual niio 
porque se tenha reall2ado a lnsu"eigiio de Outubro aos olhos de 
uma gerag/io alnda viva - tato que, como e 6bvlo, n6.o dei:z:a de ter 
lmportdncla - mas pelo tato de que o regime dec=ente &a ln-
su"eigdo estd bem vivo, desenvolve-se, e apresenta a humanldade 
4IS 
nOflell enfgma8. 0 problema apresentado pelo pafa dos Sovtetes per-
manece, !nvarldvelmente, na ordem do dta do mundo tntetro. Ora, 
n4o ,. pode conceber com ezattd4o aqu!lo que e, •em ter eluctdado, 
manetra pela qual Be tormou o que ufate. AB gran-
pollttca8 exlgem peropectlva k1Bt61ic4. 
Para a descrt¢o de otto meses de revolugdo, de feveretro a 
outubro de 1917, toram necessdrtas dofs volumeo. A crutca, em ge-
ral, n4o nos aCUBOU de tlrmos Bldo proltzoa. A amplitude do obra 
ezpltca-se BObretudo pe!a manetra de conBiderar 08 materialS. Po-
de-Be fqfografar uma da8 mdos: ocuparemos uma pdgina com a 
totogratta. Todovla, para a e:r;pootg4o dos resultados do estudo mt-
crooc6ptco do8 tecldos da mdo, serd necessdrta um vvtume. 0 autor 
em absoluto n4o ae Uude quanto 4 plenitude e ao 1imitado da pes· 
qufaa por tie realizada. Ndo obstante, intlmeros toram 08 cll808 em 
que oe vtu obrigado a empregar metodos que mafa ae aprcmmam 
doo procesm microsc6picoa do que dos aparelh.os totogr4fk08. 
Em certos momentos, quando percebiamos que estdvamos abu-
aando da pacUncia do leltor, BUprimlamoa paaaageno dos depoimen· 
to• de testemunka8, dos declar~ de co-parflcipantu, de ePI86-
dios 8ecunddrtao; em aegulda reinclulamos, freqilentemente, multo 
do que kavtomos cortado. NeBaa !uta por detalkes, deizdvamo-nos 
gular pe!a tntengdo de moatrar, o mafa concretamente posrillel, o 
procesaus meamo da Bevolug4o. Aflgurava-ae-noa lmpoarivel n4o 
tentar utuizar amp!amente a vantagem not6rta de ter aido eBta a 
ktst6rta escrita enquanto vtvtda, no pr6prio amblente em que se 
JITOCeBBatla. 
Mtlkares e mllkares de livros Bdo !angados cw mercado, anu-
almente, a lim de apreaentarem ou uma varlante nova de romance 
peBaoal, ou a descrlgdo daB incerteza• de algum melanc6Uco, ou 
a ktst6rta da carretra de certo ambtcioso. Uma qualquer herofna 
de Prouat prectsa de numerosa8 pdgina8 requtntados para chegar a 
'""tir que em abaoluto nada oente. Jul(lamos por tsto que pelo me-
nos nos asBtste o direito igual de pedir ateng4o para 4rama8 coleti-
na HfBt6rta arrancam nada cen e e8 de 
B~ea kuma!IO!o transtormam o cardter nag6ea e Be !nserem Jl(lra 
lOlfO o aempre na vida da kumanidade. 
A ezatiddo dos reterenctaa e dos citag{Jes do primetro tomo 
ndo /of aU agora contestada por puaoa al(luma; o que, realmen-
te, terta aido multo di/icil. Oo adverodrios ae llmltam, malo freqi}.en-
temente, a comiderag/Ju em tllrno do tema de a parcialidade pes-
soal poder manitestar-<Be atravea da se!egdo artificial e unilateral 
dos tatos e dos te:J:tos. Indfacuttvel em essencia, esta consideragdo 
ndo se apltca 4 presente obra, e multo menoa alnda a 88UB proces-
sos cienttttcos. Ora, tomamos a Uberdade de fnsiBUr ruolutamente 
no Jato de o coettciente do sub;letivtsmo estar determinado, Umf-
tado e contro!ado, n4o tanto pelo temperamento do ktstoriador, mas 
pelo cardter de seu metOda. 
414 
.A escola purarrumte pslcol6glca, que consldera a tecltura dos 
aconteclmentos como se t6Bse um emaranhado dos liiWes atlt>ldades 
dos lnd.lvld.uos, ou d.os grup08 d.e lnd.illld.uos, cte!za a mals ampla 
dos margens d arbttrarled.ade, mesmoquando se ad.mltem as me• 
lh.ores inten¢es do pesqulsad.or. 0 metoda materlallsta lnstthd dls-
clpllna que nos obrlga a tamar como ponto de partld.a 08 tat08 do-
mlnantes da estrutura social. As f6rt}(JB eBSencfaiB do proceBSo hiB-
t6rlco silo, para ntis, representad.as pelas classes; 86bre estas ap61am-
se 08 partld.os politicos; as ld.etas e as pala!Was de ordem apar~em 
como moeda d.lvlsloncirla d.os lnterlsses objetlvos. Tod.o o and.amen-
to do estudo conduz do objetlvo ao subjetlvo, do soctal ao lnd.lllld.tull, 
do que e fundamental d contuntura. Flcam, par este modo, contra-
pastas rlgorOBOS !!mites d arbttrarled.ad.e do autor. 
Quando um engenl&elro de minas, em certo setor alnd.a n/lo 
lnvesUgado, descobre, pela sond.agem, mlnerla de ferro magnetlco, 
pod.e-se sempre supor que se trate d.e feliz acaso: alnd.a n4o he! ln-
d.lc4glio para que ae proced.a d escavaglio de um pogo. Quando o 
mesmo engenhelro, baseado, par eumplo, em desvlot d.a agulll4 
lmantad.a, chega d conc!us/lo de que a terra deve encerrar 1asd4as 
de mlnerlo, e quando, em seguld.a, em dlver808 pontos d.a mesma 
regl/lo, lie descobre efetlvamente minerlo de ferro, nem mesmo o 
mals exlgente d.os ceptlcos ousarcl !alar em acaso. 0 que e convln-
cente e o slstema que p6e em unlssono o gera! e o partlcu!ar. 
As provas d.a objiJtlvld.ad.e clentf/lca devem ser proctWad.as 
ncie nos olhos do hlstorlad.or, nem nas lnflez6es de sua voe, mas 
na l6glca intima aa pr6prfa narratlva, se os eplsddlos, os teste• 
munh08, os d.ados e as clta~lles colncldfrem com as lndlcaglles ge-
rais aa agulha lmantad.a da analise social, terti o leltor a maiB se-
ria d.as garantlas da solld.ez clentiffea das concluslles. De modo mals 
concreto: o autor mantem-se ezatamente fie! d objetlvldade nos 
l!mltes em que o presente trabalho revela, etetlvamente, a lnelu-
tabllld.ade d.a lnsurrei~tio de Outubro, e as causas de sua vlt6ria. 
0 leitor sabe multo bem que, numa revolu9/lo, n6s procura-
mos, antes de mats nada, a tntervenc-iio direta das massas nos_ des-
tlnos da soc!edade. Por detrtls dos aconteclmentos, tentamos d.es-
cobrir as modlfica~oes da consctencia coletlva. Atastamos as alega-
¢es grossetras concernentes a um movtmento das uf6rr;as espontci-
neas", alegat;Oes que, na matoria dos casas, nada explicam e nada en-
slnam. As revolu9oes realizam-se de acardo com certas leis. Isto ntio 
slgnlflca que as massas atuantes tenham a coniciencla nitlda d.as 
leis da revolu~tio; slgnifica, porem, que as mod.ijica9oes da cons-
clencta das massas, em vez de ser•m fortultas, subordinam-se a 
uma necesstdade objettva, sujeita ao esclarectmento te6rico, e cri· 
ando dai bases para as previsoes e para a dlre9tio. 
Alguns historiadores sovteticos, oficiais, tentaram, por mais 
surpreendente que isto pare~a, crlticar nossa concep9iio, acotman-
do-a de ideallsta. o Professor Pokrovsky, por ezemplo, inslstia no 
fato de termos n6s subestimado os fatores objetlvos da Revolu~o: 
·415 
"Entre Feverelro e OUtubro produztu-se tormltl4.vel desorganlzagcfa 
econ6mfca"; "Bntrementes, o campesinato... sublevou-ae contra 
o CJov§rno Prov186rio"; II precfsamente em semelllantes "delloca-
mentos Objettvos", e nlio em processus priqufcos varfdvels, que se-
rltJ convenfente reconhecer a fbrt;a motrlz da Bevolui'IJo, G1'agas 4 
louvavel clareza em sua manelra de formular as quest/Jes, PokrOvBk7/ 
deiza tramparecer liD melhor molio posrivel a tncon:llstlncia duma 
vulgar ezplicagiio econ6mlca da Hlst6rla, bastante freqilentemente 
imptnglda como sendo marzlsmo. 
As mudangas radicals que se produzem no decurso de uma 
revoluglio sliD na realldade provocadas, n4o peloa abaloa epis6dlcos 
da economla que se produzem no curso dos acontectmentoa, mas 
pelas modificag/Jes capitals que se acumularam nas pr6prias bases 
da soctedade durante tllda a llpoca precedents. e absolutamente 
!ncontestavel - e 1amals perdemos de vista lal tato ~ que, tanto 
na vespera da depostg4o da Monarqula quanta entre Feverelro e 
Outubro, a desorganlzaglio econ6mica se agravou constantemente 
e manteve e agur;au o descontentamento das massas. &erla, entre-
tanto, mo multo groaselro 1ulgar que a segunda Bevolug4o se te-
nll.a reallzado alto meses ap6s a primelra unfcamente porque a ra-
glio de pljo tlvesse rido diminulda durante aquela tase, passando de 
libra e mela a 3!4 de libra. Durante 01 anos imed!atamente conse-
cutlvos d lnsurrelg/io de Outubro, a sltuag4o daB massas, do ponto 
de vista do abastectmento, piorou contlnuamente. Todavla, as es-
peranr;as dos politicos contra-revoluctondrlcs, que . se volta,vam para 
uma nova lnsurrelg4o, sotrlam decepg/Jes a ..:ada passo. 0 tato pode 
parecer enjgmdtlco, mas somente para aqulle que lmaglna a su-
blevagdo das massas como se f688e movlmento de "t6rgas espanta-
neas'', lsto e, como se toase o estouro da bolada Mbllmente apro-
veitado pelos seus condutores. Na realldade, as prlvag/Jes nlio bas-
tam para e:tpUcar a insurre!Q4o - se assim 16sse, as massaa esta-
rlam em perpetua sublevagiio; II preclso que a lncapactdade defi-
nltlvamente manifesta do regime soctal tenll.a tornado intolerdve!s 
as prlvag/Jes e que novas cond!g/Jes e novas idelas tenll.am del:tado 
entrever a perspecttva de uma salda revoluctondria. Tomando cons-
ciblcla de altos desjgnios, as massas sentem-se capazes, em segui-
da, de suportar privag/Jes dupla, e mesmo triplamente mals pesadas. 
A aluslio /elta 4 sublevag4o da closse camponesa, dando-a 
como segundo "fator Objetivo", denota um alnda mals evldente mal-
entendldo. Para o proletarlado, a guerra camponesa era, e Is to se 
compreende multo bem, uma ctrcumtancta objetlva, na medida que, 
em geral, os atos de uma classe se tornam impulsao exterior, para 
a tormagiio da consctmcta de outra classe. "Mas a caU8<1 lmediata 
da tnsurretgao camponesa prO!>rlamente dita basela-se em modi/1-
cag/Jes do estado de esplrlto <!O campo; um dos cap!tulos deste li-
vro tot comagrado d pesqulsa da natureza destas modtfjcag/5es. Nlio 
nos esquegamos de que as revolugl5es s4o feitas por ll.omens, mesmo 
quando anon!mos. 0 materlallsmo ndo tgnora o ll.omem que sente, 
416 
que pensa e que age; ele expllca-o. E em que outra cofsa consiste 
a tare/a do hlstortador? ' 
Alguns crltlcos do !ado democrtitieo, propensos a operar par 
meta de provas indiretas, quiseram ver na atitude "ir6nica" do au-
tor em rela~4o aos chefes concllladores, a express/io de inadmissi-
vel sub1etlvismo que vlvia o cartiter clentifico da exposl~lio. Toma-
mos a ztberdade de achar que este crtterto ndo e convincente. 0 
prfncf.pio de Sptno2a: "Ntio chorar, nem rir, mas compreender"•, 
acautela-nos apenas contra o riso intempestivo e contra as ldgrt-
mas quando este homem e hlstoriador, de seu dlrelto ao pranto e 
ao riso, quando lsto se justiffca pela compreenslio adequada de sua 
pr6prla flnalidade. Uma ironia puramente lndividuallsta que, como 
tenue nevoa de indiferen~. se estende par t6das as obras e par 
todas as concep~6es da humanidade, se apresenta com o pior as-
pecto do esnobismo: ela e tao talsa em qualquer obra de arte quan-
ta em qualquer trabalho hist6rico. Hti, entretanto, uma especie de 
lr&nia que estti na pr6prla base das rela~6es vitals. A obriga¢o do 
hlstoriador, tanto quanta a obrtga~lio do artlsta, e a de exterio-
nza-ta. 
A rutura da correla~ao entre o sub1etlvo e o obietlvo e, fa-
lando em llnhas gerais, tanto a tonte essenclal do c6mlco quanta a 
do trtiglco, na vida como na arte. 0 campo da politica, menos alnda 
que qualquer outro, escapa ao etelto desta lei. Os homens e os par-
tldos sao her61cos, au rldieulos, nlio em sf mesmos, nem par sf pr6-
prlos, mas pela atftude que mantem dlante das clrcunst/inclas. 
Quando a Revolu~lio Francesa entrou na tase declsfva, o mals eml-
nente girondino tazia lamentavel e ridieula figura ao !ado de qual-
quer lnsignlttcante jacoblno. Jean Marie Roland, figura respelttivelcomo lnspetor das manufaturas de Lyon, tem a aparencla de cari-
catura quando surge sllbre o tundo do quadro de 179Z. Os ;acobiJIOs, 
ao contrtirio, est/io d altura das clrcunst/inclas. Podem provocar 
hostilldade, 6dlo, terror, iamals Ironia. 
A heroina de Dtckens que procura lmpedlr a subida da mare 
com o auxillo de uma vassoura e, em conseqllencla da lncomp<~tl­
bllidade fatal entre o melo e o ttm, um tlpo notOriamente c6mlco. 
Se dlssermos que esta personagem slmbollzou a politlca dos par-
tldas concUiadores na Revolu9da, parecera ezagtro. Ora, Tseretelll, 
o anlmador real do regime da dualldade de pod§res, conteuava a 
t. A notiela. d& morte de M:. N. Potrovt~ty, com quem mall de uma ves U~ 
OCUlAO de travar polAm1ea no decorrer deat& obra, chegou~not quando o traba1ho 
!6. eatava. termlnad.o. Vlndo para o marxl8lno da f&C91o Uberal, quando j6 .,. 
um a\blo completamente formado, Potrovak¥ enrlqueeeu a. Uteratura b1st6J:otoa 
cont.npor&n.ea com trabalhos e com 1Dlclativas preet.oau. mu n1o • apouau 
com.pietamente do m6todo do materlaltamo dlal6tlco. • de elemental' Ju.ttoa 
~tar que Pokrovaky era homem dotado n1o ebmente de acepe1oDa1 erudl• 
010 e de grande talento, como tamb6m devotado A. causa. que aema. 
• 'I'nKakT omtt.tu pe.rte d8llta aentenoa. que completa 6: "NI.o ehon.r, Dllll rlr, 
nem cleteetar, mu eompreender." [N. Co 2'.] 
417 
Nabokoo, um dos lideres liberais, apos a insurrei~ao de Outubro: 
"Tudo o que entlio jfzemos nado mais era que vii t~ntativa de canter, 
com a ajuda ae alguns pobres gravetos, a destruidora to"ente dos 
elementos desencadeados." Hd ntsto o tom de sdtira maldosa,· ora, 
estas sao as mais veridicas palavras que os pr6prios conciliadores 
pronunciaram a respeito deles mesmos. Abster-se de tazer ironiq. ao 
descrever "revoluciontirios" que tentam canter a revolu~lio cem gra-
vetos seria, para a delicia dos pedantes, detraudar a realidade e 
taltar com a objetividade. 
Peter Struve, monarquista outrora marzista, escrevia do exi-
lio: "Na Revolu~iio somente o bolchevismo to! que se manteve 16-
g!co e fie! d sua pr6pria essencia; e fOi por isto que, na Revolu~ao, 
ele venceu." FOi aproxtmadamente em tl!rmos andlogos que Millu-
koo, lider do llberalismo, se referia aos bolcheviques: "Sabiam aonde 
iam e marcharam numa unica dire¢o, adotada em definitivo, diri-
vida para 0 lim que, a cada nooa experiencia ·malograda dos conci-
liadore,~ mais se aproximavam". Enfim, um do8 menos conhectdos 
emfgrados brancos, ao tentar compreender, a seu modo, a Revolu9do, 
assim se exprlmia: "Para enveredar por aquele caminho eram im-
prescindlveis hom ens de t=o. . . revolucion4rlos 'profissionais', que 
niio temessem trazer d tona um devorador espirito de rebelcUa." Po-
de-se dfzer, dos bolcheviques, com multo mais razao do que dor ta-
coblnos: siio adequados d epoca e as taretas dl!les ezlgidas; milhares 
de maldi~6er tl!m-lhes sido dirig!das; a ironia, porem, nao consegue 
atingi-los - porque nlio encontra alvo onde ae encravar. 
No pre/ticio do primeiro volume IOi explicado por que raziio 
julgou o autor mais adequado falar de si pr6prio, participante dos 
acontecimentos, na terceira pesroa em vez de taze-lo na primeira ,· 
i!rte procedlmento litertirio, conservado nos capftulos seguintes, ··niio 
t em s! mesmo garar,tia contra o subjetivismo; pelo menos nlio jaz 
ele do subjetivismo vma obriga¢o. Mell>or: traz sempre, d mente, 
a necesstdade de evttd-lo. 
Em muitos casas hesttamos baotante porque nao sablamos se 
deveriamos ou niio citar tal ou tal tufeo de um contempor4neo s6bre 
o papel do autor diJste llvro na marcha dos acontecimentos. Teria 
3ido fticil renunclar a determ!nadas cita~ se se nlio tratasse, aquf, 
de alguma causa mais lm port ante do que as regras convencionais do 
bom-tom. 0 autor /Oi pre3ldente do Soolete de Petrogrado ap6s a 
conquista da maforia pelos bolcheviques; fOi, em segulda, presidents 
do ComlU Revoluciontirio Mil!tar que organfzou a insurrei¢o de 
Outubro. Ora, l!le nao pode,. nem deve, apagar semelhantes tatos da 
Historia. A tra~ao que atualmente governa a U RSS teve bastante 
tempo, nestes Ultimos anos, para consagrar uma verdadefra mul-
tidao de artigor e nao menos de livr• ao autor da prerente obra, 
consagrando-os d tare/a de lfemonstrar que a atividade dele tinha 
3ido !nvariavelmente d!rig!da contra os lnterl!rres da Revolu~; a 
questiio de· saber por que razdo o Partido · Bolchevique tomou a de-
cistlo de colocar- um "adversdrl.o'' ttlo encarni~ado, durante .os mail 
crlticor periodos, nos mais pesados postos de responsabilldade, fica, 
neote caso, totalmente aberta a expl!ca¢es. Deizar completamente 
418 
em silencto discuss6es retrospecttvas serla, ate certo ponto, renun-
ctar ao restabelectmento, em t6da a sua verdade, da marcha dos 
acontectmentos. Mas com que ttm? Uma especte de desprendtmento 
e necesstirto somente para aquele que objettva sugertr, em surdtna, 
ao lettor, conclus6es que nao decorrem dos tatos. Pretertmos cha-
mar as cotsas pelo seu proprio nome, em total contormtdade com o 
vacabularto. 
Nao ocultaremos que, neste assunto, ndo se trata, para ·nos, 
apenas do passado. Assfm como os adversdrios, ao atacarem a pesaoa, 
se estor~am por attngtr o programa, tambem a !uta por determtnado 
programa obrtga a pessoa a se recolocar no seu Iugar real no meio 
dos acontectmentos. Se alguem, na !uta pela realtza~lio de grandes 
tare/as, ou na !uta pela conqutsta de Iugar sob uma bandeira, nao 
se sentir capaz de perceber cotsa alguma a!em da vatdade pessoal, 
podemos lamentti-lo mas nlio nos encarregaremos de convence-lo. 
Todavta, tomamos as medtdas necessO.rtas para que as quest6es "pes-
soais" ndo ocupem neste ztvro mator lugar que aqueze a que t~m 
iliretto de pretender. 
Alguns amtgos da Unttl'o Sovtettca - e com trequencta nlio 
passam de amigos das autortdades sovtettcas atuats, e apenas por 
todo o tempo em que subststtrem estas autortdades - abrtram cam-
panha contra o autor em vtrtude de sua atttude crtttca em re~ao 
ao Partido Bolchevique, ou em rela~lio a alguns de seus ltderes. Nem 
um deles, entretanto, tentou sequer refutar ou corrtgtr o quadro 
que apresentamos quanto ao estado do Partido no decorrer dos acon-
tectmentos. Para governo de tats "amtgos", que se tulgam concla-
mados a defender, contra nos, o papel dos bolchevtques na tnsur-
rei~iio de outubro, preventmo-los de que nosso trabalho nao enslna 
meio algum de se amar tardtamente uma revolu~lio vttortosa, na 
figura da burocracta que dela resultou, mas s<lmente enstna de que 
modo se prepara uma revolu¢o, como se processa o seu desenvol-
vtmento, e a manetra pela qual ela alcan~a a vtt6rta 0 partido, 
para n6s, niio e um aparelho cu1a tnfaltbUtdade devesse ser prote-
gtda por meio de repress6es governamentats, mas um organtsmo 
complexo que, como qualquer colsa vtva, se desenvolve dentro de 
contradi¢es. 0 descobrtmento das contradi¢es e, a partir dessas 
contradi¢es, os erros e as hestta~/les do estado-maior, absoluta-
mente nlio enfraquece, segundo nossa aptnilio, a tmport4ncta do 
gtgantesco trabalho htst6rico de que o Partido Bolchevfque suportou 
o fardo, pela prtmeira vez, na Htst6rta mundtal. . 
L. TRoTsxY 
Prtnktpo 
13 de maio de 1932. 
P .s. - Os crittcos sempre prestaram o seu trtbuto a tradu~ao de 
Max Eastman. ~le deu ao seu trabalho nlio somente um dom crta-
dor de esttlo, mas tambtlm o cartnho de um amigo. Subscrevo com 
stncera grattdlio a voz un4ntme dos crittcos. 
L.T. 
419 
Capitulo I 
AS "JORNADAS DE JULHO": Preparatives e lnicio 
E 11 1915 a guerra custou, ii. Russia, dez bllhties de rubles; 19 bllhties 
em 1916; no prlmelro semestre de 1917 ja custara 10 bllhties e 
melo. A divlda publica, em principles de 1918, devla elevar-se a 
60 bllhties, lsto e, quase lgualar ii. totalldade do produto nacional 
bruto, avallado em 70 bllhties. 0 Comite-Executivocentral elabo-
rara um projeto de conclama~iio popular a n6vo emprestlmo de 
guerra, batlzado com o nome sedutor de "Emprestlmo da Llberdade", 
ao passo que o Governo chegara ii. dedu~iio simpllsta de que, a 
menos que um n6vo e formidavel emprestlmo externo t6sse con-
cedldo ii. RU.Ss!a, ele niio s6mente niio poderia saldar as divldas das 
encomendas feltas ao estrangeiro como tampouco poderia tazer face 
As pr6prlas obrlga~ties internas. Crescia constantemente o passive 
da balan~a comerclal. A Entente dlspunha-se, evldentemente, a 
abandonar em definitive o ruble ii. pr6pria sorte. No mesmo dia em 
que a conclama~iio ao Emprestlmo da L!berdade encheu a prlmeira 
paglna do Izvestia sovletlco, o Vyestnik • anunciou subita queda 
na cota~iio do ruble. A impressora de papel-moeda ja niio mais podia 
acompanhar o rltmo da infla~iio. Depois de consumldas as antlgas e 
s61ldas divisas que ainda havlam conservado vestigios do antigo 
poder aqulsltlvo, todo mundo se preparava para usar as cl!dulas aver-
melhadas, que apenas poderiam servir como r6tulos de garrafas, e 
que o publico lmediatamente batlzou de "kerenskls". E tanto o 
burgues como o operarlo davam, cada urn ii. sua manelra, ii.quela 
alcunha, urn tom desdenhoso. 
0 Governo, verbalmente, aceitava o programa de uma regu-
lamenta~iio estatal da economia geral e chegou mesmo a crlar, para 
tal flm, nos ultimos dlas de junho, estorvantes 6rgiios. Mas a pa-
lavra e a a~ao, ao tempo do regime de Fevereiro, tal qual a carne e 
o espirito de qualquer crlstiio devote, achavam-se em confllto ln-
cessante. Os 6rgB.os de regulamenta~io, adequadamente selecionados, 
preocupavam-se mats em proteger os chefes de empresas, contra os 
caprlchos de um poder governamental oscilante e vacllante, do que 
• vestntk Praptelstva (Mensagetro ao aoverno) [N. da ed. fr,) 
421 
em tratar de refrear os lnteresses partlculares. 0 pessoal admlnls-
tratlvo e tecnlco da Industria dlferenclava-se; os dlrlgentes, assus-
tados com as tendi!nclas nlveladoras dos operarios, passavam reso-
lutamente para o !ado dos patroes. Os operarlos olhavam com re-
pulsa as encomendas de guerra, com garantla de um ou dols anos 
de anteclpa~ii.o as lndijstrlas desorganlzadas. Os patroes, porem, lam 
perdendo o estimulo por um trabalho de produ~ao que mals pro-
metla amola~oes do que proveltos. A lnterrup~ao do funclonamento 
das empresas, premedltada pelos patroes, tomou carater sistema-
tico. A produ~ao metalftrglca sofreu redu~ii.o de 40% e a textll de 
20%. come~ou a faltar tudo o que constltuia o estrltamente neces-
saria a exlsti!ncla. Os pre~os sublam proporclonalmente a lnflaQii.o 
e a decadencla econ6mlca. Os operarios batalhavam por estabelecer 
um contrille a6bre o mecanlsmo admlnlstratlvo e comerclal, o qual 
lhes era dlsslmulado, e do qual dePendla a sorte deles. 0 Mlnlstro 
do Trabalho, Skobelev, por melo de ma11lfestos prollxos, explicava 
aos operarlos a lmposslbllldade de uma lntervenQiio dlreta nas em-
presas. A 24 de junho o Izvestia anunclou que se projetava fechar 
certo numero de fabrlcas. Noticlas ldi!ntlcas chegavam das provin-
clas. 0 trafego pelas estradas de ferro sofria ainda mals profunda-
mente do que a Industria. A metade das locomotlvas tlnha necessl-
dade de grandes consertos; grande parte do material rodante se 
achava no front; o combustive! comeQava a faltar. 0 Mlnlsterio das 
Vias e COmun!caQ6es niio consegula p6r termo aos conflitos com os 
empregados e operarlos das estradas de ferro. 0 abasteclmento tor-
nava-se dla a dla mas precarlo. Em Petrogrado exlstlam apenas es-
toques de trigo para dez ou qulnze dlas; em outros centros as colsas 
niio andavam melhor. A semlparalisa~ii.o do material rodante e a 
amea~a de uma greve das estradas de ferro slgnlflcavam que o pe-
rlgo da tome era constante. Niio se tinha dlante dos olhos nenhuma 
perspectiva de evasao. E na.o era isto que os operi.r!os havlam es-
perado da Revolu~iio. 
A sltua~iio era alnda plor, se houvesse posslbllldade de o ser, 
no terreno da politlca. A lrresoluQiio e o estado de espirito mais pe-
noso tanto na vida dos governos, das na~oes, das classes, quanto na 
dos lndlviduos. A revolu~iio t! o mals lmplacavel dos melos que se 
possul para resolver as questOes hlst6rlcas. E as escapat6rlas, em 
ocasliio de revolu~iio, constltuem a mals rulnosa dentre t6das as 
politlcas. Um partido revoluclonarlo niio deve hesltar mals do tiue 
o deve um clrurglao que come~a a enterrar o blsturl no corPo de 
um doente. Ora, o regime do duplo poder, nascldo da lnsurrel~ii.o 
de Feverelro, era a irresoluQiiO organlzada. Tudo se voltava contra 
o governo. os amigos condicionais transformavam-se em adversS.rtos, 
os adversS.rios em inimigos - e os inimigos se armavam. A contra-
revolu~ao se mobilizava abertamente, inspirada no comU:.e-central 
do Partido Cadete, pelo estado-malor politico de todos os que tlnham 
alguma coisa a perder. 
422 
0 comlte principal da Unliio dos Oflclals, que funclonava no 
quartel-general, em Moghllev, e representava, aproxlmadamente, cern 
mil oflclais descontentes e o Sovlete da unliio das tropas cossacas, 
em Petrogrado, constituiam as duas principals alavancas mllltares 
da contra-revolu~iio. A Duma de Estado, apesar da declsiio tomada 
pelo Congresso dos Sovletes, em junho, decld!u prossegulr em 
"sessOes secretas". 0 comite provis6rio desta Duma servia de cober-
tura legal da atlvldade contra-revoluc!onar!a, largamente flnan-
clada pelos bancos e pelas emba!xadas da Entente. Os concll!adores 
vlam-se amea~ados tanto pela esquerda como pela d!relta. Olhando 
lnqu!etamente para todos os !ados, o Governo dec!dlu asslnar urn 
cred!to para a organlza~iio de urn servl~ de contra-esplonagem so-
cial, lsto e, para a organ!za~iio de uma polic!a politlca secreta. 
E fol nesta mesma epoca, em meados de junho, que o Govilrno 
resolveu f!xar para o d!a l'i de setembro as elel~6es a Assemblela 
Constltu!nte. A lmprensa l!beral, apesar de todos os cadetes partl-
c!parem do Govemo, d!rlgla uma campanha encaml~ada contra a 
data oflc!almente f!xada, cousa em que, allas, n!ngm!m acredltava 
e defendla aerlamente. A propria lmagem de uma Assemblela Cons-
tltulnte, tao nltlda nos prlme!ros d!as de mar~o. la-se apagando, 
desvanecendo-se. Tudo se voltava contra o Governo, Inclusive contra 
aa suas raras e anemlcas boas lnten~6es. Fo! sbmentc a 30 de !unho 
que ele se decld!u a suprlm!r os tutores nobres das alde!as, os 
zems/qf nach.alnlks,' cuja pr6pr!a denomlna~lio era odlada em todo 
o pals desde o ella em que foram lnstltuldos por Alexandre m. E 
esta reforma parcial, for~ada e tardla, lan~ava s6bre o Govemo Pro-
vlsOrlo a pecha de uma humllhante covardla. Entrementes, a no-
breza se refazla de seus terrores, os proprletarlos dos latltundlos se 
reagrupavam e retomavam a ofenslva. 0 comlte provls6rlo da Duma 
exlg!u do Govemo, em fins de ! unho, que tolllasse medldas declslvas 
para proteger os proprletar!os contra os camponeses lnstlgados por 
"elementos crlmlnosos". A 19 de juillo ln!clou-se em Moscou, o con-
gresso pan-russo, de propr!etarlos rurals, que, em sua esmagadora 
malorla, eram nobres. Q Govemo safava-se esfor~ando-se por hlp-
notlzar, por melo de palavras, ora os muj!ques ora os proprletarlos. 
Mas era sobretudo no front que as co!sas camlnhavam mal. 
A ofenslva, que slgnlflcava para Kerensky o liltlmo lance deflnltlvo 
para entrentar a !uta lntema, revelava apenas alguns mov!mentos 
convuts!vos. 0 soldado niio querla mals prossegulr na guerra. Os dl-
pJomatas do Principe Lvov niio mats ousavam oillar face a face os 
dlplomatas da Entente. Tlnha-se absolutamente necessldade do em-
prestlmo. Para demonstrar for~a. o Governo, lncapaz e de antemiio 
condenado, dlrlg!u uma o!enslva contra a Flnlandla, a qual, como 
em todos os assuntos pouco llmpos, Jevou a termo por melo dos so-
1. Oflc11U& nomeados, com pod.er a.dm1ntatratlvoa e JudlclalsObre a populao&o cam· 
poaesa. local. 
423 
clallstas. Concomltantemente, o confllto com a Ucrfmla se agravava 
e amea~ava acabar em rutura declarada. 
Quii.o longinquos estavam aqueles dlas em que Albert Thomas 
cantara as loas da radlosa Revolu~ii.o e de Kerensky! Em prlnciplos 
de julho, Paleologue, embalxador da Fran~a. txcesslvamente lm-
pregnado dos odiires dos saloes raputlnlanos, fol substltuido pelo 
"radical" Noulens. 0 jornallsta Claude Anet apresentou ao niivo em-
balxador urn relatOrio lnstrutlvo siibre Petrogrado. Defronte da em-
balxada da Fran~a. do outro !ado do Neva, estende-se o balrro de 
Vyborg. "Iii o quartelrii.o das grandes uslnas, totalmente em mao de 
bolchevlques. Iii como senhores que Lenlne e Trotsky all rein am." 
"No mesmo bairro estS.o as casernas do Regimento de M.etralha• 
dores, cujo efetlvo e de cerca de 10 mil homens, com armamento de 
mais de mil metralhadores: nem os soclallstas revoluclom1rlos, nem 
os menchevlques, tern acesso as casernas do reglmento. Os demals 
re_gimentos, ou s§.o bolcheviques, ou sio neutros." "Se Lentne e 
TrotskY qulserem tomar Petrogrado, quem os lmpedlra ?" Noulens 
ouvia com espanto. "Como se explica que o Governo tolere seme-
lhante sltua~ii.o?" "Mas que pode ele fazer?", respondeu o jorna-
llsta. "It preclso que se compreenda que o Govemo, a seu favor, 
conta apenas com fOr~a moral, e esta. mesma par,ece-me bastante 
fraca ... " 
Por nii.o encontrar saida, a energla das massas, despertada, 
fraclonava-se em movlmentos espontfmeos, em atos de partl&ans, 
em tomadas de posl~ao arbltrarlas. Os operarlos, os soldados e os 
camponeses, tentavam resolver ao menos parclalmente tudo aqullo 
que lhes recusava o poder por eles pr6prlos crlado. A lrresolu~ii.o 
dos dlrlgentes e o mals poderoso debllltador das massas. A expec-
tatlva ester!! lmpele-as a bater, cada vez mals telmosamente, as 
portas que se lhes nii.o querem abrlr, ou entii.o leva-as a verdadelras 
explos6es de desespero. Ja durante o Congresso dos SOvletes, quando 
os provlnclanos com dlfleuldade eontlveram a mii.o dos lideres que 
se levantava contra Petrogrado, os operarlos e os soldados tlveram 
mnltas ocasliies de constatar quais eram os sentlmentos e as lnten-
Qiies dos dlrlgentes dos sovletes em relaQii.o a oles. Tseretelll, depols 
de Kerensk:y, tomara-se personagem nio sOmente estranho como 
tambem odloso a malorla dos operarlos e dos soldados de Petro-
grado. Na perlferla da RevoluQio crescla a lnfluencla dos anarqnlstas, 
que desempenhavam o papel principal no selo de um comlte revo-
luelonarlo arbltrarlamente crlado na vlla Durnovo. Todavla, mesmo 
as mals dlsclpllnadas eamadas da elasse operarla, e mesmo as amplas 
esferas do Partido Bolchevlque, comeQavam, ou a perder a paclencla, 
ou a dar ouvldos aqueles que nii.o mals podlam suportar as colsas. 
A manlfesta~iio de 18 de junho revelou, abertamente, que o Oovemo 
nii.o mals dlspunha de qualquer apolo. "Que e que estii.o esperando 
os Ia de elma ?", perguntavam os spldados e os operarlos, quando 
se referiam nio s6 aos lideres conciliadores como, agora tambem, 
as lnstltul~iies dlrlgentes dos bolehevlques. 
4Z4 
A !uta pelos sal:irlos, devida aos pregos inflacion:irios, ener-
vava e extenuava os trabalhadores. Foi este urn problema que se for-
mulou com acuidade particular, no decorrer do mes de junho, na 
gigantesca fabrica de Putilov, na qual trabalhavam 36 mil homens. 
A 21 de junho, em varios setores da usina, estourou a greve. A este-
rilidade desta.s explosOes parciais era demasiado clara para o par-
tido. No dia seguinte, a reun!ao d!rlg!da pelos bolchev!ques, con-
gregando representantes das principals organiza~oes operar!as e de-
legados de setenta usinas, declarou que "o caso dos trabalhadores 
de Putilov representava a causa de todo o proletariado de Petro-
grado" e convidou os trabalhadores de Putilov a· "canter sua legi-
tima indignac;ao". Foi adiada a greve. Entretanto, os doze dias que 
se seguiram nao trouxeram alterac;ao alguma a situac;ao. A massa 
oper:iria das f:ibricas achava-se em processo de fermentac;B.o pro-
funda, a procura de uma saida. Em cada empresa existia urn con-
flito, e todos estes conflitos convergiam para cima, para o Governo. 
Um relatOrio do sind!cato dos meeil.nlcos ferrovilir!os (br!gadas 11-
gadas B.s locomotivas), dirigido ao ministro das Vias de Comunica-
c;io, dlzia: "Pela Ultima vez declaramos que qualquer pactencia 
chega ao f!m. Nao nos sentimos ma!s com f6r~as para vlver em se-
melhante s!tua~iio ... " Era esta uma queixa que se dir!gia niio s6 
contra a m!serla e contra a fome, mas tambem contra a dupl!c!-
dade, contra a falta de carater e contra a lmpostura. 0 memorial 
protestava com particular lndlgna~ao, contra "os lncessantes apelos 
ao dever clvlco e contra a abstlnencia das barrlgas vazlas". 
Em mar~o era o poder restltuldo ao Governo Provls6rio pelo 
Comlte-Executlvo, sob a condl9iio de que as tropas revoluclonarlas 
nii.o fiissem, de mane!ra alguma, evacuadas da capital. :fi:stes dlas, 
porem, pertenclam ja a longlnquo passado. A guarn!~ao evolulra 
para a esquerda e os c!rculos d!rlgentes do Sovlete cam!nharam para 
a dlrelta. A !uta contra a guarnl~iio estava constantemente na or-
dem do dla. Se os contlngentes nii.o eram de uma vez afastados da 
capital, os mals revoluclonarlos, a pretexto de necessidade estrate-
glca, eram slstematlcamente enfraquecldos por me!o de ret!radas de 
companhlas com destine ao front. Chegavam, ininterruptamente, 3. 
capital boatos de constantes remodela~oes nas unidades do frOnt, 
em virtude da insubmissiio, uma vez que se recusava a executar as 
ordens de combate. Duas divisOes siberianas - h:i pouco tempa ainda 
ni.o eram os cac;adores stberianos reputados como os melhores? -
foram dlssolv!das, tendo sldo necessar!o o emprego de for~a armada. 
86 no caso de 59 Exercito, o mats prOximo da capital, que havia 
recusado, em massa, obedecer as ordens de combate, oitenta e sete 
oflcla!s e 12.725 soldados foram pronunc!ados perante os tribunals. 
A guarniGii.o de Petrogrado, verdade!ro acumulador dos desconten-
tamentos do front, da aldeia, dos bairros operArios e das casernas, 
nao parava de agitar-se. QuarentOes barbudos exigiam, com insis-
tencia exacerbada, o regresso aos lares para se dedicarem ao tra-
balho dos campos. Os reg!mentos acantonados no bairro de Vyborg 
- 19 de Metralhadores, 19 de Granadelros, Reg!mento Moscovlta, 
1801' de Infantaria e ainda outros - achavam-se constantemente 
submetldos ao jato ardente da vlzlnhan~a proletaria. Mllhares de 
trabalhadores passavam dlante dos quarteis, e entre ~les grande 
mimero de infatlgavels agitadores do bolchevismo. Improvlsavam-se 
comicios quase que lncessantemente sob as muralhas imundas que 
ae t.ornaram odlosas. A 22 de junho, quando as manlfesta~oes pa-
tr16tlcas desencadeadas pela ofensiva alnda niio se havlam extln-
guldo, um auto do Comit~-Executivo teve a imprudencia de envere-
dar pela Perspectiva Sampsonievsky, a exlbir cartazes: "Avante, 
Kerensky!" 0 Regimento Moscovita ·prendeu os agitadores, rasgou 
os cartazes e remeteu o autom6vel dos patrlotas ao Regimento de 
Metralhadores. 
Os soldados, via de regra, mostravam-se mais lmpacientes que 
os operarlos: prlmelro porque estavam sob amea~a dlreta de serem 
enviados ao front; e segundo porque assiml!avam com malor dlflcul-
dade as razoes da estrategia poUtica. E alem de tudo mais, cada sol-
dado tinha em miio o fuzll e, depois de feverelro, o soldado se mos-
trava propenso a superestlmar o poder especiflco daquela arma. 
Llzdln, velho operario bolchevique, contava, mais tarde, de que modo 
os soldados da reserva. do 1801' !he havlam falado: "Que fazem os 
nossos no Pall1cio de Ksheslnskaia?. . . Sera que dormem?. . . Vamos 
expulsar Kerensky!" Nas reunifies de reglmentos, votavam-se cons-
tantemente m~oes referel}teS a necessidade de aglr contra o Oo-verno. Delega~oes de algumas fabrlcas apresentavam-se aos quar-
teis, perguntando aos soldados se sairiam as ruas. Os metralhadores 
envla.vam os pr6prios representantes a outras unidades da guarni-
~iio. convidando-as a. se insurglrem contra o prolongamento da 
guerra. Mais impacientes que OS outros, alguns delegados acrescen-
tavam: "0 Reglmento Pavlovsky, o Regtmento Moscovita e 40 mil 
operarios de Putllov sairiio 'amanhii' ." As admoestacoes oflciais do 
COmite-Executivo mostravam-se lneficazes. Cada vez mais preclso 
desenhava-se o perigo de ver-se Petrogrado, sem apoio do trotrt e 
das provlncias, derrotado em separadQ. A 21 de junho, Lenlne, no 
Pravda, concitava os operarios e os soldados de Petrogrado a espe-
rarem pelo dia em que os acontecimentos trouxessem volumosas re-
serva.s a causa da capital. "Compreendemos a .amargura, compreen-
demos a. efervescencia dos operarlos de Piter •. N6s, porem, lhes dize-
mos: Camaradas, neste memento a agio direta n.i.o seria raclonal." 
No dia segulnte, os bolcheviques dirigentes que, aparentemente, se 
colocavam "mais a esquerda" do que Lenine, concluiram que apesar 
do estado de esplrito dos soldados e das massas. operarlas niio se 
devla ainda aceltar a batalha: "Vale mals a pena esperar que os 
partidos do Ooverno se tenham deflnitlvamente coberto de vergonha, 
para lniciar a ofenslva. Nesta hora, entiio, teremos a partlda ganha." 
l!l o que narra Latsls, organlzador de balrro, um dos mals lmpaclentes 
na.queles di&s. 0 Comlte cada vez mals freqiientemente se via obri-
gado a enviar agitadores. as casernas, a fim de evitar uma a~iio pre-
• Abrevtatura de SAo Petersburgo. [N. 4o T.] 
426 
matura. Os bolchev!ques de Vyborg, meneando a cabe~a. confusos, 
lamentam-se entre sl: "Devemos fazer o papel de pe~a de decora-
9RO." Entretanto, crescem dla a dla os apelos para sa1r as ruas. E 
muitos dos apelos sao claras provoca9(les. A organlza9iio mllltar dos 
bolchevlques vlu-se constrangida a dlrlgir um manifesto aos sol-
dados e operarlos: "Niio devels dar credlto a. qua.lquer ap~lo !an9ado 
em nome da orga.nlza~iio mllltar para. salr as ruas. A orga.nlza9ao 
mllltar nao f~z nenhum a.~lo para. que vos manlfestels". E mals 
adlante, com malor lnsls~ncla.: Devels eX!glr de qualquer agltador ou 
orador que vos Incite a. agir em nome da. orga.nlza9ao mllltar, que 
a.presente um certlflcado asslnado pelo presldente e pelo secreta-
rio da Organizac;io." 
Na. famosa Pra.9a Ya.lrotny, em Kronstadt, onde os anarqulstas 
levantam cada dla mala ousadamente a. voz, prepara.m-se ultlmatos 
sabre ultimatos. A 23 de junho, delegados da Pra9a. Yakorny, sem o 
assentlmento do sovlete de Kronstadt, eX!glram do Mlnlsterlo da 
Just19a. a llberdade de um grupo de a.narqulstas de Petrogrado, 
amea9ando, caso nada consegulssem, um assalto il. prlsao, pelos ma-
rlnhelros. No dla segulnte, representantes de Oranlenba.um decla-
raram ao mlnlstro da. .Justl9a. que a. guarnl9iio, da qual fazlam parte, 
estava ela tambem perturbada com as prlsaes levadas a. efelto tanto 
na vlla Durnovo como em Kronsta.dt, e que na guarnl9iio "Ja se a.r-
mavam as metralhadoraa." A lmprensa burguesa apanhou no ar 
essas amea9as e esfr~~gou-as no rosto de seus alla.dos, os conclllado-
res. A 26 de junho chegavam da. frente de ba.talha. a.o ba.talhiio de 
reservas, onde servlam, alguns delegados do Reglmento de Grana-
delros da Guarda, trazendo a. segulnte declara.9iio: "0 regimen to 
esta contra. o Gov~rno Provls6rlo e eX!ge que o poder passe a.os So-
vletes; o reglmento recusa-se a partlclpar da ofenslva lnlclada por 
Kerensky; o reglmento pergunta, com lnqu!eta9iio, se o Comlte-Exe-
cutlvo com seus minlstros .so.clallstas tomou o partido dos burgueses." 
0 6rgiio do Comite-Executlvo publlcou, a respelto desta vlslta, urn 
relat6rlo chelo de reprova96es. 
Grande era a etervescencia. nao apenas em Kronstadt mas 
tambem em tooa a esquadra do Baltlco, cuja base principal era 
Helsingfors. 0 mals atlvo elemento bolchevique, na esquadra, era, ln-
contestavelmente, Antonov-Ovseenko, o qual, alnda ao tempo em que 
era jovem oficlal, particlpara do levante de Sebastopol, em 1905; 
menchevlque durante os anos da rea9iio, emlgrado lnternaclonallsta 
durante os anos da guerra, colaborador do Trotsky quando da publl-
cac;i.o, _em Paris, do jornal Nashe Slovo •, unira-se aos bolcheviques 
asslm que retornou da emlgra9iio. Pouco flrme em politlca, porem 
pessoalmente corajoso, impulsive, desorganizado mas capaz de ini-
citativa e de improvisar:fio, Antonov-Ovseenko, ainda mal conhecido 
ila epoca. assumiu, em seguida aos acontecimentos da Revolm;ao, 
um lugar que longe estava de ser o Ultimo. "Em Helsingfors, no Co-
mite do Partido - conta eie nas mem6rias que escreveu - compre-
• Noasa Palavra. [N. da E.] 
427 
endiamos a necessldade de ser paclente e de nos prepararmos com 
serledade. Recebiamos, alnda, neste sentldo, lnstru~6es do Comlte-
central. Tlnhamos, todavla, perfelta conscl~ncla da lnelutabUidade 
de uma explosao e olhavamos apreenslvos para os !ados de Peters-
burgo." Ora, neste !ado acumulavam-se, dla a dla, os elementos ex-
ploslvos. 0 29 Reglmento de Metralhadores, mals atrasado do que 
o 19, votou uma resolu~ao pela transmlssao do poder aos Sovletes. 
0 39 R<>glmento de Infantarla nao permltlu que partlssem para o 
tront quatorze ·companhlas que havlam sldo destacadas. As reunl6es 
nos quartels assumlam um carater de hora em hora mals tempes-
tuoso. Um comiclo reallzado no Regimento dos Granadelros, a 19 de 
julho, proporclonou a ocaslao para a deten~ao do presldente do co-
mite e para que obstrulssem os or adores menchevlques: Abalxo a 
ofenslval Abalxo Kerenskyl No centro da guarnl~ao estavam os me-
tralhadores que abrlram OS diques aS torrentes de jUihO. 
0 nome do 19 Reglmento de Metralhadores ja nos passou sob 
os olhos no curso dos aconteclmentos dos prlmelros meses da Re-
vlu~ao. !ate reglmento que, por lnlclatlva pr6prla, se trasladou de 
Oranlembaun para Petrogrado logo ap6s a lnsurrel~ao, "para de-
fender a Revolueao", encontrou lmedlatamente a reslstencla do Co-
mlte-Executlvo, o qual tomou a segulnte declsao: agradecer ao Re-
glmento e taz~-lo voltar para Oranlembaun. Os metralhadores re-
cusaram-se peremptorlamente a delxar a capital. "Os contra-revolu-
clonarlos podem lnvestlr contra o sovlete e restabelecer o antigo 
regime.'' 0 Comlte-Executlvo fol foreado a ceder e multos mllhares 
de metralhadores permaneceram em Petrogrado e com suas metra-
lhadoras. Inatalados na Casa do Povo, nao sablam sequer o que serla 
d~les. Entre ~lea, entretanto, havla grande nlimero de operarlos 
de Petrogrado e nao to! slmplesmente por acaso que o Comlte dos 
bolchevlques se encarregou dos metralhadores. A lnterveneio do 
Comlt~ assegurou o abasteclmento dos soldados, sendo os viveres re-
tlrados da fortaleza de Pedro e Paulo. Estabelecera-se a amlzade. 
Em breve ela se tornarla lncondlclonal. A 21 de J unho os metralha-
dores, em assemb!6!a-geral, tomaram a segulnte resolueao: "Daqul 
por dlante s6 seriio envlados efetlvos para o front caso a guerra as-
soma carater revoluclonSrlo." A 2 de Julho o reglmento organlzou 
na Casado Povo um comlclo de despedlda dedlcado a "Ultima" com-
panhla que era envlada para o front. Nessa ocaslio falaram Luna-
charsky e Trotsky: as autorldades, mals tarde, tentaram dar a este 
lncldente uma excepclonal lmportancla. Em nome do reglmento res-
ponderam o soldado ZhUin e um velho bolchevlque, o Suboflclal Las-
hevlch. Grande era a excltaeao, estlgmatlzava-se Kerensky, jura-
va-se fldelldade a Revoiueao, mas nlnguem propos resolue6es pra-
tlcas para um futuro pr6xlmo. Entretanto, Jli. desde alguns dlas, 
na cidade aguardava-se curiosamente os acontecimentos. As "Jor-
nadas de Julho" projetavam, de antem.io, a sua sombra. "Por 
toda a parte, de todos os lades", escreve Sukhanov em suas 
notas, "no Sovlete, no Palacio Marllnsky,nos lares, nas pr~as e 
4ZB 
"''s bulevares, nos quartets e nas fabrlcas, falava-se a respelto de 
c crtas manlfesta~oes prevlstas para qualquer dla. . . Nlnguem sabla 
Ro certo quem se !ria manifestar, nem como, nem onde. A cidade, 
porern, sentia-se em vesperas de qualquer explosio." E a manifes-
ta~ao realmente se desencadeou. 0 lmpulso partlu de clma, das 
esferas dlrlgentes. 
No mesmo dla em que Trotsky e Lunacharsky falavam no Regi-
mento de Metralhadores da incapacldade da collga~ao, quatro ml-
nistro cadetes, estourando a coliga~ao, abandonavam o Govemo. 
E: como pretexto, escolheram o fato, para eles inacettavel - em 
razao das pretens6es que acalentavam de desempenhar papel de 
grande poder - do compromlsso que ·seus colegas concllladores ha-
viam assumido com a Ucrinia. A verdadeira causa desta rutura 
demonstratlva resldla no fato de que os concllladores nao conse-
gulam refrear as massas. A escolha do memento fol sugerlda pelo 
desastre da. ofenslva, alnda nao confessado oflclalmente, mas que 
nio ofereeia a menor sombra de dlivida para as conhecedores do 
assunto. Os liberals julgaram oportuno delxar que os allados de 
esquerda enfrentassem a derrota e os bolchevlques. 0 rumor da 
demlssiio dos cadetes propagou-se rapldamente pela capital e per-
mltlu uma generallza~ao polltlca de todos os conflltos sob uma 
ilnlca palavra de ordem, mals exatamente, sob urn s6 grlto de 
angilstla: e preclso acabar com t6da esta palha9ada de collga9ao! 
Os soldados e os oped.rlos achavam que t6das as outras quest6es 
dependlam da solu9ao que fosse dada ao problema do poder, lsto 
e, dependlam de ser 0 pals govemado ou pela burguesla ou pelos 
sovletes: salarlos, pre9o do pii.o, obrlga9ii.o de se delxar rna tar no 
front para fins lgnorados. E .c~esta atltude de expectatlva havla uma 
certa dose de llusii.o Ja que as massas contavam consegulr, em 
vlrtude da troca do poder, a solu9ii.o lmedlata de todos os problemas 
angustlantes. E no final das contas tlnham razao: a questiio do 
poder determlnava a dlte9ii.o de t6da a Revolu9ao e, por consegulnte, 
flxava o destlno de cada cldadao em particular. Serla subestlmar 
dellberadamente Mlllukov supor que os cadetes nao pudessem prever 
as repercussoes do ato de sabotagem que havlam declarado em re-
la9iio aos sovletes. 0 lider do llberallsmo evldentemente esfor9ava-
se por arrastar os concllladores a uma sltua9ao critlca, totalmente 
sem vias de salda, a nao ser pelo emprego de balonetas: naqueles 
dlas, Julgava <He plamente que alnda era possivel salvar a s1tua9ao 
por melo de uma sangria desatada. 
A 3 de Julho, ja pela manhli, varlos mllhares de metralhadores, 
lnterrompeqdo bruscamente uma reunlao dos comlt!s das pr6prlas 
companhlas e do reglmento, elegeram presldente um dos compa-
nhelros e exlglram que se pusesse em discussao, lmedlatamente, 
o assunto da manlfesta9ii.o armada. 0 meeting logo tomou aspecto 
tumultuoso. A questiio da partlda para o front se entrecruzava com 
a crise governamental. 0 bolchevlque Golovin, presldente da assem-
blela, tentava !rear a agtta9ii.o por melo de proposta de entendl-
mento prevlo com as outras unldades do Exerclto e com a Organ!-
4Z9 
za9iio mllltar. Mas qualquer alusiio a adlamentos enfurecla os sol-
dados. Fol nesta reunliio que surglu o anarqulsta Blelchman, perso-
nagem apagado, porem que se destacara no quadro de 1917. Pos-
suldor de bem modesta bagagem de !deias, porem de faro seguro 
perante a massa; slncero em seu espirlto llmitado, porem sempre 
lntlamado; o blusao aberto ao pelto, a cabelelra cacheada e hlrsuta, 
Blelchman consegula despertar nos comiclos mimero apreclavel de 
simpatlas melo lronlcas. Os operarlos olhavam-no, e bern verdade, 
com reservas e com certa lmpacU!ncla - sobretudo os metahirglcos. 
Os soldados, porem, sorrlam alegremente aos dlscursos dele, cutucan-
do-se uns aos outros e estlmulando o orador com expressoes mor-
dazes: sentlam-se evldentemente com boa dlsposl9iio a favor dele, 
em vlrtude de sua aparencla excentrlca, de seu tom resoluto de 
homem de pouco raclociulo e por seu sotaque judeu-amerlcano actdo 
como vlnagre. Em fins de junho, Blelchman nadava por toda a 
sorte de meeting lmprovlsados, tal como um pelxe dentro d'agua. 
Exprlmla sempre a mesma oplnliio quanto a. declsiio a ser tomada: 
sair, de armas nas mlios. A organlza9iio? "Iii a rua que nos organl-
zara." 0 flm em vista? "Derrubar o Governo Provlsorlo, tal como 
jli. se derrubou o tzar, se bem que, ate entiio, nenhum s6 partido 
se tlvesse manlfestado neste sentldo." Arengas semellmntes, no mo-
mento, correspondlam plenamente as dlsposl96es dos metralhadores, 
e niio apenas doles. Numerosos eram os bolchevlques que niio 
ocultavam a satlsfa~iio de ver a base desprezar as admoestaQ6es 
oflclais que eles mesmos fazlam. Os operarlos de vanguarda lem-
bravam-se de que, em Feverelro, os dlrlgentes se havlam preparado 
para dar 0 sinal de retlrada, justamente a.s vesperas da vltorla; 
de que, em marQo. a jornada de trabalho de otto horas fora con-
qulstada por !nlclatlva da base; e que, enflm, em abrll, Ml!lukov 
tlnha sldo derrubado pelos reglmentos que espontiineamente havlam 
saido a rua. A recordaQiio di!stes fatos Ia ao encontro da opiuliio 
das massas, opiuliio Ja por demals tensa e lmpaclente. 
A Organ!za9iio mllltar dos bolchevlques, !nformada lmedlata-
mente da efervescencla que relnava no meeting dos metralhadores, 
envlou a reunliio, um apos outro, dlversos agltadores. Cedo chegou. 
em pessoa, o proprio Nevsky, dlrlgente da OrganlzaQiio milltar e 
multo estlmado pelos soldados. Parece que !he deram ouvldos. Mas, 
como o meeting se prolongava lntermlnavelmente, as dlsposl~oes 
do audltorlo lam mudando, asslm como a sua composl9iio. "Fol 
para n6s grande surpri!sa", narra Podvolsky outro dlrlgente da 
OrganlzaQiiO mllltar, "quando, as 7 horas da nolte, chegou a galope 
um estafeta para nos anunclar que. . . os metralhadores havlam 
novamente decldldo manlfestar-se." Em substltul~ao ao antigo co-
mite do regimento, eJegeram um comite revoluciorui.rio provis6rio, 
constando de dols homens por companhla, sob a presldencla do 
Subtenente Semashko. Delegados espectalmente deslgnados lnlcia-
ram a ronda pelos reglmentos e pelas fabrlcas a flm de solicltar 
apoio. E clara que os metralhadores n&o se esqueceram de enviar 
iambem emissarlos a Kronstadt. Di!ste modo, num plano abalxo das 
4311 
organiza~es oflclals e parclalmente sob a oobertura dela.s, se es-
terullam novos la~os temporBrios entl"e as m&ia exasperadas usiBa8 
e os reglmentos. As massas nio tenclonavam romper como Soviete; 
ao cont.-arlo, desejavam ela• que ele se apoderasse do poder. MUlto' 
menos alnda estavam elas dlspostas a romper com o Partido Bol-
chevlque. Mas este partido parecla-lhes !rresoluto. Elas desejavam 
silmente dar um empurrii.o, amea~ar o Com!te-Executlvo e !mpeilr 
os bolchevlques para a frente. Foram !mprovlsadas delega~es, foram 
crlados novas pontos de llga~ii.o e centl"os de a~o, nii.o permanentes, 
mas a.daptados ao caso presente. As c!rcunstf&nclas e os estados de 
oolnlii.o modlflcam-se tii.o raplda e tii.o bruscamente que mei!Dlo a 
mals flexivel organlza~ii.o, como a dos sovietes, lnevitavelmente se 
atrasavam, obrlgando as massas a !mprovisar, a cada passo, cirgii.os 
a11Xillares destlnados a resolver as necessldades do mom en to. Em 
semelhantes !mprovlsa~oes, multo freqiientemente, lnslnuam-se de 
surpresa elementos ocaslonals nem sempre multo seguros. Os anar-
qulstas jogavam lenha na fogue!ra, no que eram lm!tados por al-
guns novi~os do bolchevlsmo, tamb<!m presas de lmpaclencla. Indu-
bltavelmente lncorporaram-se ao movimento alguns provocadores, 
talvez meamo agentes da Alemanha, e sem dlivlda sobretudo agentes 
da oontl"a-esplonagem da rea~ii.o russa. Como desemaranhar, flo 
a flo, o complexo tecldo dos movimentos de massas? 0 carater 
geral dos aconteclmentosdesenha-se, nii.o obstante, com toda a. sua 
clareza. Petl"ogrado adqulrla oonsclencla da p•6pria fllr~a. tomava 
lmpulso, esquecendo de olhar para tl"as, para. as provlnclas, ou para 
a frente, para o tront. E o pr6prio Partido Bolchevlque ja nii.o era 
mals capaz de moderar a capital. Nesta oonjuntura silmente a ex-
perlencla poderla ajudar. 
Ao chamar os reglmentos e os operarlos para a rua, os dele-· 
gados dos metralhadores nii.o se esqueclam de acrescentar que a 
manlfesta~ii.o devia ser armada. Slm, e como fazer de outro modo? 
1!: clara que nlnguem val, desarmado, expor-se aos golpes dos adver-
sarlos. Alem dlsto, e talvez fosse lsto o essenclal, era preclso mos-
tl"ar a pr6prla fOr~a; ora, soldado que nii.o tern fuzU lamals e fOr~a. 
Neste ponto, porem, todos os reglmentos e todas as uslnas tlnham 
a mesma oplniio: caso se procedesse a manifestaQi.o, nio se po ... 
derla presclndlr de munl~oes. Os metralhadores nii.o perdlam tem-
po: comprometldos em negciclo de vulto, devlam leva-lo a termo o 
mals depressa possivel. Os autos do processo caracterlzaram, algum 
tempo depols, os atos do Segundo-Tenente Semashko, urn dos prln-
clpsls dlrlgentes do regimen to, nos segulntes termos: " ... Requlsltou 
autom6vels as fabrlcas; armou os veiculos com metralhadoras, 
envlou-os ao Palacio de Taurlde e a outros locals, determ!nando 
os ltlnerarlos de cada urn; ele em pessoa fez o reglmento salr da 
caserna para leva-lo a cldade; dirlglu-se ao batalhii.o de reserva 
do Reglmento Moscovlta a flm de convenc@-lo a manlfestar-se, o 
que consegulu; prometeu aos soldados do reglmento de metralha-
dores o apolo dos reglmentos da Organlza~ii.o mllltar; manteve-se 
em llga~ii.o constante com aquela organlza~ii.o, sedlada na casa de 
4Jl 
Kshes!nskala e com o Iider dos bolchev!ques,. Len!ne; env!ou pa-
trulhas para guardar a sede da refer!da OrgahlzaQio." A lns!nua-
~ao feita aqui contra Lenine visa completar o quadro: Lenlne, nem 
naquele d!a, nem nos d!as precedentes, se achava em Petrogrado 
- por mot!vo de doen9a, desde 29 de Junho passara a resjd!r em 
uma v!venda na F!nlan,dla. Quanto ao ma!s, o estllo conc!so do, 
func!onar!o da Just!Qa MWtar traduz com prec!sii.o a aglta~ii.o febrU 
qae se apoderara dos metralhadores durante os preparat!vos. No 
patio do quartel trabalhava-se com ardor semelhante. Dlstrlbulam.-
se fuzis aos soldados nio armadas; granadas a alguns outros; e, 
em cada camlnhao !qrnecldo pelas !abr!cas, colocavam-se tr6s me-
tralhadoras com as respect!vas guarn!96es. 0 reglmento devla salr 
a rua em formaQiio de combate. 
Nas !O.br!cas ocorr!a aproxlmadamente a mesma co!sa: che-
gavam delegados, ora do quartel dos metralhadores, ora de qualquer 
flibr!ca das vlzlnhanQas, procurando sempre atralr os operflrlos pata 
a man!festa9ii.o. Dlr-se-la que os elnlss8lr1os eram de ha multo 
esperados: suspend!a-se Imed!atamente o trabalho. Conta um ope-
rilr!o da uslna Renault: "Depols do alm69o chegaram apressada-
mente numerosos metralhadores que nos ped!ram que lhes entre-
gassemos camlnhoes. Apesar do protesto de nossa coletivldade 
bolchevlque, fol prec!so ceder os camlnhoes ... A t6da pressa !ns-
talaram metralhadoras Maxim nas vlaturas e salram em d!sparada, 
rumo da Nevsky. Dal por d!ante tomou-se lmposslvel conter nossos 
operilrtos. . . Todos salram das oflclnas, abandonando as ocupa96es, 
com as vestes de trabalho, envergando os aventals ... " Devemos 
acredltar que os protestos dos bolchevlques nas fabrlcas nem sempre 
eram multo lnslstentes. Fo! nas fabrlcas de Putllov que a !uta mats 
se prolongou. Perto das duas horas da tarde correu pelas oflc!nas 
a noticla de que uma delega~iio de metralhadores chegara e estava 
convocando um meeting. cerca de 10 mil oper8.rios reuntram-se 
d!ante dos locals da adm!n!stra~ii.o. Aclamados, os metralhadores 
revelaram que havlam recebldo ordem de partir, a 4 de julho, para. 
o tront, mas que tinham resolvido "marchar, nio contra o prole-
tarlado alemii.o, em dlreQilo ao tront alemilo, mas contra seus pr6-
prlos m!n!stros cap!tallstas". Cresceu o entus!asmo geral. "Para a 
!rente! Para !rente!" - gr!taram os trabalhadores. 0 secretar!o do 
com!te da uslna, um bolchevtque, apresentava objeQ6es e propunha 
que se consultasse a op!nlilo do Partido. Romperam protestos gene-
ralizados: "Abalxo, Abalxo! Deseja!s cont!nuar a arrastar lndeflnl-
damente a questio!... Nio se pode mats conttnuar a viver 
ass!m! .. " Por volta das 6 horas chegaram representantes do Comlte-
Execut!vo, porem estes foram a!nda menos bern sucedldos na ten-
tativa de convencer os operarlos. o meeting cont!nuava, aquele 
lnterm!navel, nervoso, obstlnado meettng de uma massa de mllhares 
de homens em busca de uma saida e que nilo adm!tia absolute-
mente que !he dlssessem que tal saida lnexlstia. Fol proposto o 
envio de uma delega9iio ao Comlte-Execut!vo, port!m esta med!da 
era nOvo protelamento. A assemblela mantinha-se em sessao per-
432 
manente. Entrementes, um grupo de operarlos e soldados velo 
anunclar que o balrro de Vyborg Ja se movlmentara em dlre~ao 
ao Palacio de Taurlde. Impossivel obstacullzar por mals tempo. 
Decldlram marchar. Um certo Eflmov, operarlo da Putllov, correu 
ao comlte de balrro do Partido para pergun tar: "o que e que Vamos 
fazer?" Responderam-lhe: "Nio nos malltfestaremos, mas nio po-
demos abandonar OS operarlos a pr6pr1a sorte; e e por ISSO que 
marchamos com eles". Naquele memento surgiu Chudtn, membro 
de um comite de bairro, anunciando que em todos os bairtos os 
operarios se punham em marcha e que os mllitantes do Partido 
deverlam "manter a ordem". Foi assim que os bolchevtques se viram 
atraidos e arrastados ao movlmento, se bern que procurassem justi-
flcar os pr6prios atos, porque estes se chocavam com a. declsao 
oficlal do Partido. 
A vida Industrial da capital cessara. completamente Ia pelas 
7 horas da nolte. Uma ap6s outra., sublevavam-se as U.brlcas, for-
mavam-se fllelras e destacamentos de guardas-vermelhos arma-
vam-se. "Naquela massa de mllhares de operarlos", conta Metelev, 
mllltante de Vyborg, "lam e vlnham, e fazendo estalar ruldosa-
mente o gatllho dos fuzls, centenas de jovens guardas. Uns lntro-
duziam pentes de munl~oes nas armas, outros a.pertavam correlas, 
outros, alnda, prendiam aos cinturoes cartuchelras e cantls, ou 
enti.o armavam as baionetas; e os operarlos que nao possuiam 
arma.s ajudavam os guardas a. equlpar-se ... " A Perspectiva Samp-
sonevsky, principal arteria do bairro de Vyborg, regurgitava. de 
gente. A direita e a esquerda - colunas cerradas de trabalhadores. 
No meio da rua desfilava o Regimento de Metra.lhadores, esplnha 
dorsal do cortejo. A frente de cada companhia - os camlnhoes 
com as Maxims. Atras do Regimento de Metralhadores - os oper:i.-
rios. A retaguarda, cobrindo a manlfesta~ii.o - unidades do Regi-
mento Moscovita. Aclma de cada. destacamento, urn estandarte: 
"Todo o poder ao Soviete". 0 cortejo de funerals reallzado em 
mar~o. ou a. manlfesta~ao de 19 de Malo, provavelmente havlam 
sido mats concorridos. Mas o desfile de julho fot incompar8.velmente 
mals impetuoso, mats ameac;ador e. . . de compostc;S.o mats homo-
genes. "Sob as bandeiras vermelhas marcham operRrios e soldados", 
escreve urn dos participantes. "Niio se v~ os distlntivos de funcio-
narlos, nem os botoes clntllantes dos estudantes, nem os chapeus 
de 'senhoras slmpatizantes' - lsto e, tudo aquilo que se vlu quatro 
mesea antes, em fevereiro - mas, no movtmento ctesse dia, nada 
de semelhante; hoje marcham sOmente os sombrios escravos do 
capital." Corrtam pelas ruas, em diversas dire~6es, autom6veis car-
regados de trabalhadores e de soldados armados: delegados, a.gita-
dores, batedores, agentes de ligac;iio, efetivos encarregados de re-
crutar operS.rios e regimentos. Todos empunham fuzis. Os cami-
nhOes, erictados de baionetas. reproduziam o quadro das Jornadas 
de Feveretro,eletrizando alguns e aterrorizando outros. Escrevia o 
cadete Nabokov: "Sempre as mesmas faces de dementes embrute-
oidas, bestials, de que nos lembramos constantemente desde as 
433 
jornadas de feverelro", lsto e, desde as jomadas daquela mesma 
revolu~iio que os liberals oflclalmente havlam chamado de glorJosa 
e lncruenta. Perto das 9 horas, sete reglmentos dlrlglam-se para o 
Palacio de Tliurlde. Durante o percurso receberam a adesiio das 
colunas proven!entes das flibrlcas e de novas unldades mll!tares. 
0 movlmento do Reglmento de Metralhadores revelara formldlivel 
poder de contagia. Estavam abertas as "Jornadas de Julho". 
Aqul e all lmprovlsavam-se meetings. De um e de outro !ado 
ouvlam-se tlros. Segundo o operarlo Korotkov, "na Lltelny, retlra-
ram de uma adega uma metralhadora e um oflcial, que fol morto 
imedlatamente". Rum6res de t6da sorte precedem a manlfesta&io 
e esta dlfunde, em torno de sl, um terror que se lrradla em todas 
as dlre~oes. Quanta fantasia niio tol certamente transmltlda atraves 
dos telefones dos quartelroes centrals amedrontados! Uma das 
comun!ca~oes, por exemplo, dlzla que as 8 horas da nolte um auto-
move! armado chegara a toda velocldade A esta~iio de Vars6vla, A 
procura de Kerensky, que exatamente neste dla partla para o front; 
o carro porem chegara tarde demals, ap6s a partlda do trem, e a 
prlsiio nao se efetuara. li:ste epls6dlo fol menclonado em segU!da, 
por mats de uma vez, como prova da consplra~ii.o. Quem, preclsa-
mente, se encontrava no automovel, e quem havla descoberto as 
lnten~oes mlsterlosas dos seus ocupantes? Nunca nlnguem soube. 
Naquela tarde, carros chelos de homens armadas corrlam em todas 
as dlre~oes e e multo provavel que tambem tlvessem andado pelas 
lnredla~oes da esta~ii.o de VarB6vla. Invectlvas em calii.o, contra 
Kerensky, ecoavam em multos lugares. Esta deve ter sldo, provA-
velmente, a origem da lenda, supondo-se que ela niio tenha. sldo 
totalmente forjada. 
0 I2vestla tra~ava. o segU!nte esquema. dos aconteclmentos de 
3 de julho: "As 5 horas da. tarde sairam A rua, armadas: o 19 de 
Metralhadores, um contlnge~e do Reglmento Moscovlta, um con-
tlngente de granadelros e um contlngente do Regimento Pavlovsky. 
Juntaram-se a eles massas de operarlos.. . As olto da. nolte come-
~aram a. reunlr-se em tomo do Palacio Ksheslnska.la diferentes 
un!dades de regimentos, armadas dos pes II._ cab~a. exiblndo ban-
delras vermelhas e cartazes que exlglam a. transmlssii.o do poder ao 
Sovtete. Do alto das sacadas pronunclavam-se discursos ... As 10 
horas e mela, na praca frontelra ao PalAcio de Taurlde, reallzou-se 
um comlclo.. . As unldades 'elegeram uma deputa~iio ao Comlte-
Exeeutlvo-Central Panrusso, a qual, em nome delas, formulou as 
segulntes relvlnclica~oes: Abalxo os dez \Uinlstros burguesesl Todo 
o poder ao Sovlete! Pa.rar com a ofens/va! Conflsco das oflclnas 
dos jornals burgueses! · Naclonallza~ao da terra! Controle da. pro-
duc;iio!" Postos ao Iado, .acrescimos de 'nteresse secundB.rio: "unida-
des de regimentos", em vez de "regtlhentos"; "massas de opera .. 
rios", em vez de "f8.bricas inteiras" -:-\ poder:se-ia dizer que o 6rgiio 
oficioso de TseretelU e Dan, no conj~to, nao altera absolutamente 
o que se passou e, em particular, assinala exatamente os dois focos 
da manlfestacii.o: o palacete particular de Ksheslnska.la e o Palacio 
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de TiiUride. Moral e materlalmente, o movlmento glrava em tOrno 
daqueles dols centros antagonicos: na. mansii.o Ksheslnskala lam 
procurar indica~Oes, uma direc;io, uma palavra. inspiradora; no 
Palacio de Tauride lam formular relvlndlca~oes e, mesmo, amea~ar 
pela for~ que representavam. 
As 3 horas da tarde, perante a conferencla-g ... al dos bolche-
vlques da capital reunlda naquele dla no Palacete Ksheslnskala, 
dots delegados dos metralhadores chegaram para comunlcar a de-
clsii.o que o reglmento toma.va, de se manlfestar. Nlnguem esperava 
por Is to. Tomsky declarou: "Os reglmentos que se puseram em mo-
vlmento niio aglram com esplrlto de camaradagem porque niio 
convldaram o Comlte do nosso Partido a dlscutlr a questii.o. 0 
comlte-centraJ propoe A conferencla: 19 - publicar um manifesto 
destlnado a conten~iio das massas; 29 - elaborar um memorial 
ao Comlte-Executlvo, propondo que se assuma o poder. Naquele 
momenta nii.o se podia falar de manlfesta~ao sem desejar nova 
revolu~iio." Tomsky, antigo operario bolchevlque, cuja fidelida.de 
ao Partido era testemunhada por multos anos de prlsiio, e conhecl-
do em segulda como dlrigente dos slndlcatos, era, pela propria for-
ma9iio do carater, mals favoravel a lmpedlr as manlfesta~oes do 
que a provoca-las. Desta vez, porem, ele nada mals fazla que d.e-
senvolver o pensamento de Lenlne: "Niio se poderla falar de ma.-
nl!esta9iiO neste momento, sem que houvesse o desejo de nova 
revolu~ii.o." POrque, ate a propria tentatlva de manlfesta~iio pacifica 
de 10 de junho filra conslderada pelos concllladores como cons-
plra~ao! A esmagadora malorla da Conferencla solldarlzava-se com 
Tomsky. Era preclso adlar o desenlace, a qualquer pre~o. A ofen-
slva no front mantem o pals lntelro em suspense. 0 ma!Ogro era 
prevlsto, asslm como a lnten~ii.o do Governo era de lan~ar sobre 
os bolchevlques a regponsabllldade da derrota. I!: preclso dar aos 
concllladores o tempo necessaria para que se comprometessem lrre-
medlavelmente. Volodarsky, em nome da Conferencla, respondeu 
aos metralhadores, dlzendo-lhes que o reglmento devla submeter-
se a declsiio do Partido. Os metralhadores retlraram-se protestando. 
As 4 horas, o COmlte-Central con!lrmou a declsiio da Conferencla. 
seus membros dlspersaram-se pelos balrros e pelas fabrlcas, a flm 
de lmpedlrem a manlfesta~iio das massas. No mesmo sentldo, !ol 
envlado ao Pravda um manifesto para ser Impressa na primelra 
paglna da ma.nhii segulnte. Stalin fol encarregado de lnformar a 
Assemblt!la unlflcada dos comltes-executlvos sabre a declsii.o do 
Partido. As lntenQoes dos bolchevlques niio delxam. por consegulnte, 
Iugar a qualquer duvlda. o Comlte-Executivo dlriglu um manifesto 
a.os operarlos e aos soldados: "Alguns desconhecldos... concltam-
vos a descer armados para as ruas", assegurando, atraves d~ste 
documento, que o apelo niio provlnha de qualquer partido sovlt!tico. 
Mas os comites centrals. de partldos e de sovletes, propunham, ao 
passo que as massas dlspunham. 
La pelas 8 horas da nolte, o Reglmento de Metralhadores e, 
atras dele, o Reglmento Moscovlta, aproxlmaram-se do Palacio de 
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Kshesinskaia. Bolcheviques populares, Nevsky, Lashevich, Podvoisky, 
tentaram, do alto da sacada, convencer os regimentos de que de-
viam voltar para os quarteis. Respondiam-lhes de baixo: Abaixo! 
Da sacada dos bolcheviques ainda nao haviam sido ouvidos seme-
lhantes gritos partidos dos soldados: era, portanto, urn sintoma 
inquietador. Atras dos regimentos apareceram as f:ibricas: "Todo 
o poder aos sovietes!" "Abaixo os dez minlstros capltalistas!" Eram 
as bandeiras de 18 de junho. Agora, entretanto, apresentavam-se 
enquadradas por baionetas. A manlfesta~iio tornara-se urn fato que 
se impunha. Que fazer? Seria concebivel que os bolcheviques se 
mantlvessem afastados? Os membros do comlte de Petrogrado, jun-
tamente com os delegados da Conferencia e representantes dos 
regimentos e das fibricas, decidiram o seguinte: rever a questao; 
p6r fim as crispa~oes estereis; dirlglr 0 movlmento desencadeado 
no sentido de convence-lo de que a crise governamental serta re-
solvida de acordo com os interesses do povo; com este fim, convi-
dar os soldados e os operarlos a marchar pacificamente em dire~iio 
ao Palacio de Tauride, a eleger delegados e, por intermooio destes, 
formular as reivindica~oes de cada urn perante o Comite-Executlvo. 
os membros do Comlte-Central presentes naquele momenta sanclo-
naram a modiflca~ao de tatica. A nova decisiio, proclamadado alto 
da sacada, foi acolhida com aclama~oes e com o canto da Marse-
tnesa. 0 Partido legallzara o movimento: os metralhadores ja po-
diam respirar com alivio. Uma parte do regimento entrou imediata-
mente na fortaleza de Pedro e Paulo para trabalhar a guarni~iio 
e, se necessaria ftisse, proteger contra qualquer golpe trai~oeiro o 
Palacio Kshesinskaia, que esta separado da fortaleza pelo estreito 
canal de Kronvenvsky. 
Os destacamentos que encabe~avam a manlfesta~iio !nsinua-
ram-se pela Nevsky, arteria da burguesia, da burocracia, e do corpo 
de oficials, tal como se esttvesse em pais estranho. Das :;acadas, 
das janelas, das cal~adas, mllhares de olhos maldosos espionavam 
com circunspe~iio. A cada fabrlca segue-se um regimento; a cada 
reglmento segue-se outra fabrica. Incessantemente surgem novas 
massas. TOdas as bandelras, Jetras douradas em fundo vermelho, 
clamam o mesmo apeJo: "Todo o poder aos sovietes!" 0 desfile 
se apossa da Nevsky e, como torrente lrreslstivel, transborda stibre 
o PaJB.cio de TB.uride. Os cartazes "Abatxo a guerra!" provocam 
a mats viva hostilidade dos ofletais, entre os quais numerosos !.nv8.-
lldos. A gestlcular, a esbaforir-se, o estudante, a estudante, o fun-
cionario, tentam persuadir os soldados de que os agentes da Ale-
manha, que estiio por detras dos operarlos, desejam apenas que 
as tropas de Guilherme tenham acesso a Petrogrado para asfixiar 
a liberdade. Os oradores acham que seus pr6prios argumentos sio 
irresistiveis. ":&:les esti.o sendo enganad<Js por espiOes!", dizem os 
funcion:irios a respeito dos trabalhadores, que respondem em tom 
irritado. "Arrastados por fanatlcos!", insistem os mais lndulgentes. 
"Ignorantes!" - e neste ponto uns e outros se mostram de acOrd&. 
os operArtos medem as coisas a sua manetra. Nio foi com esp16es 
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alemiies que @les aprenderam a compreender as ld<!las que hole 
os levam para as ruas. Os manlfestantes afastam, sem qualquer 
urbanldade, os admoestantes lmportunos, e seguem para a frente. 
Isso exaspera os patrlotas da Nevsky. Orupos de choque, comanda-
dos quase todos por lnvalldos e por cavalelros de Sao Jorge, lan-
~am-se contra certos destacamentos de manlfestantes para arran-
car-lhes as bandelras. Conflltos explodem aqul e all. A atmosfera 
esquenta. Espoucam tlros de urn e de outro !ado. De uma janela? 
Do Palacio Anlchkln? A rua responde com uma sa iva de tlros para 
o ar, sem destlno certo. Durante algum tempo toda a rua flea em 
polvorosa. Conta urn operarlo da fabrlca Vulcan que Ia pela mela-
noite, no momento exato em que o reglmento de granadelros pas-
sava pela Nevsky, nas lmedla~oes da blblloteca pUblica, espoucou 
uma fuzllarla, niio se sabe orlunda de onde, e que durou alguns 
mlnutos. Estabeleceu-se o panlco. Os operarios espalharam-se pelas 
ruas adjacentes. Os soldados, expostos ao fogo, lan~aram-se por 
terra: niio tlnha sido em viio que grande numero d@les havia 
passado pela escola de guerra. Aquela Avenida Nevsky da meia-
noite, onde os granadeiros da guarda se mantlnham deltados de 
bru~os na pista, sob a fuzllaria, apresentava fantastlco espetaculo. 
Nem Pushkin, nem Gogo!, que tanto celebraram a Nevsky, Jamals 
a teriam representado assim! Aquela fantasmagorla, entretanto, era 
realidade: sabre o cal~amento flcaram mortos e ferldos. 
VIVIA o Palacio de Tauride, naquele dia, sua vida peculiar. 
Ap6s os cadetes haverem apresentado pedido de demissiio do Oo-
v@rno, os dols comit@s-executivos, o dos operarios-soldados e o dos 
camponeses, passaram a discutir, em comum, o relat6rio de Tsere-
telll sobre a questiio de achar urn meio de llmpar a pel!ca da coali-
zao sem molhar o p@lo. 0 segr@do de semelhante opera~ii.o terla 
sido descoberto, com toda a probabllldade, ao fim de certo tempo, 
se os arrabaldes turbulentos n9.o o tivessem impedido. As comunica-
~Oes telef6nicas anunctadoras da movimenta~ii.o do Regimento de 
Metralhadores, que estava sendo preparada, fazem surgir rictus de 
c6lera e de contrariedade na flslonomla dos dirlgentes. Sera possi-
vel que os soldados e os opertirios nio sej am capazes de esperar 
que os jornais lhes comuniquem uma declsiio salutar. A malorla 
olha os bolcheviques com animosidade. Desta vez a manifesta~ao 
ainda era imprevista para os pr6prios bolcheviques. Kamenev e 
outros representantes do Partido ali presentes coneordam em se 
dirigirem, ap6s a sessio do dia, para as fabricas e para os quarteis, 
a flm de tentarem conter as massas. :llsse gesto foi, mals tarde, 
lnterpretado pelos concllladores como um estratagema. Os comit@s-
executtvos aprovaram com urgencia um manifesto que declarava, 
como sempre, que quaisquer manifesta(:Oes significaria trai(:§.o ·a 
Revolu~iio. Entretanto, como salr da crise de poder? Foi achada a 
•aida: manter o Ministerlo truncado tal qual estava, adlando o 
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exame d.a questao, em seu conjunto, ate a convoca-;i.o dos membros 
provincials do Comlte-Executlvo. Protelar, ganhar tempo para salr 
de exclta96es, nao sera, por acaso, a mats sabla de tQdas as po-
litlcas? 
Era somente no terreno da !uta contra as massas que os con-
cllladores julgavam lnadmissivel a perda de tempo. o aparelho 
oflcial fol posto lmedlatamente em movimento contra a insurrel9iio 
- porque foi assim que se denomlnou, desde o inicio, a manifes-
tagao. Os lideres procuravam, com afinco, fOr9a armada para a 
prote~iio do Governo e do Comlte-Executivo. Asslnadas por Cheldze 
e por outros membros do presidium, foram envladas, a dlversas 
instltul~oes mllltares, tntlma~oes no sentldo de que mandassem ao 
Palacio de Tauride carros blindados, canhoes de tres polegadas e 
munl~oes. Concomitantemente, quase todos os reglmentos recebe-
r.am ordem de envlar destacamentos armados para a defesa do 
palacio. Entretanto, niio se limltaram apenas a lsso. Apressou-se o 
biro, no mesmo dla, a telegrafar ao front, para o 59 Exerclto -
o mais proximo da capital - a lmposl9iio de "envlar a Petrogrado 
uma dlvlsiio de cavalarla, uma brlgada de lnfantarla e carros blin-
Eiados". 0 menchevlque Voltlnsky, encarregado de zelar pela segu-
ran~a do Comlte-Executlvo, declarava mals tarde, francamente, 
numa exposl9iio retrospectlva: "Todo o dla 3 de julho fol empre-
gado em reunlr tropas para fortlflcar o Palacio de Taurlde ... lfossa 
tare fa era a de reunlr pelo me nos algumas companhlas. . . Durante 
curto lapso de tempo faltaram-nos as filr~as completamente. A en-
trada do Palacio de Taurlde havla uma patrulha de sels homens 
que niio podlam conter a multldiio ... " Continua ele, depots: "No 
prlmelro dla da manlfesta~ao, possuiamos apenas cem homens a 
nossa d!sposl9iio - e niio tlnhamos outras ffi~as com que contar. 
Envlamos emlssarlos a todos os reglmentos, rogando-lhes que nos 
fornecessem soldados para a guarda... Oada reglmento, porem, 
observava os outros, para ver como se conduziam. Era precise, a 
qualquer prec;o, acabar com semelhante escft.ndalo; apelamos para 
as tropas do front." Serla dlficU, mesmo lntenclonalmente, lnventar 
contra os conciUadores uma s8tlra mats venenosa que essa. Cente-
nas de mllhares de manlfestantes exlglam que o poder passasse 
aos sovletes. Cheldze, colocado il. frente dos sovietes, e, por conse-
gulnte, candldato ao p()sto de prlmelro-mlnlstro, procurava for9a 
armada para lanc;B.-la contra os manlfestantes. E o movimento 
grandloso, desencadeado para entregar o poder il. democracla, era 
declarado pelos seus llderes CQmo sendo um ataque de bandos ar-
madas contra a democracla. 
No mesmo Palacio de Tli-urlde reunlra-se, ap6s Iongo Inter-
regno, a se~iio operarla do Soviete, a qual, durante OS ultlmos dols 
meses, por melo de elel96es parclals nas fabrlcas, havla de tal modo 
podldo renovar seu efetivo, que o ComtUl-Executivo temia, e nio 
sem raziio, ver nela predomlnarem os bolcheviques. A reunlao da 
se9iio, artlflclalmente protelada, flxada enflm pelos pr6prlos con-
cllladores

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