Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
- 1 - Motivação: A Organização da Ação Texto original: Mook (1987)1 Tradução: Moreira (2005)2, 3 Em um dia do mês de Julho, um guarda desempregado entrou esbravejando em um restaurante de fast‐food da Califórnia e abriu fogo contra as pessoas que estavam comendo naquele restaurante. Ele baleou 21 pessoas, completos estranhos para ele, antes de ser morto pela polícia. Por que ele fez isso? Amanhã de manhã, enquanto esse texto é escrito, um grupo formado por cerca de dezoito jovens, homens e mulheres, sentar‐se‐ão em cadeiras desconfortáveis, movendo‐se pouco e conversando menos ainda, enquanto alguém lhes dá uma aula expositiva. Eles ficarão assim por cerca de uma hora e quinze minutos, o que é um tempo considerável. Por que eles fazem isso? Um dia, enquanto procurava pela casa de um amigo em uma cidade que nunca havia ido, eu bati à porta de uma casa. Uma mulher abriu a porta. Ela me recebeu, um estranho completo para ela, com um lindo sorriso e disse: “Bom dia!” Por que ela fez aquilo? Um minuto atrás, enquanto decidia sobre qual desses exemplos colocaria primeiro, eu sentei no meu sofá e comecei a rabiscar o desenho de uma coruja. Por que 1 Mook, D. G (1987). Motivation: the organization of action. New York: W. W. Norton & Company. 2 Esse texto é uma tradução não publicada do capítulo introdutório do livro de Douglas G. Mook, 1987. 3 Tradução apenas para uso pessoal de Márcio Borges Moreira como texto introdutório da Disciplina de Processos Básicos de Motivação. uma coruja? Por que rabiscar afinal de contas? Por que fiz aquilo? Para cada ação, que uma pessoa ou animal executa, nós podemos perguntar: “Por que ele ou ela fez aquilo?” Quando fazemos esta pergunta, estamos perguntando sobre a motivação da pessoa ou do animal. Como os exemplos acima mostram, podemos fazer a pergunta “Por que ele ou ela fez aquilo?” sobre qualquer ação, importante, como os tiros do guarda, ou trivial, como rabiscar uma coruja em um pedaço de papel. Mais ainda, as respostas podem ter consequências importantes. Suponha que A atira em B. Foi intencional? Estará A tentando matar B? Se sim, A é culpado de assassinato. Se não, A pode ser acusado de assassinato, mas provavelmente receberá uma sentença mais leve se condenado. A diferença reside na motivação. Questões sobre motivação são, então, questões sobre causas de ações específicas. Por que o organismo, uma pessoa, um rato ou um chimpanzé, faz algo em particular que o vemos fazer. O estudo da motivação é a busca de princípios que nos ajudem a entender por que pessoas e animais iniciam, escolhem, ou persistem em ações específicas em circunstâncias específicas. Nós procuramos atribuir causas às ações por pelo menos duas razões: Primeiro, o modo pelo qual explicamos uma ação afeta o que fazemos sobre ela. No caso do atirador, alguma pessoa pode explicá‐lo como o resultado inevitável da disponibilidade de armas e da glorificação da violência em nossa sociedade. Outra - 2 - pessoa pode explicá‐lo como resultado de juízes morosos e advogados espertos que deixam as pessoas literalmente livres para cometer assassinatos. Uma outra pessoa poderia atribuir o tiroteio a uma mente degenerada. Essas três pessoas poderiam ainda apelar para uma ação social na base de suas explicações ‐ a primeira para o controle de armas; a segunda por penalidades mais ásperas e rápidas; e a terceira para tratamento e prevenção de desordens mentais. Mas há uma outra razão, o impulso humano de entender, de estabelecer sentido para as coisas. Somos uma espécie curiosa, em diferentes maneiras. Considerando novamente o exemplo do tiroteio, uma tarde toda de discussões poderia centrar‐se ao redor das razões pelas quais uma pessoa poderia fazer uma coisa desta – mesmo se os debatedores não tivessem a intenção de fazer algo sobre o ocorrido. Deixe‐nos discutir este ponto mais profundamente. Compreensão O estudo científico da motivação é um desenvolvimento recente na história da humanidade. Mas tentar entender o mundo tem sido uma característica da mente humana tão antiga quanto podemos ter registro. Nossos ancestrais derramaram muito esforço intelectual e muita genialidade poética na construção de lendas e mitos sobre as origens e a construção do mundo, para nenhuma outra razão além de satisfazer o intenso desejo humano de compreender. Se um raio de luz era produzido pelo martelo de um deus enfurecido, resolvido o problema. Nós éramos capazes de entender o fenômeno, o relâmpago. Note algo sobre estes mitos. Eles explicam eventos físicos em termos de impulsos, sentimentos e desejos – os motivos – do sobrenatural como sendo o que fazem estes eventos acontecerem. Relâmpagos são explicados pela raiva dos deuses que os lançam; a chuva, pela boa vontade dos deuses que a provêem. Compreensão empática Como teorias, esses mitos satisfazem nosso desejo de dar sentido às coisas. Eles nos dão o que pode ser chamado de compreensão empática; ou seja, nos permitem sermos empáticos com os seres que fizeram o mundo ser como ele é. Se os deuses raivosos lançam raios, nós podemos ser empáticos com essa idéia; nós jogamos coisas quando estamos com raiva também; daí a jogar raios é “só um pulo”. Se um espírito benevolente nos dá chuva; nós podemos ser empáticos com essa idéia também; prestamos favores às pessoas quando nos sentimos benevolentes. Nesses casos, nós entendemos as ações dessas forças metafísicas no seguinte sentido: nós vemos essas coisas acontecerem, dados os mesmos sentimentos e desejos, nós faríamos a mesma coisa. Isso é o que significa compreensão empática. Mas como teorias sobre como o mundo funciona, havia duas dificuldades em relação a estes mitos. Primeiro, eles estavam errados; ou pelo menos deram lugar a teorias que funcionavam melhor. Segundo, eles explicam os eventos pela metade, um depois o outro. A chuva vem da benevolência de um espírito, o relâmpago de um deus enfurecido. Não havia nenhum princípio geral que relacionasse um evento ao outro. Compreensão e Ciência O método científico, devemos dizer, desenvolveu‐se de forma a evitar esses - 3 - problemas. O método científico difere do método do poeta e do “fazedor de mitos” em pelos menos dois pontos importantes. OBSERVAÇÃO SISTEMÁTICA Em primeiro lugar, para o cientista, empatia não é o suficiente. Ao invés de procurar explicações psicológicas para eventos físicos, os cientistas observam sistematicamente os fenômenos, sem interpretá‐los. Eles observam fenômenos físicos – relâmpagos ou o movimento das agulhas de um compasso – sob diferentes condições, anotando quais delas estão presentes quando o fenômeno ocorre e quais delas estão ausentes quando o fenômeno não ocorre. Algumas vezes os cientistas criam condições especiais – ou seja, elas conduzem experimentos – para isolar uma possível influência sobre o fenômeno de outras influências. Nesse sentido, os cientistas identificam as causas dos eventos – em outras palavras, as condiçõesrequeridas para produzir os fenômenos. Mais ainda, falamos de um processo contínuo. Tendo chegado a uma explicação inicial, os cientistas checam suas explicações com mais observações. Desse modo, se uma explicação está errada, nós saberemos mais cedo ou mais tarde. Se nós sabemos quando estamos errados, podemos corrigir nossos erros, se não sabemos o que está errado, não podemos corrigir. Durante o desenvolvimento de nossa compreensão, observações cautelosas e experimentos mostraram que um relâmpago, de fato, não ocorre quando os deuses estão com raiva. Eles ocorrem sob condições específicas e têm causas específicas. Eles obedecem a certos princípios gerais, ou leis, da física. Foi importante saber isso; mas talvez mais importante ainda foi a idéia subjacente que tornou essas descobertas possíveis: nós precisamos checar nossas explicações, fazendo observações. A BUSCA DE PRINCÍPIOS GERAIS A segunda característica do método científico é a busca por princípios gerais subjacentes a instâncias específicas. Sabendo disso, podemos relacionar diferentes eventos um ao outro. Podemos usar os princípios para criar novas instâncias – isto é, colocar nosso conhecimento em uso. Para exemplificar isso, consideremos que tipo de explicação um cientista daria para um evento físico familiar. Acionamos um interruptor, e um bulbo de luz acende. Perguntamos, “Por quê?”. Uma explicação poderia ser dada assim: “Bem, quando o interruptor foi acionado, dois pedaços de metal ficaram em contato. Isso permitiu à corrente elétrica fluir através daquela conexão aos fios ligados ao bulbo e ao filamento de metal dentro do bulbo. O fluxo de eletricidade gera calor; quando o filamento dentro do bulbo fica quente o suficiente, ele incandesce. Essa incandescência é o que vemos”. É claro que o nosso especialista poderia ter voltado um pouco em sua explicação se nós não conhecêssemos o suficiente sobre eletricidade ou a anatomia de um interruptor para entendê‐lo; mas você pode ver a idéia básica. Temos uma cadeia de eventos disposta para nós, cada evento causando o próximo. Note também que em cada passo há um apelo a um princípio ou fato geral. É verdade que no geral a eletricidade flui por cabos de metal, que calor é gerado nesse processo, e que metal fica incandescente quando é aquecido suficientemente. A explicação relaciona o evento específico aos princípios gerais e mostra - 4 - como esses princípios são uma instância dos eventos. Por que queremos princípios gerais? Por uma razão, isso nos permite relacionar um evento a outro. Conhecer os princípios da eletricidade nos ajuda a entender bulbos de luz, relâmpagos, magnetismo e muito mais. Segundo, esses princípios podem ser colocados em prática. Se entendermos os princípios de circuitos elétricos, então podemos construir um circuito para um uso específico – talvez um circuito que ainda não tenha sido feito – e estarmos razoavelmente confiantes que esse circuito funcionará. O uso de princípios gerais para predizer se um novo método ou invenção irá funcionar nos deu a luz elétrica, telefones, televisão, computadores, viagens espaciais e muito mais. Compreendendo o comportamento O crescimento explosivo da ciência nos últimos séculos afetou cada pequeno aspecto de nossas vidas. E quanto mais progredia mais próximo de nós chegava: começando com estrelas e planetas, expandiu seus métodos para incluir eventos físicos aqui na Terra, depois a biologia dos seres da Terra, e finalmente o comportamento dos organismos vivos – incluindo seres humanos. A ciência voltou seus métodos para o estudo da mente humana. As ciências naturais mudaram o modo como pensamos sobre o mundo. O progresso na Psicologia, entretanto, afetou menos o modo como pensamos. Nós mudamos o modo como explicamos eventos físicos; nós não apelamos mais para a “psicologia de deuses e demônios” para explicar eventos físicos. Mas para explicar comportamento, nós geralmente nos mantemos presos à forma original de explicação em termos de impulsos, desejos e sentimentos. Se uma pessoa nos cumprimenta de uma forma calorosa, sorridente, nós dizemos que ela tem uma personalidade amigável. Se estudantes sentam‐se quietos na sala de aula, eles devem querer aprender (ou querem boas notas). Estão essas explicações erradas? Não necessariamente (há alguma controvérsia sobre essas explicações, que veremos adiante), mas na melhor das hipóteses elas estão incompletas. Por quê? Primeiro, porque precisamos checá‐las; segundo, porque precisamos conhecer os princípios envolvidos nesses comportamentos. O fato é: nós não entendemos como desejos, impulsos e sentimentos funcionam! Os mecanismos psicológicos que uma vez serviram de explicação para o mundo físico, como atribuídos a deuses e demônios, agora precisam eles mesmos de explicação. CHECANDO NOSSAS EXPLICAÇÕES Lembrando da nossa nova conhecida que nos cumprimentou com um sorriso; ela tem uma personalidade amigável, nós dissemos. Mas nós precisamos checar. Ela pode não ter uma personalidade amigável realmente; ela pode, considerando tudo que sabemos, ser bastante fria a maior parte do tempo. Pode ser que os estudantes que vemos sentados na sala de aula não estão ávidos por conhecimento ou boas notas; eles podem estar paralisados de medo, ou tentando ganhar uma aposta de quem consegue ficar sentado mais tempo sem se mover. Sem mais informações, não temos como saber. OBSERVAÇÕES SISTEMÁTICAS Nossa primeira tarefa, então, é conseguir mais informação: precisamos fazer observações sistemáticas. - 5 - Considere novamente nossa nova amiga. Suponha que descubramos enquanto investigamos melhor que ela sempre cumprimenta as pessoas de forma calorosa, não só a nós, e não só hoje. Ela muda o seu jeito de ser para deixar as pessoas mais à vontade, assovia enquanto trabalha e canta na chuva. Sendo assim, fomos de algum modo na direção da explicação que demos anteriormente: “Ela foi amigável conosco porque, em geral, ela é amigável”. Estamos dizendo que suas ações resultam de algo sobre ela que é estável, e não temporário – por exemplo, uma boa notícia que ela tivesse acabado de ouvir. Dissemos que fomos “de algum modo” na direção da explicação. Mas não percorremos todo o caminho, e aqui nós ficamos face a face com o segundo aspecto da compreensão científica. A BUSCA POR PRINCÍPIOS PSICOLÓGICOS Mesmo se estivermos certos sobre a personalidade de nossa nova amiga, ainda temos a pergunta mais interessante por fazer: como são formados os traços de personalidade. Como eles guiam ações específicas? Por que sua personalidade amigável se expressa daquela forma em vez de outra? Que princípios governam a formação e a expressão de traços de personalidade? Com relação aos estudantes, digamos que eles querem boas notas, mas tirar boas notas não aconteceu ainda, isso pertence ao futuro. Como eventos que ainda não aconteceram afetam o comportamento agora? Se forem as expectativas que afetam o nosso comportamento agora, então, como as expectativas são formadas? Como expectativascontrolam os músculos? Quais são os princípios envolvidos? A situação toda é similar ao caso da física. Nós queremos ser capazes de relacionar eventos específicos como sentar e ouvir, ou cumprimentar com um sorriso a princípios gerais. Esses princípios, se soubéssemos o que eles são, seriam análogos às leis da termodinâmica, dos circuitos elétricos, das trocas de energia, etc., na física. Desnecessário dizer, estamos bem longe de atingir um objetivo tão ambicioso. Entendemos bastante de circuitos elétricos, bem melhor do que entendemos as causas da ação. Entretanto, temos feitos algumas tentativas. Esse livro examina muitos exemplos, mas aqui está apenas um para mostrar um paralelo: muitos cientistas acreditam que ações que são recompensadas tendem a se repetir. Caso isso seja verdade, então é um princípio do comportamento. Esse princípio foi bem estabelecido em estudos de laboratório de comportamento animal. Mas, assumindo que este princípio se aplica também ao comportamento humano, os cientistas foram capazes de fazer previsões que poderiam ser testadas com seres humanos. Eles predisseram, por exemplo, que se o comportamento autolesivo de doentes mentais for recompensado, tal comportamento poderia se tornar mais freqüente. Como veremos adiante (pp. 269‐ 272) essa predição foi confirmada em pelo menos algumas condições. Pontos de vista na teoria motivacional O campo da motivação procura entender as causas de uma ação específica. Com o que tais explicações se parecerão? Que tipos de idéias serão de mais ajuda para nos dar explicações causais do comportamento? Inicialmente, devemos estar cientes de um fato que permeia o estudo sobre motivação: os teóricos da motivação não - 6 - concordam uns com os outros nem mesmo quanto às respostas para as perguntas feitas acima. Há diferenças gritantes de opinião sobre quais princípios causais são aplicados às ações humanas e de animais. Olhemos novamente para o episódio do tiroteio. Alguns teóricos poderiam explicar as ações como sendo a explosão desenfreada de um ataque de fúria (raiva), acumulada talvez por anos, e com origem na infância. Outros poderiam buscar por uma história de reforçamento de ações violentas para essa pessoa, talvez acoplada a reações emocionais produzidas pela ausência de reforçamento no momento. Ainda, outros poderiam ver esse evento como o resultado de uma decisão raciocinada. Talvez o homem, de alguma forma, tenha se convencido de que as pessoas em geral – qualquer pessoa – fossem responsáveis por sua miséria. Então ele iniciou sua revanche furiosa contra qualquer pessoa que estivesse por perto. Desde que estes pontos de vista sobre a motivação são importantes, vamos examiná‐los mais detalhadamente. Causas ambientais: o Behaviorismo A maioria das teorias de motivação do senso‐comum explica o comportamento por causas internas, como desejos, impulsos e vontades. Para ver a diversidade dos pontos de vista vamos começar examinando um que possui uma abordagem bastante diferente. Os teóricos do Behaviorismo rejeitam todas as explicações da ação em termos de eventos internos como pensamentos ou desejos. Eles buscam explicação da ação na influência do lado de fora. O comportamento nos permite atender às demandas do nosso ambiente. Nós estamos aqui porque nossos ancestrais foram capazes de encontrar comida no ambiente, encontrar parceiros no ambiente, não ser comido por predadores do ambiente, e assim por diante. Então, nós desenvolvemos órgãos que percebem a situação externa (os órgãos do sentido), e alguns que nos permitem fazer algo com relação à situação percebida (músculos e juntas). A Psicologia, para behavioristas, é o estudo de como nós vamos nos ajustando ao ambiente nos comportando nele. Disto segue que as causas do comportamento estão fora do organismo, no ambiente. Eventos ambientais podem eliciar ações diretamente, como na contração de um músculo na direção contrária do estímulo doloroso, ou algumas ações podem ser fortalecidas e se tornarem mais prováveis porque elas foram reforçadas por eventos ambientais no passado. Por que um rato treinado pressiona uma barra? Porque esta resposta (pressionar a barra) foi reforçada com água no passado, portanto, fortalecida. Uma pessoa que entra em contato com o ponto de vista do behaviorismo pela primeira vez pode achá‐la bastante estranha. Tem‐se a impressão que muita coisa ficou de fora da explicação. Uma crítica pode fortalecer esta objeção: suponha que você tenha duas pessoas na mesma situação. As duas fracassaram em uma prova. Uma diz, ‘Eu devo estudar mais para a próxima prova. ’ A outra diz, ‘Não posso fazer isso, eu sou um fracasso.’ Isso não faz uma grande diferença? Isso não mostra que pensamentos e sentimentos internos contam mais que a influência do ambiente externo? Nenhum behaviorista seria tolo o suficiente para negar que coisas deste tipo (sentimentos e pensamentos) ocorrem. Um behaviorista responderia a essa objeção da seguinte forma: “Sim, é claro que duas pessoas podem reagir de formas diferentes, - 7 - e é claro que isso é importante. Mas falar de pensamentos e sentimentos não explica nada sobre a diferença, só a ressalta. Pensamentos e sentimentos são comportamentos também; pensar um pensamento é algo que fazemos. Então, por que duas pessoas pensam de formas diferentes? Presumivelmente porque elas têm diferentes histórias de reforçamento; elas passaram por diferentes experiências em suas vidas. E experiências na vida são providas pelo ambiente. Se duas pessoas reagem de formas diferentes ao mesmo ambiente hoje, no que elas fazem, no que elas pensam e sentem, é por que seus ambientes foram diferentes no passado”. Em outras palavras, o behaviorista diz: Se nós apelarmos para pensamentos e sentimentos para explicar a ação, teremos também que explicar os pensamentos e os sentimentos assim como explicamos a ação. E se tentarmos fazer isso, seremos levados para fora do indivíduo que age em seu ambiente – sua história de aprendizagem – que é a causa dele pensar o que pensa, sentir o que sente, e agir do modo como age. Esse, portanto, é o ponto de vista do behaviorismo sobre a explicação do comportamento. Pensamentos, sentimentos, e outros eventos internos não são partes da causa da ação. Eles são ações que, por seu turno, também devem ser explicadas. Eles são causados pelos mesmos eventos ambientais que causam o comportamento externo, comportamento que pode ser observado por outro indivíduo (Figura 1‐ 2A). É por isso que falamos do ambiente (experiência de vida) como causa. Causas internas: o ponto de vista mediacionista Em contraste com os behavioristas, outros teóricos acreditavam que eventos internos como desejos, impulsos, expectativas e pensamentos são importantes na causação do comportamento. Esses autores consideram importante a situação (ambiente). Mas eles insistem que para entender o que a pessoa faz, precisamos entender como ela percebe a situação, o que ela pensa sobre isso, o que significa para ela, o que ela quer que aconteça, e coisas do tipo.Esses eventos internos ocorrem no meio da cadeia causal, entre a situação e a ação (Figura 1‐2B). Por isso nos referimos a este ponto de vista como mediacionista. Os teóricos mediacionistas, por seu turno, podem ser divididos em duas classes, dependendo de onde está sua ênfase. Primeiro temos os teóricos psicodinâmicos, que dão ênfase aos impulsos e desejos, que surgem de dentro do agente (daquele que age), como fontes de motivação. O mais conhecido dos teóricos psicodinâmicos é o fundador da psicanálise, Sigmund Freud (1856‐1939). Freud pensou sobre nossas ações – incluindo ações internas como o pensar, o desejo, o sonho, entre outras – como impulsionados ou dirigidos por uma energia psíquica, produzido, por sua vez, por tensões surgidas dentro de nossos corpos. Frequentemente estamos inconscientes de tais forças motivacionais; para Freud, motivos inconscientes são frequentemente os mais importantes. Segundo, há também os teóricos cognitivistas, que dão ênfase ao pensamento, ao julgamento e a processos racionais que, por sua vez, conduzem o indivíduo à ação. Esses autores pensam sobre o agente (o indivíduo que age) como considerando várias possibilidades de ação, antecipando o resultado de cada ação, e escolhendo a ação cujo resultado é mais desejado. Considerar, antecipar e escolher, esses são processos cognitivos ou operações cognitivas que determinam qual ação será executada. - 8 - Figura 1‐2: Concepções Behavioristas (A) e mediacionistas (B) das causas da ação. À primeira vista, a posição mediacionista soa tanto como o óbvio senso comum que alguém poderia se perguntar por que deveria haver algum disputa sobre ela. Há disputa, entretanto, por três razões: primeiro, o ponto de vista mediacionista é desafiado pelos behavioristas, que o apontam como incompleto ao apelar para eventos mentais para explicar qualquer coisa. Uma explicação completa, eles dizem, deve nos levar de volta ao ambiente para explicar ambos, ações e cognições. Segundo, os mediacionistas estão plenamente conscientes de que se nós não entendemos o comportamento muito bem, também não entendemos muito bem desejos, expectativas e coisas do gênero. Como eles (expectativas e desejos) funcionam? Que princípios eles seguem? Nós não sabemos. Então, ao insistir que desejos e expectativas são importantes, o cognitivista não está oferecendo explicações muito adequadas ao dizer como deverão ser as explicações, que conceitos serão usados. Estamos bem longe de explicações completas, e o mediacionista sabe disso tão bem como qualquer outro teórico. Terceiro, os teóricos mediacionistas não estão tão próximos do senso‐comum como possam parecer. Esses teóricos estão convencidos de que operações mentais complexas – acreditar, desejar, decidir, etc. – ocupam lugar em nós. Mas isso não significa que nós as vemos ocupando esse lugar. Muito do nosso pensamento e julgamento pode ocorrer sem o nosso conhecimento. Sendo assim – se há causas internas de nossas ações que não sabemos que estão lá, e não podemos descrever – então nosso senso comum não será um guia confiável até elas. A perspectiva biológica - 9 - Há um outro pondo de vista sobre a motivação. Este ponto de vista não é realmente uma alternativa aos outros dois, este passa através dos outros dois. Se virmos o comportamento como causado por mecanismos internos ou pelo ambiente, podemos perguntar: como o processo funciona no sistema biológico que o organismo que se comporta. Duas outras questões surgem dessa pergunta. Primeiro, existe a questão fisiológica: como funciona o organismo? Como as células ‐ no cérebro, na medula espinhal, nas glândulas endócrinas, nos músculos – cooperam para produzir seus efeitos? Como impulsos, ou impactos ambientais, ou cognições, são traduzidos em ações pelo aparato fisiológico do organismo? Esse é o campo de estudos do neurofisiologista, do neuroendocrinologista, e do psicobiólogo. Segundo, há a questão evolucionária: como um determinado organismo se tornou o que é? Como uma espécie evolui seu repertório de reflexos, seus padrões instintivos de ação, e os mecanismos biológicos relacionados à percepção, aprendizagem e pensamento até o ponto que tem hoje? Essa questão se torna outra questão: que vantagens esses mecanismos proveram no ambiente no qual essa espécie evoluiu de forma que seus ancestrais pudessem garantir melhor a sobrevivência de sua prole que outras espécies? Para isso, como vamos ver no próximo capítulo, é necessário saber como a evolução funciona. Essa questão pertence aos biólogos evolucionários, aos ecologistas, aos etologistas, e ao sócio‐biólogos. Os prospectos para uma síntese Não é ainda o momento de aprofundar nas questões que surgiram das escolas de pensamento apresentadas acima, isso será feito ao longo desse livro. No momento, o ponto é que existem diferenças fundamentais na opinião sobre quais são os fatores que influenciam a motivação e como são esses fatores. Isso não é surpreendente. A diversidade de pontos de vista casa com a diversidade do próprio comportamento humano. Afinal de contas, somos a espécie cujos membros inventaram o computador, mandaram pessoas à lua, decifram códigos genéticos e abriram fogo contra outros membros de nossa própria espécie. Aborde esse complexo assunto a partir de diferentes pontos de partida e você chegará a diferentes conclusões sobre ele. Novamente, talvez esses pontos de vista não são tão diferentes quantos eles parecem. Talvez as diferenças surjam pois eles estão abordando diferentes aspectos, diferentes partes, de um mesmo sistema complexo, ou eles, muitas vezes, estão dizendo a mesma coisa com palavras diferentes. Duas coisas pelo menos estão bastante claras. Primeiro, cada um desses grupos de investigadores, usando seus próprios métodos e conceitos, nos proveu de idéias, achados, e fenômenos que outros, usando seus método e conceitos, nunca teria descoberto. Segundo, alguns dos nossos mais produtivos e brilhantes cientistas foram capazes de extrair idéias interessantes de todos os pontos de vista. Apenas para ilustrar, aqui está um exemplo de como diferentes abordagens podem ser integradas. Depressão severa pode ser um transtorno paralisante. Uma pessoa severamente deprimida pode ser incapaz de iniciar uma ação, pensar ou raciocinar claramente, ou achar algum prazer na vida. Freud concebeu isto como sendo o resultado de um impulso agressivo direcionado para - 10 - dentro do próprio indivíduo. A pessoa deprimida, ele concluiu, está inconscientemente com raiva de si mesma. Martin Seligman (1975) teve uma interpretação diferente, baseada nos seus estudos comportamentais sobre aprendizagem em cães. A exposição a eventos incontroláveis – eventos desagradáveis dos quais os cães não podiam escapar – poderia produzir sintomas nos cães que são análogos a muitos sintomas da depressão humana (veja pp. 504‐508). Ao estudar humanos diretamente, Seligman encontrou evidências desta hipótese: eventos desagradáveis incontroláveis poderiam produzir sintomas de depressão em humanostambém. Aqui vemos a abordagem behaviorista: há eventos no ambiente que disparam os sintomas. Mas Seligman adicionou interpretações cognitivas ao que estava acontecendo. Ele pensou que cães (e humanos), quando sujeitados a eventos incontroláveis, desenvolviam uma crença sobre sua falta de opções, e essa crença interferiria em suas ações. Com a continuidade de seu trabalho, ele concluiu que uma grande quantidade de teorias cognitivas era de grande relevância – como as pessoas interpretam eventos, o que elas pensam que são as causas, o que elas creditam a elas mesmas – e, em particular, como pessoas deprimidas culpam a si mesmas, conscientemente ou não, pelos eventos incontroláveis. O importante aqui é notar como partes de diferentes pontos de vista podem juntar‐se. Auto‐culpa soa familiar à raiva auto‐direcionada de Freud, resultando em impulsos agressivos. Mas Seligman vê a depressão como resultado, não dos impulsos, mas de crenças – um estado cognitivo. E ainda pode ser um estado cognitivo inconsciente – outra contribuição de Freud. Novamente, essas crenças são crenças sobre as causas dos eventos ambientais – eventos incontroláveis, cujos efeitos sobre o comportamento fizeram Seligman pensar sobre o assunto em um primeiro momento. Finalmente, um dos resultados desse trabalho foi uma nova série de questões ao nível biológico, questões que não teriam sido pensadas sem esse trabalho. O papel da incontrolabilidade no stress, e seus efeitos no funcionamento neuroquímico, nas defesas do organismo contra infecções, entre outras, tem se tornado um campo de pesquisa promissor na psicobiologia e na medicina comportamental. Aqui vemos uma nova convergência de idéias – comportamental e fisiológica. Métodos de estudo da motivação Vimos que as questões feitas pelos teóricos da motivação e o tipo de respostas que procuram são bastante diversificadas. Também os são os métodos usados para buscar estas respostas. Iremos discutir três desses métodos. Estudos de caso Estudos de caso são observações de um único indivíduo, de grupos ou eventos. O objetivo é, através do exame detalhado do caso único, ver claramente a complexa rede de influências que afetam aquele indivíduo ou evento. EXEMPLO 1: O CASO ANNA O. Um dos estudos de caso mais influentes já publicados relacionou‐se a um caso clínico – o caso de uma mulher chamada Anna O. A mulher, ao procurar seu médico Josef Breuer (1842‐1925), sofria de uma grande quantidade e variedade de sintomas físicos que não possuíam causa orgânica identificável. Um de seus braços - 11 - estava paralisado, por exemplo; e esse era apenas um sintoma dentre vários. Breuer e seu colega, Sigmund Freud, trataram Anna com hipnose. Eles descobriram que sob hipnose, Anna era capaz de se lembrar de episódios dos quais não se lembrava quando não estava hipnotizada. Esses episódios geralmente se relacionavam aos sintomas de maneira surpreendente. A paralisia do braço, por exemplo, ocorreu pela primeira vez na época em o pai de Anna morrera. Anna havia apoiado seu braço no leito de morte de seu pai em uma posição confortável. Após Anna lembra‐se desse episódio seu braço voltou a se mover. Breuer e Freud concluíram que a paralisia foi uma reação ao trauma da morte de seu pai e sua culpa de ter‐se recostado negligentemente em seu leito de morte, como se a paralisia fosse uma punição imposta por uma parte da mente ao resto dela. Esse caso e alguns que o seguiram levaram Freud à idéia de uma motivação inconsciente – a idéia de que as coisas que fazemos, incluindo os sonhos que sonhamos, e os sintomas dos quais sofremos, têm causas que vêm de nossas mentes, mais que não temos consciência delas. Essa foi certamente uma das idéias mais influentes na história do pensamento. EXEMPLO 2: QUANDO A PROFECIA FALHA No exemplo anterior o estudo de caso foi de uma pessoa em particular. No entanto, o “caso” poderia ser de um grupo de pessoas ou evento. Um time de pesquisadores (Festinger, Reicken e Schachter, 1956) descreveu um grupo de pessoas que acreditavam que o mundo estava chegando ao seu fim, e eles sabiam a data em que isso iria acontecer. Esses cientistas acompanharam esse grupo durante o período pelo qual eles esperavam pelo dia do juízo final, e o período seguinte. O dia do juízo final veio e nada aconteceu. Alguém poderia pensar que o grupo aceitaria essa evidência clara de que sua profecia estava errada. Eles deveriam mudar de idéia e reconhecer seu erro. O que aconteceu foi exatamente o oposto: as crenças dos membros do grupo se intensificaram. Eles começaram a publicar suas visões e procurar por novos membros, coisas que nunca haviam feito antes. Claramente, pessoas podem se ater a opiniões fechadas independentemente das claras evidências de que suas opiniões estão erradas. Esse episódio, a propósito, é um outro exemplo de como perspectivas teóricas diferentes podem convergir. O grupo decidiu que a destruição do mundo seria prevenida “pela luz de sua fé”. Poderíamos ver isso como um exemplo do que os psicanalistas chamam de racionalização – a invenção de razões que soam como racionais para ações irracionais. Mas também discutiremos esse fenômeno em termos de dissonância cognitiva – um conceito da psicologia cognitiva (veja capítulo 11). Finalmente, um autor behaviorista poderia apontar para a importância do ambiente social – a influência de alguns membros do grupo sobre outros – como importante ao prover suporte, ou reforçamento, para fortalecimento da fé. Os psicólogos cognitivistas que fizeram o estudo estavam também preocupados com importância do suporte social, o que nos faz pensar novamente se essas perspectivas são tão diferentes como parecem ser. LIMITAÇÕES DO ESTUDO DE CASO Estudos de caso, portanto, são extremamente úteis para nos mostrar o que pode acontecer. Eles têm, no entanto, duas severas limitações. - 12 - Primeiramente, é fácil incorrer no erro de generalizá‐los além da conta; de concluir, porque algo pode acontecer, que este algo tipicamente ocorre. Uma das maiores críticas à teoria de Freud é justamente essa: das suas conclusões de que sintomas neuróticos podem expressar desejos inconscientes, ele propôs que todo comportamento neurótico, e também a maioria do comportamento normal, é de mesma natureza. Muitos estudiosos pensam que Freud tenha ido muito além de seus dados, baseando toda uma teoria da mente em poucos casos de pessoas neuróticas. A segunda limitação é ainda mais séria. Estudos de caso olham para o indivíduo ou grupo em um ambiente onde muita coisa está acontecendo. Um entrevistador não pode inquirir sobre tudo o que acontece, não pode também reportar tudo – há muito a ser dito. Ambos, o inquirir e o reportar, precisam ser seletivos. E é muito fácil acontecer que a seleção de alguém seja influenciada pela sua teoria e por suas concepções. Então, um terapeuta freudiano ouvindo seu paciente já acredita que eventos ocorridos na infância da criança são importantes. Este terapeuta já está propenso a prestarmais atenção ao que o paciente diz quando este descreve eventos ocorridos em sua infância; o terapeuta estará propenso a lembrar esses eventos e a esquecer outras coisas que o paciente diz; o terapeuta pode ainda evocar o relato de tais eventos através de perguntas e do interesse expressado por esses eventos. Esse terapeuta, portanto, está propenso a achar e lembrar de eventos que confirmam sua teoria. Em uma palavra, o terapeuta está propenso a achar o que ele está procurando; e o que ele procura será determinado por sua orientação teórica. Esse é um erro recorrente e perigoso em estudos de caso. Por isso, o cientista experimental mostra‐se muitas vezes cético em relação às pesquisas baseadas em estudos de caso. Ele aceita o estudo de caso como uma fonte de idéias e possibilidades a serem exploradas, mas não como uma fonte de conclusões. Estudos correlacionais Enquanto estudos de caso focam em casos únicos, estudos correlacionais tipicamente buscam dados em um grande número de sujeitos. Tipicamente há duas ou mais medidas feitas com cada sujeito. Então é verificado se uma medida está correlacionada com a outra. Dadas as medidas X e Y, pergunta‐se: os membros com valores altos em X apresentam também valores altos em Y, e os baixos em X apresentam baixos em Y? Se isso ocorrer, dizemos que X e Y estão positivamente correlacionados. EXEMPLO 1: INFANTES E MÃES As medidas X e Y podem ser quase tudo o que pode ser, de alguma forma, medido. Elas podem, por exemplo, ser observações diretas do comportamento. Por exemplo, em um estudo (Bell e Ainsworth, 1972) acharam uma correlação negativa entre a frequência do choro de infantes e a prontidão das mães para atender a criança ao chorar. Quanto mais prontamente as mães atendiam ao choro da criança, menos freqüentes eram as crises de choro. Esse achado, e outros semelhantes, tiveram implicações em teorias sobre a relação infante‐pais (veja pp. 463‐465). EXEMPLO 2: DEPRESSÃO E EXPLICAÇÃO DE EVENTOS X e Y podem ser medidas do tipo papel‐e‐caneta. Veremos mais adiante, por - 13 - exemplo, que o escore em um questionário de depressão está correlacionado com a tendência, também medida por questionário, de culpar‐se quando coisas ruins acontecem. Essa é exatamente a correlação prevista pela teoria sobre depressão de Seligman. LIMITAÇÕES DOS ESTUDOS CORRELACIONAIS Podemos ver então que os dados correlacionas podem ser usados para testar predições baseadas em teorias, e, é claro, as relações que os estudos correlacionais estabelecem têm seu próprio valor; certamente é importante saber se, por exemplo, o grau de stress na vida de alguém está correlacionado com o risco de contrair doenças. Estudos correlacionais, entretanto, têm um inconveniente: eles não podem, sozinhos, estabelecer as causas das ações ou eventos. Considere, por exemplo, que o ato de fumar (X) está correlacionado com o risco de se ter câncer de pulmão (Y). Quanto mais uma pessoa fuma, mais provável se torna o desenvolvimento de um câncer de pulmão. Mas a correlação não mostra que fumar causa um aumento no risco de desenvolver um câncer – a indústria do tabaco foi rápida em esclarecer isso. Se fumar e câncer estão correlacionados, talvez seja porque fumar causa câncer. Mas, alguém poderia argüir, talvez não. Talvez outra coisa cause ambos. Talvez pessoas que estão sob stress tornem‐ se mais propensas a fumar e a ter câncer. Isso faz uma grande diferença, pois se isso for verdade, então os programas de prevenção do câncer deveriam se concentrar na redução do stress, e não na redução do tabagismo. Entretanto, nesse casso particular (tabagismo versus câncer), a relação causal já foi muito bem estabelecida: fumar aumenta o risco de desenvolver câncer. Mas essa relação causal não foi estabelecida por estudos correlacionais, e sim por estudos experimentais. Quando evidências experimentais não estão disponíveis, precisamos ter essa preocupação em mente sempre que olhamos para um dado correlacional. Uma correlação mostra que X e Y estão relacionados; mas não mostra o que causa o que. EXPERIMENTOS (ESTUDOS EXPERIMENTAIS) Estudos de caso e pesquisas correlacionais olham para o que aconteceu na natureza exatamente como a encontramos. Um experimento interfere na natureza fazendo com que algo aconteça e observando quais são os efeitos dessa intervenção. Idealmente, varia‐se uma possível influência em uma situação em que todas as outras são mantidas constantes. Um aspecto do comportamento do sujeito é observado e nós podemos ver como uma determinada influência o afeta. O método experimental tem duas grandes forças: primeira, ele é capaz de fragmentar uma complexa rede de possíveis influências. Ele pode nos mostrar qual das muitas coisas que ocorrem na natureza são as influências importantes. EXEMPLO 1: HORMÔNIOS E REDUÇÃO DE APETITE Um grupo de experimentadores (Pi‐ Sunyer, Kissleff, Thornton e Smith, 1972) mediu a quantidade de comida ingerida por um grupo de jovens famintos. Antes de algumas refeições os jovens receberam uma injeção de hormônio (veja pp. 81). Antes de outras refeições eles receberam injeção de uma solução de salina; esse era o controle - 14 - para os efeitos de se receber uma injeção (só a “agulhada” pode causar efeitos). Foi demonstrado que os sujeitos comiam menos após injeções de hormônios do que após injeções de salina. Em outras palavras, os sujeitos ficavam satisfeitos mais rapidamente quando o hormônio era administrado. A liberação de hormônio na corrente sanguínea é apenas um de uma complexa série de eventos que ocorrem quando comida é ingerida. Muitas outras coisas ocorrem também; o estômago trabalha, o intestino trabalha, nutrientes são jogados na corrente sanguínea e muito mais. Com todas essas coisas acontecendo é difícil saber o quão importante é cada uma delas. No experimento citado, no entanto, todos esses eventos ocorreram nas duas condições experimentais; apenas a quantidade de hormônio no sangue foi diferente. Então, desde que todo o resto estava constante – a quantidade de comida oferecida, há quanto tempo os sujeitos estavam sem comer, a “agulhada”, o local – sabemos que foi o hormônio, nada mais, que levou os sujeitos a comer menos. EXEMPLO 2: INCONTROLABILIDADE E DESAMPARO A segunda característica forte dos experimentos é sua capacidade de estabelecer a direção de relações causais. Veja esse outro exemplo. Foi apresentado a dois grupos de cães um problema de aprendizagem no qual eles deveriam aprender a emitir respostas corretas para evitar um choque doloroso. Um grupo foi introduzido ao problema sem nenhuma experiência prévia com aquele tipo de situação. O outro grupo, antes do treino começar, recebeu uma série de choques que os cães não poderiam controlar: nada que os cães fizessem cessava os choques. Quando colocados para realizar a tarefa de aprendizagem os cães do primeiro grupo aprenderam rapidamente a evitar os choques. Os cães do segundo grupo nunca foram capazes. Apesar de poder escapar dos choques facilmente na tarefa de aprendizagem eles não aprenderam a fazê‐lo.Os experimentadores concluíram que os choques incontroláveis que os cães do segundo receberam antes da tarefa de aprendizagem produziram desamparo aprendido, ou seja, os cães simplesmente desistiram de tentar, e não fizeram nada para resolver o problema, mesmo quando isso era possível. Esse foi o marco inicial do trabalho de Seligman sobre depressão que foi citado anteriormente. Já que os experimentadores submeteram alguns cães, mas não outros, aos choques incontroláveis previamente, não resta dúvida de que a experiência prévia (choques incontroláveis) causou nos cães falha na aprendizagem. Ao invés de um experimento, poderíamos fazer um estudo correlacional, perguntado: cães (ou mesmo pessoas) que passam por situações nas quais há eventos aversivos incontroláveis também apresentam déficits de aprendizagem? Mesmo se a resposta fosse sim, não seríamos capazes de dizer o quê causa o quê. Alguns sujeitos têm déficits de aprendizagem porque passaram por situações incontroláveis? Ou eles se colocam em situações incontroláveis porque têm déficits de aprendizagem? Num experimento essa ambigüidade desaparece. Sabemos o que fez alguns cães, e não outros, a vivenciar situações incontroláveis: os experimentadores. E desde que a tarefa era a mesma, e os cães eram semelhantes exceto pela experiência prévia, sabemos que foram os choques incontroláveis e nada mais que causaram falha na aprendizagem na tarefa seguinte. - 15 - LIMITAÇÕES DOS EXPERIMENTOS O método experimental tem características fortes. Mas também tem suas limitações, e três em particular merecem ser mencionadas aqui. Primeira, um experimento nem sempre é possível de ser realizado, seja por questões éticas, seja por questões práticas. Poderíamos pensar que seria interessante saber se choques incontroláveis produziriam déficits de aprendizagem em bebês humanos. Mas não realizaríamos este experimento. Primeiro porque não damos choques em bebês, e segundo porque não fazemos coisas que produzam nos bebês déficits de aprendizagem. Questões sobre as origens e efeitos do desamparo aprendido em humanos devem ser respondidas de outras maneiras. Segunda limitação: o método experimental é seguro, mas lento, muito lento. No experimento sobre alimentação e hormônios sabemos que os hormônios suprimem a alimentação, sob as condições estudadas, em homens. Mas e nas mulheres? E se outro tipo de comida tivesse sido oferecido? E se o local do experimento tivesse sido aquecido? Cada uma dessas questões requer seu próprio experimento para ser respondida. Por isso é raro que uma conclusão geral esteja apoiada em um único achado experimental. A terceira limitação é a seguinte: ao se manipular uma influência sobre o comportamento, mantendo todas as outras constantes, vemos o efeito daquela influência, mas não vemos mais nada. Tome o experimento com hormônio, por exemplo. Sabemos que a quantidade de hormônio, por si só, pode reduzir a quantidade de comida ingerida. Mas pode ser que outros eventos, como o estômago cheio, também possam. Resumindo, mostramos que o hormônio é uma influência na alimentação. Não mostramos que é “a” influência, muito menos “o” mecanismo de fome e saciação. Para saber o quão importantes outros mecanismos são, devemos estudar outros mecanismos. Esse parece ser um ponto óbvio, mas é frequentemente esquecido. De fato, argumentos ingênuos de muitos psicólogos surgiram porque esquecemos esse fato simples: mostrar que algo é uma influência importante é uma coisa. Mostrar que é “a” influência, é outra. Uma nota sobre pesquisa com animais O estudo do desamparo em cães foi escolhido por uma razão. Ao longo deste livro ouviremos bastante sobre ratos, cães, e mesmo peixes, assim como sobre nós mesmos. Mas o que estudos com animais podem nos dizer sobre o comportamento humano? Geralmente me perguntam: “Como você generaliza de animais para humanos?”. Geralmente respondo que há generalizações e generalizações. O que eu chamo de generalizações forçadas – ratos fazem, então humanos fazem também – simplesmente não ocorrem em trabalhos de pesquisadores sérios. Mas o que eu chamo de generalizações empíricas, que são baseadas em dados, estas sim aparecem em trabalhos sérios. O fato é que pesquisa com animais, na pior das hipóteses, nos diz como um sistema funciona, ou seja, o sistema pode funcionar desse ou daquele modo. Sabendo isso podemos chegar a idéias sobre o comportamento humano que, de outro modo, não chegaríamos. Então podemos testar essas idéias e verificar se elas nos auxiliam a compreender o comportamento humano. Não aceitamos simplesmente que elas auxiliam – ou se a assumimos, é como - 16 - uma hipótese de trabalho que dever ser checada através da observação direta de seres humanos. Desamparo e depressão são apenas um exemplo. Veremos vários outros. Duas questões sobre método Quando discutimos método de pesquisa em motivação as pessoas geralmente imaginam se estamos deixando de lado alguns caminhos óbvios. Dois métodos, em particular, cujos usos parecem óbvios de serem feitos, não são tão usados assim, o que, muitas vezes, surpreende o estudante iniciante. Há razões para essa aparente negligência, e devemos discutir um pouco sobre esses dois métodos. Por que simplesmente não perguntamos? Se queremos saber por que uma pessoa executou uma ação, parece haver um jeito bastante direto de se descobrir: perguntá‐la! Certamente isso não funciona com animais muito bem, mas com pessoas deveria funcionar bem. Por que os psicólogos não fazem isso mais vezes do que fazem? Bem, freqüentemente fazemos. E a resposta pode ser útil para certos propósitos; essa é a boa notícia. A má notícia é que essa resposta pode nos levar bem longe de nosso objetivo em alguns casos; e a pior notícia de todas é que não temos muita certeza de quais são esses casos. Mas vamos falar sobre a boa notícia primeiro. A BOA NOTÍCIA: VOLTANDO AO CONHECIMENTO EMPÁTICO Se nós perguntarmos “Por que você fez aquilo?” a pessoa descreverá as considerações que a levaram a ação, como ela as percebe. Isso pode fornecer informações valiosas em dois sentidos. Primeiro, elas apontam possibilidades. Suponha que um visitante pergunte, “Jovens, por que vocês estão sentados nessas cadeiras desconfortáveis?” e um dos meus estudantes responde: “Estamos esperando para assistir a uma aula”. Isso diz ao visitante que os estudantes não estão de castigo por dormir durante a aula ou tentando vencer uma aposta, e que eles não são catatônicos. Por que eu rabisquei o desenho de uma coruja? Porque eu tive vontade – e não porque eu estava participando de um concurso de desenho de coruja, e não porque apontaram uma arma para mim e disseram: “Desenhe uma coruja”. Segundo, o visitante pode ser empático com o que os estudantes estão fazendo. Ele agora sabe que os estudantes estão sentados silenciosamente aguardando o início da aula. Bem, se o visitante queria assistir à aula, ele esperará silenciosamente também. Eu senti vontade de desenhar uma coruja; bem, se o visitante sentir vontadede desenhar uma coruja apenas para se divertir, ele o fará. O visitante pode se envolver com o que está acontecendo. Então, podemos ser empáticos com quem respondeu. Podemos ver que, dada a situação de quem respondeu, e como ele a percebe, nós teríamos feito a mesma coisa. A NOTÍCIA RUIM: QUANTO PODEMOS DIZER? Agora a notícia ruim. Talvez pudessem ter tido a mesma reação daquele que nos responde. Isso não significa que nós entendemos a causa de sua ação. Vamos nos lembrar novamente: nós não sabemos, por exemplo, como o “sentir vontade” funciona – nem mesmo quando isso acontece conosco! Sabemos muito pouco sobre os - 17 - princípios que governam nosso próprio comportamento. O que é ainda pior, nós podemos estar errados quando pensamos que sabemos. É interessante que de todos os pontos de vista que consideramos anteriormente – psicanálise, behaviorismo e cognitivismo – todos concordam que nós podemos estar errados sobre as causas até mesmo de nossas próprias ações. A objeção dos psicanalistas. A noção de motivação inconsciente é fundamental na teoria psicanalítica. Freud enfatizou que nós geralmente não estamos, e nem podemos estar, conscientes das causas de nossas próprias ações. Nós não nos permitimos reconhecê‐las. Então, se perguntamos a uma pessoa, “Por que você aquilo?” sua resposta pode nos levar bem longe das verdadeiras causas – porque a pessoa pode estar fazendo um grande esforço para esconder as verdadeiras causas de si mesma, assim como de nós. A objeção dos behavioristas. O behaviorista toma uma posição diferente. Ele destaca que a ação original, aquela que ele quer explicar, foi produzida por certas causas no ambiente. Se a pessoa nos diz por que ela executou a ação, isso é uma ação também. É uma nova parte do comportamento – comportamento verbal – produzido por suas próprias causas. E as variáveis que causam o comportamento verbal podem ser bem diferentes das variáveis que causaram a ação original. Então, o behaviorista argumenta, se nós perguntarmos à pessoa “Por que você fez aquilo?” e obter uma resposta, temos dois comportamentos para explicar, não um. Nós devemos explicar porque a pessoa fez aquilo e precisamos explicar porque ele disse o que disse. Não há nenhuma razão para pensar que as causas de uma ação estarão sempre relacionadas às causas de outra ação de alguma maneira. De fato, os behavioristas mostraram, através de experimentação direta, que as condições ambientais podem afetar o que o sujeito faz, enquanto que o sujeito não pode descrever nem as condições ambientais nem os seus efeitos. A objeção dos cognitivistas. Alguns teóricos cognitivistas chegaram a uma conclusão bastante similar. Alguns chegam a fazer a mesma distinção que os behavioristas fazem. Certos processos cognitivos afetam a ação. Certos processos cognitivos afetam as explicamos que damos a nós mesmos e aos outros para nossas ações. E esses podem ou não ser os mesmos processos. Os autores cognitivistas também têm dado suporte ao seu ponto de vista com dados experimentais. Mesmo quando pode ser mostrado por experimentação direta que alguns fatores afetam o comportamento do sujeito, este pode negar que os fatores estavam presentes, ou que o comportamento ocorreu, ou que um influenciou o outro. Aí está. Todos os três pontos de vista, por razões diferentes, chegam à mesma conclusão: “só perguntar” pode nos dar respostas erradas, porque nós simplesmente não somos sempre capazes de identificar as causas do nosso próprio comportamento. Por outro lado, nós também sabemos que as respostas que obtemos podem ser bem acuradas. O principal problema é saber quando elas são acuradas e quando não, e por que. Enquanto não entendermos isso, “só perguntar” é suspeito. Por que não esperar até que os fisiologistas respondam? - 18 - Essas considerações levantam uma outra possibilidade. Se nossos sujeitos têm dificuldades para olhar para dentro de si mesmos, no sentido figurativo, então por que não olhar para dentro literalmente? Quando os fisiologistas puderem nos dar uma completa descrição do cérebro e suas funções, então saberemos as respostas para os nossos porquês? Seremos capazes de dizer: “Porque essa célula fez isso, aquelas fizeram aquilo...”. Todo o conceito de motivação então não se tornará supérfluo? Provavelmente não. Para entender porque, considere um exemplo. Se você cruza sua perna e eu bato no seu joelho com um martelo, sua perna irá chutar. Quanto mais forte eu bato, mais vigoroso será seu chute. Essa é uma lei simples do comportamento reflexo: quanto maior a intensidade do estímulo, maior a magnitude da resposta. Essa lei da intensidade não faz nenhuma referência a eventos fisiológicos subjacentes. Ela apenas relaciona força do estímulo à força da resposta. Hoje os eventos fisiológicos subjacentes a tais reflexos são bastante conhecidos. Se quisermos saber o que as células nervosas e musculares estão fazendo quando o reflexo é evocado, um fisiologista poderá nos dizer. Mas isso não torna o conceito de reflexo sem utilidade. De fato, é exatamente o contrário. As leis do reflexo vieram antes das explicações fisiológicas. Os fisiologistas, que procuram uma explicação do comportamento em termos da ação das células, precisam saber as propriedades do comportamento que ele está tentando explicar – qual comportamento é afetado e pelo que, que leis ele segue – antes de procurar por explicações fisiológicas. Nós sabemos que qualquer explicação fisiológica do reflexo deve contemplar a lei da intensidade do estímulo. Se alguma explicação é dada sem considerar essa lei, sabemos que explicação é inadequada. Mas isso se dá porque já sabemos que a lei existe. As leis comportamentais precisam ser conhecidas primeiro, antes de sabermos por qual mecanismo fisiológico devemos procurar. Como resultado, os fisiologistas devem esperar pelos psicólogos, pelo menos até que outro caminho surja. O psicólogo, que investiga o que o sistema faz, define o caminho do fisiologista de explicar como o sistema funciona. Mais ainda, há certa independência lógica de leis do comportamento das leis fisiológicas da atividade celular. Afinal, a lei da intensidade do estímulo continuaria sendo válida mesmo se não entendêssemos nada da questão fisiológica. De modo similar, muitas das supostas leis da motivação são apresentadas sem nenhuma referência à fisiologia. Elas incluem indicações como “o efeito de um reforçamento diminui com a disponibilidade de outros reforçadores”, ou, “pessoas obesas tendem a serem mais reativas a seu ambiente que pessoas não obesas”, ou mesmo, “sendo tudo mais igual, uma pessoa com alta motivação para a realização tem mais probabilidade de freqüentar uma escola de administração do que uma com baixa motivação para a realização”. Veremos mais adiante o que esses conceitos significam e discutiremos se podemos confiar neles ou não. Por agora, o ponto importante é: podemos nos perguntar se eles são verdadeiros mesmo que a parte neurológica da questão seja um completomistério. Nada disso significa que nós não devemos fazer uso conhecimento fisiológico quando podemos. Claro que devemos. O que foi dito significa apenas que podemos estudar o comportamento dentro do seu - 19 - próprio direito, a despeito de sua fisiologia – portanto descobri o que o sistema faz, independentemente de como ele faz. Olhando à frente Vamos sumarizar o problema que apresentamos. Nós queremos saber que tipos de idéias nos ajudarão a responder a questão “Por que ele ou ela fez aquilo?”. Tentaremos identificar quais causas operam para produzir uma ação, e como. Não será suficiente ser empático com a resposta da pessoa e perceber que teríamos feito a mesma coisa; em vez disso, buscamos entender o processo que causa uma ação em outras pessoas ou em nós mesmos. Freqüentemente faremos contrastes de tipos de explicação oferecidos pelos behavioristas de um lado e pelos mediacionistas de outro. Tão freqüentemente também extrairemos idéias de ambos e veremos como elas se complementam no sentido de buscar princípios gerais que se aplicam à ação humana e animal. Buscaremos esses princípios. Podemos encontrá‐los ou não. Nossas idéias sobre motivação estão em um estado de rápida mudança, e respostas definitivas são poucas e espaçadas. Veremos o que as pessoas pensam sobre motivação neste momento da história, e porque elas pensam assim. Iremos considerar cuidadosamente cada ponto, não em relação ao nosso objetivo de compreensão, ainda não chegamos lá, mas se estamos no caminho certo. Sumário Motivação lida com as causas de eventos específicos. Quando perguntamos: “Por que ele ou ela fez aquilo?” estamos perguntando sobre a motivação do sujeito. Procuramos entender o mundo primeiro porque usamos o entendimento para lidar com problemas, e segundo porque somos uma espécie curiosa; queremos entender simplesmente para entender. Certa vez explicamos o universo físico em termos de pensamentos, desejos, e emoções – os motivos – de espíritos, deuses e demônios. Fazendo isso fomos capazes de ganhar compreensão empática dos fenômenos; isto é, fomos capazes de relacionar os motivos e ações de seres sobrenaturais com o que nossos motivos e ações poderiam ser. Entretanto, quando os métodos científicos ganharam força, eles mudaram a forma como olhamos para o mundo. Agora checamos nossas conclusões para saber se elas estão corretas; e tentamos ir além da compreensão empática, para estabelecer princípios gerais que nos permitam relacionar fenômenos e criar novos fenômenos, ou seja, colocar os princípios em uso. Agora aplicamos os métodos da ciência ao comportamento humano, procurando princípios gerais e checando as teorias com fatos. Descobrimos que desejos, pensamentos e emoções precisão, por sua vez, também ser entendidos. Há disputa, entretanto, sobre qual o papel que eles desempenham na determinação do comportamento. Os teóricos mediacionistas acreditam que eventos internos como desejos e pensamentos estão entre as causas da ação. São esses teóricos os psicodinâmicos, que dão ênfase ao papel de desejos e impulsos, e os cognitivistas, que dão ênfase aos pensamentos, crenças e julgamentos. Os autores behavioristas negam que eventos internos causam comportamento. No entanto, eles vêem eventos internos e o comportamento externo como causados pelo ambiente. - 20 - Transpassando por essa disputa está a perspectiva biológica, a qual pergunta como os mecanismos do comportamento funcionam ao nível das células e dos órgãos, ou como as características dos organismos que se comportam evoluíram. Três métodos de investigação da motivação foram discutidos, cada um com seus pontos positivos e negativos. Estudos de caso podem nos dar informações importantes sobre eventos que podem acontecer, embora seja fácil super‐ generalizar seus resultados ou achar neles a teoria que esperamos. Estudos correlacionais mostram que variáveis relacionam‐se. Essas relações podem ter importância em seu próprio direito, e elas algumas vezes fornecem testes para as teorias, mas elas não estabelecem causalidade. A pesquisa experimental estabelece relações causais, mas para uma ou poucas variáveis de cada vez, sendo, portanto, lento. E não podemos confundir “uma” variável com “a” variável. Um outro método consiste em simplesmente perguntar à pessoa “por que você fez aquilo?”. Isso pode gerar possibilidades e pode fornecer informação acurada, mas todos concordam que também pode fornecer informações imprecisas – e nós não sabemos quando esperar precisão e quando não. Finalmente, a investigação fisiológica pode mostra como leis comportamentais são mediadas pelos mecanismos do corpo. Mas precisamos saber quais leis são estas antes de procurarmos os mecanismos. Nesse ponto do nosso conhecimento, muitas teorias e princípios estão estabelecidos sem referência à fisiologia, então as testamos e avaliamos de outras maneiras.
Compartilhar