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A CLASSE OPERÁRIA VOLTA AO PARAÍSO – CONTRIBUIÇÕES PARA O DEBATE SOBRE A SITUAÇÃO ATUAL DA CLASSE TRABALHADORA Daniel Lage, Julho de 2012 Questão de ordem Quantos são os trabalhadores “chãodefábrica” no Brasil hoje? Qual a quantidade de trabalhadores da indústria em relação à população brasileira? Em qual faixa salarial a maioria desses trabalhadores se encaixam? Eis aí algumas perguntas que comumente rondam as especulações sobre o presente, passado e futuro da classe operária. Enquanto especulações, muitas vezes, pela ausência de dados sobre o assunto, aceitase um conjunto de ideias que chamaremos aqui de “senso comum” sobre a condição dos operários brasileiros. Afirmações do tipo “a classe operária está acabando” ou “os operários são uma minoria” ou ainda “a classe operária é hoje classe média alta” são expressões desse senso comum do qual devemos sempre desconfiar. De modo geral, esse conjunto de ideias parte da pressuposição de que houve um passado tipicamente operário, tempos caracterizados como o “auge do movimento operário”. Nessa época, os operários ganhavam baixos salários e eram maioria dentro do conjunto da classe trabalhadora. Mas mudanças no mundo do trabalho, principalmente a chamada reestruturação produtiva, alteraram essa situação. Por um lado, muitos trabalhadores foram substituídos por máquinas, o que levou a redução dos empregos na indústria, e aqueles que continuaram nessa atividade passaram a compor uma minoria em relação aos outros setores de atividade. Por outro lado, seja por estarem mais qualificados ou por conseguirem se organizar melhor, esses trabalhadores tornaramse a fatia da classe trabalhadora com altos salários, podendo se encaixar no que comumente se chama de classe média. É sobre essas ideias que colocaremos uma questão de ordem. Seguindo o conselho de Walter Benjamim, segundo o qual “o crítico precisa ter a atualidade bem agarrada pelos chifres”, recorreremos aos bancos de dados que tratam da quantidade de trabalhadores ativos no Brasil em diversos anos até hoje. Ao mesmo tempo, faremos algumas reflexões sobre as construções ideológicas que pairam sobre a classe operária, tentando identificar o significado desse senso comum. Por fim, no que toca diretamente a conjuntura da luta de classes, esperamos conseguir levantar armas para a batalha qualitativa, isto é, os trabalhos necessários de mobilização e 1 organização da classe trabalhadora. Pois se a realidade imediata nos diz que a classe está mais embebida em fetiches consumistas e ambições individuais do que antes, é a leitura atenta dessa mesma realidade que insiste em colocar sobre a classe trabalhadora as condições objetivas para a superação da exploração do trabalho como forma determinante de produção da vida. Crescimento absoluto e relativo Dizse comumente que o operariado brasileiro já foi quantitativamente maior, mas hoje diminuiu e essa diminuição é contínua. Será isso verdade? Para fazer os cálculos que respondem a essas e outras perguntas utilizaremos duas fontes. Uma delas é o banco de dados da RAIS (Relação Anual de Informações Sociais) que agrega informações desde 1985 sobre todos os trabalhadores com registro em carteira. A coleta de dados da RAIS, sob responsabilidade do Ministério do Trabalho e Emprego, é feita anualmente através de formulário obrigatório para todas as empresas. A outra fonte de dados é a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) feita pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A PNAD começou sua coleta em 1967, e de lá pra cá passou por diversas alterações metodológicas, a última delas em 2002. As alterações metodológicas infelizmente inviabilizam a comparação de dados e muitas vezes interrompem séries históricas. A simples alteração de questionários ou de nomenclatura para classificação das ocupações são mudanças que causam essa quebra. Por conta da última alteração metodológica, a série histórica que utilizaremos dos dados da PNAD corresponde ao período de 2002 a 2009. Vale dizer que a PNAD, sendo uma pesquisa por amostra à domicílios, capta dados dos trabalhadores registrados e não registrados. Para complementar essa série usaremos os dados do censo 2010 junto à série história de 2002 a 2009. Vejamos, então, a evolução da população operária com carteira assinada segundo os dados da RAIS desde o início desse banco de dados até seu último registro, isto é, de 1985 a 2010: 2 Vejamos também a evolução do número de trabalhadores nesse mesmo período, só que agora desagregado pelos subsetores de atividade que compoem, segundo o IBGE, o Grande Setor da Indústria1: Por fim, vejamos os números dos trabalhadores da indústria segundo a PNAD/Censo 2010: 1 Para consulta sobre a relação entre os setores, subsetores e grandes setores com dados de 2010, ver Anexos. 3 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 0 1.000.000 2.000.000 3.000.000 4.000.000 5.000.000 6.000.000 7.000.000 8.000.000 9.000.000 Gráfico 1 - Número de Trabalhadores no Grande Setor da Indústria 1985-2010 Fonte: RAIS 4,8 milhões 8,5 milhões6,6 milhões 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 0 2.000.000 4.000.000 6.000.000 8.000.000 10.000.000 Gráfico 2 - Número de Trabahadores da Indústria por Subsetor de Atividade 1985-2010 01-Extrativa Mineral 02-Prod. Mineral Não Metálico 03-Indústria Metalúrgica 04-Indústria Mecânica 05-Elétrico e Comunic 06-Material de Transporte 07-Madeira e Mobiliário 08-Papel e Gráf 09-Borracha, Fumo, Couros 10-Indústria Química 11-Indústria Têxtil 12-Indústria Calçados 13-Alimentos e Bebidas 14-Serviço Utilidade Pública Fonte: RAIS Podemos observar nos gráficos 1 e 2 que o número de trabalhadores da indústria no Brasil apesar de diminuir significativamente nos anos 1990, volta a crescer e supera o número do início da série a partir dos anos 2000. Observando o gráfico 1 vemos que há um salto de 4,8 milhões em 1998 para 8,5 milhões de trabalhadores na indústria em 2010, um crescimento de quase 100%. Comparando com o que poderíamos considerar o ano do “auge do movimento operário”, em 1989, hoje há 2 milhões de operários registrados a mais que naquela época. Já observando o gráfico 3, no qual estão contados os trabalhadores com e sem registro em carteira, nos deparamos com o salto de 11,2 milhões em 2002 para 17,2 milhões em 2010. Ou seja, o número de operários no Brasil, longe de diminuir, pelo contrário, cresceu significativamente, aliás, nunca a população operária foi tão grande no Brasil quanto é hoje. Não obstante, podemos fazer duas perguntas sobre a qualidade desse crescimento. A primeira é questionar quais são as categorias que estamos considerando como operárias. Observando o gráfico 2, temos a evolução do número de trabalhadores por subsetor de atividade que compõe o grande setor da indústria segundo o IBGE. Pelos subsetores apresentados estamos considerando aqui as atividades estritamente industriais, isto é, apenas os chamados trabalhadores “chão de fábrica”, os quais estão envolvidos diretamente na fabricação dos bens duráveis e não duráveis produzidos no Brasil. Desse modo, não estamos incluindo os trabalhadores das atividades que podem ser consideradastipicamente operárias, como os setores da construção civil, transporte e comunicação. Por exemplo, categorias como ferroviários, metroviários e correios estão fora desse cálculo. Fizemos isso, por um lado, para evitar 4 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 0 2.000 4.000 6.000 8.000 10.000 12.000 14.000 16.000 18.000 20.000 Gráfico 3 - Número de Trabalhadores na Indústria 2002-2010 Fonte: PNAD/Censo 2010 questionamentos apressados sobre a qualidade dos dados apresentados. Por outro, por considerar que os trabalhadores da indústria moderna, sendo responsáveis pela produção de praticamente todos os bens duráveis e não duráveis da sociedade, estão numa posição importante para a organização da classe trabalhadora. Isso não quer dizer, como veremos adiante, que apenas os trabalhadores da indústria constituem o operariado. Mas, por ora, basta apenas considerarmos os setores estritamente industriais para vermos que o operariado aumentou numericamente. A segunda pergunta que podemos fazer é se tal crescimento se dá também em termos relativos ao crescimento populacional. Ou seja, qual a relação entre o crescimento da população total do país e o crescimento do número de trabalhadores da indústria? Pois apesar do número de trabalhadores em atividade na indústria ter aumentado em termos absolutos, ele poderia ter diminuído em relação à população total. Para elaboração dessa comparação utilizamos o banco de dados da RAIS, e também os dados do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) sobre a população residente e a população economicamente ativa no Brasil. A série histórica sobre a população residente contempla o período que estamos analisando a partir da RAIS, 1985 a 2010. Já a série histórica mais recente sobre a população economicamente ativa no Brasil vai de 1992 a 2010. Por isso, a comparação com a população economicamente ativa fica restrita a esse período. Pois bem, eis nos dois gráficos a seguir a porcentagem dos trabalhadores registrados da indústria e da construção em relação à população residente e a população economicamente ativa (PEA): 5 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 0,00% 1,00% 2,00% 3,00% 4,00% 5,00% 6,00% 7,00% Gráfico 4 - Porcentagem de Trabalhadores da Indústria e Construção em relação a População Residente 1985-2010 Indústria ConstruçãoFonte: RAIS/IPEA Observando os gráficos 4 e 5 vemos que também há crescimento em termos relativos. Há um período que vai de 1986 a 1989 cuja proporção dos trabalhadores da indústria é levemente maior que hoje, respectivamente, 4,76%, 4,64%, 4,57%, e 4,50%. Hoje esse número é de 4,46%, ou seja, uma diferença menor do que 0,5% em relação a 1986. Se pensarmos que a segunda metade da década de 1980 é identificada como os anos do “auge do operariado”, proporcionalmente estamos no mesmo patamar. Não obstante as ressalvas que fizemos anteriormente, vale considerar que somados os trabalhadores da indústria com os da construção civil estamos em patamar superior, chegando a porcentagem inédita de 5,78% da forçade trabalho empregada nessas atividades, isto é, 0,3% a mais do que em 1986. Já em relação à população economicamente ativa, mais de 9% está empregada na indústria, salto considerável, sabendose que em 1992 era de menos de 8%. Junto com os trabalhadores da construção civil somam aproximadamente 13% da população economicamente ativa. Portanto, pelos dados apresentados, podemos afirmar que enquanto a década de 1990 é marcada pela diminuição do número de trabalhadores empregados na indústria, a primeira década dos anos 2000 é marcada pelo aumento tanto absoluto quanto relativo destes. Posto isto, é preciso reconhecer que, para quem viveu o amargo desemprego na década de 1990, não seria insensato pensar que tal diminuição do setor industrial fosse uma tendência. 6 199219931995199619971998199920002001200220032004200520062007200820092010 0,00% 2,00% 4,00% 6,00% 8,00% 10,00% 12,00% 14,00% Gráfico 5 - Porcentagem dos Trabalhadores da Indústria e Contrução em relação a PEA 1992-2010 Indústria ConstruçãoFonte: RAIS/IPEA Entretanto, nos dias de hoje nada justifica a defesa de tal ideia como algo dado, muito menos pode ser considerado como uma tendência. Por fim, sabendo que paramos nosso cálculo em 2010, para maior atualidade dos dados, poderíamos considerar o saldo entre as contratações e demissões do fim da série apresentada até os dias de hoje. De janeiro de 2011 até maio de 2012 o saldo de contratações continua positivo no setor industrial e, segundo dados do CAGED2, somaríamos pelo menos mais 300 mil novos trabalhadores aos números até agora apresentados. Assim, o interessante nesse momento é reverter a pergunta a quem ainda defende que houve diminuição da classe operária. Ora, a quem interessa que a classe operária se perceba menor do que ela realmente é? Afinal, faz mais de uma década que essa parcela da classe trabalhadora está crescendo ininterruptamente, e talvez não fosse preciso tantos dados para uma conclusão tão evidente. Curiosamente vivemos em um momento ideológico em que afirmar uma ideia não envolve nenhum rigor em fazêla corresponder com a realidade. Contra a falta de rigor vale a pena reafirmar: hoje no Brasil a classe operária é grande, aliás, maior do que nunca. A classe operária dentro da classe trabalhadora Vimos acima dados do setor da indústria, vale agora se perguntar: e os outros setores que empregam a classe trabalhadora? Já que os trabalhadores da indústria aumentaram, quantos trabalhadores aumentaram em outros setores? Foi mais ou menos do que os trabalhadores da indústria? Essas são questões importantes, já que a classe trabalhadora não é composta apenas pelos trabalhadores fabris, mas por todos aqueles que “por não ter meios de produção próprios, são reduzidos a vender a própria forçadetrabalho para sobreviver”3. Para essas perguntas vejamos a evolução do número de trabalhadores por grandes setores da economia a partir das fontes já apresentadas. 2 Tabelas do CAGED nos Anexos. 3 MARX, K. ENGELS, F. Manifesto Comunista. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1998. 7 O primeiro aspecto que temos que destacar diante desses gráficos é o crescimento do total de trabalhadores no Brasil. Se em 1985 havia 20 milhões de trabalhadores registrados, hoje esse número é de mais de 44 milhões de trabalhadores. De forma recíproca, se em 2002 a pesquisa a domicílio registrava 79 milhões de trabalhadores, em 2010 esse número salta para mais de 92 milhões. Ou seja, há um crescimento expressivo do número total de trabalhadores em atividade. 8 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 0 10.000.000 20.000.000 30.000.000 40.000.000 50.000.000 Gráfico 6 - Número de Trabalhadores com registro por Grande Setor 1985-2010 Trabalhadores da Agropecuária Trabalhadores da Indústria Trabalhadores da Construção Trabalhadores do Comércio Trabalhadores dos Serviços Fonte: RAIS 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 0 20.000 40.000 60.000 80.000 100.000 Gráfico 7 - Número de Trabalhadores por Grande Setor 2002-2010 Trabalhadores Agrícolas Trabalhadores da IndústriaTrabalhadores da Construção Trabalhadores do Comércio e Reparação Trabalhadores dos Serviços Fonte: PNAD/Censo 2010 Em relação aos trabalhadores registrados o aumento é maior a partir do ano 1999, já nos dados da PNAD o aumento, no respectivo período, é maior a partir de 2003. Outro aspecto que salta aos olhos é o crescimento dos setores de serviços e comércio. Nos dados sobre os trabalhadores com registro em carteira parece ficar evidente que esses são os setores que mais cresceram nos últimos anos. Em 1985 o grande setor de serviços correspondia a 50,9% da forçadetrabalho empregada e o do comércio 12%, ambos representavam 63% da forçadetrabalho em atividade no ano. Já em 2010 esses setores correspondem a 71% da força detrabalho empregada, estando 52% nos serviços e 19% no comércio. Ou seja, aparentemente houve um aumento na proporção de trabalhadores empregados nesses setores. Nesse sentido, a grande capacidade empregatícia dos serviços e do comércio se confirma com os dados da PNAD. No gráfico 7 vemos que grande parte da forçadetrabalho está empregada nesses setores. Juntos a evolução é de 57% em 2002 para 61% da forçadetrabalho empregada em 2010. Um crescimento menor, mas não menos expressivo do que os dados da RAIS. Outro aspecto importante a destacar é o aumento da formalização da forçadetrabalho no campo. Podemos ver esse movimento pela contradição da evolução do número de trabalhadores nos gráficos. Observando o gráfico 6 vemos que há um aumento do número de trabalhadores do campo, ao mesmo tempo que, observando o gráfico 7, o número diminui. Considerando que o gráfico 7 é composto pelos dados dos trabalhadores com e sem registro em carteira, e o gráfico 6 apenas pelos trabalhadores com carteira assinada, essa aparente contradição se explica por um duplo movimento. Ao mesmo tempo que há uma diminuição do número de trabalhadores rurais total através da industrialização da agricultura e o contínuo deslocamento da população rural para as cidades, há também um aumento da formalização dos trabalhadores do campo. Pois são justamente as atividades industriais que tradicionalmente registram mais os trabalhadores do que outras atividade como o comércio, por exemplo. É importante ressaltar que esse processo de formalização do trabalho no campo está acompanhado de mudanças fundamentais na forma de trabalho, cada vez menos agrícola e cada vez mais fabril. Para continuarmos essa analise e melhor visualizarmos a evolução das proporções dos trabalhadores em atividade por grandes setores elaboramos os dois seguintes gráficos: 9 Esses gráficos são interessantes pois mostram a evolução de cada setor específico em relação ao conjunto de todos os outros setores. Um dos primeiros aspectos que podemos observar a partir disso, é que desde 1985, pelo menos, os trabalhadores da indústria não são maioria na comparação com outros setores. Apesar do setor da indústria ser maior que o setor do comércio e da construção civil, é o setor de serviços que emprega mais desde o início da série. Esse fato é importante pois contradiz a ideia comum de que os trabalhadores da indústria foram, nos tempos do “auge do movimento operário”, a maior parte da classe trabalhadora. Pelos dados de que 10 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% Gráfico 8 - Porcentagem de Trabalhadores Registrados nos Grande Setores 1985-2010 Indústria Construção Comércio Serviços AgriculturaFonte: RAIS 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 0% 20% 40% 60% 80% 100% Gráfico 9 - Porcentagem de Trabalhadores por Grandes Setores 2002-2010 Trabalhadores da Indústria Trabalhadores da Construção Trabalhadores do Comércio e Reparação Trabalhadores dos Serviços Trabalhadores Agrícolas Fonte: PNAD/Censo 2010 dispomos, em nenhum período essa característica parece ter existido no Brasil. Contudo, não é desprezível a diminuição da proporção dos trabalhadores fabris na evolução do emprego. Esse é justamente um segundo aspecto importante dos gráficos acima: uma possível diminuição da proporção do emprego na indústria. Observando a evolução das proporções dos trabalhadores registrados no gráfico 8, vemos uma diminuição de 30% em 1985 para 19% em 2010 do total da forçadetrabalho empregada nas atividades industriais. Por outro lado, pelos dados da PNAD, a proporção dos trabalhadores da indústria aumenta de 14% em 2002 para 18% em 2010, um aumento correspondente a diminuição dos trabalhadores do campo. Ora, o que pode significar essa contradição nos dados? Para resolver esse problema podemos levantar hipótese semelhante ao ocorrido com os trabalhadores do campo: como os dados da RAIS dizem respeito ao número de trabalhadores registrados, podese supor que parte dos trabalhadores do comércio e dos setores passam a ser contados nos bancos da RAIS devido a um aumento na formalização do trabalho e não a um aumento correspondente do efetivo dos trabalhadores empregados nesses setores. Essa hipótese ganha força se considerarmos que, como vimos, também há um aumento da formalização do trabalho nas atividades do campo. Ou seja, a aparente diminuição do número de trabalhadores da indústria em relação aos trabalhadores dos serviços e comércio, pode significar, na verdade, um aumento da formalização do trabalho no Brasil. Assim, sabendo que o número de trabalhadores da indústria em nenhum momento foi maior do que o número dos trabalhadores dos serviços, e sabendo também que é questionável a ideia que esse número diminui proporcionalmente ao conjunto da classe trabalhadora, vale fazermos o mesmo movimento que fizemos anteriormente. Ora, a quem interessa que a classe operária se veja menor em relação a outros setores da classe trabalhadora? A quem interessa defender a falsa ideia de que a classe operária já foi grande e hoje é pequena em relação ao conjunto dos trabalhadores? Evidentemente, é de interesse dos donos das indústrias que os trabalhadores de suas fábricas se vejam menor do que são. Aliás, é de interesse deles que esses trabalhadores não se vejam sequer como operários. Pois o que pode ser um operário senão a expressão viva da exploração do trabalho? Certamente, para os industriais é mais apropriado a figura do consumidor, do cidadão e do atual “colaborador”. Entretanto, não são apenas os donos das indústrias que se encarregam de difundir essas ideias. Justamente por essas ideias estarem presentes no senso comum, é a própria classe 11 trabalhadora que carrega esse imaginário e faz dele sua “estranha realidade”. Por um lado, podemos encontrar respaldo na experiência histórica de classe para a criação de um passado glorioso e inalcançável. Se considerarmos que a classe trabalhadora passa por um ciclo ascendente de lutas operárias de 1979 a 1989, mas que esse ciclo se esfacela com a derrota de Lula para Collor, com a queda do muro de Berlim e o fim da URSS, desembocando no amargo desemprego dos anos 1990, encontramos muitos elementos que corroboram para esse imaginário. Entretanto, não estamos nos anos 1990, e a pergunta que devemos fazer é o que significa a continuidade desse imaginário se vivemos nos últimos dez anos sob direção política do Partido dos Trabalhadores no governo federal, e tivemos uma recuperação do emprego e da indústria no mínimo a patamares anteriores? O fato de que o movimento feito pelo Partido dos Trabalhadoresna presidência ter sido de contenção das lutas, acompanhado de institucionalização das organizações, apesar de verdadeiro, por si só não explica a continuidade do imaginário saudoso “dos bons tempos do movimento operário”; mas é certo que corrobora para uma pacificação da classe operária, uma exigência do governo ao movimento sindical em troca de um harmonioso crescimento econômico e muitos cargos públicos. O que nos revela que a manutenção desse imaginário pode ser consequência de um pacto de conciliação de classes, cujo interesse pela manutenção da ordem passa pelo reconhecimento de um tempo de luta junto com a afirmação de uma relação (industriais e operários) pacificada. Não obstante, certamente, a saudade é menos da quantidade de empregos que haviam do que da qualidade da organização e possibilidades que se abriram na década de 1980. O que quer dizer, por outro lado, que 1989, suas organizações e possibilidades, ainda é o paradigma histórico que a classe trabalhadora precisa superar. Por fim, tendo desvelado a falta de correspondência com a realidade de algumas ideias sobre a classe operária, seria importante nesse momento que nós mesmos nos questionássemos justamente sobre o que temos compreendido até aqui como classe operaria. Aliás, a quem interessa que a classe operária esteja reduzida aos trabalhadores da indústria? O novo operariado Tentemos deixar de lado a classificação do IBGE sobre os grandes setores de atividade econômica e pensemos do ponto de vista das atividades envolvidas na produção de capital. Quantos trabalhadores hoje estão envolvidos na produção direta de capital? Quantos são hoje os 12 chamados trabalhadores produtivos? Definimos, na esteira de Marx, trabalhadores produtivos todos aqueles que estão envolvidos diretamente no processo de produção de capital, isto é, os que são atores diretos no processo de valorização do valor. São todos aqueles trabalhadores que dentro de sua jornada estão submetidos a extração de maisvalia através da exploração do trabalho4 – estando envolvidos em um processo de produção de mercadorias, produzem um valor maior do que eles mesmos valem dentro desse processo, cumprindo assim papel fundamental na produção de capital. Ou seja, são trabalhadores produtivos em relação ao capital, mesmo que realizem atividades muito pouco produtivas do ponto de vista humano. Da mesma forma, definimos como não produtivos para o capital os trabalhadores que não produzem maisvalia, isto é, que não estão inseridos em atividades produtivas de capital, mesmo que exerçam atividades muito produtivas do ponto de vista humano. Assim, a partir dessa definição, estão excluídos do grupo dos produtivos, por exemplo, os trabalhadores assalariados do setor público, os trabalhadores do comércio, atacado e varejo, assim como os trabalhadores das instituições financeiras, os autônomos e profissionais liberais. Por outro lado, estão incluídos no grupo dos produtivos, além dos trabalhadores fabris, os trabalhadores da construção civil, os trabalhadores do ensino privado, os trabalhadores da saúde privada, os trabalhadores dos transportes de cargas e de pessoas, os trabalhadores dos correios e comunicações, da TV e Rádio, os trabalhadores da agroindústria e etc. Desse ponto de vista, há um grupo bem maior de trabalhadores que cumprem o papel de produtivos que comumente vemos apenas nos trabalhadores da indústria. Afinal, para o capitalista, não importa o que se produz, importa o quanto se lucra com o que se produz, isto é, o quanto de maisvalia é possível extrair do trabalhador independente da atividade que ele exerça. Por conta disso, para além dos ramos mais evidentes na produção de capital, como construção civil e transportes, temos também que considerar novos ramos de trabalho que acabam de ingressar na esfera produtiva. As recentes mudanças na organização do trabalho, principalmente a terceirização, essa “nova forma de empregar”, reorganizou ramos inteiros de atividade que transforma uma série de “prestadores de serviços” nos mais recentes produtores de capital. Um dos ramos que podemos utilizar como exemplo dessa mudança são os trabalhadores 4 MARX, Karl. Trabalho Produtivo e Trabalho Improdutivo. In: ANTUNES, RICARDO. A Dialética do Trabalho. São Paulo: Expressão Popular, 2004. 13 da limpeza. Esses trabalhadores a muito são identificados como do setor de serviços e, portanto, não produtivos. Entretanto, a partir do momento em que esses trabalhadores são contratados por uma “empresa de limpeza”, a qual é contratada por outras empresas, de forma terceirizada, para produzir limpeza nos edifícios, nas escolas, nas ruas e etc. esse ramo de atividade passa a ser produtivo para o capital. Pois agora esse trabalhador não está mais “prestando um serviço” e seu patrão não paga a ele um salário para ele limpar as instalações como antes. Agora que esse trabalhador faz parte da “empresa de limpeza X”, ele recebe um salário de um patrão que vende limpeza, e ele agora é um operário da limpeza, pois fabrica uma mercadoria, “coisas limpas”, que vale mais do que ele mesmo recebe. Apesar de não ser tão palpável quanto um automóvel, a nova atividade de produzir limpeza é uma atividade capitalista como as outras, tem dinâmica própria, empresas concorrentes, ações na bolsa e operários. Portanto, aquele trabalhador que antes prestava um serviço em troca de salário, hoje está inserido em um processo de valorização do valor e trabalha numa “fábrica de produção de limpeza”. Uma reportagem publicada na Folha de São Paulo no dia 7 de agosto de 2011, sob o título “Terceirização move Setor de Limpeza”, ilustra esse movimento que descrevemos: “A terceirização do serviço de limpeza, segundo especialistas, é o que move o setor, que faturou R$ 15,2 bilhões no ano passado. Há facilidade na abertura de empresas nessa área, afirma Pedro Luiz Paulucci, sócio da Top Marketing Comercial. O investimento inicial é baixo e é possível abrir o empreendimento com endereço residencial, explica. (…) Paulo Gonçalves Peres, 40, sócio da inService, já acumulava experiência no mercado de limpeza quando abriu a empresa, há nove anos. "Demorou dois anos para o negócio 'virar' [dar retorno]”. No início, foram investidos cerca de R$ 60 mil. Hoje, a empresa tem 1.500 funcionários e faturamento anual de R$ 45 milhões.” Ora, de onde vem esse rendimento senão da exploração do trabalho desses novos operários? Se pensarmos que essa mudança no mundo do trabalho, chamada de “terceirização”, acontece de forma massiva também com os trabalhadores de reparações, manutenções e instalações, e tantos outros ramos e atividades, o grande setor não produtivo dos serviços acabou por tornarse um gigantesco setor produtivo de capital. 14 Assim, há milhões de trabalhadores que passaram a estar submetidos ao trabalho produtor de capital. Isto é, estão agora submetidos às “leis da produção de capital” como um trabalhador fabril: extensividade das jornadas, intensividade do trabalho, controle de produtividade e qualidade, metas, e etc. Ou seja, toda a série de medidas de controle da extração de maisvalia passam a valer em setores que tradicionalmente não estavam determinados por essa lógica, e um número maior de trabalhadores passam a ter seu trabalho explorado. Evidentemente, há setores que não são produtivos e que são impelidos a seguir a mesma lógica de produção. Exemplodisso é a recente aplicação de metas para os atendentes do INSS, e servidores públicos em geral. Do ponto de vista da produção do capital, os trabalhadores da Previdência Social não produzem maisvalia, contudo, são impelidos a seguir uma intensividade de trabalho semelhante a realizada pelos trabalhadores fabris. Vale lembrar que, como dissemos anteriormente, ser produtivo ou não produtivo não diz respeito à qualidade do trabalho realizado, mas sim a produção e acumulação de capital. Segue, então, o gráfico 10, que considera os subsetores 16, 17, 18, 19 e 20 como atividades não produtivas, e o restante dos subsetores como produtivos: 15 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 0 5.000.000 10.000.000 15.000.000 20.000.000 25.000.000 30.000.000 35.000.000 40.000.000 45.000.000 50.000.000 Gráfico 10 - Número de Trabalhadores por Gran. Setor da Ind. e Subsetores 1985-2010 Grande Setor da Indústria 15-Construção Civil 21-Aloj Comunic 22-Médicos Odontológicos Vet 23-Ensino 20-Transporte e Comunicações 25-Agricultura 16-Comércio Varejista 17-Comércio Atacadista 18-Instituição Financeira 19-Adm Técnica Profissional 24-Administração Pública Setores Prod utivos Setores N ão -Produtivos Fonte: RAIS Observando o gráfico 10, vemos que pelo menos 50% da forçadetrabalho em atividade pode estar envolvida diretamente com a valorização do valor. Do ponto de vista do capital isso significa mais extração de maisvalia do que antes. Do nosso ponto de vista, o que essa perspectiva nos permite ver é o aumento do número de trabalhadores operários não só na indústria, mas em outros setores que antes eram somente assalariados e não produtivos. Isso significa que parte do conjunto da classe trabalhadora que não estava tradicionalmente ligado à valorização do valor, passa a estar submetida as leis do capital e a compor o que poderíamos chamar de “grande setor produtivo”. Portanto, mais do que simplesmente crescer numericamente, a classe trabalhadora passou por uma mudança qualitativa: há novos operários sendo incorporados a todo vapor à produção de capital. O “nova classe média” Visto que as recentes mudanças na qualidade das relações de produção ampliam a massa explorada de trabalhadores, seguimos para o último pilar do senso comum que apresentamos: afirmase comumente que os operários ganham altos salários e por isso compõem a classe média ou classe média alta. Antes de entrarmos no debate sobre a definição do que seria uma classe média e o que significa falar de uma classe média operária, vale a pena voltarmos à classificação do IBGE e verificarmos os dados da evolução salarial dos trabalhadores por faixa de remuneração e atividade. Os dados disponíveis sobre remuneração são do banco de dados da RAIS e dizem respeito, portanto, aos trabalhadores com registro em carteira. Para atualização dos valores dos salários nos respectivos anos para os dias de hoje utilizamos dados do IPEA. 16 1985 1990 1994 1998 2002 2006 2010 R$ 0,00 R$ 500,00 R$ 1.000,00 R$ 1.500,00 R$ 2.000,00 R$ 2.500,00 Gráfico 11 - Evolução da Média Salarial por Grande Setor Indústria Construção Comércio Serviços Va lo re s At ua liz ad os p ar a 05 /2 01 2 Fonte: RAIS/IPEA O primeiro aspecto que podemos apontar no gráfico 11 é que de 1985 até 1998 os trabalhadores da indústria tinham a maior média salarial em relação aos outros setores. Contudo a partir de 1998 o setor de serviços, puxado pelos trabalhadores da administração pública, passa a ter a maior média salarial. Isso significa que o imaginário comum que constrói um passado no qual os trabalhadores da indústria tinham piores salários é completamente falso. Ou melhor, está invertido. É no passado que os trabalhadores da indústria detinham a melhor média salarial da classe trabalhadora, não hoje. Contudo, é fato que os trabalhadores da indústria têm remuneração mais alta do que os trabalhadores da construção e do comércio. Um segundo aspecto interessante de se notar no gráfico 11, é que a média dos salários dos trabalhadores da indústria em 2010 é próxima da de 1994. Ou seja, não há um crescimento contínuo da média salarial. Pelo contrário, vemos que entre 1994 a 2002 há um recuo na média dos salários que cai de R$2.043 para R$1.726 seguido de uma recuperação de 2002 até 2010. Respectivamente, um recuo do valor dos salários nos oito anos de governo de Fernando Henrique e um aumento dos salários nos oito anos de governo de Lula. De modo geral, em relação ao imaginário comum, esses dados nos mostram que hoje, em primeiro, não é o trabalhador da indústria o melhor remunerado, mas sim os trabalhadores dos serviços, setor no qual se encontram os servidores públicos que historicamente são melhores remunerados do que o conjunto da classe trabalhadora em atividade. E, em segundo, não há um crescimento progressivo dos salários dos trabalhadores da indústria e de nenhum outro setor. O que vemos são avanços e recuos no valor pago aos trabalhadores a depender da conjuntura política e econômica do país. Contudo, é importante lembrar que a média salarial é calculada pela soma de todos os salários dos trabalhadores de um setor, inclusive dos que assumem cargos de liderança e chefia, dividida pelo número de trabalhadores desse mesmo setor. Por isso esses dados têm um problema: se um setor emprega uma quantidade pequena de chefes, mas esses recebem muito acima do restante dos trabalhadores, a média dos salários vai esconder a maioria dos trabalhadores que ganham menos no setor. Assim, se considerarmos um cálculo por faixa salarial veríamos que grande parte dos trabalhadores recebem menos do que a média, pois os cargos de liderança por serem melhores remunerados jogam a média para cima. Por conta disso, elaboramos a tabela a seguir, que traz a porcentagem dos trabalhadores por faixa salarial e por setor de atividade. 17 Podemos verificar, pela tabela, o importante dado de que mais da metade dos trabalhadores da indústria em 2010, 57,66%, tem remuneração média de 0 a 2 salários mínimos, valores correspondentes a no máximo R$1.138 por mês. Se somarmos esses aos trabalhadores que ganham de 2 a 3 salários mínimos em 2010, isto é, no máximo R$1.708, temos 71% da classe operária nessa faixa salarial (de R$0 a R$1.708). Comparativamente, ao observar o ano de 1985 vemos que 60,21% dos trabalhadores da indústria tinham uma remuneração de até R$915; somando esses trabalhadores com os que estavam na faixa de salário de 2 a 3 salários mínimos em 1985, temos que 70% dos trabalhadores da indústria naquela época ganhavam no máximo R$1.373. Ora, se ocorreu algum grande aumento na remuneração real para a maioria dos trabalhadores da indústria nos últimos 25 anos, esse valor é de no máximo 335 reais para quem ganha o valor máximo que são 3 salários mínimos. Somente alguém com um senso de realidade desregulado poderia considerar que um aumento de 335 reais em 25 anos de trabalho seja algo relevante para colocar os trabalhadores fabris no patamar dos bem remunerados da sociedade brasileira. Do ponto de vista comparativo com a remuneração dos trabalhadores de outros 18 Porcentagem de Trabalhadores por Faixa Salarial por Grande Setor* Salário Mínimo** R$ 457,41 R$ 300,93 R$ 278,80 R$ 310,03R$ 362,01 R$ 461,27 R$ 569,33 Indústria 1985 1990 1994 1998 2002 2006 2010 0 a 2 SM 60,21% 46,47% 23,01% 26,40% 40,84% 51,36% 57,66% 2 a 3 SM 9,77% 12,29% 19,91% 21,47% 22,06% 18,97% 17,27% Mais que 3 SM 28,01% 38,59% 53,38% 51,20% 36,60% 28,15% 23,20% Total 97,99% 97,35% 96,30% 99,07% 99,50% 98,48% 98,14% Construção 1985 1990 1994 1998 2002 2006 2010 0 a 2 SM 75,67% 56,23% 25,41% 27,24% 38,95% 54,58% 61,68% 2 a 3 SM 8,08% 14,09% 26,80% 27,24% 30,22% 23,22% 18,74% Mais que 3 SM 12,63% 25,43% 42,01% 44,77% 30,28% 20,45% 17,71% Total 96,39% 95,74% 94,22% 99,25% 99,45% 98,25% 98,13% Comércio 1985 1990 1994 1998 2002 2006 2010 0 a 2 SM 79,56% 66,69% 41,12% 36,93% 53,95% 69,85% 76,27% 2 a 3 SM 6,32% 10,03% 23,32% 28,29% 24,94% 16,39% 12,47% Mais que 3 SM 12,27% 20,80% 31,98% 34,29% 20,79% 12,89% 10,07% Total 98,15% 97,53% 96,42% 99,51% 99,68% 99,13% 98,81% Serviços 1985 1990 1994 1998 2002 2006 2010 0 a 2 SM 60,57% 43,82% 26,44% 25,73% 35,66% 48,06% 54,48% 2 a 3 SM 9,95% 11,29% 17,59% 18,20% 19,84% 17,73% 16,28% Mais que 3 SM 25,57% 40,53% 51,04% 55,03% 44,00% 33,01% 27,44% Total 96,09% 95,64% 95,07% 98,96% 99,50% 98,80% 98,20% * Não estão no cálculo os trabalhadores não classif icados. Assim, o total não chega nos exatos 100%. ** Salário mínimo no ano de referência. Valores reais atualizados para 05/2012. Fonte: RAIS/IPEA setores da economia, podemos afirmar que assim como na construção civil, no comércio e no grande setor de serviços, a maior parte dos trabalhadores registrados da indústria ganham de 0 a 2 salários mínimos mensais. Lembrando que os valores aqui apresentados estão atualizados para o mês de maio de 2012. Esses dados revelam uma das construções ideológicas mais perversas sobre os operários: de que são classe média. Por mais controverso que seja o termo e já venha carregado de ideologias, façamos o exercício de pensar a imagem comum da classe média. Isto é, uma família cujos filhos estão em escolas privadas, que possui assistência médica ampla, que tem casa própria e um carro na garagem. Seria possível com um rendimento de R$1.708 mensais, uma família pequena, de 3 pessoas (cônjuges e uma criança), ter esse padrão de vida? Evidentemente, os operários brasileiros estão muito longe desse “acesso”, e a imagem da classe média parece não corresponder a renda de 71% dos trabalhadores da indústria. Vale considerar que esses mesmos trabalhadores possuem rendimento abaixo do salário mínimo necessário calculado pelo DIEESE, no valor de R$2.383,28 atualmente. Talvez as moradias subnormais, favelas e aglomerados urbanos, tenham mais a nos dizer sobre como vivem os trabalhadores da indústria no Brasil do que se imagina. Contudo, para botar à prova a ideia de que o operariado é classe média não basta identificar a irrealidade de ser classe média do ponto de vista da renda. Temos, sobretudo, que investigar sua possível eficácia do ponto de vista dos hábitos, comportamentos e costumes. Afinal, como afirma Marx e Engels, o poder das construções ideológicas está justamente em conseguir representar algo realmente, sem representar algo real5. O que nos traz a pergunta: será que é possível que o operariado brasileiro se identifique como classe média, mesmo não tendo condições para realmente sêlo? Por ocupar um lugar de extrema importância na produção da vida na sociedade capitalista e ser responsável direto pela manutenção dos lucros e das condições de reprodução da classe dominante, a identidade que se forma entre os trabalhadores da indústria é fundamental para a conjuntura da luta de classes. Nos últimos 30 anos vimos o “novo sindicalismo”, iniciado pelos metalúrgicos do ABC paulista, protagonizar a construção de uma identidade operária. Muitos dos principais personagens que construíram essa nova identidade estão hoje em cargos importantes do executivo, tendo como modelo padrão o ex presidente Lula, exmetalúrgico. Apesar de aparentemente ser uma identidade calcada no ganho salarial e em um forte corporativismo, seria preciso um estudo qualitativo de peso para apontar 5 KARL, M. ENGELS, F. A ideologia Alemã. São Paulo: Boitempo Editorial, 2007. 19 quais as características da identidade operária criada no ABC e em qual momento, afinal, ela se encontra. Não obstante, as políticas do governo Lula e sua continuidade por Dilma Rousseff, apontam para uma descaracterização da identidade de trabalhador para a celebração do mote “somos todos classe média”. Fato que retrospectivamente pode ter algo a dizer, mas o que é possível verificar agora é uma política de desagregação da classe trabalhadora por parte do governo. Como exemplo, recentemente, a SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos do Governo Federal) estabeleceu, finalmente, a faixa de renda que corresponde hoje a da classe média brasileira. Depois de longa discussão, foi dito que fazem parte da classe média brasileira os trabalhadores que têm renda per capita familiar entre R$ 291 e R$ 1.019. Sem desconsiderar o bom humor do governo na falta de correspondência entre a faixa estabelecida e o que comumente chamase de classe média, pensemos no caso do atual trabalhador da indústria. Pensemos que no melhor dos casos, estando ele entre os 71% dos trabalhadores desse grande setor produtivo, ele seja um privilegiado e receba mensalmente R$1.708. Se considerarmos que ele tem uma família composta por uma esposa e um filho e que com seu salário sustenta a todos, pois bem, nosso operário é o mais novo membro da classe média brasileira com renda per capita de 569,33 reais mensais. Não à toa a secretaria é de assuntos estratégicos, e parece muito oportuno definir que a maior parte da população economicamente ativa do Brasil compõe a “nova classe média”. Ao fim e ao cabo a definição de classe média da SAE tenta colocar nessa categoria a maioria dos trabalhadores assalariados, substituindo oportunisticamente o que seria a linha da pobreza pelo conceito de classe média. Evidentemente, para quem quer governar sem perturbações, esta é a identidade ideal para a classe trabalhadora. Pois a classe média sabe que está melhor que outra parcela da sociedade, os mais pobres, e, justamente por isso, permanece submissa aos que lhe proporcionam essa posição, os mais ricos que lhes pagam os “bons salários”. Além disso, há um estímulo explícito do governo ao comportamento consumista e competitivo que alimentam valores individualistas típicos dessa camada média. Fatores que somados garantem a tranquila acumulação de capital e a harmonia nas relações de trabalho. Assim, estamos diante da ideologia que marca o período atual. Do ponto de vista salarial não podemos dizer que houve avanço suficiente para gerar um padrão de consumo que eleve os operários ao padrão classe média. Mas, sob direção do Partido dos Trabalhadores, a classe 20 trabalhadora é tratada e reconhecida como classe média, criando terreno pouco favorável à identidade de classe que esse mesmo partido construiu. Trocase o mote “trabalhador só vota em trabalhador” da origem do partido, pela sua negação consentida “somos todos classe média”. Questões de classe Primeiramente, esperamos ter cumprido com o objetivo proposto de desconstruir ideias do senso comum sobre o operariado brasileiro. O imaginário que elabora um “passado operário” e um presente de outra ordem não se justifica tanto pela quantidade de trabalhadores ativos quanto pela qualidade das relações de produção. Nesse sentido, hojea classe operária é numericamente maior e proporcionalmente semelhante àquela de trinta anos atras. Ou seja, este imaginário, como toda ideologia presente no senso comum, apresenta a realidade invertida. Por sua vez, é uma eficiente ferramenta de dominação de classe cuja característica fundante está em esconder tanto as próprias classes quanto as relações de produção da vida. Em consequência, a constatação que quantitativamente a classe operária ainda está de pé nos serve também para colocar o debate nos seus devidos termos: é na qualidade das organizações de classe que se encontram as boas perguntas e as saídas para a luta contra a exploração do trabalho. Assim, não é trivial que seja sob a direção do Partido dos Trabalhadores que o operariado cresça substantivamente, e, ao mesmo tempo, esteja pacificado politicamente. Nesse sentido, compreendemos que não basta apontar os limites das políticas públicas implementadas pelos governos Lula e Dilma, justamente porque há avanços importantes na diminuição da miséria e no aumento do acesso à educação, por exemplo. É preciso, antes de tudo, recompor quais são as bandeiras das lutas operárias. E assim voltar ao Partido dos Trabalhadores e entender qual identidade de classe, por ele protagonizada, permite que o fim da exploração do trabalho seja posto de lado. Ou melhor, qual é a identidade criada que permite que a intensificação da exploração do trabalho sob condições desumanas, como se viu nas greves das grandes obras do PAC (Plano de Aceleração do Desenvolvimento) em Jirau e Pecém, seja comemorada como conquista da classe trabalhadora. Por fim, cremos que entender que a realização do projeto do Partido dos Trabalhadores significa uma classe operária que não se enxerga como classe; que se apresenta dócil para as altas taxas de exploração que é submetida; que está entregue as formas selvagens de extração de 21 maisvalia típicas da periferia do capitalismo; e que comemora e chora junto com os sindicatos patronais o crescimento ou retração do Produto Interno Bruto, pode ser um bom ponto de chegada. Por outro lado, saber que a classe operária continua grande, ou melhor, ela está maior do que nunca; saber que as condições materiais que a colocam no centro da produção da vida na sociedade capitalista se mantêm; que ela permanece no ponto estratégico da luta contra a exploração do trabalho; e por fim, saber que uma nova identidade operária é necessária e possível, é o ponto de partida para as novas lutas. 22 ANEXOS Número de Trabalhadores por atividades, subsetor, e grandes setores em 2010. IBGE Subsetor CNAE 2.0 Grupo Total em 2010 01 - INDÚSTRIA Total 8.499.202 01-Extrativa Mineral Total 211.216 Extração de carvão mineral 5.418 Extração de petróleo e gás natural 29.294 Extração de minério de ferro 37.462 Extração de minerais metálicos não-ferrosos 28.110 Extração de pedra, areia e argila 59.975 Extração de outros minerais não-metálicos 25.310 Atividades de apoio à extração de petróleo e gás natural 22.427 Atividades de apoio à extração de minerais, exceto petróleo e gás natural 3.220 02-Prod. Mineral Não Metálico Total 410.734 Fabricação de produtos químicos inorgânicos 1.103 Fabricação de vidro e de produtos do vidro 38.236 Fabricação de cimento 15.913 Fabricação de artefatos de concreto, cimento, fibrocimento, gesso e materiais semelhantes 114.765 Fabricação de produtos cerâmicos 169.177 Aparelhamento de pedras e fabricação de outros produtos de minerais não-metálicos 71.540 03-Indústria Metalúrgica Total 796.617 Produção de ferro-gusa e de ferroligas 20.782 Siderurgia 87.994 Produção de tubos de aço, exceto tubos sem costura 17.818 Metalurgia dos metais não-ferrosos 49.762 Fundição 77.681 Fabricação de estruturas metálicas e obras de caldeiraria pesada 137.849 Fabricação de tanques, reservatórios metálicos e caldeiras 15.271 Forjaria, estamparia, metalurgia do pó e serviços de tratamento de metais 111.162 Fabricação de artigos de cutelaria, de serralheria e ferramentas 64.915 Fabricação de produtos de metal não especificados anteriormente 189.139 Fabricação de produtos diversos 3.824 Manutenção e reparação de máquinas e equipamentos 10.959 Recuperação de materiais 9.461 04-Indústria Mecânica Total 566.490 Fabricação de equipamento bélico pesado, armas de fogo e munições 7.866 Fabricação de equipamentos de informática e periféricos 47.478 Fabricação de aparelhos e instrumentos de medida, teste e controle 2.870 Fabricação de eletrodomésticos 53.513 Fabricação de motores, bombas, compressores e equipamentos de transmissão 55.334 23 Fabricação de máquinas e equipamentos de uso geral 121.848 Fabricação de tratores e de máquinas e equipamentos para a agricultura e pecuária 63.895 Fabricação de máquinas-ferramenta 19.783 Fabricação de máquinas e equipamentos de uso na extração mineral e na construção 23.019 Fabricação de máquinas e equipamentos de uso industrial específico 89.781 Manutenção e reparação de máquinas e equipamentos 67.742 Instalação de máquinas e equipamentos 13.361 05-Elétrico e Comunic Total 281.779 Fabricação de componentes eletrônicos 39.200 Fabricação de equipamentos de comunicação 24.456 Fabricação de aparelhos de recepção, reprodução, gravação e amplificação de áudio e vídeo 20.132 Fabricação de geradores, transformadores e motores elétricos 39.399 Fabricação de pilhas, baterias e acumuladores elétricos 10.522 Fabricação de equipamentos para distribuição e controle de energia elétrica 60.418 Fabricação de lâmpadas e outros equipamentos de iluminação 13.771 Fabricação de equipamentos e aparelhos elétricos não especificados anteriormente 35.157 Fabricação de peças e acessórios para veículos automotores 29.939 Fabricação de produtos diversos 2.825 Manutenção e reparação de máquinas e equipamentos 5.960 06-Material de Transporte Total 583.777 Fabricação de automóveis, camionetas e utilitários 93.182 Fabricação de caminhões e ônibus 24.841 Fabricação de cabines, carrocerias e reboques para veículos automotores 59.332 Fabricação de peças e acessórios para veículos automotores 289.240 Recondicionamento e recuperação de motores para veículos automotores 9.626 Construção de embarcações 37.737 Fabricação de veículos ferroviários 6.541 Fabricação de aeronaves 18.884 Fabricação de equipamentos de transporte não especificados anteriormente 30.151 Manutenção e reparação de máquinas e equipamentos 14.243 07-Madeira e Mobiliário Total 468.744 Desdobramento de madeira 87.586 Fabricação de produtos de madeira, cortiça e material trançado, exceto móveis 116.764 Fabricação de móveis 246.343 Fabricação de produtos diversos 7.833 Instalação de máquinas e equipamentos 10.218 08-Papel e Gráf Total 406.074 Fabricação de celulose e outras pastas para a fabricação de papel 13.773 Fabricação de papel, cartolina e papel-cartão 37.336 Fabricação de embalagens de papel, cartolina, papel-cartão e papelão ondulado 63.510 24 Fabricação de produtos diversos de papel, cartolina, papel- cartão e papelão ondulado 58.600 Atividade de impressão 82.136 Serviços de pré-impressão e acabamentos gráficos 35.809 Edição de livros, jornais, revistas e outras atividades de edição 31.469 Edição integrada à impressão de livros, jornais, revistas e outras publicações 83.441 09-Borracha, Fumo, Couros Total 327.271 Processamento industrial do fumo 3.090 Fabricação de produtos do fumo 12.518 Curtimento e outras preparações de couro 39.369 Fabricação de artigos para viagem e de artefatos diversos de couro 31.913 Reprodução de materiais gravados em qualquer suporte 5.150 Fabricação de produtos de borracha 99.759 Fabricação de aparelhos einstrumentos de medida, teste e controle 22.474 Fabricação de aparelhos eletromédicos e eletroterapêuticos e equipamentos de irradiação 5.034 Fabricação de equipamentos e instrumentos ópticos, fotográficos e cinematográficos 3.276 Fabricação de artigos de joalheria, bijuteria e semelhantes 12.741 Fabricação de instrumentos musicais 2.269 Fabricação de artefatos para pesca e esporte 3.855 Fabricação de brinquedos e jogos recreativos 12.884 Fabricação de instrumentos e materiais para uso médico e odontológico e de artigos ópticos 30.290 Fabricação de produtos diversos 4.070 Manutenção e reparação de máquinas e equipamentos 5.737 Recuperação de materiais 20.790 Atividades cinematográficas, produção de vídeos e de programas de televisão 8.438 Atividades de gravação de som e de edição de música 3.614 10-Indústria Química Total 902.703 Coquerias 446 Fabricação de produtos derivados do petróleo 36.806 Fabricação de biocombustíveis 113.422 Fabricação de produtos químicos inorgânicos 34.113 Fabricação de produtos químicos orgânicos 20.051 Fabricação de resinas e elastômeros 11.407 Fabricação de fibras artificiais e sintéticas 4.586 Fabricação de defensivos agrícolas e desinfestantes domissanitários 7.982 Fabricação de sabões, detergentes, produtos de limpeza, cosméticos, produtos de perfumaria e de higiene pessoal 87.787 Fabricação de tintas, vernizes, esmaltes, lacas e produtos afins 32.624 Fabricação de produtos e preparados químicos diversos 71.467 Fabricação de produtos farmoquímicos 6.025 Fabricação de produtos farmacêuticos 86.447 Fabricação de produtos de material plástico 346.610 25 Aparelhamento de pedras e fabricação de outros produtos de minerais não-metálicos 4.091 Fabricação de mídias virgens, magnéticas e ópticas 136 Fabricação de artigos de joalheria, bijuteria e semelhantes 6.701 Fabricação de instrumentos e materiais para uso médico e odontológico e de artigos ópticos 15.232 Fabricação de produtos diversos 14.713 Instalação de máquinas e equipamentos 2.057 11-Indústria Têxtil Total 1.036.949 Preparação e fiação de fibras têxteis 59.505 Tecelagem, exceto malha 58.734 Fabricação de tecidos de malha 29.321 Acabamentos em fios, tecidos e artefatos têxteis 42.672 Fabricação de artefatos têxteis, exceto vestuário 122.458 Confecção de artigos do vestuário e acessórios 669.526 Fabricação de artigos de malharia e tricotagem 36.599 Fabricação de produtos diversos 18.134 12-Indústria Calçados Total 348.691 Fabricação de calçados 325.820 Fabricação de partes para calçados, de qualquer material 22.871 13-Alimentos e Bebidas Total 1.755.873 Abate e fabricação de produtos de carne 399.450 Preservação do pescado e fabricação de produtos do pescado 16.047 Fabricação de conservas de frutas, legumes e outros vegetais 44.675 Fabricação de óleos e gorduras vegetais e animais 34.872 Laticínios 109.301 Moagem, fabricação de produtos amiláceos e de alimentos para animais 118.205 Fabricação e refino de açúcar 318.175 Torrefação e moagem de café 19.083 Fabricação de outros produtos alimentícios 341.044 Fabricação de bebidas alcoólicas 48.587 Fabricação de bebidas não-alcoólicas 77.811 Comércio varejista de produtos alimentícios, bebidas e fumo 3 Serviços de catering, bufê e outros serviços de comida preparada 228.620 14-Serviço Utilidade Pública Total 402.284 Geração, transmissão e distribuição de energia elétrica 117.332 Produção e distribuição de combustíveis gasosos por redes urbanas 2.873 Produção e distribuição de vapor, água quente e ar condicionado 386 Captação, tratamento e distribuição de água 121.775 Esgoto e atividades relacionadas 24.616 Coleta de resíduos 104.445 Tratamento e disposição de resíduos 28.769 Recuperação de materiais 397 Descontaminação e outros serviços de gestão de resíduos 1.691 02 - CONSTRUÇÃO Total 2.508.922 15-Construção Civil Total 2.508.922 26 Construção de edifícios 1.072.397 Construção de rodovias, ferrovias, obras urbanas e obras de arte especiais 339.428 Obras de infra-estrutura para energia elétrica, telecomunicações, água, esgoto e transporte por dutos 196.006 Construção de outras obras de infra-estrutura 312.551 Demolição e preparação do terreno 87.275 Instalações elétricas, hidráulicas e outras instalações em construções 210.885 Obras de acabamento 135.715 Outros serviços especializados para construção 154.665 03 - COMÉRCIO Total 8.382.239 16-Comércio Varejista Total 7.002.037 Captação, tratamento e distribuição de água 909 Comércio de veículos automotores 266.016 Manutenção e reparação de veículos automotores 175.011 Comércio de peças e acessórios para veículos automotores 401.463 Comércio, manutenção e reparação de motocicletas, peças e acessórios 85.048 Comércio varejista não-especializado 1.523.327 Comércio varejista de produtos alimentícios, bebidas e fumo 527.583 Comércio varejista de combustíveis para veículos automotores 310.840 Comércio varejista de material de construção 707.142 Comércio varejista de equipamentos de informática e comunicação 809.091 Comércio varejista de artigos culturais, recreativos e esportivos 201.209 Comércio varejista de produtos farmacêuticos, perfumaria e cosméticos e artigos médicos, ópticos e ortopédicos 515.167 Comércio varejista de produtos novos não especificados anteriormente e de produtos usados 1.410.727 Atividades auxiliares dos transportes terrestres 7.667 Reparação e manutenção de equipamentos de informática e comunicação 4.855 Reparação e manutenção de objetos e equipamentos pessoais e domésticos 55.982 17-Comércio Atacadista Total 1.380.202 Representantes comerciais e agentes do comércio, exceto de veículos automotores e motocicletas 59.217 Comércio atacadista de matérias-primas agrícolas e animais vivos 57.688 Comércio atacadista especializado em produtos alimentícios, bebidas e fumo 416.450 Comércio atacadista de produtos de consumo não-alimentar 297.193 Comércio atacadista de equipamentos e produtos de tecnologias de informação e comunicação 29.668 Comércio atacadista de máquinas, aparelhos e equipamentos, exceto de tecnologias de informação e comunicação 109.744 Comércio atacadista de madeira, ferragens, ferramentas, material elétrico e material de construção 99.029 Comércio atacadista especializado em outros produtos 204.063 Comércio atacadista não-especializado 107.150 27 04 - SERVIÇOS Total 23.268.395 18-Instituição Financeira Total 785.167 Banco Central 4.951 Intermediação monetária - depósitos à vista 514.373 Intermediação não-monetária - outros instrumentos de captação 22.267 Arrendamento mercantil 512 Sociedades de capitalização 1.122 Atividades de sociedades de participação 3.732 Fundos de investimento 60 Atividades de serviços financeiros não especificadas anteriormente 25.563 Seguros de vida e não-vida 36.249 Seguros-saúde 5.649 Resseguros 614 Previdência complementar 13.649 Planos de saúde 62.613 Atividades auxiliares dos serviços financeiros 45.839 Atividades auxiliares dos seguros, da previdência complementar e dos planos de saúde 40.654 Atividades de administração de fundos por contrato ou comissão 4.907 Gestão de ativos intangíveis não-financeiros 2.123 Outras atividades de serviços prestados principalmente às empresas 290 19-Adm Técnica Profissional Total 4.568.046 Atividades de apoio à produção florestal 53.069 Manutenção e reparação de máquinas e equipamentos 2.430 Incorporação de empreendimentos imobiliários 124.752 Atividades dos serviços de tecnologia da informação 255.876 Tratamento de dados, hospedagem na internet e outras atividades relacionadas 71.894 Outras atividades de prestação de serviços de informação 48.761 Atividades de sociedades de participação 29.745 Atividades imobiliárias de imóveis próprios 33.235 Atividades imobiliárias por contrato ou comissão 68.387 Atividadesjurídicas 129.159 Atividades de contabilidade, consultoria e auditoria contábil e tributária 187.505 Atividades de consultoria em gestão empresarial 102.050 Serviços de arquitetura e engenharia e atividades técnicas relacionadas 253.339 Testes e análises técnicas 19.383 Pesquisa e desenvolvimento experimental em ciências físicas e naturais 39.706 Pesquisa e desenvolvimento experimental em ciências sociais e humanas 9.681 Publicidade 64.767 Pesquisas de mercado e de opinião pública 7.133 Design e decoração de interiores 2.354 Atividades profissionais, científicas e técnicas não 62.106 28 especificadas anteriormente Locação de meios de transporte sem condutor 48.354 Aluguel de objetos pessoais e domésticos 1.095 Aluguel de máquinas e equipamentos sem operador 96.158 Seleção e agenciamento de mão-de-obra 149.159 Locação de mão-de-obra temporária 335.998 Fornecimento e gestão de recursos humanos para terceiros 70.114 Atividades de vigilância, segurança privada e transporte de valores 542.792 Atividades de monitoramento de sistemas de segurança 32.283 Atividades de investigação particular 709 Serviços combinados para apoio a edifícios 591.425 Serviços de escritório e apoio administrativo 167.685 Atividades de teleatendimento 355.270 Atividades de organização de eventos, exceto culturais e esportivos 28.534 Outras atividades de serviços prestados principalmente às empresas 513.233 Atividades de apoio à educação 19.723 Reparação e manutenção de equipamentos de informática e comunicação 42.230 Organismos internacionais e outras instituições extraterritoriais 7.952 20-Transporte e Comunicações Total 2.308.822 Manutenção e reparação de máquinas e equipamentos 602 Transporte ferroviário e metroferroviário 53.611 Transporte rodoviário de passageiros 683.903 Transporte rodoviário de carga 737.325 Transporte dutoviário 2.857 Trens turísticos, teleféricos e similares 242 Transporte marítimo de cabotagem e longo curso 9.401 Transporte por navegação interior 11.267 Navegação de apoio 8.864 Outros transportes aquaviários 3.842 Transporte aéreo de passageiros 64.823 Transporte aéreo de carga 2.690 Transporte espacial 14 Armazenamento, carga e descarga 107.256 Atividades auxiliares dos transportes terrestres 99.540 Atividades auxiliares dos transportes aquaviários 36.259 Atividades auxiliares dos transportes aéreos 40.626 Atividades relacionadas à organização do transporte de carga 68.414 Atividades de Correio 118.174 Atividades de malote e de entrega 45.608 Telecomunicações por fio 40.238 Telecomunicações sem fio 42.780 Telecomunicações por satélite 2.305 Operadoras de televisão por assinatura 18.079 Outras atividades de telecomunicações 44.870 Agências de viagens e operadores turísticos 62.257 29 Serviços de reservas e outros serviços de turismo não especificados anteriormente 2.975 21-Aloj Comunic Total 3.702.656 Fabricação de móveis 10.009 Manutenção e reparação de máquinas e equipamentos 4.216 Hotéis e similares 273.997 Outros tipos de alojamento não especificados anteriormente 19.558 Restaurantes e outros serviços de alimentação e bebidas 998.327 Serviços de catering, bufê e outros serviços de comida preparada 11.229 Atividades cinematográficas, produção de vídeos e de programas de televisão 12.476 Atividades de rádio 36.597 Atividades de televisão 53.501 Outras atividades de prestação de serviços de informação 1.288 Atividades fotográficas e similares 17.931 Aluguel de objetos pessoais e domésticos 27.156 Atividades de limpeza 683.177 Outras atividades de serviços prestados principalmente às empresas 31.422 Seguridade social obrigatória 43.005 Outras atividades de ensino 4.607 Atividades de assistência a idosos, deficientes físicos, imunodeprimidos e convalescentes, e de infra-est e apoio a pac prest em res c 24.990 Atividades de assistência psicossocial e à saúde a portadores de distúrbios psíquicos, deficiência mental e dependência química 10.723 Atividades de assistência social prestadas em residências coletivas e particulares 47.187 Serviços de assistência social sem alojamento 97.450 Atividades artísticas, criativas e de espetáculos 15.486 Atividades ligadas ao patrimônio cultural e ambiental 6.832 Atividades de exploração de jogos de azar e apostas 1.894 Atividades esportivas 134.991 Atividades de recreação e lazer 40.891 Atividades de organizações associativas patronais, empresariais e profissionais 72.787 Atividades de organizações sindicais 145.781 Atividades de associações de defesa de direitos sociais 368.496 Atividades de organizações associativas não especificadas anteriormente 306.569 Outras atividades de serviços pessoais 194.137 Serviços domésticos 5.946 22-Médicos Odontológicos Vet Total 1.475.324 Atividades veterinárias 5.112 Atividades de atendimento hospitalar 899.458 Serviços móveis de atendimento a urgências e de remoção de pacientes 4.500 Atividades de atenção ambulatorial executadas por médicos e odontólogos 221.130 Atividades de serviços de complementação diagnóstica e 151.767 30 terapêutica Atividades de profissionais da área de saúde, exceto médicos e odontólogos 68.013 Atividades de apoio à gestão de saúde 26.175 Atividades de atenção à saúde humana não especificadas anteriormente 86.791 Atividades de assistência a idosos, deficientes físicos, imunodeprimidos e convalescentes, e de infra-est e apoio a pac 12.378 23-Ensino Total 1.505.000 Educação infantil e ensino fundamental 441.254 Ensino médio 133.201 Educação superior 610.387 Educação profissional de nível técnico e tecnológico 61.530 Outras atividades de ensino 258.628 24-Administração Pública Total 8.923.380 Administração do estado e da política econômica e social 7.949.430 Serviços coletivos prestados pela administração pública 973.950 05- AGROPECUÁRIA Total 1.409.597 25-Agricultura Total 1.409.597 Produção de lavouras temporárias 409.325 Horticultura e floricultura 41.688 Produção de lavouras permanentes 243.299 Produção de sementes e mudas certificadas 12.198 Pecuária 480.744 Atividades de apoio à agricultura e à pecuária 115.822 Caça e serviços relacionados 16 Produção florestal - florestas plantadas 69.474 Produção florestal - florestas nativas 7.160 Pesca 7.825 Aqüicultura 9.445 Atividades paisagísticas 12.601 Total Total 44.068.355 31 Porcentagem de Trabalhadores em relação a população residente 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 Indústria 4,27% 4,76% 4,57% 4,50% 4,64% 4,09% 3,78% 3,46% 3,45% 3,68% 3,48% 3,36% 3,21% Construção 0,65% 0,74% 0,70% 0,75% 0,76% 0,66% 0,66% 0,61% 0,59% 0,73% 0,70% 0,71% 0,73% Comércio 1,98% 2,14% 2,12% 2,14% 2,22% 2,06% 1,92% 1,78% 1,82% 2,11% 2,16% 2,21% 2,29% Serviços 7,87% 8,10% 8,32% 8,49% 8,38% 7,75% 7,52% 7,22% 7,09% 7,57% 8,21% 8,21% 8,19% Agricultura 0,25% 0,24% 0,22% 0,22% 0,27% 0,26% 0,25% 0,32% 0,34% 0,66% 0,65% 0,63% 0,62% Total 15,01% 15,97% 15,92% 16,10% 16,26% 14,81% 14,13% 13,39% 13,29% 14,74% 15,21% 15,11% 15,04% 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 163.385.796 166.708.710 169.799.170 172.460.470 174.736.628 176.731.844 178.550.319 180.296.251 182.073.842 183.987.291 186.110.095 188.392.937 190.755.799 Indústria 2,94% 3,01% 3,11% 3,13% 3,23% 3,28% 3,58% 3,67% 3,91% 4,15% 4,24% 4,22% 4,46% Construção 0,70% 0,63% 0,64% 0,66% 0,63% 0,59% 0,63% 0,69% 0,77% 0,88% 1,03% 1,13% 1,32% Comércio 2,29% 2,36% 2,50% 2,60% 2,76% 2,90% 3,13% 3,33% 3,48% 3,72% 3,94% 4,08% 4,39% Serviços 8,44% 8,37% 8,55% 8,75% 9,14% 9,26% 9,52% 10,01% 10,41% 10,94% 11,23% 11,68% 12,20% Agricultura 0,62% 0,62% 0,63% 0,63% 0,65% 0,68% 0,73% 0,73% 0,75% 0,75% 0,76% 0,76% 0,74% Total 14,98% 14,99% 15,45% 15,77% 16,42% 16,72% 17,59% 18,44% 19,31% 20,44% 21,19% 21,87% 23,10% Fonte: RAIS/IPEA População Residente IBGE Gr Setor Total 01-Industria 314.95302-Construcao Civil 310.397 03-Comércio 375.445 04-Serviços 1.189.668 05-Agropecuaria, extr vegetal, caca e pesca 113.474 Total 2.303.937 Fonte: CAGED Saldo das contratações e demissões No período de Jan/2011 a Mai/2012 Porcentagem de Trabalhadores por Grande Setor de Atividade 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 Indústria 27,64% 29,07% 27,85% 26,71% 27,02% 25,51% 24,12% 23,11% 22,44% 23,68% 22,67% 22,12% 21,33% Construção 4,19% 4,53% 4,27% 4,45% 4,40% 4,14% 4,24% 4,06% 3,84% 4,67% 4,54% 4,70% 4,82% Comércio 12,80% 13,04% 12,91% 12,71% 12,93% 12,84% 12,22% 11,87% 11,80% 13,57% 14,06% 14,53% 15,22% Serviços 50,97% 49,44% 50,73% 50,38% 48,83% 48,37% 48,00% 48,21% 46,07% 48,77% 53,41% 54,09% 54,36% Agricultura 1,63% 1,46% 1,34% 1,28% 1,58% 1,61% 1,59% 2,12% 2,19% 4,23% 4,24% 4,17% 4,14% Total 97,23% 97,54% 97,10% 95,52% 94,76% 92,47% 90,16% 89,37% 86,34% 94,91% 98,92% 99,61% 99,88% 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Indústria 19,63% 20,06% 20,15% 19,83% 19,67% 19,62% 20,36% 19,93% 20,26% 20,29% 20,01% 19,31% 19,29% Construção 4,64% 4,19% 4,17% 4,17% 3,86% 3,55% 3,56% 3,75% 3,96% 4,30% 4,85% 5,17% 5,69% Comércio 15,28% 15,76% 16,21% 16,50% 16,83% 17,33% 17,79% 18,07% 18,01% 18,19% 18,57% 18,67% 19,02% Serviços 56,28% 55,84% 55,37% 55,51% 55,68% 55,41% 54,13% 54,32% 53,91% 53,54% 52,97% 53,39% 52,80% Agricultura 4,13% 4,14% 4,09% 3,99% 3,97% 4,09% 4,16% 3,94% 3,86% 3,67% 3,60% 3,46% 3,20% Total 99,97% 99,99% 99,99% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% Fonte: RAIS Porcentagem de Trabalhadores em relação a População Economicamente Ativa 1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 PEA 65.977.197 66.944.596 70.055.469 69.583.474 71.634.612 73.284.362 77.243.166 77.467.473 80.400.976 Indústria 7,80% 7,76% 7,69% 7,58% 7,18% 6,56% 6,49% 6,82% 6,71% Construção 1,37% 1,33% 1,54% 1,61% 1,62% 1,55% 1,36% 1,41% 1,41% Comércio 4,01% 4,08% 4,77% 4,98% 5,12% 5,11% 5,10% 5,49% 5,58% Serviços 16,28% 15,94% 18,11% 18,52% 18,29% 18,81% 18,07% 18,75% 18,77% Agricultura 0,71% 0,76% 1,44% 1,43% 1,39% 1,38% 1,34% 1,38% 1,35% Total 30,17% 29,88% 33,54% 34,11% 33,61% 33,41% 32,35% 33,86% 33,82% 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 PEA 83.079.896 84.684.123 86.985.753 89.529.881 90.549.690 91.757.699 93.325.283 95.380.900 93.504.659 Indústria 6,79% 6,85% 7,35% 7,40% 7,87% 8,32% 8,46% 8,34% 9,09% Construção 1,33% 1,24% 1,29% 1,39% 1,54% 1,76% 2,05% 2,24% 2,68% Comércio 5,81% 6,05% 6,42% 6,71% 6,99% 7,46% 7,85% 8,07% 8,96% Serviços 19,22% 19,33% 19,54% 20,17% 20,93% 21,94% 22,39% 23,06% 24,88% Agricultura 1,37% 1,43% 1,50% 1,46% 1,50% 1,51% 1,52% 1,50% 1,51% Total 34,53% 34,89% 36,11% 37,13% 38,82% 40,99% 42,26% 43,20% 47,13% Fonte: RAIS/IPEA
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