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Universidade Federal do Paraná 				
Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes
Departamento de Linguística, Letras Clássicas e Vernáculas
Curso de Graduação em Letras
Linguística II – HL223D	 (2o semestre/2012)
O que é derivação?[1: FIGUEIREDO SILVA, Maria Cristina. Morfologia. Florianópolis: UFSC, 2009. ]
	DERIVAÇÃO 				X 			FLEXÃO
regular
obrigatório
possui paradigma de formas
desencadeia concordância
não é regular
não é obrigatório
não possui paradigma de formas
não desencadeia concordância
os processos derivacionais criam novas palavras, mas os processos flexionais apenas indicam relações gramaticais, adequando a forma de uma palavra ao contexto sintático: cajueiro x caju
qual o conceito de “palavra nova”?
máquina que lava salada: macomelo (só combinação de sílabas segundo regras da fonologia do português)
palavra nova? ou uma adequação da forma da palavra 
macomelo
 ao contexto
 sintático?
 “por favor, você pode macomelar a salada?”
“quem macomelou tão mal essa salada?”
palavra nova? ou uma adequação da forma da palavra 
macomelar 
ao contexto sintático
?
macomelar macomelou 
processo flexional, porque a forma macomelou é parte do paradigma de qualquer verbo da 1ª conjugação
macomelo macomelar : flexão ou derivação? o que é derivação?
por que criamos palavras novas? 
para nomear seres inexistentes anteriormente (atender a necessidades sociais, culturais e psicológicas)
mudança de classe gramatical macomelo macomelar
necessidades semânticas macomelar macomelador (mesma classe gramatical)
quando necessitamos de uma palavra para designar um novo objeto, podemos inventá-la do nada ou usar nomes que já existem na língua (lavador de salada, lava-salada...)
mas, quando inventamos uma palavra – macomelo – o verbo referente ao evento de operação da máquina será macomelar
processos morfológicos que manipulam a forma da palavra original – macomelo, macomelar, macomelador – representam uma grande economia para a memória do falante.
O que vamos estudar, então, é o fenômeno de CRIAÇÃO DE NOVAS PALAVRAS (derivação) e de que formas a morfologia (derivacional) intervém nesse processo.
Para estudar esses processos, vamos utilizar o arcabouço teórico da gramática gerativa.
CONCEITOS FUNDAMENTAIS
1. LÉXICO MENTAL
conceito ligado ao da competência do falante nativo – o falante tem que saber quais palavras são possíveis e quais são impossíveis em sua língua.
Palavras impossíveis: *luzdor, *gizdor, *bonitodor, *alegredor – essas palavras são impossíveis, porque o sufixo –dor só pode ser adicionado a verbos.
Palavras possíveis
nunca produzidas: fabricador – o sufixo –dor é adicionado a um verbo, mas a palavra é rejeitada pelos falantes (bloqueada por fabricante).
eventualmente produzidas: ?atingimento, ?camal, ?cajuada
reais
não-dicionarizadas: palavras familiares a uma comunidade linguística, de uso recente ou não, como – mensalão, carreata, doleiro, pichador, grafiteiro.
dicionarizadas : constam do dicionário da língua e podem ser mais ou menos conhecidas pela comunidade de falantes (arcaísmos, regionalismos e palavras restritas a um grupo de falantes ou a uma profissão são menos conhecidas)
esse conhecimento implica que o falante conhece 
uma série de itens lexicais 
sua estrutura interna 
as regras que podem formar novas entradas lexicais
o léxico mental inclui, portanto:
lexemas (mesa, porta-guardanapo)
palavras dêiticas (aqui, eu)
formas dependentes (de, o)
morfemas presos (psicólogo)
afixos (in-, -mente)
desinências (-va, -mos)
vogais temáticas (vendar, vender)
2. BASE E PRODUTO
BASE: elemento ao qual se aplica alguma das regras da morfologia derivacional para gerar uma palavra “nova” PRODUTO
macomelo base macomelar produto
macomelar base macomelador produto
a base é um lexema, mas não necessariamente uma palavra; a base pode ser uma forma presa
carpint- em carpinteiro
o produto é sempre uma forma livre
3. REGRAS MORFOLÓGICAS
 felizmente, pereira, lavável
um falante da língua dirá que essas formas vêm de feliz, pera, lavar
isso quer dizer que o falante enxerga a estrutura interna das palavras: ele vê que em pereira há a base pera e o sufixo –eira
nessa identificação, o falante usa a Regra de Análise Estrutural (RAE)
[ [X]a Y]b
[ [feliz]A –mente] Adv
[ [pera]S –eira] S
[ [lavar]V –vel] A
quando o falante forma uma palavra nova como clonável , ele está usando uma Regra de Formação de Palavras (RPF)
[X]a	 [ [X]a Y]b
[clonar] V 	[ [clonar]V –vel]A	
o falante percebe relações paradigmáticas estabelecidas no léxico (lavar – lavável, tratar – tratável, ler – legível)
para cada RFP existe a RAE correspondente, mas o contrário não é verdadeiro:
campestre – existe uma RAE (campestre, terrestre, silvestre), mas não uma RFP
mas para um RFP, não basta especificar a classe da base e do produto; é necessária a especificação de outras propriedades da base e do produto para que eles possam entrar numa RFP
Exemplo: clonar + -vel não basta dizer que a base deve ser um verbo, porque nem todos os verbos aceitam a sufixação com –vel para formar um adjetivo: *chegável, *corrível, *sível
a exigência dessa RFP sobre a base é a de que ela seja um verbo transitivo direto
 O mecânico lavou o carro
O cientista clonou a zebra
*O menino chegou a carta
*O ladrão correu a estrada
4. PRODUTIVIDADE
possibilidade de aplicação de uma regra sobre um conjunto de bases com propriedades específicas
para que se possa falar sobre a produtividade de uma regra, é necessário ver qual é o número de bases sobre as quais a regra poderia se aplicar e sobre quantas ela efetivamente se aplica
CONDIÇÕES DE PRODUTIVIDADE – aquilo que pode ser feito (relativo às restrições que a regra impõe, exclusivamente; medida do potencial de uma regra); o escopo de uma regra.
Deverbais : -ção e –mento 
internação / internamento
florescimento / * floresceção
realização / *realizamento
Deverbais : -agem (verbos de ação concreta): lavação / lavagem
CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO – aquilo que é feito; depende de fatores de ordem pragmática, discursiva; real utilização de uma regra no desempenho.
lavagem, clonagem (terminologia científica)
doleiro x franqueiro
a DERIVAÇÃO não é um processo sem pauta sistemática, incoerente, opcional; ela tem regularidade e alguma sistematicidade
as REGRAS são os princípios que regem a competência do falante nativo para discernir estruturas que são ou não possíveis em sua língua
5. BLOQUEIO
fala-se em bloqueio quando existe impossibilidade de aplicação de regras morfológicas
TRANSGRESSÃO SUFIXAL: *cadeirador
REGRA CONCORRENTE: *fabricador (nadar/nadador; trabalhar/trabalhador) fabricar/ fabricante (talvez não seja uma RFP, mas uma RAE)
Como as línguas evitam sinonímia completa, não é possível usar uma regra produtiva para gerar uma palavra que teria significado igual ao de outra palavra já existente (quando temos as duas palavras, em geral elas significam coisas diferentes, como amante e amador)
*surfeiro/surfista (regras produtivas)
INÉRCIA MORFOLÓGICA: *apelidador – nada impede que essas palavras sejam acionadas e passem a fazer parte do conjunto de palavras da língua.
"Criar palavras novas" identificar a regra de formação de palavras que pode ter gerado a palavra; 
as RFPs podem ou mudar a classe da palavra de base ou mudar o seu significado e por isso é justificável dizer que a palavra gerada é "nova". 
"Tornar adequada a forma da palavra ao contexto sintático" determinar que tipo de implicação sintática (como a concordância) tem a mudança morfológica executada na palavra e, neste caso, não mudamos nem a classe nem a significação fundamental da palavra.
meninada x meninas
Tipos de processos derivacionais
Os processos mais gerais e produtivos de formação das palavras são a Derivação e a Composição. 
No processo de Derivação, um afixo é acrescentado a uma base:
prefixo + base: des + fazer = desfazer
base + sufixo: formal + mente = formalmente
No processo de Composição,duas bases se associam para formar uma palavra nova: guarda-chuva, beija-flor.
Derivação
	PREFIXAÇÃO
	SUFIXAÇÃO
	o afixo é acrescentado à esquerda da base: des + fazer = desfazer
	o sufixo é acrescentado à direita da base: feliz + mente
	o acréscimo de um prefixo a uma base não leva à mudança da classe gramatical da base: em rever (verbo), a base é verbal (ver); em desigual (adjetivo), a base (igual) também é um adjetivo. 
	o acréscimo de um sufixo a uma base pode ou não levar a uma mudança na classe gramatical da base: em civilizar (verbo), a base é um adjetivo (civil), enquanto em livraria (nome), a base (livro) é igualmente um nome.
prefixação e sufixação na GT
apresentação dos sufixos os formadores de substantivos: a partir de substantivos; a partir de adjetivos;...
o sufixo é o núcleo da construção morfológica – determina a classe da base com que vai se ligar e a do produto
apresentação dos prefixos para a GT, os prefixos não seriam sensíveis à classe das palavras com que se combinam; são apresentados conforme origem, grega ou latina, em ordem alfabética
Gramática Gerativa – os prefixos também se juntam a bases de classe determinadas
tanto os prefixos quanto os sufixos da língua são regras que se aplicam a bases com certas características fonológicas, morfológicas e semânticas fornecendo produtos também com certas características fonológicas, morfológicas e semânticas, numa larga medida previsíveis.
A DERIVAÇÃO PREFIXAL
o que considerar na definição dos prefixos: 
o prefixo está à esquerda da base
não pode ser ele mesmo uma base N, V ou A
deve ser recorrente
deve ter identidade fonética, semântica e funcional 
deve ser morfema preso
se afixam a bases que são formas livres
	Serão considerados prefixos
	Não serão considerados prefixos
	-des: forma presa recorrente que não tem uma forma livre como alomorfe 
	com– em compor; ou sobre- em sobrecarga
	re- em reconquistar
	re- em replicar
a. desabilitar, desmobilizar, desinfetar, (?) desclonar
b. *desfeliz, *desmovimento, *despessoa, ...
c. desabilitado, desmobilização, desinfetável
-des : é uma forma presa que não tem alomorfe livre, é recorrente na língua, aparece sempre afixado à esquerda de bases livres e tem sistematicamente o mesmo significado, que é o de reversão.
em (a): verbos
em (b): adjetivo, substantivo (derivado e primitivo)
em (c): substantivos e adjetivos qual a diferença entre (b) e (c)? 
Temos uma RFP para des- na língua:
[Y]b 	 	[ [X]b Y]b		
[fazer]V	 	[ [des-]V fazer]V
mas: *desmorrer, *deschegar, *desbeijar, *de(s)ser, ...
 restrição semântica que pesa sobre a base – como o significado de des- é reversão, a base deve descrever um processo que seja reversível
os exemplos a seguir são contra-exemplos?
desnecessário, desleal, desumano, deselegante, ... quando combinado com adjetivo, indica um tipo de negação: ‘sem necessidade’, ‘sem lealdade’...
temos dois prefixos des- na língua; eles são diferentes 
em suas exigências de combinação: um se combina com verbos, outro com adjetivos
na interpretação que imprimem ao produto: um implica reversão (RFP), o outro negação (apenas RAE?)
homonímia morfológica – som e grafia iguais, sentidos diferentes
A DERIVAÇÃO SUFIXAL
(8) -ada: forma substantivos a partir de substantivos
Sentido 					Exemplificação
a. multidão, coleção 			boiada, papelada
b. porção contida num objeto 		bocada, colherada
c. marca feita com um instrumento 	penada, pincelada
d. ferimento ou golpe 			dentada, facada
e. produto alimentar, bebida 		bananada, laranjada
f. ato ou movimento enérgico 		cartada, saraivada
garfada – classificar o sufixo só pelo sentido da palavra não é uma boa ideia...
Eu comi uma garfada de comida só para ser agradável. (b)
Maria me deu uma garfada por baixo da mesa para eu ficar quieta. (d)
Quantos sufixos –ada há no PB e quais são produtivos?
(a) papelada, livrada/livraiada	*ideiada/ *ideiaiada
[Y]a			[ [X]a Y]b
[livros]S	 	[ [livro]S –(ai)ada]S
 substantivo concreto de qualquer gênero + -ada (-aiada) substantivo significando “muitos, vários”, feminino.
(b) *conchada, *escumadeirada – esse –ada só tem RAE
(c) ?espadadas
(d) espadada, conchada, escumadeirada – formação produtiva (dar uma X-ada (em Y), em que X é um substantivo concreto)
A RFP desta formação deve portanto tomar um substantivo concreto e fornecer como produto um substantivo que é interpretado como um ferimento ou um golpe dado pelo instrumento referido pelo substantivo concreto que é a base – uma dentada é um ferimento feito com os dentes. É preciso dizer ainda que essa RFP é acionada pelas construções com dar do tipo acima.
(e) com o sentido de “produto alimentar ou bebida”, é difícil dizer se –ada é produtivo (maracujada, cajuada...)
mas com o sentido de “comilança ou festa” parece que é: peixada, galinhada, ovelhada (somente nomes de animais comestíveis)
(f) difícil separar o sentido “ato ou movimento enérgico” do sentido em (d) – as interpretações se sobrepõem; mais interessante: reunir estes dois sentidos em um só
[sapato]S	 	[ [sapato]S –ada]S
No entanto, existe mais pelo menos uma formação em –ada que, mesmo não sendo exatamente do mesmo tipo que as tratadas aqui, é uma formação extremamente produtiva no português brasileiro coloquial e que não é tratada pela GT: dar uma X-(a)da (em Y) é uma formação aparentemente bastante parecida com a que vimos em (10):
(12) 	a. O João deu uma pensada no assunto
		b. O João deu uma lida no texto
Temos, porém, razões para crer que se trata de uma outra RFP: a base aqui deve ser um verbo (pensar, ler) e o produto se parece muito com os particípios verbais (tinha pensado, tinha lido), à parte o fato de estarem nominalizados pela presença do artigo indefinido feminino. Note que a interpretação do produto é aspectual: trata-se de uma leitura rápida, ou uma reflexão sem muita profundidade. Finalmente, note que esta palavra só existe nesta construção (*A pensada da Maria foi boa).
A estrutura interna das palavras
Estruturalismo: palavra como sequência de morfemas, uma série de posições lineares a serem preenchidas pelos diferentes afixos
(13) 	cant- 		-a- 		-va- 			-mos
		lexema 		vogal 		morfema 		morfema
				temática 	modo-temporal 		número-pessoal
é razoável supor que a mesma análise de concatenação linear estaria em jogo no caso da derivação
Teoria Gerativa: presença de estrutura hierárquica dentro das palavras existem regras que regem as combinações entre afixos e palavras, logo a representação linear dessas relações seria um equívoco.
ESTRUTURALISMO
: não dá conta de explicar as restrições
 na combinação dos sufixos
(14) 	des- 		-centr- 		-al- 		-iza(r)- 		-ção
		prefixo 		lexema 		sufixo 		sufixo 		sufixo
						adjetival 	verbal 		nominal
(15) 	a. [ [ des- [ [ [ centro]S + al ]A + izar ]V ]V ]+ ção]S
GERATIVISMO	b.	 S
		3
		V 	-ção
	 3
	des- 		V
		 3
		 A 	 -iza(r)
	 3
	centr(o) 	-al
Exercícios
Qual seria a representação da estrutura interna de cada palavra que segue?
a) desconstrução
b) ilegalidade
c) inegavelmente
d) inatingível
e) transplantável
f) desigualdade
g) inutilizável
h) despreparado
i) desmontado
Derivação parassintética
consiste na adição simultânea de um prefixo e de um sufixo a uma base: en- + feitiço + -ar; des- + alma + -ado
na construção parassintética, não se pode identificar uma etapa de prefixação antecedendo à de sufixação ou uma etapa de sufixação antecedendo à de prefixação: por exemplo, no caso do verbo esclarecer, não se acrescenta primeiro um prefixo (*esclaro) e depois um sufixo (esclarecer), ou primeiro um sufixo (*clarecer) e depois um prefixo (esclarecer) – passa-se diretamente de claro para esclarecer.
a função semântica é atribuída ao prefixo, enquanto a função sintática cabe ao sufixo, que muda a classe da palavra a que pertence a base
observe que certas palavras constituídas de prefixo + base + sufixo não apresentam simultaneidade no acréscimo dos afixos: injustiçainjusto / justiça; deslealdade desleal / lealdade.
a base de uma formação parassintética pode ser um substantivo ou um adjetivo e o produto da derivação é sempre um verbo ou um adjetivo :
	base substantiva produto : verbo ou adjetivo
pátria repatriar; manhã amanhecer
chocolate achocolatado; alma desalmado
	base adjetiva produto : verbo
surdo ensurdecer; rico enriquecer
O caso da Derivação regressiva
a Gramática Tradicional propõe a existência de um mecanismo de criação lexical em que se observa a redução de morfemas, isto é, um processo de criação de palavras por meio da subtração de algum sufixo: busca, de buscar; implante, de implantar; manejo, de manejar. A maior parte dos derivados regressivos é constituída de substantivos deverbais.
a análise de um nome deverbal como um derivado regressivo requer um conhecimento histórico, uma pesquisa diacrônica, com consultas a dicionários etimológicos; por exemplo, como podemos determinar se lutar é derivada de luta (+ ar) ou luta é que é derivada de lutar (– ar)? Nesse caso, luta origina-se de lutar, pois o verbo é anterior ao substantivo na história da língua. Kedhi, no livro A formação das palavras em português cita o seguinte critério (proposto por Mário Barreto, em De gramática e de linguagem) para que essa distinção possa ser realizada: “para que o consulente tire a dúvida de se a palavra primitiva é o verbo ou, antes, o nome, saiba que, se o substantivo denota ação, será palavra derivada, e o verbo palavra primitiva, mas se o nome denota algum objeto ou substância, se verificará o contrário”. Nem sempre, no entanto, esse critério é suficiente, e deve-se recorrer à pesquisa diacrônica: “por exemplo, os substantivos falha e falta, apesar de uma certa ideia de ação, são primitivos”; os verbos falhar e faltar é que são derivados.
alguns linguistas preferem enquadrar a Derivação regressiva na Derivação sufixal (Rocha, 1998). De que maneira?
A língua portuguesa possui um padrão de formação de substantivos a partir de verbos por meio de sufixação: “dado um verbo X, é possível prever a existência de um substantivo abstrato, sufixado, correspondente, com o sentido de ato, efeito ou resultado de X”; esse mecanismo tem o nome de NOMINALIZAÇÃO:
patrulhar	patrulhamento
melhorar	melhoramento
agitar		agitação
improvisar	improvisação
derrubar	derrubada
comentar	comentário
os sufixos –mento, -ção, -ada, -ário são chamados sufixos nominalizadores
algumas das formações nominais citadas podem também se efetuar da seguinte maneira:
patrulhar	patrulhamento		patrulha
melhorar	melhoramento		melhora
agitar		agitação		agito
improvisar	improvisação		improviso
o que se propõe é que a nominalização possa também ser efetuada com o sufixo implícito zero, além dos sufixos explícitos, como –mento, -ção, etc. Assim, a derivação destes deverbais seria:
patrulhar + sufixo zero	 	patrulha 
melhorar + sufixo zero		melhora 
agitar + sufixo zero		agito 
O caso da Derivação Imprópria
 “um vocábulo também pode ser formado quando passa de uma classe gramatical a outra, aparentemente sem alterações formais; é o que se denomina derivação imprópria ou, mais comumente, conversão”. A derivação conversiva consiste assim no emprego de uma palavra de uma determinada classe lexical em outra classe.
de verbo para substantivo: querer, ouvir, caminhar, andar, falar, sentir
de adjetivo para substantivo: impossível, pobre, culpado, brilhante
de substantivo para adjetivo: (vestido) rosa, (blusa) areia, (mulher) objeto
Exercícios
1) Na sua opinião, por que verbos do tipo de modelar, construir, fazer, pensar, começar permitem a prefixação 
com re- (remodelar, reconstruir, refazer, repensar, recomeçar), mas verbos do tipo de ser, estar, amar, gostar, ficar, saber não permitem? 
2) Observe os dados a seguir, que foram produzidos por uma criança pequena adquirindo o português, e responda às questões:[2: Dados de Rosa Attié, Unicamp (apud Miotto, C.; Figueiredo Silva, C.; Lopes, R. Novo Manual de Sintaxe. Florianópolis: Insular, 2004.)]
	(1) (A criança vai tomar leite, que está quente)
Mãe: Tá quente!
Criança: Então diquenta.
	(2) (A mãe fecha uma caixa de brinquedos; decepcionada, a criança diz:)
Criança: Cê disabriu.
	(3) (A mãe abaixa o zíper do vestido da criança, querendo brincar com ela)
Criança: Ah! (irritada) Não! Cê tá dezipando.
	
a) Qual o processo utilizado pela criança na formação das palavras grifadas?	
b) Quais são as bases que a criança utilizou para formação de cada uma dessas palavras?	
c) Essas bases formam, por sua vez, palavras do português? Explique.
d) Na sua opinião, a criança formou essas palavras de acordo com as regras da língua? Explique fornecendo exemplos para comparação.
3) Vimos que certos substantivos – o chamados deverbais – são analisados como derivados de um verbo: o substantivo busca, por exemplo é derivado do verbo buscar. Vimos também que a escolha entre analisar busca como derivado de buscar, e não buscar como derivado de busca, requer um conhecimento histórico sobre a origem das palavras: devemos saber que o verbo buscar já existia antes do substantivo busca. Considere agora o substantivo engorda. Sem lançar mão de pesquisas históricas, tente determinar a relação desse substantivo com o verbo engordar, ou seja, tente determinar se é o substantivo que se origina do verbo ou se é o contrário que se verifica.
4) Determine, para as palavras que seguem, as diversas etapas da derivação. Siga o modelo:
inexistente
			Adj.
		in-	 Adj.
			 V	 -nte
		 (existir)	
a) desgostoso
b) apunhalar
c) desgostoso
d) desrespeitoso
e) descamisado
5) Observe a definição de “biquíni”, retirada da Wikipedia: “O biquíni (do inglês bikini) é um maiô de duas peças de tamanho reduzido, que cobrem o busto e a parte inferior do tronco. Seu nome se deriva do atol de Bikini, um atol do Pacífico onde se deu, em 5 de julho de 1946, um explosão atômica experimental. Assim, pretendia-se propor que a mulher de biquíni provocava, na época, o efeito de uma "bomba atômica"". 
Hoje em dia, quando se trata da denominação de trajes de banho femininos, podemos encontrar a palavra “monoquíni”, que pode tanto ser sinônima de topless como designar um modelo específico de maiô, constituído de apenas uma peça. Comente a formação dessa palavra.
6) Considerando-se que o prefixo in- do português tem o significado de “negação”, explique por que a palavra inutilização não pode ser usada como sinônimo da expressão não utilização.
(a) Anvisa determina inutilização de produtos com sibutramina.
(b) Governo alemão recomenda a não utilização do Internet Explorer.
7) A palavra destrancada pode ser interpretada de duas maneiras em português, como pode ser observado nas sentenças abaixo. Explique como essas interpretações estão relacionadas com a estrutura interna da palavra.
a) A porta estava destrancada, por isso conseguimos entrar na sala.
b) A porta foi destrancada para que pudéssemos entrar na sala.
Bibliografia
FIGUEIREDO SILVA, M. C. Morfologia. Manuscrito. 2009.
KEHDI, Valter. Formação de palavras em português. 3. ed. São Paulo: Ática, 2003. 
LAROCA, Maria Nazaré de Carvalho. Manual de morfologia do português. Campinas: Pontes, 2003.
PETTER, Margarida M. Taddoni. “Morfologia”. In Fiorin, José Luiz (org.), Introdução à Linguística. São Paulo: Contexto, p. 59-79, 2003.
ROCHA, Luiz Carlos de Assis. Estruturas morfológicas do português. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1998.

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