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1 Ana´lise vetorial em 4 dimenso˜es Espac¸o-tempo e a me´trica Minkowiskiana Para especificar a localizac¸a˜o de um ponto em um espao tridimensional, precisamos de um vetor tridi- mensional. Em coordenadas retangulares temos o vetor R = (x, y, z) Para um sistema em coordenadas cil´ındricas, teremos R = (r cos θ, r sin θ, z) E assim para outros espac¸os vetoriais. Pore´m se desejamos descrever onde e quando um evento f´ısico ocorre, precisamos de mais uma coor- denada - a temporal. E´ conveniente expressar esta em unidades de comprimento. Para tal utiliza-se a multiplicac¸a˜o pela constante universal da velocidade da luz. Desta forma teremos o vetor quadrimensional R = (x, y, z, ct) Definimos ct = τ , logo R = (x, y, z, τ) (1) Temos tambe´m para este novo espac¸o o teorema de Pita´goras: (ds)2 = R ·R = (dx)2 + (dy)2 + (dz)2 + (dτ)2 (2) onde ds representa a distaˆncia entre dois pontos de evento e e´ chamado de intervalo. Note que esta representac¸a˜o e´ muito sime´trica para que represente o mundo como o observamos Isto se deve ao fato de que ds e´ invariante sob a troca entre as coordenadas espaciais e entre qualquer coordenada espacial e a temporal. No entanto trocas entre coordenadas espaciais representa apenas uma mudanc¸a de referencial, enquanto que a troca de uma coordenada espacial por uma temporal na˜o tem sentido f´ısico algum. Buscamos enta˜o uma forma para o teorema de Pita´goras que permita a distinc¸a˜o entre a troca de qualquer diferencial espacial pela temporal, mas que seja invariante sob a troca entre diferenciais espaciais. Pode- mos fazer isso incluindo um sinal alge´brico na definic¸a˜o de modo que os crite´rios acima sejam obedecidos. Logo, (ds)2 = (dτ)2 − r · r = c2(dt)2 − r · r (3) onde r = (x, y, z), em coordenadas retangulares. Note que agora que o intervalo invariante sob per- mutac¸o˜es de dx,dy e dz, mas no entre qualquer uma destas e dt. A equac¸a˜o (3) e´ chamada de forma fundamental Minkowskiana. Note que a coordenada temporal esta´ inclu´ıda na equac¸a˜o (3). Enta˜o as transformac¸o˜es sob as quais (ds)2 permanece invariante devem incluir movimentos, isto e´, transformac¸o˜es entre sistemas referenciais que estejam em movimento relativo um com relac¸a˜o ao outro. Consideraremos o caso especial da teoria da relatividade onde dois referenciais se movem com velocidade constante um comrelac¸a˜o ao outro. Se definirmos o sentido do movimento ao longo do eixo-x, teremos: x2 = x1 − vt1 y2 = y1 z2 = z1 t2 = t1 2 Esta e´ conhecida como a transformac¸a˜o de Galileu e reflete o conceito de movimento relativo que se tinha nos tempos pre´-relatividade. Temos que (ds)2 deve ser invariante sob a mudanc¸a entre referenciais. Portanto, (ds)2 = c2(dt1) 2 − (dx1)− (dy1) 2 − (dz1) 2 = c2(dt2) 2 − (dx2)− (dy2) 2 − (dz2) 2 Fazendo a substituic¸a˜o proposta (dx1) 2 = (dx1 − vdt1) 2 desenvolvendo a poteˆncia e rearranjando, vdt1(vdt1 − 2dx1) = 0 que e´ de modo geral imposs´ıvel. Desta forma somos levados a pensar que ha´ algo fundamentalmente errado com a concepc¸a˜o cla´ssica de velocidade relativa. Motivac¸a˜o geome´trica para os fenoˆmenos relativ´ısticos Antes de iniciarmos esta discussa˜o deve-se fazer uma observac¸a˜o: a transformac¸a˜o de Galileu leva em considerac¸a˜o que a informac¸a˜o de um evento viaja com velocidade infinita (e isso e´ uma boa aproximac¸a˜o para eventos que ocorrem em distaˆncias costumeiras ao nosso cotidiano e para referenciais que se movem com velocidades a`s quais estamos acostumados), mas na verdade a forma de propagac¸a˜o mais ra´pida e´ por meio de ondas eletromagne´ticas e estas se propagam com velocidade finita e esta e´ constante para qualquer referencial independentemente da velocidade deste1. Sendo assim, pode-se inciar algumas discusso˜es. Simultaneidade Vamos supor o seguinte experimento mental: Um observador na origem O, do referencial S1 coloca dois explosivos nos pontos C1 e C2 neste mesmo referencial. de modo que OC1 e OC2 sejam iguais. Ele utiliza sinais eletromagne´ticos que ira˜o detonar os explosivos simultaneamente no referencial S1. Suponha que estas exploso˜es ocorram quando o observador em O esteja de frente para um observador em O′ que esta´ em referencial que se move com uma velocidade, v, muito alta no sentido de C1 para C2 (digamos que este esteja em um trem). As exploso˜es fazem marcas nas laterais do trem, mas como a velocidade do trem e´ muito alta o observador dentro do trem veˆ primeiro a explosa˜o em C′2 e depois em C′1. Portanto o observador em S2 conclui que as exploso˜es na˜o foram simultaˆneas. Do ponto de vista de O, C2C1 = C ′ 2 C′ 1 , mas para O′ o ponto C′2 passou por C2 antes de C ′ 1 passar por C1 (j’a que ele recebeu o sinal de C ′ 2 antes).Logo, para O ′, C2C1 < C ′ 2 C′ 1 . Um fato interessante e´ que as discordaˆncias de comprimento e tempo e´ tal que nos dois referenciais chega-se ao mesmo resultado para a velocidade do pulso eletromagne´tico. Dilatac¸a˜o temporal Considere agora outro experimento mental onde pretende-se calcular o tempo de um evento visto de dois referenciais. Considere um observador em O′ que emite um sinal luminoso em um espelho a` uma distaˆncia l. O tempo medido por este e´ T ′ = ∆t′. Um observador em O possui relo´gios em duas posic¸˜[o]es, C1 e C2, que coincidem com O′ no instante em que este emite o feixe e quando o recebe, respectivamente, e este se movimenta com velocidade v em relac¸a˜o a` O′. Temos pelo teorema de Pita´goras que c2∆t2 = v2∆t2 + l2 1Interessados podem ver o experimento de Michelson-Morley 3 (onde l e´ a distaˆncia perpendicular ao movimento de O ate´ o espelho). O tempo medido em O e´ dado por T = 2∆t. Isolando ∆t no teorema de Pita´goras temos que: ∆t = l2 c2 − v2 = l c 1√ 1− v 2 c2 Consideramos que a distaˆncia entre o espelho e os observadores e´ a mesma quando ambos esta˜o em repouso. No entanto o movimento relativo na˜o altera nada no sentido perpendicular ao sentido de movimento (porque a inconsisteˆncia com relac¸a˜o a` simultaneidade esta´ relacionada com a velocidade finita de propagac¸a˜o das ondas eletromagne´ticas no sentido de movimento dos observadores). Portanto: ∆t = l′ c 1√ 1− v 2 c2 E como l ′ c = ∆t′ temos, multiplicando os dois lados da equac¸a˜o, T = T ′√ 1− v 2 c2 Note que como v < c enta˜o T > T ′, ou seja, em um referencial onde um evento ocorre em um mesmo local e´ maior em um referencial que se move. Contrac¸a˜o do espac¸o Vamos recorrer a um terceiro e u´ltimo experimento mental para analisar este caso. Considere uma re´gua de comprimento L em repouso em um referencial O onde em seus extremos esta˜o localizados dois relo´gios, C1 e C2. Considere um segundo referencialO ′ que possui uma velocidade relativa, v, com relac¸a˜o primeiro. T ′ e´ o intervalo de tempo em que o observador em O′ v os extremos da frente e de tra´s da re´gua passar por ele. Este observador pode relacionar o mo´dulo do comprimento da re´gua com a velocidade e o tempo que esta demora para passar por ele: L′ = vT ′ Pode-se pensar analogamente para medidas realizadas do ponto de vista de O: L = vT Como o mo´dulo da velocidade e´ a mesma, enta˜o podemos escrever L′ = L T ′ T Mas obtivemos a relac¸a˜o entre T ′ e T no caso anterior. Portanto, podemos reescrever esta u´ltima equac¸a˜o como L′ = L √ 1− v2 c2 Ou seja, ao medir-se o comprimento de uma re´gua de um referencial em movimento observa-se uma contrac¸a˜o do comprimento da mesma. Obtivemos aqui alguns resultados relativ´ısticos a partir de argumentos geome´tricos. Na pro´xima sec¸a˜o sera´ desenvolvida uma discussa˜o formal deste assunto. 4 Transformaca˜o de Lorentz¸ Supondo que a transformac¸a˜o de x1, t1 para x2, t2 seja linear e homogeˆmea, podemos definir a seguinte relac¸a˜o entreas coordenadas x2 = ax1 − bct1 y2 = y1 z2 = z1 ct2 = ex1 + fct1 (4) onde a, b, e, f sa˜o constantes que no dependem de x1, t1 A linearidade assumida garante que a taxa de variac¸a˜o no dependa da localizac¸a˜o no tempo e espac¸o. A homogeneidade assumida garante que a origem seja preservada na transformac¸a˜o (x1 = ct1 = 0⇒ x2 = ct2 = 0). Como os dois sistemas se movem com velocidade constante um em relac¸a˜o ao outro, deve-se esperar que as constantes dependam de v. Partindo de (4) e assumindo a invariaˆncia no intervalo ds, temos: (ct22)− x 2 2 ≡ s ≡ (ct 2 1)− x 2 1 (ex1 + fct1) 2 − (ax1 − bct1) 2 ≡ (ct21)− x 2 1 (e2 − a2 + 1)x21 + (f 2 − b2 − 1)c2t21 + 2c(ef + ab)x1t1 ≡ 0 Logo, temos que a2 − e2 = 1 f2 − b2 = 1 ef + ab = 0 Resolvendo: a = √ 1 + e2; f = √ 1 + b2 Portanto e √ 1 + b2 = −b √ 1 + e2 Elevando ao quadrado os dois lados da igualdade chegamos a e2(1 + b2) = b2(1 + e2)⇒ e2 = b2 Portanto b = ±e tambe´m temos que f = ±a Queremos que quando v −→ 0, a transformac¸a˜o de Galileu seja obtida. Enta˜o se a −→ 1, f −→ 1. Portanto f = a deve ser escolhido. Para que ef + ab = 0 seja respeitado ento, b = −e. Ainda, para x2 = 0 temos que x1 = vt1. E como bct1 = ax1 temos que bc = va. Logo, a2 = 1 + e2 = 1 + b2 = 1+ v2 c2 a2 =⇒ a2(1− µ2) = 1 =⇒ a = 1√ 1− µ2 (5) 5 Onde µ = v c O raiz positiva foi escolhida para que lim v→0 a = 1. Temos tambm que b = √ f2 − 1 = √ a2 − 1 = v c a (6) Onde o sinal positivo foi escolhido para que x2 ≈ x1 − vt1 para velocidades baixas. Portando temos que (4) fica da seguinte forma: x2 = a(x1 − ct1µ) y2 = y1 z2 = z1 ct2 = a(ct1 − x1µ) (7.1) Esta e´ chamada de transformaa¸a˜o de Lorentz. A transformaa¸a˜o inversa e´ obtida tomando-se v = −v: x1 = a(x2 + ct2µ) y1 = y2 z1 = z2 ct1 = a(ct2 + x2µ) (7.2) Pelo me´todo de obtenc¸a˜o nota-se que esta transformaa¸a˜o na˜o contradiz a invariaˆcia do intervalo. Tomando a forma diferencial de (7.1): dx2 = a(dx1 − cdt1µ) dy2 = dy1 dz2 = dz1 cdt2 = a(cdt1 − dx1µ) (8) Dividindo-se dx2 por dt2: u2 = dx2 dt2 = c(dx1 − cdt1µ) (cdt1 − dx1µ) Temos que cµ = v. Enta˜o u2 = cu1 − cv c− vu1 c =⇒ u2c− vu1u2 c = cu1 − cv =⇒ vc(1− u1u2 c2 ) = c(u1 − u2) =⇒ v = u1 − u2 1− u1u2 c2 (9) Note que para u1u2 <<< c 2, v ≈ u1 − u2 e para u1 −→ c, v = c−u2 1− u2 c = c Forma vetorial No tratamento anterior supusemos dois referenciais que tem os eixos coincidentes e que se movem na direc¸a˜o de x. No entanto podemos considerar uma velocidade v na˜o necessariamente na direc¸a˜o de x. Qualquer vetor r pode ser decomposto na soma vetorial de suas componentes paralela e perpendicular de v. r‖v = |r| cos θvˆ = |r| cos θ v v = |r| ∣∣∣v v ∣∣∣ cos θv v = |r||v| cos θ v v2 = 〈r,v〉 v v2 6 Temos tambe´m r⊥v = r− r‖v = r− 〈r,v〉 v v2 Enta˜o, r1 = 〈r1,v〉 v v2 − [ r1 − 〈r1,v〉 v v2 ] (10) Note que a componente perpendicular do vetor r1 na˜o e´ afetada pela transformac¸a˜o de Lorentz enquanto que a componente paralela o e´. De modo ana´logo ao feito para a velocidade na direc¸a˜o do eixo-x, r2 = [ r1 − 〈r1,v〉 v v2 ] + a [ 〈r1,v〉 v v2 − vt1 ] (11.a) ct2 = a [ ct1 − 〈r1,v〉 v v2 · v c ] (11.b) Ou ainda, r2 = r1 + (a− 1)〈r1,v〉 v v2 − avt1 (12.a) ct2 = a [ ct1 − 〈r1,v〉 c ] (12.b) Conceitos relativ´ısticos e o cone nulo Vimos que o conceito de velocidade relativa teve de ser alterado. Analisaremos agora como alguns outros conceitos se modificam para que estes respeitem o princ´ıpio da relatividade que diz que e´ imposs´ıvel distinguir entre dois eventos (descritos em termos de conjuntos de coordenadas espac¸o-temporais) rela- cionados por uma transformac¸a˜o de Lorentz. Ou seja, as leis da f´ısica devem ser invariantes sob uma transformac¸a˜o de Lorentz. Analisaremos o conceito de simultaneidade temporal. Se dois eventos ocorrem simultaneamente sob uma separac¸a˜o espacial em um referencial S1 (dx1 6= 0 e dt1 = 0). Enta˜o, de acordo com (8): −cdt2 = adx1µ 6= 0 (13) Logo, os dois eventos na˜o sa˜o vistos simultaneamente em S2. Analogamente, se dois eventos ocorrem em uma mesma regia˜o do espac¸o e em tempos diferentes em S1 (dx1 = 0 e dt1 6= 0), teremos para S2 dx2 = −acdt1µ 6= 0 (14) Ou seja, no ocorrem na mesma regia˜o do espac¸o no outro referencial. Vejamos agora os conceitos de dilatac¸a˜o temporal e contrac¸a˜o espacial: Considere um basta˜o em repouso no referencial S2 de tamanho dx2. Se as extremidades deste sa˜o observadas simultaneamente do referencial S1, enta˜o: dx2 = adx1 > dx1 para a > 1 (15) Ou seja, o observador em S1, ”em movimento”, vai ver o basta˜o menor do que o observador em S2, ”em repouso”. Agora consideremos um relo´gio em repouso no referencial S1 (dx1 = 0). Portanto, dt2 = adt1 > dt1 a > 1 (16) Ou seja, o tempo no referencial S2, ”em movimento”, e´ maior (dilatado) em relac¸a˜o ao referencial S1, ”em repouso”. 7 Na transformac¸a˜o de Lorentz ds2, e na˜o dt2 ou |dr|2, e´ invariante. Vamos introduzir um tipo de tempo que e´ invariante (tempo pro´prio): ds2 = c2dt2 − |dr|2 = c2dt2 [ 1− |dr|2 c2dt2 ] ⇒ ds2 = c2dt2 [ 1− v2 c2 ] = c2(1− µ2)dt2 ⇒ ds2 = c2 ( dt a )2 ⇒ ds2 = c2dτ2 Onde dτ e´ chamado de intervalo de tempo pro´prio. τ e´ o tempo medido por um relo´gio que se move juntamente com a part´ıcula. Para uma part´ıcula de mate´ria, v < c, temos: ds2 = c2dt2 − dr · dr = (c2 − v2)dt2 > 0 (17) Para um fo´ton que se move com v = c: ds2 = c2dt2 − dr · dr = (c2 − v2)dt2 = 0 (18) Em termos de diferenc¸as finitas, podemos reescrever (18) como sendo: c2(t− t0) 2 − [(x− x0) 2 + (y − y0) 2 + (z − z0) 2] = 0 (19) A equac¸a˜o (19) representa um locus quadrimensional, denominado de cone nulo, que e´ ana´logo a um cone tridimensional e possui seu apex no ponto de evento (ct0, x0, y0, z0). Este e´ assim chamado pois e´ o locus de todos os pontos de evento separados de (ct0, x0, y0, z0) por um intervalo, (s− s0), zero. Este tambe´m representa todas as poss´ıveis trajeto´rias de fo´tons atrave´s deste ponto de evento. Os pontos no interior do cone nulo sa˜o caracterizados pela desigualdade: (s− s0) 2 = c2(t− t0) 2 − (r− r0) 2 > 0 ou na forma diferencial ds2 = cdt2 − |dr|2 > 0 Todos os intervalos ds que respeitam essa desigualdade sa˜o denominados timelike intervals e esta˜o asso- ciados com as poss´ıveis trajeto´rias de part´ıculas de mate´ria. Analogamente, os intervalos para as regio˜es fora do cone, temos: ds2 = cdt2 − |dr|2 < 0 Todos os intervalos ds que respeitam esta outra desigualdade sa˜o chamados de spacelike intervals e este caso e´ fisicamente proibido uma vez que ocorre para part´ıculas com velocidades superiores a velocidade da luz. Os pontos sobre o cone nulo e no seu interior podem ser interpretados como futuro, presente e passado de acordo com as possibilidades dt > 0, dt = 0 e dt < 0. O movimento de uma part´ıcula de mate´ria e´ descrito por um espac¸o curvo passando continuamente pelos pontos de evento Esta curva se chama linha mundo da part´ıcula e se situa no interior do cone nulo (uma vez que esta na˜o pode atingir a velocidade da luz). Note que para cada tempo fixo a equac¸a˜o (19) descreve uma circunfereˆncia no espac¸o. O que faz sentido ja´ que fo´tons se propagam esfericamente no espac¸o. E para part´ıculas de mate´ria temos toda a regia˜o dentro das esferas em cada instante de tempo. 8 Vetores no espac¸o-tempo e a relac¸a˜o com a energia relativ´ıstica Veremos agora como quantidades comuns no R3 podem ser generalizadas para o espac¸o-tempo. Temos a definic¸a˜o do produto escalar dR · dR como sendo: dR · dR = c2dt2 − dr · dr = ds2Enta˜o para quaisquer vetores no espac¸o-tempo, u e v, temos o produto escalar: u · v = u4v4 − (u3v3 + u2v2 + u1v1) (20) Temos definido R e dR como sendo os vetores posic¸a˜o e deslocamento infinitesimal no espac¸o-tempo, respectivamente. Podemos definir velocidade ainda como sendo a variac¸a˜o da coordenada com relac¸a˜o ao tempo: v = dR dt Podemos escrever2 ds2 = (dtR · dtR)dt 2 onde a notac¸a˜o dt foi tomada no lugar de d dt . No entanto, vimos que dt na˜o e´ invariante no tempo e por isso devemos expressar as derivadas com relac¸a˜o ao tempo pro´prio, τ , definido. ds2 = (dτR · dτR)dτ 2 (21) Como ds e dτ sa˜o invariantes, definimos a velocidade no espac¸o-tempo, V, como sendo: ( ds dτ )2 = dV 2 = dτR · dτR (22) Que e´ o quadrado da magnitude de V = dτR = (cdτ t, dτr) (23) Temos ds2 = (c2 − v2)dt2 = c2dt2 ( 1− v2 c2 ) = c2 dt2 a2 = c2dτ2 Portanto dτ t = a Por consequeˆncia: V = (ac, dτr) = a ( c, dr adτ ) = a ( c, dr dt ) = a(c,v) (24) Temos tambe´m, V ·V = a2c2 − a2v2 = a2(c2 − v2) = c2 − v2 1 1− v 2 c 2 = c2 (25) Ou seja, V tambe´m e´ invariante. Se supusermos que ha´ medidas invariantes das propriedades inerciais da part´ıcula (que na˜o dependem da 2Mais formalmente deve-se fazer a seguinte (ate´ a equac¸a˜o (22)) passagem em termos de diferenc¸as finitas e enta˜o tomar o limite de ∆t indo pra zero para retomar a forma diferencial 9 velocidade desta), podemos definir m0 como sendo a massa de repouso da part´ıcula. Definimos enta˜o, naturalmente, o momento quadridimensional como sendo, P = m0V = m0a(c,v) = (m0ac,m0av) (26) Onde podemos interpretar a componente espacial como sendo o momento usual tridimensional. Portanto am0 = m e´ a massa usual. Assim, P = (mc,mv) = (mc,p) (27) Temos que V = dτR P = m0dτR Tomando dτP, dτP = m0d 2 τR Portanto, V ·P = m0(dτR · d 2 τR) = m0 2 dτ (dτR · dτR) mas dτR · dτR = c 2, portanto, V ·P = 0 (28) Temos que dτP = (dτ (mc), dτp), mas dτ = adt. Logo, dτP = a(dt(mc), dtp) e tambe´m V = a(c,v) Usando o resultado (28): V · dτP = a 2(dt(mc 2)− v · dtp) = 0 Como a > 0 dt(mc 2) = v · dtp = v ·F (29) Obs.: Temos Wc = ∫ c F · dx = ∫ c F · vdt ⇒ dWc dt = F · v ⇒ P (t) = F · v e portanto d(mc 2) dt = P (t) ⇒ d(mc2) = P (t)dt = dW ou, no caso de transformac¸a˜o de energia, dE. Onde dE e´ a variac¸a˜o de energia devido a` variac¸a˜o de momento. Portanto, E = mc2 = am0c 2 = aE0 (30) Onde E0 e´ a energia de repouso. Para pequenas velocidades em relac¸a˜o a` c: E = aE0 = E0√ 1− µ2 = E0 [ 1 + µ2 2 + 3µ4 8 + · · · ] ⇒ E ≈ m0c 2 + m0v 2 2 + 3m0v 4 8c2 + · · · (31) onde o segundo termo e´ a energia cine´tica cla´ssica (pre´-relativ´ıstica). Usando E = mc2 podemos escrever P = (mc,p) = ( E c ,p ) (32) 10 Temos P = m0V e V ·V = c 2. Logo, P ·P = E2 c2 − p · p = m20c 2 = E20 c2 Portanto, E2 c2 − E20 c2 = p · p (33) Ou ainda, E2 = m20c 4 + c2p · p (34) Discutimos ate´ aqui o caso para uma part´ıcula discreta, mas podemos discutir o caso de um cont´ınuo generalizando os conceitos pre´-relativ´ısticos de densidade de massa, ρ, e de densidade de corrente, J = ρv. Para quatro dimenso˜es temos: J′ = ρ0V = ρ0a(c,v) = ρ(c,v) = (ρc,J) (35) onde ρ0 e´ a densidade de massa de repouso (invariante sob a transformac¸a˜o de Lorentz) de uma massa continuamente distribu´ıda. A densidade de massa aparente para um observador que se move com relac¸a˜o ao flu´ido e´ dado por ρ = aρ0 > ρ0. Portanto a massa de repouso contida em um volume dV0 = adV e´: dm0 = ρ0dV0 = aρ0dV = ρdV (36) Definindo um operador del em quatro dimenso˜es: Υ = (−∂ct,∇) (37) Enta˜o teremos para um sistema onde na˜o haja fonte de mate´ria e nem um “sumidouro”de mate´ria3: −Υ · J′ = ∂ct(ρc) +∇J = 0 mas, ∇J = (∂xρvx + ∂xρvy + ∂xρvz)i+ (∂yρvy + ∂yρvx + ∂yρvz)j+ (∂zρvz + ∂zρvx + ∂zρvy)k Lembrando que ρ depende de ρ0 e a (este u´ltimo dependendo de v e c que sa˜o constantes) e portanto e´ constante e como vx na˜o tem dependeˆncia em y e z e assim para as outras componentes da velocidade. Temos que ∇J = (∂xρvx)i+ (∂yρvy)j+ (∂zρvz)k = ∇ · J Enta˜o, −Υ · J′ = ∂ct(ρc) +∇ · J = 0 (38) Essa e´ a equac¸a˜o da conservac¸a˜o de massa e energia. Tambe´m conhecida como equac¸a˜o da continuidade. Podemos definir uma densidade quadrimensional de forc¸a˜ como sendo, F = dτJ ′ = ρ0dτV (39) como adτ = dt, F = a a ρ0dτV = ρdtV 3Lembrando da definic¸a˜o de produto escalar para que na˜o se tenha uma simetria com relac¸a˜o a` permutac¸a˜o de coorde- nadas espaciais e temporal 11 Tambe´m V ·V = c2, V · dtV = 0 e enta˜o F ·V = ( dτ (e c ) , dτJ ) · a(c,v) = 0 Onde e = ρc2 e´ a densidade de energia. F ·V = a2(dte − f · v) = 0 (40) Ou seja, dte = f · v Esta igualdade mostra que a variac¸a˜o da densidade de energia e´ igual a` densidade de poteˆncia. Equac¸a˜o de Klein-Gordon Observac¸a˜o: Para mais detalhes formais sobre mecaˆnica quaˆntica, recomenda-se recorrer a um livro espec´ıfico sobre o assunto. Em mecaˆnica quaˆntica, conhecendo-se a func¸a˜o de onda que descreve o sistema, utiliza-se operadores para se determinar observa´veis (ex.: energia, momentum linear, momentum angular, etc). Cada observa´vel e´ representada por um operador espec´ıfico Temos as seguintes substituic¸o˜es: E ∼ − h 2pii ∂t p ∼ h 2pii ∇ Determinamos anteriormente que: E2 − c2p · p− E20 = 0 Ou ainda E2 − c2p · p−m20c 4 = 0 Fazendo as substituic¸o˜es acima definidas, e aplicando os operadores em uma func¸a˜o φ por questo˜es de sentido matema´tico, teremos: [h¯2∂2t + h¯ 2c2∇2 −m20c 4]φ = 0 (42) Onde h¯ = h2pi e h e´ a constante de Plank. Dividindo-se (42) por −h¯ 2c2:[ 1 c2 ∂2t −∇ 2 + m20c 2 h¯2 ] φ = 0 (43) Ou ainda, [ ∂2ct −∇ 2 + ( E0 h¯c )2] φ = 0 (44) Onde ∂2ct−∇ 2 e´ conhecido como operador D’Lambertiano. A func¸a˜o φ na˜o e´ ainda definida como ana´loga a` func¸a˜o de onda Ψ que e´ soluc¸a˜o da equac¸a˜o de Scho¨dinger. (44) e´ denominada equac¸a˜o de Klein-Gordon. A equac¸a˜o de Scho¨dinger, − h¯ 2m ∇2Ψ+ VˆΨ = ih¯∂tΨ (45) e´ inapropriada para um tratamento relativ´ıstico uma vez que os operadores espaciais e temporal na˜o sa˜o de mesma ordem e portanto esta na˜o e´ invariante sob uma transformac¸a˜o de Lorentz. Ja´ (44) e´ invariante uma vez que os operadores sa˜o derivadas de mesma ordem. No entanto (44) tem um problema com relac¸a˜o a` interpretac¸a˜o probabil´ıstica. 12 Interpretac¸a˜o probabil´ıstica Vamos comec¸ar fazendo uma ana´lise da equac¸a˜o de Scho¨dinger: Tomando (45) e sua complexo conjugado, temos − h¯2 2m ∇2Ψ+ VˆΨ = ih¯∂tΨ (A) − h¯2 2m ∇2Ψ∗ + VˆΨ∗ = −ih¯∂tΨ ∗ (B) Multiplicando (A) por Ψ∗, (B) por Ψ e subtraindo (B) de (A): ih¯[Ψ∗∂tΨ+Ψ∂tΨ ∗] = − h¯2 2m [Ψ∗∇2Ψ−Ψ∇2Ψ∗] Ou ainda, ih¯∂t[Ψ ∗Ψ] = − h¯2 2m ∇ · [Ψ∗∇Ψ−Ψ∇Ψ∗] Reorganizando, ∂t|Ψ| 2 + h¯ 2mi ∇ · [Ψ∗∇Ψ−Ψ∇Ψ∗] = 0 Ou ainda, ∂t|Ψ| 2 +∇ · [ h¯ 2mi (Ψ∗∇Ψ−Ψ∇Ψ∗) ] = 0 (46) Note que (46) e´ a equac¸a˜o da continuidade, onde ρ = |Ψ|2 e J = h¯ 2mi (Ψ∗∇Ψ−Ψ∇Ψ∗) Sendo ρ uma densidade de probabilidade e J uma densidade de corrente de probabilidade. Integrando sobre todo o espac¸o, teremos∫∫∫ V ∂t|Ψ| 2dV = − ∫∫∫ V ∇ · JdV = − ∮ S J · ndS Onde tambe´m utilizou-se o teorema da divergeˆncia para obter o u´ltimo membro. A equac¸a˜o de Scho¨dinger pode formalmente ser obtida mediante um tratamento envolvendo ana´lise de Fourier e portanto as func¸o˜es Ψ devem obedecer: lim (x,y,z)→(∞,∞,∞) Ψ(x, y, z, t) = 0 lim (x,y,z)→(∞,∞,∞) Ψ∗(x, y, z, t) = 0 Como estamos integrando sobre todo o espac¸o,as fronteiras da superf´ıcie S esta˜o no infinito e portanto na˜o ha´ fluxo. Sendo assim,assumindo a independeˆncia entre as varia´veis espaciais e temporal,∫∫∫ V ∂t|Ψ| 2dV = ∂t ∫∫∫ V |Ψ|2dV = 0 Sendo assim, ∫∫∫ V |Ψ|2dV = K 13 Onde K e´ uma constante independente do tempo. Como estamos atribuindo um sentido de densidade de probabilidade a` |Ψ|2 e´ intuitivo que fac¸amos K = 1. Faremos agora uma ana´lise semelhante para a equac¸a˜o de Klein-Gordon. Tomando (44) e seu complexo conjugado, ∂2ctφ−∇ 2φ+ ( E0 ch¯ )2 φ = 0 (A) ∂2ctφ ∗ −∇2φ∗ + ( E0 ch¯ )2 φ∗ = 0 (B) Multiplicando (A) por φ∗, (B) por φ e subtraindo uma da outra: [φ∗∂2ctφ− φ∂ 2 ctφ ∗] = φ∗∇2φ− φ∇2φ∗ ⇒ ∂ct[φ ∗∂ctφ− φ∂ctφ ∗] = ∇ · [φ∗∇φ− φ∇φ∗] (47) Note que esta equac¸a˜o e´ pode ser relacionada com a equac¸a˜o de continuidade definida em (38). Sendo: ρc = φ∗∂ctφ− φ∂ctφ ∗ (48) J = φ∗∇φ− φ∇φ∗ (49) a densidade (vamos assumir, a` priori que seja de probabilidade) e densidade de corrente, respectivamente. Podemos reescrever (48) como uma derivada do quociente ajustando de forma adequada, ρc = −φ2∂ct ( φ∗ φ ) Temos ainda φ = |φ|eiθ, logo φ2 = |φ|2e2iθ e φ ∗ φ = e−2iθ. Portanto, ρc = −|φ|2e2iθ∂cte −2iθ = 2i|φ|2∂ctθ (50) Note que ρ na˜o e´ real e portanto na˜o pode ser interpretado como uma densidade de probabilidade. A equac¸a˜o de Klein-Gordon, enta˜o, descrevendo alguma part´ıcula, descreveria uma que na˜o e´ localiza´vel. Ou seja, uma que na˜o possuiria uma densidade de probabilidade definida. Esta equac¸a˜o pode ser tornar u´til na descric¸a˜o de Bo´sons se o conceito de amplitude de probabilidade for apropriadamente generalizada vetorialmente. 14 Bibliografia A.Kyrala. Theoretical Physics: Applications of vectors, matrices, tensors and quaternions. 1967, W. B. Saunders company. p. 247-275 Griffths, David J. Introduction to quantum mechanics. 1995, Prentice Hall. Eisberg, R; Resnick, R. Quantum Physics of atoms, molecules, solids, nuclei, and particles. 1985, John Whiley & Sons
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