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geografia agrária

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O desenvolvimento Capitalista e as transformações na agricultura – debates clássicos e interpretações contemporâneas
O desenvolvimento e formação e inserção do capitalismo na sociedade trouxe grandes modificações para relações nela existentes. Uma das características desse processo foi à transformação da agricultura e sua consequente subordinação aos interesses da sociedade capitalista. As mudanças no sistema agrário fizeram com que grande parte dos produtos agrícolas passassem a ser mercadorias com o objetivo de acumular capital visando ao lucro. Ocorreu uma modernização do campo com a utilização de novas técnicas como maquinários e venenos herbicidas, fungicidas e pesticidas. Neste novo modelo de agricultura implantado com o capitalismo, a fertilidade do solo é ameaçada, o meio ambiente, a biodiversidade que nele interage incluindo também os seres humanos e principalmente os trabalhadores que lidam com agrotóxicos diariamente. Além do desemprego no campo, causado pelas máquinas, as quais acabam fazendo o serviço que milhares de homens poderiam fazer. Ou seja, o capitalismo interfere na agricultura, nas relações sociais, comerciais e na criação e re-criação das paisagens geográficas promovendo mudanças quanto ao seu uso e/ou regime de propriedade.
 Milhares de camponeses frente a essa nova realidade agrícola, se vêem forçados a deixar suas terras, trazendo grande parte da mão de obra do campo para a cidade, ou para as grandes agroindústrias. A inserção das relações capitalistas de produção no seio do campesinato tem um aspecto contraditório: ao mesmo tempo em que transformava parte dos camponeses em ricos agricultores, transformava a outra parte em agricultores empobrecidos e sem terra para plantar.
 Assim, luta pela terra torna-se cada vez mais, uma das principais formas de resistência do campesinato no mundo e uma maneira de resistir às relações capitalistas. Afinal, o capitalismo não destruiu integralmente as comunidades camponesas e a agricultura tradicional. Eles tiveram papel fundamental nas revoluções e revoltas sociais do século XX, como representantes dos interesses dos oprimidos nesse contexto.
Debates clássicos e interpretações contemporâneas sobre a questão agrária e o capitalismo no campo
Com as transformações sofridas na agricultura a partir do processo capitalista no campo, algumas conseqüências foram geradas aos pequenos agricultores, pequenos proprietários rurais, camponeses e/ou agricultores familiares logo, pessoas com menor posse de terra e renda. Assim, alguns autores clássicos como Karl Kautsky, Vladimir Lênin Alexander Chayanov e Rosa Luxemburgo e contemporâneos como Marta Marques e Carlos Walter e contribuem teoricamente com os seus pontos de vista referente a essa questão.
Kautsky, em sua obra “A Questão Agrária”, descreve a influência do capitalismo sobre a agricultura, as transformações que estavam ocorrendo no campo, tendo como idéia central a desintegração do campesinato pelo desenvolvimento capitalista e a superioridade da grande produção.
A grande propriedade agrícola é superior tecnicamente em relação à pequena propriedade e pelo fato da inserção capitalista no campo que consequentemente, levou a modernização/industrialização da agricultura. Nesse sentido, a grande propriedade suprime, sufoca a pequena propriedade que tenderá a diminuir ou desaparecer.
	Prevendo que a inserção do capitalismo na agricultura seja inevitável, Kautsky afirma que o camponês:
(...) deixa, portanto de ser o senhor da sua exploração agrícola: esta torna-se um anexo da exploração industrial pelas necessidades da qual se deve regular. O camponês torna-se um operário parcial da fábrica (...) ele cai ainda sob a dependência técnica da exploração industrial (...) lhe fornece forragens e adubos. Paralelamente a esta dependência técnica produz-se ainda uma dependência puramente econômica do camponês em relação à cooperativa.
(KAUTSKY, 1980, p.128-129).
	Isto é, o camponês acaba sendo envolvido pelo sistema capitalista, e deixa de ser camponês tornando-se um agricultor voltado para a produção do mercado e ficando dependente de atributos que antes não o tinha e deixa de ser o ator principal da produção, pois a tecnificação o suprime em grande parte. Deste modo, o autor acaba por enfocar sua ideia principal de que o campesinato deverá tender a sua desintegração, principalmente pelas transformações que ocorrem na agricultura com a integração com a indústria favorecendo o agricultor a vulnerabilidade e dependência do capital. Sendo assim, Kautsky relata que: “Qualquer progresso nesse sentido terá necessariamente como resultado o agravamento do estado de crise em que se encontram os agricultores, o aumento da sua dependência em relação à indústria, a diminuição da segurança da sua existência.” (p.160).
	Se diferenciando um pouco de Kautsky, temos Lênin em sua obra “A desintegração do campesinato. A pequena diferença entre esses autores e suas abordagens sobre o tema se encontra na visão de Lênin de que o camponês após as transformações geradas pelo capitalismo no campo tenderá a se tornar um proletariado ou um burguês agrário. Pois, segundo Lênin: “O campesinato antigo não se “diferencia” apenas: ele deixa de existir, se destrói, é inteiramente substituído por novos tipos de população rural, que contribuem a base de uma sociedade dominada pela economia mercantil e pela produção capitalista. ”(p.114)
Assim, Lênin se baseia na desintegração do campesinato, que cria um mercado interno para o capitalismo ocasionando a diferenciação social no campo.
Já o autor Chayanov, em “A Organização da Unidade Econômica Camponesa”, com uma visão bem diferente dos dois autores citados anteriormente trata da organização da agricultura familiar, como unidade econômica camponesa não capitalista, pelo fato da ausência do trabalho assalariado. Isto é, ele fundamenta-se no entendimento de que a família camponesa trabalha para si própria, para preencher as necessidades fundamentais dos seus membros e deixa em segundo lugar o acumulo de capital. O tamanho da família esta relacionada à força de trabalho que acaba por definir a quantidade de atividade econômica, logo, quanto mais braços a trabalharem mais atividade, consumo e produção terá esta unidade. 
Entretanto, Chayanov afirma que a agricultura camponesa familiar não deixa de estar inserida no contexto econômico, afinal o campesinato é um modo de produção, pois suas características são: a força do trabalho familiar como unidade econômica camponesa, pequena propriedade como local das atividades e a família produz seu meio de produção. 
	Em ainda realça que em relação à dominância do capital, tanto no âmbito financeiro, comercial ou social:
“[...] de maneira nenhuma devemos entender sua aplicação a todos os fenômenos de nossa vida econômica. Não conseguiremos progredir no pensamento econômico unicamente com as categorias capitalistas, pois uma área muito vasta da nossa vida econômica (a maior parte da esfera da produção agrária) baseia-se, não em uma forma capitalista, mas numa forma inteiramente diferente, de unidade econômica familiar não assalariada.”
(CHAYANOV, 1981, p.133-134)
E por fim, com debates clássicos temos Rosa Luxemburgo em “A Acumulação do capital”. A autora analisa o processo da produção capitalista na qual a realização da mais-valia é condição para existência de relações não-capitalistas de produção. Para desenvolver o capitalismo, é necessário um ambiente constituído de formas não-capitalistas de produção, além de estruturas pré-capitalistas. Ou seja, é necessária no sistema capitalista, a presença do campesinato, inclusive integrando-se e/ou sendo útil ao sistema, assim como no campesinato necessita-se também da presença do capitalismo. Afinal, segundo Rosa Luxemburgo: 
“Sem as formações pré-capitalistas, a acumulação não pode se verificar, mas ao mesmo tempo, ela consiste na desintegração e assimilação delas. Assim, pois, nem a acumulação do capital pode realizar-se sem as estruturas não-capitalistas nem estas podemsequer manter-se.” 
(LUXEMBURGO, 1970, p.363)
	Com tudo, ela retrata que esse movimento via realização da mais-valia leva a dissolução da indústria doméstica rural, efetivando consequentemente à perda de autonomia do camponês. “O desenvolvimento da produção capitalista extirpou da economia rural todos os seus setores industriais existentes, para concentrá-los na maciça produção industrial [...] para obrigar a massa camponesa a comprar suas mercadorias.” (p. 343) 
	Na contribuição de autores contemporâneos para a temática abordada temos Maria Inez Marta Medeiros Marques em sua obra “Agricultura e Campesinato no Mundo e no Brasil: um renovado desafio à reflexão teórica” que assalta a transformação capitalista na agricultura, no que concerne a extinção dos camponeses relacionando a desagrarização motivada pela modernização e industrialização e a agroecologia praticada pelos assentamentos e camponeses como algo que não deixará de existir futuramente. A autora traz a concepção de que:
 “[...] os camponeses tem grande criatividade e capacidade para gerir situações de escassez de recursos como, por exemplo, a utilização coletiva de equipamentos, a otimização no uso da terra e o aumento da auto-exploração e diversificação de suas atividades.” (MARQUES, 2008, p. 69) 
Deste modo, o campesinato tem resistido à modernização e com a reforma agrária, muito movimento vem crescendo e constituindo seus espaços na sociedade. Marta afirma que “[...] tem se verificado a recriação de formas de organização social, econômica e territorial camponesa [...]” (p.63) Vários assentamentos tem alcançado sua autonomia e tem proporcionado uma agricultura sustentável baseada na agroecologia. 
Carlos Walter Porto Gonçalves em seu livro “A Globalização da Natureza e a Natureza da Globalização” também vem retratando como é contraditório esse novo sistema agrícola que utiliza novas técnicas como maquinários e agrotóxicos. Na parte IV de seu livro ele faz vários questionamentos, alguns deles remetem ao que muitos estudiosos acreditavam ser positivo, mas na verdade acaba por acarretar mais problemas. Ele trata do caso da semente transgênica que como muitos salientam proporciona um aumento na produtividade, porém o que acontece de fato e uma diminuição dos custos em relação à mão-de-obra. É uma técnica que acentua uma “agricultura sem agricultores”, pois “[...] não emprega tanta gente nas cidades-e-suas-periferias, como fazia na época da desruralização europeia e estadunidense.” (p. 241) Além disso, essas sementes possuírem particularidades que deveriam ser estudadas mais a fundo, afinal ainda não se garante se elas trazem benefícios ou riscos à saúde.
Outro fato que citado por Carlos Walter é “A expansão de uso de adubos e fertilizantes, herbicidas, pesticidas e fungicidas há décadas vem sendo objeto de intensas críticas de ambientalistas [...]” que por contaminarem as águas, tem trazido prejuízos às populações ribeirinhas e a diversidade biológica e cultural, e também a devastação de reservas e biodiversidades por conta da expansão da fronteira agropecuária quem tem gerado grandes preocupações ambientais.
Conclusão	
Cabe relatar a relevância das obras a respeito da influência do capitalismo no campo, pois são bases para o entendimento do processo de modernização, da concentração fundiária, da integração indústria-agricultura, exclusão do homem do campo, êxodo rural, ou seja, uma importante fonte para a compreensão sobre a questão agrária atual e com auxílio desses grandes autores, afirmar o que está diante dos nossos olhos: que a modernização da agricultura traz benefícios e uma parcela da população e que a pequena propriedade familiar é a mais prejudicada nesse processo, afinal não são todos os agricultores que conseguem se integrar e manter-se de forma significativa estável nessa capitalização do campo. 
Bibliografia
CHAYANOV, Alexander. "Sobre a teoria dos sistemas econômicos não capitalistas" in GRAZIANO DA SILVA, J. e STOLKE, V. (orgs.) A questão agrária. São Paulo, Brasiliense, 1981.
KAUTSKY, Karl. A questão agrária. 3ª Ed. Rio de Janeiro: Proposta Editorial, 1980.
LÊNIN, Wladimir I. O desenvolvimento do capitalismo na Rússia. São Paulo, Nova Cultural, 1985
LUXEMBURGO, Rosa. A acumulação do capital. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1970.
PORTO-GONÇALVEZ, Carlos Walter. Parte IV – A fome e o meio ambiente. IN: A globalização da Natureza e a natureza da globalização. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.

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