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Fundamentos históricos, sociológicos e políticos da relação

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LUCAS, João I. P. [et al]. Fundamentos históricos, sociológicos e políticos da relação 
Estado e sociedade. Caxias do Sul: EDUCS, 2005. Capítulo 1 (Semana 1 e 2). 
INTRODUÇÃO 
Estamos começando um trabalho com a Sociologia que tem por objetivo discutir a 
sociedade sob os mais variados ângulos, no sentido da formação dos gestores públicos. A sociedade, 
não nada mais nada menos do que o lugar de onde emergem os cidadãos, os eleitores, os 
contribuintes, mas também de onde saem os representantes públicos, os Prefeitos, Vereadores, bem 
como de todos os envolvidos nas atividades da Gestão Pública. Vamos verificar que a própria 
definição genérica de sociedade não é a mais adequada do ponto de vista sociológico, pois existem 
questões que devem ser aprofundadas no sentido de sabermos o porquê da necessidade do Estado e 
da ordem pública. Vamos analisar, também, quais os elementos que servem tanto para as diferenças e 
lutas sociais, aquilo que acaba servindo como pretexto para a existência do Estado, quanto para que a 
sociedade forme a sua identidade, a sua unidade, a sua especificidade como fenômeno social e 
cultural. 
Para isso, as discussões sociológicas presentes nesse curso estão divididas em dois capítulos. 
O primeiro capítulo trata da definição de sociedade civil e de questões que levam aos conflitos 
sociais, mas também aos processos de formação de identidade. O segundo capítulo trata da tentativa 
de solução desses conflitos oriundos da sociedade civil na formação e desenvolvimento do Estado e 
do poder público. Nesse sentido, podemos dizer que o primeiro capítulo trata da sociedade civil, 
enquanto o segundo capítulo trata da sociedade política. Essa divisão procura abranger os dois 
aspectos da relação Estado-Sociedade: a sociedade e a política. 
A idéia central dessa discussão é mostrar que a sociedade não consegue sozinha organizar-
se numa esfera pública de convivência pacífica, o que demanda a criação do Estado, por mais 
coercitivo e oneroso que isso possa ser. O Estado surge para resolver conflitos e pendências 
ambientadas no seio da sociedade civil, e para isso aparece uma série de problemas que podem ser 
rotulados como sendo de legitimidade (porque o Estado é formado pela sociedade, deve servi-la e 
ser um agente dos seus interesses) e de legalidade, pois o Estado deve seguir todo um ordenamento 
jurídico que leve, em parte, o governo para uma dimensão que seja encarada como “governo da lei”, 
para que as pessoas envolvidas na Gestão Pública não possam fazer ações de acordo apenas com os 
seus interesses imediatos. 
Ao longo de todo esse primeiro Módulo do curso os conceitos de legitimidade e legalidade 
vão aparecer, na medida em que eles servem de eixo para as discussões das diferentes temáticas 
sociais, históricas e políticas. 
O nosso trabalho demanda a leitura de textos, bem como um acompanhamento cotidiano das 
notícias que são produzidas pelos processos sociais, coletivos e individuais. Para uma boa 
proficiência na área da Sociologia é bom que os interessados tenham uma boa carga de leituras dos 
textos científicos, mas também tenham acesso aos fatos conjunturais presentes no dia-a-dia do 
município, região, país e mundo. 
1
CAPÍTULO 1 - SOCIEDADE CIVIL
Tópicos:
1.1 - O conceito de sociedade e de sociedade civil
1.2 - As relações sociais de poder que demandam a ordem pública: individualismo, classes 
sociais e ideologias. 
1.1 - O conceito de sociedade e de sociedade civil
Orientações1
Por que a Sociologia discute o conceito sociedade?
O que é a sociedade?
Por que a Sociologia rejeita o conceito de sociedade?
O que é a sociedade civil? 
1.1.1 - Introdução.
Se forem consultados dois dos principais dicionários das Ciências Sociais editados 
nas últimas décadas, o Dicionário de Política, organizado por Norberto Bobbio, e o 
“Dicionário do pensamento social do século XX”, organizado por Bottomore e Outhwaite, 
não será encontrado o verbete sociedade em nenhum deles. Isso significa dizer que por 
mais que a Sociologia deva estudar a sociedade e as suas múltiplas determinações, tal 
conceito precisa ser aprofundado para conseguir atingir a esse desafio. 
Em primeiro lugar, o conceito sociedade passa a impressão que há algum tipo de 
consenso ou ponto em comum unindo todas as pessoas (na sociedade). Se hoje em dia todos 
os indivíduos são considerados cidadãos (portadores de direitos e deveres), não significa 
que todos compartilhem das mesmas opiniões, crenças, idioma ou interesses. De certa 
maneira, é possível dizer que a sociedade não existe, pois as divergências e os conflitos são 
as marcas das relações sociais na atualidade e, porque não dizer, desde os primeiros 
momentos da história.
1 Os alunos podem responder no caderno antes de ler o texto, ou podem ir fazendo anotações ao longo da 
leitura. As perguntas não foram respondidas de forma direta no texto, por isso é recomendável que os alunos 
procurem respondê-las a partir dos seus próprios entendimentos da leitura desse material e das demais fontes 
bibliográficas especializadas. 
2
 Algumas informações sobre a sociedade brasileira
1) No censo 2000 (IBGE) depois de uma agregação básica das respostas dos 
entrevistados, aparecem dados sobre mais de 40 religiões diferentes.
2) No dia 26/11/2005, a Folha de São Paulo publicou um encarte sobre o Retrato 
do Brasil. Dentre outros dados publicados, podemos destacar: maternidade 
dificulta inserção de mulher; mercado se fecha para os menos instruídos; rico 
empobrece e desigualdade diminui; sob Lula país teve maior desemprego; país já 
tem 120 idosos para cada 100 crianças; brasileiros substituem o telefone fixo 
pelo celular...
Nesse sentido, é que os cientistas sociais procuraram aprofundar o conceito 
sociedade para fugir das generalizações que nada explicam. E o ponto inicial do 
aprofundamento que explica os fenômenos sociais (sejam os individuais ou coletivos) está 
na própria idéia de que a sociedade deva ser vista como resultado (complexo e 
contraditório, histórico e conjuntural) das ações sociais dos indivíduos e das classes sociais. 
A sociedade é, no mínimo, muito mais resultado de múltiplas ações individuais do que 
início do processo social. E os consensos que permitem a existência de uma determinada 
coletividade comum são muito menos um conjunto de interesses comuns do que uma 
complexa e articulada relação social de poder e dominação, como pode ser verificado no 
levantamento histórico da realidade brasileira presente na subunidade anterior. Ou seja, a 
sociedade é formada por relações de poder e dominação, os quais acabam servindo de 
base para a construção dos fenômenos coletivos, muito mais do que por pontos em 
comum, presentes nas relações sociais. 
Sendo a sociedade vista como efeito das ações sociais, a noção da dinâmica social já 
precisa estar presente na definição de sociedade, e isso pode ocorrer na medida em que se 
parta de um pressuposto: os indivíduos e classes sociais produzem as relações sociais que 
formam a sociedade, e nesse processo imperam os conflitos e contradições dos interesses 
em luta. 
No caso específico da sociedade brasileira, como pode ser visualizado no quadro 
acima (Algumas informações sobre a sociedade brasileira), está em curso um mega-
processo social que aponta, no mínimo, para uma profunda alteração na base social e 
produtiva do país: no sentido do crescimento da sociedade virtual; no sentido do 
3
crescimento do desemprego estrutural (e crescimento do subemprego); no sentido da 
diminuição do número de jovens e adultosem relação ao número de idosos; no sentido da 
diminuição das diferenças entre os homens e as mulheres no mercado de trabalho, ainda 
que certas situações sejam muito desiguais para as mulheres, e por ai a fora. Por isso, o 
estudo da sociedade e das suas alterações e dinâmicas é fundamental para entendermos as 
demandas impostas à esfera pública e que produzem impactos no momento na gestão das 
políticas públicas – mais idosos, mais desempregados, mais instrução, mais fome. 
O conceito que mais se aproxima dessa noção que envolve a dinâmica social é o de 
sociedade civil. Desde o seu surgimento ele sempre esteve associado às correlações de 
força entre grupos presentes naquilo que constitui e serve de base ao Estado e à esfera 
pública. Assim, conceito de sociedade civil opõe-se à noção de natureza humana e à idéia 
de que a sociedade surgiria naturalmente das relações sociais. Por isso, a expressão 
sociedade civil traduz as relações de luta, as brigas ideológicas e os interesses conflitantes. 
Em segundo lugar, o conceito sociedade precisa ser aprofundado para levar em 
consideração a história, tanto pelo conhecimento do peso dos processos de longa duração, 
quanto pelo peso das conjunturas específicas. O reconhecimento da importância da história 
leva-nos, necessariamente ao conceito de sociedade civil, na medida em que esse tem maior 
significado na época da sociedade burguesa. E é justamente nessa época que emerge o 
Estado e o direito moderno. É essa época, também, que assinala o surgimento das classes 
sociais ligadas às questões econômicas (propriedade e renda) e às questões ideológicas 
(culturais e políticas). Por tudo isso é que o conceito de sociedade civil traduz mais 
adequadamente os desafios teóricos associados à compreensão da dinâmica social. 
 
1.1.2 – A 
evolução do 
conceito de 
sociedade 
civil. 
 Lembrete
(1) a sociedade não existe (pelo menos como algo imutável e como algo de consenso).
(2) a sociedade é fruto da ação social de indivíduos e de classes sociais, sendo, portanto, 
muito mais um resultado do que o início do processo social. Mas, é um resultado de 
conflitos e contradições, mais do que de consensos e unidades. 
(3) Das próprias contradições da sociedade brota o Estado ou a esfera pública, pela simples 
idéia de que sozinha a sociedade não sobrevive. Por isso, a criação da esfera pública está 
intimamente ligada à criação da sociedade.
(4) E o conceito sociológico que dá conta deste debate é: sociedade civil e não meramente 
sociedade. 
4
O conceito sociedade civil tem sua evolução histórica no seio da Filosofia Política e 
das Ciências Sociais. Destacam-se nessa evolução três momentos: (a) uma primeira fase 
chamada “clássica” que inicia com os pensadores contratualistas2 - Hobbes, Locke e 
Rousseau – e vai até a obra de Hegel (filósofo alemão do final do século XVIII e início do 
século XIX). (b) Uma segunda fase que pode ser chamada de “revolucionária”, pois fazem 
parte dela o filósofo comunista alemão Karl Marx (século XIX) e o filósofo comunista 
italiano Antônio Gramsci (século XX). (c) Uma terceira fase, situada mais dentro das 
Ciências Sociais modernas, que tem em Habermas, Bobbio, Cohen e Arato os seus 
principais expoentes. 
Essas três fases traduzem bem a evolução dos próprios fenômenos sociais do Modo 
de Produção Capitalista3, desde a sua fase inicial do século XVII ao século XVIII, até o seu 
momento de maturidade (século XIX e século XX), chegando à sua fase atual (século XXI). 
 Quadro de advertência 
No caso da sociedade brasileira, podemos dizer de antemão que o Brasil tem 
desenvolvido desde a época da colonização a sua sociedade civil dentro do 
processo global, ainda que de forma posterior aos acontecimentos globais e 
com uma grande conotação de dependência. Por isso, é importante que para o 
caso do Brasil sejam feitas sempre relativizações e adequações quando estão 
em questão os processos políticos e sociais que serviram de base para o 
desenvolvimento da sociedade civil e do Estado no ocidente. O Brasil é um 
país ocidental que teve a sua formação baseada na cultura ocidental, mas é 
preciso cuidado para não se cometer vinculações diretas com a história dos 
países centrais, chamados também de mais desenvolvidos. 
As definições a seguir estão estruturadas para responder a três dimensões do 
conceito de sociedade civil: (1) o que existe antes da sociedade civil, ou dito de outra 
maneira, o que é a sociedade e quando ela se transforma em sociedade civil; (2) o que 
2 São filósofos que viveram entre os séculos XVI e XVIII. São chamados de contratualistas porque partiam 
da tese de que na base das relações sociais está o contrato social, aquilo que serve de elo entre as pessoas – 
celebrado entre todos, tanto pelo lado individual, nas relações caso a caso, quanto na grande esfera da 
sociedade, no caso do contrato social geral entre os cidadãos e destes com o Estado. 
3 Por Modo de Produção Capitalista, entende-se o conjunto de processos que reproduzem a estrutura social, 
econômica e política de uma determinada formação social, do capitalismo, que é marcado por certas 
características como: propriedade privada, trabalho assalariado, desenvolvimento científico e tecnológico, 
dentre outras características. 
5
compõe efetivamente a sociedade civil; (3) qual a relação entre sociedade civil e Estado, no 
sentido de apontar as causas e motivos para o surgimento e o desenvolvimento do Estado, e 
com ele a esfera pública. 
1.1.2.1 – O conceito de sociedade civil para os contratualistas. 
Os principais contratualistas, já mencionados anteriormente, foram Hobbes, Locke e 
Rousseau. Os dois primeiros viveram durante o conturbado século XVII, na Inglaterra, 
quando ocorreram várias lutas entre o Rei e o Parlamento. Hobbes viveu na primeira parte 
do século e tinha mais vinculações com as forças conservadoras. Locke viveu na segunda 
parte do século e esteve associado aos liberais que procuravam reduzir o poder do monarca, 
dando mais poder às forças da nobreza e da burguesia que lutavam pela afirmação dos 
direitos civis. Já Rousseau viveu no século XVIII, às vésperas da Revolução Francesa (da 
qual foi um dos inspiradores). 
A despeito de certas diferenças verificadas entre esses autores, o esquema abaixo 
sintetiza os pontos em comum, presentes nas reflexões dos principais teóricos do contrato 
social.
O “estado de natureza” seria para os contratualistas aquilo que viria antes da 
sociedade (civil) propriamente dita. Existindo ou não historicamente, isso é irrelevante, o 
“estado de natureza” seria uma situação na qual as leis e regras sociais não estariam 
presentes para a coletividade, sendo, assim, uma condição humana pré-social. Se uma 
situação com essas características históricas nunca existiu, ela existe, para os 
contratualistas, dentro da natureza humana, que é, nesse sentido, anti-social na medida em 
que privilegia, antes e acima de tudo, os ganhos individuais e de caráter mais egoístico. Em 
resumo, o “estado de natureza” seria, hoje em dia, algo como o individualismo presente em 
cada um dos indivíduos da sociedade civil. 
6
Estado de 
Natureza
Contrato 
Social
Estado e 
Sociedade Civil
Para o rompimento com essa chamada “natureza humana” (anti-social e 
individualista) seria preciso um pacto de todos com todos para a superação da condição de 
instabilidade do “estado de natureza”. E o tal pacto foi entendido como sendo o “contrato 
social”. O “contrato social” seria, no mínimo – pois existem diferenças na interpretaçãoentre esses autores –, um pacto em que todos os indivíduos entregariam parte da sua 
liberdade natural (de fazer qualquer coisa) em nome da construção da ordem pública, que 
deveria ficar sob a guarda de um “terceiro” que não fosse nenhum dos indivíduos em 
questão. Esse terceiro seria o Estado. Por isso, o Estado, ou o soberano, não assinaria nem 
participaria do pacto, pois seria o seu principal fruto. Assim, o “contrato social” representa 
a construção de leis (regras mínimas, também chamadas de bem comum) que deveriam ser 
vigiadas e implementadas pelo Estado.
É algo muito discutido pelos contratualistas e pelos seus comentadores, o que 
levaria os indivíduos a romperem com a sua “natureza humana” para assinarem o contrato 
social que, dentre outras implicações, levaria grande parte do poder de cada um em direção 
ao poder (concentrado) do Estado (soberano). Um dos motivos apontados, e que tem muita 
relação com o pensamento de Hobbes, seria o medo, pois o medo de morrer levaria os 
indivíduos a entregarem poder para o Estado. De outra forma, podemos dizer que o 
principal motivo para a superação da natureza anti-social seria a razão. É a razão que leva 
os indivíduos a calcularem os custos e benefícios ligados à entrega de poder para o Estado, 
que se transforma, dessa maneira, num “mal necessário”. 
E junto com a construção do Estado estaria também a construção da sociedade civil, 
na medida em que a sociedade civil seria um outro tipo de condição social diferente da 
natural que estaria ligada à idéia do “estado de natureza”. Por isso, Estado e Sociedade 
Civil seriam dois tipos de condições produzidas pelas ações racionais dos indivíduos4. 
A sociedade civil é o momento da ordem pública, do bem comum que preside as 
obrigações do Estado e forja, portanto, as bases da personalidade pública da sociedade 
(como conjunto de indivíduos racionais, mas portadores de uma “natureza humana” 
individualista e anti-social). 
4 Além da obra desses autores – existem boas traduções para o português – há a coletânea em dois volumes 
organizada por Weffort (1989) que além de trazer trechos das obras mais importantes, traz comentários de 
cientistas políticos e sociólogos brasileiros, que permitem ampliar o exame dessas questões. 
7
Assim, a equação para a engenharia institucional que permite a construção da ordem 
pública teria, num dos lados, a procura da minimização da natureza humana anti-social 
(individualismo) e, de outro lado, a esfera pública que precisa estar baseada na busca do 
bem comum sem, com isso, abafar totalmente os interesses particulares dos agentes sociais.
  Lembretes
1) o que existe antes da sociedade civil é a natureza humana anti-social.
2) o contrato social é um meio que permite a construção do Estado e da 
sociedade civil, e com isso, a construção da ordem pública.
3) O Estado deve buscar o bem comum para estar de acordo com a sua 
tarefa perante a sociedade civil. 
 
1.1.2.2 – O conceito de sociedade civil para Hegel. 
Hegel (século XVIII e XIX) vive na fase de maior desenvolvimento do capitalismo 
e percebe a dicotomia Estado/Sociedade a partir de três dimensões: família, dimensão que 
se aproximaria da “sociedade natural”; a sociedade civil, como dimensão intermediária e 
local onde seriam travados os conflitos e onde surgiriam os tais interesses individuais e 
coletivos; e o Estado, ente final da razão e sintetizador dos conflitos ambientados na 
sociedade civil. É possível perceber em Hegel como os conflitos sociais brotam de questões 
econômicas, o que acaba diminuindo a idéia de que a sociedade civil seja um todo 
integrado. Porém, esse pensador ainda entende que o Estado representa a síntese dos 
conflitos da sociedade civil. 
Aqui, mais uma vez, o centro teórico para o entendimento do surgimento da 
sociedade civil e do Estado está na dicotomia razão versus natureza humana, bem como 
na dicotomia público (interesse público, bem comum) e privado (individualismo, 
interesses particulares). Hegel entende que o Estado representa o momento da razão, pois 
ele é que deve sintetizar os conflitos ambientados em nível da sociedade civil, que por sua 
vez, transcende a mera existência familiar, na medida em que a sociedade civil já agrega a 
8
formação das classes sociais (sistema de necessidades ligadas aos processos econômicos) e 
das ideologias, dos interesses particulares, etc. É na sociedade civil que brota uma ética 
social que estará sendo racionalizada no Estado (poder público). É na sociedade civil que 
brotam as relações sociais e econômicas que estarão na raiz do desenvolvimento humano e 
da reprodução da sociedade. 
Porém, a grande questão apontada por Hegel pode ser traduzida por um desafio: se o 
Estado não consegue sintetizar racionalmente os interesses privados numa dimensão 
pública (interesses públicos), como fica a sociedade civil? Para Hegel, portanto, Estado e 
sociedade civil são momentos diferentes, ainda que a forte ligação entre ambos seja dada 
pela afirmação da razão e pela busca pelo bem comum. 
A idéia do bem comum vem desde os contratualistas e segue agora mais pelo lado 
da razão. Para Rousseau, o bem comum confunde-se com a tese da vontade geral: algo que 
não representa nem a soma de todas as vontades individuais, nem a soma da maioria das 
vontades. O bem comum seria algo acima das vontades individuais, algo que representa a 
reprodução da sociedade de maneira que todos tenham condições de pertencerem à 
sociedade civil. Seria, assim, como uma lei, que desagrada a todos os indivíduos porque 
não está de acordo com nenhum ganho ideal individual, ao mesmo tempo em que pode 
agradar a todos justamente porque garante um mínimo para o conjunto dos 
participantes.
Mesmo assim, já entre os próprios contratualistas apareceram visões diferenciadas, 
pois Locke, antes de Rousseau, já havia condicionado o bem comum (ou o contrato social) 
a um pacto de consentimento da maioria: ou seja, ligado aos interesses das maiorias. 
Com Hegel, essa discussão vai migrando cada vez mais para a idéia da razão, 
entendida como sendo um processo real que está maximizando os benefícios e 
minimizando os custos. Os custos são vistos como os interesses particulares oriundos das 
relações econômicas e sociais (que produzem as ideologias). E os benefícios são vistos 
como sendo o bem comum, algo racional que garante a reprodução social de maneira que 
todos possam tirar proveito da vida em sociedade. 
Mas, o Modo de Produção Capitalista em pleno século XIX já mostrava as mazelas 
da desigualdade social que as relações econômicas produziam, por mais que os teóricos da 
revolução burguesa (como os franceses) tivessem apontado a igualdade perante a lei e a 
9
distribuição da propriedade feudal como propostas políticas para a construção do Estado 
burguês e da moderna sociedade capitalista. Desde os contratualistas, até Hegel, as 
principais contribuições filosóficas haviam apontado para a tese da superação da condição 
natural a partir da existência do Estado e de regras que representariam o ideal da razão e do 
bem comum. Isso porque a moderna sociedade burguesa não estaria mais assentada em 
desigualdades, como as presentes na escravidão ou servidão, mas na igualdade perante a lei 
para todos os indivíduos. Entretanto, a prática do Modo de Produção levava cada vez mais 
a conflitos sociais e políticos que culminaram com várias revoluções sociais no século XIX 
(nas famosas lutas de barricadas dos anos 30 e 40 do século XIX, até a comuna de Paris em 
1871). 
1.1.2.3 – O conceito de sociedade civilpara Marx e Gramsci. 
Do início da produção teórica de Karl Marx, na metade do século XIX, até a morte 
de Antônio Gramsci, em 1937, quase cem anos revelaram o amadurecimento do Modo de 
Produção Capitalista e da sociedade civil moderna. É quando estiveram sendo produzidas 
realmente as condições sociais, políticas e econômicas ligadas à formação do Estado de 
direito e da democracia no ocidente, ao mesmo tempo em que se desenvolveram as suas 
principais críticas, tanto teóricas quanto na prática política (nos casos do fascismo e do 
nazismo, pela direita, e do socialismo real, pela esquerda). Marx e Gramsci comungaram 
das mesmas críticas ao Modo de Produção Capitalista e ao Estado civil, bem como às 
teorias liberais (dos contratualistas e de Hegel). 
Esses dois autores (Marx e Gramsci) reformularam tanto o conceito de sociedade 
civil, dando uma conotação mais econômica e política à expressão, quanto reformularam, 
também, o significado do Estado e do seu papel. Talvez, um dos poucos pontos em comum 
com a tradição liberal está na idéia de que o Estado civil (ou simplesmente Estado) surge a 
partir de contradições irreconciliáveis na sociedade civil (ou de natureza), e que o Estado, 
nesse sentido, aparece para tentar conciliar tais interesses particulares em conflito. Porém, 
na ótica de Marx e Gramsci, o Estado faz o seu papel a partir do processo de dominação de 
classe e não como sintetizador da razão e do bem comum. A ordem pública, nesse sentido, 
10
dá-se mais pela dominação e imposição da vontade da burguesia (ou classe dominante) do 
que pela razão ou bem comum. 
Se recolocarmos as três dimensões do conceito de sociedade civil destacadas desde 
a parte dos contratualistas (o que vem antes da sociedade civil, a própria sociedade civil e a 
sua relação com o Estado), podemos dizer que Marx (primeiro) e Gramsci (depois) não 
admitiram existir nada antes da sociedade civil porque ela é um dos pólos e o início do 
processo social, sendo que o outro pólo é o Estado. Então, a lógica das relações sociais e 
políticas dá-se pela dicotomia Estado e Sociedade (civil): o Estado e a sociedade civil são 
dimensões contrapostas e não similares ou complementares. Contrapostas na medida em 
que a verdadeira contradição é oriunda da sociedade, ou mais precisamente, da luta das 
classes sociais, que se apropriam do Estado, transformando-o em aparelho de dominação de 
classe. 
A sociedade civil, portanto, é constituída pelas classes sociais, que, por sua vez, são 
formadas pelas relações econômicas (propriedade, profissão e renda) e pelas relações 
políticas e culturais (ideologias, educação, cultura). Por classes sociais presentes no Modo 
de Produção Capitalista, Marx e Gramsci entendiam os grupos formados pela burguesia 
(proprietários dos principais meios de produção – como fábricas, máquinas e ferramentas, 
matérias-primas etc) e pelo proletariado (profissionais assalariados – desde o “chão” da 
fábrica até os modernos “colarinhos brancos”). Entre esses grupos existiram vários 
segmentos sociais herdados do passado (como a aristocracia) e do presente 
(marginalizados, excluídos, pequenos proprietários). Mas, as duas principais classes sociais 
seriam a burguesia e o proletariado por estarem no centro do Modo de Produção. 
Nessa ótica, o Estado seria, e a despeito da evolução dos direitos humanos e sociais, 
um aparelho de dominação de classe. Isso porque o Estado e a ordem pública são vistos 
como tendo fundamentalmente a função de reprodução das relações de produção e 
distribuição, logo da sociedade capitalista. Para esses autores não existiria o bem comum 
como algo acima dos interesses das classes sociais, mas como a imposição da classe 
dominante, que transformaria os seus interesses particulares em “bem comum” de toda a 
sociedade (ou tentaria fazê-lo). 
Antes de verificarmos uma pequena diferença presente entre as obras de Marx e 
Gramsci, podemos sintetizar as suas reflexões da seguinte maneira.
11
 Lembretes
1) A sociedade civil é marcada pela luta de classes que brota das relações 
econômicas, políticas e ideológicas.
2) O Estado civil não é mais do que um aparelho de dominação de classe, 
ainda que nem todos os burgueses (classe dominante durante o Modo de 
Produção Capitalista) estejam no Governo.
3) A dicotomia Estado versus Sociedade Civil é, na verdade, a dicotomia 
entre as classes sociais pelo poder. 
A diferença entre Marx e Gramsci é que esse último pensador crítico atribuiu 
funções mais culturais e ideológicas à sociedade civil do que todos antes dele, mesmo em 
relação ao filósofo alemão Marx (sua referência teórica e política). 
A tese de que a sociedade civil é mais do que os conflitos econômicos é resgatada 
por Gramsci, já em pleno século XX. A sociedade civil é vista como um momento de 
cultura e de formação da hegemonia. Isso pelo lado das lutas ideológicas, mas com a 
formação de um processo de “relativo” consenso. Destacam-se, na visão de Gramsci, a 
hegemonia, o bloco histórico, o papel dos intelectuais. Mas, esse autor reconhece que em 
algumas formações sociais históricas os consensos hegemônicos não existem, pois o que 
garante a reprodução da sociedade é a força física mesmo: é o caso da revolução passiva e 
da via prussiana. 
A sociedade civil é diferente da sociedade política, mesmo que os dois tipos de 
sociedade façam parte de um mesmo todo social. A sociedade civil é caracterizada por ser 
o momento da formação da ideologia a partir das diferenças sociais (individuais e de classe 
social), e essas diferenças em termos ideológicos leva a que cada um desses interesses 
busque a hegemonia sobre os outros interesses. A sociedade política é caracterizada por ser 
o momento mais específico das decisões, o seja, quando a sociedade está decidindo as 
grandes e pequenas questões que tenha a ver com o poder: decisões marcadas, quase 
sempre, pela coerção, violência, ainda que em muitas vezes as decisões estejam sendo 
tomadas de forma legal e legítima. 
1.1.2.4 – O conceito de sociedade civil hoje em dia. 
12
Existem dois tipos de literatura sobre o conceito de sociedade civil nos dias atuais. 
Por um lado, podemos encontrar aqueles autores que fazem um balanço sobre a evolução 
do conceito, tais como o filósofo italiano Norberto Bobbio e os cientistas políticos Cohen e 
Arato. Esses dois publicaram no início da década de 90 do século XX uma extensa reflexão 
sobre o conceito, abordando desde as raízes no pensamento contratualistas, até às 
contribuições dos dias atuais5. Já Norberto Bobbio, além de ter escrito o verbete sociedade 
civil no dicionário que ele mesmo organizou, refletiu sobre esse conceito em quase todos os 
seus livros escritos sobre a política e o Estado6. 
Por outro lado, há aqueles que ainda contribuem com a formulação do conceito, tal 
como Habermas7. Sem dúvidas, esse filósofo e cientista social alemão tem sido o principal 
reformulador do conceito. Na citação abaixo, tirado do livro “Direito e Democracia”, 
podemos verificar os elementos da definição trazida por Habermas.
O seu núcleo institucional [da sociedade civil] é formado por associações e 
organizações livres, não estatais e não econômicas, as quais ancoram as estruturas 
de comunicação da esfera pública nos componentes sociais do mundo da vida. A 
sociedade civil compõe-se de movimentos, organizações e associações, os quais 
captam ecos dos problemas sociais que ressoam nas esferas privadas, condensam-
nos e os transmitem, a seguir, para a esfera pública política.
(Habermas 1997, p. 99)
Na citação acima podem ser destacados os seguintes aspectos:a sociedade civil 
difere tanto do Estado (numa visão diferente dos contratualistas clássicos), quanto da 
economia (ou da esfera privada econômica propriamente dita, como afirmava Marx). Nesse 
sentido, Habermas acaba por dividir a estrutura social e política em três dimensões: a 
sociedade civil (que ele também chama de mundo da vida); a sociedade política (com os 
seus subsistemas de administração, de violência e de coerção amparados em instituições do 
Estado); e a sociedade econômica (também chamada de subsistema de mercado, também 
amparado em instituições privadas como as empresas particulares). Por isso, Habermas 
observa que a sociedade civil é o aglutinador das demandas sociais presentes nessas outras 
5 O texto tem tradução para o espanhol: COHEN, Jean L. ARATO, Andrew. Sociedad civil y teoria política. 
México: Fondo de Cultura Econômica, 2000. 
6 Dentre os quais: BOBBIO, Norberto. Estado, governo e sociedade: para uma teoria geral da política. 6 ed. 
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997. 
7 Dentre as suas reflexões mais recentes, pode-se encontrar uma definição de sociedade civil em: 
HABERMAS, J. Direito e democracia: entre a facticidade e validade. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 
1997. (2 volume, capítulo VIII). 
13
esferas, mas a sociedade civil não é essas esferas, apenas é o momento em que a sociedade 
está se organizando e participando ativamente no Estado e no mercado. 
Figura 1. A visão de Habermas. 
Subsistema do mercado
Subsistema político (administrativo)
Mundo da vida = sociedade civil
Habermas traz à tona uma definição mais atual de sociedade civil, pois esta tem sido 
vista cada vez mais como sinônimo de movimentos sociais e de organização e participação. 
Tais organizações e tal participação não corresponderiam à lógica do mercado ou à lógica 
administrativa (imposta pelo Estado). Assim, a sociedade civil acaba sendo identificada 
mais com a parte ativa da sociedade (da luta, da reivindicação, das demandas), 
transformando em lutas as problemáticas oriundas da política e da economia. A sociedade 
civil é, nesse sentido, o veículo de comunicação das propostas sociais para a qualidade de 
vida e desenvolvimento, organizando os discursos privados para que eles façam eco na 
esfera pública. Ou seja, quem reclama ao Estado, o faz a partir do discurso construído no 
seio da sociedade civil. 
De um lado, portanto, nós temos a sociedade civil, e de outro lado nós temos o 
Estado (estrutura administrativa) e o mercado (estrutura privada da economia). 
 Lembrete
A sociedade civil é cada vez mais vista como um tipo de organização 
social, grupos de interesse, tudo aquilo que se contrapõe ao Estado, como 
esfera do poder e da administração, e ao mercado, como esfera do dinheiro, da 
lucratividade. Nesse sentido, é a visão de Habermas que sustenta tal visão. Esse 
autor diferencia as esferas do mercado e do Estado do chamado mundo da vida 
(sociedade civil). Nesta última é que acontecem as formulações sociais 
comunicativas que produzem a chamada esfera pública, que é o lugar em que 
as esferas se relacionam e onde a sociedade civil procura manter e aumentar o 
seu espaço de ação. 
Atualmente, tanto com a dificuldade do mercado formal, quanto do Estado (via os 
direitos e as políticas públicas) de garantirem a dignidade social e a inclusão democrática 
14
O mundo da vida (ou sociedade 
civil) é o lugar que produz e 
organiza as demandas sociais que 
serão levadas aos outros 
subsistemas
ao mundo dos direitos e do trabalho, a sociedade civil tem que procurar por conta própria 
suprir tais necessidades. Tanto isso é verdade que a discussão do chamado terceiro setor 
cresce nos meios sociais e econômicos. 
Porém, um aspecto a ser salientado da reflexão de Habermas, e que tem 
acompanhado a produção teórica sobre as funções do Estado, é que o poder público e o 
Estado (de maneira especial) são vistos como o lugar das relações sociais marcadas pela 
coerção e violência, ainda que legítimas e legais. Se a sociedade civil é o lugar de 
surgimento e organização das demandas sociais para a esfera pública, a esfera pública é o 
lugar de coordenação das demandas sociais. E um dos principais aspectos já comentados 
anteriormente, é da incapacidade da própria sociedade civil de resolver os seus problemas. 
Logo, o Estado tem que fazê-lo, mesmo que contra a vontade da sociedade civil (por isso, 
coerção e violência são ingredientes da relação Estado/Sociedade). 
 Resumo do conceito de Sociedade Civil 
(1) Oposição entre Estado e Sociedade civil ao Estado e sociedade de natureza.
(2) A sociedade civil é o lugar da formação dos conflitos, a partir de interesses 
divergentes, sejam eles atribuídos aos indivíduos ou às classes sociais. 
(3) O peso dos interesses econômicos pode ser o maior, ou o principal. 
(4) Mas com o desenvolvimento da sociedade, as questões culturais e os 
aparelhos ideológicos (públicos ou privados) fazem com que a hegemonia seja 
formadora de consensos e dissensos. 
(5) A sociedade civil é o momento da ideologia, e a sociedade política (Esfera 
Pública ou Estado) é o momento da coerção e da violência. 
1.2 - As relações sociais de poder que demandam a ordem pública: individualismo, classes 
sociais e ideologia.
Três elementos presentes nas relações sociais podem ser destacados como 
empecilhos à vida da sociedade civil sem o Estado: o individualismo, as classes sociais e a 
ideologia. Por isso, o objetivo teórico dessa segunda parte do capítulo 1 é definir esses 
elementos de forma mais direta. São eles, dentre outros, que justificam a existência do 
Estado, pois são problemas que impedem a própria sociedade de organizar-se de forma 
harmônica. Porém, esses mesmos elementos são os responsáveis pela identidade social das 
15
pessoas, o que acaba fazendo com que os mesmos fatores que geram os conflitos sociais 
sejam aqueles responsáveis pela organização e participação. 
Vimos, anteriormente, que a evolução do conceito de sociedade civil trouxe à tona 
esses elementos, ainda que o peso específico de cada um deles (do individualismo, das 
classes sociais e da ideologia) seja diferente para cada autor. Marx foi quem mais destacou 
o peso das classes sociais, e conseqüentemente da esfera da economia. Hobbes e os demais 
liberais são os que destacaram, ora negativa, ora positivamente, o peso do individualismo 
(as visões negativas foram dos próprios contratualistas, e a visão positiva do individualismo 
foi dos liberais e neoliberais mais recentes). Já para a discussão do conceito de ideologia, o 
seu maior crítico foi Gramsci, na medida em que para esse pensador italiano da primeira 
metade do século XX os aparatos ideológicos (escolas, mídia, igrejas, partidos políticos) 
detinham uma função muito importante no processo de reprodução social, direcionando e 
conduzindo as pessoas de acordo com a ideologia dominante (ou hegemonia) da classe 
dominante (dominante da economia). 
1.2.1 – O individualismo.
Registre, de forma sucinta, o que seja o individualismo para 
você.
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__________________________________________________________________
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Não fique preocupado com a sua definição, pois não há uma única forma de dizer o 
que é o individualismo. Isso já aponta para uma idéia a ser destacada: existem muitas 
compreensões sobre o que seja individualismo, é importante que você tenha claro qual é 
sua posiçãodiante disso. Por conta do objetivo dos nossos estudos, vamos, agora, tomar 
uma compreensão sobre individualismo que nos servirá de referência. Compare a definição 
que você escreveu acima com a descrição que segue.
16
Aqui, pensando-se na nossa discussão sobre os fatores que geram conflito e 
integração na sociedade civil, o individualismo deve ser definido a partir de algumas 
ressalvas:
1) Individualismo não é sinônimo nem de indivíduo, nem de individualidade. 
2) Individualismo é um conceito que surge depois da Revolução Francesa (século XVIII).
3) Individualismo pode ser visto como algo negativo ou positivo, dependendo do ângulo 
que estiver em questão. 
O individualismo difere de indivíduo porque os indivíduos representam uma 
determinada unidade social e sociológica. Por unidade social ou sociológica, entende-se 
aquilo que está em última instância presente nos fenômenos coletivos. O indivíduo, 
portanto, seria o que de mais geral e básico estaria nos processos sociais. Por indivíduos 
entende-se os seres biológicos que deteriam, dentre outras características, razão e 
motivação particular como fator ativo para as práticas sociais. A noção de indivíduo surgiu 
quando os seres humanos estavam libertos de todas as amarras sociais (como servidão e 
escravidão) e quando os próprios seres humanos começaram a serem vistos como unidade e 
medida de todas as coisas8. 
Já o individualismo pode ser representado como sendo um determinado tipo de 
objetivo social: quando os seres humanos estão pensando mais em si do que nos outros e na 
sociedade civil. Nem todo indivíduo é individualista, nem a aceitação de que a sociedade 
civil seja uma coleção de indivíduos demanda, necessariamente, a aceitação da tese de que 
os indivíduos sejam naturalmente individualistas. 
Como foi visto na primeira parte do capítulo, a noção de que o individualismo 
poderia estar na raiz do “estado de natureza”, ou seja, da luta de todos contra todos, advém 
dos pensadores contratualistas. Para eles, os seres humanos seriam portadores de uma 
natureza humana individualista (anti-social) e de razão (aquilo que contribuiria para a 
harmonia social na esfera pública). Nesse sentido, Hobbes, Locke e Rousseau, entenderam 
que o individualismo seria algo mais parecido com o egoísmo social que impediria a 
sociedade de se autogovernar. 
8 Numa visão antropocêntrica: o ser humano como centro do universo, diferente de uma visão teocêntrica 
(Deus centro do universo). Detalhe: essa visão antropocêntrica, resgatada na Renascença, é grega 
(literalmente já dito por Protágoras, no séc. V a.C.).
17
Outros pensadores liberais como Adam Smith, de forma contrária, viam como 
positivo o egoísmo que levasse os indivíduos a buscarem os benefícios por conta própria, 
fazendo com que o acúmulo geral fosse bom para todos. Mais recentemente, os pensadores 
neoliberais (como o filósofo austríaco F. Hayek9), defenderam a tese de que os indivíduos 
deveriam ficar entregues à sua própria sorte para que assim eles fizessem tudo para 
progredir e desenvolver a sociedade. 
Nesse sentido, dentro do próprio pensamento liberal há uma divergência quanto ao 
individualismo. Tal divergência pode ser vista no quadro a seguir.
QUADRO 1 – A MATRIZ DO PENSAMENTO LIBERAL QUANTO AO 
INDIVIDUALISMO
Para os pensadores liberais como Adam 
Smith e Hayek
Os vícios privados (egoísmo, privatismo, 
individualismo) geram benefícios públicos 
(como na idéia da mão invisível do 
mercado). Por benefícios públicos, entende-
se o bem comum, o desenvolvimento da 
sociedade. Isso porque se cada um cuidasse 
de si, ninguém precisaria cuidar do outro. 
Para os contratualistas como Hobbes e 
Rousseau
Os vícios privados (estado de natureza, 
individualismo) não geram benefícios 
públicos (como a ordem pública). Isso 
porque o individualismo gera a luta de todos 
contra todos, logo, o fim da sociedade. Por 
isso, é necessário o Estado para fiscalizar e 
controlar os indivíduos. 
Então, os principais críticos do individualismo são os próprios liberais, pois eles 
partem do pressuposto que os indivíduos sejam os elementos básicos da sociedade. 
Individualismo é diferente também de individualidade. Essa última representa uma 
situação na qual um indivíduo age de acordo com as suas opiniões, sentimentos e 
ideologias, sem que os outros estejam conduzindo sua ação ou interferindo 
significativamente nela. A individualidade é marcada pela condição das pessoas não serem 
9 Um dos textos traduzidos que traz bem a visão desse autor é HAYEK, F. Caminhos da Servidão. Porto 
Alegre: Instituto Liberal, s/d. 
18
manipuladas pelas outras, não serem controladas, não serem conduzidas. Já o 
individualismo é quando as pessoas pensam apenas em si. 
As pessoas podem ser individualistas ao mesmo tempo em que estão sendo 
manipuladas (são manipuladas para serem individualistas). De outra maneira, as pessoas 
podem estar garantindo a sua individualidade sendo individualistas (somente pensando em 
si). 
Hoje em dia, na época da mídia de massa, das grandes organizações sociais e 
econômicas, é mais difícil as pessoas garantirem a sua individualidade (pensarem com a sua 
própria “cabeça”). É mais comum ouvirmos as pessoas serem identificadas com o 
individualismo: quando pensam apenas em si, ou nos seus. 
De qualquer forma, o entendimento de que o individualismo seria o principal 
empecilho para a harmonia social é motivado pela tese de que a sociedade civil seria 
baseada em indivíduos, e que esses estariam agindo de forma egoística. Isso produziria um 
certo caos social que demandaria a existência do Estado (poder público), o qual deveria 
pairar sobre tais conflitos, sendo um ente neutro a buscar pelo bem comum. 
1.2.2 – As classes sociais.
Se os liberais defendem que a sociedade deva ser vista como um conjunto de 
indivíduos que buscam o melhor para si dentro das possibilidades existentes, ao mesmo 
tempo em que condenam o individualismo egoísta - isto é, aquele individualismo que 
produz uma luta generalizada de todos contra todos -, os marxistas também condenam o 
individualismo, mas entendem que o principal problema está na estrutura das classes 
sociais, pois os próprios indivíduos seriam individualistas de forma negativa por causa da 
manipulação da classe dominante. 
Sempre que Marx comentou sobre o comunismo foi no sentido de que este seria 
uma sociedade sem classes sociais e sem Estado, e, segundo ele afirmou mais de uma vez, 
tal situação seria a da plena existência de indivíduos concretos10. Marx via que os 
indivíduos poderiam estar realmente de acordo com as suas individualidades, ou seja, 
10 Como no texto em que ele critica o programa da social-democracia na Alemanha: “Crítica ao Programa de 
Gotha”, escrito em torno de 1875, quando da realização de um congresso do partido que ele mesmo estava 
ajudando a criar. 
19
agindo a partir das suas próprias noções e opiniões, numa sociedade em que não existissem 
nem classes sociais (que brigariam para manipular as opiniões sociais), nem Estado 
(estrutura para a coerção e dominação a partir da violência legal e legítima, que em última 
instância seria uma forma “legal” de dominação de classe). Nesse sentido, o individualismo 
presente na sociedade burguesa seria fruto muito mais da ação da classe dominante 
(burguesia) para que o proletariado não se organizasse no sentido da revolução, do que umproblema existencial. Assim, o principal problema da sociedade capitalista não seria o 
individualismo, que realmente atrapalhava numa perspectiva da distribuição do ganho 
social, mas os motivos reais que levavam ao desenvolvimento do individualismo, isto é, a 
estrutura de classe. 
Marx não foi o inventor da idéia das classes sociais, mas ele emprestou a essa idéia 
uma conotação econômica e histórica, pois elas durariam até quando durasse o Modo de 
Produção Capitalista. A conotação econômica esteve presente desde o início da reflexão de 
Marx11 a partir do entendimento de que as classes sociais surgiriam desde a estrutura da 
produção e seguiriam os passos do processo de distribuição e consumo. 
Posteriormente, vários seguidores de Marx deram continuidade a essa idéia, 
especialmente no âmbito da sociologia, pois trabalhar com o conceito de classe social seria 
a forma de verificar a estrutura da sociedade. Um dos teóricos que mais afirmou essa tese e 
contribuiu para a sua formulação contemporânea (já em meio à sociedade de massa e do 
“colarinho branco”) foi Nicos Poulantzas, um grego radicado na França. Num texto 
simples, em que ele pergunta e responde sobre as classes sociais, Poulantzas escreve:
O que são classes sociais na teoria marxista? 
Classes sociais são grupos de agentes sociais, homens definidos, 
principalmente, mas não exclusivamente, pelo seu lugar no processo de 
produção, isto é, na esfera econômica. (Poulantzas, 1976, p. 7). 
Como se pode perceber na citação acima, mesmo que os marxistas apresentem 
outros motivos para a separação da sociedade civil em classes sociais, a questão da esfera 
11 No Manifesto do Partido Comunista escrito por Marx e Engels na metade do século XIX o primeiro 
parágrafo do primeiro capítulo é: “A história da sociedade até hoje é a história de lutas de classes”. (Marx e 
Engels, 1990, 66). Depois, Engels em 1888 numa nota de rodapé escreve sobre a definição das classes sociais: 
“Por burguesia entende-se a classe dos capitalistas modernos, que são proprietários dos meios de produção 
social e empregam trabalho assalariado. Por proletariado, a classe dos trabalhadores assalariados modernos, 
que, não tendo meios de produção próprios, são obrigados a vender sua força de trabalho para sobreviver”. 
(Marx e Engels, 1990, 66). 
20
econômica é sempre a mais importante. E os parâmetros oriundos da esfera econômica 
lidam, em geral, com: (a) propriedade – quantidade e tipo - ;(b) renda; (c) profissão e 
escolaridade; (d) ocupação. 
Outro aspecto relevante, e que será analisado na próxima seção, é a questão da 
ideologia. As pessoas presentes numa mesma classe social até poderiam conviver num 
ambiente semelhante do ponto de vista objetivo (propriedade e renda), mas isso não 
significaria, naturalmente, que precisariam pensar e agir da mesma maneira. Por isso, é que 
Marx e os marxistas sempre fizeram questão de salientar o aspecto cultural e político da 
luta de classes, a ponto de que um dos principais problemas apontados por esses pensadores 
para a efetiva organização de classe seria um fenômeno chamado de “falta de consciência 
de classe”. 
Nessa perspectiva é que o Estado teria uma relação forte com as classes sociais na 
matriz teórica analisada nesse momento, nem tanto pela ocupação direta da burguesia dos 
postos do Estado, ou de qualquer outra classe dominante, mas pela influência ideológica e 
política do poder econômico no que concerne às decisões públicas. Por isso, o próprio Marx 
observou, junto com Engels no Manifesto do Partido Comunista, que o Estado não seria 
nada mais do que “um aparelho de dominação de classe”. 
Ralph Miliband12, escritor inglês, observou na década de 70 do século XX que o 
Estado capitalista estaria cada vez mais nas mãos da classe média (toda uma camada 
intermediária de profissionais liberais, burocratas, funcionários públicos civis e militares) 
do que nas mãos da grande burguesia. Isso fazia com que o Estado fosse mais capitalista do 
que burguês pela simples idéia de que ele mantinha muito mais a lógica do processo 
produtivo do que simplesmente a dominação da burguesia. O poder público, comenta 
Miliband, estaria mais voltado à manutenção das relações sociais capitalistas do que 
voltado para o poder direto da burguesia, pois os planejadores e tecnocratas teriam mais 
condições de administração da ordem pública capitalista do que os próprios burgueses 
proprietários, em parte pela crescente especialização de funções e tarefas do poder público, 
em parte pela dinâmica da afirmação dos direitos sociais, que foram transformando o 
Estado num protetor social dos setores urbanos da sociedade civil. 
12 Há uma boa tradução para o espanhol da sua obra: MILIBAND, Ralph. El estado em la sociedad 
capitalista. 16 ed. México: Siglo Veintiuno Editores, 1992. 
21
Escreva abaixo quais são as classes sociais presentes na 
sociedade brasileira? 
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
_____________________________________________________
1.2.3 – A ideologia.
A questão da ideologia está ligada tanto ao individualismo quanto às classes sociais. 
A ligação acontece porque é pela ação ideológica que os interesses particulares dos 
indivíduos e das classes sociais geram os conflitos sociais que impossibilitam a auto-
organização da sociedade. Entretanto, por mais negativa que a ideologia possa ser para o 
equilíbrio da sociedade, é a partir da ideologia que as pessoas formam as suas identidades 
individuais e coletivas. Ser rico ou pobre, da mesma maneira que ser bonito ou feio, são 
distinções que brotam de convenções produzidas a partir das práticas sociais que possuem 
referências ideológicas sobre o “certo e errado”, o “bem e o mal” etc.
O desenvolvimento do conceito de ideologia mais ou menos acompanha os de 
individualismo e de classes sociais. Numa perspectiva moderna, todos são frutos do 
pensamento contratualista, ou do pensamento liberal ou do pensamento marxista. No caso 
particular do conceito de ideologia, por mais que ele tenha sido proposto originalmente por 
um enciclopedista Francês da época de Napoleão Bonaparte, Desttut de Tracy, é com Marx 
que ele assumirá uma conotação sociológica. E, de Marx até os dias atuais, vários outros 
pensadores foram refletindo sobre o conteúdo da ideologia e das práticas ideológicas. Por 
isso, podemos identificar quatro grandes momentos da evolução do conceito de ideologia.
O primeiro momento é quando Marx reformula o conceito ideologia – da sua versão 
original de ser sinônimo de “ciência das idéias” – para uma definição mais próxima da tese 
de que a ideologia seria uma idéia errada: seja pela falta de informações ou erro teórico, 
seja por interesses espúrios para a enganação13. Portanto, ideologia seria sinônimo de idéia 
13 Marx e Engels escreveram um livro que não foi publicado durante a vida dos autores e que se transformou 
numa referência quanto à questão da ideologia: “A Ideologia Alemã”. Nesse texto, os filósofos alemães são 
22
errada, permitindo que a identificação de algo ideológico se prestasse para a identificação 
de algo errado. 
 Falando de Revolução Francesa...
A dicotomia esquerda e direita é fruto da divisão no plenário do parlamento 
Francês entre os deputados “mais radicais” – que se situavam à esquerda no 
plenário – e os deputados “mais conservadores” – que se situavam à direita 
no plenário. 
Numa pesquisa em Caxias do Sul14, em 2002, num total de 2410 entrevistas(cerca de 2% de erro amostral), os entrevistados responderam que eram:
17% de esquerda
9% de centro-esquerda
11% de centro
6% de centro-direita
21% de direita
22% não conhece esses termos
13% não sabe
4% não respondeu. 
Ou seja, quase 2/3 dos entrevistados enquadraram-se numa determinada 
forma em termos da ideologia política. 
Essa noção sobreviverá até os dias atuais, pois ela pode ser encontrada em nível de 
senso comum. Sempre que alguém apontar o erro de alguma tese porque ela é ideológica 
estará afirmando a noção de Marx sobre a ideologia. Mesmo que o erro seja promovido por 
questões teóricas ou pela falta de informações, muitos agentes políticos atribuem rótulos 
pejorativos aos seus inimigos quando apontam neles o vício da ideologia. 
Na primeira metade do século XX foi proposta uma segunda forma de ver a 
ideologia a partir de um pensador italiano, que mudou em parte a definição marxista de 
criticados pelos erros teóricos que acabam invertendo a realidade como ela existe na prática concreta. Assim, 
tais erros não seriam pelas más intenções dos filósofos, mas pelos seus erros teóricos. Porém, em outras 
oportunidades, como no caso do “Capital”, o próprio Marx fez alusão à obra de certos economistas vulgares 
(burgueses), comentando que eles cometiam erros teóricos por causa dos seus interesses de classe. 
14 Pesquisa de comportamento político que contou com a nossa participação e foi desenvolvida pelas 
Universidades de Pittsburgh e Houston, EUA. 
23
ideologia. Gramsci15 observou que a ideologia além de servir como “cimento” para a 
coesão social, seja pelo lado da dominação, seja pelo lado da transformação, servia também 
como forma de constituição do indivíduo a partir da idéia da identidade cultural e social. 
Para tanto, esse pensador italiano sugeriu a tese dos aparelhos privados de hegemonia que 
seriam as instituições que formariam o processo ideológico dominante sobre o qual seriam 
erguidos os valores, as opiniões, as idéias, os sentimentos e as práticas dos indivíduos e das 
classes sociais. Os tais aparelhos privados de hegemonia serviriam para a constituição do 
indivíduo na medida em que os mesmos não teriam condições de se autoformarem. Esse 
processo seria produzido em nível da sociedade, pois as classes sociais fariam uso dos 
aparelhos privados de hegemonia na luta de classes. Por aparelhos privados de hegemonia 
seriam arrolados: as escolas, as igrejas, os meios de comunicação, as editoras etc., ou seja, 
todas as instituições que cumprissem funções ideológicas (isto é, de formação de 
pensamentos e opiniões). 
Nesse sentido, a ideologia perde a sua conotação de erro, e vira sinônimo de idéia e 
visão de mundo. Cada classe social teria a sua visão de mundo, não sendo mais natural que 
apenas as idéias erradas fossem ideológicas, mas todas as idéias, restando a tarefa de saber 
qual a origem de classe das idéias. 
Os intelectuais assumem um papel central nessa nova visão a partir do entendimento 
de que eles seriam os verdadeiros formuladores das ideologias das classes sociais (e não os 
próprios membros das classes, como os burgueses e os proletários). Ainda que a última 
palavra fosse dada pelas práticas das classes sociais, os intelectuais teriam uma função de 
criação e de condução das classes sociais, sendo os responsáveis tanto pelos argumentos 
sofisticados das ideologias de classe, quanto pela sua difusão (por exemplo, no papel dos 
intelectuais da imprensa e dos professores). 
O terceiro momento é dado também no século XX a partir da obra de Louis 
Althusser16. Esse pensador Francês destacou o aspecto concreto e prático da ideologia, 
afirmando que as idéias não são diretamente ideológicas porque elas precisam ter uma 
existência material. Assim, as idéias teriam que passar pelo “vestibular” da existência 
prática para serem efetivamente ideológicas. Esse “vestibular” seria dado pela necessidade 
15 A obra mais importante desse autor foi escrita quando ele estava na prisão (colocado por Mussolini). Por 
isso, ela foi publicada como “Cadernos do Cárcere”. Existem boas edições no Brasil desses cadernos. 
16 Há uma coletânea de textos desse autor sobre as questões da ideologia e outras: ALTHUSSER, Louis. 
Sobre a reprodução. Petrópolis: Vozes, 1999. 
24
de entrada de uma idéia nos tais aparelhos ideológicos (igrejas, escolas, meios de 
comunicação), que teriam a tarefa de criar e difundir as ideologias para os indivíduos. As 
ideologias não seriam sinônimo simplesmente de erro, nem de enganação, mas estariam 
ligadas aos interesses das classes sociais. A especificidade da definição de Althusser, dentre 
outras questões, seria da existência material, pois as ideologias seriam praticadas a partir da 
ação dos indivíduos (no ato de rezar, comprar, beijar, estudar, etc). 
O quarto momento da definição de ideologia está mais ligado aos dias atuais, ou a 
uma determinada visão das práticas ideológicas contemporâneas. Um esloveno é 
responsável pela nova visão, Slavoj Zizek17 tem comentado sobre a dimensão cínica do 
fenômeno ideológico. A ideologia, na época atual estaria ligada intimamente à tese de que 
as pessoas saberiam bem das conseqüências das suas ações, mas mesmo assim elas 
continuariam a fazê-las. As pessoas saberiam que a corrupção não é apenas algo presente 
na vida dos políticos ou do Estado, pois estaria ligada à vida de todos, mas o discurso 
ideológico manifestado em nível de senso comum é de que o Estado e os políticos seriam 
os corruptos e as pessoas não. O cinismo estaria presente em muitos lugares, tais como nas 
invasões em nome da democracia, mas com base nas disputas econômicas e do petróleo e 
nas lutas contra a corrupção que somente seriam apontadas nos “partidos” dos outros e não 
nas suas próprias práticas, e assim por diante. 
A ideologia continua a ser vista como sinônimo de todas as idéias, sendo que 
uma das suas principais características seria a da existência material. A ideologia 
seria oposta à alienação, em que as pessoas nada saberiam, mas, ao contrário, elas 
sabem e continuam fazendo, ainda que nem todos os indivíduos estejam conscientes de 
todas as implicações das suas ações. As ideologias estão presentes nas ações 
individuais, especialmente no chamado individualismo, mas a fonte criadora das 
ideologias seria representada pela figura dos intelectuais a serviço do Estado e da 
economia (no sentido de que as pessoas comprem candidatos, sabonetes, políticas 
públicas, satisfação, etc), por mais que as pessoas pensem que as suas idéias tenham 
surgido dentro delas mesmas. As teses dos intelectuais chegam até os indivíduos 
através dos aparelhos ideológicos que servem para a tradução das idéias filosóficas em 
opiniões e máximas populares. Assim, de certa forma, pode-se dizer que a sociedade 
17 Este pensador organizou uma coletânea sobre o conceito de ideologia que pode ser encontrada em 
português: ZIZEK, Slavoj (org.) Um mapa da ideologia. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996. 
25
civil não se auto-organiza porque o próprio Estado e o mercado não querem, pois as 
ações dessas instâncias do real são voltadas para a manutenção da dominação sobre a 
sociedade (civil). 
Relacione a coluna da direita com a da esquerda:
(a) Marx ( ) Ideologia como cinismo
(b) Gramsci ( ) Ideologia como erro
(c) Althusser ( ) Ideologia como visão de mundo
(d) Zizek( ) Ideologia como existência prática
26
CAPÍTULO 2 – SOCIEDADE POLÍTICA
Objetivos para os alunos: reconhecer os problemas existentes na ordem pública que 
dificultam a relação Estado/Sociedade e refletir sobre os mesmos. 
Tópicos:
2.1 - O conceito de sociedade política nas tradições teóricas modernas e contemporâneas. 
2.2 - O patrimonialismo, a burocracia e a violência (autoritarismo). 
2.1 - O conceito de sociedade política nas tradições teóricas modernas e contemporâneas 
Orientações 
1) O que é poder?
2) O Estado é um aparelho de dominação?
No capítulo anterior foram levantados aspectos que impossibilitam a construção da 
ordem pública de forma espontânea na sociedade, a ponto de que para a efetivação da 
mesma surge a necessidade do Estado. Como foi visto nos textos de Realidade Brasileira, o 
Estado no Brasil foi fruto de um longo processo de lutas sociais, um longo processo de 
afirmação de direitos e de identidades coletivas, permeado por processos de preconceito, 
exclusão e racismo. Ou seja, cada vez mais se destaca a função do Estado como ente 
político e jurídico que pode estar associado à conquista e à afirmação da democracia e da 
cidadania, ou do fracasso e da exclusão. Na verdade, o Estado brasileiro esteve presente 
nesses dois momentos: de afirmação e de exclusão. E um dos elementos que está por trás 
dessa situação toda é a questão do poder. 
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Antes de iniciarmos a discussão de poder e dominação, bem como de examinarmos 
a relação de poder e dominação com o Estado, devemos destacar certos pressupostos para a 
discussão da sociedade política. 
1) Se o conceito de sociedade civil está baseado na idéia (atual) de que há uma 
diferenciação entre as estruturas sociais do mercado, do Estado e da própria sociedade, o 
conceito de sociedade política busca abranger os aspectos institucionais e estatais (públicos 
e legais) presentes na relação entre essas três esferas (mercado, Estado e sociedade civil).
2) Tal relação apresenta-se na medida em que o centro formulador e a origem de onde 
brotam as demandas, discursos e propostas é a sociedade civil, mas no momento em que ela 
está decidindo e aplicando as suas decisões (logo, a sociedade política).
3) Portanto, a sociedade política não é algo diferente da sociedade civil, é apenas a 
condição da sociedade civil no exato momento em que ela está decidindo e aplicando a sua 
decisão.
4) Isso por causa, fundamentalmente, da soberania popular, pois se o povo brasileiro é o 
soberano (do Estado brasileiro), toda decisão e implementação da decisão é tarefa da 
sociedade civil. Porém, na prática, quem decide e implementa, no dia-a-dia, é a sociedade 
política.
Como a sociedade política é a mesma sociedade que a sociedade civil, só que no 
momento do processo de tomada de decisão e de implementação das demandas sociais, a 
raiz da sociedade política é o poder, pois o poder é o sinônimo das relações sociais 
existentes entre governantes e governados, da mesma maneira que o poder está presente nas 
relações entre patrões e empregados, pais e filhos, professores e alunos etc. Isto é, as 
relações de poder são a característica essencial da sociedade política, especialmente quanto 
ao processo de dominação existente na ação do Estado. Sim, porque sem esse processo o 
Estado não teria justificativa para existir na medida em que ele brota e se legitima, na 
concepção atual, a partir da máxima de que o povo, por mais soberano que seja, não 
consegue se autogovernar. 
2.1.1 – O conceito de poder. 
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 A obra do filósofo grego Aristóteles (séc. IV a.C.) é uma das primeiras referências 
quando o assunto é o poder. Seu livro mais importante sobre esse assunto é Política, sendo 
que ele pode ser encontrado em várias edições em português18. Ele esteve envolvido com a 
formulação de duas classificações quanto à distribuição de poder (quem manda) e quanto 
ao lugar do poder. 
No primeiro caso, Aristóteles refletiu as três grandes possibilidades em relação à 
distribuição do poder entre as pessoas: (a) a realeza, quando apenas um detém o poder; (b) 
a aristocracia, quando alguns detêm o poder; (c) a república, quando todos detêm o poder. 
Aristóteles também estabeleceu os casos em que o poder estivesse sendo mal exercido: (a) 
numa tirania, forma deturpada do poder monárquico; (b) oligarquia, forma deturpada do 
poder oligárquico; (c) democracia (que hoje em dia pode ser entendida muito mais como 
demagogia), forma deturpada do poder republicano. 
A partir dessa tipologia aristotélica, a Filosofia e a Ciência Política têm identificado 
os regimes políticos ao longo da história. Destaque especial merece, atualmente, a 
democracia, que, por essa matriz teórica, significaria uma distribuição de poder para todos 
(ou para o povo). 
É claro, que, do ponto de vista das experiências concretas das diferentes formações 
sociais e políticas desde a Grécia antiga, talvez nenhum regime político tenha sido 
verdadeiramente democrático, especialmente se estabelecermos como critério definidor a 
distribuição de poder para todos. Porém, ainda que essas questões políticas sejam corretas, 
não se pode negar que tenha havido uma evolução no sentido da democratização nesses 
últimos 2.500 anos. Se pensarmos apenas nos últimos 250 anos, então, a democratização é 
ainda mais significativa. Agora, é preciso que se diga que a democracia ou a oligarquia, 
formas mais realistas de distribuição de poder no processo de tomada de decisão, dependem 
em muito dos fatores sociais presentes na definição de sociedade civil. Outra questão 
tipológica oriunda do pensamento grego antigo é quanto ao lugar das relações de poder. 
Nesse sentido, a proposta apresentada por Aristóteles é: 
(a) as relações de poder podem estar presentes nas situações do patriopoder, ou seja, 
nas relações ambientadas na dimensão dos lares e domicílios. São as relações de poder 
18 A edição que está sendo utilizada é: ARISTÓTELES. A política. São Paulo: Escala, s/d. (Grandes Obras do 
Pensamento Universal, n. 16). Tradução de Nestor Silveira Chaves.
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presentes no seio da família (e do seu entorno) e que tanto podem ser fundamentadas no 
matriopoder quanto no patriopoder. Na verdade, o que se está querendo dizer é que 
existem relações de poder dentro de casa, nas interações pais e filhos, maridos e esposas 
etc. 
(b) As relações de poder também podem estar presentes no mundo do trabalho, na 
relação entre patrão e empregado, nos casos do senhor e escravo, em relação aos contatos 
entre subalterno e chefia, e por aí afora. Mesmo que Vázquez19 juntamente como Michel 
Foucault20 tenham observado que as relações econômicas do mundo do trabalho são mais 
adequadamente analisadas pelas questões de exploração21 e não de dominação, os 
pensadores gregos já percebiam que as situações verificadas no mundo do trabalho contêm 
muitos aspectos de poder e dominação, senão diretamente (o que pode ser possível segundo 
o nosso entendimento), pelo menos de forma indireta na medida em que o poder econômico 
influencia abertamente o regime político. 
(c) As relações de poder também podem, e são, verdadeiramente, ambientadas na 
interação governantes e governados. Essa dimensão das relações de poder é a mais clássica 
e consensualmente aceita nos meios intelectuais e políticos. Hoje em dia, articulando as 
duas as classificações (do lugar e da distribuição do poder) podemos dizer que vivemos 
num ambiente político em que nas relações entre governantes e governados deva prevalecer 
a distribuição de poder democrática. Se isso não acontece, há sérios problemas delegitimidade entre o Estado e a sociedade civil. Na prática, num cenário legal de soberania 
popular, a democracia é a melhor forma de decisão e implementação que materializa tal 
preceito constitucional. Entretanto, podemos arrolar vários casos que ainda têm dificultado 
a afirmação da democracia. 
E o poder? Vimos que ele pode estar em todos os lugares e dividido de várias 
formas. Mas, o que é o poder, ou seja, o que é dividido? 
Em primeiro lugar, poder é uma relação social. Para uma relação social existir é 
preciso a interação de duas ou mais pessoas. Poder é um tipo de relação social que tem 
19 VAZQUEZ, Adolfo Sánchez. Entre a realidade e a utopia: ensaios de política, moral e socialismo. Rio de 
Janeiro: Civilização Brasileira, 2001. 
20 FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. 10 ed. Rio de Janeiro: Graal, 1992. 
21 Relações de exploração no sentido da extração de mais-valia do empregado pelo patrão. Para essa discussão 
ver: MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. 
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como característica específica a possibilidade ou a efetividade de que um dos participantes 
da relação possa exercer alguma influência sobre o outro. 
Em seu significado mais geral, a palavra Poder designa a capacidade ou a 
possibilidade de agir, de produzir efeitos (...) poder do homem sobre o 
homem. (Bobbio, 1995, p. 933)22. 
As relações de poder podem andar juntas com outros tipos de relações sociais, como 
as educacionais, as afetivas, as amorosas, as econômicas e as culturais. É importante 
também destacar que as relações de poder são intermediadas por instrumentos. Como 
instrumentos podemos apontar as armas, a força física, o conhecimento, as leis, o dinheiro, 
a propriedade. Na verdade, as especificidades de outras relações sociais (como o dinheiro 
para a relação econômica) acabam virando instrumento das relações de poder. 
Por exemplo, uma arma é um instrumento das relações de poder. A posse ou o 
controle visível de uma arma representa uma relação de poder em termos da possibilidade 
que tal posse e visibilidade produzem nos outros (que percebem a situação). O momento da 
efetividade nas relações de poder é quando essa arma é utilizada na sua função principal 
(matar, ferir, machucar). 
A lei é um instrumento de poder que deveria funcionar idealmente apenas na 
dimensão da possibilidade na medida em que evitasse que as pessoas cometessem crimes. 
Para tanto, ela precisa ser entendida como algo aplicável por alguém, senão as pessoas não 
se importariam em descumprir as normas. Nesse sentido, o Estado – no que concerne à 
criação e à aplicação da lei – é um instrumento de poder para fazer com que as pessoas 
cumpram as regras estabelecidas para o bom convívio social, isso em termos da 
possibilidade. Porém, se as pessoas não cumprem as regras, o Estado deve ter a efetividade 
para exercer as sanções, as penas. 
Poder é, em última instância, uma relação social entre pessoas que têm como 
intermediários os instrumentos que servem para a execução da possibilidade e 
efetividade. Reconhecer os instrumentos e os seus potenciais é parte da tarefa de 
22 A versão de poder presente num dicionário de sinônimos é bem semelhante: “Ter a faculdade de, ou energia 
ou calma ou paciência para. Ter possibilidade de, ou autorização para. Estar arriscado ou exposto a. Ter 
ocasião ou meio de. Ter o direito ou a razão de. Ter saúde ou capacidade para agüentar ou suportar, etc. Ter 
possibilidade. Dispor de força ou autoridade. Ter força física ou moral. Direito de deliberar, agir e mandar. 
Possibilidade; meios. Vigor, potência. Domínio, força. Eficácia, efeito. Capacidade, aptidão. O governo dum 
Estado”. (Holanda, 1977, p. 372).
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dominação para que os dominados não descumpram as regras estabelecidas pelos 
dominantes. Se os dominantes não possuíssem instrumentos de poder, ou se eles os 
possuíssem mas os dominados não os percebessem, as relações de poder iriam descambar 
necessariamente para a desobediência. É claro que nem sempre os dominados atendem às 
exigências de quem tem mais poder – ou seja, controle dos instrumentos de poder. Porém, 
deter o controle de um instrumento de poder é fundamental para o processo de dominação. 
E o processo de dominação envolve, de todas formas, o reconhecimento da dominação por 
parte do dominado, senão ele não pode ser dominado.
A dominação é a principal conseqüência das relações de poder. Quem controla os 
instrumentos de poder em maior quantidade e qualidade que os outros é o dominante. Para 
a dominação é preciso que os dominados reconheçam os instrumentos de poder e o controle 
deles por parte de alguém (o dominante). Porém, isso não significa que o simples 
reconhecimento implique em aceitação. Quando da não aceitação da situação (o que 
implica em reconhecimento da mesma), o dominado pode ativar a desobediência. 
Nesse sentido, ainda que em termos filosóficos existam outras orientações para 
certos conceitos sociológicos, as relações de poder e dominação são diferentes das relações 
de alienação. Por alienação entende-se um processo em que alguém não “reconhece” uma 
situação em que está envolvido. A alienação implica numa falta, e esta falta, no caso da 
alienação política, está associada ao desconhecimento dos instrumentos de poder. Por 
exemplo, se um país usa uma arma desconhecida para controlar um adversário, na verdade, 
se a simples idéia de tal arma nunca tivesse passado pelo entendimento do adversário 
controlado, isso não representaria uma relação se dominação, mas de alienação. O perdedor 
estava alienado da força do vencedor e não dominado pela força do vencedor. 
 Para lembrar
1) Poder é uma relação social. 
2) As relações de poder são mediadas por instrumentos (armas, 
conhecimento, leis, força física, dinheiro, propriedade).
3) Os instrumentos de poder precisam ser reconhecidos pelos participantes 
da relação para que seja materializada a questão da dominação.
4) São dominados aqueles que não controlam instrumentos de poder e 
reconhecem o controle em outros. São dominantes nas relações de poder 
aqueles que controlam instrumentos que são reconhecidos pelos outros 
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(dominados).
5) Se os dominados não reconhecem os instrumentos (e os seus potenciais) 
eles não são dominados, mas alienados. A dominação pressupõe algum tipo 
de reconhecimento dessa dominação. 
6) A força de um poder pode ser medida empiricamente pelos instrumentos 
disponíveis (como em termos das armas de um país, ou pelo conhecimento 
de judô numa pessoa). 
Em termos sociais, de acordo com a tipologia apresentada por Aristóteles, o nosso 
curso está mais preocupado com as relações de poder ambientadas entre os governantes e 
governados, do que com a relação de poder existente entre os professores e os alunos, entre 
os médicos e os pacientes etc. Nesse âmbito, é preciso articular a tese do poder com a da 
sociedade civil, na medida em que as relações de poder que envolvem os processos de 
tomada de decisão praticados na esfera pública estão marcados pelo individualismo e pelas 
classes sociais. 
No caso do poder e de classes sociais, a citação de Lênin, revolucionário russo do 
final do século XIX e início do século XX – depois da revolução Russa, Lênin virou o 
primeiro estadista do Estado Socialista – é muito elucidativa.
Todo marxista conhece há muito a verdade de que só o proletariado e a burguesia 
podem ser forças decisivas em qualquer sociedade capitalista, enquanto todos os 
elementos sociais situados entre estas classes pertencentes à categoria econômica 
da pequena burguesia vacilam inevitavelmente entre estas forças decisivas.

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