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Direito Penal Prof. Jardiel Oliveira Conceito de Direito Penal sob três aspectos: a) Aspecto formal / estático: Direito Penal é o conjunto de normas que qualifica certos comportamentos humanos como infrações penais, define os seus agentes e fixa sanções a serem-lhes aplicadas. b) Aspecto material: O Direito Penal refere-se a comportamentos considerados altamente reprováveis ou danosos ao organismo social, afetando bens jurídicos indispensáveis à própria conservação e progresso da sociedade. c) Aspecto Sociológico/ dinâmico: Direito Penal é mais um instrumento de controle social visando assegurar a necessária disciplina para a harmônica convivência dos membros da sociedade. O que diferencia a norma penal das demais é a espécie de consequência jurídica (pena privativa de liberdade). ATENÇÃO!! IMPORTANTE DIFERENCIAR Direito Penal Criminologia (Ciência Penal) Política Criminal (Ciência Penal) Análise dos fatos humanos indesejados quais devem ser rotulados como crime ou contravenção, anunciando as penas. Ciência empírica que estuda o crime, o criminoso, a vítima e o comportamento da sociedade. Trabalha as estratégias de controle social da criminalidade. Ocupa-se do crime enquanto norma. Ocupa-se do crime enquanto fato. Ocupa-se do crime enquanto valor. Exemplo: define como crime lesão no ambiente doméstico familiar. Exemplo: quais fatores contribuem par a violência doméstica. Exemplo: estuda como diminuir a violência doméstica familiar. Missão do Direito Penal Na atualidade, a doutrina divide a missão do Direito Penal em: 1- Missão mediata: a) controle social e b)limitação do poder de punir do Estado. Obs.:Se de um lado o Estado controla o cidadão, impondo-lhe limites, de outro lado é necessário também limitar seu próprio poder de controle, evitando excessos. (hipertrofia da punição) 2- Missão imediata: 1ª corrente: a missão imediata do Direito Penal é proteger bens jurídicos mais importantes para convivência em sociedade. (Roxin- funcionalismo teleológico)- Corrente que prevalece no Brasil hoje. 2ª corrente: a missão imediata do Direito Penal é assegurar o ordenamento jurídico, a vigência da norma. (Jakobs- funcionalismo sistêmico) Direito Penal Classificação Doutrinária 1- Direito Penal Substantivo x Direito Penal Adjetivo Direito Penal Substantivo Direito Penal Adjetivo Corresponde ao Direito Penal Material. (crime e pena) Corresponde ao Direito Processual Penal. (processo/ procedimento) 2- Direito Penal Objetivo x Direito Penal Subjetivo Direito Penal Objetivo Direito Penal Subjetivo Traduz o conjunto de leis penais em vigor no país. (Código Penal) Traduz o direito do punir do Estado. Direito Penal subjetivo positivo Direito Penal subjetivo negativo É a capacidade de criar e executar normas penais. É o poder de derrogar preceitos penais ou restringir seu alcance. (STF- no seu controle de constitucionalidade) CUIDADO! Há um caso que o Estado tolera a punição privada paralela à punição estatal: ABRIR O ESTATUTO DO ÍNDIO (art; 57 da Lei n. 6001/73). “Art. 57. Será tolerada a aplicação, pelos grupos tribais, de acordo com as instituições próprias, de sanções penais ou disciplinares contra os seus membros, desde que não revistam caráter cruel ou infamante, proibida em qualquer caso a pena de morte.” O que significa criminalização primária? E secundária? Criminalização primária: diz respeito ao poder de criar a lei penal e introduzir no ordenamento jurídico a tipificação criminal de determinada conduta. Criminalização secundária: atrela-se ao poder estatal para aplicar a lei penal introduzida no ordenamento com a finalidade de coibir determinados comportamentos antissociais. AULA 02 FONTES DO DIREITO PENAL Lugar de onde vem e como se exterioriza o Direito Penal. 1- Fonte material.- de onde vem o Direito Penal- fábrica) 2- Fonte formal. (como se exterioriza o Direito Penal- como se propaga o produto fabricado) Fonte material (fabrica): é a fonte de produção da norma, órgão encarregado de criar a lei penal. Órgão encarregado de criar lei penal, União. (art. 22, I, CF) IMPORTANTE: Lei Complementar pode autorizar o Estado a legislar sobre Direito Penal incriminador no seu âmbito. “Art. 22, parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo.” Fonte formal (propagar o produto fabricado): É o instrumento de exteriorização do Direito Penal. O modo como as regras são reveladas. Fonte de conhecimento ou cognição. QUADRO COMPARATIVO FONTE FORMAL (Doutrina clássica) FONTE FORMAL (Doutrina moderna) Imediata: Lei Imediata: I- Lei-única fonte incriminadora II- Constituição Federal III- Tratados Internacionais de Direitos Humanos IV- Jurisprudência V- Princípios VI- Atos Administrativos Mediatas: Costumes e Princípios Gerais do Direito Mediata: Doutrina Fonte formal imediata (doutrina moderna): I- Lei: fonte formal imediata; único instrumento normativo capaz de criar crimes e cominar penas. II- Constituição Federal: fonte formal imediata; não cria crime nem comina penas. Se a C.F. é superir à lei, porque ela não pode criar infrações penais ou cominar sanções? R: Em razão de seu processo moroso e rígido de alteração. Muito embora não possa criar infrações penais ou cominar sanções, a C.F. nos revela o Direito Penal estabelecendo patamares mínimos (mandado constitucional de criminalização) abaixo dos quais a intervenção penal não se pode reduzir. Exemplo de mandado constitucional de criminalização: “Art. 5º, XLII, C.F.- A prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão (patamares mínimos), nos termos da lei; (a lei é quem cria o crime de racismo e comina sua pena).” Tratados Internacionais de Direitos Humanos: Fonte formal imediata. Podem ingressar no nosso ordenamento jurídico de duas formas: - Com status constitucional se aprovados com o quorum de Emenda -Com status infraconstitucional, porém supralegal quando aprovados com o quorum comum. .-STF adota essa corrente. Respeitável corrente doutrinária se posiciona no sentido de que os tratados, versando sobre direitos humanos (e somente eles), uma vez subscritos pelo Brasil, se incorporam automaticamente e possuem (sempre) caráter constitucional, a teor do disposto nos §§1º e 2º, do art. 5º, da C.F. (Flavia Piovesan). Importante esclarecer que os tratados e convenções internacionais não são instrumentos hábeis à criação de crimes ou cominação de penas para o direito interno (apenas par ao direito internacional). Assim, antes do advento das Leis 12.694/12 e 12.850.13 (que definiram, sucessivamente, organização criminosa), o STF manifestou-se pela inadmissibilidade da utilização do conceito de organização criminosa dado pela Convenção de Palermo, trancando a ação penal que deu origem à impetração, em face da atipicidade da conduta (HC n. 96007). Jurisprudência: fonte formal imediata. Revela direito penal, podendo eventualmente ser vinculante. Ex: “Art. 71 C.P. – Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo (jurisprudência propõe 30 dias), lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os subsequentes serhavidos como continuação do primeiro, aplicando-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços”. Princípios: fonte formal imediata. Não raramente os tribunais absolvem ou reduzem pelos fundamentos em princípios. Ex. princípio da insignificância. Atos administrativos: fonte formal imediata quando complementam norma penal em branco. Fonte mediata para a doutrina moderna: Doutrina. E os costumes? Costumes são classificados como fontes informais do Direito Penal. INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL O ato de interpretar é necessariamente feito por um sujeito que, empregando determinado modo, chega a um resultado. INTERPRETAÇÃO: I- Quanto ao sujeito II- Quanto ao modo III- Quanto ao resultado 1- Interpretação quando o SUJEITO (origem) a) Interpretação autêntica (ou legislativa) – é aquela fornecida pela própria lei. Ex.: Art. 327 do Código Penal, conceito de funcionário Público. A interpretação autentica ou legislativa fornecida pela própria lei, subdivide-se em: (i) Contextual: Editada conjuntamente com a norma penal que conceitua. (ii) Posterior: Lei distinta e posterior conceitua o objeto da interpretação. (comum em norma penal em branco) b) Interpretação doutrinária (ou científica): é a interpretação feita pelos estudiosos. Ex: um livro de doutrina. a. Interpretação jurisprudencial: É o significado dado as leis pelos tribunais. Pode ter caráter vinculante. 2- Interpretação quanto ao MODO a) Gramatical/ Filológica/ Literal: o interprete considera o sentido literal das palavras. b) Teleológica: o interprete perquiri a intenção objetivada na lei. Ex: Art. 319-A e o Art. 349-A, Código Penal. c) Histórica: o interprete indaga a origem da lei. d) Sistemática: interpretação em conjunto com a legislação em vigor e com os princípios gerais do direito. e) Progressiva (ou evolutiva): busca o significado legal de acordo com o progresso da ciência. 3- Interpretação quanto ao RESULTADO a) Declarativa/ Declaratória: é aquela em que a letra da lei corresponde exatamente aquilo que o legislador quis dizer. b) Restritiva: a interpretação reduz o alcance das palavras da lei para corresponder a vontade do texto. c) Extensiva: amplia-se o alcance das palavras para que corresponda a vontade do texto. Interpretação quanto ao SUJEITO Interpretação quanto ao MODO Interpretação quando ao RESULTADO 1- Autêntica 2- Doutrinária 3- Jurisprudencial 1- Literal 2- Teleológica 3- Histórica 4- Sistemática 5- Progressiva 1- Declarativa 2- Restritiva 3- Extensiva Interpretação extensiva- aprofundamento. Admite-se interpretação extensiva contra o réu? 1ª Corrente (Nucci e Luiz Regis Prado): É indiferente se a interpretação extensiva beneficia ou prejudica o réu (a tarefa do intérprete é evitar injustiças). A C.F não proíbe sequer implicitamente a interpretação extensiva contra o réu. 2ª Corrente (Luiz Flávio Gomes/ Defensoria Pública): Socorrendo-se do Princípio in dúbio pro reo, não admite interpretação extensiva contra o réu (na dúvida, o juiz de interpretar em seu benefício). Esta corrente ganhou importante aliado, o Estatuto de Roma, art. 22. 2 “em caso de ambiguidade, a norma será interpretada a favor da pessoa objeto do inquérito acusada ou condenada. 3ª Corrente (Zaffaroni): Em regra, não cabe interpretação extensiva contra o réu, salvo quanto interpretação diversa resultar num escândalo por sua notória irracionalidade. Corrente do STF e STJ. Ex.: Art. 157, 2º, II, C.P.- Roubo majorado pelo uso de arma. O que é arma? 1ª corrente, abrange somente instrumentos fabricados com finalidade bélica. (sentido próprio/ sentido restrito). 2ª corrente, arma é qualquer instrumento capaz de servir ao ataque, mesmo que não tenha sido fabricado com sentido bélico. (arma no sentido impróprio/ interpretação extensiva). Os tribunais tem adota essa segunda corrente. STF e STJ. PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO PENAL 1º Princípios relacionados à MISSÃO FUNDAMENTAL DO DIREITO PENAL 2º Princípios relacionados como FATO DO AGENTE 3º Princípios relacionados ao AGENTE DO FATO 4º Princípios relacionados com a PENA 1.1 Princípios da exclusiva proteção dos bens jurídicos 2.1 Princípio da exteriorização ou materialização do fato 3.1 Princípio da responsabilidade pessoal 4.1 Princípio da dignidade da pessoa humana 1.2 Princípio da intervenção mínima 2.2 Princípio da legalidade 3.2 Princípio da responsabilidade subjetiva 4.2 Princípio da individualização da pena 2.3 Princípio da ofensividade/ lesividade 3.3 Princípio da culpabilidade 4.3 Princípio da proporcionalidade 3.4 Princípio da isonomia 4.4 Principio da pessoalidade 3.5 Princípio da presunção de inocência 4.5 Princípio da vedação do bis in idem 1º Princípios relacionados com a missão fundamental do Direito Penal 1.1- Princípio da Exclusiva Proteção dos Bens Jurídicos: O Direito Penal deve servir apenas para proteger bens jurídicos relevantes para a convivência humana. Conceito de BEM JURÍDICO: é um bem material ou imaterial, haurido do contexto social, de titularidade individual ou metaindividual, reputado como essencial para a coexistência e o desenvolvimento do homem em sociedade. 1.2 Princípio da Intervenção Mínima: O Direito Penal só deve ser aplicado quanto estritamente necessário, de modo que sua intervenção fica condicionada ao fracasso das demais esferas de controle (caráter subsidiário), observando somente os casos de relevante lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado (caráter fragmentário). PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA: é um principio limitador do Direito Penal É causa de atipicidade material de comportamento. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA DE ACORDO COM OS TRIBUNAIS SUPERIORES (STF/STJ) - Requistos: I- Ausência de periculosidade social da ação. I- Reduzido grau de reprovabilidade do comportamento. II- Mínima ofensividade da conduta do agente. III- Inexpressividade da lesão jurídica causada. 2º Princípios relacionados com o FATO do agente. 2.1- Princípio da Exteriorização ou Materialização do Fato: O Estado só pode incriminar condutas humanas voluntárias, isto é, FATOS. Atenção! Veda-se o Direito Penal do autor: Consistente na punição do indivíduo baseada em seus pensamentos, desejos e estilo de vida. Conclusão: O Direito Penal brasileiro é um Direito Penal do Fato. Exemplo: “Art. 2º, C.P. – ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.”. No Brasil vadiagem ainda é contravenção penal, num clássico exemplo de Direito Penal do Autor ainda vigente no país. O nosso ordenamento penal, de forma legítima, adotou o Direito Penal do fato, mas que considera circunstancia relacionadas ao autor, especificamente quando da análise da pena. 2.2 Princípio da ofensividade/ lesividade: exige que o fato praticado ocorra lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado. - Crime de dano: exige efetiva lesão ao bem jurídico. Ex: homicídio. -Crime de perigo: contenta-se com o risco de lesão ao bem jurídico. Ex: abandono de capaz. a) perigo abstrato: o risco de lesão é absolutamente presumido por lei. b) perigo concreto: o riscode lesão deve ser demonstrado. Temos doutrina entendendo que o crime de perigo abstrato é inconstitucional. Presumir prévia e abstratamente o perigo significa, em ultima análise, que o perigo não existe. (para essa corrente, o crime de perigo abstrato viola o princípio da lesividade e da ampla defesa.) Essa tese, no entanto, hoje não prevalece no STF. No HC 104.410, o Supremo decidiu que a criação de crimes de perigo abstrato não representa, por si só, comportamento inconstitucional, mas proteção eficiente do Estado. Ex: Embriaguez ao volante- STF decidiu que o ébrio não precisa dirigir de forma anormal para configurar crime- bastando estar embriagado (crime de perigo abstrato). Ex: Arma desmuniciada- STF- jurisprudência atual- crime de perigo abstrato- demanda efetiva proteção do Estado. 2.3. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE- 2º Princípios relacionados com o FATO do agente. 1- Introdução Art. 5 º, II, C.F.- “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;” Art. 5º, XXXIX, C.F.- “não há crime sem lei anterior que o defina nem pena sem prévia cominação legal;” Art. 1º, C.P.- “Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal.” Quais documentos internacionais tratam do princípio da legalidade? a) Convênio para a Proteção dos Direitos Humanos e Liberdades Fundamentais (Roma, 1950). b) Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de São Jose da Costa Rica, 1969). c) Estatuto de Roma que criou o TPI. (1998). Obs.: O Princípio da Legalidade está previsto também na Bíblia. 2- Conceito: Real limitação do poder estatal de interferir na esfera das liberdades individuais. Obs.: Daí sua inclusão na C.F. (garantias do individuo) e nos tratados Internacionais de Direitos Humanos. Legalidade = reserva legal + anterioridade. 3- Fundamentos do Princípio da Legalidade 3.1 Fundamento político: vincula o poder executivo e o judiciário a leis formuladas de forma abstrata (impede o poder punitivo arbitrário) 3.2 Fundamento Democrático: representa o respeito ao princípio da divisão de poderes ou separação de poderes. Compete ao Parlamento a missão de elaborar leis. 3.3 Fundamento Jurídico: uma lei prévia e clara produz importante efeito intimidativo. Art. 1º C.P.- “Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem previa cominação legal. Crime: abrange contravenção penal? Não há infração penal sem lei anterior. Pena: abrange medidas de segurança? Não há sanção penal sem lei anterior. Conclusão: Não há infração penal (crime + contravenção penal) ou sanção penal (pena + medida de segurança) sem lei anterior. O artigo 3º do Código Penal Militar dispõe: “As medidas de segurança regem-se pela lei vigente ao tempo da sentença, prevalecendo, entretanto, se diversa, a lei vigente ao tempo da execução.”. No tocante à reserva legal o artigo respeita quando prevê que as medidas de segurança regem-se pela lei, porém a anterioridade não é respeitada. Com isso, esse artigo não foi recepcionado pela C.F. , pois para que se respeite o princípio da legalidade, se faz mister o respeito à reserva legal e à anterioridade da lei. 3º Princípios relacionados com o AGENTE DO FATO 3.1- Princípio da Responsabilidade Pessoal: proíbe-se o castigo pelo fato de outrem. Está vedada a responsabilidade coletiva. Obs.: parcela da doutrina utiliza este princípio parra negar a responsabilidade penal da pessoa jurídica nos crimes ambientais. Desdobramentos: a) Obrigatoriedade da individualização da acusação: é proibida a denuncia genérica, vaga, ou evasiva. O MP deve individualizar os comportamentos na peça acusatória. b) Obrigatoriedade da individualização da pena: o juiz na sentença deve individualizar a pena dos vários concorrentes do crime. 3.2- Princípio da Responsabilidade Subjetiva: não basta que o fato seja materialmente causado pelo agente, ficando a sua responsabilidade condicionada à existência da voluntariedade (dolo/culpa). Em resumo: está proibida a responsabilidade penal objetiva. Para parcela da doutrina trata-se de mais um empecilho à responsabilidade penal da pessoa jurídica. 3.3- Princípio da CULPABILIDADE: é um postulado do Direito Penal. Significa que só pode o Estado impor sanção penal ao agente imputável (penalmente capaz) com potencial consciência da ilicitude (possibilidade de conhecer o caráter ilícito do comportamento) quando dele exigível conduta diversa. (podendo agir de outra forma). 3.4- Princípio da ISONOMIA: “Art. 5º, caput C.F.: todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:” Isonomia substancial (e não formal): deve-se tratar de forma igual o que é igual e desigualmente o que é desigual. Com base nesse princípio o STF, no julgamento da ADC n. 19, afirmou a constitucionalidade da Lei Maria da Penha. 3.5- Princípio da Presunção de Inocência: Previsto no Artigo 8º, 2 da Convenção Americana de Direitos Humanos: “Toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se presuma sua inocência, enquanto for legalmente comprovada sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às seguintes garantias mínimas:” Art. 5º, LVII, C.F.- “ninguém será considerado culpado até o transito em julgado de sentença penal condenatória;” DESDOBRAMENTOS DO PRINCÍPIODA PRESUNÇÃO DE INOCENCIA OU DE NÃO CULPA. a) Qualquer restrição à liberdade do agente somente se admite após a condenação definitiva. Obs.: a prisão provisória (temporária) é cabível quando imprescindível. Prisão provisória= imprescindibilidade. Medida Provisória pode criar crime? R: não sendo lei, mas ato do poder executivo, com força normativa, a medida provisória não cria crime, não comina pena. É possível Medida Provisória versando sobre Direito Penal não incriminador? Medida Provisória pode extinguir a punibilidade? Lembrando: o Art. 63, § 1º, I, b, C.F. proíbe Medida Provisória versando sobre Direito Penal (matéria incluída pela EC 32/01). “Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisória, com força de lei, devendo submetê- las de imediato ao Congresso Nacional. §1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria: I- Relativa a: a) Direito penal, processual penal e processo civil;”. A doutrina diverge: 1ª corrente: Com o advento da EC 32/01, ficou claro que a Medida Provisória não pode versar sobre Direito Penal (incriminador ou não incriminador).-Prevalece entre os constitucionalistas. 2ª corrente: A EC32/01 reforça a proibição da Medida Provisória sobre Direito Penal incriminador, permitindo (implicitamente) matéria de Direito Penal não incriminador. Posição do STF. Antes da EC 32/01 o STF admitiu MP versando sobre Direito Penal não incriminador (MP 1571/97), norma que extinguia a punibilidade de crimes tributários e previdenciários mediante a reparação do dano. Após a EC 32/01, o STF voltou a admitir MP versando sobre Direito Penal não incriminador (MP 417/08), que impediu a tipificação de determinados delitos no Estatuto do Desarmamento. Costume pode revogar infração penal? Discute-se essa questão na contravenção penal do jogo do bicho. 1ª corrente: Admite-se o costume abolicionista ou revogador da lei nos casosem que a infração penal não mais contraria o interesse social deixando de repercutir negativamente na sociedade. Conclusão: jogo do bicho não deve ser punido, pois a contravenção foi formal e materialmente revogada pelo costume. 2ª corrente: Não é possível o costume abolicionista. Entretanto, quando o fato já não é mais indesejado pelo meio social, a lei não deve ser aplicada pelo magistrado. Conclusão: Jogo do bicho apesar de formalmente contravenção, não serve para punir o contraventor, pois a infração foi materialmente abolida. (Princípio da adequação social). 3ª corrente (prevalece): Somente a lei pode revogar outra lei. Não existe costume abolicionista. Conclusão: jogo do bicho permanece infração penal, servindo a lei para punir os contraventores enquanto não revogada por outra lei. LEI PENAL Lei Penal- Classificação 1- Lei Penal Completa: é aquela que dispensa complemento valorativo (dado pelo juiz) ou normativo (dado por outra norma). Ex.: art. 121, C.P. (“matar alguém”). 2- Lei Penal Incompleta: é a norma que depende de complemento valorativo (tipo aberto) ou normativo (norma penal em branco). a) Tipo aberto: espécie de lei penal incompleta. Depende de complemento valorativo, dado pelo juiz na análise do caso concreto. Ex.: crimes culposos. São descritos em tipos abertos, uma vez que o legislador não anuncia a formas de negligência, ficando a critério do juiz na análise do caso concreto. ATENÇÃO: o tipo aberto para não violar o princípio da legalidade deve ser redigido com o mínimo de determinação. Ex.: homicídio culposo. Receptação Art. 180, § 3º- Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela desproporção entre valor e o preço, ou pela condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso: Pena- detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou ambas as penas. Excepcionalmente, o legislador descreveu a negligencia (em sentido amplo), subtraindo do juiz, de forma legítima, a sua valoração no caso concreto. b) Norma penal em branco: espécie de lei penal incompleta. Depende de complemento normativo, dado por outra norma. Espécies de norma penal em branco: - norma penal em branco em sentido estrito/ própria ou heterogênea: o complemento normativo não emana do legislador, mas sim de fonte normativa diversa. Não viola o princípio da legalidade. Ex.: Lei complementada por uma portaria do Poder Executivo. Lei 11.343/06 – Lei de Drogas. “Art. 1o Esta Lei institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas - Sisnad; prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas e define crimes. Parágrafo único. Para fins desta Lei, consideram-se como drogas as substâncias ou os produtos capazes de causar dependência, assim especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União.” - norma penal em branco em sentido amplo/ imprópria/ homogênea: o complemento normativo emana do legislador. Em caso de lei penal complementar, é chamada de homovitelina. Se a lei complementadora for diversa da lei penal (extrapenal) é chamada de heterovitelina. NORMA PENAL EM BRANCO IMPRÓPRIA Homovitelina/ homóloga Heterovitelina/Heteróloga Complementada Lei penal Lei Penal Complementada Lei penal Lei extrapenal EFICÁCIA DA LEI PENAL NO TEMPO Introdução Como decorrência do principio da legalidade, aplica-se, em regra, a lei penal vigente ao tempo da realização do fato criminoso (tempus regit actum) Excepcionalmente, no entanto, será permitida a retroatividade da lei penal para alcançar os fatos passados, desde que benéfica ao réu. É possível que a lei penal se movimente no tempo: extra-atividade da lei penal. Extra-atividade da Lei Penal no Tempo, espécies: - Ultra-atividade: A lei “a” continua sendo aplicada para os fatos praticados na sua vigência, evitando a retroatividade maléfica da Lei “b”. -Retroatividade: A lei “b” retroage para alcançar os fatos passados, pois mais benéfica do que a Lei “a”. TEMPO DO CRIME Quando no tempo um crime se considera praticado? Ex: Peculato (art. 312, CP)- A expressão “funcionário público” é esclarecida pelo art. 327, C.P. Ex: Ocultação de impedimento para casamento (art. 237, C.P.)- A expressão “impedimento” está no Código Civil. 1- Teoria da atividade: o crime considera-se praticado no momento da conduta.- Adotada na Brasil. (ART. 4º, C.P.) 2- Teoria do resultado: o crime considera-se praticado no momento do resultado. 3- Teoria mista/ubiquidade: o crime considera-se praticado no momento da conduta ou do resultado. Obs.: 1: Princípio da coincidência/ congruência/ simultaneidade: todos os elementos do crime (fato típico/ ilicitude/ culpabilidade) devem estar presentes no momento em que o delito é praticado. (no momento da conduta). Ex.: Agente menor de 18 anos dispara arma de fogo com vítima, porém, a morte da vítima ocorre quando o agente completa 18 anos. Neste caso, considerando a teoria da atividade adotada no Brasil, o agente responderá perante o ECA, vez que a no momento da conduta ele era menor de idade. Obs.: O tempo do crime, EM REGRA, marca a lei que vai reger o caso concreto. No momento da conduta que se analisa qual lei vai reger o caso concreto até o final. SEUCESSÃO DE LEIS NO TEMPO A regra geral é a irretroatividade da lei penal, excetuada somente quando a lei posterior for mais benéfica (retroatividade). Tempo da Conduta Lei Posterior (IR) Retroatividade 1 Fato atípico Fato Típico IRREtroatividade (art. 1º, C.P.) 2 Fato típico Aumento de pena, por ex. IRREtroatividade (art. 1º, C.P.) 3 Fato típico Supressão da figura típica REtroatividade (art. 2º, caput, C.P.) 4 Fato típico Diminuição de pena, por ex. REtroatividade (art. 2º, p. único, C.P.) 5 Fato típico Migra o conteúdo criminoso para outro tipo penal Principio da continuidade normativo-típica (a retroatividade ou irretroatividade vai depender do caso concreto). 1- Sucessão de lei incriminadora (novatio legis incriminadora) Tempo da conduta Lei posterior (IR) Retroatividade 1 Fato atípico Fato típico IRREtroatividade (art. 1º, C.P.) “Art. 1º C.P.- Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem previa cominação legal.” Ex. Lei n. 12.550/11 Antes Depois Cola Eletrônica era fato atípico (STF/STJ) Cola eletrônica: pode caracterizar o art.311-A, C.P.- neocriminalização. 2- Novaio legis in pejus/ Lex gravior Tempo da conduta Lei Posterior (IR)Retroatividade 2 Fato típico (ultra-ativa) Aumento da pena IRREtroatividade (art. 1º, C.P.) Lei nova que de qualquer modo prejudica o réu. “Art. 1º C.P.- não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem previa cominação legal. Ex.: Lei n. 12.234/10 Antes Depois O prazo prescricional para crimes com pena inferior a 1 ano = 2 anos O prazo prescricional para crimes com pena inferior a 1 ano = 3 anos Obs.:lei revogada é ulta- ativa para os fatos praticados na sua vigência. Obs.: lei revogadora (posterior) éirretroativa, pois maléfica. Obs.: Sucessão de leis mais grave no crime continuado e no crime permanente Súmula 711 STF: “A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência”. Conclusão: Aplica-se a lei vigente no momento em que cessar a continuidade ou a permanência, ainda que mais grave. 3- Abolitio criminis Tempo da conduta Lei posterior (IR) Retroatividade 3 Fato típico Supressão da figura criminosa Retroatividade (art. 2º, caput, C.P.) Revogação de um tipo penal pela superveniência de lei descriminalizadora. “Art. 2º, C.P.- Ninguém pode ser punido por fato que leis posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória”. Atenção! Trata-se de desdobramento lógico do princípio da intervenção mínima. O princípio da intervenção mínima possui duas faces: a) Orienta onde e quando o Direito Penal deve intervir (neocriminalização) b) Orienta onde e quando o Direito Penal deve deixar de intervir (abolitio criminis) Ex.: Lei n. 11.106/05 Antes Depois Art. 240, C.P.: adultério (era crime) Art. 240, C.P. (Não é mais crime) Aboliu-se a figura criminosa- lei retroativa. Natureza jurídica da abolitio criminis 1ª corrente:causa extintiva excludentes da tipicidade. (Flavio Monteiro de Barros). 2ª corrente: causa extintiva da punibilidade. Prevalece essa corrente. (Art. 107, III, C.P.) Consequências da Abolitio criminis a) Faz cessar a execução penal: Lei abolicionista não respeita coisa julgada. E o artigo 5º, XXXVI, C.F./88? “Art. 5º, XXXVI, C.F.- a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”. R: o artigo 5º é uma garantia do individuo contra o Estado e não do Estado contra o indivíduo. b) Faz cessar os efeitos penais da condenação: Os efeitos extrapenais são mantidos. (art..91e 92, C.P.) Ex.1: Reincidência? Trata-se penal que desaparece com a abolitio criminis. Ex. 2: Reparação do dano? Sentença penal como titulo executivo judicial no civil. Trata-se de efeito extrapenal, não desaparecendo com a abolitio criminis. 4- NOVATIO LEGIS IN MELLIUS/ LEX MITIOR Tempo da conduta Lei posterior (IR) Retroatividade 4 Fato típico Diminuição de pena REtroatividade (art. 2º, p. único, C.P.) Lei que de qualquer modo favorece o réu. “Art. 2º, parágrafo único, C.P.- A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado”. – Também não respeita a coisa julgada. Ex.: Lei n. 11.343/06 ANTES Depois Posse de drogas para uso próprio configurava o art. 16 da Lei 6.368/76, punida com detenção de 6m a 2 nos. Posse de drogas para uso próprio passou a configurar o art. 28 da Lei 11.343/06, punida com penas não privativas de liberdade. PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE PENAS RESTRITIVAS DE DIREITO LEI EXCEPCIONAL OU TEMPORÁRIA Art. 3º, C.P.- “A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstancias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante a sua vigência”. Lei temporária: é aquela instituída por um prazo determinado. Tem prefixado lapso de duração. Ex: Lei “a” com vigência ate 1/1/2016 Lei excepcional: aquela edita em função de algum evento transitório. (guerra, calamidade pública, epidemia, etc.). Perdura enquanto existir o estado de emergência, Ex: Lei “a” com vigência até o fim da crise hídrica. Características: leis temporária e excepcional 1- Autorrevogabilidade São leis autorrevogáveis (leis intermitentes) Consideram-se revogadas assim que encerrado o prazo fixado (temporária) ou cessada a situação de anormalidade (excepcional). 2- Ultra-atividade São leis ultra-ativas (alcançam os fatos praticados durante a sua vigência, ainda que revogadas). ATENÇÃO! Nesse caso, há a excepcionalidade da ultra-atividade maléfica! Ex.: Lei n. 12.663/12 (Lei da Copa) Os fatos praticados antes da revogação dessa lei continuam sendo punidos. (trata-se te lei temporária ultra-ativa para os fatos praticados na sua vigência) A doutrina observa que, por serem de curta duração, se não tivessem a característica da ultra-atividade, perderiam sua força intimidadora. ATENÇÃO! A revogação das leis temporárias e excepcionais não implicam abolitio criminis. LEI INTERMEDIÁRIA A lei intermediária tem duplo efeito: a) Retroage para alcançar fatos praticados na vigência da lei revogada. b) É ultra-ativa para impedir a retroatividade maléfica da lei revogadora. Retroatividade da Jurisprudência Outubro de 2001 Antes Depois Súmula 174 STJ: “No crime de roubo, a intimidação feita com arma de brinquedo autoriza o aumento de pena.”. Cancelou a Súmula 174 (arma de brinquedo não majora a pena do roubo- mas serve para configurar o roubo). Retroage? A C.F., se refere somente à retroatividade da lei (proibindo-a quando maléfica e incentivando-a quando benéfica). O C.P. também só disciplina a retroatividade da lei (não de jurisprudência). O entendimento que prevalece é o de que a extra-atividade só se refere à lei, não se estendendo à jurisprudência. Atenção! Paulo Queiroz diz que deve ser proibida a retroatividade desfavorável da jurisprudência e aplicada a retroatividade benéfica, autorizando revisão criminal. Cuidado! Não se pode negar a retroatividade da jurisprudência quando dotada de efeitos vinculantes (Súmula vinculante, ADI, ADC, ADPF). Eficácia da lei penal no espaço Sabendo que um fato punível pode, eventualmente, atingir os interesses de dois ou mais Estado igualmente soberanos, gerando, nesses casos, um conflito internacional de jurisdição, o estudo da lei penal no espaço visa apurar as fronteiras de atuação da lei penal nacional. Princípios aplicáveis na solução do aparente conflito 1- Princípio da Territorialidade: aplica-se a lei penal do local do crime. Obs. Não importa a nacionalidade do agente, da vítima ou do bem jurídico tutelado. 2- Princípio da nacionalidade ativa: aplica-se a lei penal da nacionalidade do agente. Obs. Não importa o local do crime, a nacionalidade da vítima ou do bem jurídico. 3- Princípio da nacionalidade passiva: a doutrina diverge. 1ª corrente*** 2ª corrente Aplica-se a lei da nacionalidade da vítima. Aplica-se a lei da nacionalidade do agente quando ofender concidadão. Não importa a nacionalidade do agente, do bem jurídico ou o local do crime. Não importa o bem jurídico ou o local do crime. -Bitencourt. - Hoje prevalece - Capez 4- Princípio da defesa (ou real): aplica-se a lei penal da nacionalidade do bem jurídico lesado. Obs. Não importa o local do crime ou a nacionalidade dos sujeitos. 5- Princípio da justiça penal universa: o agente fica sujeito à lei penal do país que ele for encontrado. Obs :não importa o local do crime, a nacionalidade dos sujeitos ou do bem jurídico. Este princípio está normalmente presente nos tratados internacionais de cooperação e repressão a determinados delitos de alcance transnacional. 6- Princípio da representação (do pavilhão, da bandeira, da substituição ou da subsidiariedade): a leipenal aplica-se aos crimes cometidos em aeronaves e embarcações privadas quando praticados no estrangeiro e ai não sejam julgados (inércia do país estrangeiro). Obs.: não importa a nacionalidade dos sujeitos, do bem jurídico ou do bem, basta que tenha ocorrido no estrangeiro. Cuidado! O Brasil adotou como princípio a regra da Territorialidade (art. 5º, C.P.) Art. 5º, C.P.- “Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional.” Trata-se de Territorialidade Temperada -É possível, por conta de regras internacionais, que um crime cometido no Brasil, não sofra as consequências da lei brasileira. Territorialidad e Extraterritorialidad e Intraterritorialidad e Local do crime: Brasil Local do crime: estrangeiro Local do crime: estrangeiro Lei aplicável: brasileira Lei aplicável: brasileira Lei aplicável: estrangeira Ex. imunidade diplomática. O que é território nacional? Espaço geográfico + espaço jurídico (por ficção, equiparação) Espaço jurídico: art.5º, § 1º - “Para efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar” LUGAR DO CRIME Quando o crime se considera praticado no nosso território? Temos três teorias discutindo o assunto. 1- Teoria da atividade: o crime considera-se praticado no lugar da conduta. 2- Teoria do resultado/ do evento: o crime considera-se praticado no lugar do resultado. 3- Teoria mista/ ubiquidade: o crime considera-se praticado no lugar da conduta ou do resultado. – Adotada no Brasil. Art. 6º, C.P.- Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado. Obs: se no Brasil ocorre somente o planejamento e/ou preparação do crime, o fato, em regra, não interessa ao direito brasileiro, salvo quando a preparação por si só, caracterizar crime (ex. associação criminosa). Crime à distancia/ de espaço máximo Crime de transito Crime plurilocal- local- território nacional O crime percorre territórios de 2 países soberanos. Ex: Brasil e Argentina. O crime percorre território de + de 2 países soberanos. Ex: Brasil, Argentina e Uruguai. O crime percorre 2 ou + territórios do mesmo país. Ex: SP, BH e RJ. Conflito internacional de jurisdição (a lei de qual país será aplicada?) Conflito internacional de jurisdição (a lei de qual país será aplicada?) Conflito interno de jurisdição (qual juízo aplicará a lei?) Resolve-se pelo art. 6º C.P.- teoria da ubiquidade Resolve-se pelo art. 6º, C.P.- teoria da ubiquidade Art. 70 CPP (regra)- teoria do resultado Art. 70 CPP- A competência será, de regra determinada pelo EXTRATERRITORIALIDADE Em casos excepcionais, a nossa lei poderá extrapolar os limites do território, alcançando crimes cometidos exclusivamente no estrangeiro. Art.7º, I, C.P Extraterritorialidade Incondicionada (§1º) a) Crime contra a vida ou a liberdade do Presidente da República. (princípio da defesa) b) Crime contra o patrimônio público brasileiro. (princípio da defesa) c) Crime contra a administração publica. (princípio da defesa) d) Genocídio. (princípio da justiça universal) Art. 7º, II, CP Extraterritorialidade Condicionada (§2º) MAIS CAI EM CONCURSO “B” a) Crimes que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir. (princípio da justiça universal) b) Crimes praticados por brasileiro. (princípio da nacionalidade ativa) c) Crimes praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada quando em território estrangeiro e ai não sejam julgados. (princípio da representação) Art. 7º, CP Extraterritorialidade Hipercondicionada (§3º) Crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil. (princípio da nacionalidade passiva) Extraterritorialidade condicionada Nos caos do art. 7º, inciso II, do CP, para que a nossa lei possa ser aplicada, é necessário e concurso das seguintes condições: lugar em que se consumar a infração. a) Entrar o agente no território nacional Obs 1: entrar não significa permanecer. Obs 2: território nacional: espaço geográfico e especo jurídico. b) Ser o fato também punível também no país em que foi praticado c) Estar esse crime incluído entre aqueles pelos quais a lei autoriza a extradição d) Não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter ai cumprido a pena. e) Não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável. EFICÁCIA DA LEI PENAL EM RELAÇÃO ÀS PESSOAS A lei penal se aplica a todos, por igual,não existindo privilégios pessoais. Há, no entanto, pessoas que, em virtude das suas funções ou em razão de regras internacionais, desfrutam de imunidades. Longe de uma garantia pessoal, trata-se de necessária prerrogativa funcional. PRIVILÉGIO PRERROGATIVA Exceção da lei comum deduzida da situação de superioridade das pessoas que a desfrutam. Conjunto de precauções que rodeiam a função. Subjetivo e anterior à lei Objetiva e deriva da lei Tem essência pessoal Anexo à qualidade do órgão Poder frente à lei Conduto para que a lei se cumpra Aristocracias das ordens sociais Aristocracias das instituições governamentais IMUNIDADES DIPLOMÁTICAS Trata-se de prerrogativa de direito público internacional de que desfrutam: a) Chefes de governo estrangeiro ou chefes de Estado, sua família e membros da comitiva. b) Embaixador e sua família. c) Funcionários do corpo diplomático. d) Funcionários das organizações internacionais. (ex: ONU) Convenção de Viena sobre relações diplomáticas (art. 31 e seguintes). Natureza jurídica da imunidade diplomática: 1ª corrente- trata-se de causa pessoal de isenção de pena. ( prevalece essa corrente) 2ª corrente- trata-se de causa impeditiva de punibilidade. O diplomata deve obediência à nossa lei? Por força da característica da generalidade da lei penal, os agentes diplomáticos devem obediência ao preceito primário do país em que se encontram. Escapam, no entanto, da sua consequência jurídica (punição-preceito secundário), permanecendo sob a eficácia da lei penal do Estado a que pertencem (intraterritorialidade). Ex: art. 121 CP: Matar alguém (diplomata deve obediência) Pena: 6- 20 anos (punido de acordo com a lei de seu Estado). Os agentes consulares tem imunidade diplomática? Os agentes consulares tem imunidade funcional. (relativa) ficando imunes aos crimes praticados no exercício da função. A imunidade é irrenunciável. É vedado ao seu destinatário abdicar da prerrogativa (pois esta é do cargo e não da pessoa). Atenção: de acordo com a Convenção de Viena poderá haver renúncia por parte do Estado de origem, ficando o diplomata sujeito à lei do país em que ocorreu o crime. IMUNIDADES PARALMENTARES As imunidades parlamentares encontram previsão na Constituição Federal. Tal e qualas diplomáticas, as imunidade parlamentares não configuram “privilégios”, mas “prerrogativas” necessárias ao desempenho independente da atividade do parlamentar e à efetividade do Estado Democrático de Direito, mascado pela representatividade dos cidadãos eleitores. Obs: As imunidades classificam-se em: a) Absolutas b) Relativas A Imunidade Parlamentar Absoluta é conhecida como freedon of speech Sinônimos: imunidade substancial; imunidade material; imunidade real; inviolabilidade; indenidade. Está prevista no artigo 53, caput, da CF/88, nos seguintes termos: “Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos”. Atenção, parte da doutrina ensina que inviolabilidade não exclui apenas as responsabilidades civil e penal, mas também a administrativa e política. A natureza jurídica da imunidade absoluta é questão controvertida. a) Pontes de Miranda, Nelson Hungria e Jose Afonso da Silva entendem ser causa excludente de crime; b) Basileu Garcia considera a imunidade absoluta causa que se opõe à formação do crime; c) Anibal Bruno considera-a causa pessoa (funcional) de isenção de pena; d) Magalhães Noranha entende ser causa de irresponsabilidade; e) Jose Frederico Marques, por sua vez, ensina tratar-se de causa de incapacidade pessoal penal por razões políticas; f) Por fim, para Luis Flavio Gomes (seguido pelo STF), a imunidade parlamentar absoluta torna o fato atípico. Cuidado, adota a tese do STF, também não se pune eventuais partícipes (teoria de acessoriedade limitada)- a punibilidade do partícipe depende de fato principal típico e ilícito. Quais os limites da liberdade parlamentar material? Deve haver vínculo, conexão entre as palavras e/ou opiniões do parlamentar e o exercício da sua função. Conclusão: estando o parlamentar nas dependências do parlamento, presume-se, de forma absoluta a conexão com o exercício da função. Estando fora das dependências do parlamento, a conexão deve ser demonstrada. “1. A imunidade parlamentar material, que confere inviolabilidade, na esfera civil e penal, a opiniões, palavras e voto manifestados pelo congressista (CF, art. 53, caput), incide de forma absoluta quanto às declarações proferidas no recinto do Parlamento. 2. Os atos praticados em local distinto escapam à proteção absoluta da imunidade, que abarca apenas manifestações que guardem pertinência, por um nexo de causalidade, com o desempenho das funções do mandato parlamentar” (STF- Tribunal Pleno- Inq. 2.813- Rel. Min. Marco Aurélio0 DJe 24/5/2011). Atenção! Na hipótese de meios eletrônico (Facebook, Twitter, e-mails ...) ara divulgar mensagens ofensivas à honra de alguém, deve haver vinculação com o exercício parlamentar para que seja afastada a responsabilidade, ainda que a mensagem tenha sido gerada dentro do gabinete. Entendimento diverso daria margem ao exercício abusivo desta prerrogativa que, como destacado, é de instituição e não do parlamentar. Imunidade parlamentar relativa: artigo 53, § 1º ao § 8º, CF. SINONIMOS: imunidade parlamentar formal, processual, adjetiva. Relativa ao foro: Nos termos do artigo 53, § 1º da CF, “Os deputados e Senadores, desde a expedição do diploma, serão submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal”, Obs: trata-se de foto por prerrogativa de função, competindo ao STF o processo e julgamento dos parlamentares por infrações penais cometidas antes ou depois do inicio do mandato. ATENÇÃO: De acordo com a maioria o foro especial não se estende ao concorrente sem imunidade, gerando neste caso, separação de processos, sendo o corréu não imune processado no seu juízo natural. Da simples leitura do parágrafo, percebe-se que o foro especial se estende da diplomação e não da posse até o fim do mandato. Cuidado: justamente por configurar prerrogativa e não privilégio, o fim do mandato implica na remessa dos autos para o juiz natural. Obs: a Súmula 394 do STF foi cancelada. Imaginemos um parlamentar (Deputado Federal ou Senador) que, percebendo que seu processo-crime foi colocado em pauta para final julgamento no STF, buscando procrastinar a decisão final, renuncia na véspera para que o feito seja remetido para o juiz de 1º grau: Essa escoteira opção retira do STF a competência para julgá-lo? Por 8 votos a 1, o plenário do STF decidiu em questão de ordem, que a renuncia do parlamentar nesse caso não retira a competência do STF quando marcada a data do julgamento. Imunidade relativa à prisão: também denominada pelo Supremo Tribunal Federal de “incoercibilidade pessoal dos congressistas (freedom from arrest)”, está prevista no artigo 53, § 2º, da CF, que anuncia: “Desde a expedição do diploma, os membro do Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão”. A garantia, portanto, presente desde a diplomação (e não da posse), recai sobre prisão provisória, excepcionada apenas a prisão em flagrante decorrente de prática de crime inafiançável (ex. racismo). Realizada prisão em flagrante por crime inafiançável, os autos serão remetidos no prazo de vinte e quatro horas para a Casa respectiva, que deliberará, por maioria de votos, sobre a prisão. A deliberação sobre a prisão terá caráter eminentemente político (conveniência e oportunidade) e não técnico. Cuidado: A prisão decorrente de sentença definitiva é cabível, não estando abrangida pela imunidade. (STF Inq. 510) Imunidade só abrange prisão provisória: Flagrante (crimes afiançáveis); prisão preventiva e prisão temporária. Cabe prisão civil conta o Congressista devedor de alimento? 1ª corrente: é cabível prisão civil do congressista devedor de alimentos. 2ª corrente: a imunidade abarca qualquer ato da privação de liberdade, ou seja, prisão extrapenal. 3ª corrente: em se tratando de alimentos provisórios ou provisionais, não cabe execução com risco de prisão; ao revés, sendo alimentos definitivos, cabe execução com risco de prisão. Imunidade relativa ao processo: está disciplinada no artigo 53, §§ 3º ao 5º da CF, alcançando os crimes praticados pelos congressistas após a diplomação. Nesses casos, permite-se à Casa Legislativa respectiva sustar, a pedido de partido político com representação do Legislativo Federal, o andamento da ação penal pelo voto ostensivo e nominal da maioria absoluta de seus membros. A suspensão da ação penal devera ser apreciada no prazo improrrogável de quarenta e cinco dias, e caso se entenda pela sustação, ela persistirá enquanto durar o mandato, acarretando, igualmente, a suspensão da prescrição. Atenção: não haverá imunidade processual em relação aos crimes cometidos antes da diplomação. Cuidado: a imunidade dos §§ 3º a 5º da CF, não se estende nem alcança inquéritos instaurados contra o congressista. Imunidade relativa à condição de testemunha: a regra é que os parlamentares são obrigados a testemunhar, prestando compromisso, salvo nas duas hipóteses previstas no artigo 53, § 6º da CF: a) Sobre informações recebidas ou prestadas em razão do exercício do mandato; e b) Sobre as pessoas que lhes confiaram ou deles receberam informações. Embora a testemunha tenha o dever de comparecer quando intimados pelo juízo para prestar seus depoimento, o artigo 221 do Código de Processo Penal estabelece que os deputadose senadores terão a prerrogativa de ajustar dia, horário e local com essa finalidade. Cuidado: a prerrogativa é exclusiva servir como testemunha, não se aplicando ao parlamentar investigado ou acusado. Imunidades parlamentares e o estado de sítio § 8º As imunidades de Deputados ou Senadores subsistirão durante o estado de sítio, só podendo ser suspensas mediante o voto de dois terços dos membros da Casa respectiva, nos casos de atos praticados fora do recinto do Congresso Nacional, que sejam incompatíveis com a execução da medida. Conclusão: as imunidades subsistem ainda que durante o estado de sítio. Nos termos do artigo 53, § 8º da CF, as imunidades de deputados e senadores somente serão suspensas se houver votação da Casa respectiva, com votação de dois terços pela suspensão. Obs.: de todo modo, ainda nessa hipótese somente os atos praticados fora do congresso e que sejam incompatíveis com a execução da medida e que estarão desprotegidos da imunidade. Imunidades do parlamentar licenciado: Caso o parlamentar se licencie do cargo para qual foi eleito com o objetivo de exercer outro, por exemplo, Ministro de Estado, não manterá sua imunidade (que não é pessoal, mas da função), salvo no que toca ao foro especial. A 1º Turma concedeu habeas corpus para cassar decreto de prisão expedido por juiz de direito contra deputado estadual. Entendeu-se que, ante a prerrogativa de foro, a vara criminal seria incompetente para determinar a constrição do paciente, ainda que afastado do exercício parlamentar”. (STF- Info n. 628- HC 9548- Rel. Min. Marco Aurélio – Dje 24/5/2011) Imunidades dos deputados estaduais As imunidades estudadas, por força do mandamento insculpido no artigo 27, § 1º, CF, também devem ser aplicadas aos deputados estaduais. Obs: consagra-se o princípio da simetria. As mesmas imunidades dos parlamentares federais aplicam-se aos deputados estaduais. Obs: está superada a súmula 3 do STF. Parlamentares Federais Parlamentares Estaduais Imunidade Absoluta Imunidade Absoluta Imunidade Relativa Imunidade Relativa a) Foro (STF) b) Prisão c) Processo d) Condição de testemunha a) Foro (TJ, TRF/TRE) b) Prisão c) Processo d) Condição de testemunha Imunidades dos vereadores: por força do artigo 29, VIII, CF, desfrutam somente de imunidade absoluta, desde que suas opiniões, palavras e votos sejam proferidos no exercício do mandato (nexo material) e na circunscrição do Município (critério territorial). Atenção: a constituição estadual pode prover foro por prerrogativa de função para processo e julgamento de infrações penais. Foro por prerrogativa de função X Tribunal do Júri: o foro por prerrogativa de função, previsto na CF, prevalece sobre a competência constitucional do Tribunal do Júri (é a Carta Maior excepcionando-se a si mesma). Dentro desse espírito, caso pratique crime doloso conta a vida, o congressista será julgado perante o STF, enquanto que o parlamentar estadual, pelo Tribunal de Justiça (ou Tribunal Regional Federal, se o caso). CUIDADO: se o foro especial está previsto apenas na constituição estadual, e esse é o caso dos vereadores do Rio de Janeiro, por exemplo, o foro não prevalece sobre o Tribunal do Júri, que está previsto na CF/88. SÚMULA 721-STF A COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL DO TRIBUNAL DO JÚRI PREVALECE SOBRE O FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO ESTABELECIDO EXCLUSIVAMENTE PELA CONSTITUIÇÃO ESTADUAL. __________________________________________________
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