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Introdução: Antes de analisar especificamente o instituto da reincidência, faz- se necessário uma breve introdução sobre o sistema de aplicação da pena privativa de liberdade adotado pelo Direito Penal brasileiro. Depreende-se da leitura do art. 68 do Código Penal[1] que foi adotado o sistema trifásico para a dosimetria da pena, também conhecido como sistema Nelson Hungria[2], o qual impõe ao julgador que, ao aplicar a pena in concreto ao réu, respeite a seguinte ordem: primeiramente, devem ser analisadas as circunstâncias judiciais previstas no art. 59 do Código Penal[3], momento em que será fixada a pena base (1a fase); logo depois, serão analisadas as eventuais circunstâncias atenuantes e agravantes presentes no caso concreto (2a fase); e, por fim, a 3a fase compreende a análise das causas de diminuição e de aumento de pena. Sabendo-se que o Código Penal, em sua parte geral, traz a reincidência como um das agravantes da pena[4], este instituto deve ser analisado na 2a fase da dosimetria, logo após a fixação da pena base. Com relação ao quantum que a pena base será agravada, consagrou- se na jurisprudência que deverá ser aumentada na fração de 1/6. Nesse contexto, "a aplicação de fração superior a 1/6 pela reincidência exige motivação idônea[5]", sob pena de nulidade da dosimetria elaborada pelo julgador. Quanto ao conceito deste instituto, interessante transcrever o que dispõe o art. 63 do Código Penal: "verifica-se a reincidência quando o agente comete novo crime, depois de transitar em julgado a sentença que, no País ou no estrangeiro, o tenha condenado por crime anterior." Ocorre que este conceito deve ser complementado pelo artigo 7o da Lei de Contravenções Penais (Lei no 3.688/41): "verifica-se a reincidência quando o agente pratica uma contravenção depois de passar em julgado a sentença que o tenha condenado, no Brasil ou no estrangeiro, por qualquer crime, ou, no Brasil, por motivo de contravenção." 2. Requisitos: Da análise dos dispositivos acima, é possível identificar os requisitos necessários para que o julgador, na 2a fase da dosimetria, possa justificar a incidência da agravante da reincidência, quais sejam: a) existência de condenação penal anterior transitada em julgado; b) cometimento de nova infração penal após a condenação definitiva anterior[6]. Porém, o instituto da reincidência é complexo, exigindo uma análise mais aprofundada de algumas peculiaridades - análise esta que será feita no decorrer deste artigo. Interessante analisar o quadro de estudo: 1o Momento: 2o Momento Consequência: Condenação penal definitiva por crime noBrasil ou no estrangeiro Cometimento de um novo crime Reincidência (art. 63, CP) Condenação penal definitiva por crime noBrasil ou no estrangeiro Cometimento de uma contravenção penal Reincidência (art. 7o, LCP) Condenação penal definitiva porcontravenção penal praticada no Brasil Cometimento de uma nova contravençãopenal Reincidência (art. 7o, LCP) Porém, como já mencionado, o Brasil adotou a reincidência ficta e, com isso, acabou permitindo, muitas vezes, que um agente sendo reincidente nunca tenha chegado a cumprir uma parcela de sua pena, só possuindo contra ele uma sentença condenatória transitada em julgado. Condenação penal definitiva porcontravenção penal praticada no Brasil Cometimento de crime NÃO gera reincidência: ausência de previsão legal. Contudo, gera Maus Antecedentes. Condenação penal definitiva porcontravenção penal praticada no estrangeiro Cometimento de crime ou contravenção Não gera reincidência (art. 7o, LCP).
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