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Experiências Interdisciplinares nas aulas de Física da segunda série do Ensino Médio

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X V I S I M P Ó S I O N A C I O N A L D E EN S I N O D E F Í S I C A 1 
 
EXPERIÊNCIAS INTERDISCIPLINARES NAS AULAS DE FÍSICA DA 
SEGUNDA SÉRIE DO ENSINO MÉDIO 
 
Terezinha de Fatima Pinheiro[tfpinheiro@ca.ufsc.br] 
 
Colégio de Aplicação - UFSC/SC 
 
 
RESUMO 
A discussão sobre Alfabetização Científica e Técnica tem se tornado evidente nos 
últimos anos, devido, dentre outros fatores, à necessidade cada vez mais crescente do 
desenvolvimento de habilidades que permitam que as pessoas adquiram alguma 
familiaridade com as ciências e as tecnologias, atualmente presentes na vida cotidiana. 
Neste sentido, os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio - área de 
Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias consideram a 
interdisciplinaridade como um dos elementos essenciais para desenvolver competências, 
de modo que um cidadão possa compreender as complexas e estreitas relações entre 
conhecimento científico, tecnologia e sociedade. Neste trabalho, apresentamos algumas 
reflexões realizadas a partir do desenvolvimento de práticas interdisciplinares nas aulas 
de Física do Ensino Médio (15-17 anos) do Colégio de Aplicação da Universidade 
Federal de Santa Catarina. Tais atividades têm como referência o modelo de trabalho 
interdisciplinar de Gerard Fourez (1994), o qual apresenta a Ilha Interdisciplinar de 
Racionalidade como estratégia pedagógica e epistemológica para viabilizar uma 
proposta de Alfabetização Científica e Técnica. Em especial, discutimos a construção de 
Ilhas de Racionalidade em torno de situações que envolveram assuntos relacionados 
com Calor. Apresentamos também uma análise comparativa entre as proposições 
teóricas da metodologia das Ilhas Interdisciplinares de Racionalidade e as necessidades 
práticas surgidas no decorrer da aplicação da metodologia. 
INTRODUÇÃO 
Para atender as recomendações da legislação brasileira no que se refere aos objetivos da 
educação científica para o Ensino Médio, assim como das pesquisas recentes em Didática das 
Ciências, temos procurado desenvolver práticas interdisciplinares nas aulas de Física do Ensino 
Médio (15-17 anos) do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Santa Catarina. Algumas 
delas baseiam-se nas idéias de Gerard Fourez (1994), a respeito do que ele considera necessário 
para que uma pessoa seja considerada alfabetizada cientifica e tecnicamente. 
Fourez propõe a construção de ilhas interdisciplinares de racionalidade, como uma 
metodologia com potencialidades de promover um ensino capaz de propiciar a autonomia, o 
domínio e comunicação das “tecnologias intelectuais” elaboradas pela humanidade. 
Um dos aspectos que caracteriza uma pessoa como alfabetizada científica e tecnicamente é 
ser capaz de compreender e/ou inventar uma representação teórica de um contexto e de um projeto 
específicos, ou seja, que ela seja capaz de construir uma Ilha de Racionalidade. Para esta 
construção contribuem saberes provenientes de muitas disciplinas, bem como conhecimentos da 
vida cotidiana. A construção de uma Ilha de Racionalidade se realiza por meio de etapas, nas quais 
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o grupo envolvido toma decisões sobre a extensão e a profundidade com que os assuntos serão 
abordados, tendo como referência o contexto e o projeto. 
Durante a aplicação da metodologia das Ilhas de Racionalidade nas turmas de segunda série 
do ensino médio, nos anos letivos de 2002 e 2003, procuramos fazer uma análise entre o que a 
metodologia recomenda e o que se faz necessário para realizar este tipo de atividade. 
AS ETAPAS DE UMA ILHA DE RACIONALIDADE 
A Ilha de Racionalidade é uma representação teórica de uma situação específica. Tendo 
como referência um contexto e um projeto particulares, são utilizados conhecimentos provenientes 
de diversas disciplinas e também de saberes da vida cotidiana, indispensáveis nas práticas 
concretas. É necessário que o projeto e o contexto sejam claramente definidos. Assim, é 
recomendável que a situação seja expressa meio de uma questão ou situação. 
Para construir a Ilha de Racionalidade Fourez (1994) propõe algumas etapas. Embora 
apresentadas de maneira linear, elas são flexíveis e abertas. Em alguns casos podendo ser 
suprimidas e/ ou revisitadas, quantas vezes a equipe julgar necessária. A equipe que está 
desenvolvendo a Ilha de racionalidade é também quem determina o tempo de cada uma delas, de 
acordo com os objetivos, disponibilidades e necessidades. Elas servem como um esquema de 
trabalho, de modo a evitar que ele se torne tão abrangente que não se consiga chegar ao final. São as 
etapas : 
Etapa 1- Elaborar um Clichê da situação estudada. 
O Clichê é entendido como o conjunto de perguntas que expressam as concepções e as 
dúvidas iniciais que o grupo tem a respeito da situação. É o ponto de partida da atividade. 
Etapa 2 – Elaborar o panorama espontâneo. 
É a etapa de ampliação do clichê, onde se lista alguns itens que devem ser levados em conta 
e se levanta pontos que não foram atendidos na primeira etapa. Ainda é uma etapa considerada 
espontânea porque não se faz uso do conhecimento de especialistas sobre o assunto. Nela ocorrem 
várias ações, tais como o refinamento das questões, a definição dos participantes, o levantamento de 
normas e restrições de interesses e tensões, listagem dos diversos aspectos da situação que serão 
abordados, escolha dos caminhos a seguir, listagem das especialidades e dos especialistas 
envolvidos com a situação. 
Etapa 3 – Consulta aos especialistas e às especialidades. 
É a fase na qual a equipe define quais especialistas da lista serão consultados. Os membros 
da equipe podem atuar como especialistas internos ao projeto. Nesta etapa ocorre o envolvimento 
com diversas áreas do conhecimento. 
Etapa 4 – Indo à prática. 
Embora desde a primeira etapa a equipe esteja pensando sobre a situação, este é o momento 
em que se vão entrevistar pessoas, desmontar equipamentos, realizar pesquisas. Deixa-se de pensar 
apenas teoricamente sobre a situação para conectá-la à prática. 
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Etapa 5 – Abertura aprofundada de alguma caixa preta para buscar princípios disciplinares. 
É o momento de aparecer disciplinas específicas dentro de uma proposta interdisciplinar. 
Pode-se recorrer a especialistas ou não. Para os alunos se escolherá as caixas pretas que conduzem 
ao estudo de noções importantes no mundo técnico-científico e correspondentes aos pontos do 
programa a estudar. É o momento dos conteúdos escolares. 
Etapa 6 – Esquematizando a situação pensada. 
Esta etapa consiste na elaboração de uma síntese, um esquema geral que assinale os aspectos 
importantes escolhidos pela equipe. 
Etapa 7 – Abrir algumas caixas pretas sem a ajuda de especialistas. 
Pode-se buscar o aprofundamento de algumas questões sem consultar especialistas, que 
podem não estar disponíveis. É um momento de autonomia da equipe. Atualmente os recursos da 
internet possibilitam que os alunos busquem conhecimentos específicos sem o auxílio de 
especialistas. 
Etapa 8 – Elaborando uma síntese da “Ilha de Racionalidade”: O produto final. 
Para se ter uma idéia da abrangência da “Ilha de Racionalidade” é recomendável sintetizá-
la por meio de um texto objetivo que contemple os diversos elementos pensados ao longo de sua 
elaboração. Esta síntese pode orientar um trabalho posterior, um informe, como um relatório, a 
produção de um vídeo, ou de um CD. 
COMO DESENVOLVEMOS A METODOLOGIA COM OS ALUNOS 
Tendo como referência o conteúdo programático de Física para a segunda série do Ensino 
Médio, procuramos pensar em questões que envolvessem assuntos relacionados com Calor. Por esta 
razão, no ano letivo de 2002 a questão proposta foi: comodevemos proceder para manter uma 
residência de um pavimento, de 60 m2, situada na região sul do Brasil, com uma temperatura 
ambiente de 20 ºC? No ano de 2003 a situação ser resolvida foi: como devemos proceder para 
avaliar qual o melhor sistema de aquecimento de água para se utilizar em uma residência de 60 m2, 
situada em Florianópolis ? 
Os alunos tomaram conhecimento da situação e orientações da maneira como deveriam 
trabalhar, por meio de um texto, onde se apresentava a situação, uma frase que procurava dar idéia 
dos procedimentos e um quadro de atividades a serem desenvolvidas, com as respectivas datas. Isto 
porque foi destinada uma hora/aula semanal (45 minutos) para o desenvolvimento da atividade. 
Dando início às atividades, foi solicitado que os alunos formulassem, pelo menos, três perguntas 
que eles julgassem relacionadas com a situação. 
A partir da formação das equipes de trabalho, cada grupo recebeu uma pasta, contendo o 
quadro de atividades, um caderno de anotações para cada aluno e disquetes. Cada grupo se 
responsabilizou por buscar as respostas das questões levantadas no clichê e refinadas no panorama 
espontâneo. Para que os alunos pudessem interagir e saber o que cada equipe já havia respondido, 
os grupos apresentavam relatórios parciais de suas atividades. 
 
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DISCUSSÃO DOS RESULTADOS E CONCLUSÕES 
 Ao analisarmos o desenvolvimento destas atividades podemos observar que foram 
realizadas várias alterações, em relação às etapas e procedimentos sugeridos por Fourez, de modo 
que as atividades se tornassem adequadas ao espaço formal da sala de aula. 
 De maneira sintética, o quadro a seguir apresenta algumas dessas alterações. 
Quadro comparativo entre proposições teóricas e necessidades práticas 
Etapas Fourez(1994) O que foi realizado 
Zero - Apresentação da Proposta 
Formação das equipes 
Um Clichê Tempestade de idéias 
Dois Panorama Espontâneo Panorama 
Três Consulta aos Especialistas 
Quatro Indo à prática 
Cinco Abertura das caixas pretas 
Trabalho de campo 
(consulta aos especialistas, indo a 
prática, abertura das caixas pretas) 
Seis Esquematização da situação Esquema geral da situação 
Sete Abertura de caixas pretas sem auxílio 
de especialistas 
- 
Oito Síntese da Ilha Produzida Síntese/trabalho final 
 
 Observa-se o acréscimo de uma etapa, a etapa zero, na qual se apresenta o trabalho e 
a maneira como ele será desenvolvido. Também é neste momento em que são definidas as equipes 
de trabalho. Este momento é necessário porque temos que fazer com que os alunos passem a 
encarar a situação apresentada como um problema para o qual devem apresentar uma solução. Há 
uma necessidade prática para a formação de equipes de trabalho, quando se trabalha em uma sala de 
aula: torna-se mais fácil ao professor atender necessidades individuais e mais produtivos os 
resultados do trabalho. 
Entretanto, cabe-nos assinalar um equívoco que cometemos no ano de 2002: Formar as 
equipes e dar-lhes nomes (Física, Química, Biologia, Experimental, Engenharia, Geografia, Arte, 
Música e Meio Ambiente) antes da etapa 1 - o clichê. Acreditamos que este procedimento interferiu 
no tipo de questões que os alunos formularam. De certo modo, as questões foram influenciadas 
pelos grupos de trabalho que propomos. 
No ano de 2003, as equipes (Questões sobre água, Ambiental, Economia, Engenharia, 
Normas técnicas, Saúde, Equipe Técnica de aquecimento solar e gás e Equipe Técnica aquecimento 
elétrico e lenha) foram definidas a partir do agrupamento das perguntas formuladas pelos alunos, 
por ocasião do refinamento que ocorre durante a etapa panorama espontâneo. Tal agrupamento foi 
realizado pelos alunos, tendo como orientação a similaridade do assunto evocado pela pergunta. 
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As etapas 3, 4, 5 e 6 não foram destacadas para os alunos. Embora do ponto de vista teórico 
a descrição delas seja importante, julgamos que elas não precisam ser explicitadas. Como o próprio 
autor coloca, algumas etapas podem ser aglutinadas. O que queríamos era transmitir aos alunos, 
pelo menos minimamente, alguns procedimentos que eles deveriam realizar. 
A apresentação de relatórios parciais pelas equipes foi o procedimento que julgamos mais 
relevante para que os alunos percebessem o caráter interdisciplinar da atividade. Isto porque, além 
de suas conversas informais, eram nesses momentos que ficava explicitado que muitas das respostas 
não eram conseguidas sob a ótica de apenas uma área de conhecimento, representada por uma das 
equipes de trabalho. As decisões só puderam ser tomadas, a partir das informações levadas por mais 
de uma das equipes. 
 
REFERÊNCIAS 
Bettanin, E. (2003). As Ilhas de Racionalidade na promoção dos objetivos da Alfabetização 
Científica e Técnica. Dissertação de Mestrado – UFSC/CED. Florianópolis/SC. 
Brasil, Ministério da Educação, Secretaria de Educação Média e Tecnológica (2002). Parâmetros 
Curriculares Nacionais: ensino médio. Brasília: Ministério da Educação. 
Fourez, G.(1994). Alfabétisation scientifique et tecnique. Essai sur les finalités de l’enseignement 
des sciences. Belgique: De Boeck Université. 
Pietrocola M. et al. (2000). As ilhas de racionalidade e o saber significativo: o ensino de ciência 
através de projetos. Ensaio – Pesq. Educ. ciên. Belo horizonte. Vol. 2, No 1, 99-122. 
Pinheiro, T.F. et al. (2000). Um exemplo de construção de uma Ilha de Racionalidade em torno da 
noção de energia. VII Encontro de Pesquisa em Ensino de Física – EPEF. Ata em CD-Rom, 
Florianópolis. SC.

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