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Modelos e Ferramentas de Gestão Ambiental - Produção Mais Limpa

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Tânia ~1ara lavares Gasi
Edson Ierreira
45
MODELOS E FERRAMENTAS DE GESTÃO AMBIENTAL
'Y:' ~ ,-~ •••.•J
~!nt 1.. 'n(']"',1, /;; ;~ "''',.,~ ,,,, ~'~r"~.L.ll.J, ,J;.\J i,,-/LVu.,'U
'{T ~
V ivemos em uma sociedade que produz bens de consumo e serviços'
dentro de uma economia de mercado regi da por um 'sistema capitalista,
cujas origens remontam à Idade Média. Esse sistema desenvolveu-se no
renascimento, expandiu-se com a Revolução Industrial e tornou-se um
sistema econômico mundial. IAtualmente, com o advento da globalização
e com a criação da rede mundial de comunicação -a world wide web-,
as estruturas de produção e consumo passam por mudanças importantes,
colocando-nos em um ambiente que se altera rapidamente, nas dimen-
sões social, econômica e ambiental, exigindo novas formas de perceber,
equacionar e resolver problemas.
O modelo de produção utilizado no século XX baseou-se em algumas
premissas e percepções; uma das mais importantes residia na crença de que
o planeta Terra teria capacidade ilimitada. Partiu-se do pressuposto de que
o planeta seria fonte inesgotável de matérias-primas e que poderia receber
e assimilar resíduos indefinidamente. Também se considerou que a geração
de poluentes seria inevitável, não sendo possível produzir bens e serviços
sem o lançamento de resíduos, eHuentes e emissões atmosféricas. Além
disso, imaginou-se que a tecnologia poderia resolver todos os problemas
que eventualmente surgissem com a aplicação desse modelo.
Anteriormente aos anos 1970 não havia qualquer tipo de controle
ambiental, e os poluentes gerados pelas empresas eram descartados no'
ambiente sem maiores preocupações. Os primeiros órgãos de controle
da poluição foram estruturados no início dessa década, as legislações
ambientais foram organizadas e foram iniciados as atividàdes de moni-
toramento da qualidade ambiental, o licenciamento e a fiscalização das
indústrias. A preocupação com a preservação do meio ambiente levou ao
desenvolvimento e à implantação de unidades de tratamento de poluentes
-:-emissões atmosféricas, eíluentes líquidos e resíduos sólidos -com o ob-
jetivo de reduzi-los no final do processo industrial e antes de seu descarte
no ambiente. Tais unidades são hoje conhecidas como sistemas de fim
de tubo, pois tratam os poluentes que saem pelas tubulações de esgotos
I Jorge Wilheirn, Tênue esperança no vasto caos: questões do protorrenascimento do século XXI (São Paulo. Paz e Terra,
2001).
PRODUÇÁO MAIS LIMPA
e chaminés. Pode-se dizer que fazem parte do paradigma tradicional de
controle da poluição, que busca proteger o meio ambiente pela redução
do aparte de dejetos obtida nesses sistemas.
Essemodelo de desenvolvimento foi concebido como um sistema aber-
to, em que em uma extremidade - input- entram insumos, como matérias-
-primas, água e energia, e da outra extremidade - output- saem produtos,
bens, serviços e rejeitas. Os produtos são levados ao mercado consumidor,
e os rejeitas são tratados em sistemas fim de tubo e, em seguida, dispos-
tos no meio ambiente. Um sistema aberto como esse só pode funcionar
indefinidamente se não houver limitações nas entradas é saídas e/ou se a
produção for estacionária.
O impacto dessemodelo na natureza tem sido extra~rdinário. Sabemos
que, atualmente, cerca de metade dos rios do mundo estão seriamente de-
gradados ou contaminados. Em meados da década de 1990, oitenta países,
correspondendo a cerca de 40% da população mundial, já sofriam graves
restrições no abastecimento de água.' Atualmente, mais de 1 bilhão de
pessoas não têm acesso a água potável segura e 2,4 bilhões não têm sanea-
mento básico adequado. Estimam-se cerca de 4 bilhões de casos de diarreia
ao ano decorrentes de doenças transmitidas por água contaminada, que
ocasionam 2,2 milhões de mortes ao ano, principalmente de crianças
malnutridas; esse número de óbitos corresponde ao de um acidente por
dia com vinte aviões jumbo.
As concentrações de CO 2 na atmosfera são atualmente 30% mais
elevadas que no ano de 1750. Outros gases, como metano e halocarbo-
nos, que também causam o chamado efeito estufa, tiveram suas emissões
significativamente aumentadas na década de 1990. Em setembro de 2002,
o "buraco" na camada de ozônio sobre a Antártida era superior a 28 mi-
lhões de quilômetros quadrados.
Estima-se que 2 bilhões de hectares de solo estão degradados devido à
atividade humana - área maior que os Estados Unidos e o México juntos
- e que muitas espécies estão ameaçadas de extinçâo devido à degradação
de hábitats e outras causas.' Cerca de 150 mil quilômetros quadrados de
2 United Nations Environment Programme, Global Enuironment Üutloo]: 3: Past, Present and Fuiure Perspectiues
(Nairóbi: Unep, 2002),
3 World Resources Institute et al., Tomorrou/s Mareets: Global Trends and their Implications for Business, 2002, disponr.e.
em hirp://www,wristore.com, http://www.wbcsd.org e http://\vww,earthprint.com.
47
MODELOS E FERRAMENTAS DE GESTÃO AMBIENTAL
corais estão com risco de degradação entre médio e alto, e esse problema
pode ser agravado pela mudança do clima e pela elevação de temperatura
dos mares. .
Sempre que afetamos significativamente o ambiente, influímos no local
onde vivemos e no suprimento de nossas matérias-primas. Assim, a conta-
minação e a escassez da água afetam o abastecimento público e industrial
'e a irrigação, e prejudicam a saúde pública. A produção agrícola pode ser
reduzida pela erosão do solo, por chuvas ácidas, alterações ecológicas nos
ecossistemas terrestres e biodiversidade de insetos polinizadores. A indústria
do turismo é afetada pelá poluição das praias e pela perda da paisagem,
entre outros exemplos.
Na verdade, o planeta é um sistema fechado, limitado e esgotável, que
não pode sustentar indefinidamente o crescimento da sociedade humana
consumindo bens e serviços produzidos em sistemas abertos. O ser humano
já se apropria de quantidade significativa da água que circula no planeta,"
e a mudança do clima nada mais é que o desbalanceamento do ciclo bio-
geoquímico do carbono e a demonstração de que a espécie humana pode
interferir nos mecanismos de funcionamento da Terra.
''A capacidade produtiva do planeta está em declínio", 5 alerta o relató-
rio elaborado pela organização não governamental Instituto de Recursos
Mundiais (World Resources Institute - WRI), pelo Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e pelo Conselho Empresarial.
Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (World Business Council
for SustainableDevelopment - WBCSD).
Considerando-se que a população mundial cresce e os padrões de
consumo são alterados, é cada vez maior a necessidade de produção para
atender às necessidades da humanidade. Isso significa extrair grandes
quantidades de recursos naturais e despejar igualmente grandes volumes
de dejetos. Dentro desse quadro, para que a qualidade do meio ambiente
, o ser humano usa cerca de 8% do total anual de água doce, 26% da evapotranspiraçâo anual e 54% das águas
superficiais acessíveis.VerUnited Nations Educational, Scientific and Cultural Organizarion, Water for People. Water
for Life: Executiue Summary ofthe UN World Water Deuelopment Report (Paris: Unesco, 2003).
; World Resources Institute et al., Tomorrow's Marleets: Global Trends and their Implications for Business, cit.
PRODUÇÁO MAlS LIMPA
ó:::ê. preservada, os padrões de emissão serão cada vez mais restritivos. Ou
~::i2.,para manter a qualidade ambiental, quando o volume de poluentes
=':J.menta e a capacidade de assimilação diminui, é inevitável restringir os
~Lr:1iLeSde emissão de poluentes das empresas. C3.$Oa única estratégia de
controle ambiental seja a adoção dos sistemas de fim de tubo, estes deverão
ser cada vez mais eficientes. Uma vez que o custo de tais sistemas aumenta
significativamente para eficiências de remoção acima de 90%, conclui-se
que o custo de controle ambiental de fim detubo, para garantir a qualidade
e a diversidade dos nossos ecossistemas, se tornará proibitivo.
Enquanto a produção do bem-estar da sociedade moderna tem imposto
um elevado preço à natureza, a divisão dos bens e serviços tem sido desigual,
com inaceitável concentração da renda e do consumo e existência de vastas
populações de excluídos. G Cerca de 1,3 bilhão de pessoas no mundo vivem
com menos de 1 dólar por dia; no Brasil, em 2001, estatística do IBGE
mostrava que 1% da população mais rica concentrava quase o equivalente
da renda acumulada pelos 50% mais pobres?
A inovação tecnológica e a criação de novos objetos de consumo no
século XX foram impressionantes: o avião (1903), o rádio (1906), a má-
quina de lavar (1906), a televisão (1926), os primeiros robôs (1928), o
transistor (1947), o satélite artificial (1957), o raio laser (1960), o compu-
tador pessoal, o fax, o telefone celular, a internet (1993), as fibras óticas,
o ultrassom, a tomografia computadorizada, entre outros. No entanto, o
acesso à tecnologia é restrito, pois 1bilhão de pessoas no mundo não têm
acesso à moradia, 2 bilhões não dispõem de energia comercial e metade da
população mundial jamais usou um telefone. Tecnologias simples como
lâmpadas elétricas, torneiras e privadas com descarga hidráulica são artigos
de luxo para grande parte da população mundial.
Como produzir bense serviços sem esgot~r recursos naturais impor-
tantes e sem despejar poluentes em quantidades superiores à capacidade
natural de reciclagern do planeta, ou seja, sem impor à natureza um preço
exorbitante e insuportável?
6 Fábio Luis, As guerras e o sistema capitalista, Santiago, GaJizaCig/Atualidade, 11-3'2003, disponível em hnp.,'.
www.galizacig.com.acessadoem8-5-2003;UnitedNadonsEnvironmentProgramme.WorkshoponSusta;; table
Consumption for Latin America & Caribbean, relatório, São Paulo, Ceresb, 2001, disponível em htrp.r/www.roiac.
unep.mx/industrialesplpdfslJac_ing.pdf, acessado em 2·5-2004.
7 lnstiruro Brasileiro de Geografia e Estatística, Síntese dos indicadores sociais - 2002, Rio de Janeiro, IBGE. 2:: ':'_'.
disponível em http://www.ibge.gov.br. acessado em 22-5-2004. .
49
MODELOS E FERRAMENTAS DE GESTÃO AMBIENTAL
A produção mais limpa, bem como outros conceitos que usamo
enfoque preventivo, podem responder a essa pergunta. Dessa forma; à
produção mais limpa contribui para um modelo de desenvolvimento
menos predatório e que harmoniza aspectos ambientais com interesses
econômicos. Sua aplicação 'será, sem dúvida, inestimável na preservação
do meio ambiente e na redução de poluentes e impactos, o que poderá nos
acrescentar mais algum tempo para atingirmos o que realmente importa
- o desenvolvimento sustentável e uma sociedade com mais qualidade de
vida, justiça social e dignidade. .
n ifl!P sar noluentes?."-' (,-1. ~~~-x., ~ (l.lJ t" LJ t..~ 1_~ "j'--I-. •
No enfoque preventivo, considera-se que a geração de poluentes não
é consequência inevitável da produção de bens e serviços, mas podem ser:
~ matérias-primas não convertidas em produtos, por falta de eficiência
na produção ou na conversão das matérias-primas, ou produtos mal
projetados;
~ perdas de matérias-primas e/ou produtos, por especiíicaçôes de
prod.utos malfeitas; gerenciamento de estoques inadequado;
~ derramamentos e desperdícios ao longo do processo produtivo, por
falta de gerenciamento adequado, falta de treinamento de pessoal,
manutenção preventiva insuficiente ou inadequada, layout inade-:
quado;
o acidentes, por falta de planos de prevenção e atendimento adequa-
dos; e
\
~ perdas de energia, por falta de eficiência no planejamento, projeto
ou uso de energia.
PRODUÇÃO MAIS LIMPA
FIGURAS IA E IB
Esquema simplificado de consumo de insumos e
geração de produtos e rejeitos em empresa
80 (PRODUTOS)
Mj~OJI PROCESSO ~ P
(MATÉRIAS'! . ~h~ ~ESíDUOS)
-PRIMAS E L.
INSUMQS)
M=P+R
figura Ia
-~----'---"'1' 195 (pPRODUTOS)
,MIOO)I PROCESSO ~
(MATERIAS- i ~----- :);~ESíDUOS)
-PRIMAS E
INSUMOS)
M = P+R
figura Ib
A figura Ia mostra o esquema simplificado de uma empresa em que
a linha tracejada marca os limites do sistema produtivo, podendo-se dizer
que o somatório da matéria e energia que entram (M: matérias-primas e
insumos) é igual ao somatório da matéria e energia que saem (P: produtos
e R: rejeites)."
Imaginemos que essaempresa tenha melhorado seu processo produtivo,
obtendo maior quantidade de produtos P com a mesma quantidade de
insumos M (figura Ib). Se M = P +R, consequentemente, R é menor, ou
seja, a empresa gerou menos rejeitos. Isso significa que:
,~ a empresa evitou custos diretos e indiretos, tangíveis e intangíveis,
associados à geração dos rejeitos;
It! a empresa foi mais produtiva e, consequentemente, mais compe-
titiva;
os investimentos para redução da geração de poluentes foram feitos
dentro do processo produtivo, com maior possibilidade de retorno,
o que provavelmente não ocorreria caso fossem adotadas soluções
fim de tubo; e
@) a empresa descobriu melhores oportunidades de tratar as questões
ambientais.
Assim sendo, ao compreender a lógica simples.ilustrada nas figuras 1a
e 1b, as empresas percebem que:
8 Rejeitos aqui sáo entendidos como efluentes líquidos, emissões atmosféricas, resíduos sólidos, emissões fugidias,
odor, ruído, vibração, energia, calor, em suma, tudo o que sobrou do processo produtivo e que não é produto.
MODELOS E FERRAMENTAS DE GESTÃO AMBIENTAL
~ os aspectos ambientais não estão dissociados do negócio da empresa.
O enfoque moderno é considerar os aspectos ambientais durante a .
concepção, o planejamento, a organização e a operação da empresa
e não aguardar que os resíduos sejam gerados para depois procurar
tratá-los e descartá-los; e
êl a geração de rejeitas faz parte da equação da produtividadee da
competitividade empresarial. Em outras palavras, as empresas
que buscam gerar menos resíduos por meio do aprimoramento
de seus processos produtivos tornam-se mais eficientes e com-
petitivas.
r...ri.·,.1\,·'{'·.1.í,·.', l'J' t..:l.,~').Dq" ,), '.~' . I·Ctlu.
Existem outros motivadores importantes para as empresas não
gerarem resíduos. Atualmente há maior responsabilização por passivos
ambientais, e a indústria que produzir resíduos tóxicos responderá pelas
consequências do seu tratamento e disposição, mesmo que tais operações
tenham sido executadas por outras companhias. Uma vez que diversos
tóxicos são persistentes, existe a possibilidade de sua lixiviaçâo, quando
depositados no solo ou em aterros mal operados, transporte para outros
compartimentos do meio ambiente e contaminação de seres humanos.
Dessa forma, o ideal é não usar substâncias perigosas."
O consumidor está mais consciente e pressiona as empresas para a
proteção do meio ambiente; isso se intensificou após a realização da Con-
ferência das Nações Unidas no Rio de Janeiro. (Eco-92)~ No Brasil,em
pesquisa realizada em 2000 pelo Banco Nacional do Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES), pela Confederação Nacional da Indústria
(CNI) e pelo Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa (Sebrae) com
1.158 indústrias de diversos portes, verificou-seque o principal motivado r
, para investimentos na área arnbiental era o atendimento à legislação, mas
que o segundo motivador era a melhoria da imagem da empresa. 10
9 Ressalte-se que a Convenção de Estocolmo, que entrou em vigor em 17 de maio de 2004, impõe restrições ao uso,
produção, importação e exportação de doze poluentes orgânicos persistentes (PÔPs).
10 Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social et al., Relatório de competitiuidade da indústria brasileira
(Rio de Janeiro: BNDES, 2000).
PRODUÇÃO MAIS LIMPA
Outro motivador é a pressão imposta pelo mercado, representada pela
:"_::.:essidadede manter e incrementar a cornpetitividade industrial dentro
.:.::um cenário globalizado, bem como estar preparado para atender a~:~'Jlamentações voluntárias, como a instituída pela série de Normas ISO
~ -±-OOO e outras, e enfrentaras chamadas barreiras nãotarifárias à exportação.
Dessa forma, às pressões para conformidade ambiental, que nas dé-
cadas de 1970 e 1980 eram principalmente representadas pela atuação do
;o\-erno ao exigir licenciamentos ambientais e executar fiscalizações, hoje
se somam as otiundas do mercado e da sociedade, que são mais poderosas
?ois podem implicar a sobrevivência da empresa.
Hoje se compreende que rejeitas não significam apenas desconformi-
dade legal, mas também responsabilidade continuada do gerador, redução
da produtividade e da competitividade, prejuízos à imagem, redução das
margens de lucro e eventual perda de mercados. O ideal é, portamo, não
gerá-Ios.
Diversos conceitos foram desenvolvidos para explicar o enfoque pre-
ventivo, cada um refletindo a compreensão e os interesses dos respectivos
grupos e instituições que os propuseram, tais como: minimização de resí-
duos, prevenção à poluição (P2), produção mais limpa Il'jL), produção
limpa, ecoeficiência, ecologia industrial, química verde, entre outros. Os
conceitos de minimização de resíduos, P2, P+L, produção limpa e ecoefi~
ciência desconsideram as tecnologías de fim de tubo.
-" .,-. • • ~. ] " '1 .-Vlp A." PQI-''1r f(l rr's {'-11.'1;;;: (l "nr:\\-nrlf':")ü-,-,úlUlIL'--L\,("d (. 'j I ~,_ld l'U'J '- iJ' t, -,JJ'svuO
.?) 1)01 Ip-O ..)
U J '-'.' \-. ~I
OS primeiros conceitos a serem formulados foram minimizaçâo de
resíduos eprevenção àpoluição, pela Agência Ambiental Americana (United
States Environmental Protection Agency - Usepa).
No final dos anos 1980 a agência ambienta] americana reavaliou sua
atuação ao observar que, apesar dos esforços desenvolvidos nas atividades
de controle de poluição, a preservação do meio ambiente ainda exigia
cuidados especiais. O alto Custo dos sistemas de fim de tubo e a pressão
53
MODELOS E FERRAMENTAS DE GESTÃO AMBIENTAL
popular culminaram na criação de um Escritório Central de P2 e um
Comitê de Aconselhamento para auxiliar o direcionamento das atividades
da Usepa."
O conceito de minimização de resíduos foi introduzido pela Usepa
em 1988 como redução na fonte, integrada aos processos, por meio de
substituição de matérias-primas, mudanças tecnológicas, boas práticas
operacionais e mudanças nos produtos. A reciclagem fora do processo por
uso direto após recuperação dos resíduos também era considerada técnica
de minimização de resíduos, mas teria uma prioridade menor quando
comparada com a redução dentro dos processos. 12 O conceito foi usado no
Pollution Prevention Directive, em 1992, e às vezes é usado erroneamente
como sinônimo de prevenção à poluição que não considera a reciclagem
fora do processo.
Em 1990 foi promulgada a Lei de Prevenção à Poluição e estabelecida
a hierarquia de gerenciamento de resíduos, De acordo com o Pollution
Prevention Act o/ 1990, a prevenção e o controle ambiental devem ser
exercidos de acordo. com a seguinte ordem de preferência:
L a poluição deve ser prevenida na fonte;
11. a poluição que não puder ser prevenida na fonte deve ter seus
respectivos rejeitos reciclados de forma ambientalmente segura; e
IH. a disposição Ou outra forma de liberação de poluentes para o meio
ambiente deve ser empregada somente em último recurso e deve
ser conduzida de forma ambientalmente segura.
O termo prevenção à poluição foi definido como redução na fonte,
referindo-se, mas não se restringindo, a práticas que:
i'; reduzam a quantidade de quaisquer substâncias, perigosas ou não,
dos poluentes ou dos contaminantes que entram em qualquer
fluxo de resíduos ou que são liberados no meio ambiente de outra
maneira, incluindo emissões fugidias;
11 José Arnaldo Gomes et al. Treinamento em preuençâo àpoluiçáo (São Paulo: Cetesb, 1997). Ver também Pollution
Preoention/PollutionPreventionAct of 1990, disponível em http://www.epa.gov/p2/p2policy/act1990.hun, acessado
em 5-5-2004. .
12 Informação disponível em http://www.uneptie.org/pc/cp/understandin~cplrelated_concepts, acessado em 7-5-
2004:
54
PRODUÇÃO MAIS LIMPA
'" reduzam os riscos à saúde humana e ao meio ambiente associados
com a liberação de tais substâncias, poluentes ou contaminantes; e
-'>I incluam modificações nos equipamentos ou modificações tecnoló-
gicas,nos processos ou procedimentos, reformulação ou replaneja-
mento de produtos, substituição de matéria-prima e melhorias nos
gerenciamentos administrativos e técnicos da entidade/empresa,
que maximizem a redução ou eliminação de geração de resíduos e
poluentes na fonte, em volume, concentração e/ou toxicidade, por
meio do aumento de eficiência no uso da matéria-prima, energia,
água e outros recursos naturais.
A legislação americana também definiu o que não é prevenção à po-
luição como: . .
Qualquer atividade técnica, prática e/ou tecnológica envolvida com o
gerenciamento do resíduo gerado, por meio de medidas estabelecidas para
o controle e/ou remediação da poluição. As práticas d~ tratamento, reciclagem e
disposição dos resíduos e/ou poluentes gerados não são consideradas atividades
de prevenção à poluição, uma vez que náo implicam redução da quantidade de
resíduos e/ou poluentes na fonte geradora, mas atuam de forma corretiva sobre
as consequências oriundas da geração dos mesmos."
A forma de atuação dos órgãos de-controle governamentais, incluindo
as agências ambientais, requer que suas atribuições estejam perfeitamente
definidas por lei. Dessa forma, para que a agência americana incluísse
o enfoque preventivo em suas ações, seria necessário aprovar legislação
específica e, para tanto, definir com precisão o que é prevenção à po-
luição. A origem governamental do conceito de P2 também explica por
que não são abordadas as questões econômicas e de mercado, com maior
preocupação para os aspectos ambientais. Ademais, a definição de P2 não
inclui a reciclagem fora do processo, refletindo a preocupação da agência
governamental com a movimentação de resíduos perigosos, pelas possibi-
lidades de perdas acidentais e disseminação de produtos tóxicos. O foco
da P2 são as organizações, que também são objeto do licenciamento e da
fiscalização, permitindo à agência ambienta] incluir o enfoque preventivo
no seu modus operandi .
. De posse de conceito técnico e bem definido, legislação específica e
recursos destinados pelo Senado, foi possível aos americanos desenvolver
13 lbidem.
55
MODELOS E FERRAMENTAS DE GESTÃO AMBIENTAL
a estrutura necessária para atingir os objetivos preconizados pela legisla-
ção, nos diversos níveis governamentais. Existem inúmeras instituições
estaduais e federais desenvolvendo programas de P2, incluindo estudos,
pesquisas, ferramentas, indicadores, oportunidádes de parceria e troca de
informações. O conceito de P2 é empregado na América do Norte (Estados
Unidos, Canadá e México) e também no Brasil.
'P' vrlf!~l"~" i, Iim '1"' ep+T). ! ctJU~("omaI.S .•..u,11(1 \ u
Produção mais limpa, também grafado como produção + limpa ou P+L,
é um conceito desenvolvido pelo Pnuma que descreve um enfoque preven-
tivo de gestão ambiental, o qual reflete uma mentalidade de produzir com
mínimo impacto, dentro dos atuais limites tecnológicos e econômicos, não
se contrapondo ao crescimento e considerando que resíduos são produtos
com valor econômico negativo. Segundo o Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento Industrial (Pnudi), produção + limpa requer mu-
danças de atitudes, gestão ambiental responsável e promoção da inovação'
tecnológica. O conceito é:
Aplicação conrínua de uma estratégia ambienral preventiva inregrada aos processos, pro-
dutos e serviços para aumenrar a ecoeficiência e evitar ou reduzir os danos ao homem e
ao ambiente. Aplica-se a:
\li processos produtivos: conservação de matérias-primas e energia, eliminação de matérias
tóxicas e redução da quanridade e toxicidade dosresíduos e emissões;
" produtos: redução dos impactos negativos ao longo do ciclo de vida de um produto,
desde a extração das matérias-primas até sua disposição final;
e seruiços: incorporação de preocupações ambientais no planejamento e na entrega dos
serviços."
A Declaração Internacional de Produção Mais Limpa, lançada na 5ª
Conferência de AltoNível do Pnuma, em 1998, em Seul, Coreia do Sul,15
tem o seguinte enunciado:
Nós reconhecemos que atingir o desenvolvimento sustentável é uma responsabilidade
coletiva. Ação para proteger o ambiente global inclui a produção sustentável aprimorada
e práticas de consumo. Nós acreditamos que a produção mais limpa e outras estratégias
'4 Informação disponível em hrrp://w\\w.unido.org/doc5151, acessado em 7-5c20Q4.
IS A Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambienta] de São Paulo (Cetesb) compareceu ao evento e assinou a
declaração, tornando-se uma das 67 assinaturas inaugurais e a primeira do Brasil.
PRODUÇÁO MAIS LIMPA
: ::·:entivas, como ecoeficiência, produtividade verde e prevenção à poluição, são opções
: ~:iúidas.Elas requerem o desenvolvimento, apoio e implernentação de medidas apropria- .
:"-.5. ;-';ós entendemos que produção mais limpa é a aplicação contínua de uma estratégia
? .eventiva integrada a processos, produtos e serviços, na busca de benefícios econômicos,
.cciais, de saúde e segurança e arnbienrais,
Pode-se dizer que P+L é mais abrangente que P2, considerando-se a
.~::spectiva de redução de impactos ambientais ao longo do-ciclo de vida
'=':5 produtos, incluindo o pós-consumo, Contempla explicitamente não
~?enas as organizações industriais como, de forma geral, a produção de bens
-: .erviços. Sugere a melhoria contínua dos processos produtivos, de forma
.:.torná-los cada vez mais eficientes e menos agressivos ao meio ambiente e
.:.saúde humana. A redução de toxicidade dos produtos também faz parte
~o escopo dos programas de P+L (como também de P2), o que resulta
em melhorias na saúde ocupacional, pois a primeira população exposta às
substâncias tóxicas são os trabalhadores.
Uma vez que P+L é um conceito menos técnico e preciso que P2, exis-
"Cemmargens para interpretação. Na Alemanha, por exemplo, areciclagem
rora do processo não é considerada produção mais limpa; no Brasil, por
outro lado, tendo em vista o enorme potencial para a reciclagem, bem
como a existência de muitas pessoas que ainda dependem dessa prática, a
tendência é admiti-Ia como estratégia de P+L. A Europa.ia Ásia e a África
preferem o emprego do conceito P+L, podendo-se dizer que a rede de
centros de produção mais limpa instalada pelo Pnuma em diversos países
foi importante para popularizar o conceito da pr-odução mais limpa. No
Brasil, o conceito é também empregado ..
Producãc Iim
Segundo Furtado," o termo produção limpa surgiu nas campanhas do
Creenpeace, na década de 1980, e é semelhante a produção + limpa em
relação ao uso de metodologias e técnicas que buscam a eficiência produtiva,
a redução da poluição na fonte, a redução ou eliminação de riscos para o
ser humano e o meio ambiente e o uso da análise de ciclo de vida.
No entanto:
16 João Salvador Furtado et al., "Produção limpa", em J. C. Contador (coord.), Gestão de operações (São Paulo;
Fundação Vanzolini & Edgard Blucher, 1997), disponível em http;//www.vanzolinLorg.br/areas/desenvolvimento/
producaolimpalindex.hrml, acessado em 6-5-2004.
57
MODELOS E FERRAMENTAS DE GESTÃO AMBIENTAL
Produção limpa vai mais longe e representa estágio de excelência para a indústria que
deseja aumemar seu grau de responsabilidade social .e ambienral, a partir da adoção de
quatro grandes princípios:
1. precaução (melhor estar seguro do que arrepender-se depois);
2. prevenção do resíduo na fonte (é mais barato prevenir do que curar);
3. integração total da produção (visão holística), com base na avaliação do ciclo
devida;
4. e participação democrática, traduzida pelo direito de acesso público às infor-
mações sobre os riscos de produtos e processos para o homem e o ambiente. I?
Ecoeficiência
O conceito de ecoeficiência foi proposto na Suécia e tem sido utilizado
pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável
(CEBDS), que oferece a seguinte definição:
.A ecoeficiência é alcançada mediame o fornecimento de bens e serviços, a preços
competitivos, que satisfaçam as necessidades humanas e tragam qualidade de vida, ao
mesmo tempo que reduzem. progressivamente o impacto ambiental e o consumo de
recursos ao longo do ciclo de vida, a um nível, no mínimo, equívaleme à capacidade
de sustentação estimada da Terra. 18
O conselho propõe os seguintes el~mentos da ecoeficiência: redução
do consumo de materiais e energia com bens e serviços, redução da dis-
persão de substâncias tóxicas, intensificação da reciclagem de materiais,
maximização do uso sustentável de recursos naturais, prolongamento da
durabilidade de produtos e agregação de valor aos bens e serviços. A eco-
eficiência é abordada em maior profundidade no capítulo "Ecoeíiciência
em serviços" deste livro. .
A ecoeficiência é, portanto, rneta a ser atingida, adotando-se o enfoque
preventivo empregado pela P+L e pela P2, mas incluindo-se preocupações
com a viabilidade econômica e a satisfação dos clientes. Prevê, também,
que a redução de impactos das atividades produtivas deverá ser "... nomí-
nimo, equivalente à capacidade de sustentação estimada da Terra" .19 Para
17 Ibidem.
i8 Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável, Desenuoluimento sustentável: no rumo da.
mudança, disponível em http://www.cebds.com. acessado em 28-5-2004.
" Ibidem.
PRODUÇÁO MAIS LIMPA
atender a tal requisito, será necessário considerar ferramentas concebidas
no âmbito da ecologia industrial e de abordagens estratégicas, como o The
Natural Step (TNS) e o Capitalismo Natural, não sendo suficiente o que é
preconizado pelos elementos da. ecoeficiência anteriormente referidos.
Os conceitos de ecologia e metabolismo industriais são desenvolvidos
desde a década de 197020 e estudam os relacionamentos entre sistemas
industriais e atividades econômicas com os sistemas naturais. Trata-se de
matéria extensa e complexa, não sendo objeto deste capítulo.
O metabolismo industrial descreve os fluxos de matéria e energia nos
processos industriais como um sistema metabólico, enquanto o conceito
de ecossistema industrial considera os sistemas industriais subsistemas
da biosfera, da qual demandam recursos e serviços e para a qual liberam
dejetos e calor.
Ecologia industrial" seria a reestruturação dos sistemas industriais a
partir do conhecimento de como tais sistemas íuncionam e são regulados,
bem como de suas interaçôes com a biosfera, e do conhecimento disponível
sobre o meio ambiente, de forma a compatibilizá-Ios com os ecossistemas
naturais. Assim sendo, um dos objetivos da ecologia industrial seria copiar
.um ecossistema natural (que é um sistema fechado de reciclagem) a fim
de obter o máximo da reciclagem dentro do ecossistema industrial, mini-
mizando entradas e saídas, o que significa economizar recursos e prevenir
a poluição.
Ouím ica YT;':~I'd()___t J . »:». ( \ '--.. '- • _~
Química verde é o uso da química para prevenir a poluição. Mais
especificamente, é o planejamento de produtos e processos químicos que
sejam saudáveis ao ambiente."
20 Maerbal Marinho & Asher Kiperstok, "Ecologia industrial e prevenção à poluição: uma contribuição ao debate
regional", em Bahia Andlise de Dados, 10 (4), Salvador, março de 2001, pp. 271-2'9.
21 Segundo S. Erkman, apud M. Marinho & Asher Kiperstok, "Ecologia industrial e prevençâo à poluição: uma
contribuição ao debate regional" J cito
22/United States Environmenral ProtectionAgency, What is Green Chemimy, disponível em http://www.epa.gov/
opprintr/greenchemístry, acessado em 20-5-2004.
59
MODELOS E FERRAMENTAS DE GESTÃO AMBIENTALSegundo Anastas eWarner, a química verde tem por objetivo reduzir ou
eliminar substâncias perigosas, para o que emprega um conjunto de prin-
cípios, aplicados ao planejamento, manufatura e/ou utilização de produtos
químicos." A química verde pretende, por meio de seus doze princípios:
1. prevenir a geração do resíduo;
2. projetar métodos de síntese que maximizem a incorporação de todos
os materiais usados no processo no produto final;
3. projetar métodos de síntese que usem e gerem substâncias que pos-
suam pouca ou nenhuma toxicidade ao ser humano e ao ambiente;
4. projetar produtos químicos que mantenham sua eficiência ao mes-
mo tempo que reduzem sua toxicidade;
5. eliminar o uso de substâncias auxiliares (por exemplo, solventes,
agentes de separação, etc.) e garantir a inocuidade das substâncias
empregadas;
6. projetar para a eficiência energética;
7. usar matérias-primas e insumos renováveis; .
8. evitar ou minimizar a preparação de derivados desnecessários, pois
tais etapas requerem reagentes adicionais e geram resíduos;
9. desenvolver e empregar reagentes catalíticos tão seletivos quanto
possível;
10. projetar produtos químicos para se degradarem quando completa-
rem suas funções, de forma a não serem persistentes, e se decom-
porem em produtos inócuos ao meio ambiente;
11. desenvolver metodologias analíticas para monitoramento dos
processos em tempo real, para controle preventivo da formação de
substâncias perigosas; e .
12. selecionar substâncias e suas formas para uso em processos químicos
de forma a minimizar D potencial de acidentes químicos, incluindo
perdas, explosão e incêndio.
23 pàul T Anasras & John C. Warner, Green Cbemistry: 7heory and Practice (Oxford: Oxford Universiry Press, 1998).
60
PRODUÇÃO MAIS LIMPA
Todos os conceitos são meritórios - o mais importante é colocá-los
em prática. Sugerimos utilizar a hierarquia de gerenciamento de resíduos,
conforme a figura 2, como orientador das estratégias de gestão ambiental
a serem empregadas, com a seguinte ordem de preferência:
FIGURA 1
Hierarquia no gerenciamento de residuos"
NÃO GERAR (ELIMINAR RESíDUO)
MINIMIZAR GERAÇÃO (REDUÇÃO NA FONTE)
RECICLAGEM NO PROCESSO (REÚSO)
RECICLAGEM FORA DO PROCESSO
TRATAMENTO (FIM DE TUBO)
DISPOSiÇÃO FINAL
Prioridade 1: Não gerar - investigar as alternativas de eliminar o po-
luente, Existem controvérsias quanto à possibilidade de atingir @. poluição
zero. No entanto, para aqueles que ousarem ser criativos, há inúmeras
possibilidades de eliminar resíduos, por meio de ecodesign, reformulação
de produtos, substituição de matérias-primas e inovação tecnológica, por
exemplo.
Prioridade 2: Minimizar - quando não for possível eliminar o poluente,
devem-se verificar as possibilidades de minimizar sua geração.
24 Resíduos devem ser entendidos como efluentes líquidos, emissões atmosféricas e resíduos sólidos. Existem controvérsias
sobre se a P+L inclui reciclagem fora do processo. Preferimos incluí-Ia, pois consideramos que a reciclagem fora do
processo é uma estratégia válida e que atende à definição de P+L de buscar a redução de impactos ambientais ao
longo do ciclo de vida dos produtos.
61
MODELOS E FERRAMENTAS DE GESTÃO AMBIENTAL
Prioridade 3: Recidar dentro do processo - uma vez que os resídu-
os, efluentes ou emissões já foram gerados, verificar as possibilidades de
reaproveitá-Ios dentro do processo em que foram gerados.,25
Prioridade-i: Recidar fora do proc~sso - uma vez esgotadas todas as
.possibilidades de recidagem interna, os resíduos devem ser encaminhados
para recidagem fora do processo."
Prioridade 5: Tratar e dispor - o tratamento e a disposição só devem
ser praticados em último caso e de forma ambientalmente adequada.
Redueão na fonte ou reciclascru?
~ L
Quanto se ganha com a recidagem? A equação abaixo apresenta, de'
formasimplificada, a expectativa de receita com a venda de material reei-
dado em uma indústria:
Receita líquida obtida com a venda de recidado = V- G - Ml;onde:
V = receita bruta obtida com a venda do recidado (em reais);
G = gastos com operações de segregação, embalagem, limpeza,
purificação e estocagem do recidado (em reais);
MP = gastos com a reposição da matéria-prima que não foi aproveitada
e transformou-se em material a ser recidado (em reais).
Considerando-se que sempre MP > G, conclui-se que o resultado é ne-
gativo,ou seja, há maior ganho econômico com a conservação das matérias-
-primas do que com a comercialização de reciclados.
A figura 3 utiliza a hierarquia de gerenciamento de resíduos para ilustrar
as opções de investimentos para redução de impactos ambientais, Quando
25 Recielagem dentro do processo
Uso e reúso: reciclagem dentro do processo industrial de matérias-primas, reagentes ou resíduos que retomam ao
processo que os originou sernpréviorraramento; ou uso como substituto de matéria-prima para outra operação
dentro da empresa,
Recuperação: reciclagem dentro do processo industrial de matérias-primas, reagentes ou resíduos que retomam ao
processo que os originou com prévio .rratamento; segregação de materiais com valor econômico dos resíduos, dentro
da empresa, dando origem a outra matéria-prima, subproduto ou produto.
26 Reciclagem fora do processo
Uso e reúso: reciclagem fora do processo industrial de materiais descartados ou resíduos; ou uso como substituto de
matéria-prima para outra operação fora da empresa.
Recuperação: segregação de materiais com valor econômico dos resíduos, fora da empresa, dando origem a outra
matéria-prima, subproduro ou produto.
PRODUÇÁO MAIS LIMPA
os poluentes são reduzidos na fonte - evitando e minimizando sua geração
ou reciclando dentro do processo -, os investimentos são feitos no pro-
cesso produtivo. Por outro lado, quando a empresa opta por reciclar fora
do processo ou tratar e dispor os poluentes, os investimentos são feitos
no gerenciamento dos resíduos. Onde seu dinheiro merece ser aplicado?
FIGURA 3
Ilustração de opções de investimentos para redução de impactos
ambientais: no processo produtivo ou nos resíduos?
PROCESSO
NÃO GERAR (ElIMINAR RESíDUO)
RESíDUO
MINIMIZAR GERAÇÃO (REDUÇÃO NA FONTE)
RECIClAGEM NO PROCESSO (RE ' 'USO)
RECIClAGEM FORA DO PROCESSO
TRATAMENTO (FIM DE TUBO)
DISPOSiÇÃO FINAL
-+
Alguns benefícios da P+L são listados a seguir." Você está convidado
a complementar a lista.
27 José Arnaldo Gomes et al., Treinamento em prevenção à poluição, cit.; Arlinda Coelho, "Metodologias de gestão
ambiental com enfoque 'em prevenção da poluição eminimização de resíduos", em Asher Kiperstok et al., Prevenção
da poluição (Brasília: CNIISenai, 2002).
MODELOS E FERRAMENTAS DE GESTÃO AMBIENTAL
Solução com visão integrada, proativa, dinâmica, que economiza
recursos, enquanto as unidades de fim de tubo implicam visão
segmentada, reativa, estática, que adiciona custos;
motivação e envolvimento de todo o corpo funcional em busca de
um objetivo comum;
@ melhoria do desempenho ambienta];
redução da quantidade e/ou da periculosidade das matérias-primas;
economia da redução do consumo de matérias-primas, energia e água;
fb redução da geração e/ou da periculosidade dos resíduos, com con-
sequente redução dos gastos com tratamento, transporte, disposição
e remediação desses resíduos;
$ melhoria no ambiente de trabalho por redução do uso de substâncias
tóxicas;
'J> limitação da responsabilidade futura devido ao lançamento de
resíduos para o meio ambiente;
w aumento na eficiência e na competitividade, além de propiciar
argumentos para fa~ilitar as exportações;
11:' redução ou até mesmo eliminação dós conflitos de conformidade
legal com os órgãos de controle ambiental;
'" melhoria da imagem da empresa e das relações com o consumidor,
com a comunidade e com os trabalhadores;
e possibilidade de integração com o sistema de gestão ambiental
(SGA) da empresa,podendo ser, com vantagens, uma etapa anterior
à organização e à certificação do SGA; e
w; modo de evitar que os poluentes sejam transferidos de um meio para
o outro (das emissões gasosas para efluentes líquidos, para resíduos
sólidos e vice-versa).
a o
Antecipação e prevenção dos problemas ambientais, em vez .de
correção e remediação de locais contaminados;
redução nos acidentes ambientais;
redução e/ou eliminação de poluentes atmosféricos, líquidos, sóli-·
dos, de energia e de seus respectivos impactos;
PRODUÇÃO MAIS LIMPA
o melhor conservação dos recursos naturais;
~ melhoria da conscientização ambiental:
e redução de potenciais problemas de saúde advindos do lançamento
de resíduos no meio ambiente;
e redução do conteúdo de tóxicos nos produtos e em circulação no
meio ambiente;
I\'il redução de possíveis incômodos e divergências com a organização,
devido à emissão de poluentes no meio ambiente; e
~ melhoria das condições ambientais tanto no presente como para
as futuras gerações, devido à minimização dos impactos causados
pelos resíduos gerados e ao uso racional dos insumos.
D.~, J"" '( '"O('nc I,HJ J:j os responsáveis "nn! ,.n'l x ,', "1'} '1·'\ . :. " +~,1I( an nenrai
e Aumento na eficiência das ações de controle por meio da concen-
tração de tempo e esforços em outras áreas;
~ promoção da melhoria da imagem pública da organização;
$ promoção da melhoria das relações com a comunidade e com as
empresas;
@ aumento na confiabilidade das ações de controle ambiental; e
~ possibilidade de trabalhar não apenas punindo mas também re-
conhecendo iniciativas voluntárias bem-sucedidas, que sirvam de
exemplo para outras empresas e de estímulo aos concorrentes.
Assim sendo, a produção + limpa é uma estratégia em que todos ganham
- do tipo win-win - com harmonização dos interesses de preservação am-
biental, desenvolvimento econômico e melhoria do ambiente de trabalho.'
}) ') 'f' I" () I' ,," ')'';;,)(1,1" \./ 1Ck,
Há também dificuldades para introdução dos conceitos de P+L, como
as descritas a seguir.28 '
28 Tânia M, T. Gasi et al., "Grupo de trabalho 1- políticas públicas", em Ministério do Meio Ambiente et al., Fomento
àgestâo ambiental eprodução mais limpa no Brasil.fõrum de discussão público-privado - Região Sudeste, relatório dos
grupos de trabalho, São Paulo, Cetesb, 2004, disponível em hrtp://www.mesaproducaomaislimpa.sp.gov.br; Marlúcio
Borges et al., "Grupo de trabalho 2 -, setores produtivos", em Ministério do Meio Ambiente et al., Fomento à gestão
ambiental e produção mais limpa 'no Brasil, cit.; Roberto Lajolo & Arnérico Guelere Filho, "Grupo de trabalho 3-
ciência e recnologia", em Ministério do Meio Ambiente et al., Fomento à gestão ambiental e produção mais limpa no
Brasil, cit.; United Narions Environmenr Programme & Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambienral, Status
.Report: Cleaner Production in Lati,! America and tbe Carihbean (São Paulo: Cetesb, 2002),
MODELOS E FERRAMENTAS DE GESTÃO AMBIENTAL
Falta de comprometimento e apoio governamental;
ausência de legislação que estimule procedimentos de adoção de
boas práticas ambientais de P+L;
'i.I falta de conhecimento da qualidade ambiental da região;
inexistência de estrutura de comando - controle ambienta];
'., redução do aparato governamental e aumento das demandas, resul-
tando em estruturas insuficientes para o atendimento' às atividades
rotineiras e, mer;lOSainda, para o planejamento e desenvolvimento
de novas atividades; e
necessidade de capacitação do corpo funcional para o atendimento
de novos desafios.
@ Falta de conhecimentos sobre os conceitos e carência de mecanismos
na divulgação de informações relativas a produtos tóxicos;
resistência a mudanças, despreparo na área de gestão da empresa;
'iil carência do corpo técnico qualificado;
iIil dificuldades para investir;
falta de mecanismos para incentivos econômicos; e
.,; ausência de material no idioma local.
Para que a internalização do conceito e a aplicação das ferramentas
de produção mais limpa em empresas industriais e empresas de serviços
sejam efetivas, é conveniente que se sistematizem as ações, por meio de
aplicação de um processo metódico para continuamente identificar, avaliar
e implementar as oportunidades de melhoriaque se apresentem, visando
otimizar o desempenho econômico e ambiental.
Não é nosso objetivo, com este documento, dar a conhecer a metodo-
logia definitiva, mas sim apresentar uma metodologia de aplicação simples
e que tem sido utilizada com êxito na prática. É também nossa intenção,
66
PRODUÇÁO MAIS LIMPA
ao longo do texto, chamar a atenção do leitor para aspectos importantes
que devem ser considerados no processo de busca de alternativas, para que
nenhuma possibilidade fique de fora, evitando-se assim desperdiçar
o que seja, talvez, o recurso mais importante, que éa criatividade dos·
participantes.
A aplicação de P+L nas empresas é considerada por muitos um projeto.
Considerando-se que um projeto é a realização de um empreendimento
não repetitivo, caracterizado por uma sequência lógica de eventos e que,
portanto, tem começo, meio e fim, parece mais adequado associar a apli-
cação de P+L à ideia de processo. Processo é a maneira sistêmica de realizar
o trabalho, visando alcançar objetivos e metas definidos. O processo nos
dá a ideia de que a atividade é contínua, repetitiva, cíclica e não linear,
ou seja, está sempre sendo realizada e aperfeiçoada, buscando sempre a
concretização de objetivos e metas mais ambiciosos.
As etapas do processo de implementação de P+L, sobre as quaisiremos
discorrer ao longo do texto, são:
1. planejamento e organização;
2. identificação de oportunidades;
3. análise de viabilidade;
4. implantação; e
5. manutenção do processo.
O processo se inicia com o reconhecimento da necessidade de aplicação
de P+L. Os fatores motivadores dessa necessidade podem ser o cumpri-
mento de legislação ambiental específica, o atendimento aos requisitos de
clientes, a pressãoexercida pelos concorrentes, o alinhamento às políticas
ambientais definidas pelas corporaçôes, à melhoria da imagem institu-
cional, ao atendimento à demanda da comunidade ou dos empregados,
entre outros.
Resulta sempre mais efetivo quando a decisão de iniciar o processo
parte da direção da empresa. A direção deve, nesse caso, comunicar clara-
MODELOS E FERRAME~TAS DE GESTÃO AMBIENTAL
mente a todos que está comprometida com a P+L. Quando a direção está
efetivamente comprometida e deseja realmente a implantação de P+L, deve
declará-lo nas políticas da empresa. Fazê-lo torna público o compromis-
. so, não deixando dúvidas para os empregados, clientes e também para os
concorrentes de que a decisão não é fugaz.
Outra providência é a inclusão de P+L nos planos e orçamentos da
empresa. P+L é rentável, porém n~quer investimentos. Investimentos de
capital e investimentos de tempo. Ao fazer parte do planejamento formal e
do orçamento, essas necessidades de investimento estarão aprovadas e serão
controladas, da mesma forma como se controlam outros temas prioritários
da empresa. A P+L ganha, assim, a importância e a visibilidade necessárias
para que possa alcançar resultados significativos.
Importante também, em termos de visibilidade, é que, na medida do
possível, os objetivos de P+L sejam quantiíicados e, de preferência, tradu-
zidos na linguagem que a direção da empresa está acostumada a utilizar,
que é a financeira. Como exemplo, poderíamos dizer: " ..~a modificação
proposta trará uma redução na geração de resíduos sólidos da ordem de X
toneladas por ano, o que representará uma economia de Y reais e a recu-
peração do investimento em Z anos".
A perticipaçào das peS:-;03Sno processo de P+ L
O comprometimento e a participação dos empregados são primor-
diais para o êxito do processo, principalmente daqueles mais diretamente
envolvidos com as atividades de desenvolvimentoe produção, de produtos
ou serviços e daqueles que realizam as atividades de manutenção. Esses
profissionais, envolvidos com as operações de rotina, são aqueles que detêm
o conhecimento sobre os produtos, os materiais e os processos. São eles
que poderão, com mais facilidade, identificar e avaliar as oportunidades
de mejhoria e propor as ações. para implementá-las.
É recomendável que se constitua um grupo de coordenação, que irá
gerenciar o processo, enquanto a P+L ainda não estiver incorporada na
cultura e no dia a dia da empresa. Esse grupo deverá ser composto de
pessoas que detenham o conhecimento sobre os processos e que tenham
competência para realizar a análise das práticas correntes. Esse grupo, ou ao
menos seu coordenador, deverá ter facilidade de acesso à direção da empresa
68
PRODUÇÃO MAIS LIMPA
:: -=':sporde autonomia necessária para efetuar modificações nos processos
:: ~otinas operacionais. A participação de um consultor, apesar de não ser
:::-.?rescindível, é recomendável, já que ele pode aportar metodologia,
_-.,--:rumentos e a experiência necessária para aotimização do processo de
_-=-.?lementação de P+L.
Por onde começar?
Em que área da empresa iniciar? Em quais processos? Quais produtos?
~uais matérias-primas? Vamos incluir os fornecedores? Essas são normal-
.r.ente perguntas feitas durante a etapa de planejamento. Não há uma
~::::eita para responder a essas questões, porém um caminho adequado é
.dentificar quais são os fatores que mais fortemente afetam o desempenho
zmbienral e econômico da empresa. A partir daí faz-se a associação desses
~'ltores aos produtos, serviços, instalações e processos prioritários, e se
esrabelece um ponto de partida. Exemplos de alguns desses fatores são:
.onsumo de matérias-primas e insumosacima do padrão definido, baixa
::lciência de produção devido a matérias-primas inadequadas, perda
.ie produtos e subprodutos, interrupções de produção, matéria-prima
:esperdiçada, reprocessamento, depreciação dos equipamentos, custo
':'e gerenciamento, tratamento e disposição de resíduos, atendimento
1 acidentes, incidentes e emergências, ações civis, multas e custos de
.cmediaçôes, perda de imagem.
T1. t > i:!-:n<,. ·1· .r r 't ni .1, 1,-",ruenuncacao oe C.AlI U.1JUafe,S
.;; 1.
Definido por onde vamos começar, o próximo passo é fazer a pros-
?ecção de oportunidades de melhoria. Muitas vezes, a simples inspeção
das instalações com um olhar crítico pode revelar as oportunidades mais
evidentes, como a presença de vazamentos ou derramamentos, o acúmulo de
matérias-primas rejeitadas, a existência de produtos sucatados, sobras
de materiais, etc. A análise de documentos e relatórios pode revelar
J desperdício de insumos, como o aumento imprevisto das contas de
água e energia, ou o aumento dos gastos com o conserto de máquinas
e equipamentos demonstrados pela planilha de controle de gastos de
manutenção; o excesso de horas extras em uma linha dé produção pode
ser indício de reprocessarnento de produtos defeituosos; o aumento do
consumo pode indicar que estejam' sendo utilizadas matérias-primas de
oaixa qualidade, etc.
MODELOS E FERRAMENTAS DE GESTÃO AMBIENTAL
Uma vez colhidos os frutos mais baixos, haverá, entretanto, necessidade
de se utilizarem ferramentas mais elaboradas para a identificação de opor-
tunidades de ganho econômico-ambiental. A coleta de informações sobre
os processos é fundamental nesse caso. Uma ferramenta importante é
o fluxograma do processo. Ao elaborar o fluxograma, identificam-se a
sequência lógica de realização das atividades, a movimentação e o armazena-
mento de materiais, os equipamentos utilizados, os documentos associados,
os critérios de operação, ospontos de controle. O fluxograma proporciona
\lma visão detalhada do processo e, juntamente com os relatórios e indica-
, dotes relacionados ao processo em questão, permite a realização de análise
críticacom vistas à melhoria de desempenho.
Outra ferramenta a ser utilizada é o balanço de massa e energia. Parte- ,
-se do princípio de que a diferença entre a quantidade de massa e energia
que sai do processo e a quantidade que entra corresponde à quantidade de
massa e energia que foi perdida ou emitida ao longo do processo. A análise
do balanço de massa e energia permite a identificação das perdas e dos
pontos em que as perdas ou emissões ocorrem. Um levantamento criterioso
das quantidades, composição e concentração dos materiais e insümos e
das emissões é fundamental na identificação das possíveis causas de perdas. ,
Geração de opçües
As opções para a eliminação ou diminuição das perdas e a melhoria
do desempenho ambiental da empresa podem ser muitas. Na página se-
guinte,no esquema 1, apresentamos algumas possibilidades que orientarão
à trabalho investigativo.
Módifleaçües de produto
Existem várias oportunidades para modificar produtos, como fazer o
desenho do produto para reutilizar materiais, limitar a variedade ou utilizar
materiais reciclados ou recicláveis, ou, ainda, para facilitar a desmontagem,
usar materiais duráveis, reduzir as previsões de manutenções, utilizar os
conceitos de modularidade, integração de múltiplas funções, conversão de
equipamentos, miniaturização.
É oportuno lembrar que a embalagem deve ser considerada parte in-
tegrante doproduto, -O projetista deve ter a preocupação de, preferencial-
mente, especificarembalagens reutilizáveis ou recicláveise evitar o consumo
'desnecessário de matéria-prima por meio do dimensionamento adequado
7°
PRODUÇÁO MAIS LIMPA
idas. Outra possibilidade é a utilização de materiais mais adequados na
confecção das embalagens. .
ESQUEMA I
Ilportunidades para adoção de P+ Lem empresas
OPORTUNIDADES PARA
ADOÇÃO DE P+L EM EMPRESAS
A documentação associada ao produto também deve ser levada em
conta; os materiais impressos em papel podem, por exemplo, ser substituídos
por mídia eletrônica. Extensos manuais descritivos podem ter seu volume
reduzido com a utilização de imagens.
Em resumo, o produto modificado deverá ocasionar menor impacto
ambiental durante toda a sua vida útil: desde a obtenção das matérias-
-primas até a disposição final .
.Visam promover modificações na composição ou substituição das
matérias-primas usadas por outras mais adequadas do ponto de vista am-
bientale utilização de materiais com maior grau de pureza, com a finalidade
de diminuir a toxicidade dos resíduos. .
71
MODELOS E FERRAMENTAS DE GESTÃO AMBIENTAL
(.;'
-:'Caso de s:ú.te,s'~QLaitcràçãJ na matéria-pt.ima
. " .···Tí~~/o;ReduçJ(?deto~cid~d~;n,a,.linha do ~~/da;'
, _:. ~ - " . - - - - - , \ ' o; ..
,,',·,,:Empresa:Maxion Componentes Estruturais-Lida."
''"t,litividade princptt/:Metalurgii '. .,' . , '
- . 'Úe~tiftcaçio da- oportu~idade: 'RocllJ,s,cha§'sW~r}óngarida,s.~travessas
, passavam por banhopassivador à base 'de Srqino'h~xaval~n.i:~ ~,em,
seguids, eram submetidos aoprocêsso dedeú()f~i~se,(e,éoat), no ,qual
recebiam. uma camada de tinta que contérnl.500,pp:m:d.e ·~h:umbo.,
O eflJen~e doprecessocontinha, e~boraembaixa~' Cop~~qt~aç~es;
cromo hexavaleatée chumbo, acarrerandoaltos' cust(#;.dç'tt~i~rri~n- ,
. to,.,A çrnpresa,objetivando reduzira quantidade' depoluertterrta'
fo~tegeradora ~ atuando em parceria como fornecedor,substiWiu
,ocromohexavalente da passivação. por uma substância à base de
.. , potássio~hexafluoretode zircônio, manténdoas mesmas propriedades
)nticorrosivas proporcionadas' pelo cromo. hexavalalente. O ,banho
, 'con~enci~naldoprocesso e~coat foi substituído por outro isento de
chumbo. ..
. '
Investimentos: R$ 230.000,00 na aquisição de tubulações e bombas de
aço inoxidável do e-coas.
. Ganhos obtidos: Redução dos custos de tratamento ~ disposição' do
lodo; atendimento à legislação para lançamento de eíluentes rio que se
refere ao padrão de crorlO; conformidade àsexi.gências dos clientes.
\Iuda!H'a...: tecnolósicas.•... A.::s, 1...1'. _~.... . .A.~. <::;.!. \.:c.,,_.;
As mudanças tecnológicas são opções que visam, por exemplo, oti-
mizar o processo produtivo, por meio da identificação das características
ótimas de operação; automatizar os processos; modificar máquinas e
equipamentos com vistas a maior durabilidade, menor frequência de ma-
nutenção e menor consumo de energia; substituir combustíveis poluentes
por outros mais limpos e eficientes do ponto de vista energético; utilizar
energia renovável; instalar equipamentos de cogeraçâo.
Importante considerar também as alternativas de mudanças em infra-
-estrutura, que envolvem os. sistemas de iluminação, aquecimento e
ventilação, por exemplo.
72
PRODUÇÃO MAIS LIMPA
C~.~de sucesso - mudançatecnológica
Tít~lo:-Eliminaçáo de dióxidode'~~bono na.montagem de eixo
PrJfp~esa: MahleMetal Leve S.A.·· ..
Ati~idddeprincipal: Metalurgia
Identificação da Opertunidfirji:Affiontagem dos Carnes no eixo comando
de;v;i!vulas é feit~c,ôm:r~te~ferência de engastamento, ou seja, sem o
us6de. elementos-de {fixação. A montagem é feita por aquecimento
dosCarnes a 400rQ ~.posterior resfriarnento rápido do conjunto.
~tericirment~iira'.Ó:tilizado o Ç02 pressurizado par.a o resfriarnento,
!>e:P~oconsurjli9asapt?~ill1adélnrençe 1,60t/an().Sendo o C02um dos
gasesqueoc~sion~úrróef~itoestufa,' aemptesa decidiu substituí-Io por
. ar.compriinido, semnetihum prejuízo ao processo ..
i ',' ,:,. ',' ':. '
ln,vestimentos: Não foram necessários investimentos.
Gq'nha,s obtidos: Eliminação do lançamento na atmosfera de 160 r/ano
qeC02; reduçâodos cu~tos com a compra dogá~:
Usualmente são as opções com custos de implementação mais baixos'.
Trata-se de introduzir mudanças na forma de realizar o trabalho, que po-
dem ser inspiradas em experiências bem-sucedidas em outras empresas ou
mesmo em unidades de produção diferentes dentro da mesma empresa.
São exemplos dessas práticas:
e sensibilização e treinamento dos empregados;
€i padronização e documentação de procedimentos e rotinas de
trabalho;
~ aplicação de técnicas estatísticas para prevenir a ocorrência depro-
dutos defeituosos;
I/l> introdução de métodos de planejamento e controle da produção;
ti) adoção de práticas adequadas de controle de é;stoques;
\,'l utilização de equipamentos de movimentação e armazenamento
adequados, para evitar perdas por evaporação, vazamento ou der-
ramamento;
/
73
MODELOS E FERRAMENTAS DE GESTÃO AMBIENTAL
@ alterações de láyout para evitar movimentações desnecessárias de
materiais;
I\l aplicação de rotinas de housekeeping;
@) utilização de programas de manutenção preventiva e preditiva;
~ aplicação de métodos para o controle de modificações de equipa-
mentos;
e aplicação de práticas adequadas para a segregação e o controle dos
resíduos gerados nos processos de fabricação;
~~ implementação de indicadores de desempenho dos processos; e
I) utilização de métodos contábeis que permitam associar, a geração
de resíduos aos centros de custos nos quais foram produzidos, para
identificar causas de ineficiência. '
('
Caso de sucesso - boas práticas de gerenciamento "
':,t .
,;Título:Redução do consumo de água na indústria de bebida~:;·.:
"1impresq:.Companhia Brasileira de Bebidas - filial Jaguar~úpa
Átivida~phncípdl: Produção de bebidas ' '.'
','
Idenlijü:dçáo çla. oportunidade: A produção de beq~~as~'êo~s.oiri~
grande quantidade de água, em função dos proce5sos~d~lirnpe:.~de
equipamentos, geração de vapor, pasteurização, aléw da.;~4a: ínçpr~"_, '
porada ao produto. O consumo elevado de água, associado-à escassez';
.....naregião,f~que ~ empresabuscassealtemativas'para reduzir seu.
;~i:',.•;uso.As •.;tç6es:adotàdàs illçluemo~~uso~<t'águaoriginada da l,itnpeza:
'·',dos~qu,ipaffi.;êntosem(fi1'lalidadesmenos nobres, como a liJllpezadé
.pisos; a'~n~i~àÇáo< d~~azamentõs das insraiaçôes..o treinamento 'e ..
conscientizâção'dos emp'~~gados; a racionalização deusodebanheíros
,',,e vestiários; cá instà1àçâg.d~,,~toine'ir~ automáticas, .
,lnvestimentos:()s investimentossQrr1;trarrl R$97.500,OO.
, 'Ganhos obtidos: Redução do consumodeágua de 7,20 litros de água/
, ,lit~os de bebida produzida pat~5,89. <, -
,; - .-- .
74
PRODUÇÁO MAIS LIMPA
Reúso (' reciclasem no,,-~ __--,j_1>J _- t.l ~ . - 0 _.i.
A reciclagem e o reúso envolvem o retorno de materiais e insumos
iá processados e, portanto, modificados, ao processo que os originou
ou a outro processo, localizado dentro da mesma planta. Essas mcdifi-
caçôes podem requerer mudanças tecnológicas para serem viabilizadas.
Há casos, em países economicamente mais desenvolvidos, em que áreas
industriais complexas estão sendoimplantadas abrigando distintos tipos
de indústrias que se alimentam umas dos resíduos das outras, de forma
que o desempenho do. parque industrial como um todo seja otimizado.
:\0 Brasil, uma prática comum tem sido a introdução de modificações
nas instalações para se fechar: o circuito de água, permitindo seu reúso
de forma econômica.
C~ode sucesso - reúso e.reciclagem
Tít~/b;'Recuperação de níquel parareúso em processo galvânico
Éri/presa:Mahle Metal Leve S.A. .
Aâ~içlade principal: Metalurgia .
. _,i' - •
lde~tiji~afã~ da oportunidade:Na fabricação de bronzinas, a preparação,"
de c~apá$ ·dealumínio e aço;requer ? trataIllent9'supêrficial~n{.banho$' o,
cont~hri~dosdeníqu~LOs '~ijuetites' d'essé'processo eram misturados
aos eªV~fitesde.9uúo~·pro2eiso~ industriais-e enviados à Estação de
Tratârnegtótle'.~sgo:tq.(~Tp). Mesmo após custoso tratamento, a
emprésanã(),cdtJ.sêglfia atjngir os padrões de emissão definidos pela
legislação, deyíd,çr~bs altos teores de',níque~.Trabàlhàndo em conjunto" '.
corrio, f()rnecedor de sulfato de níquel, fôi desenvolvido um equipa- .
me;~~?{··d~?0minadoprecipitador,de níquel, que passou a' receber os
efluerít~sdeníquel previamente segregados. No precipitador, o níquel
prese~leéprecipitado em reação com o hidróxido de sódio, formando
um lodpc:omposto de hidróxido de níquel, o qual, após passagem por
filtros~ptel!sa, é destinado ao fornecedor para recuperação do. metal
present:e:~poSterior fabricação de sulfato de níquel. .
Investi~~ntbs;Osinvestimentos somaram R$ 65.000,00.
, .cé ' - ; - - - ~ .
I.. .
Ganhos~btidoS:Atendimento aos padrões de emissão; economia de R$
49 .200,00 'áo~no'~om a redução do volume de lodo gerado e com a
recuperação do 'r:rle.tal.
, , . 000.0.' \
75
MODELOS E FERRAMENTAS DE GESTÃO AMBIENTAL
Uma vez que as oportunidades de melhor ia estão identificadas, há
a necessidade de analisar a viabilidade de cada uma delas para, então, se
estabelecerem prioridades de implantação. A viabilidade deve ser avaliada
dos pontos de vista técnico, econômico e ambiental. E:ústem aquelas
opções que, por apresentarem ganhos óbvios sob todos os pontos de
vista e não requererem investimentos de capital, poderão ser priorizadas
sem a necessidade de análises mais detalhadas. Tipicamente, esse é ocaso
de introdução de boas práticas de gestão.
Para aquelas oportunidades mais complexas, recomenda-se a realização
de um estudo mais detalhado, considerando os seguintes pontos:
Avaliação ambiental: é o primeiro filtro pelo qual devem passar as
opções de rnelhoria. Aquelas que não apresentarem um resultado mais fa-
vorável em termos de desempenho ambiental,em relação à situação atual,
não deverão ser levadas adiante. Os benefícios ambientais trazidos pela
nova opção que se quer implementar deverão ser avaliados em relação ao
ciclo de vida do produto ou serviço.
A avaliação ambiental pode assumir dois aspectos: avaliação qualitativa
e avaliação quantitativa, As opções menos complexas poderão ser subme-
tidas apenas à analise qualitativa, o que poderá ser feito estabelecendo-
-se critérios objetivos e comparando-se o resultado referente à situação atual
com o resultado ambiental esperado após a implementação das alterações.
. Pode-se, para tanto, desenhar uma matriz de dupla entrada, na qual se
relacionem os aspectos ambientais referentes ao processo em estudo e os
impactos ambientais associados; repete-se a matriz levando-se em conta
agora os impactos derivados das modificações de processo propostas. O
balanço qualitativo deverá ser favorável ao processo modificado, para justi-
ficar a implementação imediata das modificações ou, então, a continuidade
da análise, considerando-se em uma segunda etapa as questões de ordem
técnica e econômica.
A avaliação ambiental quantitativa é mais complexa e requer que se
obtenha uma quantidade maior de dados, nem sempre de fácil coleta.
Exemplos de parâmetros a serem considerados no estudo são: variação
(aumento ou diminuição) no consumo de matérias-primas não renováveis,
variação no consumo de água, energia e insumos, variação na quantidade
de emissões e resíduos gerados, variação na toxicidade dos resíduos, varia-
PRODUÇÁO MAIS,LIMPA
: ~'': nos gastos de tratamento e disposição dos resíduos gerados: variação
::'.õ. exposição a riscos, entre outros. Essa análise deverá abranger todo o
:_.::10 de vida do produto ou serviço, desde a obtenção de matérias-primas
:: .nsumos necessários à sua fabricação até a destinação final do produto
::..:ando do encerramento de sua vida útil.
Avaliação técnica: as opções que pàssaram pelo crivo ambiental são,
: ~ora, avaliadas sob a ótica técnica. Inicialmente, o que se quer avaliar é o
t.:2U de dificuldade, do ponto de vista técnico, para a implementação da
~odificação. Soluções complexas, que requeiram mudanças tecnológicas
'_~nificativas no processo, normalmente estão sujeitas ao desembolso de
~~.õ.I1dessomas de capital, o que automaticamente nos remete à realização de
~-:1aanálise econômica do projeto. Aquelas soluções consideradas factíveis
~:.::nicamente, em uma primeira análise, deverão passar por uma avaliação
::_..:e considere o efeito que a modificação tecnológica terá: no nível. de
::..:alidade do produto; na produtividade; na capacitação necessária para a
:-?eração do sistema; na complexidade de manutenção; na infraestrutura
:::":srente.
É útil a elaboração do balanço de massa e energia projetado para o
~.ocesso modificado. A comparação deste com o balanço referente ao
~~ocesso existente poderá indicar se há vantagens ounão em implementar
~ modificações sugeridas.
Avaliação econômica: após a avaliação ambiental e a avaliação téc-
:-.::a, a etapa de avaliação econômica irá definir a viabilidade ou não da
_~plementação da alternativa em estudo. Vários critérios poderão ser
.õ:::licadosno processo de avaliação econômica. Uma análise mais simples
: .iderá avaliar o impacto da solução proposta nos custos operacionais e
~_2 necessidade de capital de giro. Os componentes de custo tipicamente
:~:ão associados 'a:
,} manutenção de estoques;
aquisição de matérias-primas;
-' consumo de energia;
;, consumo de água;
produtos sucateados ou reprocessados;
fornecimento de garantia e assistência técnica;
tratamento e disposição dos resíduos;
77
MODELOS E FERRAMENTAS DE GESTÃO AMBIENTAL
!tI salários e encargos;
~ treinamento;
$ manutenção de equipamentos, máquinas e iníraestrutura;
~ transportes e movimentação de materiais;
@ pagamentos de seguros;
@ obtenção de licenças, etc.
Uma análise mais detalhada deverá avaliar aspectos relacionados a
investimentos. Os critérios de análise econômico-finan'ceira mais usuais
são: tempo esperado de retorno do investimento; valor líquido a valores
presentes ou taxa interna de retorno do investimento. Qualquer que seja
o critério de análise adotado, o estudo deverá contemplar os aspectos
tangíveis, aqueles ligados aos componentes de custos citados anteriormente,
e os aspectos intangíveis, como aqueles associados à imagem da empresa
ou do produto.
Outros critérios de avaliação: a análise de viabilidade e priorização po-
derá também estar vinculada à contribuição da proposta em análise para
o cumprimento de algum objetivo específico da empresa. Por exemplo,
em uma época ou região de pouca disponibilidade de fornecimento de
energia, poderão ter prioridade opções que visem à racionalização do uso
de eletricidade; em um empreendimento que tenha problemas com o órgão
ambiental, poderão serpriorizadas as ações que levem ao cumprimento
de legislação específica, etc. Seguem alguns exemplos de prioridades que
podem se apresentar nas empresas:
$ cumprimento da legislação;
iD redução de geração e de toxicidade de resíduos;
3l redução de emissóes; ".
~ melhoria na qualidade do produto;
~ redução dos custos de operação;
e redução do consumo de energia;
é) redução do consumo de água;
':0 atendimento às Normas de Certificação (por exemplo, ISO 14001);
*ll eliminação de produtos banidos (por exemplo, CFC - cloroíluor-
carbonetos); e
e melhor ia da imagem.
PRODUÇÃO MAIS LIMPA
validação da proposta ou confirmação da viabilidade: algumas vezes,
-~.:.necessidade de se aprofundar a análise da viabilidade da alternativa
.::.:-~,~idoà sua complexidade ou, então, devido à dificuldade de estimar ou
=- ~;::veros resultados projetados. Nesses casos, há necessidade de se validar
.:.?roposta por meio, por exemplo, de simulações matemáticas, análise de
:-:-~odelos,avaliação de protótipos de laboratório, avaliação de lotes piloto
.:: produção, etc.
Caso a proposta de melhoria seja de simples implernentaçâo e já tenha
iemonstrado sua viabilidade na análise teórica, poderá ser introduzida
sem a necessidade de um planejamento mais elaborado. Entretanto, para
aquelas propostas mais complexas, de implementação cara e tecnicamente
complicada, faz-se necessário um planejamento detalhado para evitar des-
vios em termos de cumprimento de prazos, custos e qualidade da solução
.rnplantada. .
Nesse caso, o planejamento poderá contemplar, conforme o grau de
compléxidade do projeto:
.f.~ Definição de objetivos e metas: O que se pretende com o projeto?
Quais os objetivos e metas que se pretende alcançar?
I .
e Identificação de possíveis riscos associados e medidas de contingência:
As ações a serem tomadas para a implantação do projeto podem
ter que tipo de interferência sobre a produtividade atual? E sobre
a qualidade e a segurança do produto ou serviço? O que pode dar
errado durante a implantação? Nesse caso, quais são as consequ-
ências? Como prevenir sua ocorrência? Caso ocorram impactos
negativos, que ações serão tomadas para minimizá-Ios? .
o Definição dos indicadores: Quais são os indicadores definidos para a
aferição do desempenho? Como serão calculados? Como os dados
serão obtidos e processados?
;J> Definição de responsabilidades: Quem faz o quê? Quem reporta a
quem? Quais são os níveis decisórios?
~ Recursos humanos necessáriosà implementaçâo: tais como quantidade
de pessoas envolvidas, qualificação, necessidade de treinamento.
$'; Necessidades de compras:projetos, máquinas, equipamentos, insumos,
subcontratação de mão de obra, com os respectivos orçamentos.
79
MODELOS E FERRAMENTAS DE GESTÃO AMBIENTAL
@ Cronograma físico: Quais são as atividades e os prazos? Quais as
atividades interdependentes? Quais são as folgas de tempo? Quais
são as atividades críticas? Quais sâo os marcos intermediários (mi-
lestones)?
"!l Cronograma financeiro: Quais são as fontes de recursos financeiros?
Q1Jal o cronograma de pagamentos? Quais os impactos de even-
tuais atrasos? Há penalidades e multas associadas?
<li Definição de critérios para acompanhamento e encerramento
da implantação: Em que etapas e como será feita a medição de
avanço do projeto? Quais os critérios para aplicação de medidas
corretivas? Quais os critérios de aceitação da implantação? Como
serão. resolvidas as pendências e eventuais divergências entre as
partes?
Uma vez introduzidas as primeiras oportunidades, ou seja, implantados
os projetos pioneiros de P+L,é necessário dar sequência para que o processo
dentro da empresa seja contínuo. A idéia de melhoria contínua é a mesma
que se aplica aos Programas de Qualidade (por exemplo, ISO 9000) e aos
Programas Ambientais (por exemplo, ISO 14000).
Para que o processo de P+L seja integrado à gestão da empresa é reco-
mendável que algumas ações de ordem tática sejam adotadas:
li; definir os indicadores de desempenho ambiental, monitorá-los e
divulgá-los sistematicamente, para mostrar os ganhos obtidos com
o processo. Os indicadores deverão ser simples, e o mecanismo
de coleta e processamento de dados preferencialmente deve ser
automático;
® definir periodicamente metas de melhoria a serem atingidas, fa-
zendo uso dos indicadores. Essasmetas deverão ser factíveis porém
desafiadoras e deverão constar do planejamento orçamentário da
empresa;
~} estabelecer procedimentos internos para que as atividades de
avaliação de novos produtos, serviços e processos considerem os
critérios de P+L;
f
@ disseminar o conceito de P+L e prover o treinamento necessário;
80
PRODUÇÃO MAIS LIMPA
engajar OS, fornecedores e prestadores de serviço, estendendo as ações
de P+L a toda a cadeia de agregação de valor;
estabelecer mecanismos de monitoramento para identificar con-
dições de mercado e possíveis tendências, como pesquisas com
consumidores e clientes; acompanhamento de legislação e
políticas públicas; acompanhamento da evolução de CUSLOS de
matérias-primas; custos de disposição de resíduos; aparecimento
de novas tecnologias; exemplos de aplicação de P+L em concor-
rentes e empresas similares; e
;;; promover alterações no sistema contábil e no sistema de informação,
visando, por exemplo, à introdução de custeio baseado em atividades
(Activity Based Cost - ABC), contabilidade ambiental, análise do
ciclo de vida (ACV), etc.
H(.H'I)Hl p. nrl» ('l'< '1'-'.a, '- ..'\ \) iJ.~'_ .•..•. d.c. :s,\.JC •.)
Para que a produção mais limpa possa trazer os benefícios econômicos
: ambientais esperados, é necessário que o método e as ferramentas sejam
.irilizados de forma sistemática. O processo se inicia com a identificação
ia necessidade de P +L e com o planejamento das ações que se seguirão.
A inclusão de.Pr.L no plano orçamentário da empresa dá ao tema a
visibilidade e a relevância necessárias. A formação de um grupo de coor-
denaçâo é r~comendável enquanto o processo não está integrado às rotinas
de gestão; entretanto, não se deve perder de vista a necessidade de que a
participação se estenda a todas as pessoas que trabalham na empresa. Com
J tempo, essa participação deverá ser estendida também aos fornecedores
e prestadores de serviço, de forma a abranger toda a cadeia de agregação
de valor.
Na etapa de geração de opções, todas as alternativas devem ser levadas
em conta: as relacionadas ao produto, à embalagem, aos serviços associados,
aos processos de fabricação, às matérias-primas e insumos, às práticas de
gestão, etc, A priorização das opções deve ser feita com base em critérios
objetivos, utilizando-se dados e fatos originados das etapas prévias de le-
vantamento e prospecção.
A implantação deve ser precedida de um planejamento cuidadoso
pata evitar eventuais desvios em termos de custos, prazos e qualidade de
81
MODELOS E FERRAMENTAS DE GESTÃO AMBIENTAL
resultados. Indicadores de desempenho devem ser definidos, medidos e
divulgados, e, sempre que possível, os ganhos devem ser traduzidos em
valores monetários.
Na medida em que o processo avance e ganhe consistência, mudanças
estruturais na forma de planejar, organizar e controlar a empresa poderão
ser feitas: introdução de técnicas de custeio baseado em atividades, conta-
bilidade ambiental, novos critérios de desenvolvimento de produtos, como
o ecodesign, utilização de ferramentas como a análise do ciclo de vida do
produto e o benchmarking ambiental; entre outras.

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