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Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 04 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 1 de 72 AULA 04: INTEGRAÇÃO REGIONAL SUMÁRIO PÁGINA 1-Palavras Iniciais 1 - 4 2- O processo de integração regional 5 - 22 3- União Europeia 22 - 37 4- O Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA) 37 - 47 5- Associação Latino-Americana de Integração (ALADI) 47 - 55 6- Comunidade Andina de Nações (CAN) 55 - 60 7-Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) 60 – 61 8- Associação de Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico (APEC) 61 - 64 9- Lista de Questões e Gabarito 65 - 74 Olá, amigos tudo bem? Como vão os estudos? É sempre uma grande satisfação estar aqui com vocês! Espero que tudo esteja ficando claro até agora! Caso tenham dúvidas, lembro que estarei sempre à disposição! Nas duas aulas anteriores, nós comentamos sobre o sistema multilateral de comércio (administrado pela OMC). Ao estudarmos sobre a OMC, nós comentamos que um dos pilares do sistema multilateral de comércio é o princípio da não-discriminação, que se desdobra em dois outros princípios: a cláusula da nação mais favorecida e o princípio do tratamento nacional. A cláusula da nação mais favorecida está prevista no art. I do GATT e tem como objetivo evitar a discriminação entre países. Por essa cláusula, se um membro da OMC concede uma preferência tarifária a qualquer país, deverá imediata e incondicionalmente estender essa mesma preferência a todos os outros membros da OMC. Vocês estão lembrados? Ocorre que, de acordo com o art. XXIV do GATT, é possível que os países excepcionem a cláusula da nação mais favorecida no âmbito de acordos regionais de comércio. Também é possível que ela seja excepcionada com base na Cláusula de Habilitação. Com amparo nesses dois dispositivos (art. XXIV do GATT e Cláusula de Habilitação) é que ocorre o processo de integração regional, sobre o qual estudaremos na aula de hoje! Vamos em frente! Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 04 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 2 de 72 Um abraço, Ricardo Vale ricardovale@estrategiaconcursos.com.br http://twitter.com/#!/RicardoVale01 http://www.facebook.com/rvale01 Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 04 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 3 de 72 1- O PROCESSO DE INTEGRAÇÃO REGIONAL: 1.1- Estágios de Integração: Hoje em dia é muito comum ouvir falar em “blocos econômicos” e “processo de integração regional”. Não é para menos! Com a globalização e o aprofundamento das relações internacionais, o tema da integração econômica vem ganhando cada vez maior importância no âmbito do direito internacional público. Mas, afinal de contas, qual é o conceito de integração regional? Quando é que se falou pela primeira vez nisso? E por que os países decidiram integrar-se economicamente? Responder a essas perguntas com rigor acadêmico é algo bastante complexo, mas de uma forma bem simples, a integração regional pode ser entendida como um fenômeno por meio do qual países formam blocos econômicos regionais com o objetivo de obter desenvolvimento econômico conjunto. Para Raúl Granillo Ocampo, o processo de integração regional é um fenômeno de interação entre Estados por meio do qual estes aumentam sua interdependência e aprofundam seu relacionamento mútuo, transformando-se de unidades previamente separadas em partes componentes de um sistema coerente.1 Trata-se de um processo complexo, voluntário, dirigido a um fim específico e que pode se manifestar no campo econômico, social e político. O ideal integracionista não é algo recente. Ele teve sua origem no pensamento do filósofo Immanuel Kant e sua esperança de encontrar a “paz perpétua” por meio de uma federação de Estados livres ou, ainda, no pensamento de líderes como Simon Bolívar, que defendia a associação dos recém-independentes Estados latino-americanos como forma de evitar possível recolonização por parte das potências européias. Embora o ideal integracionista não seja recente, o processo de integração regional somente foi sistematizado e descrito teoricamente na década de 60, pelo economista húngaro Bela Balassa. Segundo Bela Balassa, os processos de integração regional distinguem-se em cinco modelos, os quais ordenados em ordem crescente de integração são os seguintes: área de livre comércio, união aduaneira, mercado comum, união econômica e integração econômica total. Muita atenção quanto a isso meus amigos! É fundamental que você guarde isso! 1 . OCAMPO, Raúl Granillo. Direito Internacional Público da Integração. Rio de Janeiro: Campus, 2008. pp. 21-22 Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 04 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 4 de 72 Mas o que pressupõe cada um desses estágios de integração? a) A área de livre comércio é o primeiro dos estágios de integração, isto é, o estágio que apresenta o menor nível de integração. Sua característica principal é a livre circulação de mercadorias e serviços entre os países que a integram. No âmbito de uma área de livre comércio, não há direitos aduaneiros incidentes sobre a circulação de bens. Para visualizarmos melhor como funciona esse tipo de bloco econômico, vamos a um exemplo! Imagine que três países A, B e C formem uma área de livre comércio. Se o país A exporta uma mercadoria para o país B, não será cobrado imposto nessa importação. Da mesma forma, se o país B exporta para o país C, não incidirá imposto de importação nessa operação. Mas será que é possível uma liberalização completa do fluxo de bens e serviços? Ou melhor: será que para que fique configurada uma área de livre comércio é necessária uma completa liberalização do fluxo de bens e serviços? Excelente pergunta, meu amigo! A liberalização completa do fluxo de bens e serviços, mesmo em uma área de livre comércio, é algo que não existe. Mesmo no âmbito de áreas de livre comércio, é possível que os países imponham restrições à livre circulação de bens e serviços. Segundo o art. XXIV do GATT, existe uma área de livre comércio entre países quando são eliminadas tarifas e outras regulações restritivas sobre “substancialmente todo o comércio”. Definir a expressão “substancialmente todo o comércio” é uma das maiores polêmicas da literatura que trata dos acordos regionais. Para alguns países, deve-se levar em conta aspectos quantitativos (existência de um percentual de comércio coberto pelo acordo); para outros, devem ser considerados aspectos qualitativos (nenhum setor econômico deve estar de fora da abrangência do FASES DA INTEGRAÇÃO REGIONAL - Área de Livre Comércio - União Aduaneira - Mercado Comum - União Econômica - Integração Econômica Total Grau de Integração Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 04 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 5 de 72 acordo).2 Em que pese estas duas correntes divergentes, não há definição sobre o tema. Quando o Órgão de Apelação da OMC teve a oportunidade de se manifestar sobre o assunto e definir o significado de “substancialmente todo o comércio”, ele preferiu ficar em cima do muro e não chegoua nenhuma conclusão substancial.3 Outra questão que suscita dúvidas é quanto ao tipo de restrições comerciais que podem ser mantidas no âmbito de uma área de livre comércio. Segundo o art. XXIV do GATT, “entende-se por área de livre comércio um grupo de dois ou mais territórios aduaneiros entre os quais os direitos aduaneiros e outras regulamentações restritivas das trocas comerciais (com exceção, na medida necessária, das restrições autorizadas nos termos dos artigos XI, XII, XIII, XIV, XV e XX) são eliminados para substancialmente todo o comércio.” Pela leitura desse dispositivo, percebe-se que são possíveis as seguintes restrições comerciais em virtude de um acordo regional: - Art. XI: imposição de restrições quantitativas - Art. XII: imposição de restrições em razão de déficits no Balanço de Pagamentos - Art. XIII: obriga que as cotas sejam aplicadas de forma não- discriminatória - Art. XIV: em virtude de déficits no Balanço de Pagamentos, admite que sejam aplicadas cotas de maneira discriminatória - Art. XV: o cumprimento de obrigações perante o FMI pode ensejar o descumprimento de normas do GATT. - Art. XX: admite restrições comerciais para: i) proteger a segurança e a saúde de pessoas, plantas e animais; ii) para proteger a moralidade pública; iii) para proteção ambiental; etc. Aí é que entram duas perguntas: 2 PRAZERES, Tatiana. A OMC e os Blocos Regionais. São Paulo: Aduaneiras, 2008, pp. 285-286. 3 Segundo o Órgão de Apelação “substantially all the trade is not the same as all the trade, and also that substantially all the trade is something considerable more than merely some of the trade.” Em tradução livre, “substancialmente todo o comércio não é o mesmo que todo o comércio, e também ‘substancialmente todo o comércio’ é consideravelmente superior a apenas algum comércio.” Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 04 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 6 de 72 1)- É possível a aplicação de medidas de defesa comercial (direitos antidumping, medidas compensatórias e medidas de salvaguarda) entre os membros de um bloco comercial? 2)- É possível a aplicação de restrições comerciais por razões de segurança nacional? Respondendo à primeira pergunta, pela literalidade do art. XXIV, os integrantes de blocos regionais não podem aplicar entre si medidas de defesa comercial. No entanto, em boa parte dos acordos regionais existentes (NAFTA e MERCOSUL, por exemplo) são aplicadas medidas de defesa comercial intrabloco. Com efeito, parte da doutrina entende que a lista de restrições definida pelo art. XXIV do GATT seria meramente exemplificativa (e não taxativa!). Todavia, segundo Tatiana Prazeres, o entendimento tecnicamente mais correto seria o de que a lista de restrições do art. XXIV é taxativa (“numerus clausus”).4 Em que pese esse entendimento da atual Secretária de Comércio Exterior, pode-se afirmar categoricamente que não há ambiente político para que seja impedida a imposição de medidas de defesa comercial entre os membros de blocos regionais. 5 Quanto à segunda pergunta, o entendimento predominante é o de que, apesar de não estar relacionada no art. XXIV, é possível a aplicação de restrições comerciais por razões de segurança nacional no interior de blocos regionais (art. XXI). Segundo a doutrina majoritária, o art. XXI do GATT representa uma exceção que se sobrepõe à lista do art. XXIV. 6 b) A união aduaneira, por sua vez, se caracteriza pela livre circulação de mercadorias e serviços entre seus integrantes e, ainda, pela harmonização da política comercial em relação a terceiros países. Assim, os países-membros desse bloco comercial estabeleceriam as mesmas regras alfandegárias em relação a terceiros não-membros. Em outras palavras, as normas de comércio exterior seriam essencialmente as mesmas em todos os países, aplicando-se, inclusive, uma Tarifa Externa Comum (TEC). Com efeito, a TEC é considerada um instrumento que materializa a existência de uma política comercial comum em relação a terceiros países. “Mas, Ricardo, o que significa dizer que as normas de comércio exterior seriam essencialmente as mesmas?” 4 PRAZERES, Tatiana. A OMC e os Blocos Regionais. São Paulo: Aduaneiras, 2008, pp. 292-293 5 PRAZERES, Tatiana. A OMC e os Blocos Regionais. São Paulo: Aduaneiras, 2008, pp. 295-296 6 PRAZERES, Tatiana. A OMC e os Blocos Regionais. São Paulo: Aduaneiras, 2008, pp. 294-295 Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 04 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 7 de 72 Excelente pergunta, meu amigo! Em uma união aduaneira ideal, é como se os países que a integram formassem um território aduaneiro único. Como formam um território aduaneiro único, as regras aplicáveis às operações de comércio exterior – classificação fiscal, valoração aduaneira, regimes aduaneiros, controle aduaneiro, tributação, etc – também deveriam ser únicas. “Ah, Ricardo, mas isso é utopia!” É, meu amigo, a formação de uma união aduaneira ideal não é realmente algo fácil! Justamente por isso, quando citamos exemplos de uniões aduaneiras – MERCOSUL e Comunidade Andina – temos que dizer que elas são consideradas uniões aduaneiras imperfeitas. O fator primordial para considerarmos que esses blocos comerciais são exemplos de uniões aduaneiras é a existência de uma Tarifa Externa Comum (TEC), que nada mais é do que uma tabela que estabelece as alíquotas do I.I para os produtos importados de terceiros países. Todavia, as imperfeições dessas uniões aduaneiras ficam visíveis quando verificamos que as normas de comércio exterior nesses países não são essencialmente unificadas e que ainda persistem inúmeras exceções à Tarifa Externa Comum (TEC). Falaremos mais à frente sobre o caso específico de cada um desses blocos comerciais. A Tarifa Externa Comum (TEC) é determinada discricionariamente pelos órgãos decisórios do bloco regional. Todavia, as regras da OMC (art. XXIV, parágrafo 5º) estabelecem que as tarifas e outras regulações de comércio impostas por ocasião da formação da união aduaneira não podem ser mais restritivas em seu conjunto do que as restrições aplicáveis pelos seus integrantes antes da constituição do bloco regional. c) O mercado comum é o estágio de integração que se caracteriza pela livre circulação de mercadorias e serviços, harmonização da política comercial em relação a terceiros países e, ainda, pela livre circulação dos fatores de produção. Perceba, caro amigo, que as características da união aduaneira estão presentes no mercado comum, somadas ainda à sua característica peculiar: livre circulação de fatores de produção. “Mas, Ricardo, o que seria essa tal livre circulação dos fatores de produção?” Ótima pergunta! Em primeiro lugar, precisamos saber o que são “fatores de produção”, conceito que retiramos da Macroeconomia. Bem, podemos dizer que fatores de produção são os elementos básicos utilizados na produção de bens e serviços. São considerados fatores de produção a terra, o trabalho, o capital, a capacidade empresarial e, modernamente, a tecnologia. Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 04 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 8 de 72 Pois bem, a livre circulação de fatores de produção (característica do mercado comum) implicaria na possibilidade de que um trabalhador pudesseexercer suas atividades livremente em qualquer dos países do bloco. Ou ainda, que não houvesse restrições aos investimentos intra-bloco, sendo possível a livre circulação de capitais. Para que seja possível a livre circulação de fatores de produção, é necessário, todavia, a harmonização das políticas previdenciária, trabalhista e de capitais entre os integrantes do bloco. Vale ressaltar que no mercado comum existirá, assim como na união aduaneira, uma harmonização da política comercial intrabloco (comércio livre de barreiras entre seus integrantes) e extrabloco (regras de comércio exterior unificadas, incluindo tributação). d) A união econômica é o quarto estágio de integração econômica, em que, além das características do mercado comum, há harmonização das políticas econômicas dos países do bloco. Quando dizemos que as políticas econômicas são harmonizadas, estamos nos referindo às políticas cambial, monetária e fiscal. Destaque-se que a literatura considera como fator essencial ao sucesso de uniões econômicas e mercados comuns a proximidade geográfica entre seus membros. Tal característica não é considerada, todavia, um diferencial importante para o sucesso de áreas de livre comércio e zonas de preferências tarifárias. e) A integração econômica total é o estágio de integração mais avançado, que se caracteriza pela unificação ou equalização das políticas econômicas de seus integrantes. Vejam, caros amigos, que no caso da integração econômica total não há uma simples harmonização das políticas econômicas. Estas são, ao contrário, conduzidas de forma unificada. Para que as políticas econômicas possam ser conduzidas de forma unificada, é necessário que exista um órgão supranacional com essa responsabilidade. Todavia, para que ele possa exercer essa competência, cada um dos integrantes do bloco econômico deverá abdicar de parcela de sua soberania em prol do poder central. Cabe esclarecer aqui a diferença entre “órgãos intergovernamentais” e “órgãos supranacionais”. Órgãos intergovernamentais são aqueles cujas decisões necessitam ser internalizadas ao ordenamento jurídico dos Estados para que, só então, entrem em vigor. Por outro lado, órgãos supranacionais são aqueles que emanam decisões que não precisam ser incorporadas ao ordenamento jurídico interno dos Estados para entrarem em vigor e já gozam, desde o momento em que emitidas, de eficácia e aplicabilidade imediatas. A supranacionalidade pressupõe cessão de soberania em prol de um poder Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 04 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 9 de 72 central; a intergovernamentabilidade pressupõe a existência de mecanismos de mera cooperação internacional. Questão interessante, que suscita largos debates doutrinários, é acerca do estágio atual de integração da União Europeia. Embora parcela da literatura considere que a U.E alcançou o estágio de “integração econômica total”, a doutrina majoritária entende que trata-se de uma união econômica e monetária.7 De nossa parte, entendemos que a União Europeia é, inegavelmente, uma união econômica e monetária, uma vez que apenas a política cambial e monetária são conduzidas de forma unificada pelo Banco Central Europeu. As políticas econômicas “latu sensu” da União Europeia são objeto de mera coordenação. Com efeito, é possível afirmar que uma das causas da atual crise econômica na U.E é a inexistência de uma política fiscal unificada, o que levou alguns países a exacerbarem seus gastos públicos. Vejamos o quadro abaixo! Estágio de Integração Características Área de Livre Comércio Livre circulação de mercadorias e serviços em relação ao substancial do comércio. União Aduaneira Livre circulação de mercadorias e serviços em relação ao substancial do comércio e política comercial comum em relação a terceiros países Mercado Comum Livre circulação de mercadorias e serviços em relação ao substancial do comércio, política comercial comum em relação a terceiros países e livre circulação dos fatores de produção União Econômica Harmonização das políticas econômicas. Integração Econômica Total Unificação das políticas econômicas Existe ainda um outro tipo de acordo regional, o qual não é, todavia, enquadrado como um estágio de integração pela doutrina desenvolvida por Bela Balassa. Trata-se das zonas de preferências tarifárias (ou acordos de preferências tarifárias). As zonas de preferências tarifárias são meros acordos comerciais, em que os integrantes se outorgam mutuamente preferências tarifárias (reduções do imposto de importação). Diz-se, portanto, que os 7 PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e Privado. Salvador: Editora Juspodium, 2009, pp. 802-803 Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 04 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 10 de 72 integrantes desse tipo de acordo concedem entre si uma margem de preferência nas importações. Na medida em que há avanço do processo de liberalização comercial e as economias dos membros de um acordo regional se tornam mais integradas, faz-se necessário a coordenação de políticas macroeconômicas. Muitos economistas argumentam, inclusive, que a falta de coordenação macroeconômica no âmbito do MERCOSUL foi a grande causadora da crise econômica argentina entre 1999 e 2001. Vejamos como esse assunto pode ser cobrado em prova! 1-(AFRF-2003)- Uma união aduaneira pressupõe a livre movimentação de bens, capital e mão de- obra e a adoção de uma tarifa externa comum entre dois ou mais países. Comentários: Em uma união aduaneira, não há livre circulação de capital e mão-de- obra. Essas são características de um mercado comum. Questão errada. 2- (AFRF – 2002.1 – adaptada)- O que define, essencialmente, uma área de livre comércio é a livre circulação de bens e serviços através das fronteiras. Comentários: A área de livre comércio fica caracterizada quando há livre circulação de bens e serviços em relação ao substancial do comércio. Questão correta. 3- (ACE-2002 – adaptada)- Acordos Comerciais Preferenciais são acordos nos quais Estados uniformizam o tratamento a ser dispensado às importações oriundas de terceiros países. Comentários: O tratamento dispensado às importações oriundas de terceiros países é uniformizado em uma união aduaneira (e não em uma zona de preferências tarifárias!). Pode-se afirmar, inclusive, que, no âmbito de uma união aduaneira, existe harmonização da política comercial extrabloco. Por Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 04 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 11 de 72 meio de acordos comerciais preferenciais, os países outorgam-se mutuamente preferências tarifárias. Questão errada. 4- (AFRF-2000)- Dois países, ao reduzirem suas tarifas de importação entre si ao nível mais baixo possível com vistas a uma liberalização integral do comércio recíproco dentro de dez anos, sem, entretanto, estabelecerem uma tarifa externa comum para as importações de terceiros países, pretenderam criar uma zona de livre comércio. Comentários: O estágio de integração que os países pretenderam estabelecer por meio do acordo foi uma área de livre comércio, que se caracteriza pela liberalização do fluxo de bens e serviços em relação ao substancial do comércio. Se os países tivessem, adicionalmente, estabelecidouma tarifa externa comum, teríamos uma união aduaneira. Questão correta. 5- (ACE-1997)- São Fases do Processo de Integração, em ordem crescente de complexidade: zona de livre comércio, mercado Comum, união aduaneira e união econômica. Comentários: Em ordem crescente de complexidade temos: i) área de livre comércio; ii) união aduaneira; iii) mercado comum; iv) união econômica e; v) integração econômica total. Questão errada. 6- (AFTN-1996 – adaptada)- União aduaneira e mercado comum são duas formas de integração econômica regional. O que diferencia essas duas formas é a inclusão dos fatores de produção no tratamento das relações econômicas entre os países-membros. Comentários: A união aduaneira se caracteriza pela livre circulação de bens e serviços e, ainda, pela política comercial comum em relação a terceiros países. Já o mercado comum, além das características da união aduaneira, é um estágio de integração que permite a livre circulação dos fatores de produção (capital e mão-de-obra). Portanto, está correto dizer que o que diferencia a união aduaneira do mercado comum é a inclusão dos fatores de produção no tratamento das relações econômicas entre os países membros. 7- (AFRF – 2003)- Uma união aduaneira pressupõe a liberalização do comércio entre os países que a integram e a adoção de uma tarifa comum a ser aplicada às importações provenientes de terceiros países. Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 04 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 12 de 72 Comentários: Essa é a exata definição de uma união aduaneira: livre circulação de bens e serviços e política comercial comum em relação a terceiros países, a qual se materializa na existência de uma tarifa externa comum. Questão correta. 8- (INMETRO – 2007)- Uniões monetárias e mercados comuns, a exemplo dos acordos de preferência comerciais e áreas de livre comércio, dispensam a vizinhança entre países, para serem bem- sucedidos. Comentários: A literatura econômica reconhece que um dos fatores para o sucesso de uniões econômicas e monetárias e mercados comuns é a proximidade geográfica entre os países. Questão errada. 9- (ACE-2001)- Em um processo de preferências comerciais diferenciadas entre dois países a tarifa externa comum a ser imposta a produtos de terceiros países deverá ser sempre a média ponderada das estruturas tarifárias dos dois países. Comentários: Em uma área de preferências tarifárias, não há uma Tarifa Externa Comum (TEC). A existência de uma TEC é característica das uniões aduaneiras. Questão errada. 10- (ACE-2001)- Em um processo de preferências comerciais diferenciadas entre dois países a proximidade geográfica é condição essencial para o êxito do processo. Comentários: A proximidade geográfica não é condição essencial para o sucesso de áreas de livre comércio e de zonas de preferências tarifárias. Questão errada. 11- (ACE-2001)- Em um processo de preferências comerciais diferenciadas entre dois países haverá necessidade de alinhar as políticas macroeconômicas, no momento que as preferências negociadas compreenderem a maior parte da pauta de comércio bilateral. Comentários: Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 04 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 13 de 72 O avanço da liberalização comercial e o aprofundamento da integração torna necessária a coordenação macroeconômica. Assim, quando as preferências tarifárias compreenderem a maior parte da pauta do comércio no interior de uma zona de preferências tarifárias, será necessária a coordenação de políticas macroeconômicas. Questão correta. 1.2- Efeitos Econômicos da Integração Regional: Agora que já temos uma noção acerca dos estágios de integração econômica, precisamos nos aprofundar um pouco mais nos efeitos da formação de blocos econômicos regionais. Os efeitos econômicos da integração regional podem ser dinâmicos ou estáticos. Efeitos dinâmicos são os relacionados ao crescimento e desenvolvimento econômico. Efeitos estáticos, por sua vez, estão relacionados ao deslocamento geográfico da produção após a formação de um bloco regional. Os efeitos dinâmicos da integração são basicamente os mesmos efeitos que parte da literatura econômica defende como decorrentes do processo de liberalização comercial. Ao nível da produção e do comércio, a formação de um bloco regional tem como efeito imediato o aumento da concorrência e a ampliação do mercado consumidor. Em virtude de os produtos circularem livremente pelos países integrantes do bloco regional, pode-se afirmar que há um aumento da oferta de bens e, consequentemente, redução dos preços. Com a redução dos preços, pode-se afirmar que há aumento do bem estar do consumidor, que passa a ter maiores possibilidades de escolha e a preços mais baixos. O aumento da concorrência entre as empresas (em virtude da eliminação de tarifas) gera ganhos de eficiência, uma vez que estas precisam, para poder se manter no mercado, desenvolver novas tecnologias e novos processos. Passa a haver, então, maiores investimentos em P & D (incentivo à inovação), o que leva ao desenvolvimento tecnológico. A integração gera também ganhos de escala (economias de escala), uma vez que as empresas terão a possibilidade de explorar um mercado consumidor ampliado. Com efeito, haverá aumento do fluxo comercial (aumento da corrente de comércio) entre os membros do acordo regional, o que permitirá a especialização da produção e, portanto, a geração de complementaridade entre as economias dos países do bloco. O fluxo de investimento estrangeiro direto (IED) também tende a aumentar, uma vez que as empresas multinacionais (transnacionais) desejarão auferir os benefícios de um mercado ampliado. Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 04 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 14 de 72 Outra efeito importante da celebração de um acordo regional é que, juntos, os países-membros do acordo adquirem maior poder de negociação em nível internacional e, com isso, podem obter maiores vantagens do comércio. Vamos entender melhor! A literatura econômica aponta que um país grande é capaz de afetar os preços dos exportadores estrangeiros. É fácil chegar a essa conclusão! Um país grande possui um enorme mercado consumidor e, portanto, se impuser restrições ao comércio, os exportadores estrangeiros terão que reduzir seus preços, pois não será fácil “arranjar” um novo mercado consumidor para seus produtos. Moral da história: quando um país grande impõe uma tarifa sobre suas importações, ele piora os termos de troca (relação valor das exportações / valor das importações) dos outros países e melhora seus próprios termos de troca. Por analogia, podemos transpor esse entendimento sobre o “país grande” para um “bloco comercial”. Nesse sentido, um acordo regional (mais especificamente uma união aduaneira) tem potencial para aumentar os termos de troca dos países-membros em detrimento de terceiros países. Com efeito, caso uma união aduaneira imponha uma Tarifa Externa Comum elevada, ela irá piorar os termos de troca dos países não- membros. Logicamente, a imposição de tarifas tem seus custos (são os efeitos negativos do protecionismo!). Dessa forma, faz-se necessário analisar, caso a caso, se os benefícios dos termos de troca resultantes da imposição da tarifa superam seus custos (o que pode ocorrer em certos casos).EFEITOS DINÂMICOS DA INTEGRAÇÃO REGIONAL - Aumento da oferta de produtos - Redução dos preços dos produtos -Aumento do bem-estar dos consumidores - Aumento da concorrência - Incentivo à inovação e desenvolvimento tecnológico - Ampliação do mercado consumidor - Ganhos de escala - Aumento da corrente de comércio - Geração de complementaridade - Tendência ao aumento do fluxo de IED Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 04 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 15 de 72 Os efeitos estáticos da integração, por sua vez, foram estudados com grande destaque por Jacob Viner e Paul Krugman. Eles estão relacionados ao deslocamento geográfico da produção (deslocalização da produção) após a formação de um acordo regional de comércio. Mas como assim deslocamento geográfico da produção? Simples. Hoje a maior parte da produção de calçados que atende ao mercado consumidor do país A é oriunda do país X. Após a formação do acordo regional, a maior parte da produção de calçados que atende ao mercado do país A passa a vir do país Y (houve deslocamento da produção do país X para o país Y!) Esse deslocamento geográfico da produção pode gerar, segundo Viner, dois efeitos diferentes: a criação de comércio e o desvio de comércio. A criação de comércio ocorre quando a produção é deslocada de um local em que ela era obtida a custos maiores para um local em que ela é obtida a custos menores, o que gera ganho de bem-estar à sociedade. Suponha, por exemplo, que, antes da celebração de um acordo regional, o mercado consumidor de laranjas do país A seja atendido pelos próprios produtores domésticos. Os produtores domésticos não são tão eficientes (produzem a um custo alto), mas em virtude das tarifas incidentes sobre as laranjas importadas, acabam ganhando o mercado. Após a celebração do acordo regional e a consequente eliminação das tarifas, o mercado consumidor de laranjas do país A passa a ser atendida pelos produtores do país B. Os produtores do país B são mais eficientes (produzem a um custo menor) do que os produtores domésticos de A. Quando existiam tarifas, os produtores de laranja do país B não conseguiam ganhar mercado; quando estas foram rebaixadas, eles saíram ganhando. A produção de laranjas foi geograficamente deslocada de um local de menor eficiência (país A) para um local de maior eficiência (país B). Por outro lado, o desvio de comércio ocorre quando a produção é deslocada de um local em que ela era obtida a custos menores para um local em que ela é obtida a custos maiores, o que gera perda de bem- estar à sociedade. Imagine que, antes da celebração de um acordo regional, o mercado consumidor de automóveis do país A seja atendido pelos automóveis produzidos pelo país B. Ocorre, então, que o país A celebra um acordo regional com o país C (o país B fica de fora desse acordo!). Como resultado desse acordo, o mercado consumidor de automóveis do país A passa a ser atendido pelos automóveis produzidos pelo país C. Antes do acordo, quando o país A cobrava igualmente tarifas sobre a importação de automóveis originários de B e C, os automóveis do país B saíam ganhando, pois eram mais eficientes Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 04 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 16 de 72 (produziam a um custo inferior). Após o acordo, não há mais tarifas sobre os automóveis do país C e, portanto estes saem ganhando em relação aos automóveis de B (lembre-se de que o país B ficou de fora do acordo!). Foram as tarifas reduzidas que fizeram a diferença! Houve um deslocamento geográfico da produção de um local mais eficiente (país B) para um local de menor eficiência (país C). Segundo Jacob Viner, a integração regional somente será benéfica aos membros do bloco regional quando a criação de comércio prevalecer sobre o desvio de comércio. Dessa forma, nem todo acordo regional traz ganhos de bem-estar à sociedade, mas apenas aqueles em que prepondera a criação de comércio. Assim, ao celebrar um acordo regional de comércio, o país deve analisar se irá prevalecer a criação ou o desvio de comércio. Por ocasião das propostas de criação da ALCA, um dos motivos que levou o Brasil a manter posição de cautela foi a possibilidade de que as exportações brasileiras para os mercados regionais sofressem com o desvio de comércio. Com efeito, o MERCOSUL é um dos maiores destinos das exportações brasileiras e, caso a ALCA fosse criada, as empresas brasileiras poderiam sofrer com a competição intrabloco. 1.3- Efeitos Políticos da Integração Regional: Há diferentes visões quanto ao fenômeno do regionalismo. Parcela da literatura defende que os blocos comerciais prejudicam o EFEITOS ESTÁTICOS DA INTEGRAÇÃO REGIONAL CRIAÇÃO DE COMÉRCIO DESVIO DE COMÉRCIO Produção se desloca de um local de menor eficiência para um local de maior eficiência Produção se desloca de um local de maior eficiência para um local de menor eficiência Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 04 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 17 de 72 multilateralismo; outra parte argumenta que o regionalismo é instrumento que age a favor do multilateralismo. O que se observa nos últimos anos, porém, é que a proliferação dos acordos regionais de comércio notificados à OMC tem sido tão grande que passou a representar um risco aos objetivos do sistema multilateral de comércio. Com efeito, a maior parte das trocas comerciais é hoje realizada com amparo em acordos regionais (art. XXIV do GATT) e não como decorrência da cláusula da nação mais favorecida (art. I do GATT). É importante termos em mente, quanto a esse ponto, que o objetivo da OMC é a liberalização do comércio internacional em nível multilateral (e não apenas em nível regional!) Percebe-se, na verdade, que o que era exceção (art. XXIV do GATT) vem se tornando uma regra no contexto do comércio internacional, o que nos permite dizer que o tema “regionalismo versus multilateralismo” precisa receber especial atenção no contexto da Rodada Doha da OMC. Segundo Tatiana Prazeres, a cláusula da nação mais favorecida, pilar central do multilateralismo, está nitidamente se transformando na cláusula da nação menos favorecida. De fato, os compromissos do regime multilateral de comércio passaram a, no atual contexto, ser o pior tratamento que um país pode receber de outro membro da OMC. 8 A solução para esse cenário parece ser a proposta de um “regionalismo aberto”, que foi originalmente elaborado pela CEPAL. Trata-se de um fenômeno que busca conciliar a liberalização do comércio entre os parceiros regionais com a liberalização comercial em relação a terceiros países. Vejamos como esses assuntos podem ser cobrados em prova! 12- (ACE-2008)- Os acordos de integração regional, tais como zonas de preferências tarifárias e mercados comuns, não somente permitem que as empresas aufiram os ganhos derivados das economias de escala propiciadas pelo aumento do mercado, mas também conduzem a aumentos de eficiência devido a maior competição entre as empresas dos países-membros. Comentários: 8 PRAZERES, Tatiana. A OMC e os Blocos Regionais. São Paulo: Aduaneiras, 2008, pp. 495- 496 Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 04Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 18 de 72 Essa questão trata dos efeitos dinâmicos da integração regional. Ela está correta, uma vez que os acordos regionais têm como efeito o aumento da concorrência e aumento do mercado consumidor. A ampliação do mercado consumidor, por sua vez, é responsável pela geração de economias de escala. 13- (AFRF-2002.2) - Segundo as teorias de integração econômica, a liberalização do comércio entre um número restrito de países produz efeitos comerciais e econômicos que permitem avaliar o desempenho, desde o ponto de vista da eficiência econômica, dos acordos regionais. A esse respeito, é correto afirmar que a integração regional é economicamente benéfica se prevalecer a criação sobre o desvio de comércio e ocorrerem efeitos dinâmicos. Comentários: A criação de comércio ocorre quando há um deslocamento geográfico da produção de um local de menor eficiência econômica para um local de maior eficiência. Já o desvio de comércio ocorre quando há um deslocamento geográfico da produção de um local de maior eficiência econômica para um local de menor eficiência. Conforme comentamos anteriormente, a integração regional somente será benéfica quando a criação de comércio prevalecer sobre o desvio de comércio. Questão correta. 14- (Questão Inédita)- O desvio de comércio é um efeito estático da integração regional, ficando caracterizado quando um país passa a comprar um determinado tipo de bem de outro país, participante do acordo regional, deixando de importar este bem de um terceiro país que não faz parte do acordo, mas que antes constituía a melhor fonte de oferta do bem em questão. Comentários: Essa questão traduz exatamente o que é o desvio de comércio! Vejam que a produção foi deslocada, após a celebração de um acordo regional, do país de maior eficiência para um país de menor eficiência. O deslocamento da produção foi resultado do rebaixamento de tarifas proveniente do acordo. O “terceiro país” constituía a melhor fonte de oferta do bem (por produzir a custos mais baixos!), mas, em virtude de não participar do acordo, perdeu mercado para um país menos eficiente. Questão correta. 15- (INMETRO – 2007)- O fato de os acordos de integração regional poderem melhorar os termos de troca dos países-membros às expensas dos países não-membros, incentivando, assim, a manutenção Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 04 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 19 de 72 de barreiras em relação ao resto do mundo, constitui um dos custos desses acordos. Comentários: De fato, os acordos de integração regional têm potencial para melhorar os termos de troca dos países-membros às custas dos países não-membros. Isso porque, após a celebração do acordo regional, o mercado consumidor se torna ampliado. Com isso, o bloco passa a ter potencial para influenciar o preços dos exportadores estrangeiros, por meio da imposição de tarifas. Destaque-se, todavia, que a imposição de tarifas sempre implica em custos (efeitos danosos do protecionismo). Questão correta. 16- (INMETRO-2009)- A possibilidade de desvio de comércio que afetasse as exportações brasileiras nos mercados regionais levou o Brasil a assumir posição cautelosa frente às propostas norte- americanas de criação de uma área de livre comércio de alcance continental. Comentários: Um dos motivos que levou o Brasil a manter posição de cautela nas negociações da ALCA foi a possibilidade de que as exportações brasileiras para os mercados regionais fossem afetadas. Questão correta. 17- (INMETRO – 2009)- Por representarem iniciativas de liberalização comercial, os blocos comerciais regionais não colocam em risco a consecução dos objetivos principais do sistema multilateral de comércio. Comentários: A proliferação dos acordos regionais representa um risco ao sistema multilateral de comércio, na medida em que afeta seu principal pilar: a cláusula da nação mais favorecida. Questão errada. 18- (INMETRO – 2009)- O regionalismo aberto é expressão, de caráter propositivo, da possibilidade de se harmonizar o tratamento preferencial próprio dos blocos comerciais com o impulso liberalizante no contexto do processo de globalização econômica. Comentários: O “regionalismo aberto” é uma visão que busca compatibilizar a liberalização comercial intrabloco com a liberalização comercial em relação a terceiros países. Questão correta. Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 04 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 20 de 72 19- (ACE- 2001)- Em um processo de preferências comerciais diferenciadas entre dois países, haverá criação de comércio superando sempre os desvios de comércio. Comentários: Nem sempre a criação de comércio irá superar o desvio de comércio em um bloco regional. Questão errada. 2- UNIÃO EUROPEIA: 2.1- Evolução Histórica: A origem da União Européia remonta à década de 40, quando Bélgica, Holanda e Luxemburgo resolveram formar uma união aduaneira chamada de BENELUX. Em 1951, foi criada a Comunidade Européia do Carvão e do Aço (CECA), tendo como objetivo a integração das indústrias de carvão e do aço dos países europeus ocidentais. A CECA foi fundada por Alemanha, França, Itália, Bélgica, Holanda e Luxemburgo, tendo como base, segundo seu Tratado Constitutivo, um mercado comum. As ideias que deram concretude ao estabelecimento da CECA são as emanadas da Declaração Schumann, de autoria do Ministro dos Assuntos Exteriores da França, Robert Schumann. A Declaração Schumann propunha que a produção franco-alemã de carvão e aço fosse colocada sob a direção de uma Alta Autoridade europeia. O objetivo central era colocar um fim à histórica rivalidade entre Alemanha e França, lançando, por intermédio da integração econômica, as bases para uma futura unificação política. Ao terem um objetivo econômico em comum, se tornaria possível uma solidariedade de fato entre Alemanha e França.9 Em 1957, são assinados pelos países europeus dois importantes tratados, ambos chamados de Tratado de Roma. O primeiro deles instituiu a Comunidade Econômica Européia (CEE) e o segundo a Comunidade Européia da Energia Atômica (EURATOM). Com a celebração dos Tratados de Roma, as três Comunidades (CECA, CEE e EURATOM) passam a conviver simultaneamente, cada uma desempenhando funções específicas no contexto da integração europeia. O Tratado de Roma que constituiu a Comunidade Econômica Européia tinha como objetivo a criação de um mercado comum europeu, que se 9 OCAMPO, Raúl Granillo. Direito Internacional Público da Integração. Rio de Janeiro: Campus, 2008, pp. 147- 150 Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 04 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 21 de 72 fundamentava nas chamadas “quatro liberdades”: livre circulação de pessoas, de serviços, de mercadorias e de capitais. Além disso, explicitava a intenção dos países europeus de estabelecer políticas comuns – agrícola, de transportes e comercial. Já o Tratado que instituiu a Comunidade Européia da Energia Atômica buscava criar condições favoráveis ao desenvolvimento de uma indústria nuclear. Em 1992, é finalmente assinado o Tratado de Maastricht, que dá um passo adiante no processo de integração regional europeu, criando a União Europeia, que é atualmente o blocoeconômico que se encontra no estágio mais avançado de integração10. Após a celebração do Tratado de Maastricht, novos aperfeiçoamentos institucionais foram promovidos no âmbito da União Europeia, por meio do Tratado de Amsterdam (1997), Tratado de Nice (2001) e, finalmente, pelo Tratado de Lisboa (2007). O Tratado de Maastricht trouxe a perspectiva da criação de uma união econômica e monetária na União Europeia. Ele estabeleceu três grandes pilares para a União Europeia, sendo o primeiro de caráter supranacional e o segundo e terceiro de caráter intergovernamental. No primeiro pilar, de caráter supranacional, foram colocados os assuntos referentes às Comunidades Europeias (CECA, CEE e EURATOM), nos quais os países-membros abdicam de sua soberania em prol de um poder central. Destaca-se no primeiro pilar a obtenção de uma união econômica e monetária entre seus membros. O segundo pilar, por sua vez, baseia-se na definição e a execução de uma política externa e de segurança comum (PESC). Por fim, o terceiro pilar baseia-se na cooperação judiciária, policial e em assuntos internos.11 A União Europeia é uma união econômica e monetária (e não uma união política!) Com o Tratado de Lisboa, teve fim a estrutura de pilares na União Europeia. Assim, na atualidade, todos os temas são tratados em nível supranacional no âmbito dessa organização internacional.12 Com efeito, a União Européia, enquanto organização internacional, tem presente em si uma característica singular: a supranacionalidade de seus órgãos. Assim, percebe-se, no âmbito desse bloco regional, uma relativização do conceito de soberania. É como se cada Estado-membro da União Européia concedesse uma 10 Segundo a doutrina dominante, que se apóia no texto do Tratado de Maastricht, a União Européia logrou estabelecer uma união econômica e monetária. 11 PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e Privado. Salvador: Editora Juspodium, 2009 12 MARTIN, Araceli Mangas & NOGUERAS. Instituciones y Derecho de la Unión Europea. Madrid: 2010, Ed. Tecnos. Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 04 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 22 de 72 parcela da sua soberania para que um órgão supranacional possa agir em seu nome. Apesar do fim da estrutura de pilares na U.E, algumas matérias são mantidas sob a competência dos Estados-membros, tais como a política de imigração e a fixação de tributos internos. Segundo a doutrina dominante, que se póia no texto do Tratado de Maastricht, a União Européia logrou estabelecer uma união econômica e monetária.13 Na União Européia, há equalização das políticas cambial e monetária, o que exige a presença de órgãos que adotem decisões vinculantes e obrigatórias para todos os Membros. Destaque-se que ainda não é possível falar em equalização das políticas econômicas latu sensu, sendo estas objeto de mera coordenação. Com efeito, a política fiscal é conduzida individualmente por cada Estado-membro da U.E. Atualmente, fazem parte da União Européia 27 membros, havendo ainda 5 (cinco) outros Estados em processo de adesão: Macedônia, Turquia, Croácia, Islândia e Montenegro. O processo de adesão à União Européia consiste em preparar os países candidatos para cumprirem as obrigações decorrentes da qualidade de Estado membro. Assim, para a adesão ao bloco, exige-se o cumprimento dos requisitos conhecidos como critérios de Copenhague, que consistem em requisitos políticos, econômicos e de aplicação da legislação europeia. 2.2- Estrutura Institucional da União Européia: Conforme já dissemos anteriormente, a União Européia possui uma estrutura formada por instituições supranacionais, as quais têm competência para adotar decisões vinculantes e obrigatórias para todos os Estados- membros. Destaque-se, todavia, que nem todas as instituições da U.E possuem caráter supranacional. Vejamos a seguir as principais competências de cada instituição da União Européia: 1)- Parlamento Europeu: O Parlamento Europeu é o órgão representativo das populações dos Estados-membros, sendo eleito diretamente pelos cidadãos da União Européia para representar os seus interesses. O número de representantes de cada país no Parlamento Europeu é proporcional à sua população. As principais funções do Parlamento Europeu são as seguintes: 13 PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e Privado. Salvador: Editora Juspodium, 2009. Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 04 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 23 de 72 - Adotar os atos legislativos europeus: o processo legislativo na União Européia é baseado no modelo de co-decisão, segundo o qual o Parlamento Europeu exerce em conjunto com o Conselho da União Européia o poder legislativo. Com efeito, as duas instituições compartilham o poder legislativo na União Europeia, o que é decorrência da dupla legitimidade da União (legitimidade intergovernamental e legitimidade democrática). Há algumas matérias cuja competência para legislar recai apenas sobre o Conselho da União Européia – agricultura, política econômica e política em matéria de vistos e de imigração. Mesmo nessas horas, no entanto, há a participação do Parlamento, que deverá ser consultado. - Exercer o controle democrático: como órgão de representação popular da União Européia, o Parlamento Europeu exerce um controle democrático de outras instituições européias. - Elaboração e fiscalização orçamentária: o Parlamento Europeu decide, conjuntamente com o Conselho, o orçamento da União Européia. 2)- Conselho Europeu: O Conselho Europeu é composto pelos Chefes de Estado ou de Governo dos Estados-membros da EU, assim como pelo seu Presidente e o Presidente da Comissão Européia. Também participa em seus trabalhos o Alto Representante da União para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança. Precisamos ter bastante cuidado para não confundir o Conselho Europeu com o Conselho da União Européia. O Conselho Europeu não possui função legislativa, sendo responsável por dar à União os impulsos necessários ao seu desenvolvimento e definir orientações e prioridades políticas gerais para a EU. 3)- Conselho da União Européia: O Conselho da União Européia é a instituição representativa dos interesses nacionais dos Estados-membros da União Européia. Participam das reuniões do Conselho um ministro de cada Estado-membro, que varia conforme o assunto a ser tratado. Se, por exemplo, o assunto da reunião é Educação e Cultura, participarão da reunião os ministros da Educação de cada Estado-membro. Temos que ter um cuidado muito especial em diferenciar o Conselho da União Europeia do Conselho da Europa. O Conselho da União Europeia (ou simplesmente Conselho) é instituição da UE, enquanto o Conselho da Europa é organização intergovernamental que se ocupa de questões relacionadas à proteção dos direitos humanos. Bastante atenção!! Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 04 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 24 de 72 O Conselho da União Européia tem as seguintes funções: - Adotar os atos legislativos europeus: o Conselho exerce o poder legislativo em conjunto com o Parlamento Europeu – co-decisão. Interessante notar que as propostas legislativas, como regra geral, são feitas pela Comissão Européia,que as encaminha ao Conselho. - Coordenar as políticas econômicas dos Estados-membros - Celebrar acordos internacionais entre a União Européia e outros países e organizações internacionais. - Aprovar, em conjunto com o Parlamento Europeu, o orçamento da União Européia. - Desenvolver a Política Externa e de Segurança Comum da União Européia - Coordenar a cooperação entre os tribunais e as forças policiais nacionais dos Estados-membros em matéria penal. O processo decisório no âmbito do Conselho da União Européia é baseado em votação, havendo alguns assuntos que exigem um quórum qualificado. Quando se fala de assuntos sensíveis, como, por exemplo, política externa e segurança comum, as decisões são adotadas por unanimidade. 4)- Comissão Européia: A Comissão Européia é independente dos governos nacionais, consistindo no órgão executivo da União Européia. Dessa forma, é a Comissão Européia, conhecida até o Tratado de Lisboa por Comissão das Comunidades, que coloca em prática as decisões adotadas pelo Conselho da União Européia e pelo Parlamento Europeu. As principais funções da Comissão Européia são as seguintes: - Apresentar propostas legislativas ao Parlamento e ao Conselho: A Comissão Européia possui o que se chama direito de iniciativa, ou seja, somente esta pode apresentar propostas legislativas ao Parlamento e ao Conselho. - Gerir e executar as políticas e o orçamento da União Européia: estas são atribuições eminentemente executivas realizadas pela Comissão. Para visualizarmos bem basta pensar o seguinte: enquanto o Conselho e o Parlamento definem as diretrizes, por exemplo, da Política Agrícola Comum, quem a efetivamente implementa é a Comissão Européia. Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 04 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 25 de 72 - Garantir a aplicação do direito comunitário: essa função é exercida em conjunto com o Tribunal de Justiça da Comunidade Européia. - Negociar acordos entre a União Européia e terceiros países: enquanto o Conselho da União Européia possui competência para celebrar acordos internacionais em nome da U.E, a Comissão é quem efetivamente negocia esses acordos. Dessa forma, podemos dizer que a Comissão Européia é quem representa a U.E a nível internacional. 5)- Banco Central Europeu: O Banco Central Europeu é o responsável pela definição e execução da política monetária da U.E, mais especificamente da chamada “zona do euro”. Ele faz parte de um conjunto institucional denominado Sistema Europeu de Bancos Centrais (SEBC), do qual fazem parte os Bancos Centrais de todos os Estados-membros da U.E, inclusive daqueles que não adotaram o euro como moeda única. O objetivo central do Sistema Europeu de Bancos Centrais é a manutenção da estabilidade dos preços na União Europeia, o que demonstra a opção por uma política econômica ortodoxa de controle da inflação. Atualmente, somente 17 países dos 27 membros da União Européia utilizam o euro. Dentre os países que não utilizam a moeda única européia, destacamos a Inglaterra, que mantém a soberania na condução de sua política monetária. A adoção do euro como moeda oficial por parte de um membro da União Européia exige, em conformidade com o Tratado de Maastricht, certo grau de amadurecimento econômico. Assim, é necessário que haja uma estabilidade de preços – baixo índice de inflação -, sustentabilidade das finanças públicas – inexistência de déficits fiscais excessivos -, flutuações da taxa de câmbio dentro de margens normais e baixas taxas de juros de longo prazo. “Tudo bem, Ricardo, eu entendi! Mas que índices são tomados como base de comparação?” Excelente pergunta, meu amigo! Os índices de inflação, as taxas de câmbio as taxas de juros e os déficits fiscais são medidos em função dos melhores resultados alcançados pelos países envolvidos no processo de unificação monetária. 6)- Tribunal de Justiça da Comunidade Européia: O Tribunal de Justiça é composto por 27 juízes, sendo um representante de cada Estado-membro da União Européia, o que garante que Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 04 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 26 de 72 todos os sistemas jurídicos comunitários estejam representados perante este órgão. A principal função do Tribunal de Justiça é garantir a aplicação da justiça em conjunto com a Comissão Europeia, sendo responsável ainda por uniformizar a interpretação da ordem jurídica comunitária. Se um ato da Comissão Européia, do Conselho ou ainda de um governo nacional for incompatível com um Tratado firmado no âmbito da U.E, o Tribunal de Justiça poderá anulá-lo mediante petição de outro órgão comunitário, de um Estado-membro ou mesmo de um particular. É possível também que, a pedido de um tribunal ou juiz nacional, o Tribunal de Justiça se pronuncie sobre a interpretação ou validade do direito comunitário. Destacamos que é possível que um indivíduo recorra ao Tribunal de Justiça por intermédio de juízes nacionais que solicitam a manifestação do referido tribunal. 7)- Tribunal de Contas Europeu: O Tribunal de Contas Europeu é o órgão responsável pela fiscalização e controle do orçamento da União Europeia. Ele verifica se os fundos da U.E estão sendo utilizados em conformidade com a legislação e ainda se estes atendem à economicidade – é o papel típico de um Tribunal de Contas. INSTITUIÇÕES DA UNIÃO EUROPEIA - Parlamento Europeu - Conselho Europeu - Conselho da União Europeia - Comissão Europeia - Tribunal de Justiça da União Europeia - Banco Central Europeu - Tribunal de Contas Europeu Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 04 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 27 de 72 2.3- Princípios da União Europeia: Segundo Mota Campos, a União Europeia se baseia em dois grandes “eixos de reflexão”: o princípio democrático e os princípios da ordem jurídico-econômica.14 No que diz respeito ao princípio democrático, o art. 8º-A, parágrafo 1º, do Tratado da União Europeia (TUE), dispõe que a U.E se baseia na democracia representativa. Nesse sentido, os cidadãos estão diretamente representados no Parlamento Europeu. Ao mesmo tempo, os Estados-membros estão representados no Conselho Europeu e no Conselho da União Europeia. A União Europeia possui, portanto, uma dupla legitimidade, podendo ser considerada uma organização de integração entre povos e Estados. De um lado, há a legitimidade internacional ou intergovernamental; de outro, a legitimidade democrática. No que diz respeito à ordem jurídico-econômica, pode-se destacar o princípio da liberdade econômica e o princípio da subsidiariedade. O princípio da liberdade econômica se materializa nas “quatro liberdades” fundamentais do mercado: livre circulação de mercadorias, serviços, pessoas e capitais. Desse princípio, decorre a não-discriminação em função da nacionalidade, expressa no art.45 do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia (TFUE). Segundo esse dispositivo, assegurada a livre circulação dos trabalhadores no âmbito do bloco, o que implica a abolição de quaisquer formas de discriminação em razão da nacionalidade entre os trabalhadores dos Estados-membros, no que diz respeito ao emprego, à remuneração e demais condições de trabalho. Por razões de mercado de trabalho, admite-se que os Estados-membros da EU deem preferência aoscidadãos europeus em relação aos nacionais de terceiros Estados. O princípio da subsidiariedade, por sua vez, rege o exercício das competências compartilhadas entre os Estados membros e a União Europeia. Em razão desse princípio, quando houver competências compartilhadas entre os Estados-membros e a União, esta somente irá agir em caráter excepcional, em virtude da dimensão supranacional do problema ou quando sua ação for mais eficaz. 15 O princípio da subsidiariedade visa a tornar o processo de tomada de decisões o mais próximo possível dos cidadãos europeus. Cabe destacar também que, em 1992, por meio do Tratado de Maastricht, foi criada a cidadania europeia. Nesse sentido, o referido tratado estabeleceu que qualquer pessoa que tenha a nacionalidade de um Estado- 14. CAMPOS, João Mota de. Direito Comunitário. 8ª ed, I Vol. Lisboa: 1997. Ed. Fundação Calouste Gulbenkian. 15 MARTIN, Araceli Mangas & NOGUERAS. Instituciones y Derecho de la Unión Europea. Madrid: 2010, Ed. Tecnos. Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 04 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 28 de 72 membro será também cidadão europeu. Tal dispositivo, para além de consagrar a cidadania europeia, vedou a discriminação entre cidadãos europeus. 2.4- Ordenamento jurídico comunitário: Os objetivos integracionistas da União Europeia tiveram como uma de suas principais conseqüências a criação de um ordenamento jurídico com maior extensão e alcance do que as regulamentações das organizações internacionais. Como principal característica do ordenamento jurídico europeu destacamos a supranacionalidade. A supranacionalidade implica na vinculação de todas as instituições comunitárias, todos os Estados-membros, pessoas físicas e pessoas jurídicas a uma ordem única. Em outras palavras, no âmbito da União Européia, o direito comunitário prevalece sobre os ordenamentos internos de cada Estado-membro. O conceito de supranacionalidade está intimamente ligado ao conceito de soberania relativa, já que para que existam órgãos supranacionais é fundamental que cada país outorgue uma parcela de sua soberania. A supranacionalidade levou os juristas a cunharem o termo “direito comunitário” para se referirem à ordem jurídica da União Europeia, a qual é autônoma e independente tanto em relação ao direito internacional público quanto em relação ao direito interno de cada Estado-membro.16 Baseando-se nessa idéia, podemos dizer que há prevalência das normas e políticas comunitárias sobre as normas e políticas de cada Estado- membro e, ainda, que as decisões no âmbito da União Européia são adotadas, nas palavras de Accioly, de cima para baixo.17 Ou seja, os órgãos supranacionais tomam decisões que passam a vincular os Estados-membros. Podemos dizer que o ordenamento jurídico da União Européia é composto pelo direito originário, pelo direito derivado, pela jurisprudência e pelos princípios gerais de direito. O direito originário consiste basicamente nos Tratados europeus, enquanto o direito secundário é representado pelo conjunto de atos jurídicos adotados pelos órgãos da União Européia. A jurisprudência, por sua vez, consiste no conjunto de decisões do Tribunal de Justiça da União Europeia. 16 OCAMPO, Raúl Granillo. Direito Internacional Público da Integração. Rio de Janeiro: Campus, 2008. 17 ACCIOLY, Hildebrando; SILVA, G.E do Nascimento & CASELLA, Paulo Borba. Manual de Direito Internacional Público, 17ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2009 Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 04 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 29 de 72 Importante notar que antes da entrada em vigor de uma fonte primária – um tratado – esta deverá ser ratificada pelos Estados, o que só ocorrerá após uma análise prévia da constitucionalidade destas face aos ordenamentos jurídicos nacionais. Assim, antes do Tratado de Maastricht entrar em vigor, ele teve que ser ratificado por cada um dos Estados- membros, os quais o examinaram à luz de suas legislações nacionais. Ao contrário, as normas secundárias, emitidas pelos órgãos supranacionais da União Européia, não necessitam passar por um processo de incorporação ao ordenamento jurídico interno de cada país-membro. Elas têm efeito vinculante em relação a todos os Estados- membros desde o momento em que adotadas. 2.5- Integração regional e Tratado de Lisboa: Quando a União Européia foi efetivamente criada pelo Tratado de Maastricht em 1992, ela era integrada por apenas 12 membros. Hoje são 27 membros, o que reclama um aperfeiçoamento da estrutura dessa instituição. Dessa forma, o Tratado de Lisboa foi assinado em dezembro de 2007 pelos 27 Estados-membros da União Européia com vistas a dotar a União Europeia de uma estrutura institucional e jurídica que lhe permita fazer frente aos desafios atuais. O Tratado de Lisboa entrou em vigor em 1º de dezembro de 2009, alterando o Tratado de Maastricht (1992) e o Tratado de Roma (1957) que instituiu a Comunidade Econômica Europeia.18 Dentre as principais mudanças introduzidas pelo Tratado de Lisboa podemos citar: - Elevação do Conselho Europeu à condição de instituição da União Europeia. - Melhoria do processo de tomada de decisão no âmbito da União Européia. - Reforça a democracia através da atribuição de um papel mais importante ao Parlamento Europeu (maior número de matérias passaram a estar sujeitas ao processo de co-decisão) e aos parlamentos nacionais. - Criação da figura do Presidente do Conselho Europeu, eleito por um período de dois anos e meio, renovável uma vez; 18 O Tratado que instituiu a Comunidade Econômica Europeia (CEE) passou a chamar- se Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia (TFUE). Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 04 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 30 de 72 - Criação do cargo de Alto Representante da União para Relações Exteriores e a Política de Segurança, que será simultaneamente vice- presidente da Comissão Européia. - Possibilidade de que um grupo de 1 milhão de cidadãos da União Européia, de um número significativo de Estados dirija-se diretamente à Comissão Européia para solicitar a apresentação de uma proposta legislativa (iniciativa popular). - Possibilidade de que os Estados abandonem a União. - O Tratado de Lisboa previu a cláusula de solidariedade, que dispõe que a União Europeia e os Estados-membros atuarão em conjunto, num espírito de solidariedade, se um Estado-membro for alvo de um ataque terrorista ou vítima de catástrofe natural ou de origem humana. - O Tratado de Lisboa deixa explícito que a União Europeia reconhece os direitos, as liberdades e os princípios enunciados na Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia. Vejamos como esse assunto pode ser cobrado em prova! 20- (ACE-2008)- A União Europeia constitui uma união aduaneira porque, nela, os países-membros, além de não imporem restrições comerciais entre si, partilham uma moeda comum e adotam políticas fiscais e monetárias unificadas. Comentários: Dois erros na questão: 1)- A União Europeia é uma união econômica e monetária (e não uma união aduaneira!) 2)- Na União Europeia, não há unificação da política fiscal. O Banco Central Europeu apenas conduz, de forma unificada, a políticamonetária e cambial da U.E. 21- (Consultor Legislativo – Câmara dos Deputados / 2002)- A União Europeia iniciou seu processo de formação de bloco econômico em 1957, com a assinatura do Tratado de Roma, entre França, Alemanha, Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 04 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 31 de 72 Itália, Bélgica, Holanda e Luxemburgo, que criou a Comunidade Econômica Europeia. O Tratado de Maastricht trouxe a perspectiva de união política, monetária e econômica para o mercado europeu. Comentários: Em 1992, foi assinado o Tratado de Maastricht que, aprofundando ainda mais a integração no continente europeu, trouxe a perspectiva da criação de uma união econômica e monetária, agora já sob a denominação de União Europeia. Ao contrário do que diz a questão, o Tratado de Maastricht não estabeleceu uma união política no continente europeu, mas tão somente uma união econômica e monetária. Questão errada. 22- (Juiz do Trabalho – TRT 5ª Região / 2006)- O princípio da livre circulação de trabalhadores baseia-se na vedação a discriminações aos profissionais oriundos dos Estados que integram os países comunitários, bem como na preferência, no acesso ao emprego, de trabalhadores da área comunitária em relação a terceiros Estados. Comentários: É assegurada a livre circulação dos trabalhadores no âmbito da União, o que implica a abolição de quaisquer formas de discriminação em razão da nacionalidade entre os trabalhadores dos Estados-membros. Também se admite que os Estados-membros da EU deem preferência aos cidadãos europeus em relação aos nacionais de terceiros Estados. Questão correta. 23- (Juiz do Trabalho – TRT 1ª Região / 2010)- A participação na zona do euro conforma obrigação comunitária irrenunciável, à exceção dos recém-admitidos países do leste europeu, que deverão passar por período de convergência macroeconômica. Comentários: Nem todos os Estados-membros da U.E integram a “zona do euro”, uma vez que adoção do euro requer o cumprimento de diversos critérios macroeconômicos. Questão errada. 24- (Procurador BACEN / 2009)- O objetivo primordial do Sistema Europeu de Bancos Centrais, nos termos do Tratado de Maastricht, é a manutenção da estabilidade de preços na União Europeia. Comentários: Segundo o art. 127 do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia (TFUE), o objetivo central do Sistema Europeu de Bancos Centrais é a manutenção da estabilidade de preços na União. Questão correta. Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 04 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 32 de 72 25- (ACE – 2002 – adaptada)- São critérios para a convergência em matéria de políticas econômicas e monetárias, no âmbito da União Europeia os índices de inflação, as taxas de câmbio, as taxas de juros e os índices de desemprego, todos medidos em função dos melhores resultados alcançados pelos países envolvidos no processo de unificação monetária. Comentários: Para adotar o euro, é necessário que os países possuam índices econômicos mínimos. Nesse sentido, os países que adotam o euro devem ter controle da inflação, finanças públicas equilibradas, taxas de juros reduzidas e taxas cambiais estáveis. Todos esses índices econômicos são medidos tomando-se como padrão os melhores resultados alcançados pelos países da “zona do euro”. Analisando-se a questão, verifica-se que ela está errada, uma vez que os índices de desemprego não são critérios para a adoção do euro por um membro da União Europeia. 26- (Juiz do Trabalho – TRT 5ª Região / 2006)- A Comunidade Econômica Europeia assegura a livre circulação de mercadorias, serviços e capitais, mas não a de pessoas. Comentários: A União Europeia se baseia nas chamadas “quatro liberdades”: livre circulação de bens, serviços, pessoas e capitais. A questão está, portanto, errada. 27- (AFRF 2002.1)- A recente introdução do Euro como moeda comum entre doze dos quinze países membros da União Europeia representou importante avanço em direção à formação de um(a) mercado comum. Comentários: A União Europeia possui 27 membros, dentre os quais 17 utilizam o euro. A adoção do euro representou a consolidação de uma união econômica e monetária (e não um passo rumo ao mercado comum!). Questão errada. 28- (Juiz do Trabalho – TRT 5ª Região / 2006)- São órgãos da União Europeia o Parlamento Europeu, o Conselho da Europa, a Comissão, o Tribunal de Justiça e o Tribunal de Contas. Comentários: Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 04 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 33 de 72 Segundo o art. 13 do TUE, são instituições da União Europeia as seguintes: i) Parlamento Europeu; ii) Conselho Europeu; iii) Conselho; iv) Comissão Europeia; v) Tribunal de Justiça da EU; vi) Banco Central Europeu e; vii) Tribunal de Contas. O Conselho da Europa não é instituição da União Europeia, mas sim organização intergovernamental que se ocupa de questões relacionadas à proteção dos direitos humanos. Embora a questão esteja errada, o CESPE a considerou correta (apesar de o erro seja notório!) 29- (Advogado BRB / 2009)- O êxito da U.E deve-se ao consenso obtido pelos integrantes do bloco em agir de modo uniforme e unânime em áreas vitais como política externa, legislação sobre imigração e fixação de tributos diversos. Comentários: A política de imigração e a política tributária são mantidas sob a competência dos Estados-membros da União Europeia, não tendo sido transferidas a um poder central. Questão errada. 30- (Juiz do Trabalho - TRT 1ª Região / 2010)- Na União Europeia, o Tratado de Lisboa incorporou formalmente a cláusula da solidariedade, definindo como ela se expressa na vida comunitária. Comentários: De fato, o Tratado de Lisboa incorporou formalmente a cláusula de solidariedade, que prevê a atuação conjunta dos Estados-membros e da União diante de um ataque terrorista ou de catástrofe natural ou humana. Questão correta. 31- (AFTN-1996 - adaptada)- Em fins dos anos 50, disseminou-se, no mundo, a ideia de promover o crescimento econômico por meio da integração econômica regional. Um marco deste fenômeno foi a assinatura do Tratado de Roma, em 1957. Neste tratado, foram estabelecidas as bases contratuais para a organização que, no futuro, viria a se transformar na União Europeia. A organização estruturada pelo Tratado de Roma foi a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA). Comentários: Em 1957, foram assinados dois Tratados de Roma. Um deles instituiu a Comissão Europeia (CE); o outro, a Comunidade Europeia da Energia Atômica (EURATOM). A CECA já existia desde 1951. Questão errada. Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 04 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 34 de 72 32- (Questão Inédita)- O Tratado de Lisboa tem como objetivo dotar a União Europeia de uma estrutura institucional e jurídica que lhe permita fazer frente aos desafios contemporâneos. Comentários: De fato, o Tratado de Lisboa teve como objetivo reformar a estrutura institucional e jurídica da União Europeia, alterando o Tratado da União Europeia e o Tratado que instituiu a Comunidade Econômica Europeia. Questão correta. 33- (Questão Inédita)- A Comissão Europeia, na condição de órgão executivo da União Europeia, tem competência para celebrar, em
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