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TROTSKY, Leon. A História da Revolução Russa, v. 3

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-
Un1 
Testemunho 
Auten rico 
Pela primeira veL, na historia das revolu~Oes 
que transformaram o mundo, urn dos seus 
lideres de1xa para a H1st6ria seu testemunho. E 
o fal de maneira inteligente, ousada, dominan· 
do o fato e o processo que lhe deram causa, 
numa analise profundae notavel de acuidade e 
perce~ao da importancia da Revolu~Ao de 
Outubro de 1917. 
A Historia da R~volurao Ru.rsa. de Leon Trots· 
ky, nao constitui urn desenrolar de fatos e da· 
tas. turn livro de tese. turn livro de interpre· 
ta~ao politiC<! e sociol6gica. t o livro de urn 
observador e psicologo prof undo, que nos da o 
quadro revolucionario e a personalidade dos 
homens-destino da Revolu~ao de 1917. Eo li· 
vro de urn homem que niio conheceu o medo 
dos mitos e das coisas estabelecidas. 
Urn livro definitivo. "Uma obra imparcial: isto 
c, racional, objetiva, cientifica" , no dizer do 
Mirroir d~ /'Histoir~. 
Por sua vez, Th~ Tim~J Lituary Suppl~m~nt 
co menta: 
"A Hi.Horia da R~volurao Russo e descrita por 
Max Eastman como a primeira hist6ria cientl· 
fica de urn grande acontecimento ... escrita por 
urn homem 4ue desempenhou urn papel domi· 
nante nele. Escrita no exllio mais de dez anos 
A HIST6RIA DA 
REVOLU<;AO RUSSA 
Col~iio PENSAMENTO CRITICO 
Vol. II 
Ficha catalognlfica 
(Preparada pelo Centro de Cataloga~io-na-fonte do 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ) 
T772h 
76-0609 
Trotsky, Leon, 1879-1940. 
A Hist6ria da Revolu~iio russa; tradu~iio de E. Huggins. 
2.ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1977. 
3v. (Pensamento critico, v. II) 
Do original em ingles: The history of the Russian Revo-
lution 
A pen dices 
Conteudo.- v.l. A·queda do tzarismo.- v.2. A tentativa 
de contra-revolu~iio. - v.3. 0 triunf9 dos sovietes 
I. Russia- Hist6ria- Revolu~iio, 1917-1921 I. Titulo II. 
Serie 
CDD- 947.084 
CDU- 947"1917/1921" 
EDITORA PAZ E TERRA 
Conse/ho Editorial 
Antonio Callado 
Celso Furtado 
Fernando Henrique Cardoso 
LEON TROTSKY 
A HIST6RIA DA 
REVOLU<_;AO R USSA 
TRADU<;AO DE E. HUGGINS 
TERCEIRO . VOLUME 
Paz e Terra 
© Copyright by The University of Michigan Press, 1932. 
Titulo do original em ingles: 
The History of the Russian Revolution 
M ontagem da capa: Mario Roberto Correa da Silva 
( sobre original de Maria Luisa Campclo) 
Direitos desta edi~iio adquiridos pela 
EDITORA PAZ E TERRA S.A. 
Rua Andre Cavalcanti, 86 
Rio de Janeiro, RJ, 
que se reserva a propriedade desta tradu~iio. 
1977 
Impresso no Brastl 
Printed in Brazil 
T erceiro Volume 
0 TRIUNFO DOS SOVIETES 
Capitulo I 
0 CAMPESINATO PERANTE OUTUBRO 
A ciVILIZAl/Ao transformou o campones em burro de carga. A bur-
guesla, aflnal de contas, apenas moditlcou a forma da canga-
lha. A duras penas suportado na solelra da vida nacional, o campe-
sloato, em suma, permaneceu estacionado no llmiar da ciencia. 0 
historiador, via de regra, interessa-se por ele tao pouco quanta 
qualquer critlco teatra! se possa interessar pe!os personagens oba-
curos que varrem os assoalhos, carregam nas costas ceu e terra, e 
lim pam os tral es dos artistas. A partlcipa~iio dos camponeses nas 
revoluQiies do passado permanece, ate hole, mal elucidada. 
"A burguesia francesa come9ou por emancipar os camponeses", 
escrevia Marx em 1848. "GraQas a ajuda dos camponeses, ela con-
qulstou a Europa. A burguesia prusslana estava de tal manelra 11-
mitada por seus interesses acanhados, imediatos, que chegou mesmo 
a perder esse al18.do, e transformou-o em instrumento nas mios da 
contra-revoluQiio feudal". Nesta contradiQiio, o que hil de verdadeiro 
e 0 .que se retere a burguesia alemi; aflrmar, porem, que "a burgue-
Sia francesa comec;ara por emanclpar os camponeses", e propiciar 
eco a lenda oflcial francesa que, em seu tempo, exorceu grande 
influencia, mesmo em Marx. Na realidade, a burguesia, no sentldo 
proprio do termo, opu:nha-se com tOdas as forQas a revo!uQiio cam-
ponesa. Jil nas reivindlcaQiies de 1789, os lideres provlocianos do 
Tercetro Estado rejeitavam, a pretexto de melhorar a redac;i.o, as 
mats violentas e as mats ousadas reivtndtcac;Oes. As famosas deci-
sOes da noite de 4 de agosto, adotadas pela Assembleia Nacional, 
sob o rubro firmamento das aldeias qu_e se incendiavam, durante 
Iongo tempo permaneceram como f6rmula patetica e sem conteudo. 
Os camponeses que nii.o desej a vam resignar-se ao papel de lesados 
eram cbamados pela AssembltHa Constituinte a "retomarem ao cum-
prtmento dos pr6prios deveres, e a considerarem a proprledade 
[feudal! l com o devldo respeito". A ouarda Nacional, por mals de 
uma vez, movimentou-se a fim de reprimtr as insurreic;Oes nos cam-
pos. Os operarlos das cidades, tomando partido pelos camponeses 
insurretos, a~olhiam a repressa.o burguesa atirando pedras e cacos 
de telhas. 
Durante cinco anos, em todos os mementos criticos da revo-
luc;io, os camponeses france~es sublevaram-se, opondo-se a <tual-
709 
quer acomoda~iio entre os proprietarios feudais e os proprietarios 
burgueses. Os sans-cullottes de Paris, ao derramarem o proprio san-
gue, pela Republica, llbertavam os camponeses dos gr!lhoes do feu-
dalismo. A Republica Francesa de 1792 marcava um novo regime 
social, dlferente do da republica alema de 1918, ou do da Republi-
ca Espanhola de 1931, que representam o velho regime exceto a di-
nastla. Na base dessa dlstln~iio, niio e dificil reconhecer-se a ques-
tio agrQria. 
0 campones frances nio sonhava, de modo algum, direta-
mente, com a Republica: o que ele querla era expulsar o pequeno 
nobre agrarlo. Os republlcanos de Paris, ordlnarlamente, esqueclam-
se da aldela. Mas fol somente o avan~o dos camponeses contra os 
proprletarlos o que garantlu a crla~iio da republica, porque varrla 
para ela o terreno do brlcabraque feudal. Uma republica com no-
breza niio e republica. Isso to! perfeltamente compreendido pelo 
velho Maqulavel que, 400 anos antes da presldencla de Ebert, du-
rante o exillo que cumpria em Floren~a, entre a caQa aos melros 
eo jogo de gamao com um a~ouguelro, generallzava a experli!ncla das 
revolu~es democratlcas: "Quem quer que tenha o desejo de fundar 
uma republica num pais onde exlstam multos nobres niio o podera 
fazer senao depots de til-los extermlnados a todos." Os mujlques 
russos eram, em suma, da mesma opiniio, e bern que o manifes-
taram abertamente, sem qualquer traQo de "maquiavellsmo". 
Ao passo que Petrogrado e Moscou desempenhavam papel dl-
rlgente no movlmento dos operarlos e dos soldados, o prlmeiro Iu-
gar no movlmento campones deve ser atrlbuido ao retr6grado cen-
tro agricola da Grande Rusala, e a regliio central do Volga. All, as 
sobrevlvenclas do regime de servldiio conservavam raizes partlcu-
Iarmente profundas; a proprledade agrarla dos nobres possuia o 
mals parasltarlo carater; a dlferencla~iio da classe camponesa ell-
tava retardada, revelando, a propor~iio do atraso, a ml&eria da al-
dela. Tendo estourado a Revolu~iio naquela regliio desde o mils de 
ma~. o movlmento lmedlatamente matlzou-se com as cores do 
terror. Gra~as aos esfor~s dos partldos dlrlgentes, fol ele dentro 
em pouco canallzado para o Ielto da politlca de concllla~iio. 
Na Ucriinla, lndustrlalmente atrasada, a agrlcultura que tra-
balhava para a exporta~iio tomou o carater multo mals progresslsta 
e, por consegulnte, multo mals capltallsta. A segrega~iio no selo do 
cam!l<'slnato fol all multo mals profunda; multo malor do que na 
Grande RUSBia. A !uta pela emanclpa~iio naclonal, pelo menos du-
rante algum tempo, entrava as outras formas de !uta social. Mas 
as dlferen~as de condl~oes reglonals, e mesmo naclonals, traduzlam-
se aflnal de contas apenas pela dlversldade nas datas dos aconte-
clmentos. L8. pelo outono, o terrlt6rlo da subleva~iio dos rurals al-
can~a quase todo o pais. De 624 dlstrltos que compunham a antigaRussia, o movimento atlnglu 482 distrltos, isto e, 77%; com exce-
~iio das regloes llmitrofes que se. dlstingulam pelas condi~oes agra-
rias especials que apresentavam: a regiiio do Norte, a Transcau-
710 
casla, a regliio das estepes, e a Siberia; de 481' dlstrltos, a lnaurrei-
~iio camponesa englobou 439 distrltos, lsto e, 91%. 
As modalldades da !uta siio diversas, segundo dlga respeito it. 
lavoura, as florestas, aos campos de pasta, aos arrendamentoa de 
herdades ou entio ao trabalho assalariado. A !uta muda de formaa 
e de metodos de acOrdo com as diversas etapas da Revoluqiio. No 
conjunto, porem, o movimento nos campos desenvolveu-se com um 
atraso inevitol.vel e passando pelas mesmas duas grandes fases que 
coll6tltuiram o movimento nas cidades. Na primelra etapa o campe-
sinato adapta-se alnda ao novo regime e esfor~a-se por resolver 
seus problemas por meio das novas instltui~6es. Entretanto, alnda 
aqul, trata-se mais da forma do que do conteudo. Um jomal libe-
ral de Moscou que, ate a Revolu~io, se colorla com as nuances po-
pullstaS: exprlmia com louvavel espontaneidade o sentlmento intl-
mo dos circulos de proprietirlos durante o veriio de 1917: "0 mu-
jique olha em tOmo de si, no momento nio se determlna a fazer 
qualquer cousa, mas, olhal bem em seus olhos e seus olhos dlzem 
que tOda a terra que se estende em tOrno e d6le." Temos a chave 
insubstltuivel da politica "pacifica" do campeslnato em um telegra-
grama enviado por .algumas vilas da provincia de Tambov, em abrll, 
ao Governo ProvlsOrio: "N6s desejamos manter a calma no inter6s-
se das llberdades conquistadas e, por esse motlvo, e preciso proibir 
que sejam alugadas as terras dos proprietirios ate a Assembleia 
Constituinte, de outra forma derramaremos sangue e nio permitlre-
mos a ninguem lavrar a terra." 
Era bern mais comodo, ao mujique, manter o tom de respeito-
sa amea9a porquanto, com a pressao s6bre os dlreiios hlstOricamen-
te adquiridos, ele quase nao tlvera ocas!ao de esbarrar diretamente· 
contra o Estado. Nas localldades nao exlstlam 6rgaos de poder go-
vemamental. Os comiMs de cantio dispunham da mllicia. Os tribu-
nals estavam na DJI).ior desordem. Os comlssarios locals mostravam-
se impotentes. ''Fomos· n6s que te elegemos", gritavam-lhes os cam-
poneses, "e nOs tambem te expulsaremos." 
Ao desenvolver a !uta dos meses precedentes o campesinato, 
no decorrer do veri.o, aproxlma-se dla a dia da guerra civll e a ala 
esquerda ultrapassa mesmo a soleira. Segundo uma comunica9io dos 
proprietirios de terra do dlstrito de Taganrog, os camponeses apo-
deram-se arbitrit.rlamente do feno, das terras, op6em-se ao amanho 
da terra, f!xam, segundo seus desejos, os pre9os dos arrendamentos, 
expulsam os senhores e os gerentes. Segundo o relat6rio do comissa-
rio de Nlzhjni-Novgorod as vlol6nclas e as aproprla96es de terras e 
de bosques, na provincia, tornam-se cada vez mats freqiientes. Os 
comlssarlos de dlstrltos temem parecer aos olhos dos camponeses 
como protetores dos grandes proprietaries. A mllicia .rural e pouco 
_segura: "Houve eases em que membros da milicia partlclparam das 
violencias juntamente com o povo." No dlstrito de Schliisselburg o 
comite de cantio prolblu aos proprietaries cortarem madeira den-
tro .de seus pr6prlos dominlos. A Idola do cam~ones era simples: nem 
711 
uma esp6cle de Assemblela Constltulnte podera reconstltulr com ca-
vacos as arvores derrubadas. 0 comlssarlo do mlnlsterlo da COrte 
quebta-se da aproprla~ao de campos de pas to: somos obrlgados a 
comprar reno para os cavalcs do palaclo! Na provincia de Kursk os 
camponeses repartlram, entre st. os alquelres beneflclados de Teresh-
chenko: o proprletarlo e o mlnlstro. dos Negoclos Estrangelros. Os 
camponeses declararam a Schneider, proprletarlo de haras na pro-
vincia de ore!, que nao somente lrlam celfar o trlgo em suas te-rras 
como tambem lrlam "envla-lo para a caserna na qualldade de sol-
dado". 0 encarregado das terras de Rodzlanko recebeu do comite de 
canti.o ordem para que cedesse os campos aos camponeses: "Se nio 
obedecerdes ao comlte agrarlo aglriio convosco de outra manelra, 
prender-vos-io." Asslnatura e estampilha. 
As quelxas e as lamentM6es afluiam de tbdas as partes do 
pais: proprletarlos vitlmas, autorldades locals, honradas testemu-
nhas. Os telegramas dos proprletarlos de terras constltuem a mals 
esmagadora refuta~ao das grosselras teorlas da !uta de classes. Per-
sonagens tltulados e senhores de latlfundlos, partldarlos da servl-
dao, clerlgos e Jaicos, preocupam-se excluslvamente com o bem geral. 
0 inimigo nao sao os· camponeses, sao os bolcheviques, algumas 
vi!zes os anarqulstas. Os proprios domlnlos pertencentes aos nobres 
rurais s6 lhes interessam exclusivamente do ponto de vista da pros-
perldade da patrla. Trezentos membros do Partido Cadete; na pro-
vincia de Chernlgov, declaram que os camponeses, excltados pelos 
bolchevtques, llbertam os prlslonelros de guerra e celfam, arbltra-
riamente, a colheita do tl-igo: em resultado, esta ameac;a: 11lmpos-
slbllldade de pagar os lmpostos". Os proprletarlos liberals vlam o 
sentldo da exlstencla na manuten~ao do Tesouro\ A sucursal do 
Banco de Estado de Podolsk quelxa-se das lnlclatlvas arbltrarlas 
dos comites de cantiio "cujos presldentes sao, nao raras vezes, prl-
slonelros autriacos." Aqul fala o patrlotlsmo ofendldo. Na provin-
cia de Vladimir, nos domlnlos do notarlo Odlntsov, retlram ma-
terials de constru~ao, preparados para obras de beneflcencla. "Os 
notarlos vtvem, apenas, para as obras humanltarlas!" 0 blspo de 
Podolsk comunlca que se apossaram arbltrarlamente de uma flo-
resta que pertence ao arcebispado. 0 alto-procurador de Binodo 
queixa-se que se apossaram dos campos do mostelro Alexandre 
Nevsky. A abadi!ssa do monasterlo de Klzllarsk lmpreca aos ralos 
contra os membros do sovlete local: i!les se lmlscuem . nos negoclos 
do monast6rlo, conflscam, em provelto pr6prlo, os arrendamentos 
das terras, "excitam as rellgiosas contra as autoridades". Em se-
melhantes casos os lnteri!sses da Igreja eram atlngldos dlretamente. 
0 Conde Tolst61, um dos fllhos de Leon Tolst61, comunlca, em nome 
da Unliio dos proprletarlos rurals da provincia de Uflm, que a 
transmissio da terra aos comites locals, "sem aguardar a deeis§.o 
da Assemblela Constltulnte . . . provocara uma explosiio de descon-
tentamento. . . entre os camponeses proprletarlos que sao, na pro-
vincia em numero de mats de 200.000". l!:ste proprletario de alta 11-
nhagem preocupa-se, excluslvamente, com o irmiio menor. 0 Se-
712 
nador Belgardt, proprietario da provincia de Tver esta pronto a 
se aubmeter as derrubadas feitas nos bosques mas se aflige por ver 
que os camponeses nii.o querem submeter-se ao govemo burgues." 
Vellaminov, proprietario na provincia de Tambov, sollcita a sal-
va~ao de dais dominios que "servem as necessidades do exercito". 
Intelramente por acaso, acontece que tals dominlos !he pertencem. 
Para os fil6sofos do ideallsmo os telegramas dos proprietarios cons-
tituem um verdadeiro tesouro. 0 materialismo neles vera, sobretudo, 
uma exposi~ao de modelos de cinismo. E acrescentara, talvez, que 
as grandes revolu~oes retiram, aos possuidores, ate a possibllldade 
de uma hipocrlsla decente. 
As petl~oes das vitlmas, enviadas as autoridades dos distritos 
e das provincias, ao ministro do Interior e ao presidente do Con-
selho de Ministros permanecem, em geral, sem resultado. A quem, 
entao, pedir auxlllo? A Rodzianko, presldente da Duma de Estado. 
No tempo que medeia entre as J1ornadas de Julho e o levante kor-
nlloviano o camareiro sente que voltou a ser uma personagem in-
flwmte: muitas coisas foram feitas por meio de urn simples apelo 
telefonico de Rodzianko. 
Os funcionarios do Mlnlsterlo do Interior enviam, as provin-
cias, circulares determinando que as culpados compare~am perante 
os tribunals. Os rlisticos,os proprietaries da provincia de Samara, 
telegrafam em resposta: "As circulares que niio vier em assinadas 
pelos ministros sociallstas niio rem efeito." Dessa forma se mani-
festa a utllldade e do sociallsmo. Tseretelll viu-se obrigado a so-
brepor-se a propria modestla: a 18 de j ulho en via uma circular 
com instru~oes prollxas prescrevendo "medldas rapidas e resolutas." 
Asslm como os proprietarios, Tseretelli preocupa-se excluslvamente 
com o exerctto e o Estado. Parece, portanto, aos camponeses, que 
Tseretelll tomou os proprietarios sob a prote~ao dele. 
Da-se uma rev!ravolta nos metodos de repressio do govemo. 
Ate julho encontrava-se escapat6rla sobretudo por meio de belos dis-
cursos. se destacamentos de tropas eram envladas as provlncias des-
tlnavam-se, exclustvamente, a servtr de cobertura ao orador governs-
mental. Ap6s a vit6ria conseguida contra os operarios e os soldados 
de Petrogrado, as companhias de cavalaria, hi entao sem argumenta-
dores, foram pastas dlretamente a dispoSl~iio dos proprietarios. Na 
·provincia de Kazan, uma das mala perturbadas - segundo o jovem 
hlstorlador Yugov- s6 por meio de prlsoes e pela introdu~iio de des-
tacamentos armadas nas aldeias e ate mesmo pelo restabelecimento 
dos castlgos com chlbata ... e que fol passive! for~ar as camponeses 
a se reslgnarem durante algum tempo." Em outroslugares a. repressio 
niio fol lneflcaz. 0 numero de proprledades de nobres sacrlfleadas 
dlminulu, em julho, passando de 516 para 503. Em ag6sto o Governo 
obteve novas sucessos: o nfunero dos dlstrltos convulslonades calu 
de 325 para 288, lsto e, menos 11%; o numero de domlnlos atlngldos 
dlmlnulu de 33%. 
Algumas regl6es, e ate entia das mala agitadas, l!calmam•se 
ou descem para urn segundo plano. Em compensaQio, as regl6es que 
71J 
ontem alnda eram seguras entram hoje no camlnho da !uta. Ha 
mals ou menos um mes o comlssarlo de Penza tra~ava um quadro 
consolador: "Os campos se ocupam com a oolheita. . . Preparam-se 
para as ele1~6es dos zemstvos do cantio. 0 perlodo da crlse gover-
namental transcorreu em calma. A forma~io de nOvo governo fol re-
ceblda com grande satlsfa~io." Mas em agilsto ja nao restara sequer 
um tra90 desse idWo: "~es v~m, em massa, pllhar os pomares e 
cortar madeira ... lil preclso recorrer a for9a armada a flm de llqul-
dar com as desordens." 
Segundo seu aspecto geral, o movlmento do estlo prende-se 
alnda ao periodo "paciflco". Entretanto h'i se podem observar sinto-
mas, se bern que, em verdade, fracos mas indubltavels de radlcall-
za~io: se, durante os quatro primeiros meses, os ataques dlretos 
contra os so!ares dos proprletarlos dlmlnuem, ja em julho os ataques 
recome~am em maier nU.mero. Os pesquisadores estabelecem, em seu 
conjunto, a classlflca~io dos conflltos de julho na ordem de uma 
curva decrescente: tomada dos pomares, de colheltas, de provls6es 
e forragens, de lavoura, de material agricola; a !uta pelos salarios 
de aluguel; saque dos dominlos. Em agOsto: aproprla~io de colhei-
tas, de reservas de abasteclmento e de forragens, de pastos e po-
mares, de terras e madeiras; o terror agrarlo. 
Em prlnciplo de setembro, Kerensky, na qualldade de gene-
ralissimo, reproduz, em t!dlto especial,· as amea~as recentes de seu 
predecessor, Komllov, contra "os atos de viol6nc1a" que partem dos 
camponeses. Alguns dlas mats tarde escreve Len!ne: "Ou . . . tiidas as 
terras, lmed!atamente, aos camJ;loneses . . . ou entio os proprletarlos 
e os capltallstas Ievario o caso ate uma terrivel lnsurrelgio cam-
ponesa." E, no decorrer do mes seguinte, lsto se transformou em 
fa to. 
0 nlimero dos dominlos aos quais se estenderam os confiltos 
agrarlos elevou-se, em setembro, em compara~io com o mes de 
agOsto, de 30%;· em outubro, em rela~ao a setembro, de 43%. Mats 
de um ter~o de todos os conflltos agrarlos reglstrados desde mar~o 
deram-se durante o mes de setembro e as tres prlmelras semanas de 
outubro. A ousadla desses confiltos. entretanto, cresceu lncomensu-
raveimente mats do que o nlimero diHes. Durante os prlmelros meses 
att! mesmo as aproprla~oes dlretas de d!versos bens de ralz assu-
mlam a aparencla de entendll)lentos atenuados e dlssimulados pelos 
6rgaos concilladores. Agora a mascara da legalldade cal. Cada urn 
dos ramos do moVimento assume carater mats lntrt!pldo. Abando-
nando dlversos aspectos e graus de pressio, os camponeses lane;am-se 
a tomada, pela vlolencla, das partes essenclals dos dominlos, ao sa-
que dos nlnhos dos propr!etarlos nobres, ao lncendlo das mans6es e 
att! mesmo ao assasslnato dos proprletarlos e dos admlnlstradores. 
A !uta pela modl!lca~io das condl~oes de arrendamento que, 
em julho, era superior, em nlimero de casos, ao movlmento de des-
trul~ao, represents, em outubro, menos da quadragt!slma parte dos 
saques e o pr6prlo movlmento dos rendeiros muda de carater trans-
formando~se, apenas, em outra maneira de expulsar os proprletarlos. 
114 
A proibi~ao de comprar ou de vender as terras ou as madeiras e 
substituida pelo seqiiestro dlreto. Destrui~ao sombrla das florestas, 
gado abandonado nos dominlos, tais medldas assumem o carater de 
uma destrul~ao lntencional dos bens de raiz. Em setembro foram 
registrados 279 casos de pilhagens de propriedades; constituem 
agora mais da oitava parte de todos os conflitos. Outubro reglstra 
mais de 42% de todos os casos de destrul~ao anotados pela m1licia 
entre Fevereiro e Outubro. 
A luta assumiu urn car8.ter particularmente encarnic;ado a 
respeito das madeiras. As aldeias eram, freqllentemente, consumi-
das pelos incendios. As madeiras para construc;io eram rigorosa-
mente guardadas e vendidas par prec;o alto. Houve, entre as mu- · 
jlques, fame de madeira. Aiem disso, chegara o tempo das provisOes 
para o aqueclmento do inverno. Das provincias de Moscou, de 
Nlzhjni-Novgorod, de Petrogrado, de Ore!, de Volyn, de todos os 
pontos do pais, enflm, chegam quelxas a respelto da destrui~ao das 
florestas e da apropriac;ao das reservas de madeira. "Os camponeses, 
por conta prOpria, e impiedosamente, lanc;am-se ao corte das S.r-
vores." "Os camponeses quelmaram 200 deciatinas de florestas per-
tencentes aos proprietarlos nobres." "Os camponeses dos distritos de 
Klimovlchesky e de Cherikovsky destroem as madeiras e devastam 
as culturas do outono ... " Os guardas-florestals fogem. Urn gemldo 
se eleva nos bosques da nobreza, os cavacos voam por todo o pais. 0 
machado do muj!que trabalha durante todo o outono, no ritmo febril 
da Revolu~iio. 
Nas regloes que lmportam trlgo a sltua~ao de abasteclmento 
alnda e mais grave do que nas cldades. Havla !alta nao apenas de 
melos de subslstencla mas tambem de sementes. Nas regioes expor-
tadoras a situac;ii.o nii.o era melhor, os recursos alimenticios eram 
sugados sem cessar. A eleva~ao dos pre~os obrlgatorios sabre os ce-
reals !erlu duramente os pobres. Em grande nlimero de provinclas 
manifestaram-se perturbMoes provocadas pela tome, pilharam os 
celelros e atacaram os encarregados do abasteclmento. A populMil.O 
recorrla aos sucedllneos do piio. Notlclas eram espalhadas, anun-
ciando casos de eseorbuto e de tlfo, asaim como sulcldlos ocaslona-
dos pelas sltua~oes sem saida. A tome ou, por outra, o espectro da 
fome, tornavam, de modo particular, lntoleravel a vlzinhan~a do 
bem-estar e do luxo. As camadas mals necessltadas dos campos to-
mavam Iugar nas prlm.elras tilheiras. 
As vagas de lrrlta~iio tazlam sublr ii. superflcle multa vasa. 
Na provincia de Kostroma "observa-se uma agltac;ii.o dos cem-ne-
gros e de anti-sem1tas. A crlmlnalidade aumenta. . . Observa-se uma 
dimlnul9ao do Interesse a respeito da vida politlca do pais". Easa 
1iltima trase, constante do relat6rio do comlss&rlo, slgnlflca que as 
classes educadas vlram as costas · ii. revolu~ao. Bilbltamente reper-
cute, na provincia de Podolsk, a voz do monarqulsmo cem-negro: o 
com1tedo burgo do Demldovka niio reconhece o Ooverno Prov!s6rio 
e consider& ucomo o mats flel chefe do povo russo" o Im.perador 
Nicolau Alexandrovleh: "se o Ooverno Provis6rlo niio se retlrar nos 
715 
unlremos aos alemaes". Declara~Oes tio audaciosas eram, entre-
tanto, coisa rara: os monarquistas que existiam entre os campo-
neses tinham, de hil. ml,lito, mudado de c6r acompanhando os pro-
prletarios. Em eertos Jugares e tambem nessa provincia de Podolsk, 
as tropas, juntamente com os camponeses, devastam as ustnas dos 
destlladores. 0 comissario faz urn relat6rlo a respelto da anarqula. 
"As aldeias e o povo estio perdidos; a Revolu~ao corre para sua 
perda". Nao, a Revolu~ao esta multo Ionge de correr para sua per-
da. Ela cava, para ela, urn Jelto mals profunda. Suas aguas lmpe-
tuosas aproximam-se do estuS.rio. 
Na noite de 7 para 8 de setembro os camponeses do burgo 
Syche~ka, da provincia de Tambov, armadas de cacetes e do chlco-
tes, foram, de casa em casa a convocar todo mundo, desde o me-
nor ao maier, para tudo demolirem na casa do proprtetRrlo Ro-
manov. Urn grupo propOs, na assembieia comunal, de se apodera-
rem do dominic em boas condi~Oes, de dividir os bans entre a popu-
la~ao e de conservar os edificlos para fins culturals. Os pobres exl-
giam que queimassem a mans&.o, que nao delxassem pedra s6bre 
pedra. Os pobres sao os mais numerosos. E na mesma notte um mar 
de chamas se espraiou por s6bre todos os dominios do cantao. 
Quelmou-se tudo aquila que era susceptive! de ser queimado ate 
mesmo uma planta~ao modele, estrangulou-se o gado de ra~a, "sa-
claram-se loucamente". 0 fogo passou de urn cantao a outro. 0 
exercito, em trapos, nS.o se limitou a usar as forqutlhas e as falces 
patriarcais. 0 comissS.rio da provincia telegrafa: "Camponeses e des-
conhecidos, armadas de rev6lveres e de granadas, pilham os domi-
nios dos dlstritos de Ranembugo e de Riazhsky". A guerra trouxera a 
insurreiQS.o camponesa uma copiosa tecnica. A untie dos proprieta-
rios reglstra que, em tres dlas, foram quelmadas 24 proprledades. 
"As autoridades locals sao impotentes para restabelecer a ordem". 
Urn destacamento enviado pelo comando das tropas chegou atrasa-
do, o estado de sitio foi declarado, as reuniOes proibidas e os ins-
tigadores presos. As ravinas estavam cheias dos bens dos proprie-
tarios, os rlos devoravam multo daquilo que fora pilhado. 
Conta urn campones de Penza, Begishev: "Em setembro todos 
foram demolir a propriedade de Logvln (ja tlnha sido saqueada 
em 1905). Na ida e na volta alongava-se uma fila de juntas de 
bois, centenas de mujiques e de camponeses puseram-se a perseguir o 
gado tirando tambem o trigo e outras cotsas ... " Urn destacamento 
requisitado pela d!re~ao do zemstvo tentou recuperar parte do que 
fora pilhado mas 500 muj!ques e camponeses aprox!madamente, reu-
n!ram-se em t6rno do chefe do cantii.o e o destacamento d!spersou-
se. Os soldados, evidentemente, niio empregavam multo zelo em 
restabelecer os d!re!tos esmagados dos propr!etar!os. A partir dos 
liltlmos d!as de setembro, na provincia de Taurlde, segundo as me-
m6rias do campones Gaponenko, "os camponeses puseram-se a de-
vastar as planta~6es, a expulsar os gerentes, a apoderar-se do trlgo 
dos celeiros, dos animals da Iavoura, do material ... Mesn'lo as ja-
nelas, as portas, os tetos e o zinco das ooberturas foram arrancados 
716 
e levados-... " "De Jnicio vinham a pe, apanhavam e levavam", 
conta um campones de Minsk, Grunko", mas, posteriormente, atre-
lavam-se os cavalos daqueles que os possulam e levavam tudo em 
carro~as chelas. Sem treguas. . . trazlam e levavam, a partir do 
meio-dla, durante dols dlas lntelros, nolte e dla sem parar. Em 
48 horas llmparam tudo." A aproprla~ao dos bens, segundo Kuzml-
chev, campones da provincia de Moscou, justificava-se assim: o 
propriet&.rio era nosso, trabalha.vamos para ele e a fortuna que eie 
possuia devia caber a n6s sOmente." Outrora dlzia o nobre ao 
servo: "Voce me pertence e tudo o que voce possui e meu." Agora re-
plicam os camponoses: "0 nobre era nosso senhor e todos os seus 
bens siio nossos}' 
"Em alguns lugares come~aram a inqutetar os proprietaries du-
rante a nolte". dlz outre campones de Minsk, Novkov. "Cada dla, mais 
freqiientemente, incendtavam as mans6es dos proprietarios nobres." 
E chegou a vez do dominic do gri.o-duque Nicolau Nicolaiovich, an-
tigo generalissimo. "Depots que tiraram tudo aqullo que podia ser ti-
rade come~aram a destruir as estufas e a tirar os abafadores, os as-
soalhos e os tetos e a tudo levar para casa . .. " 
Por detras desses atos de destrul~iio havia o ca!culo multise-
cular, millenar, de t6das as guerras dos camponeses: sapar ate a base 
as posi~oes fortlflcadas do inimigo, niio delxar sequer urn Iugar onde 
pudesse repousar a cabe~a. "Os mais razoaveis", escre_ve Tzygankov, 
campones da . provincia de Kursk, "diziam: N8.o se deve destruir as 
constru~aes; delas teremos necessidade ... para escolas ou hospitais ... 
mas a maiorla constava daqueles que gritavam que tudo devia ser des-
truldo para que os inimlgos niio soubessem onde se esconder ... " "Os 
camponeses apossavam-se de todos os bens dos proprietaries", narra 
Savchenko, campones da provincia de Ore!, "expulsavam os proprle-
tarJ.os dos dominies, quebravam as janelas das casas, as portas, o 
teto, os assoalhos. . . Os soldados dlzlam que se destruiam a furna do 
leio era neces8.rio tambem estrangular o le3.o. Devido a tais ameac;as 
os mais lmportantes e mais conslderados proprietaries escondlam-se, 
um depots do outro e, devido a isso, nio houve massacre de pro-
prietaries." 
Na cidade de Zalesseye, da provincia de Vltebak, quelmaram 
os celelros repletos de grlios e de feno, nos dominies do frances Bar-
nard. Os mujiques estavam pouco dlspostos a dlferenciar as naclona-
lldades porque multos proprietaries apressavam-se em passar as 
terras para estrangelros prlvlleglados. "A embalxada de Fran~a pe-
diu que tomassem medidas." Na zona do front. em meados de outu-
bro, era bastante dificil tomar "m.edidas" mesmo que f6sse para sa-
tlsfazer a embalxada da Fran~a. • 
A pllhagem de uma grande propriedade sltuada nas proximi-
dades de Rtazan durou 4 dias; "mesmo as crian~as tomaram parte 
na pilhagem". A Uniii.o dos Proprietaries de Terras comuntcou aos 
ministros que, se nio tomassem providenctas "haver&. linchamento, 
fame e guerra civil." Nio e possivel compreender por que os proprle-
tarios nobres empregavam ainda, falando da guerra civil, o tempo 
717 
futuro. No Congresso da Cooperacio, Berkenhelm, um dos lideres do 
&Olldo campeslnato comerclante, dlzla nos primelros dlas de setem-
bro: "Estou persuadldo de que a RU.sla alnda nio se transformou, 
tada ela, em casa de loucos e que, no momenta, a dem~ncla atlnglu 
aobretudo a populacio das grandes cldades." Essa presuncosa voz, 
de uma parte do campeslnato .Olidamente estabeleclda e conserva-
dora atrasava-se lrremedlavelmente; justamente, durante aquiHe 
mes, os campos se desatrelaram, para sempre, de todos os freios da 
sabedoria e, pela exasperacio da !uta, delxaram multo atras "as 
casas de loucos" das cidades. 
Lenlne, em abrll, supunha alnda passive! que os cooperadores 
patriotas e os culaques arrastassem, ap6s iHes, pelo camlnho de um 
aoordo com a burguesla e os proprletarlos, a grande massa de cam-
poneses. E cada vez mals lncansavelmmte ele lnslstla para que crias-
sem sovletes partlculares de operarlos agricolas (batraks> asslm 
como uma organizacio lndependente de camponeses mals pobres. De 
mi!s para mes, entretanto, descobria-se que esse ramo da po!itlca dos 
bolchevlques nio tlnha raizes. Excecio felta das provinclas bo!.lticas, 
nio exlstlam, absolutamente, sovletes de operarlos agricolas. Os cam-
poneses pobres tampouco encontraram formas lndependentes de or-
gan!zacio. Expllcar tal fato ilnlcamente pelo estado atrasado dosoperarlos agricolas e das camadas mals pobres da cldade serla passar 
ao lado do essenclal. A principal causa resldla na natureza mesma 
do problema hlst6rlco: o da revolucio agrarla democratlca. 
Nas duas mais lmportantes questOes - a do arrendamento e 
a do trabalho assalarlado - descobre-se, de modo mals convincente, 
como os Interesses gerais da !uta contra a sobrevivencla da servldii.o 
Interceptaram os camlnhos a uma politlca lndependente nio .0-
mente aos camponeses pobres como, tambem, aos operB.rios agrioolas. 
Os camponeses arrendavam aos proprietaries nobres, na RUssia Eu-
ropeia, 27 milhOes de deciatlnas, aprOxlmadamente 60% de todos os 
dom.inios partlculares e pagavam, anualmente, urn tributo de arren-
damento que se elevava a 400 mllhoes de rublos. A !uta contra as 
condi~Oes espolladoras do arrendamento das fazendas transformou-
se, ap6s a insurreic;io de Fevereiro, no elemento m.ais essencial do 
movlmento campones. Lugar Inferior, mas tambem conslderavel, fol 
ocupado pela luta dos operB.rios agricolas que se encontravam em 
oposl~io nao apenas a exploracii.o dos proprletarlos nobres mas tam-
bern aos camponeses. 0 rendelro lutava em pro! de urn melhoramento 
das condi~Oes de arrendamentos, o operS.rio para conseguir melhoria 
nas condlcoes de trabalho. Um e outro, cada qual a seu modo, tl-
nham como ponto de partida o reconhecimento do nobre rural como 
proprletario e patrio. A partir, porem, do momento em que se abrlu 
a posslbilldade de levar 0 neg6clo ate 0 flm, lsto e, de tomarem as 
terras e nelas se instalarem, o campesinato pobre deixou de interes-
sar-se pelas questoes de arrendamento e o sindicato come~ou a per-
der a !orca de atracio que exercla .Obre os operarlos agricolas. Fa-
ram, precisamente, os iiltimos e os rendeir~ pobres que, pela adjun-
718 
~io ao movimento geral, deram a guerra camponesa urn car&.ter ex-
tremo de resolu9iio e de irredutlbllldade. 
A luta contra os proprietaries nobres niio arrastava, de urn 
modo tiio geral, o p6Jo oposto da aldeia. Enquanto o caso niio atin-
gia o grau de urn levante declarado, os mais altos representantes do 
campeslnato desempenhavam no movimento, um papel de eviden-
cia e, algumas vezes, de dtreQio. Durante o periodo do outono os mu-
jiques enriquecidos consideravam, com desconfianQa cada dia maior, 
0 transbordamento da guerra camponesa: nao sabiam eles de que 
modo aquilo terminaria, tlnham alguma coisa a perder - e se 
punham de lado. :S:les consegutram, apesar de tudo, ficar inteira-
mente de !ado: a aldeia niio o permitiu. 
Ainda mais fechados e mais hostis do que "os do meio", isto 
e, OS' culaques pertencentes 8. comuna, mantinham-se OS pequenos 
proprietaries territoriais, na condiQiio de camponeses destacados da 
comuna. Eram em nU.mero de 600.000 os cultivadores que possuiam 
lotes ate 50 deciatinas, em todo o pais. Constltuiam, em dlversos Ju-
gares, a espinha dorsal das cooperatlvas e, em questoes de politlca, 
tendiam, particularmente no Sui, para a Uniiio camponesa conserva-
dora que funcionava jli como ponte para os cadetes. "Os separatis-
tas • da comuna e os rurais enriquecidos", segundo Gulis, cultiva-
dor da provincia de Minsk, "sustentavam os proprletarios nobres, es-
fof98,ndo-se por conter o campesinato por meio de admoesta.;Oes." 
Aqul e all, sob a lnOuencia das condl9oes locals, a !uta no Interior 
do campesinato assumira urn carater furioso, antes mesmo da in-
surrei9iiO de Outubro. Os camponeses destacados da comuna sofre-
ram, em conseqiiencia, de modo particular-. "Quase tOdas as explo-
ra~s parttculares", -narra Kuzmichev, campones da provincia de 
Ntzhegorod, "foram queimadas, o material em parte destruido e em 
parte apreendldo pelos camponeses." 0 campones destacado da co-
muna era "o lacato do proprtetario nobre, o homem de confianQa que 
zelava pela conservaQiio de muitas reservas florestais; era eJe o fa-
vorlto da policla, clvU e militar e dos patroes." Os camponeses e os 
comerclantes mats rlcos de certos cantoes do dlstrlto de Nlzhegorod 
desapareceram durante o outro e s6 voltaram .a seus lareS dots on 
tres anos mals tarde. 
Entretanto, na maior parte do pais, as rela~;Oes internas das 
aldeias estavam Ionge de atingir tal grau de acuidade. Os culaques 
comportavam-se com dlplomacia, freavam e reslstlam mas esfor9a-
vam-se por nio ficar em oposiQiiO ao mir. •• 0 campones de condi-
Q8.o, por seu lado, observava com muita vtgilft.ncia o culaque niio Per-
mitindo que e1e se untsse ao proprietS.rlo nobre. A luta entre nobres 
• Camponesea que tinham deixado a comuna e conatltuido proprledades prlvadas, 
de aeOrdo com a lei de Stolypin. de 9 de novembro de 1906. [N. de M. E.] 
•• Eata palavra, aplicada 8 aldeta, como comuna stgnlfica, Uteralmente, "o mune 
do" - lsto 6, todo mundo. [N. de M. E.] 
719 
e camponeses, vlsando a lnflu~ncla slibre o culaque prossegulu du-
rante todo o ano de 1917, sob dlversas formas, Indo de uma a~ao 
"amlgavel" ate a um terror turloso. 
Enquanto os proprietarlos de latlfundlos abrlam obsequlosa-
mente aos camponeses proprletarlos a porta de honra da Assemblela 
da nobreza, os pequenos proprletarlos de terras afastavam-se de-
monstratlvamente dos nobres para que nao se perdessem com iHes. 
Em llnguagem polltlca lsto slgnlflcava que os nobres pertencentes 
ate a revolu~ao. aos partldos da extrema-dlrelta cobrlam-se, agora, 
com a cor de llberallsmo, tomando-a, segundo velhas reeorda~6es, 
como uma cor protetora; enquanto lsso os proprletarlos, dentre os 
camponeses ·que, outrora, freqiientemente tinham sustentado os ca-
detes, evoluiam, agora, para a esquerda. 
Em setembro, o congresso dos pequenos proprletarios da pro-
vincia de Perm retlrou, veementemente a solldarledade que dera ao 
congresso moseovlta dos proprletarlos de terras, a frente do qual se 
encontravam "condes, prlnclpes e bar6es". Urn proprletarlo de 50 de-
ciatinas dizia: "Os cadetes jamais usaram armyaki• e lapti•• e 
els por que ~les ·jamais defenderao nossos lnteresses. Ao se afasta-
rem dos liberals os proprletarlos trabalhadores procuravam "socia-
listas" que defendessem a proprledade. Um dos delegados pronun-
clou-se pela soclal-democracla." ... 0 operarlo? Oai-Jhe terra, ele vlra 
para o campo e delxara de escarrar sangue. Os soclal-democratas 
nio nos tA>mario a terra." Tratava-se, bem entendido, dos menche-
vlques. "Nao cederemos nossa terra a nlnguem. lt facll aqueles que 
a obtlveram sem esfor~o separarem-se deJa, por exemplo, o proprie-
tarlo nobre. Para o campones a terra fol uma aqulsl~ao penosa." 
Nesse periodo outonal a aldela lutava contra os culaques sem 
afasti-los; ao contrB.rlo, obrigava-os a se unirem ao movimento ge-
ral e os defendia contra as camadas da direita. Houve mesmo casos 
em que a recusa de particlpar da pllhagem fol castigada pela exe-
cu~ do rebelde. 0 culaque bordejava tanto quanto podia mas, no 
'liltlmo mlnuto, ~co9ava a nuca mats uma vez e atrela.va seus cavalos 
bem nutrldos a sua telega, colocada sabre s6lldas rodas, e partla a 
flm de apossar-se de seu lote. Era, freqiientemente, a parte do leao. 
"Aquilles que se aproveltavam eram, gl!'ralmente, pessoas enrlquecldas 
- conta Begishev, cainpones da provincia de Penza - que tlnham 
cavalos e gente a disposl~io delas." Jil quase nos mesmos termos que 
se exprlme Savchenko, da provincia de Ore!: "0 proveito, em grande 
parte, val para os culaques que sao bem allmentados e tem meios 
para transportar a madeira . .. " 
Segundo o c.Uculo de Vermenlchev, sabre 4.954 conflltos agrli.-
rlos com os proprletarios nobres, de feverelro a outubro, houve um 
total de 324 conflitos com a burguesla camponesa. Relat6rlo eviden-
• ArmJiakt - casaco de 11. telto em caaa. [N. cfe M. E.] 
•• Lapt« - calc;ado de t1ras de caeca de Arvorea tranqadaa. [N. 4e M. B.] 
72D 
temente notavell Por i\Je demonstra-se, lndlseutlvelmente, que o 
movlmento camponesde 1917, em sua base social, era dlrlgldo niio 
contra o capltallsmo mas contra os remaneseentes da servldiio. A 
!uta contra os culaques so se desenvolveu mals tarde, a partir de 
1918, ap6s a Uquida~iio deflnltlva dos proprletarlos nobres. 
0 carater puramente democratlco do movlmento campones 
que devla, ao que parece, dar a democracla oflclal uma for~a lrresis-
tivel demonstrou, em verdade, e mais do que tude, o quanta ela es-
tava apodreeida. Se considerarmos os fates de cima, veremos que o 
campeslnato, em sua totalldade tinha, a frente, os soclallstas-revo-
lucionArios, os sufragava, os seguia, quase que se confundia com EUes. 
No congresso dos sovtetes camponeses, em malo, Chemov obteve, nas 
elel~oes para o Comlte-Executlvo, 810 votos, Kerensky 804, enquanto 
que Lenlne obteve, em tudo e por tudo, apenas 20. Niio era sem ra-
za~iio que Chernov se denomina ministro dos campos. Mas nio foi 
sem raziio, tambem, que a estrategla dos campos afastou-se violen-
tamente de Chernov. 
A dispersB.o econOmica toma os camponeses, tao resolutes na 
!uta contra um determlnado proprletarlo, lmpotentes contra o pro-
prletarlo generalizado na pessoa do Estado. E dai a necessldade or-
giinlca do mujlque apolar-se num fabuloso relno contra o Estado 
real. Nos velhos tempos, o mujlque punha os lmpostores, em desta-
que, agrupavam-se em torno de um false pergaminho dourado de 
tzar ou entiio em torno de uma Ienda a respelto das terras dos jus-
tos. Ap6s a Revolu~iio de Feverelro os camponeses unlam-se em. 
tomo da bandelra soclallsta-revolucionarla "Terra e Llberdade", pro-
curando, nela, um auxilio contra o propriet9..rio nobr.e e liberal, tra-
baformado em comlssarlo. 0 programa popullsta estava i)ara o go-
verne real de Kerensky como o pexgamlnho ap6crlfo do tzar para o 
autocrata real. 
No programa dos soclallstas-revolucionarlos houve sempre 
muita utopia: dlspunham-se a edlflcar o soclallsmo sobre as bases 
de uma pequena economia mercantil. 0 fundo do programa, porem, 
era democnittco-revoluclonarto; retomar as terras aos proprtetartos 
nobres. Ao chegar o momento de cumprir o programa o partido en-
redou-se na collga~iio. Tanto os proprietaries nobres quanta os ban-
quetros cadetes levantaram-se, irredutivelmente, contra a conftsca-
l1iio das terras: os bens fundlarios tlnham sido hlpotecados aos 
bancos pelo menos por quatro bllhoes de rubles. Dlspostos a comer-
clar com os proprietaries nobres a respelto dos pre~os, na Assemblela 
Constltulnte, mas no Intuito de acabar amlgavelmente, os soclalls-
tas-revoluclonarlos empregavam todo o ziHo em lmpedlr que o mu-
jique se apoderasse da terra. P.erdlam, dessa forma, a !nfiu~ncla que 
tinham sabre OS camponeses niio sOmente devldo ao carater Utopico 
do soclallsmo que pratlcavam, mas tambem pela lnconslstencla de-
mocratlca que apresentavam. A verlflca~iio do utoplano poderla exl-
glr multos anos. A tral~iio deles ao democratlsmo agrarto evldenclou-
se em alguns meses: sob o gov~mo dos soclallstas-revoluclonarlos 
7Z1 
devlam os camponeses entrar no camlnho de lnsurrel~iio a flm de 
reaUzar o programa dos mesmos soclallstas-revoluclonarlos. 
Em julho, qua11do o governo lnlclou a repressiio na aldela, os 
camponeses lan.,;aram-se, ao acaso, sob a prote4;io dos mesmos so-
clallstas-revoluclonarlos: ao !ado de Ponclo junior procuravam de-
fesa contra Pllatos prlmogenlto. Durante o mes em que os bolchevl-
ques estlveram mals entraquecldos nas cldades fol que os soclalls-
tas-revoluclonB.rios mais se expandiram nos campos. Como cornu-
mente acontece, sobretudo em epoca de revoluc;io, o maximo do em-
preendlmento organlzat6rlo colncldlu com o lniclo da decadencla po-
litlca. Abrlgando-se por detras dos soclallstas-revoluclonarlos a !lm 
de eseapar aos golpes de um governo soclallsta-revoluclonario, os 
camponeses perdlam, dla a dla, a conflan~a naquele governo ou na-
quele partido. E !ol asslm que a hlpertrofla das organlzaQoes socla-
llstas-revoluclonarlos nos campos tornou-se mortal para esse parti-
do universal que, de baL'<o se levantava e, de clma, reprimla. 
Em Moscou, em uma reunliio da Organlza~iio Mllltar, a 30 de 
julho, um delegado do front, tambem soclallsta-revoluclonarlo, di-
zla: se bern que os camponeses se constderem ainda socialistas-revo-
luclonarlos ha uma fissura entre eles e o partido. Os soldados con-
cordavam: sob a lnfiuencla da aglta~iio soclallsta-revoluclonarla os 
camponeses estiio alnda hostls aos bolchevlques mas resolvem o pro-
blema da terra e do poder a moda bolchevlque. Povolzhsky, bolche-
vlque que mllltava na regliio de Volga, testemunha o !a to de os mals 
destacados soclallstas-revolucionarlos que havlam partlclpado do 
movlmento de 1905 sentlam-se dla a dia mals ellminados; "Os mu-
jiques denominavam-nos os "velhos", tratavam-nos com aparencia 
de respelto e votavam segundo as pr6prlas cabe~as." Eram os ope-
rmos e os soldados quo enslvam os camponeses a votar exc!uslva-
mente "segundo as pr6prlas cabe~as." t lmpossivel avallar a lnflu-
encia revolucionB.ria dos operS.rios sObre o campesinato: essa infiu-
encia. ttnha urn car&.ter permanente, molecular, onipresente e, por 
consegulnte, pouco susceptive! de ser calculada. A reclprocldade da 
penetra~ao era facilitada pelo !ato de conslderavel n1lmero de em-
prasas industrials estarem espalhadas pelos campos. E mesmo os 
operarlos de Petrogrado, a mals europela de t6das as cldades, con-
servavam llga~oes lmedlatas com a aldela natal. 0 desempr~go que 
aumentara durante os meses do veriio e os lock-out dos empresarlos 
despejavam, na aldela, varies mllhares de operarlos: eles transtor-
mavam-se, em grande maloria, em agitadores e dlrigentes. 
Em malo-junho. em Petrogrado, crlaram-se organlzaQiies re-
glonals que agrupavam naturals de determlnada provincia, de dls-
tritos e mesmo de cant6es. Na lmprensa ope;r&.ria, colunas inteiras 
eram reservadas aos anU.nclos das reuniOes dessas organiza~Oes, nas 
quais podla-se ler relat6rlos a respelto das vlsltas reallzadas nas al-
dela, estabelecla-se lnstru~iies para os delegados e pedla-se recursos 
flnancelros para a aglta~ao. Pouco antes da lnsurrel~iio essas orga-
nlza~es se · fundiram em t6rno de urn biro central especial que 
estava sob a dlre~iio dos bolchevlques. 0 movlmento de tals organ!-
?22 
zaQOes es.tendia-se, em pouco tempo a Moscou, ao Tver e, prov8.vel-
mente tambem, a grande nUmero de outras cidades industrials. 
Entretanto, do ponto de vista da a~iio dlreta sabre a aldela, 
os soldados tlnham lmportiincla ainda maior. Fol somente dentro 
das condl9iles artlflclais do front ou entiio das casernas na cldade, 
que os jovens camponeses, sobrepondo-se de algum modo, aos efeitos 
da dispersio, vtram-se colocados face a face com os problemas do 
envergadura naclonal. A falta de autonomla politlca, entretanto. 
alnda se fazla sentlr. Calndo, lnvarlavelmente, sob a dire~iio dos ln-
telectuais patriotas e conservadores e esforc;ando-se por deles es-
capar, tentaram OS camponeseS formar uiri. bloco no exercito, 8. parte 
dos demais grupos socials. Mostravam-se as autoridades contrS.rias 
a semelhantes tendenclas, o mlntsterto da Guerra se opunha, os so-
cialistas-revolucionil.rios niio vinham em auxiUo df!les - os sovietes 
dos deputados camponeses s6 conseguiam eXertar-se, fracamente no 
exerctto. Mesmo nas condic;Oes mais favoraveis os camponeses nao se 
encontram em sltuac;io de transformar a esmagadora quantidade 
dEHes em qualidade political Foi sOmente nos grandes centres revo-
lucionltrlos, sob a ac;io direta dos oper3.rios, que os sovtetes dos cam-
poneses-soldados consegutram desenvolver urn trabalho consider:ivel. 
Fol assim que o soviete campones de Petrogrado, de abril de 1917 a 
19 de janeiro de 1918. enviou aos campos 1.395 agitadores munidos de 
mandatos especiais; outros, quase tao numerosos, parttram sem man-
datos. Os delegados percorreram 65 provincias ( governosl. Em Krons-
tadt, entre os marlnhelros e soldados, organlzava-se, segundo o 
exem,plo dos operarlos, dlversas organlza~oes regionais que conferiam 
aos delegados certlflcados dando-lhes "o direito" de viaj ar gratuita-
mente de trem ou de navio. As estradas de ferro das sociedades pri-
vadas aceitavam tats certificados sem reclamar mas nas estradas de 
ferro do Estado reglskavam-se contlltos. 
Os delegados oficlais das organiza~iies niio representavam, 
apesar de tudo, seniio gotas d'agua no oceano de campeslnato. Urn 
trabalho lntlnltamente mals lmportante era reallzado por centenas 
de mllhares e milhiies de soldados que deserta vam, do front e das 
guarnl~Oes da retaguarda e que guardavam nos ouvidos as consis-
tentes palavras de ordem dos discursos e dos meetings. Os mudos 
do front, quando em casa, na aldeia, transformavam-se em orado-
res. E niio faltava gente avida de escutar. "Entre campesinato que 
cercava Moscou", conta Muralov, urn dos bolcheviques do local, 
"produzlu-se urn formldavel · movlmento para a esquerda... Os 
burgos e as aldelas da regliio formigavam de desertores... E ai 
tambem penetrava o proletiirio da capital que ainda n~o tlnha rom-
pldo com a aldela." A sonelenta aldela da provincia de Kaluga, se-
gundo o campones Naumchenkov, "foi despertada pelos soldados 
que chegavam do tront por uma raziio ou por outra, durante o pe-
rlodo de junho a julho". "0 comissarlo de Nizhegorod comunicava 
que tlJdas as infra~Oes ao direito e a lei eram causadas pela apari-
~iio, nos llmites da provincia, de desertores, de soldados em llcen~a 
ou de delegados dos comites de regimentos". 0 principal encarrega-
723 
do dos dominios da Princesa Bariatinsky, do distrito de Zoloto-
noshzkY, quelxava-se, em agosto, dos atos arbitd.r!os do comltk 
agrarlo presidido por urn marinheiro de Kronstadt, Gatran. "Os sol-
dados e marinheiros que vieram de llcen~a", segundo o relat6rio do 
comissario do distrito de Bugu!minsk, "fazem agita~ao no intuito de 
criar a anarquia e de provocar programa." "No distrito de Mglinsk, 
no burgo de Bielogosh, urn marinheiro proibiu de autoridade pro-
pria, que cortassem madeiras e vigas das florestas ou as despachas-
sem." Mesmo que nao f6ssem os soldados a come9ar a luta eram e1es 
os que a terminavam. No distrito de Nizhegorod os mujiques ator-
mentavam o convento de mulheres, ceifavam os prados, quebravam 
as claussuras e nao davam um pouco de tranqiiilldade as freiras. A 
abadessa nlio cedia, os mlllcianos levavam os mujiques para reprlmir. 
"lsso durou'', escreve o campones Arbekov, "ate a chegada dos sol-
dados. Os homens do front seguraram, imediatamente, o touro pelos 
chifres": o convento foi evacuado. Na provincia de Moghntev, se-
gundo o campones B(lbl,<ov, "os soldados que tlnham voltado do front 
para casa eram os prtmeiros chefes dos comites e orlentavam a ex-
pulsao dos proprieto.ri~ nobres." 
Os homens do front punham no empreendimento a grave re-
solu~ao daqueles que tlnham adqulrido o habito de se servirem do 
fuzil e da baloneta contra o homem. Ate mesmo as mulheres de sol-
dados tomavam do emprestlmo aos marldos o espirito combatlvo. 
uEm setembro'' narra Begishev, campones da provincia de Penza, 
uhouve urn forte movimentq das "camponesas-soldados", que, nas 
assemblelas, pronunclavam-se pela pllhagem." 0 mesmo fato podia 
ser observado nas demais provlnclas. Mesmo nas cidades os soldados, 
treqiientemente, atlvavam a termenta~ii.o. 
Os casos em que os soldados se encontraram a frente dos dis-
turblos rurais foram, segundo o calculo do Vermenichev, em mar~o. 
em iuimero de 1%, em abril, de 8% em setembro de 13%, em outubro 
de 17%. Tal cilculo nii.o pode pretender ser exato; mas indica, sem 
erro, a tend~ncla geral. A dire~ii.o moderada de protess6res, notarios 
e funcionar!os socia!lstas-revoluclonarios era substltuida pela dlre-
9iio dos soldados que nao recuavam perante colsa alguma. 
Certo escrivio alemio, born marxlsta, a seu temPo, Parvus, 
que, durante a guerra soube adquirlr fortunas mas a custa de seus 
prlncipios e de sua persplcacla, com para va os soldados russos aos 
Jansquenes da Idade Media, saqueadores e vlolentadores. Para asslm 
falar era necessirio desconh~cer que os soldados russos, apesar dos 
excessos, eram, slmplesmente, o 6rgao executlvo da malor revolu~ao 
agrarla da Hlst6rla. 
Enquanto o movimento nii.o rompia, deflnltlvamente, com a 
legalidade, o envio de tropas para os campos conservavam carB.ter 
simb611co. Nio se podia empregar, efetivamente, para a repressio, se-
nlio cossacos. "Envlaram para o dlstrlto de Serdobsky 400 Cossacos ... 
essa. medlda restabeleceu a calma. Os camponeses declaram que 
aguardarao a Assemb!ela Constltulnte", escravo, a 11 de outubro, o 
724 
jornal liberal Russkoe Selo (a Palavra Russa) 400 cossacos e urn 
argumento lrretorquivel para a AssembltHa Constltulnte! Mas, fal-
taYam cossacos e aqueles que existiam tergiversavam. Entrementes 
era o governo for~ado a tamar, cada vez com maier freqftencia, "me-
didas decisivas". Durante os primeiros meses Vermentchev anotou 17 
casas em que a fOrQa armada foi enviada contra os camponeses; em 
julho e em agosto - 39 casos; em setembro e outubro - 105. 
Reprlmlr o movlment;o campones por melo da for~a armada era 
jogar Oleo no fogo. Os soldados, na malaria dos casas, se passavam 
para o lado dos eamponeses. Urn comiss3.rio de distrito, da provin-
cia de Podolsk, conta o seguinte: "As organizac;Oes mill tares, e mes-
mo cortes contingentes resolvem as questOes socials e econOmlcas, 
forc;am [?1 os camponeses a reallzarem apreens6es e a cortar ma-
deira e, mU!tas vezes, em ceroos locals, partlclpam tambem da pl-
lhagem. . . As tropas locals negam-se a tamar parte na repressao 
contra tais vlol~ncias . .. " Foi assim que a insurretc;ii.o das aldelas 
destrulu os ultlmos vestiglos da dlsclpllna. Niio se podia sequer pen-
sar, nas condtc;6es da guerra camponesa,. a frente da qual se encon-
travam os operirios, que o exercito se deixasse enviar contra a in-
surrel~iio nas cldades. 
Os camponeses aprendlam, pela prlmelra vez, atraves dos ope-
rarlos e dos soldados, algo novo, niio aquilo que os soclallstas-revo-
luclonarlos lhes tlnham contado sobre OS bolchevlques. As palavras de 
ordem e o nome de Lenine penetraram na aldela. As quetxas, cada 
vez mais freqiientes contra os bolcheviques, encerram, na malaria 
dos cases, um carater de lnven~iio ou de exagero: os proprietaries 
esperam, dessa forma, obter, auxilio mats seguramente. "Reina 
anarqU!a completa no distrlto de Ostrovsky, em conseqiiencla da 
propaganda do bolchevlsmo." Da provincia de Ufa: "0 membro do 
comite de cantao, Vasstllev, propaga o programa dos bolchevlques 
e declara, abertam,ente, que os proprlet9.rios nobres seriio enforca-
dos." Urn proprlet9.rio da provincia de Novgorod, Polonnik, pro-
curando "protec;io contra a ptlhagem", na.o esquece de acrescentar: 
"Os comites-executives estio repletos de bolchevtques"; o que signi-
fies: pessimas pessoas para os proprietirios. "Em agOsto", escreve 
em suas mem6rias Zumerin, campones da provincia do Stmblrsk, 
"operarlos percorreram a aldela, fazendo aglta~iio a favor do par-
tido dos bolcheviques, expondo o programa deles." 0 j uiz de acusa-
~ii.o do dlstrlto de Sebezh, abrlu urn processo a respelto de urn ope-
rarlo a text!! que chegara de Petrogrado, Tatlana Mlkhallova, de-
26 anos, que, na sua aldela, apelava "para a derrubada do Govemo 
Provls6rlo e enaltecla a tatlca de Lenlne." Na provincia de Smolensk, 
18. para fins de agOsto, confonne testemunha o campones Kotov; "co-
me~aram a tomar Interesse por Lenlne, prestaram aten~ii.o a pala-
vra de Lentne . .. " Entretanto, nos zemstvos de can tao, sio eleitos, 
em grande malorla, os soclallstas-revoluclonarlos. 
725 
o Partido Bolchevlque esfor9a-se por aproxlmar-se do cam-
pones. A 10 de novembro, Nevsky exlge do Comlte de Petrogradoque 
se inicie a publicac;io de urn jornal cam pones:" It precise organizar 
o neg6cio de tal modo que nio sej a necess8.rio passar pelas provas 
que a Comuna de Paris conheceu ,quando o campesinato nio com-
preendeu o capital e Paris niio compreendeu o campeslnato." 0 jor-
nal Byednotd • comec;ou, em breve, a circular. Mas o trabalho de 
partido, prOpriamente dito, entre o campesinato, permanecia insig-
nlflcante. A fiir9a do Partido Bolchevlque niio resldla nos melos tec-
ntcos, nem no aparelho, mas sim em uma politica justa. Asslm como 
as correntes de ar espalham as sementes, os turbllhOes da revoluc;ao 
dlsseminavam as ldelas de Lenlne. 
"La para o mes de setembro, escreve em suas mem6rias o 
campones da provincia de Tver, Vorobiev, Hnas reuniOes nii.o apenas 
os soldados do front mas tambem os campcmeses pobres se manl-
festam, cada vez com malar freqiiencia, em defesa dos bolchevi-
ques . .. " "Entre os pobres e certos camponeses medlos", segundo o 
confirm.a zumorin, campones da provincia de Simbtrsk, "o nome de 
Lenlne estava em todos os ·lablos, nao falavam senao de Lenlne." Urn 
campones de Novgorod, Grlgorlev, conta que urn soclallsta revoluclo-
narto, chamou, no cantao, os bolchevtques de "saqueadores" e de 
traidores." Os mujiques adverttram: "Abaixo o cachorro, pedras nete. 
NadB. de embustes! Onde esta a terra? Isso basta! Que nos tra.gam 
urn bolchevlques!" lil possivel, alias, que esse epls6dlo - e como esse 
houve muitos no mesmo genero - se relacione com o periodo p6s-
Outubro: nas recorda96es dos camponeses os fatos se flxam forte-
mente mas o sentido cron6logtco e mats fraco. 
Urn soldado, Chlnenov, que Jevou, para a provincia de Orel, 
uma mala repleta de literatura bolchevlsta fol mal recebldo em sua 
aldela natal: ouro alemii.o, pensavam. Mas, em outubro, "a celula do 
cantiio ja contava com 700 membros, multos fuzls e orlentava-se 
sempre no sentldo da defesa do poder sovletlco". 0 bolchevlque 
Vrachev narra como os camponeses da provincia. exclustva.mente 
agricola de Voronezh "voltando a sl da asflxla soclallsta-revoluclo-
narla, come9aranr a tomar Interesse pelo noaso Partido, gra9as ao 
que j8. possuimos certo nlimero de celulas de aldeta e de cantao, de 
asslnantes de jomals e recebemos numerosos mujlques no pequeno 
espaQo de nosso Comite." Na provincia de Smolensk, segundo as re-
cordaQOes de Ivanov, "os bolcheviques eram multo raros bas aldeias, 
havla multo poucos deles nos dlstrltos, os jornals bolchevlstas nao 
extstiam, os volantes eram, raramente publicados. . . Entretanto, 
quanto mais nos aproximavamos de Outubro tanto mats a aldeia se 
volta va para os bolchevlques ... " 
"Nos dlstrltos nos quais, ate Outubro, havla uma lnfluencla 
bolchevista nos sovietes". escreve o mesmo Ivanov, "o desencadear 
do vandalismo contra os dominies dos proprietartos nobres ou n3.o se 
• Jornal dos Pobres [N. do T.J 
726 
manifestava ou entio se manifestava mut fracamente." 0 caso en-
tretanto, nem em toda parte manlfestava-se do mesmo modo. "As 
relvlndlca~oes dos bolchevlques ex!glndo a entrega das terras aos 
camponeses", conta, por exemplo, Tadeush, "eram com particular 
rapldez adotadas pela massa de camponeses do dlstrlto de Mogh-
llev, massa esta que pllhava os dominlos, lncendlava alguns deles, 
apoderava-se dos prados, das madetras." Nio extste, entretanto, fa-
lando proprlamente, contradl~ii.o nesses testemunhos. A aglta~ii.o ge-
ral dos bolchevlques allmentava lncontestavelmente, a guerra civil 
nos campos. Mas 18. onde os bolchevtques consegulam criar raizes 
mats s6Udas esforQa.Vam-se ~les, naturalmente, sem enfraquecer o 
lmpulso campones, para ordena-lo e dlmlnulr os estragos. 
A questio agrB.ria nio se colocava isoladamente. 0 campones 
sofrla, sobretudo no ultimo periodo da guerra, tanto na qualldade 
de vendedor como na de comprador: tomavam-lhe o trlgo segundo 
as tarlfas flxadas pelo Estado, os produtos da Industria tornavam-
se, dla dla, mals lnacessivels. 0 problema das rela~oes economlcas 
el<tre o campo e a cldade, que se tornara, a segulr, sob a denomlna-
Qio de "tesouras" no problema central da economia sovtettca, apre-
sentava-se, ja entia, sob aparencla amea~adora. Os bolchevlques dl-
ziam ao campon~s: "os sovietes devem to mar o poder, devolver a 
terra, acabar com a guerra, desmobilizar a indUstria, estabelecer o 
controle operarlo sabre a produ9ii.o, regularlzar as rela96es de pre-
90S entre os produtos Industrials e os produtos agricolas." Par mats 
sumarla que seja esta resposta pelo menos determlnava o camlnho. 
"A separa9io entre nos e o campeslnato - dlzla Trotsky, a 10 de 
outubro, na conferencla dos comites de uslnas, - sao os sovltlstas 
genera Avksentlev. £ preclso abrlr uma brecha nesta separa9iio. E 
necessaria que se expllque aos camponeses que todos os esfor9Qs do 
operarlo para ajudar o campones, atraves do forneclmento a aldeia 
de mAquinas agricolas, permanecerio sem resultado enquanto nio 
for estabelecldo o controle operarlo sobre uma produ9iio organ!za-
da." Fol baseada nesse pensamento que a conferencia publicou urn 
manifesto dirlgido aos camponeses. 
Os oper&.rios de. Petrogrado, nesse meio tempo, criaram, nas 
uslnas, comissOes especiais que faziam a coleta dos metals, dos ar-
tlgos de refugo e de aparas para coloca-los iL dlspos!9ii.o de urn cen-
tro especial: ''Do opertirio ao campones". As aparas servtam para a 
fabrlca~ii.o de simples lnstrumentos agricolas e de pe9as sobressa-
lentes. Essa prlmelra lnterven~ii.o operarla na marcha da produ9ii.o, 
e que era levada a efetto segundo urn plano tra(:ado, ainda pouco 
conslderavel quanta ao volume e onde predomlnavam os designios 
de agitaQi.o com fins econOmicos, entreabria, entretanto, a perspec-
tlva de urn futuro proximo. Apavorado pela lntromlssiio dos bolche-
vlques nos dominlos sagrados da aldela, o COmlte executlvo campo-
nes tentou captar a nova iniciativa. Mas, no terrene da cidade esta-
va acima das fOr.;as dos conciliadores desmoralizados rivalizar com 
os bolcheviques, -~les que perdiam terreno ate rnesrno nos campos. 
727 
0 eco da aglta~ao dos bolcheviques "despertou a tal ponte os 
camponeses pobres", escrevia mats tarde Vorobiev, campones da pro-
vincia de Tver, "que e possivel dizer claramente: se Outubro nio 
tivesse acontecido em Outubro teria Iugar em novembro." Essa ca-
racteristlca brllhante da for~a politlca do boichevismo nao esta, de 
modo algum, em contradic;io com a fraqueza da organizac;ao. 1!: sO-
mente atraves de tao fortes despropor~iies que a revolu~ao pode 
abrir urn caminho. E e precisamente por isso, diga-se de passagem, 
que o movimento revolucion3.rio ni.o pode ser inserido nos quadros 
de uma dell)ocracia formal. Para que a revoluc;io agr&.ria pudesse 
ser realizada, em outubro ou novembro, s6 restava ao campeslnato 
utlllzar o tecldo dla a dia mais gasto do proprio partido sociallsta-
revolucionB.rio. Os elementos de esquerda, agrupam-se apressada e 
desordenadamente sob a pressao do levante campones, acertam o 
passe atras dos bolcheviques e rlvalizam com eles. 0 deslocamento 
politico do campesinato reallzar-se-9. durante o correr dos meses 
que segulrao, principalmente sob a bandelra remendada dos socia-
listas-revolucionarlos de esquerda: esse partido efemero transfor-
ma-se num reflexo, numa forma instB.vel do bolchevlsmo rural, numa 
ponte provls6ria entre a guerra camponesa e a lnsurreiQiio pro-
letaria. 
A revoluQio agrBria necessitava de seus pr6prlos 6rgios locals. 
De que modo se apresentario eles? Nas aldeias exlstfam organiza-
~iies de diversas especies: organlza~es do Estado, tats como os co-
mites executives de cantiio, os comites agrarios e os de abastecimen-
to; organlza~iies socials tais como os sovietes; organlzaciies pura-
mente poiitlcas tais como os partidos; enfim, organlza~iies de ad-
minlstra~ao autOnoma representadas pelos zemstvos de cantiio. Os 
sovletesde camponeses niio se tlnham desenvolvido a nao ser den-
tro dos llmites administrativos das provlncias, parcialmente dos dis-
tritos; existiam poucos sovietes de eantio. Os zetn8tvos de cantB.o 
eram dificilmente assfmila.veis. Em compensaQio, os comites agra-
rios e os comites-executives que foram crlados como 6rgaos de Es-
tado tornavam-se tio bizarros que pareciam, a primeira vista, 6r-
giios da revoluQii.O camponesa. 
0 principal comite agrarlo, comp~to de funclonarlos, de pro-
prletarios, de professores, de agronomos dlplomados, de politicos so-
ciallstas-revoluclonArlos, aos quais se misturavam camponeses du-
vidosos, era, em resume, um treio central a revolu~ao agrarla. Os 
comites de provincia nao cessavam de apllcar a politica governa-
mental. Os comites de distrlto oscUavam entre os camponeses e as 
autorldades. Em compensa~ao, os comites de cantao, eleitos pelos 
camponeses e exercendo atividades no pr6prio local e sob os olhos da 
aldeia, transformavam-se em instrumento do movlmento agrli.rlo. A 
circunstancia de que os membros dos comites pretendiam, via de 
regra, pertencer aos socia:tistas-revolucionB.rios nao mudava absolu-
tamente o caso: eles colocavam-se sob a isba do mujique mas nio 
se orlentavam pela mansao do nobre. Os camponeses apreclavam, 
728 
de um modo particular, o carater estatal dos comites, agrarios ven-
do all uma especle de alvara para a guerra civil. 
"Dizem os camponeses que fora do comlte de cantao niio re-
conhecem pessoa alguma", deelara, no mes de maio, urn dos ehefes 
da mlllcia do dlstrlto de Saransk, "mas todos os comites de dlatrl-
tos e de cldades trabalham para servlr aos proprletlirlos de terras." 
Segundo o comisslirio de Nizbegorod, "as tentativas levadas a efei-
to por alguns comites de cantao para lutar contra o despotismo que 
os camponeses punham em seus atos terminavam, quase sempre, por 
um fracasso e levavam a destltulcao de t6da a equlpe ... " "Os co-
mi~s estavam sempre", segundo Denissov, campones da provincia 
de Pskov, " do lado do movlmento campones contra os proprieta-
ries, uma vez que os. eleitos por eles representavam a parte mais 
revoluclonarla do campeslnato e os soldados do front." 
Nos comites de distrlto e sobretudo nos das capitals da provin-
cia era a intelligentsia dos funclonarlos que dlrlgla, esfor~ando-se 
por manter rela!;Oes pacificas com os proprietS.rios nobres. "Perce-
beram os camponeses", escreve Yurkov, eampones da provincia de 
Moscou, "que era sempre a mesma pele, porem virada do lado do 
avesso, o mesmo poder porem sob outre nome." "Observa-se'', escre-
ve o comissB.rio de Kurksk, "uma tendencia... fazer novas elei-
~oes para os comites 'de distrlto que apllcam, intranslgentemente, as 
decisoes do Governo Provls6rlo." Entretanto era multo dlficll ao 
campones atlnglr o comlt~ de distrlto: as llgacoes polltlcas das al-
delas e dos cantOes eram garantldas pelos soclallstas-revoluclonarlos, 
de modo que os camponeses vlam-se obrlgados a aglr por lnterme-
dio do partido cuj a principal missiio era vlrar a velha pellca. 
A frieza, espantosa a primelra vista, do campeslnato peran-
te os sovletes de marco tlnha, na realldade. causas profundas. Urn 
soviete ni.o representa apenas uma organizaQio especial, tal como 
um comlte agrlirlo, mas slm uma organlzacao universal da revolu-
cao. Entretanto, no domlnlo da politlca em geral o campones nao 
podia dar urn passo sequer sem dire~ao. Toda a questiio conslstla em 
saber de onde vir! a a dlre~ao. Os sovletes camponeses das provin-
etas e dos distritos constituiam-se por iniciativa, em medida bas-
tante consider8.vel, da coopera~io e com os recursos dela, nio cOmo 
6rgios da revoluQio camponesa mas como instrumentos de uma tu-
tela conservadora sObre o campesinato. As aldeias suportavam os 
sovletes dos soclallstas-revoluclonarlos de dlrelta como se fosse uma 
proteQio ·contra o poder. Mas preferiam, para elas, os comites 
agrarios. 
A flm de impedlr que a aldeia se fechasse no circulo "dos in-
teresses puramente rurais", · o governo apressava a criac;io dos 
zemstvos democratlcos. Isto bastava para for~ar o mujlque a por-se 
em .guerr~. Freqiientemente era necess8.rio impor-se eleic;Oes. 14Hou-
ve casos de ilegalldade" - .narra o comiss8.r1o de Penza -; "dev1do a 
tsso, as eleic;Oes foram anuladas." Na provincia de Minsk, os cam-
poneses detlveram o presldente da comissao eleitoraJ do cantiio, o 
729 
Principe Drutskoi-Liubetskol, acusando-o de ter fraudado as llstas: 
os mujlques tlnham dlflculdades para se entenderem com o princt-
pe s6bre a solu~io democratlca de uma compllca~iio secular. Bou-
golmlnsky, comlssarlo de dlstrllo, narra: "As elel~iies para os zemst-
vos de cantoes, no dlstrllo, nio foram lotalmente regulares... A 
composl~io dos elellos e excluslvamente camponesa, observa-se o 
afastamento dos lntelecutals do local, sobretudo dos proprletarlos 
de terras.'' Sob esse aspeclo os zemstvos niio se distlngulam, absolu-
tamente, dos comites. "A respelto dos lntelectuals e, partlcularmen-
te, dos proprtetarios de terras", escreve, lamentando-se, o comiss&.-
rlo da provincia de Minsk, "a atltude da massa camponesa e nega-
tlva." Pode-se ler, em um jornal de Moghllev, datado de 23 de se-
tembro: "0 trabalho dos lntelectuals nos campos encerra mullos rls-
cos quando se delxa de prometer, categorlcamente, trabalho em fa-
vor da entrega lmedlata de toda a terra aos camponeses.'' La onde 
um ac6rdo, ou mesmo um entendlmento, entre as principals classes 
toma-se lmposslvel, o terreno desllza sob as lnstltul~iies da demo-
cracla. 0 estado de natlmorte dos zemstvos de cantio fazla pressa-
glar, sem erro, o desmoronamento da Assemblela constltuinte. 
"No campeslnato daqui", declarava o comlssarlo de Nlzhego-
rod, "crlou-se a convlc~iio de que todas as leis clvls perderam a for-
~· e que todas as rela~iies do dlreltO devem, doravante, ser re-
gidas pelas organlza~iies camponesas." Dlspondo da mlllcla, all mes-
mo, os comites de cantio edltavam leis locals, determlnavam o pre-
90 de arrendamento, regulamentavam os sahirlos, colocavam geren-
tes nos dominlos, apossavam-se da terra, dos prados, dos bosques, 
do material; conflscavam as arm.as em casa dos proprietarios, rea-
llzavam buscas e prlsiies. Tanto a voz dos seculoa como a experlen-
cla recente da revolu~iio dlzlam, lgualmente, ao mujlque que a ques-
tio da terra era uma questio de fo~a. Para uma revolu~iio agrarla 
era neceasarlo que exlstlssem os 6rgaos de uma dltadura campone-
sa. Os mujlques alnda niio conheclam essa palavra de origem latina. 
Mas o m_ujlque sabla o que querla. A "anarqula" da qual se Iamen-
tavam os proprletarlos, os comlssarlos liberals, os politicos conetlla-
dores, era, na realldade, a prlmelra etapa de uma dltadura revolu-
clonarla nos cantoes. 
A necessldade para a revolu~iio agrarla, da erla~iio de 6rgios 
particulares, puramente camponeses, fol sustentada por Lenlne du-
rante os aconteclmenlos de 1905-1906: "Os comites revoluclonarlos 
camponeses - demonstra va ele no congresso do partido em Sto-
ckholm - apresentam o camlnho unlco pelo qual pode caminhar o 
movlmento campones." 0 mujlque nio lla Lenlne. Em compensa-
~iio, Lenlne lla multo bern nos pensamentos do mujlque. 
Somente Ia pelo outono fol que a aldela mudou de atltude em 
rela~io aos sovletes, quando os pr6prlos sovletes modlflcaram o cur-
so da politlca deles. Os sovletes bolchevlstas e soclallstas-revoluclo-
narlos de esquerda. nas capitals do dlstrlto ou da provincia, nio re-
tem mats os camponeses - ao contrS.rlo, empurram-no para frente. 
Se, durante os prlmelros meses, a aldela tlnha procurado nos so-
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vietes de conciliadores uma camuflagem legal para, posteriormente, 
entrar em conflito com eles, no momenta come~avam a encontrar, 
e pela primeira vez, nos sovietes revo!ucionS.rios, uma verdadeira 
dir~iio. Escreviam, em setembro, camponeses da provinciade Sa-
ratov: 4'Em tOda a RUssia o poder deve passar B.s mios. . . dos so-
vietes de deputados operarios, camponeses e soldados. Sera mais se-
guro." Foi sOmente hi pelo outono que o campesinato comec;ou a 
unir seu programa agd.rio a palavra de ordero do poder aos sovie-
tes. Mas ainda aqui o campesinato n8.o sabia nero quem deveria di-
rlgir esses sovietes, nero como. 
Os movimentos agrlirios contavam, na RUssia, com grande tra-
dic;S.o, com programa simples porem clara, e, em diversos lugares, 
com martlres e her6is pr6prios. A grandiosa experiencia de 1905 
niio passou sem que deixasse marcas mesmo nas aldeias. A isto e 
preciso acrescentar a a~ao do pensamento das seltas rellgiosas que 
reuniam mtlh6es de camponeses. "Conheci - escreve um autor bern 
informado - grande nUmero de camponeses que receberam. . . a 
Revolu~ao de Outubro como a reallza~ii.o absoluta das esperan~as 
rellgiosas que nutrlam." De todos os levantes camponeses conhecl-
dos atraves da hist6rla o movimento do campesinato russo em 1917 
!ol, sem duvlda, o mais fecundado pelas ideias politicas. Se, apesar 
disso, mostrou-se incapaz de criar uma dire~Ro aut6noma e de to-
mar o poder em suas m&.os, as causas repousavam na naturesa or-
gil.nlca de uma economla isolada, mesquinha e rotineira: esgotan-
do tOda a seiva do mujique essa economia ni.o o compensava garan-
tlndo-lhe a capacidade de generalizar. 
A llberdade politlca do campones signiflca, na pratica, a li-
berdade de escolher entre os dlversos partldos das cidades. Essa es-
colha, entretanto, nao se faz a priori. 0 campesinato, sublevando-
se, empurra {)S bolcheviques para o poder. Entretanto, somente ap6s 
terem conqulstado o . poder os bolcheviques poderao conquistar o 
campeslnato, trans!ormando a revolu~ao agraria em uma lei do Es-
tado oper&.rio. 
Urn grupo de erudltos, sob a dire~ao de Yakolev, estabeleceu 
uma classifica-;io extremamente preciosa dos documentos que ca-
racterizam a evolu-;io do movimento agrB.rio de fevereiro a outubro. 
Adotando como base o numero 100 para exprlmir o numero de ma-
nifesta-;6es nio organizadas em cada mes, calcularam os eruditos 
que os confUtos "organizados'' elevaram-se, em abril, a 33, em ju-
nho a 86 e em julho a 120. Fol nessa ocaslio que se verificou a maior 
expansio das organiza~Oes socialistas-revolucionQrias nos campos. 
Em agOsto, em 100 conflitos nio organizados houve apenas 62 orga-
nizados e, em outubro, ao todo 14. oesses nUmeros, extremamente 
esclarecedores se bern que multo convencionais, Yakolev chega uma 
dedu-;ao absolutamente inesperada: se, anteriormente ao mes de 
agOsto, o movimento tornava-se, dia a dia, mats "organizado", ele 
731 
assume, no outono, cada dia mats, o carB.ter de uma fOr.;a "espon-
tanea".* Outro pesquisador, Vermenichev chega a mesma fOrmula: 
"A dlmlnulciio da percentagem do movlmento organlzado, durante o 
periodo em que sublu a onda revoluclonaria, as vesperas de Outu-
bro, demonstra a natureza elementar do movimento durante todos 
aqueies meses." Se opusermos o elementar ao consciente, como a 
ceguelra a vlsiio - e e esta a tinlca antltese clentiflca -, chegaria-
mos necessarlamente a conclusiio que o estado de conscl~ncla do 
movlmento campon~s se elevou ate agOsto para, dai por dlante, lr 
declinando ate desaparecer, completamente, justo no momenta da 
insurreiQB.o de Outubro. Isso os eruditos nao queriam, evidentemen .. 
te, dizer. Se reflettrmos, mesmo pouco, sObre a questio, ni.o sera 
dlficll compreender que, por exemplo, as elelcoes rurals para a As-
semblela Constltulnte, apesar da apar~ncla de "organlzaciio", encer-
ravam urn car8.ter infinttamente mats "esponti.neo", isto e, nao 
racionado, gregB.rto, cego - do que as marchas "nio organizadas" 
dos camponeses contra os proprletarlos nobres, durante as quais 
cada rural ·sabla claramente aquilo que queria. 
Na reviravolta do outono, o campesinato rompia, ni.o com a 
oplnliio consclente d~le pr6prlo para se lancar na !Orca espontanea, 
mas com a dlrecao dos concllladores a flm de que pudesse chegar a 
guerra civil. A decadencla do estado de organlzacao apresentou, em 
suma, urn carater superficial: as organlzac6es dos concllladores 
caiam; mas o que flcava depots delas transformava-se num ponto 
de partlda por novos camlnhos sob a dlrecao dos elementos mals 
revoluclonarlos: soldados, marlnhelros, operarlos. Chegado o mo-
mento dos atos decisivos, os camponeses convocavam, freqiientemen-
te, uma assembleia-geral e tlnham p culdado de fazer com que a 
declsiio tomada fOsse asslnada por todos os moradores da aldela. 
"Durante o periodo outonal do movlmento campon~s. multa vez de-
vastador - escreve Chestakov, terceiro erud.ito -, o que mats ·fre-
qUentemente aparece em cena e a velha assembleia comunal dos 
camponeses ... lil atraves da skhod que o campeslnato divide os bens 
requtsltados, atraves da skhod, que entabula conversac6es com os 
proprietarlos e os admlnlstradores dos dominlos, com os comlssa-
rlos de dlstrlto e dlferentes paclflcadores." 
Por que motlvo desaparecem da cena os comites de cantao 
que conduziram em linha reta os camponeses a guerra civil? - Niio 
JX)Ssufmos, a ~sse respeito, lndicac;Oes suficientemente claras nos 
documentos. A expllcac;io, porem, vem por si mesma. A revolu.;B.o 
gasta, com excesstva rapidez, seus 6rgi.os e suas armas. Pelo fato 
em sl de que os comites agrirlos mantlnham a dlrecao atraves de 
medidas semipa.cificas, devia.m encontrar-se em estado pouoo susce-
tivel de ordenar, dlretament&, o assalto. A causa geral e comple-
tada pelas causas partlculares que nao rem, entretanto, ~so menor. 
• A palavra ru88& e.spont4neo 81gn1ftca, llteralmente, elementGr; e 6 geralmente 
ltgada na Uteratura aos movimentoa de conac16nclas de cla88e dirtgtdos por 
uma orga.nJaolo com uma teorta e um programa. [N. 4e 14. E.] 
732 
Empenhando-se no camlnho de uma guerra aberta com. os proprle-
tarlos sablam os camponeses, multo bern, aqullo que os amea9Qva 
no caso de uma derrota. Mals de um comlt.e agrarlo, mesmo sob 
Kerensky, fol metldo na cadela. Descentrallzar as responsabllldades 
transformava-se numa exlgenola absoluta da tatlca. Para lsso a for-
ma mals litll era o mir. A hallltual desconflan~a dos camponeses, 
uns contra os outros, agla, lndubltAvelmente, no mesmo sentldo: 
trata va-se, agora, de to mar e de repartlr os bens dos proprletArlos, 
cada um desejando partlclpar, pessoalmente, da opera~io, nio con-
flando a quem quer que fflsse os seus dlreltos. E asslm uma cres-
cente agrava~io da !uta levava a ellmlna~io temporaria dos cirgio$ 
representativos da democracla camponesa prlmltlva, sob as aparen-
clas do skhod e das senten~as do mfr. 
Grosselras aberra~oes na de!lni9io do movlmento campones 
devem parecer partlcularmente lnesperadas quando escrltas pelos 
eruditos bolchevistas. Mas niio se deve esquecer que se trata de eru .. 
dltos da nova forma~ao. A burocratlza~ao do pensamento leva, lne-
vltAvelmente, a uma superestlma~ao das !ormas de organlza~ii.o que 
eram lmpostas de clma para baixo ao campeslnato e a uma subes-
tlma~ao das formas que o campesinato se impunha a sl mesmo. 0 
!unclonarlo lnstruido, segulndo o professor liberal, consldera os pro-
cessos socials do ponto de vista admlnlstratlvo. Na qualldade de co-
mlssarlo do povo para a Agrlcultura, demonstrou Yakolev, mals tar-
de, a mesma atltude sumarla do burocrata em rela~ii.o ao campesl-
nato mas, Ja entio, num terreno ln!lnltamente mals extenso e car-
regado de responsabllldades, preclsamente na apllca~io "da coletl-
vlza~ii.o generallzada." 0 superficial na teorla vlnga-se, terrivelmente, 
quando se trata de uma pratica de grande envergadura! 
Antes, porem, de chegarmos aos erros da coletlvlza~io gene-
rallzada, !alta alnda percorrer treze bons anos. No momento trata-
se apenas da exproprla~io das terras dos proprletarlos ... :l!)xlstem 
alnda 134.000 proprletarlos.

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