Buscar

A PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO NO BRASIL

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 194 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 194 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 194 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

A PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO NO BRASIL: A
EXACERBAÇÃO DO PROCESSO DE DESESTRUTURAÇÃO DO
MERCADO DE TRABALHO BRASILEIRO PROVOCADO PELAS
FORÇAS PRODUTIVAS CAPITALISTAS ACENTUADAMENTE
COMPETITIVAS E EXCLUDENTES DO SÉCULO XXI
Álaze Gabriel Gifted1
1Graduado em Gestão Empresarial (2012). Pós graduado no MBA em Finanças e Controladoria UBC (2014). Pós
graduado em Docência e Pesquisa para o Ensino Superior (2015). Cursando graduação em Ciências Contábeis
(4º período). Cursando graduação em Estatística (4ª período). Poeta lírico (poesias, acrósticos), narrador
(romances, crônicas, biografias) e dramaturgo (farsas, tragédias). Pesquisador sobre: o fenômeno
socioeconômico concentracionista; a metodologia da pesquisa científica; a docência no ensino superior; o
fenômeno religioso. Administrador de blogs. Possui trajetórias acadêmica e profissional bastante diversificadas,
com concentração nas áreas administrativa e contábil. Participou do curso de extensão Equidade no acesso à pós-
graduação para populações sub-representadas a cursos de mestrado, na Universidade Federal de São Carlos -
UFSCar.
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: TRABALHO, TECNOLOGIA E ORGANIZAÇÃO
A PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO NO BRASIL: A
EXACERBAÇÃO DO PROCESSO DE DESESTRUTURAÇÃO DO
MERCADO DE TRABALHO BRASILEIRO PROVOCADO PELAS
FORÇAS PRODUTIVAS CAPITALISTAS ACENTUADAMENTE
COMPETITIVAS E EXCLUDENTES DO SÉCULO XXI
Álaze Gabriel Gifted
Trabalho monográfico apresentado
aos professores doutores João
Alberto Camarotto e Nilton Luiz
Menegon como requisito parcial
para ser membro do grupo de
pesquisa Simucad/PSPLab, La-
boratório de Ergonomia,
Simulação e Projeto de Situações
Produtivas, vinculado ao Programa
de Pós-Graduação em Engenharia
de Produção (PPGEP) da
Universidade Federal de São
Carlos (UFSCar), campus São
Carlos.
SÃO CARLOS
2016
 Ficha catalográfica elaborada pelo DePT da Biblioteca Mental 
de Álaze Gabriel Gifted
A1890p7 
Gifted, Álaze Gabriel. 
A precarização do trabalho no Brasil: a exacerbação do
processo de desestruturação do mercado de trabalho brasileiro
provocado pelas forças produtivas capitalistas acentuadamente
competitivas e excludentes do século XXI / Álaze Gabriel Gifted. 
-- São Carlos : UFSCar, 2016. 
194 f. 
Trabalho monográfico -- Universidade Federal de São 
Carlos, 2016. 
1. Precarização do trabalho. 
2. Precarização econômica.
3. Precarização social.
4. Precarização ambiental. I. Título. 
CDD: 189.0 (1ª)
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. João Alberto Camarotto __________________________________
Prof. Dr. Nilton Luiz Menegon __________________________________
Dedico este estudo exclusivamente aos meus orientadores: 
Prof. Dr. João Alberto Camarotto e a 
Prof. Dr. Nilton Luiz Menegon 
Agradecimentos:
À minha família, pelo apoio afetivo;
À Universidade Federal de São Carlos
(UFSCar) pelos serviços educacionais a mim
prestados;
Aos professores doutores João Alberto
Camarotto e Nilton Luiz Menegon que
bondosamente me concederam a oportunidade
de participar no grupo de pesquisa
Simucad/PSPLab.
Aos meus professores e colegas de classe do
curso de graduação em Estatística, na
Universidade Federal de São Carlos
(UFSCar).
A PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO NO BRASIL: A
EXACERBAÇÃO DO PROCESSO DE DESESTRUTURAÇÃO DO
MERCADO DE TRABALHO BRASILEIRO PROVOCADO PELAS
FORÇAS PRODUTIVAS CAPITALISTAS ACENTUADAMENTE
COMPETITIVAS E EXCLUDENTE DO SÉCULO XXI
RESUMO
O trabalho reflete sobre o tema precarização, buscando alcançar o estado da sua arte. Foca na
precarização no Brasil resultante da exacerbação do processo de desestruturação do mercado
de trabalho brasileiro provocado pelas forças produtivas capitalistas acentuadamente
competitivas e excludentes do século XXI. Para tanto, realiza uma revisão bibliográfica e
documental da sua literatura crítica, que, enquanto um ensaio teórico bem realizado, é uma
excelente porta de entrada em uma área de pesquisa, consistindo em uma mapa completo do
seu território, apontando e explanando o seu estado atual, as suas teorias, os seus conceitos
fundantes e as suas lacunas. Além disso, utiliza o método crítico-dialético como a base lógica
da sua investigação e o método hipotético-dedutivo, como a base da sua estrutura de
pensamento. Discute que na conjuntura socioeconômica atual, as combinações de negócios,
enquanto novas estruturas de produção e de trabalho, apoderam-se não somente do trabalho
mas da vida dos trabalhadores, coisificando-os, fazendo-os trabalhar em prol dos seus
objetivos capitalistas, extraindo todas as suas forças e capacidades egoisticamente, tirando não
raro o seu tempo de lazer, de descanso, de espiritualidade, e até mesmo de vida cívica,
fragilizando a sua saúde. Conclui que: o trabalhador é o ponto mais fraco da relação de
trabalho; a saúde do trabalhador sofre efeitos não raro negativos provenientes da precarização
econômica (salário, benefícios, bônus, etc.), social (reconhecimento, status, etc.) e ambiental
(metas inalcançáveis, riscos físicos, biológicos e ou químicos, etc.) presentes na organização
do trabalho; o problema da precarização é antigo e novo, macro e microssocial, cujo combate
requer a adequação da regulação em matéria de trabalho à realidade atual bem como a
reestruturação do sistema fiscalizador. 
Palavras-chave: Precarização do trabalho. Precarização econômica. Precarização
social. Precarização ambiental. 
SÃO CARLOS
2016
THE PRECARIOUS WORK IN BRAZIL: THE EXACERBATION
OF THE BRAZILIAN WORK MARKET DISRUPTION PROCESS
CAUSED FOR THE CAPITALIST PRODUTIVE STRENGTHS
SHARPLY COMPETITIVE AND EXCLUSIVE OF THE XXI CENTURY
ABSTRACT
The work reflects on the precariousness theme, seeking to achieve the state of his art. Focuses
on the precariousness in Brazil resulting from the exacerbation of the disintegration of the
Brazilian labor market process caused by the sharply competitive capitalist productive forces
and excluding the twenty-first century. The study presents a bibliographical and documentary
review of its critical literature, which, as a theoretical test done well, is an excellent gateway
into a research area, consisting of a complete map of its territory, pointing and explaining their
status current, its theories, its fundamental concepts and its shortcomings. In addition, using
the critical-dialectical method as the rationale for their research and the hypothetical-
deductive method as the basis of the structure of thought. He argues that in the current socio-
economic situation, business combinations the while new structures of production and work,
not only seize from work but the workers' life, turning them into something worthless, making
them work for their capitalist goals, drawing all its forces and capabilities selfishly, often
taking their leisure time, relaxation, spirituality, and even civic life, weakening your health. It
concludes that: the worker is the weakest point of the employment relationship; the health of
the worker is often negative effects of the economic precariousness (salary, benefits, bonuses,
etc.), social (recognition, status, etc.) and environmental (unachievable goals, physical, and
biological or chemical, etc.) present in the organization of work; the problem of
precariousness is old and new, macro and micro-whose combat requires the adequacy of
regulation on working to the current reality and the restructuring of the inspection system.
Keywords: Precarious work. Economic precariousness. Social precariousness. Environmental
precariousness. 
SÃOCARLOS
2016
EL TRABAJO PRECARIO EN BRASIL: LA EXACERBACIÓN
DEL PROCESO DE DESESTRUCTURACIÓN DEL MERCADO DE
TRABAJO BRASILEÑO CAUSADO POR LAS FUERZAS
PRODUCTIVAS CAPITALISTAS PRODUCTIVAS BRUSCAMENTE
COMPETITIVAS Y EXCLUSIVAS DEL SIGLO XXI
RESUMEN
La obra reflexiona sobre el tema de la precariedad, tratando de alcanzar el estado de su arte.
Se centra en la precariedad en Brasil como resultado de la exacerbación de la desintegración
del proceso de mercado de trabajo brasileño causada por las fuerzas productivas capitalistas
fuertemente competitivos y excluyendo el siglo XXI. El estudio presenta una revisión
bibliográfica y documental de la literatura crítica, que, como una prueba teórica se hace bien,
es una excelente puerta de entrada a un área de investigación, que consiste en un mapa
completo de su territorio, señalando y explicando su estado actual, sus teorías, sus conceptos
fundamentales y sus deficiencias. Además, utilizando el método crítico-dialéctica como la
justificación de su investigación y el método hipotético-deductivo como la base de la
estructura del pensamiento. Sostiene que en la situación socio-económica actual,
Combinaciones de negocios al mismo tiempo que las nuevas estructuras de producción y
trabajo, no sólo se apoderan del trabajo, pero la vida de los trabajadores, les coisificando,
haciéndolos trabajar por sus objetivos capitalistas, dibujo todas sus fuerzas y capacidades de
forma egoísta, a menudo toman su tiempo de ocio, la relajación, la espiritualidad, e incluso la
vida cívica, lo que debilita su salud. Se concluye que: el trabajador es el punto de la relación
de trabajo más débil; la salud del trabajador es a menudo efectos negativos de la precariedad
económica (salario, beneficios, bonos, etc.), sociales (reconocimiento, estatus, etc.) y
ambientales (metas inalcanzables, física y biológica o química, etc.) presentar en la
organización del trabajo; el problema de la precariedad es viejo y nuevo, macro y micro-cuyo
combate requiere la adecuación de la regulación sobre el trabajo a la realidad actual y la
reestructuración del sistema de inspección.
Palabras clave: El trabajo precario. Precariedad económica. Precariedad social.
Precariedad del medio ambiente. 
SÃO CARLOS
2016
LISTA DE TABELAS 
TABELA 1 – Tipificação da precarização econômica do trabalho. Página 25.
TABELA 2 – Tipificação da precarização social do trabalho. Página 30.
TABELA 3 – Tipificação da precarização ambiental do trabalho. Página 42.
TABELA 4 – Apresentação das 35 Normas Regulamentadoras do Ministério do
Trabalho e Emprego. Elaborada pelo autor. Fonte: Revisão bibliográfica do autor. Página 44.
LISTA DE APÊNDICES
APÊNDICE 1 - A essência da legislação trabalhista, previdenciária e assistencial
brasileira. Página 92. 
APÊNDICE 2 – Fusões, consolidações, holdings e joint ventures empresariais: uma
introdução ao fenômeno concentracionista empresarial. Página 104.
LISTA DE ANEXOS
ANEXO 1 - A Convenção número 81 da Organização Internacional do Trabalho
(IOT). Página 127.
ANEXO 2 – O artigo sétimo da Constituição da República Federativa Brasileira
(CF/88). Página 138. 
ANEXO 3 - A Norma Regulamentadora número 5 do Ministério do Trabalho e
Emprego (NR-7/MTE). Página 141.
ANEXO 4 - A Norma Regulamentadora número 7do Ministério do Trabalho e
Emprego (NR-5/MTE) – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional. Página 150.
ANEXO 5 - A Norma Regulamentadora número 9 do Ministério do Trabalho e
Emprego (NR-9/MTE) e seu anexo único – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais.
Página 156.
ANEXO 6 - A Norma Regulamentadora número 17 do Ministério do Trabalho e
Emprego (NR-17/MTE) – Ergonomia. Página 166.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ….................................................................................................. 17
2 A PRECARIZAÇÃO ECONÔMICA …............................................................... 25
3 A PRECARIZAÇÃO SOCIAL ….......................................................................... 30
4 A PRECARIZAÇÃO AMBIENTAL….................................................................. 41
5 METODOLOGIA …............................................................................................... 54
 
 5.1 Eixo epistemológico…........................................................................................ 54
 
 5.2 Eixo lógico …...................................................................................................... 56
 
 5.3 Eixo técnico…..................................................................................................... 57
6 CONCLUSÕES …................................................................................................... 76
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS …............................................................................. 80
REFERÊNCIAS …..................................................................................................... 82
APÊNDICE 1….......................................................................................................... 92
APÊNDICE 2…........................................................................................................ 104
ANEXO 1 ….............................................................................................................. 127
ANEXO 2 ….............................................................................................................. 138
ANEXO 3 ….............................................................................................................. 141
ANEXO 4 ….............................................................................................................. 150
ANEXO 5 ….............................................................................................................. 156
ANEXO 6 ….............................................................................................................. 166
17
1 INTRODUÇÃO
Este trabalho reflete sobre o tema precarização, buscando alcançar o estado da sua
arte. A precarização pode se manifestar de diferentes maneiras na vida do trabalhador. Ela
pode ser econômica, o que representa irregularidade no recebimento dos vencimentos, ou
remuneração inferior ao da categoria profissional em que se atua, inadequação do vínculo
empregatício, por exemplo um funcionário habitual sendo pago como se fosse um autônomo,
informalidade da relação de trabalho, por exemplo sem o registro na Carteira de Trabalho e
Previdência Social (CTPS), o que visa desonerar o empregador das suas obrigações
trabalhistas e previdenciárias para com o empregado. Ela pode ser social, o que representa o
não reconhecimento do seu valor profissional para a empresa e para a sociedade em geral,
comumente visto no caso de catadores de lixo, auxiliares de limpeza, recicladores, e empregos
braçais em geral (trabalhadores de carga e descarga, montadores e desmontadores de circo,
carpinadores, etc.). E ela pode ser ambiental, ou seja, oriunda do ambiente de trabalho, que
pode apresentar riscos físicos, biológicos e ou químicos fora do padrão especificado em lei,
metas inalcançáveis, a polivalência, pressões exacerbadas, o assédio moral, a extensão da
jornada de trabalho por período superior ao permitido em lei para a categoria profissional
específica de cada trabalhador (DRUCK, 2011; SCOMPARIM, 2009).
Esse tema se justifica devido à necessidade de estudos que apontem clara e
objetivamente em que aspectos a regulação em matéria de trabalho e o seu sistema
fiscalizador precisam se adequar à realidade atual, a primeira por meio de reelaboração no
campo do Legislativo, e o segundopor meio de reestruturação no campo da Justiça do
Trabalho (SCOMPARIM, 2009). Percebe-se que raríssimos acadêmicos têm a coragem de
retratar realisticamente a absurda realidade da precarização resultante das forças exploradoras
capitalistas, mas que tal ação é fundamental no seu combate, na transformação social das
estruturas de trabalho e de produção que traga benefícios significativos para toda a sociedade,
por meio da promoção de relações de trabalho justas, dignas, humanas (DRUCK, 2011;
MARX, 1982; MANDEL, 1967; MÉSZAROS, 2006).
 A questão que move essa pesquisa é discutir a precarização do trabalho no Brasil,
resultante da exacerbação do processo de desestruturação do mercado de trabalho brasileiro
provocado pelas forças produtivas capitalistas acentuadamente competitivas e excludentes do
século XXI, em especial no caso das combinações de negócios, hoje necessidade para a
sobrevivência no mercado, mas que culmina, não raro, em efeitos negativos sobre a saúde do
trabalhador. Na conjuntura socioeconômica atual, as combinações de negócios, enquanto
18
novas estruturas de produção e de trabalho, apoderam-se não somente do trabalho mas da vida
dos trabalhadores, coisificando-os, fazendo-os trabalhar em prol dos seus objetivos
capitalistas, extraindo todas as suas forças e capacidades egoisticamente, tirando não raro o
seu tempo de lazer, de descanso, de espiritualidade, e até mesmo de vida cívica, fragilizando a
sua saúde (DRUCK, 2011; MARX, 1982; MANDEL, 1967; MÉSZAROS, 2006; JADON,
2005; FILHO, 2011; SCOMPARIM, 2009; SOUTO, 2001; SIGNINI, 1999; RUSSO, 2010).
Para tanto, foram selecionados vinte e oito trabalhos acadêmicos sobre temas que
ajudassem a elaborar o presente trabalho, dente os quais a precarização, a legislação
trabalhista, a legislação previdenciária, a legislação assistencial, a saúde do trabalhador, a
economia política, a terceirização e o fenômeno concentracionista empresarial. Além destes,
foram consultados quinze documentos específicos sobre Normas Regulamentadoras (site do
Ministério do Trabalho e Emprego), acidentes do trabalho (site do Ministério da Previdência
Social), e dados específicos necessários para a construção deste trabalho. Ainda foram
consultadas também trinta e cinco bibliografias e dois documentos eletrônicos específicos
sobre a metodologia da pesquisa científica, para embasamentos epistemológicos, lógicos e
técnicos. Portanto, este trabalho é resultado de uma extensa revisão bibliográfica e
documental. Em todas as bibliografias e documentos consultados buscou-se compreender as
suas nuances nos últimos séculos, em especial as discussões sobre o tema na última década. 
Para a escolha das fontes selecionadas foram considerados os seguintes critérios: a)
conteúdo específico sobre a precarização; b) conteúdo específico sobre a metodologia da
pesquisa científica; c) viabilidade de acesso e análise dos materiais selecionados. Todas as
fontes foram observadas; os dados foram coletados, organizados, sistematizados, analisados, e
apresentados de acordo com os procedimentos técnicos de pesquisa para levantamento
bibliográfico e documental apresentados por Gil (1999; 2010), Marconi e Lakatos (2007),
Rodrigues (2007), Luna (2011; 2012) e Köche (1997; 2011). Buscou-se nelas alcançar o
estado da arte do tema.
Meu interesse por pesquisar este tema nasceu da minha percepção da imensa
inadequação da regulação em matéria de trabalho bem como do seu sistema fiscalização à
realidade socioeconômica atual. Tal percepção da minha parte se deu no decorrer da minha
trajetória profissional, que teve início nos idos de 2000, quando eu comecei a trabalhar
informalmente (sem carteira assinada), vendendo picolés e sorvetes nas ruas da cidade São
Lourenço, situada na região sulmineira, onde eu nasci e cresci. Nesta mesma cidade que
trabalhei em habitual e informalmente em várias empresas: por dois anos e meio na Sorveteria
R'Bom, onde eu era ajudante geral, trabalhando em especial na produção de picolés e
19
sorvetes, armazenando-os em câmara fria sem todos os Equipamentos de Proteção Individual
(EPIs) necessários (máscara, jaqueta, calça, calçado, meias e luvas térmicas, produzidas com
materiais especiais para proteção contra baixas temperaturas); por um ano e meio na fábrica
de balas e doces Yasmim, onde eu era ajudante geral também, tendo trabalhado na produção,
no corte, no armazenamento, no embalamento, na pesagem, na selagem, na rotulagem, e na
expedição de balas e doces, em algumas dessas etapas sem os EPIs necessários, por exemplo
sem máscara protetora ao lavar o tacho com ácino cianídrico, utilizado para a remoção da
massa grudada, e de toda a roupagem própria para a limpeza da caldeira, que eu fazia
quinzenalmente; por um ano no escritório de contabilidade da Maria de Lourdes, onde eu era
auxiliar de escritório, realizando o registro de inventários, a escrituração fiscal, a elaboração
de relatórios, e serviços externos, numa relação informal (sem carteira assinada); por seis
meses no escritório de contabilidade do José Roberto Marques, onde eu quera auxiliar de
escritório, realizando a escrituração fiscal e atividades do departamento pessoal (folha de
pagamento, RAIS, CAGED, SEFIP/GFIP, etc.), também sem carteira assinada; por três meses
no escritório de advocacia de Rubélio de Carvalho, onde eu era o seu secretário, trabalhando
sem a carteira assinada, com remuneração bastante inferior ao piso da categoria profissional.
Mais tarde, quando eu mudei para São Paulo capital, em 2014, eu trabalhei na Centro e na
Higilimp, duas empresas de asseio e conservação ambiental, onde eu trabalhei na categoria
profissional dos auxiliares e serventes de limpeza, sob pressões exageradas, às vezes sendo
ofendido por “superiores” hierárquicos, às vezes sem receber alguns dos vencimentos
mensais, às vezes sem os EPIs necessários; em São Paulo capital eu tive a oportunidade de
trabalhar também na Tivit, na Almaviva do Brasil e na Action Line, na categoria profissional
dos atendentes de telemarketing, sob pressões exageradas, que incluíram metas inalcançáveis,
assédio moral por parte de “superiores” hierárquicos, que me trataram como esquizofrênico
sem provas concretas dessa alegação, às vezes falta de água, a presença da promiscuidade e da
polivalência no ambiente laboral, a extensão da jornada de trabalho por período superior a seis
horas diárias e duas horas extras, no máximo, conforme constam no Anexo II da Norma
Regulamentar nº. 17, expedida pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Com a
diferença que nas cinco empresas onde eu trabalhei em São Capital, todas elas registram na
Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) a relação empregatícia. Vale destacar que
na Tivit Terceirização de Processos, de Serviços e de Tecnologia SA, eu trabalhei no cargo de
Agente de Processos e Negócios I, para os clientes contratantes Santander (por dois meses) e
IBI (por quatro meses), realizando a recuperação de créditos de produtos financeiros e
bancários, o que caracteriza as funções exercidas como pertencentes ao cargo de bancário,
20
portanto devendo estar este funcionário enquadrado na categoria profissional dos financiários
e bancários; destarte, os meus vencimentos mensais na Tivit sempre foram bastante inferiores
aos dos financiários e bancários. Mais tarde, ainda, no fim de 2015, quando eu mudei para a
cidade São Carlos, retornando ao curso de Estatística que eu tinha iniciado em 2013 na
UFSCar, eu tive a oportunidade de trabalhar na empresa Consultoria e Assessoria EmpresarialLTDA, situada na Vila Pinhal da Represa do Broa, em um restaurante do Broa Golf Resort, no
cargo de auxiliar de serviços gerais, bem aquém do meu nível de instrução, já com duas pós-
graduações, sendo tratado como deficiente sem provas concretas dessa alegação, sendo
exposto ao ridículo ao receber do departamento de Recursos Humanos (RH) da empresa
uniformes rasgados, e quando eu solicitei uniformes decentes o que me foi negado, tendo sido
colocado para morar em um alojamento cujo quarto tinha goteiras, sendo que em dias
chuvosos o quarto se enchia de água molhando os meus pertences, cheirava mofo, e me
expunha em uma situação insalubre, com ar muito quente e úmido, o que favorece a contração
de doenças tais como gripes, e a solidificação de doenças respiratórias tais como rinite,
sinusite e bronquite. Cabe notar que esta última empresa não me registrou na CTPS,
inicialmente, tendo eu que reclamar meus direitos trabalhistas no sindicato da categoria, no
MTE, no Ministério Público Federal (MPF) de São Carlos, solicitando encaminhamento para
o Ministério Público do Trabalho (MPT), e no Fórum do Trabalho da Comarca de São Carlos.
Enfim, diante da falta de proteção trabalhista e previdenciária aqui exposta referente aos
vínculos empregatícios que eu tive, várias vezes eu tive de recorrer aos órgãos da Justiça do
Trabalho em busca dos meus direitos. Percebe-se, pois, que a minha trajetória profissional se
fez marcada pela precarização econômica, social e ambiental desde o seu princípio, o que
culminou na sua fragmentação e na sua diversificação. Durante quinze anos de trajetória
profissional, até hoje eu ainda não consegui alcançar a minha estabilidade financeira e
profissional, tampouco sentir satisfação pelo trabalho, por causa da intensa exploração sobre
mim por parte dos empregadores que eu tive, que sempre priorizaram a sua lucratividade
acima de tudo e de todos, usando-me como uma coisa, um material útil, necessário e
suficiente para a geração das suas respectivas riquezas, e não da minha, de modo que eu
continuo socioeconomicamente pobre desde o início até hoje por causa deles. Em outras
palavras, eu nunca fui tratado como um ser humano no mercado de trabalho; eu sempre fui
coisificado, alienado, explorado, desvalorizado, irreconhecido, maltratado, assediado,
inadequadamente atendido, tratado como um analfabeto funcional, nunca posicionado
hierarquicamente em cargo condizente com o meu perfil, nunca auferindo remuneração
21
adequada ao meu perfil. Atualmente eu sofro da Síndrome de Bournout2, que se intensifica
na medida em que o meu progresso é atrasado pelas forças exploradoras capitalistas. Soma-se
a isto, o meu interesse em construir minha carreira nas categorias profissionais de auditoria
fiscal e docência universitária.
A internacionalização da economia provocou mudanças significativas na estrutura
produtiva e nos padrões de comércio mundiais, promovendo o processo concentracionista
empresarial e trazendo à baila a necessidade do fortalecimento dos órgãos reguladores,
nacionais e estrangeiros, da defesa da concorrência. O advento da Globalização, conhecida
como a Terceira Revolução Industrial e Tecnológica, alicerçada na automação da produção e
nas tecnologias da informação, modificou consideravelmente a organização do trabalho na
produção e no mundo do trabalho, culminando na exacerbação do processo de desestruturação
do mercado de trabalho brasileiro (GREMAUD; VANCONCELLOS; JÚNIOR, 2006;
LYNCH, 1994; GIFTED, 2014; 2015; MORAN; HARRIS; STRIPP, 1996; SLACK;
CHAMBERS; JOHNSTON, 2009; MELO, 2011; FILHO, 2011; BRASIL, 2015; 2016). Sobre
estes aspectos, Melo (2011, p. ) explana com clareza e objetividade a crise do trabalho e do
emprego no Brasil do seguinte modo:
A inserção do Brasil no processo de reestruturação do capitalismo se
dá de forma passiva e subordinada, representando uma ruptura com o padrão de
crescimento econômico configurado a partir da década de 1920 em bases industriais
e com o processo histórico de formalização das relações de trabalho iniciada na
década de 1930, sob o governo de Getúlio Vargas.
As transformações do modelo de desenvolvimento brasileiro ocorreram num
contexto político-conjuntural de vitória eleitoral de Fernando Collor de Mello, no
início da década de 1990, com o desencadeamento de um conjunto de medidas
econômicas liberalizantes para dar conta da crise dos anos de 1980, permeadas pela
adoção de um programa de liberação comercial, desregulação financeira e
encolhimento do setor público (privatização, fechamento de empresas e demissão de
funcionários públicos) “combinando com políticas econômicas recessivas,
representando a destruição dos postos de trabalho, que contabilizou o corte de 2,2
milhões de postos regulares somente nos anos 1990/92 em todo o país”
(POCHMANN, 1999, p. 88).
As políticas neoliberais implementadas no Governo Collor, por um lado,
determinaram um cenário econômico nacional caracterizado pela recessão
econômica, pelo crescente desemprego na indústria e pelo predomínio da
racionalização predatória de custos nas empresas, notadamente através da redução
de custos com a mão-de-obra empregada. Por outro lado, nesse período criaram-se
as condições macroeconômicas para o sucesso do plano de estabilização monetária
do Governo Fernando Henrique Cardoso e para a consolidação do processo de
reestruturação do capitalismo no Brasil (MATTOSO, 1995).
Assim, com a implantação do Plano Real, em 1994, no início do primeiro Governo
Fernando Henrique Cardoso, as transformações neoliberais foram aprofundadas
2
A Síndrome de Bournout é um distúrbio psíquico de caráter depressivo, precedido de esgotamento
físico e mental intenso, resultante de intenso estresse provocado em contexto laboral.
22
através da intensificação da abertura comercial e financeira e da reforma do Estado,
representada pelas privatizações, concessões públicas ao capital privado e pelas
reformas institucionais, tais como a Reforma da Previdência Social e a Reforma
Administrativa, assim como uma política de sobrevalorização cambial e de altas
taxas de juros para atrair o capital financeiro (MATTOSO, 2000).
Nesse contexto, observou-se a exacerbação do processo de desestruturação do
mercado de trabalho brasileiro, com a “explosão” das taxas de desemprego (sem
precedentes na história do país), a precarização das condições e relações de trabalho,
mudanças na estrutura do emprego formal, o surgimento de formas precárias de
ocupação e o aumento da informalidade, como estratégia de sobrevivência dos
trabalhadores desempregados, mesmo diante da recuperação do assalariamento
formal verificado nos dois últimos anos do segundo governo Fernando Henrique
Cardoso (MELO, 2008).
Com a formação de um governo de base “popular”, comandado pelo presidente Luis
Inácio Lula da Silva, a partir de 2003, constituiu-se um conjunto de propostas de
investimentos na área social, articuladas a manutenção do controle inflacionário e do
plano de estabilização monetária do governo anterior, caracterizando o novo governo
como contraditório e ambíguo, apresentando um polo de poder mais ligado a
elaboração e aplicação de políticas de cunho social e um polo de poder articulado ao
sistema financeiro internacional, promovendo a manutenção da política
macroeconômica ditada pelo mercado e pelos institutos financeiros internacionais
sediados em Washington e inaugurada pela implementação do Plano Real em 1994
(SOARES, 2004).
No bojo da manutenção dessas políticas macroeconômicas ditadas pelo mercado,
permaneceramos problemas históricos do mercado de trabalho brasileiro, com a
manutenção de taxas de desemprego elevadas, a informalidade do trabalho para
amplas camadas de trabalhadores excluídos do mercado de trabalho formal, a
instabilidade/alta rotatividade da mão de obra e a precarização das condições e
relações de trabalho.
Em suma, a manutenção do processo de desestruturação do mercado de trabalho
formal aponta para a precarização das condições e relações de trabalho no Brasil,
mesmo com a recuperação do emprego formal dos últimos anos, nos estertores de
um governo contraditório e da continuidade da aplicação do receituário neoliberal
capitaneado pelo mercado e pelas instituições financeiras internacionais, sob o
governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva.
Neste diapasão, entra em cena o boom concentracionista empresarial ocorrido
sobretudo a partir do início do século XXI, fase em que a Globalização se consolida,
transformando as combinações de negócios em uma necessidade de sobrevivência no
mercado. Torna-se, então, exponencial o crescimento quantitativo da formação de fusões, de
consolidações e de terceirizações empresariais, em escalas sem precedentes que, por um lado,
transfere benefícios à sociedade na forma de trabalho, de renda, de evolução tecnológica, de
melhorias na infraestrutura urbana, mas por outro, por conta de sua competitividade
excessivamente agressiva, ameaça as estruturas de mercado, gerando a precarização das
condições de trabalho e a necessidade de adequação tanto da regulação quanto do seu sistema
fiscalizador às condições socioeconômicas atuais (GIFTED, 2014; 2015; FILHO, 2011;
RUSSO, 2004). Sobre esta dinâmica do trabalho e sua precarização, Silva, Araújo e Barbosa
(2014, p. 557) pontuam:
23
Olhando para a dinâmica do trabalho e a sua precarização, é possível
perceber o quanto os trabalhadores tendem a estarem submissos as leis de mercado e
ao sistema capitalista. Os trabalhadores precisam vender sua força de trabalho para
sobreviverem, sendo esta a sua única mercadoria, ele não possui outra opção senão
se submeter. 
Por um lado, existe um exercito de reserva de mão de obra que contribui para os
baixos salários e para as más condições de trabalho, ou seja, ou o trabalhador aceita
as condições oferecidas ou pode ser substituído por outro trabalhador que estando
desempregado aceitará facilmente as condições oferecidas. 
Por outro lado, a intensa divisão do trabalho e a especialização do processo
produtivo interferem na criatividade do trabalhador e contribui para o seu
estranhamento no processo produtivo, sendo assim, a alienação do trabalhador o
torna dependente do sistema, se antes ele tinha uma percepção do produto do início
ao fim, agora seu trabalho é especializado e resumido a uma atividade repetitiva e
maçante, onde só consegue perceber as partes de sua função desenvolvida.
Inobstante, neste respeito Gremaud, Vasconcellos e Júnior (2006) salientam que, a
priori, o fenômeno concentracionista empresarial não pode nem deve ser considerado bom ou
ruim para o desenvolvimento socioeconômico. A razão disso é que, por um lado, a
concentração pode trazer ganhos de eficiência que poderão ser revertidos para a sociedade,
contudo, por outro lado, corre-se os riscos referentes ao poder de mercado, ou seja, preços
elevados, cartéis e outras modalidades de concorrências desleais, e à precarização das
condições de trabalho que, não raro, afligem o trabalhador em todas as combinações de
negócios atualmente efetivadas.
Por exemplo, no setor bancário brasileiro existe a formação de terceirizações de
atividades-fim, ato amplamente discutido pelos mais importantes representantes estatais e
empresariais, e atualmente vedados pelos enunciados 226 e 331 do TST (FILHO, 2011;
PEDROSA, 2000; SOUTO; 2001; REZENDE, 1997). Desse modo, observam-se ilegalidades
cometidas por vários bancos situados em território brasileiro no processo de terceirizações
que eles efetivam de algumas de suas atividades financeiras e bancárias, tais como a
concessão de linhas de créditos e a recuperação de créditos para call centers especializados na
prestação desses serviços (SOUTO; 2001; SEGNINI, 1999; GIFTED, 2014; 2015). Percebe-
se, destarte, a necessidade de adequação tanto da regulação trabalhista e previdenciária quanto
da fiscalização da Justiça do Trabalho à realidade socioeconômica atual, na qual se faz
presente um nível de agressividade competitiva sem precedentes no mercado de trabalho, em
que o trabalhador tem se tornado cada vez mais vulnerável à crescente força do empregador,
em especial o que se configura empresário (FILHO, 2011; JADON, 2005). Para exemplificar
a precarização do trabalho resultante das forças produtivas capitalistas acentuadamente
competitivas e excludentes do século XXI, Jadon (2005, p. 163) apresenta realisticamente o
24
caso absurdo da empresa transnacional norte-americana Nestlé, com os seguintes dizeres:
[…] O caso da Nike é sugestivo: trata-se de uma “empresa em rede”,
ou seja, que emprega 8 mil pessoas em administração, projeto, vendas e produção,
sendo essa última terceirizada nas mãos de cerca de 75 mil trabalhadores. A maior
parte dessa terceirização está na Indonésia, onde o tênis é produzido ao custo de
cerca de 5,60 dólares por jovens que recebem apenas 15 centavos por hora. Em
contrapartida, o preço de venda, nos Estados Unidos e na Europa, é de 73 a 135
dólares. Os trabalhadores estão alojados em barracas, não há sindicatos, as horas
extras são obrigatórias e, se houver greve, a polícia pode ser acionada. O astro
americano do basquete, Michael Hordan, segundo a imprensa, recebeu 20 milhões
de dólares, em 1992, para promover o tênis Nike, superando toda a folha de
pagamento anual das fábricas indonésias que os produziram. […]
Para contextualizar, a Nike Inc., fundada em 1972 por Phil Knigt e Bill Boweman, tem
sede em Abertona, no estado de Oregon, nos Estados Unidos, é a líder mundial no
desenvolvimento e na comercialização de calçados, vestuário, acessórios e equipamentos
esportivos autênticos para uma ampla variedade de esportes e atividades de condicionamento
físico, emprega atualmente cerca de 38 mil funcionários orgânicos (diretos) no mundo, dentre
os quais cerca de 1500 aqui no Brasil. Por meio de suas fábricas subcontratadas, a Nike gera
milhares de empregos inorgânicos (terceirizados), contando atualmente mais de 950 mil
funcionários subcontratados, organizados e divididos nas cerca de 800 fábricas situadas em
170 países, dentre os quais cerca de 5 mil postos aqui no Brasil (BRASIL, 2004; 2014).
Com base nestes pressupostos, percebe-se pelo cândido relato apresentado por Jadon
(2005) que o poder midiático está sendo utilizado no fenômeno concentracionista empresarial,
conforme no caso da Nike, como um meio gerador das distorções de um sistema econômico
que transfere recompensas dos reais produtores do valor para aqueles que funcionam como
ilusionistas de marketing convencendo clientes a consumirem inflacionadamente produtos e
serviços que, não raro, não necessitam realmente. Desse modo, os consumidores são quase
que literalmente controlados como bonecos presos a uma marionete capitalista, consoante,
ainda sobre esse aspecto, Jadon (2005, p. 163) corrobora:
A exigência de lucros maiores a curto prazo concentrou o poder
econômico e político nas mãos de poucos escolhidos, de forma que a população seja
mantida pela mídia, que, dominada pelas corporações, bombardeia os espectadores
com interpretações da percepção de mundo: o consumismo é o caminho dafelicidade, a causa dos problemas dos países pobres é o excesso de restrições ao
mercado, a globalização econômica é inevitável historicamente e uma dádiva para a
humanidade. Esses mitos permitem a uma pequena elite com dinheiro viver em um
mundo de inclusões longe do resto da humanidade. [...]
25
Este trabalho foi organizado em sete capítulos. O primeiro se refere à introdução, na
qual são apresentados o tema, a justificativa, o problema, os objetivos, a contribuição, a
metodologia, o percurso do aluno, o referencial teórico, e a organização do trabalho. Do
segundo ao quarto capítulo o tema é desenvolvido: no segundo apresenta-se a precarização
econômica do trabalho, aquela que se origina do empregador e prejudica o trabalhador
economicamente, isto é, que o faz perder ou não receber os valores monetários justos pelo seu
exercício laboral; no terceiro, apresenta-se a precarização social do trabalho, aquela que se
origina da cultura social e prejudica o trabalhador socialmente, isto é, que não o permite
alcançar o patamar aceitável de dignidade humana, sendo respeitado, valorizado, reconhecido,
adequadamente incluído na sociedade, de acordo com as suas respectivas necessidades; no
quarto, apresenta-se a precarização do ambiente do trabalho, aquela que se origina de um
ambiente que oferece riscos para a saúde do trabalhador. O quinto capítulo foi dedicado à
explanação de todas as metodologias utilizadas para a elaboração deste trabalho. E, no sexto
e no sétimo capítulos, são apresentadas as conclusões e as considerações finais,
respectivamente. Daí, por último, mas não menos importante, no intuito de finalizar de forma
completa, o trabalho apresenta as referências consultadas.
2 A PRECARIZAÇÃO ECONÔMICA DO TRABALHO
A precarização econômica do trabalho é aquela que se origina do empregador e
prejudica o trabalhador economicamente, isto é, que o faz perder ou não receber os valores
monetários justos pelo seu exercício laboral. Ela representa irregularidade no recebimento dos
vencimentos, ou remuneração inferior ao da categoria profissional em que se atua,
inadequação do vínculo empregatício, por exemplo um funcionário habitual sendo pago como
se fosse um autônomo (com RPA), informalidade da relação de trabalho, por exemplo sem o
registro na Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS), o que visa desonerar o
empregador das suas obrigações trabalhistas e previdenciárias para com o empregado, ou
mesmo negligência do cumprimento de suas obrigações acessórias (DRUCK, 2011;
SCOMPARIM, 2009). Esquematicamente, este tipo de precarização do trabalho pode ser
apresentado do seguinte modo:
26
PRECARIZAÇÃO ECONÔMICA DO TRABALHO
TIPO DESCRIÇÃO
Remuneração inferior
ao da categoria
profissional
O empregador paga para seus funcionários um valor monetário
salarial menor do que aquele especificado por lei, ou por acordo
ou convenção coletiva do trabalho, que possuem força de lei. Esta
prática desonera o empregador em detrimento dos vencimentos do
empregado.
Inadequação do vínculo
empregatício
O empregador contrata como autônomo um trabalhador que lhe
presta serviços habitualmente, configurando o vínculo
empregatício, mas sem lhe registrar. Essa prática é bastante
comum em restaurantes, bares, pizzarias, lanchonetes, sorveterias,
fábricas de doces, que, em períodos sazonais, contratam
funcionários “extras”, que trabalham habitualmente, mas são
considerados autônomos, evidentemente com vencimentos bem
menores do que o especificado em lei, gerando prejuízos
financeiros ao funcionário. Comumente se paga estes funcionários
com o Recibo de Pagamento de Autônomo (RPA), não se recolhe
o FGTS, o recolhimento do INSS é menor porque a base de
cálculo é menor também.
Informalidade da
relação de trabalho
O empregador não registra na carteira de seus funcionários o
vínculo empregatício entre eles. Deste modo, o funcionário
“perde” seus direitos trabalhistas e previdenciários, que, embora
resguardados por lei, normalmente não são cobrados pelos
funcionários, que normalmente possuem baixo nível de instrução
e poder na sociedade.
Negligência do
cumprimento de
obrigações acessórias
O empregador deixa de informar corretamente a Relação Anual
de Informações Sociais (RAIS) ao Instituto Nacional da
Seguridade Social (INSS), ou mesmo o Cadastro Geral de
Empregados e Desempregados (CAGED) para o Ministério de
Trabalho e Emprego (MTE), o que prejudica o funcionário no
recebimento do seu abono salarial (PIS) e o seu seguro
desemprego, respectivamente.
Tabela 1. Tipificação da precarização econômica do trabalho. Elaborada pelo autor.
Fonte: Revisão bibliográfica feita pelo autor.
Para exemplificar um situação que aponta casos clássicos de precarização econômica,
vale apresentar, ainda que em partes, o relatório disponibilizado pelo Grupo Cipa Fiera
Milano, na Revista Cipa (BRASIL, 2015), em que uma ação de fiscalização, de autuação e de
interdição de atividades de empresas de telemarketing, que teve início após uma fiscalização
realizada em Minas Gerais, resultou em 900 autos de infração e R$ 300 milhões em multas
em sete estados brasileiros. Sem citar o nome das empresas, transcrevo o trecho específico
27
que corrobora a precarização econômica a que elas expuseram os seus trabalhadores
(BRASIL, 2015, s. p.) conforme exposto a seguir:
As empresas (tomadoras de serviço), que contratavam os serviços de
uma empresa de telemarketing, foram autuadas por terceirização ilícita e
descumprimento do Anexo II da Norma Regulamentadora NR 17, que regula vários
aspectos da atividade, somando um total de 900 autos de infração, somando um total
de R$ 300 milhões em multas. Entre as irregularidades encontradas estão diferenças
salariais que geraram débito de R$ 1,2 bilhão, valor devido aos trabalhadores que
deveriam ter sido contratados como bancários e funcionários de teles.
A fiscalização foi desencadeada por uma ação fiscal realizada em 2013 pela
SRTE/MG, por meio do projeto Prevenção de Acidentes e Doenças do Trabalho,
quando foram autuadas três unidades de uma empresa de telemarketing localizadas
em Belo Horizonte e abrangeu cerca de 11 mil trabalhadores, resultando na lavratura
de 246 Autos de Infração.
Auditora fiscal que participou da fiscalização em Minas Gerais e que também fez
parte da Comissão criada para fiscalizar a empresa a nível nacional, Odete Cristina
Pereira Reis, conta que quando a ação foi iniciada no estado, ocorria,
simultaneamente, a fiscalização em outra unidade da mesma empresa, localizada em
Pernambuco. “E, devido à repetição das irregularidades na empresa em todo o país,
foi criado um grupo, subordinado à Secretaria e Inspeção do Trabalho (SIT/MTE),
para fiscalizar a instituição a nível nacional, destaca. Em Pernambuco, o “Site”,
como são chamadas essas unidades, abrange cerca de 14 mil operadores.
A Superintendência Regional do Trabalho e Emprego em Minas Gerais (SRTE/MG)
promoveu uma audiência no dia 11 de março de 2015, em suas dependências, para apresentar
os dados da referida ação fiscal, que foi realizada pelo Ministério do Trabalho e Emprego
(MTE) concomitantemente em sete estados do país, quais sejam: Ceará, Pernambuco, Bahia,
Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. A referida operação fiscal, que
durou mais de um ano, teve por resultados, além dos dados apresentados na transcrição
anterior, a autuação de quatro grandes bancos e três empresas de telefonia (BRASIL, 2015).
Nela estiveram presentes representantes do Ministério Público do Trabalho (MPT), do
Ministério Público Federal (MPF), do Sindicato dos Auditores Fiscais do Trabalho (Sinait),do
Tribunal Regional do Trabalho (TRT), do Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicações
de Minas Gerais (Sinttel-MG), da Federação Interestadual dos Trabalhadores e Pesquisadores
em Serviços de Telecomunicações (FITRATELP), da Chefia da Perícia Médica do Instituto
Nacional do Seguro Social de Minas Gerais (INSS/MG) , além de outros convidados
(BRASIL, 2015). Neste diapasão, vale salientar que essa é a realidade do ambiente de
trabalho brasileiros em várias categorias profissionais, especialmente no setores bancário, no
de telecomunicações, no de segurança, no de limpeza e no de iluminação (FILHO, 2011;
GIFTED, 2015).
Tal realidade capitalista alienada e alienante é comparada a um câncer que se alastra
28
velozmente pelo planeta há alguns séculos, “destruindo meios de vida, deslocando povos,
tornando impotentes as instituições democráticas, alimentando-se de vidas humanas,
justificando o 'tudo por dinheiro'” (JADON, 2005, p. 163; MANDEL, 1967; MÉSZAROS,
2006; MARX, 1982). Nesse respeito, Jadon (2005, p. 163) conclui que “com essa dinâmica
poderosa e perversa, tornando imperativo duplicar o dinheiro investido, trata as pessoas como
fonte de ineficiências ao torná-las descartáveis sem se importar com o interesse público e os
valores morais e éticos”. Sobre estes absurdos cometidos por parte do empregador para com
seus funcionários, Silva, Araújo e Barbosa (2014, p. 553 e 554) acentuam:
O trabalhador se torna dependente do sistema, e esta situação contribui
para a precarização do trabalho, pois o seu salário é de subsistência, o que
proporciona minimamente as condições básicas de sobrevivência. É interesse do
capitalista que o trabalhador consiga sobreviver minimamente, pois precisa da sua
força do trabalho e da reprodução dos trabalhadores para atender a ordem das
transições diárias do capitalismo.
Por essa razão, o trabalhador economicamente fragilizado, busca estratégias para
sobreviver, contornando os efeitos devastadores da precarização. Uma delas são as
cooperativas formadas solidariamente, conhecidas também como Empreendimentos
Econômicos Solidários (EESs), em que um grupo de trabalhadores se organizam
cooperativamente em grupo autogerido por cada um de seus membros para executar
determinadas atividades econômicas sustentáveis, em que todos são simultaneamente
trabalhadores e donos (MELO, 2011; SILVA; ARAÚJO; BARBOSA, 2014; BRASIL, 2016).
Sobre estes aspectos, vale resgatar os conceitos apresentados no Fórum Brasileiro de
Economia Solidária (BRASIL, 2016, s. p.) bem como as palavras que Silva, Araújo e Barbosa
(2014, p. 554) e Melo (2011, p. 23, 24 e 28) salientam:
(BRASIL, 2016, s. p.):
Economicamente, é um jeito de fazer a atividade econômica de
produção, oferta de serviços, comercialização, finanças ou consumo baseado na
democracia e na cooperação, o que chamamos de autogestão: ou seja, na Economia
Solidária não existe patrão nem empregados, pois todos os/as integrantes do
empreendimento (associação, cooperativa ou grupo) são ao mesmo tempo
trabalhadores e donos.
Culturalmente, é também um jeito de estar no mundo e de consumir (em casa, em
eventos ou no trabalho) produtos locais, saudáveis, da Economia Solidária, que não
afetem o meio-ambiente, que não tenham transgênicos e nem beneficiem grandes
empresas. Neste aspecto, também simbólico e de valores, estamos falando de mudar
o paradigma da competição para o da cooperação de da inteligência coletiva, livre e
partilhada.
Politicamente, é um movimento social, que luta pela mudança da sociedade, por
29
uma forma diferente de desenvolvimento, que não seja baseado nas grandes
empresas nem nos latifúndios com seus proprietários e acionistas, mas sim um
desenvolvimento para as pessoas e construída pela população a partir dos valores da
solidariedade, da democracia, da cooperação, da preservação ambiental e dos
direitos humanos.
(SILVA; ARAÚJO; BARBOSA, 2014, p. 554):
Na perspectiva da Economia Solidária, surgem grupos de
trabalhadores que buscam alternativas para a geração de renda através da associação
e das práticas coletivas. São denominados de Empreendimento Econômico Solidário
– EES, onde a administração é feita de forma coletiva pelos próprios trabalhadores,
por meio de uma gestão participativa e democrática. Para além destas relações de
trabalho e produção, se articulam com as questões políticas, sociais, ambientais,
tanto no campo comunitário como das redes sociais.
[…] a economia solidária, por meio do seu surgimento, reforça o poder de luta de
todos os trabalhadores assalariados diante da exploração capitalista, visto que
diminui o exercito de reserva de mão de obra. Assim, demonstra através de novos
princípios a luta contra o capitalismo e as suas ideologias. Trata-se de um fenômeno
novo, baseado numa outra lógica econômica, fundamentada na busca de novas
relações de trabalho, e numa sociedade que não seja marcada pelo individualismo
contemporâneo.
Esta iniciativa se desenvolve pelas classes populares, como alternativas coletivas
para sobrevivência, e se amplia na medida em que seus atores aprendem e
desenvolvem novas relações de trabalho na prática diária no âmbito pessoal e
coletivo tanto no meio urbano quanto rural.
(MELO, 2011, p. 23, 24 e 28):
Portanto, o desenvolvimento nos empreendimentos solidários está
inextricavelmente associado à produção local de produtos e bens coletivos
(desenvolvimento local) e às formas ambientalmente saudáveis de produção e
consumo (desenvolvimento sustentável), como princípios de uma sociedade mais
justa e igualitária, produzida através da cooperação, da associação e da solidariedade
entre os trabalhadores nos empreendimentos e iniciativas solidárias de produção,
troca e consumo.
Em síntese, a economia solidária tem como características fundamentais os valores
de produção econômica permeados pelos princípios da solidariedade (entre os
trabalhadores na produção de bens e serviços e na justa distribuição dos
rendimentos), da cooperação (propriedade coletiva dos meios de produção, partilha
dos resultados e esforços comuns na produção de bens e serviços) e da autogestão
(participação democrática e igualitária nas discussões e decisões dos
empreendimentos solidários e na distribuição dos rendimentos e excedentes de
produção) como pressupostos para a articulação e formação de outro modo de
produção, contraposto e alternativo ao capitalismo competitivo e excludente deste
início de século XXI.
No Brasil, os projetos de economia solidária ganharam destaque com a criação da
Secretaria Nacional de Economia Solidária, em 2003 pelo Governo Federal, com o
intuito de fomentar e divulgar as iniciativas associativas comunitárias baseadas nas
cooperativas populares, redes de produção e comercialização, feiras de
cooperativismo, clubes de troca, entre outras formas solidárias de associação
(FÓRUM BRASILEIRO DE ECONOMIA SOLIDÁRIA, 2009).
[…] a economia solidária funciona como um instrumento de contenção das
contradições sociais ao impulsionar a união dos trabalhadores em empreendimentos
em que eles próprios são ao mesmo tempo “empregados” e “donos”, resultando
numa estagnação da luta de classes e do desenvolvimento das forças produtivas
capitalistas, ao mesmo tempo em que serve aos interesses de manutenção do status
quo articulados ao movimento de reestruturação capitalista e a busca de taxas de
mais-valia cada vez mais ampliadas, tendo como base a exploração intensiva da
força de trabalho na sociedade capitalista globalizada atual.
30
Em suma, a economia solidáriarepresenta apenas iniciativas pontuais e localizadas
de geração de trabalho e renda na escala local, que não tem o poder de se generalizar
para toda a economia e nem representar significativamente uma nova forma de
organização econômica, com base na solidariedade e na cooperação entre os
trabalhadores, não representando, por conseguinte, um importante fator de
desenvolvimento econômico e social em Presidente Prudente neste início de século
XXI.
Os direitos dos trabalhadores precisam ser respeitados3. O registro correto na Carteira
de Trabalho e Previdência Social (CTPS), com Código Brasileiro de Ocupação (CBO)
adequado às funções exercidas pelo funcionário, o pagamento pontual, até o quinto dia útil de
cada mês, do salário, o recolhimento mensal do FGTS e do INSS, o pagamento pontual dos
benefícios (horas extras, insalubridade, periculosidade, adicional noturno, adicional de
transferência, vale refeição, vale alimentação, vale transporte, salário maternidade, seguro de
vida, assistência média e odontológica, cesta básica, premiações, comissões, dentre outros), o
pagamento adequado do Descanso Semanal Remunerado (DSR) – que infelizmente muitos
empregadores hesitam de pagar aos seus funcionários, a adequação da remuneração ao perfil
do funcionário, levando-se em consideração sua capacidade funcional, o seu nível de
instrução, e suas necessidade pessoais, são medidas honestas nas relações de trabalho, que
respeitam e promovem a dignidade humana do trabalhador e, ao mesmo tempo, combatem a
precarização econômica do trabalho (BRASIL, 1943; 1988; 2016; MELO, 2011; SILVA;
ARAÚJO; BARBOSA, 2014). Então, necessário é o conhecimento da legislação trabalhista,
previdenciária e assistencial por parte dos empregadores no fito de concederem aos seus
funcionários as condições apropriadas ao seu exercício profissional.
3 A PRECARIZAÇÃO SOCIAL DO TRABALHO
A precarização social do trabalho é aquela que se origina da cultura social e prejudica
o trabalhador socialmente, isto é, que não o permite alcançar o patamar aceitável de dignidade
humana, sendo respeitado, valorizado, reconhecido, adequadamente incluído na sociedade, de
acordo com as suas respectivas necessidades. Ela representa o não reconhecimento do seu
valor profissional para a empresa e para a sociedade em geral, comumente visto no caso de
catadores de lixo, auxiliares de limpeza, recicladores, e empregos braçais em geral
(trabalhadores de carga e descarga, montadores e desmontadores de circo, carpinadores, etc.),
metas inalcançáveis, a dificultação na inserção e na permanência de deficientes no mercado de
trabalho, a polivalência, pressões exacerbadas, a extensão da jornada de trabalho por período
3Vide os anexos e o apêndice deste trabalho.
31
superior ao permitido em lei para a categoria profissional específica de cada trabalhador, a
falta de materiais fundamentais para a adequada execução do trabalho, a competitividade
contenciosa, a inexistência de uma política gestora do seu fluxo informacional, a falta de ética
e o assédio moral (DRUCK, 2011; SCOMPARIM, 2009; COSTA; CHAVES, 2012; GIFTED,
2014). Esquematicamente, este tipo de precarização do trabalho pode ser apresentado do
seguinte modo:
PRECARIZAÇÃO SOCIAL DO TRABALHO
TIPO DESCRIÇÃO
Cargo discriminado
Os cargos de auxiliar de limpeza, servente de limpeza, servente de
obras, catadores, recicladores, ambulantes, carpinadores, panfleteiros,
dentre outros trabalhos braçais, são discriminados por não possuírem
status social de quem pensa, de quem manda ou de quem tem poder
econômico.
Metas inalcançáveis
É comum no setor de serviços, por exemplo na categoria dos operadores
de telemarketing, dos quais são exigidas metas tais como determinada
quantidade de vendas, ou determinado valor monetário de recuperação
de créditos, em detrimento de suas rendas variáveis, tais como
comissões, premiações, etc., às vezes até promoções profissionais.
Dificultação na
obtenção e na
permanência de um
emprego
Determinadas parcelas da sociedades, tais como os deficientes, os
negros, os índios, parte dos superdotados, parte das mulheres (porque
hoje as mulheres brancas já conseguem obter e se manter no mercado de
trabalho, restante dificuldade especificamente para as mulheres negras),
são rejeitados com facilidade em entrevistas de trabalhos simplesmente
por pertencerem a tais grupos sociais historicamente discriminados, e se
conseguem obter emprego são, não raro, marginalizados dentro do
ambiente do trabalho até pedirem demissão, ou mesmo segregados
sendo demitidos sem justa causa.
32
Polivalência
É o acúmulo de várias funções, inerentes a vários postos de trabalhos,
por apenas um funcionário. O empregador sobrecarrega alguns
funcionários com todas as tarefas, funções e atividades organizacionais
no fito de se desonerar da contratação de mais funcionários, diminuindo
os seus “gastos”, tendo, consequentemente, um lucro maior, que,
normalmente, não é repassado para estes trabalhadores super
explorados.
Pressões exacerbadas
Ocorre quando um superior hierárquico intimida os seus subordinados
inculcando-lhes medo de perder o seu emprego se não alcançarem
determinadas metas, ou quando fiscalizam demasiadamente a execução
das funções dos seus subordinados, ou quando são ríspidos ao falar com
eles sobre o seu desempenho profissional.
Extensão da jornada de
trabalho
A CLT determina o quantitativo de 8 horas diárias, 44 horas semanais e,
no máximo, 2 horas extras diárias e 40 horas extras mensais, no geral.
Para alguns cargos, como a dos operadores de telemarketing, o
quantidade é de 6 horas diárias (acrescidas de 20 minutos para
descanso), 36 horas semanais, 2 horas extras diárias e 40 horas extras
mensais. Os funcionários celetistas em empresas públicas, tais como os
Correios, possuem jornada diferenciada, 8 horas diárias, 40 horas
semanais. Enfim, entende-se por extensão da jornada de trabalho aquela
superior à especificação legal.
Falta de materiais
O empregador precisa disponibilizar a seus funcionários todos os
materiais necessários à adequada operacionalização das suas funções.
Deste modo, a falta de Equipamentos de Proteção Individuais (EPIs),
materiais de limpeza, materiais de escritório, etc., descumpre a lei, gera
ócio no ambiente de trabalho e onera o empregador.
Competitividade
contenciosa
Nas combinações de negócios, por exemplo nas empresas formadas por
fusões e aquisições, a competitividade tende a ser contenciosa, não raro
havendo superiores hierárquicos que utilizam os resultados do
desempenho de alguns funcionários para intimidarem ou invejarem
outros. Deste modo, o clima do ambiente de trabalho se torna
contencioso, repleto de conflitos interpessoais, dificultando o exercício
profissional o adequado funcionamento da organização do trabalho.
33
Inexistência de uma
política gestora de seu
fluxo informacional
O fluxo informacional da organização de trabalho precisa ser
controlado. Murais informativos, treinamentos adequados, feedbacks por
parte de superiores hierárquicos são fundamentais. A conscientização
dos tipos de conversas permitidas dentro do ambiente de trabalho é
necessária para se evitar fofocas capazes de denegrir a imagem dos
funcionários, dos empregadores e da empresa. Por essa razão, é
necessária a existência de uma politica gestora do seu fluxo
informacional.
Falta de ética
O empregador quando deixa de cumprir as regras de seu regimento
interno, ou quando algum de seus funcionários deixa de cumprir alguma
normativa do código de ética da sua categoria profissional, comete falta
de ética. Por essa razão, os contadores, os administradores, os
pedagogos, os médicos, todas as categorias profissionais atuantes emuma organização do trabalho precisam conhecer bem o Código de Ética
da sua categoria e cumprí-lo atentamente.
Assédio moral
O assédio moral se concretiza na organização do trabalho quando ocorre
injúria, calúnia, difamação ou coerção de caráter sexual entre os seus
stakeholders, isto é, os seus públicos de interesse, que incluem
funcionários, empregadores, fornecedores, consumidores, governo,
acionistas, mídia, etc..
Tabela 2. Tipificação da precarização social do trabalho. Elaborada pelo autor.
Fonte: Revisão bibliográfica feita pelo autor.
Para exemplificar, em 2005, segundo o Centro de Desenvolvimento Sustentável da
Universidade de Brasília através do artigo Resíduos sólidos estão entre os problemas
emergenciais dos futuros prefeitos, haviam no Brasil mais de um milhão de trabalhadores
que exerciam a catação de materiais recicláveis (COSTA; CHAVES, 2012). Apropriando-se
das ideias presentes na literatura crítica sobre precarização, em especial ao que concerne aos
recicladores, Costa e Chaves (2012, p. 5-7) destacam:
[…] o catador como o elo mais frágil da corrente que une o setor da
reciclagem. […] os catadores insere-se a uma massa de trabalhadores sem unidade
significativa, organização coletiva ainda embrionária para o trabalho (cooperativas e
34
associações), cujos aspectos como exploração da força de trabalho e o subemprego
são as características marcantes na constante busca de assegurar as condições
mínimas de sobrevivência através da realização diária de formas de trabalho, em
geral, extremamente precarizadas. […] 
Assim, na atual conjuntura de crise e reestruturação do capital e da metamorfose do
mundo do trabalho fruto deste período, os trabalhadores que não se “enquadram” nas
especificações e exigências cada vez maiores do mercado de trabalho podem e são
reinseridos na lógica de reprodução do capital, como catadores.
Desse modo, a organização dos trabalhadores catadores em associações e
cooperativas pode ser entendida como uma forma de empenho coletivo de amenizar
a precariedade e insegurança do trabalho na lógica desleal da reprodutividade do
capital que apoiada na informalidade o espaço ideal para a ampliação dos ganhos
com a recuperação dos materiais inutilizáveis e reintrodução dos mesmos no circuito
produtivo via barateamento da matéria-prima. Tal possibilidade se dá graças ao
trabalho de inúmeros trabalhadores catadores pelas ruas, lixões e aterros pelas
cidades brasileiras.
O grau ilimitado da monetarização4 e da mercantilização5 do trabalho e da vida é o
que explica a estrutura capitalista atual. No fito de enriquecer, o capitalista banaliza os riscos,
os acidentes e a saúde dos trabalhadores, desrespeitando normas fundamentais das relações de
trabalho. As lideranças sindicais tornam-se fragilizadas na medida em que ideologias
capitalistas tornam-se a sua lógica de funcionamento; muitas vezes, elas temem represálias da
classe empresarial e, por essa razão, prefere acordos entre empregadores e trabalhadores
mesmo quando existe a necessidade de reclamações trabalhistas e previdenciárias, bem como
autuações por auditores fiscais do trabalho. O foco no capital faz com que funcionários
tornem-se peças inanimadas, que geram “custos”, apenas necessárias para encher os bolsões
de riqueza do empregador. No Brasil, a precarização se faz presente em todos os seus Estados,
em todas as categorias profissionais; o empresário tem desrespeitado a legislação trabalhista, a
legislação previdenciária, os direitos constitucionais dos trabalhadores, além de normas de
segurança de trabalho expedidas pelo Ministério do Trabalho e Emprego (DRUCK, 2011;
FILHO, 2011; SCOMPARIM, 2009).
Tal realidade capitalista alienada e alienante é comparada a um câncer que se alastra
velozmente pelo planeta há alguns séculos, “destruindo meios de vida, deslocando povos,
tornando impotentes as instituições democráticas, alimentando-se de vidas humanas,
justificando o 'tudo por dinheiro'” (JADON, 2005, p. 163; MANDEL, 1967; MÉSZAROS,
2006; MARX, 1982). Nesse respeito, Jadon (2005, p. 163) conclui que “com essa dinâmica
poderosa e perversa, tornando imperativo duplicar o dinheiro investido, trata as pessoas como
fonte de ineficiências ao torná-las descartáveis sem se importar com o interesse público e os
4Entende-se por monetarização do trabalho e da vida a transformação deles em capital, ativos financeiros,
dinheiro, valor monetário, moeda.
5Entende-se por mercantilização do trabalho e da vida a transformação deles em mercadoria, algo
comercializável, vendível, substituível, trocável, descartável, um mero instrumento de venda.
35
valores morais e éticos”. Outras reflexões sobre esta realidade são aquelas cujas palavras
Mészaros (2006, p. 113), Marx (1982, p. 138), Mandel (1967, p. 185 e 196) e Druck (2011, p.
55) nos emprestam, conforme transcritas a seguir:
(MARX, 1982, p. 138):
Sem sombra de dúvida, a vontade do capitalista consiste em encher os
bolsos, o mais que possa. E o que temos a fazer não é divagar acerca da sua vontade,
mas investigar o seu poder, os limites desse poder e o caráter desses limites.
(MANDEL, 1967, p. 185 e 196):
A abolição do regime capitalista torna então possível o
enfraquecimento progressivo da produção mercantil, da divisão social do trabalho e
da mutilação dos homens. A alienação não é 'suprimida' por um acontecimento
único, assim como não apareceu de um só golpe. Ela se enfraquece
progressivamente, assim como apareceu progressivamente. Ela não está de qualquer
maneira ancorada na 'natureza humana' ou na 'existência humana', mas nas
condições específicas do trabalho, da produção e da sociedade humanas. Pode-se
pois entrever e precisar as condições necessárias a seu desaparecimento.
[…] Deve-se também compreender que essa impotência não é superada na prática
senão quando os indivíduos realizam sua identidade com a sociedade através de uma
atividade social fundada sobre uma ampla medida de decisões livres. Isso implica
não somente uma autogestão integral do Trabalho ao nível da economia tomada no
seu conjunto (não somente no processo de produção, mas ainda no de distribuição e
de consumo), mas ainda um enfraquecimento do Estado e o desaparecimento de
todas as relações humanas fundadas na coação e na opressão. 
(MÉSZÁROS, 2006, p. 113):
Mas o uso da força de trabalho, o trabalho, é a própria atividade vital
do trabalhador, a manifestação de sua própria vida. E ele vende essa atividade a
outra pessoa para conseguir os meios de subsistência necessários. Assim, sua
atividade é para ele apenas um meio que lhe permite existir. Ele trabalha para viver.
Não considera nem mesmo o trabalho como parte de sua vida, é antes o sacrifício de
sua vida. É uma mercadoria, que ele transferiu a outro. Daí, também, não ser o
produto de sua atividade o objeto dessa atividade. O que ele produz para si mesmo
não é a seda que tece, nem o outro que arranca do fundo da mina, nem o palácio que
constrói. O que ele produz para si são os salários, e a seda, o ouro e o palácio se
resolvem, para ele, numa quantidade definida dos meios de subsistência, talvez num
paletó de algodão, algumas moedas de cobre e um quarto num porão. E o
trabalhador, que durante doze horas tece, fura, drila, constrói, quebra pedras, carrega
pesos etc., considera essas doze horas como uma manifestação de sua vida, como
vida? Ao contrário, a vida começa para ele quando essa atividade cessa; começa na
mesa, no bar, na cama. As doze horas de trabalho, por outro lado, não têm
significado para ele como tecelagem, mineração etc., mas como ganho, que o leva à
mesa, ao bar, à cama. Se o bicho da seda tivesse de tecer para continuar sua
existênciacomo lagarta, seria um trabalhador assalariado completo.
(DRUCK, 2011, p. 55):
Na perspectiva do capital, a monetarização e a mercantilização das
relações de trabalho transformam os direitos dos trabalhadores em “custos” (o “custo
Brasil”, o “custo China”) e invadem também o ideário dos trabalhadores e de suas
lideranças sindicais, que passam a interiorizar a lógica do mercado, tomando-a como
sua. Isso é estimulado ainda pela concorrência entre os próprios trabalhadores,
expressa em disputas regionais, a exemplo da guerra fiscal no país, que faz competir
36
não somente os estados, através da ação de seus governos, mas também os
trabalhadores de uma região com os de outra região.
Tais transformações, ao tempo que reafirmam a essência do capitalismo, que
transformou o trabalho em mercadoria, dão outra amplitude a essa relação social, ao
enfraquecerem a capacidade de resistir e de questionar as novas condições impostas
pelo capital, numa clara demonstração de uma atitude de resignação que, aos
poucos, contamina até mesmo a capacidade de indignação diante das injustiças
sociais, da negação dos direitos e da proteção social, encaradas como uma
“fatalidade econômica”.
Na conjuntura socioeconômica atual, as combinações de negócios, enquanto novas
estruturas de produção e de trabalho, apoderam-se não somente do trabalho mas da vida dos
trabalhadores, coisificando-os, fazendo-os trabalhar em prol dos seus objetivos capitalistas,
extraindo todas as suas forças e capacidades egoisticamente, tirando não raro o seu tempo de
lazer, de descanso, de espiritualidade, e até mesmo de vida cívica, fragilizando a sua saúde
(DRUCK, 2011; MARX, 1982; MANDEL, 1967; MÉSZAROS, 2006; JADON, 2005;
FILHO, 2011; SCOMPARIM, 2009; SOUTO, 2001; SIGNINI, 1999; RUSSO, 2010). Sobre
estes aspectos, Silva, Araújo e Barbosa (2014, p. 548) têm a dizer que “diversas
transformações ocorreram no mundo do trabalho, e este por sua vez, perde o seu caráter de
emancipação, socialização e humanização do homem, para então significar a condição de sua
subsistência e sobrevivência”.
Maria da Graça Druck de Faria (2011), graduada em Economia pela UFRGS, mestre
em Ciência Política e doutora em Ciências Sociais pela UNICAMP, professora universitária
do Departamento de Sociologia da UFBA, pesquisadora do CNPq e da UFBA, atua
principalmente nos seguintes temas: trabalho, flexibilização, precarização, reestruturação
produtiva, terceirização, informalidade e sindicatos. No seu trabalho intitulado Trabalho,
precarização e resistências: novos e velhos desafios?6, ela apresenta com detalhes seis tipos
de precarização social do trabalho no Brasil, quais sejam: a) A vulnerabilidade das formas de
inserção e desigualdades sociais; b) A intensificação do trabalho e a terceirização; c) A
insegurança e saúde no trabalho; d) A perda das identidades individual e coletiva; e) A
fragilização da organização dos trabalhadores; f) a condenação e o descarte do Direito do
Trabalho.
Sobre o primeiro tipo de precarização social do trabalho, a vulnerabilidade das formas
de inserção e desigualdades sociais, Druck (2011) destaca que elas se manifestam, sobretudo,
por meio da inserção informal no mercado de trabalho, isto é, sem registro na carteira, do
6DRUCK, Graça. Trabalho, precarização e resistências: novos e velhos desafios?. CADERNO CRH, Salvador,
v. 24, n. spe 01, p. 37-57, 2011. Disponível em <www.scielo.br/ pdf/ccrh/v24nspe1/a04v24nspe1.pdf>. Acessado
em 05 de março de 2016.
37
desemprego, da dificuldade de inserção no mercado por parcelas da população em
determinadas ocupações de determinados nichos de mercado, tais como dos deficientes, dos
aprendizes, dos negros, dos índios, de estrangeiros, etc.; em cargos de liderança, estas parcelas
raramente se posicionam. Druck (2011, p. 47) enfatiza:
As formas de mercantilização da força de trabalho produziram um
mercado de trabalho heterogêneo, segmentado, marcado por uma vulnerabilidade
estrutural e com formas de inserção (contratos) precários, sem proteção social, cujas
formas de ocupação e o desemprego ainda revelam, em 2009, um alto grau de
precarização social.
De acordo com dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios – PNAD
2009, havia 101,1 milhões de pessoas economicamente ativas no Brasil, com 8,4
milhões de desempregados e mais 8,2 milhões de pessoas com ocupações sem
remuneração. Ou seja, são 16,6 milhões de pessoas (16,4%) economicamente ativas
que estavam fora do mercado de trabalho.
Sobre o segundo tipo de precarização social do trabalho, a intensificação do trabalho e
a terceirização, Druck (2011) destaca que elas se manifestam, sobretudo, por meio de
imposição de metas inalcançáveis, da extensão da jornada de trabalho e da polivalência7.
Druck (2011, p. 48 e 49) salienta que ele:
[…] é encontrado nos padrões de gestão e organização do trabalho – o
que tem levado a condições extremamente precárias, através da intensificação do
trabalho (imposição de metas inalcançáveis, extensão da jornada de trabalho,
polivalência, etc.) sustentada na gestão pelo medo, na discriminação criada pela
terceirização, que tem se propagado de forma epidêmica, e nas formas de abuso de
poder, através do assédio moral, que tem sido amplamente denunciado e objeto de
processos na Justiça do Trabalho e no Ministério Público do Trabalho.
[…]
Essa “epidemia” da terceirização, como uma modalidade de gestão e organização do
trabalho, explica-se pelo ambiente comandado pela lógica da acumulação financeira
que, no âmbito do processo de trabalho, das condições de trabalho e do mercado de
trabalho, exige total flexibilidade em todos os níveis, instituindo um novo tipo de
precarização que passa a dirigir a relação entre capital e trabalho em todas as suas
dimensões. E, num quadro em que a economia está toda contaminada pela lógica
financeira, sustentada no curtíssimo prazo, mesmo as empresas do setor industrial
buscam garantir os rendimentos, exigindo e transferindo aos trabalhadores a pressão
pela maximização do tempo, pelas altas taxas de produtividade, pela redução dos
custos com o trabalho e pela “volatilidade” nas formas de inserção e de contratos. E
a terceirização corresponde, como nenhuma outra modalidade de gestão, a essas
exigências.
Sobre o terceiro tipo de precarização social do trabalho, a insegurança e saúde no
trabalho, Druck (2011) destaca que elas se manifestam, sobretudo, por meio de desrespeito
7Entende-se por polivalência o acúmulo indevido de várias funções em um mesmo emprego, utilizado como
estratégia administrativa de desoneração da contratação de novos funcionários em detrimento do
sobrecarregamento de atividades por parte dos funcionários membros.
38
por parte do empregador ao necessário treinamento dos trabalhadores, fornecendo-lhes todas
as informações necessárias sobre a adequada execução das suas funções, sobre os riscos de
acidentes no trabalho, sobre os seus direitos conquistados dentro da categoria profissional,
sobre as medidas preventivas coletivas de acidentes no trabalho. Sobre este tipo, Druck (2011,
p. 49) explana:
[…] Um importante indicador dessa precarização é a evolução do
número de acidentes de trabalho no país, mesmo que reconhecidamente sejam
estatísticas subregistradas. Em 2001, foram registrados 340,3 mil acidentes no país
e, em 2009, eles atingiram o número de 723,5, ou seja, um aumento de 126% em 9
anos. É interessante observar que, a partir de 2007, o INSS passou a contabilizar os
acidentes sem registro no Cadastro de Acidentes do Trabalho (CAT), que
representaram para cada um dos últimos 3 anos (2007, 2008 e 2009) 27% do número

Outros materiais