Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 16 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 1 de 68 AULA 16: CONTRATOS INTERNACIONAIS E INCOTERMS SUMÁRIO PÁGINA 1- Palavras Iniciais 1 2- Contratos Internacionais 2 - 10 3- Convenção de Viena sobre o contrato de compra e venda internacional 10 - 21 4- Termos Internacionais de Comércio (INCOTERMS) 21 - 55 5- Lista de Questões e Gabarito 56 - 68 Olá, amigos concurseiros, tudo bem? Hoje falaremos de um assunto que, tradicionalmente, sempre é cobrado em provas de Comércio Internacional. Eu diria, inclusive, que se você entender tudo dessa nossa aula, já terá um pontinho garantido na prova de ACE (MDIC) . Estudaremos hoje sobre os contratos internacionais, os INCOTERMS e, ainda, sobre a Convenção de Viena sobre o Contrato de Compra e Venda Internacional (CVIM). Cabe ressaltar, ainda, que no ano de 2011 tivemos uma importante modificação nesse tópico da disciplina de Comércio Internacional: entrou em vigor a versão INCOTERMS 2010! Considerando que as bancas examinadoras adoram novidades, é bom estarmos atentos a esse assunto. Todos preparados? Vamos em frente! Um abraço a todos, Ricardo Vale ricardovale@estrategiaconcursos.com.br http://twitter.com/#!/RicardoVale01 http://www.facebook.com/rvale01 “O segredo do sucesso é a constância no objetivo!” ____________________x___________________ Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 16 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 2 de 68 1-CONTRATOS INTERNACIONAIS: 1.1-Conceitos Iniciais: A globalização econômico-comercial aumentou o grau de integração e vinculação entre pessoas físicas e jurídicas no cenário internacional. A conduta desses agentes em suas relações comerciais é regida pelos contratos internacionais, que são instrumentos destinados a regular as obrigações e direitos das partes, materializando a vontade originária de cada uma delas. Mas o que é um contrato? Quais suas características principais? Para responder essa pergunta, temos que recorrer ao direito civil e à Teoria Geral dos Contratos! Segundo a doutrina civilista, contratos são negócios jurídicos originados a partir de um acordo de vontades, que cria, modifica ou extingue direitos. Por meio de um contrato, se estabelece um vínculo jurídico entre duas ou mais pessoas. São elementos constitutivos de um contrato os seguintes: as partes, o objeto, o local de celebração e o local de execução. Mas o que seriam então “contratos internacionais”? A definição do conceito de contrato internacional não é algo corriqueiro, havendo diferentes visões doutrinárias sobre o assunto. No Brasil, a posição dominante é no sentido de considerar-se que contrato internacional é o que possui elementos que possibilitem sua vinculação a sistemas jurídicos diferentes. Nesse sentido, se os elementos constitutivos de um contrato (partes, objeto, local de celebração e local de execução) estiverem conectados a mais de um Estado, este será, por excelência, internacional.1 O contrato de compra e venda internacional é um instrumento jurídico consensual, bilateral, oneroso, comutativo e típico. Mas o que significa cada uma dessas características? Bem, para entendermos cada uma dessas características, temos que falar um pouco sobre direito civil! Nesse sentido, os contratos podem se classificar de diferentes formas: a)- Consensuais ou reais: São consensuais os contratos que se reputam perfeitos e acabados com a aceitação das partes (consenso). São reais os contratos que somente se consideram formados com a entrega efetiva da coisa. O contrato de compra e venda, por considerar-se formado com a aceitação da proposta, classifica-se como consensual. 1 STRENGER, Irineu. Contratos Internacionais do Comércio. 4. ed. São Paulo: LTR, 1998. Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 16 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 3 de 68 b)- Bilaterais (sinalagmáticos) ou unilaterais: São bilaterais os contratos que envolvem obrigações recíprocas, isto é, quando os contratantes são simultaneamente credor e devedor um do outro. Por sua vez, são unilaterais os contratos em que apenas uma parte se obriga perante a outra. O contrato de compra e venda envolve obrigações recíprocas e, portanto, é bilateral ou sinalagmático. c)- Onerosos ou gratuitos: São onerosos os contratos em que há contraprestações. Por outro lado, são gratuitos os contratos dos quais apenas uma parte tira proveito. O contrato de compra e venda, por envolver contraprestações (o comprador paga o preço e o vendedor entrega a mercadoria) classifica-se como oneroso. d)- Comutativos ou aleatórios: São comutativos os contratos que envolvem prestações equivalentes e cuja equivalência pode ser aferida. Nos contratos comutativos, as prestações são certas e definidas. Os contratos aleatórios, por sua vez, envolvem prestações incertas de uma ou de ambas as partes. Nesse tipo de contrato, as prestações ficam na dependência de um fato futuro e imprevisível. Os contratos de compra e venda se classificam como comutativos. e)- Típicos ou atípicos: São típicos os contratos que possuem previsão na lei por serem os mais comuns e importantes. Os atípicos, por sua vez, não encontram previsão legal. O contrato de compra e venda está previsto em diversas legislações nacionais e, inclusive, em convenções internacionais. Portanto, trata-se de um contrato típico. Esquematizando: Quando se fala em contratos internacionais celebrados por empresas brasileiras, há duas questões importantes a serem definidas: - Qual será a legislação aplicável ao contrato? Para responder essa perguntar, precisamos observar o que dispõe a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LIDB). Segundo o art. 9º da LIDB, para qualificar CONTRATO INTERNACIONAL - Consensual - Bilateral (sinalagmático) - Oneroso - Comutativo - Típico Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 16 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 4 de 68 e reger as obrigações, aplica-se a lei do país em que estas tiverem sido constituídas. Importante ressaltar que a obrigação (ex: contrato) reputa-se constituída no domicílio do proponente (quem faz a proposta). - Qual será a jurisdição competente para apreciar controvérsia envolvendo o contrato? A resposta para essa pergunta está no art. 88 do Código de Processo Civil, que dispõe que a autoridade judiciária brasileira é competente quando: i) o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil; ii) a obrigação tiver de ser cumprida no Brasil e; iii) a ação se originar de fato ocorrido ou de ato praticado no Brasil. Em que pese a previsão desse dispositivo do CPC, as partes poderão decidir, em cláusula contratual específica, qual o foro competente para apreciar controvérsia envolvendo o contrato. 1.2- Cláusula de força maior e cláusula de hardship: As operações de compra e venda internacional estão sujeitas a diversos fatos imprevisíveis e inevitáveis que fogem do controle das partes (fator aleatório). Podem ocorrer, por exemplo, fenômenos da natureza (terremotos, tsunamis, tempestades), acontecimentos de ordem política (guerras, revoluções, greves) ou mesmo criseseconômicas. Tudo isso pode vir a frustrar a execução do contrato. A cláusula de força maior e a cláusula de hardship existem, justamente, para fazer frente a essas situações imprevisíveis e inevitáveis, buscando restabelecer o equilíbrio contratual. A lógica de ambas as cláusulas repousa no princípio “rebus sic stantibus”, segundo o qual caso haja uma alteração substancial das circunstâncias que envolveram a formação do contrato, este poderá ser alterado. Nesse sentido, a cláusula de força maior e a cláusula de hardship são muito importantes nos contratos internacionais de compra e venda, sendo fundamental que, ao celebrarem contratos de compra e venda, as empresas prevejam essas cláusulas, uma vez que qualquer operação está sujeita à ocorrência de circunstâncias imprevistas e inevitáveis. Destaque-se que a redação da cláusula de força maior e da cláusula de hardship varia de contrato para contrato, não havendo padronização internacional para isso. Mas qual é a diferença entre cláusula de força maior e a cláusula de hardship? Tanto a cláusula de hardship quanto a cláusula de força maior existem para fazer frente a situações imprevisíveis e inevitáveis. Todavia, a Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 16 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 5 de 68 cláusula de força maior se aplica quando a execução contratual se torna inviável, isto é, o contrato se torna inexequível. Por sua vez, a cláusula de hardship se aplica quando o contrato se torna substancialmente mais oneroso, porém, ainda assim, poderá ser executado. Esquematizando: 1.3- Garantias em um contrato internacional: Quando é celebrado um contrato internacional, é normal que as partes queiram se precaver ao máximo dos riscos contratuais. É possível, por exemplo, que o vendedor forneça mercadorias estragadas ou não preste um serviço adequado. Ou, ainda, que o vendedor assuma o compromisso de fornecer um determinado serviço, mas depois desista. Para se precaver dos prejuízos advindos desse tipo de situação, as partes podem exigir garantias nos contratos. Há, fundamentalmente, 4 (quatro) tipos de garantias que podem ser utilizados em um contrato internacional: bid bond, supply bond, performance bond e refundment bond. A bid bond, também chamada de garantia de oferta, é apresentada pelo vendedor (contratado) como forma de garantir que honrará sua proposta comercial. É muito comum em licitações, em que se exige dos participantes a apresentação de uma garantia. Destaque-se que a bid bond será executada quando, após ter sido vencedora de uma licitação, a empresa desistir de fornecer as mercadorias ou serviços previstos na proposta. Pelas suas características, a bid bond se aplica tanto aos contratos de compra e venda de mercadorias quanto aos contratos de prestação de serviços. A supply bond, também chamada de garantia de fornecimento, é exigida pelo comprador (contratante) como forma de se certificar de que o vendedor (contratado) irá fornecer a mão-de-obra e as mercadorias necessárias para a execução de um contrato de prestação de serviços. Aplica- CLÁUSULA DE FORÇA MAIOR CLÁUSULA DE HARDSHIP O contrato se tornou inexequível O contrato se tornou substancialmente mais oneroso Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 16 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 6 de 68 se, portanto, apenas a contratos de prestação de serviços em que haja fornecimento de mercadorias. A performance bond, também chamada de garantia de desempenho, tem como objetivo assegurar que o contrato seja cumprido satisfatoriamente (mercadorias entregues ou serviços prestados). Por sua natureza, a performance bond se aplica tanto aos contratos de fornecimento de mercadorias quanto aos contratos de prestação de serviços. Essa garantia pode ser exigida tanto pelo vendedor (contratado) quanto pelo comprador (contratante). Assim, caso alguma das partes não cumpra suas obrigações contratuais, ela será executada. É o caso, por exemplo, em que um serviço não é prestado adequadamente pelo vendedor ou, ainda, a mercadoria fornecida não atende as especificações técnicas previstas no contrato. Por último, a refundment bond pode ser exigida quando, em um contrato internacional, o comprador (contratante) faz algum adiantamento ao vendedor (contratado). Ela é executada quando, após ter sido feita a antecipação de um pagamento, o contrato não é cumprido. Destaque-se que a refundment bond, por suas características, é exigida do vendedor (contratado). Esquematizando: Essas garantias podem ser apresentadas individualmente ou em conjunto, umas com as outras. Pode ocorrer, por exemplo, de, em um contrato de compra e venda de mercadorias, o comprador exigir do vendedor uma performance bond. Adicionalmente, caso o comprador tenha efetuado um pagamento antecipado, ele poderá também exigir uma refundment bond. Nessa situação, caso as mercadorias não sejam fornecidas, as duas garantias (performance bond e refundment bond) serão executadas. Vejamos como esse assunto pode ser cobrado em prova! GARANTIAS EM UM CONTRATO INTERNACIONAL - BID BOND: garantia de oferta - SUPPLY BOND: garantia de fornecimento -PERFORMANCE BOND: garantia de desempenho - REFUNDMENT BOND: garantia de reembolso Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 16 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 7 de 68 1-(AFTN-1998 - adaptada)- O contrato de compra e venda internacional é classificado, juridicamente, como consensual, bilateral, oneroso, comutativo e típico. Comentários: De fato, o contrato de compra e venda internacional é instrumento consensual (reputa-se perfeito e acabado com a aceitação das partes), bilateral (envolve obrigações recíprocas), oneroso (envolve contraprestações), comutativo (envolve prestações equivalentes e que podem ser aferidas) e típico (previsto em diversas legislações nacionais e em instrumentos internacionais). Questão correta. 2-(AFRF-2003) - Nos contratos internacionais de compra e venda, a diferença entre cláusula de força maior e a cláusula de hardship reside em que na primeira, a circunstância é imprevista mas evitável, enquanto que na segunda é imprevista e inevitável; na primeira, o contrato se torna exequível e na segunda, inexequível. Comentários: A questão está errada por dois motivos: 1)- A cláusula de hardship e a cláusula de força maior dizem respeito a situações imprevisíveis e inevitáveis. 2)- A cláusula de força maior se aplica quando o contrato se tornou inexequível. Já a cláusula de hardship se aplica quando o contrato se tornou substancialmente mais oneroso. 3- (AFRF-2003)- Nos contratos internacionais de compra e venda, a cláusula de força maior e a cláusula de hardship se referem a circunstâncias imprevisíveis e inevitáveis. Todavia, enquanto a primeira tem a ver com circunstâncias que impossibilitam a execução contratual; a segunda diz respeito a circunstâncias que tornam o contrato substancialmente mais oneroso, porém exeqüível. Comentários: Essa questão descreve perfeitamente a cláusula de força maior e a cláusula de hardship! Ambas dizem respeito a circunstâncias imprevisíveis e inevitáveis. No entanto, ao passo que a cláusula de força maior determina o Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula16 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 8 de 68 que ocorre quando a execução contratual torna-se impossível, a cláusula de hardship determina o que ocorre quando a execução contratual se torna muito mais onerosa. Questão correta. 4- (Questão Inédita)- A bid bond é uma garantia presente em contratos internacionais que é executada quando uma empresa, tendo realizado uma proposta comercial e sido vencedora de uma seleção, se recuse a formalizá-la mediante celebração de um contrato. Comentários: A bid bond será executada quando uma empresa, após sagrar-se vencedora de um certame licitatório, recusa-se a assinar o contrato, isto é, a formalizar a proposta que havia feito anteriormente. Questão correta. 5- (Questão Inédita)- A supply bond é utilizável nos contratos de prestação de serviços e de venda de mercadorias. Comentários: A supply bond somente pode ser utilizada em contratos de prestação de serviços que dependam do fornecimento de mercadorias. Assim, executa-se a supply bond quando, nesse tipo de contrato, as mercadorias necessárias não são fornecidas. Perceba, caro amigo, que o contrato em si é de fornecimento de mercadorias, embora envolva a prestação de serviços. Questão errada. 6- (Questão Inédita)- A refundment bond é executada sempre que um serviço não é prestado a contento do seu tomador ou ainda quando a mercadoria fornecida não atende às especificações previstas no contrato. Comentários: A garantia executada quando um serviço não é prestado adequadamente ou, ainda, quando a mercadoria não atende as especificações técnicas previstas no contrato, é a performance bond. A refundment bond é executada quando, após ter sido adiantada uma parcela do pagamento, o contrato não é cumprido. Questão errada. 7- (Questão Inédita)- A performance bond será executada no contrato de compra e venda de mercadorias quando a mercadoria não for entregue, somente podendo ser exigida pelo contratante para que o contratado a apresente. Comentários: Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 16 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 9 de 68 Tanto o comprador (contratante) quanto o vendedor (contratado) poderão apresentar a performance bond. Ela será executada quando qualquer um deles não cumprir suas obrigações contratuais. Se o vendedor não fornecer as mercadorias ou fornecê-las fora das especificações, essa garantia será executada. Por sua vez, se o comprador não efetuar o pagamento dos valores previstos no contrato, essa garantia também será executada. Questão errada. 8- (AFRF-2002.2)- A modalidade de crédito documentário através do qual, na eventualidade de inadimplência ou recusa do comprador (importador), seja formalizada uma garantia bancária internacional, normalmente no valor de 20% (vinte por cento) da operação em favor do vendedor (exportador) como forma de ressarcimento de despesas incorridas pela não-quitação do Draft at Sight, é identificada como performance bond. Comentários: Em primeiro lugar, o que significa “draft at sight”? Não é difícil, meus amigos! Vocês se lembram de quando estudamos as modalidades de pagamentos internacionais? Pois bem, “draft at sight” é o mesmo que uma cobrança documentária à vista. Se o comprador não quitou o draft at sight, isto é, não pagou o valor cobrado pelo banco, a performance bond poderá ser executada. Lembre-se de que a performance bond é executada quando qualquer uma das partes não cumprir suas obrigações contratuais. Assim, poderá ser exigida tanto do vendedor quanto do comprador. O inadimplemento contratual por parte de qualquer um deles dá ensejo à execução da performance bond. Questão correta. 9- (CODESP-SP-2011)- A redação da cláusula de força maior é igual em todos os contratos, pois é estabelecida pela Câmara de Comércio Internacional. Comentários: A redação da cláusula de força maior varia de contrato para contrato. Questão errada. 10-(CODESP-SP-2011)-Objetivando regular modificações imprevisíveis que possam gerar desequilíbrios econômicos entre as partes, podem ser inseridas nos contratos de compra e venda internacionais cláusulas hardship. Comentários: Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 16 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 10 de 68 A cláusula de hardship serve para regular modificações imprevisíveis e inevitáveis que gerem desequilíbrios econômicos entre as partes, tornando o contrato substancialmente mais oneroso, porém exeqüível. Questão correta. 11- (CODESP-SP-2011)- Nos contratos estabelecidos com intervenção de empresas brasileiras, o fórum competente para resolver eventuais litígios, advindos do contrato, deverá estar situado no Brasil, independente da nacionalidade do outro outorgante. Comentários: É possível que litígios decorrentes de contratos celebrados por empresas brasileiras sejam apreciados pelo Poder Judiciário de outro Estado. Questão errada. 2- Convenção de Viena sobre o Contrato de Compra e Venda Internacional de mercadorias (CVIM): 2.1- Generalidades: A Convenção de Viena sobre o Contrato de Compra e Venda Internacional de Mercadorias (CVIM) foi celebrada em 1980 no âmbito da UNCITRAL (United Nations Comission on International Trade Law), estando em vigor desde 1988. A UNCITRAL é uma comissão das Nações Unidas que se dedica à reforma da legislação mercantil em nível mundial, tendo como objetivo modernizar e harmonizar as regras do comércio internacional. A CVIM é, nesse sentido, uma iniciativa da UNCITRAL, elaborada com o objetivo de uniformizar regras para os contratos de compra e venda internacional, tendo em vista a multiplicidade de legislações nacionais a reger o assunto. Atualmente, há 77 Estados-partes da CVIM, dentre os quais não se encontra o Brasil, que não assinou o referido instrumento internacional. Imagine você um contrato de compra e venda celebrado entre uma empresa alemã e uma empresa chinesa. Qual será a legislação aplicável a esse contrato? A legislação da Alemanha ou a legislação da China? O objetivo da CVIM é justamente evitar esse conflito de legislações, uniformizando as regras aplicáveis aos contratos de compra e venda internacional. Mas quais são as vantagens da utilização da CVIM? Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 16 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 11 de 68 Em primeiro lugar, a adoção de um diploma jurídico único no comércio internacional é algo que possibilita maior previsibilidade e segurança jurídica aos agentes econômicos, sejam eles compradores ou vendedores. Com efeito, quando alguém atua no comércio internacional, é de todo desejável que tenha familiaridade com a legislação aplicável a um contrato de compra e venda de mercadorias. Alguém aí conhece a legislação chinesa sobre contrato de compra e venda? Eu não faço a mínima ideia! Pois bem, imagine que uma empresa brasileira exporte mercadorias para a China e a esse contrato se aplique a legislação chinesa! Nesse caso, o exportador brasileiro não teria qualquer familiaridade com a legislação aplicável à sua operação e, portanto, entraria em um ambiente de insegurança jurídica. Seria muito melhor que fosse aplicada ao contrato uma lei que as duas partes conhecem, concordam? Essa “lei” seria a CVIM. Em segundo lugar, a utilização da CVIM não privilegia nenhum sistema jurídico, não impõecritérios a favor de países mais ou menos desenvolvidos e não cria organismos nacionais ou internacionais para a imposição de regras. Ressalte-se que a CVIM não envolve interesses governamentais (tarifas aduaneiras, barreiras comerciais, etc), mas tão somente interesses privados. Trata-se de norma aplicável a privados e que, como tal, não é de utilização obrigatória. Dessa forma, ainda que um Estado a tenha ratificado, os particulares não precisam utilizá-la caso não o queiram. Em outras palavras, a CVIM é uma convenção que não vincula os Estados nacionais. Em terceiro lugar, considerando-se que não haverá necessidade de contratação de profissionais especializados no direito de outros países, haverá redução do custo dos contratos e, consequentemente, maior rentabilidade das transações e desenvolvimento do comércio internacional. Por fim, vale ressaltar que a utilização da CVIM, ao proporcionar integração jurídica, facilita a integração econômica e a resolução mais rápida e eficaz para conflitos que envolvam contratos de compra e venda internacional de mercadorias. Pois bem, agora que já entendemos as vantagens da CVIM, vejamos algumas de suas principais disposições! 2.2- Princípios Fundamentais: A CVIM possui os seguintes princípios fundamentais, os quais estão dispersos em seu texto: i) autonomia da vontade; ii) princípio do caráter internacionais; iii) uniformidade; iv) boa-fé; v) informalidade; vi) neutralidade (não impõe critérios em favor de economias mais ou menos desenvolvidas). Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 16 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 12 de 68 A autonomia da vontade está explícita no art. 6º, que estabelece que as partes contratuais podem excluir a aplicação da Convenção de Viena a um contrato de compra e venda, assim como derrogar qualquer de suas disposições ou modificar-lhe os efeitos. O princípio do caráter internacional impõe que a interpretação dos institutos jurídicos mencionados na CVIM deve ser realizada abstraindo-se do sentido que lhes é concedido pelos ordenamentos jurídicos nacionais. Assim, ela não deve ser interpretado à luz do direito nacional, mas sim segundo a doutrina e jurisprudência internacionais. O princípio do caráter internacional está intimamente ligado ao princípio da uniformidade. Na interpretação da CVIM, o hermeneuta deve buscar aplicar valores jurídicos que permitam alcançar a universalidade a que se propõe a CVIM. Cabe destacar que a Convenção de Viena tem a difícil tarefa de uniformizar as regras aplicáveis aos contratos de compra e venda celebrados tanto por empresas de países onde vigora o direito codificado quanto por empresas onde vigora o “common law”. O art. 7º, parágrafo 1º, da CVIM deixa explícito os princípios da uniformidade e do caráter internacional: Artigo 7 (1) Na interpretação da presente Convenção ter-se-á em conta o seu caráter internacional bem como a necessidade de promover a uniformidade da sua aplicação e de assegurar o respeito da boa fé no comércio internacional. A CVIM tem como um dos seus principais objetivos a harmonização de regras aplicáveis aos contratos de compra e venda internacional, dispondo sobre seus mais variados aspectos: transporte, seguro, indenizações por violação contratual, propriedade industrial, transferência de risco, perdas e danos, juros, obrigações de vendedores e compradores, dentre outros. O princípio da boa fé, por sua vez, prevê que a interpretação da CVIM deve ser realizada considerando-se a conduta que se espera de um homem padrão médio. Em outras palavras, o princípio da boa fé representa a obrigação de razoabilidade na interpretação. A informalidade se evidencia no art. 11 da CVIM, que dispõe que “o contrato de compra e venda não tem de ser concluído por escrito nem de constar de documento escrito e não está sujeito a nenhum outro requisito de forma.” Ao contrário, o contrato poderá ser provado por qualquer meio, inclusive a prova testemunhal. A neutralidade guarda correlação com o princípio da uniformidade. O texto da Convenção de Viena, assim como sua interpretação, não estabelece tratamento diferenciado para países mais ou menos desenvolvidos. Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 16 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 13 de 68 2.3- Aplicação da Convenção de Viena sobre o Contrato de Compra e Venda Internacional de Mercadorias: Em que situações é aplicada a CVIM? A resposta a essa pergunta nos é dada pelo art. 1º da referida Convenção. Vejamos: “Art. 1º (1) Esta Convenção aplica-se aos contratos de compra e venda de mercadorias entre partes que tenham seus estabelecimentos em Estados distintos: (a) quando tais Estados forem Estados Contratantes; ou (b) quando as regras de direito internacional privado levarem à aplicação da lei de um Estado Contratante. (2) Não será levado em consideração o fato de as partes terem seus estabelecimentos comerciais em Estados distintos, quando tal circunstância não resultar do contrato, das tratativas entre as partes ou de informações por elas prestadas antes ou no momento de conclusão do contrato. (3) Para a aplicação da presente Convenção não serão considerados a nacionalidade das partes nem o caráter civil ou comercial das partes ou do contrato.” Interpretando-se o parágrafo 1º do dispositivo supracitado, chegamos à conclusão de que, como regra geral, a CVIM se aplica aos contratos de compra e venda de mercadorias (bens tangíveis móveis) celebrados entre partes que tenham estabelecimento em Estados diferentes, desde que ambos os Estados sejam partes contratantes da referida Convenção. Nesse caso, a CVIM será automaticamente aplicada, a menos que ambas as partes contratuais se manifestem de forma contrária. Imaginemos, para ilustrar a situação acima apresentada, dois países A e B, ambos partes-contratantes da CVIM. Se for celebrado um contrato de compra e venda de mercadorias entre uma empresa situada no país A e outra empresa situada no país B, a CVIM será a ele aplicável, a menos que eles se manifestem de forma contrária. A CVIM não dispõe sobre o conceito de “estabelecimento”. No entanto, a doutrina mais abalizada afirma que, para a caracterização de estabelecimento, não há necessidade de constituição de pessoa Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 16 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 14 de 68 jurídica. Nessa esteira, os elementos básicos do conceito de estabelecimento são a permanência e a regularidade das negociações realizadas no local. Outra possibilidade de aplicação da CVIM é “... quando as regras de direito internacional privado levarem à aplicação da lei de um Estado Contratante.” Para ilustrar a hipótese acima apresentada, imaginemos que é celebrado um contrato de compra e venda de mercadorias entre uma empresa situada no país A (parte contratante da CVIM) e uma empresa situada no país B (que não é parte contratante da CVIM). Imaginemos, ainda, que a legislação do país A estabeleça que aos contratos celebrados entre empresas estrangeiras e empresas situadas em seu território será aplicada sua legislação interna. Nesse caso, considerando que será aplicada a legislação do país A e que o país A é parte-contratante da CVIM, esta será aplicável ao caso in concretu. Ainda acerca da aplicação da CVIM, cabe destacar as regras estabelecidas pelos §2º e §3º do art.1º. O §2ºestabelece que “... não será levado em consideração o fato de as partes terem seus estabelecimentos comerciais em Estados distintos, quando tal circunstância não resultar do contrato, das tratativas entre as partes ou de informações por elas prestadas antes ou no momento de conclusão do contrato.” Desta feita, concluímos que, para que o contrato de compra e venda de mercadorias seja considerado internacional, deverá haver menção ao fato de que as partes possuem estabelecimentos comerciais em Estados distintos. Tal menção poderá ser feita no próprio contrato, nas tratativas entre as partes ou em informações por ela prestadas antes ou no momento da conclusão do contrato. O §3º estabelece, por sua vez, que para a aplicação da CVIM “... não serão considerados a nacionalidade das partes nem o caráter civil ou comercial das partes ou do contrato”. Assim, se duas empresas A e B tiverem a mesma nacionalidade, mas estiverem localizadas em Estados distintos, isso não irá retirar o caráter internacional do contrato que celebrarem. Da mesma forma, não importa a natureza jurídica das partes no contrato de compra e venda. O caráter internacional do contrato é determinado exclusivamente em função do local dos estabelecimentos das partes contratuais. Se as partes contratuais tiverem estabelecimento em Estados diferentes, o contrato será internacional; caso as partes contratuais tenham estabelecimento no mesmo Estado o contrato não será internacional. Outra pergunta importante: se o Brasil não ratificou a CVIM, por que a estudamos estudando? Ela pode ser aplicada a um contrato de compra e venda celebrado por empresa brasileira? Sim. A CVIM pode ser aplicada a um contrato de compra e venda celebrado por empresa brasileira na hipótese do art. 1º, parágrafo 1º, alínea b Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 16 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 15 de 68 (“quando as regras de direito internacional privado conduzirem à aplicação da lei de um Estado contratante”). A Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro (LIDB)2 estabelece, em seu art. 9º, que para qualificar e reger as obrigações, deverá ser aplicada a lei do país em que estas se constituírem (lex loci celebrationis). Adicionalmente, o art. 9º, § 2º da LIDB dispõe que a obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em que residir o proponente. Tendo em mente esse dispositivo, imagine um contrato de compra e venda celebrado entre uma empresa brasileira e uma empresa alemã e considere que a empresa alemã é a proponente (que faz a proposta!). Nesse caso, pelo art. 9º, § 2º da LIDB, o contrato em questão será regulado pela legislação alemã. Considerando que a Alemanha é signatária da CVIM, esta irá aplicar-se ao caso concreto. Cabe destacar o art. 95 da CVIM, que dispõe que “qualquer Estado pode declarar, no momento do depósito do seu instrumento de ratificação, de aceitação, de aprovação ou de adesão, que não ficará vinculado pela alínea "b" do parágrafo 1 do artigo 1º da presente Convenção.” Segundo esse dispositivo, os contratos de compra e venda celebrados por empresas com estabelecimento em um Estado que tenha apresentado reservas ao art. 1º, parágrafo 1º, alínea b da CVIM somente serão regidos pela referida Convenção se celebrados com empresas com estabelecimento em outro Estado contratante. A China, por exemplo, ao aderir à CVIM, apresentou reservas ao dispositivo supracitado. Suponha, então, que uma empresa chinesa (na condição de proponente) celebre um contrato com uma empresa brasileira. Segundo o art. 1º, parágrafo 1º, alínea b, a CVIM seria aplicável a esse contrato. No entanto, como a China apresentou reservas a esse dispositivo, a lei reguladora do contrato será a lei chinesa (aplicação do art. 9º, § 2º da LIDB). 2.4- Não-aplicação da Convenção de Viena sobre o Contrato de Compra e Venda Internacional de Mercadorias: Há certos tipos de contratos de compra e venda aos quais não se aplica a CVIM. Vejamos o teor do art. 2º da Convenção de Viena! Art. 2º - A presente Convenção não regula as vendas: (a) de mercadorias compradas para uso pessoal, familiar ou doméstico, a menos que o vendedor, em qualquer momento 2 A Lei de Introdução às normas do direito brasileiro é a principal norma de direito internacional privado do ordenamento jurídico brasileiro. Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 16 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 16 de 68 anterior à conclusão do contrato ou na altura da conclusão deste, não soubesse nem devesse saber que as mercadorias eram compradas para tal uso; (b) em leilão; (c) em processo executivo; (d) de valores mobiliários, títulos de crédito e moeda; (e) de navios, barcos, hovercraft e aeronaves; (f) de eletricidade. São basicamente dois motivos que levam à inaplicabilidade da Convenção de Viena. O primeiro é em razão do objetivo do comprador; o segundo diz respeito à natureza do objeto contratual. Quanto ao objetivo do comprador, cabe destacar que se as mercadorias forem compradas para uso não-profissional (pessoal, familiar ou doméstico), a compra e venda não poderá ser regulada pela CVIM. Da mesma forma, se as mercadorias foram adquiridas em leilão ou processo executivo não será aplicada a CVIM. Em relação à natureza do objeto contratual, há alguns bens cuja compra e venda não pode ser regulada pela CVIM. São eles: i) os valores mobiliários, títulos de crédito e moeda; ii) navios, barcos, hovercrafts e aeronaves e; iii) eletricidade. O art. 3º da CVIM reconhece a aplicabilidade da Convenção também aos contratos que envolvam a compra e venda de mercadorias a serem fabricadas ou produzidas. No entanto, a CVIM não se aplica quando o comprador tiver que fornecer uma parte essencial dos elementos materiais necessários para a produção da mercadoria. É o caso em que, por exemplo, o comprador fornece toda a madeira a ser utilizada na produção de determinados móveis. Com efeito, é possível perceber que, nessa situação, o vendedor está ofertando um serviço ao comprador, ficando caracterizado um contrato de prestação de serviços (e não uma compra e venda de mercadorias!). 2.5- Formação do Contrato: A Convenção de Viena dispõe, em sua segunda parte, sobre a formação do contrato de compra e venda internacional. Inicialmente, cabe destacar que, segundo a CVIM, o contrato de compra e venda de Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 16 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 17 de 68 mercadorias conclui-se no momento em que a aceitação da proposta contratual se torna eficaz. O conceito de proposta contratual está definido no art. 14 da CVIM. Segundo o referido dispositivo, proposta contratual é uma proposta destinada a uma ou mais pessoas que, além de ser suficientemente precisa, indica a vontade de seu autor de a ela vincular-se em caso de aceitação. Considera-se que uma proposta é suficientemente precisa quando ela designa as mercadorias e, expressa ou implicitamente, fixa a quantidade e o preço ou dá indicações que permitam determiná-los. Se uma proposta for dirigida a pessoas indeterminadas (um panfleto ou e-mail promocional, por exemplo), ela é considerada apenas um convite para contratar, a menos que a pessoa que fez a proposta tenha indicado claramente o contrário. Mas quando é que uma proposta se torna eficaz?Uma proposta comercial se torna eficaz quando chega ao seu destinatário. É possível, todavia, que uma proposta comercial, ainda que irrevogável, seja retirada, desde que a retratação chegue ao destinatário antes ou ao mesmo tempo da proposta. Cabe destacar também que, até o momento da conclusão de um contrato, uma proposta comercial poderá ser revogada, desde que a revogação chegue ao destinatário antes de este ter expedido uma aceitação. Quando uma proposta comercial chega ao destinatário, ela poderá ser rejeitada ou aceita. A rejeição, ao chegar ao proponente, tem como efeito a extinção da proposta comercial. Por sua vez, a aceitação, ao chegar ao proponente, torna-se eficaz e materializa a conclusão do contrato de compra e venda. Nos termos do art. 18, parágrafo 1º, da CVIM, a aceitação poderá ser expressa ou tácita. Será expressa quando houver uma declaração do destinatário da proposta comercial; será tácita quando o destinatário da proposta adotar comportamento que evidencie o seu assentimento. A aceitação também poderá ser retirada, desde que a retratação chegue ao proponente antes ou no momento em que a aceitação teria se tornado eficaz. Para visualizarmos a formação de um contrato de compra e venda internacional regulado pela CVIM, nada melhor do que um exemplo! Consideremos, como informação inicial, que Alemanha e França ratificaram a CVIM. A empresa A (com estabelecimento situado na Alemanha) Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 16 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 18 de 68 inicia negociações com uma empresa B (com estabelecimento situado na França). Após as negociações, a empresa A emite uma proposta comercial tendo como destinatária a empresa B e a envia por meio dos correios. Ocorre que a proposta é extraviada e não chega à destinatária. Poderemos, então, considerá-la uma proposta eficaz? Não, a proposta comercial somente se torna eficaz quando chega ao destinatário. Suponha, entretanto, que a proposta comercial tenha chegado à empresa B e, portanto, se tornado eficaz. Nessa situação, a empresa A poderá retirar a proposta? Também não! A proposta comercial somente pode ser retirada se a retratação chegar antes ou ao mesmo tempo que a proposta. No entanto, é possível que a empresa A revogue a proposta comercial, desde que o faça antes de a empresa B ter expedido a aceitação. Se a empresa B aceitar a proposta comercial e esta aceitação chegar à empresa A, o contrato de compra e venda reputa-se constituído. Todavia, caso a empresa B rejeite a proposta comercial, esta será extinta. Caso a empresa B tenha aceitado a proposta, mas dela desista a posteriori, terá que correr contra o tempo. Para retirar a aceitação, a retratação da empresa B deverá chegar à empresa A antes ou no momento em que a aceitação teria se tornado eficaz. 2.6- Obrigações do comprador e vendedor: A Convenção de Viena sobre o Contrato de Compra e Venda Internacional de Mercadorias (CVIM) teve como objetivo central a uniformização de regras sobre compra e venda de mercadorias. Para alcançar esse objetivo, ela dispõe, em sua terceira parte, sobre as regras gerais aplicáveis a esse tipo de contrato, tecendo considerações sobre as obrigações das partes contratuais. Segundo o art. 30 da CVIM, são obrigações do vendedor entregar as mercadorias, transferir a propriedade sobre elas e, se for o caso, remeter os documentos que se lhe referem. O art. 53 da CVIM, por sua vez, dispõe que são obrigações do comprador pagar o preço e aceitar a entrega das mercadorias. Vejamos como esse assunto pode ser cobrado em prova! Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 16 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 19 de 68 12- (AFRFB-2009)- A Convenção de Viena sobre contratos de Compra e Venda Internacional de Mercadorias (CVIM) é instrumento jurídico que vincula Estados Nacionais em torno do objetivo de harmonizar internacionalmente as fórmulas que definem as obrigações e direitos dos exportadores e importadores em torno da comercialização de um bem internacionalmente. Comentários: A CVIM não vincula Estados Nacionais. Dessa forma, ainda que um Estado tenha ratificado a CVIM, as empresas desse Estado poderão deixar de utilizá-la caso assim desejem. Questão errada. 13- (AFRFB-2009)- A Convenção de Viena sobre contratos de Compra e Venda Internacional de Mercadorias (CVIM), firmada no âmbito da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), estabelece procedimentos padrões para a celebração de contratos comerciais internacionais entre agentes privados. Comentários: A CVIM foi celebrada no âmbito da UNCITRAL, que é uma comissão das Nações Unidas destinada a promover o aperfeiçoamento e a evolução do direito do comércio internacional. Questão errada. 14- (AFRFB-2009)- A Convenção de Viena sobre contratos de Compra e Venda Internacional de Mercadorias (CVIM), celebrada no âmbito da Câmara Internacional de Comércio (CCI), é instrumento de direito privado que rege os atos administrativos e jurídicos que envolvem a transferência da propriedade da mercadoria transacionada internacionalmente. Comentários: A CVIM foi celebrada no âmbito da UNCITRAL. A CCI é uma organização não-governamental, de caráter privado, responsável pela criação dos INCOTERMS. Estudaremos sobre os INCOTERMS mais à frente, ainda na aula de hoje. Questão errada. 15- (AFRFB-2009)- A Convenção de Viena sobre contratos de Compra e Venda Internacional de Mercadorias (CVIM), firmada no âmbito das Nações Unidas, uniformiza as regras sobre compra e venda de Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 16 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 20 de 68 mercadorias, envolvendo aspectos como transporte, seguro, transferência de riscos, propriedade industrial, pagamentos e indenizações por não cumprimento de obrigações, mercadoria avariada, danos e prejuízos. Comentários: O principal objetivo da CVIM é a harmonização das regras aplicáveis aos contratos de compra e venda internacional, em seus diversos aspectos. Questão correta. 16- (Questão Inédita)- Na interpretação dos institutos jurídicos definidos pela Convenção de Viena sobre o Contrato de Compra e Venda Internacional (CVIM), o hermeneuta deve abstrair-se do sentido que lhes é dado pelos ordenamentos jurídicos nacionais, levando em consideração o caráter internacional da referida Lei Modelo. Comentários: De acordo com o princípio do caráter internacional, a CVIM não deve ser aplicada à luz do direito nacional, mas sim segundo a doutrina e jurisprudência internacionais. Questão correta. 17- (Questão Inédita)- Nos termos da CVIM, o caráter internacional de um contrato de compra e venda de mercadorias independe do local dos estabelecimentos das partes contratuais. Comentários: O local de estabelecimento das partes contratuais é fundamental na determinação do caráter internacional de um contrato de compra e venda. Questão errada. 18- (Questão Inédita)- Nos termos da CVIM, considera-se concluído um contrato de compra e venda internacional de mercadorias quando a proposta comercial torna-se eficaz. Comentários: Segundo a CVIM, o contrato de compra e venda internacional de mercadorias considera-se concluído no momento em que a aceitação da proposta comercial se torna eficaz. Questão errada. 19- (Questão Inédita)- A CVIMé utilizada para regular contratos internacionais de compra e venda de bens tangíveis, inclusive quando o comprador fornecer uma parte essencial dos elementos materiais necessários para a produção desses bens. Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 16 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 21 de 68 Comentários: A CVIM não se aplica quando o comprador tiver que fornecer uma parte essencial dos elementos materiais necessários para a produção da mercadoria. Questão errada. 20- (Questão Inédita)- Nos termos da CVIM, são considerados de compra e venda os contratos de fornecimento de mercadorias a fabricar ou a produzir, a menos que o contratante que as encomende tenha de fornecer uma parte essencial dos elementos materiais necessários para o fabrico ou produção. Comentários: Os contratos de fornecimento de mercadorias a fabricar ou produzir são considerados contratos de compra e venda, a eles se aplicando a CVIM. No entanto, a CVIM não será aplicada quando o contratante que encomendar as mercadorias tiver que fornecer uma parte essencial dos elementos materiais necessários para sua produção. Questão correta. 3- TERMOS INTERNACIONAIS DE COMÉRCIO (INCOTERMS): 3.1- Generalidades: Quando é celebrado um contrato internacional de compra e venda de mercadorias, várias cláusulas devem ser decididas pelas partes contratuais (importador e exportador). Será necessário determinar onde serão entregues as mercadorias ao importador, se será contratado um seguro da carga ou, ainda, quem procederá ao desembaraço aduaneiro. Dessa forma, a celebração de um contrato dessa natureza não é tarefa simples, a ela devendo ser concedida especial atenção, uma vez que as cláusulas contratuais, além de se refletirem na formação do preço das mercadorias, permitem que as partes possam usufruir de maior segurança jurídica. Os INCOTERMS (International Commercial Terms) foram criados pela Câmara de Comércio Internacional (CCI) em 1936 justamente com o objetivo de simplificar a celebração de contratos internacionais de compra e venda. Trata-se de fórmulas contratuais que definem as obrigações de vendedores e compradores nesse tipo de contrato. Ao invés de se utilizar várias cláusulas contratuais, definindo as responsabilidades do exportador e do importador em cada fase da cadeia logística, é muito fácil uma única formula que resuma tudo em poucas letras. Essa é a lógica dos INCOTERMS! Cabe destacar que os INCOTERMS não se aplicam aos contratos de prestação de serviços, mas apenas aos contratos de compra e venda de mercadorias. Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 16 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 22 de 68 Suponha que seja celebrado um contrato de compra e venda entre uma empresa brasileira (importadora) e uma empresa estrangeira (exportadora). Por óbvio, será necessário que eles definam onde ocorrerá a entrega da mercadoria e quais custos serão responsabilidade de cada um. Pode ser estabelecido, por exemplo, que a mercadoria será considerada entregue pelo vendedor ao comprador a bordo do navio no porto de embarque e que, além disso, o vendedor irá arcar com o frete e seguro internacionais. Ao invés de especificar todas essas cláusulas no contrato de compra e venda, basta que vendedor e comprador digam que será usado o INCOTERM CIF (Cost, Insurance and Freight). Tudo ficou, sem dúvida alguma, muito mais fácil! A Câmara de Comércio Internacional (CCI) é uma organização não-governamental de amplitude global que tem como objetivos promover o comércio internacional e o crescimento econômico, representando o setor empresarial junto aos governos. Para alcançar seus objetivos, a CCI, dentre outras ações, atua na criação de regras uniformes para reger as relações comerciais. Dentre essas regras, estão os INCOTERMS. Em virtude de serem criados por uma organização não- governamental, os INCOTERMS não são de utilização obrigatória, ou seja, são usados facultativamente pelas partes em um contrato de compra e venda de mercadoria. Eles não são normas internacionais, mas apenas um conjunto consolidado e padronizado dos usos e costumes alfandegários e de entrega utilizados no mundo.3 Mas se não são obrigatórios, os INCOTERMS possuem algum valor jurídico? Sim. Apesar de serem de utilização facultativa, os INCOTERMS possuem valor jurídico quando mencionados em um contrato de compra e venda internacional. Se as partes contratuais definiram que irão utilizar um INCOTERM para regular as obrigações que regem um determinado contrato, elas passam automaticamente a estarem vinculadas a essa fórmula contratual. Essa vinculação decorre de dois princípios gerais da teoria dos contratos: o princípio “pacta sunt servanda” e o princípio “lex inter partes”. Além de definirem as obrigações de compradores e vendedores em contratos internacionais de compra e venda de mercadorias, os INCOTERMS também são usados como forma de padronizar as estatísticas nacionais e internacionais de comércio. Nesse sentido, as estatísticas das exportações são usualmente apresentadas em base FOB, ao passo que as estatísticas das importações são apresentadas em base CIF (valor acrescido do seguro e do frete internacional). 3 KEEDI, Samir. Transportes, Unitização e Seguros Internacionais de Carga. 5ª edição, Ed Aduaneiras, 2011. Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 16 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 23 de 68 A primeira versão dos INCOTERMS foi criada em 1936. Posteriormente, seguiram-se diversas outras revisões, as quais chegaram ao número de 7 (sete); 1953, 1967, 1976, 1980, 1990, 2000 e 2010. As sucessivas revisões dos INCOTERMS existem em virtude da necessidade de que as regras comerciais acompanhem a evolução das relações comerciais entre os países. Levando-se em consideração que os INCOTERMS não são normas internacionais, uma versão mais atual não revoga a anterior. Dessa forma, todas as versões dos INCOTERMS, mesmo as mais antigas, ainda podem se utilizadas em um contrato de compra e venda internacional de mercadorias. Para isso, basta que as partes deixem explícito no contrato qual será a versão dos INCOTERMS aplicável. Caso as partes contratuais não especifiquem qual versão está sendo utilizada, poderá haver dúvidas de interpretação, prejudicando a segurança jurídica da operação. Os INCOTERMS também podem ser objeto de alteração pelas partes contratuais, desde que elas entrem em acordo. Nesse sentido, é possível que sejam efetuados aditamentos ou reduções nas atribuições do vendedor ou do comprador. Por exemplo, o INCOTERM EXW determina que o desembaraço de exportação será feito pelo importador. No entanto, por razões burocráticas, isso pode ser complexo. Assim, os contratantes podem determinar que o INCOTERM a ser utilizado será o EXW mas que, adicionalmente, o exportador será responsável pelo desembaraço de exportação. O conhecimento exato dos INCOTERMS é fundamental para a logística de uma operação de comércio exterior, pois define o momento em que o vendedor transfere ao comprador as responsabilidades quanto aos custos e riscos. A transferência da responsabilidade quanto aos riscos ocorre no momento em que o vendedor entrega a mercadoria no local definido pelas partes. Já a transferência da responsabilidade quanto aos custos, efetiva-se quandocessam as obrigações de custeio que couberem ao vendedor. A depender do INCOTERM utilizado, o momento em que é transferida a responsabilidade quanto aos riscos não coincide com o momento em que é transferida a responsabilidade quanto aos custos. INCOTERMS Criados em 1936 pela CCI Definem as obrigações de vendedores e compradores em um contrato de compra e venda internacional de mercadorias São utilizados facultativamente, mas, quando mencionados em um contrato, vinculam as partes. Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 16 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 24 de 68 Os INCOTERMS também são importantes para a determinação do preço das mercadorias. Com efeito, cada cláusula contratual nos permite identificar os elementos que compõe o preço de uma mercadoria. Ao usar a cláusula contratual CIF (Cost Insurance and Freight), por exemplo, sabe-se que ao preço da mercadoria deverá ser somado o valor do frete e seguro internacionais. Em virtude disso, os INCOTERMS são conhecidos como “cláusulas de preço”. Destaque-se, ainda, que, ao proceder a escolha dos INCOTERMS, exportadores e importadores deverão observar as especificidades da legislação interna de seus países. Imaginem, por exemplo, que um contrato seja formalizado baseando-se no INCOTERM Ex Works. Nessa fórmula contratual, quem realiza o desembaraço para exportação é o comprador. Pode existir alguma norma no país de origem da mercadoria que não permita que uma empresa estrangeira realize o despacho para exportação ou mesmo proceda ao licenciamento da operação. Nessa situação, o INCOTERM Ex-Works não poderá ser utilizado. 3.2- INCOTERMS 2010: Passaremos agora a estudar especificamente cada uma fórmulas contratuais previstas na versão INCOTERMS 2010. Quando oportuno, faremos remissão também a alguns INCOTERMS da versão anterior, para fins de comparação e de entendimento do que foi alterado com a nova publicação da CCI. A versão INCOTERMS 2010, publicada pela CCI, possui uma introdução e, logo em seguida, uma explicação de cada termo. Antes de cada termo, há notas de orientação (guidance notes), as quais visam a orientar vendedores e compradores na escolha do INCOTERM mais adequado à operação pretendida. Uma modificação importante na versão INCOTERMS 2010 é que ela afirma explicitamente que as notas de orientação (guidance notes) e a introdução não integram a estrutura dos INCOTERMS, possuindo caráter de meras orientações 4. Além disso, na versão INCOTERMS 2010, o texto deixa explícito que as fórmulas contratuais nele previstas podem ser usadas tanto em contratos de compra e venda internacionais como em contratos de compra e venda domésticos. O objetivo é permitir que as empresas, ao usar 4 KEEDI, Samir. Transportes, Unitização e Seguros Internacionais de Carga. 5ª edição, Ed Aduaneiras, 2011. Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 16 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 25 de 68 os INCOTERMS em contratos domésticos, possam se acostumar com sua utilização. Destaque-se que essa previsão não existia na versão INCOTERMS 2000. Vamos ao estudo de cada um dos INCOTERMS da versão 2010! 3.2.1- EXW (Ex Works- named place of delivery): O termo EXW é o que representa maior nível de obrigações ao comprador e, simultaneamente, o menor nível de obrigações para o vendedor. Quando esse INCOTERM é utilizado, o vendedor se compromete a disponibilizar a mercadoria ao comprador em seus próprios domínios (nas suas próprias instalações). Em outras palavras, as obrigações do vendedor se encerram no momento em que ele acondiciona a mercadoria na embalagem de transporte. Costuma-se dizer que, no INCOTER EXW, a mercadoria é entregue pelo vendedor ao comprador no “chão da fábrica” e, a partir daí, todas as despesas serão de responsabilidade do comprador. O comprador deverá arcar até mesmo com as despesas de carregamento no veículo transportador. Nos INCOTERMS em geral, o desembaraço aduaneiro de exportação será sempre de responsabilidade do exportador (vendedor), enquanto o desembaraço aduaneiro de importação será de responsabilidade do importador (comprador). No entanto, para o INCOTERM EXW, até mesmo o desembaraço aduaneiro de exportação será de responsabilidade do importador (comprador). Esse é o único INCOTERM em que isso ocorre! Ao vincular esse termo em um contrato de compra e venda, é necessário que se identifique explicitamente onde será entregue a mercadoria, ou seja, deverá ser nomeado um local de entrega na origem. O INCOTERM EXW pode ser usado para qualquer tipo de transporte ou mesmo para o transporte multimodal. 3.2.2- FCA (Free Carrier - named place of delivery): O termo FCA (Free Carrier) impõe a obrigação de que o vendedor entregue a mercadoria ao transportador, seja na propriedade do próprio vendedor ou em outro local designado. A partir daí, todos os custos e riscos irão correr por conta do comprador. Teremos, então, duas situações possíveis: Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 16 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 26 de 68 - Mercadorias entregues ao transportador no estabelecimento do vendedor: as despesas de carregamento do veículo serão responsabilidade do vendedor. - Mercadorias entregues em outro local designado: o vendedor entregará as mercadorias prontas para serem desembarcadas. Percebe-se que, nesse caso, o vendedor embarcou as mercadorias em um veículo e levou-as a um local designado. Nesse local, as despesas de descarregamento serão de responsabilidade do comprador. No INCOTERM FCA, o desembaraço aduaneiro de exportação fica por conta do vendedor (exportador) e o desembaraço aduaneiro de importação será responsabilidade do comprador (importador). Dessa forma, a execução das formalidades alfandegárias e o pagamento dos direitos aduaneiros são de responsabilidade do vendedor. O FCA pode ser utilizado em qualquer modo de transporte ou mesmo para o transporte multimodal. 3.2.3- FAS (Free Alongside Ship – named port of shipment): O termo FAS (Free Alongside Ship) estabelece que as mercadorias deverão ser entregues pelo vendedor ao comprador ao lado do navio no porto de embarque nomeado. A partir daí, todas as despesas e riscos serão de responsabilidade do comprador. Considerando que a mercadoria é entregue ao lado do navio, as despesas de carregamento deste serão de responsabilidade do comprador. O FAS pode ser utilizado apenas para o transporte marítimo ou hidroviário interior (o próprio nome já nos indica isso!). O desembaraço aduaneiro de exportação é responsabilidade do exportador e o desembaraço aduaneiro de importação fica por conta do importador. 3.2.4- FOB (Free on Board- named port of shipment): Na versão INCOTERMS 2000, esse termo estabelecia que a mercadoria seria considerada entregue ao comprador no momento em que ela “transpusesse a amurada do navio” no porto de embarque. Essa redação gerava alguns problemas e dificuldades de interpretação. Em razão disso, o termo FOB foi alterado na revisão INCOTERMS 2010. Segundo a versão INCOTERMS 2010, o termo FOB impõe ao vendedor a obrigação de entregar a mercadoria ao vendedor a bordo Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 16 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br27 de 68 do navio designado pelo comprador, no porto de embarque. A partir desse momento, é transferida toda a responsabilidade pelos custos e riscos do vendedor ao comprador. O INCOTERM FOB somente pode ser utilizado para o transporte marítimo ou hidroviário interior. O desembaraço aduaneiro de exportação fica a cargo do exportador (vendedor), enquanto o desembaraço aduaneiro de importação é responsabilidade do importador (comprador). 3.2.5- CPT (Carriage Paid To – named place of destination): O INCOTERM CPT (Carriage Paid To) estabelece que o vendedor deverá entregar a mercadoria ao transportador no local acordado e, além disso, arcar com as despesas referentes ao frete internacional até um local designado. Quando esse termo é usado em um contrato de compra e venda, pode-se identificar que a transferência da responsabilidade quanto aos riscos ocorre em momento diverso da transferência da responsabilidade quanto aos custos. A responsabilidade quanto aos riscos é transferida pelo vendedor ao comprador no momento em que a mercadoria é entregue ao transportador no local acordado. Já a responsabilidade quanto aos custos persiste com o vendedor até a chegada ao local de destino. Um detalhe importante: o local nomeado, que acompanha o INCOTERM CPT, não é onde a mercadoria será entregue ao transportador, mas sim até onde o frete internacional será pago. Dessa forma, quando se usa o INCOTERM CPT- Porto de Santos, significa que o frete será pago até o Porto de Santos e, ainda, que esse porto está situado no país de destino (país importador). Essa é uma particularidade dos INCOTERMS do Grupo “C”! O termo CPT pode ser utilizado para qualquer tipo de transporte, inclusive o multimodal. O desembaraço aduaneiro de exportação será de responsabilidade do vendedor (exportador); por sua vez, o desembaraço aduaneiro de importação será de responsabilidade do comprador (importador). 3.2.6- CIP (Carriage and Insurance Paid To - named place of destination): O INCOTERM CIP é bem similar ao CPT. Nele, o vendedor tem a obrigação de entregar a mercadoria ao transportador no local Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 16 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 28 de 68 acordado e, além disso, arcar com as despesas referentes ao frete e ao seguro internacionais. Nesse termo, a transferência da responsabilidade quanto aos riscos também ocorre em momento diferente ao da transferência da responsabilidade quanto aos custos. A responsabilidade quanto aos riscos encerra-se no momento da entrega da mercadoria ao transportador; a responsabilidade quantos aos custos, no momento em que a mercadoria chega ao local de destino. Alguém poderia perguntar: “Se o vendedor tem que pagar o seguro internacional, a responsabilidade quanto aos riscos é mesmo transferida no momento da entrega da mercadoria ao transportador?” Sim. De fato, o vendedor deve contratar o seguro internacional. No entanto, a apólice de seguro tem como beneficiário o comprador. Essa é a maior prova de que a responsabilidade quanto aos riscos se transfere no momento da entrega da mercadoria ao transportador. Cabe destacar que o seguro internacional contratado pelo vendedor deverá possuir a cobertura mínima (que equivale a 110% do valor da operação!) Assim como no INCOTERM CPT, o local nomeado será o local de destino da mercadoria, até onde o frete e o seguro internacional serão pagos. Dessa maneira, se estiver previsto em um contrato o INCOTERM CIP – Porto de Paranaguá, isso significa que o frete e o seguro internacionais serão pagos até esse porto e que trata-se de uma importação brasileira. O termo CIP pode ser utilizado em qualquer tipo de transporte, inclusive o multimodal. O desembaraço aduaneiro de exportação será de responsabilidade do vendedor (exportador), enquanto o desembaraço aduaneiro de importação ficará por conta do comprador (importador). 3.2.7- CFR (Cost and Freight – named port of destination): A versão INCOTERMS 2000 (versão anterior) dispunha que, no termo CFR, a mercadoria se considerava entregue ao comprador no momento em que “transpunha a amurada do navio” no porto de embarque. Como essa redação gerava dúvidas e polêmicas de interpretação, o INCOTERM CFR foi alterado na nova versão. Na versão INCOTERMS 2010, o termo CFR estabelece que o vendedor deverá entregar a mercadoria ao comprador a bordo do navio no porto de embarque e, adicionalmente, arcar com as despesas de frete até o porto de destino. Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 16 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 29 de 68 Quando se usa esse INCOTERM, há dois pontos críticos, isto é, a responsabilidade quanto aos custos é transferida em local diverso ao da transferência da responsabilidade quanto aos riscos. A responsabilidade do vendedor quanto aos riscos cessa no momento em que ele entrega a mercadoria a bordo do navio no porto de embarque. Já a responsabilidade quanto aos custos se encerra com a chegada da mercadoria ao porto de destino designado. O local nomeado será o porto de destino da mercadoria, até onde o vendedor deverá arcar com o frete internacional. Aproveitando a oportunidade, vamos a uma rápida comparação entre os termos CFR e FOB, no que diz respeito ao local nomeado. Vamos lá! - CFR – Porto de Santos: Nesse caso, o Porto de Santos é o local de destino das mercadorias. Trata-se de uma importação brasileira. - FOB – Porto de Santos: Aqui, o Porto de Santos é o local onde a mercadoria será embarcada com destino ao exterior. Trata-se de uma exportação brasileira. O termo CFR somente pode ser utilizado no transporte aquaviário. Mais uma vez, o desembaraço aduaneiro de exportação cabe ao vendedor, enquanto o desembaraço aduaneiro de importação compete ao comprador. 3.2.8- CIF (Cost, Insurance and Freight – named port of destination): O termo CIF também teve a redação alterada em relação à versão anterior, cabendo ao vendedor entregar a mercadoria ao comprador a bordo do navio no porto de embarque e, adicionalmente, arcar com as despesas referentes ao frete e ao seguro internacionais. Nesse INCOTERM, também há dois momentos distintos quanto à transferência de responsabilidades. A responsabilidade quanto aos riscos é transferida após a entrega da mercadoria a bordo do navio; por sua vez, a responsabilidade do vendedor quanto aos custos se encerra com a chegada da mercadoria no porto de destino. O seguro internacional contratado pelo vendedor deverá ter a cobertura mínima, o que equivale a 110% do valor da operação. O local nomeado será o porto de destino da mercadoria, que será até onde o vendedor arcará com as despesas de frete e seguro internacionais. O termo CIF somente pode ser utilizado no transporte aquaviário (marítimo ou hidroviário interior). Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 16 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 30 de 68 O desembaraço aduaneiro de exportação será responsabilidade do vendedor (exportador), enquanto o desembaraço aduaneiro de importação caberá ao comprador (importador). 3.2.9- DAT (Delivered at Terminal – named terminal at port or place of destination): O termo DAT (Delivered at Terminal) é uma novidade do INCOTERMS 2010 em relação à versão anterior. Ele substituiu o termo DEQ (Delivered Ex Quay), que impunha ao vendedor a obrigação de entregar a mercadoria no cais,isto é, em um terminal portuário. Com a introdução do INCOTERM DAT, passa a ser possível a entrega da mercadoria também em um terminal externo. Por meio desse termo, o vendedor entrega as mercadorias ao comprador em um terminal nomeado, já desembarcadas do veículo transportador. Considera-se terminal “qualquer local, coberto ou não, como um cais, armazém, pátio de contêiner ou terminal de carga rodoviário, ferroviário ou aéreo”. 5 Esse INCOTERM pode ser utilizado em qualquer tipo de transporte, inclusive o multimodal. Na exportação, os trâmites aduaneiros serão de responsabilidade do vendedor, enquanto na importação caberão ao comprador. 3.2.10- DAP (Delivered at Place – named place of destination): O termo DAP (Delivered at Place) também é uma inovação da versão INCOTERMS 2010, tendo substituído os termos DAF, DES e DDU. Vejamos rapidamente o que dispõem esses INCOTERMS da versão anterior: - DAF (Delivered at Frontier): o vendedor entrega a mercadoria embarcada no veículo transportador no ponto de fronteira designado, mas antes da divisa alfandegária do país de destino. - DES (Delivered Ex Ship): o vendedor entrega a mercadoria ao comprador a bordo do navio no porto de destino. - DDU (Delivered Duty Unpaid): o vendedor entrega a mercadoria no estabelecimento do comprador, não desembarcada do veículo transportador. 5 KEEDI, Samir. Transportes, Unitização e Seguros Internacionais de Carga. 5ª edição, Ed Aduaneiras, 2011. Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 16 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 31 de 68 O INCOTERM DAP, por sua vez, impõe que o vendedor deverá entregar a mercadoria em um local de destino nomeado, ainda embarcada no veículo transportador. Esse destino poderá ser um porto, um ponto de fronteira ou até o estabelecimento do comprador. Se a mercadoria for entregue em um porto embarcada no navio que a transportou, o DAP estará cumprindo a função do antigo DES. Já se a mercadoria for entregue em um ponto de fronteira, ele cumprirá a função do DAF. Por último, se a entrega for no estabelecimento do comprador, será cumprida a função do antigo DDU. Esse termo poderá ser utilizado em qualquer tipo de transporte, inclusive o multimodal. O desembaraço de exportação caberá ao vendedor e o desembaraço de importação ficará por conta do comprador. 3.2.11- DDP (Delivered Duty Paid – named place of destination): Enquanto o termo EXW (Ex Works) apresenta o maior nível de obrigações para o comprador, o termo DDP (Delivered Duty Paid) é o que apresenta maiores responsabilidades para o vendedor. Esse INCOTERM estabelece que o vendedor deverá entregar a mercadoria no local de destino designado, embarcada no veículo transportador e, além disso, arcar com o pagamento dos direitos aduaneiros. Destaque-se que o local de destino designado poderá ser o estabelecimento do comprador. O DDP poderá ser utilizado em qualquer tipo de transporte, inclusive o multimodal. Tanto o desembaraço aduaneiro de exportação quanto o desembaraço aduaneiro de importação serão de responsabilidade do vendedor (exportador). Em razão disso, considera-se que, no DDP, a mercadoria é entregue ao comprador já desembaraçada para importação. 3.2.12- Classificação dos INCOTERMS: Conforme já estudamos, na versão INCOTERMS 2010, há 11 termos contratuais, os quais podem ser divididos da seguinte forma6: 6 A classificação que apresentamos baseia-se no entendimento de Samir Keedi, um dos maiores especialistas brasileiros no assunto e que, inclusive, atuou diretamente na elaboração dos INCOTERMS 2010. Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 16 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 32 de 68 a) Divisão em Grupos por Modos de Transporte: Há INCOTERMS que podem ser utilizados apenas no transporte aquaviário; outros INCOTERMS podem ser utilizados para qualquer modal de transporte ou até mesmo transporte multimodal. Podem ser utilizados apenas no transporte aquaviário os seguintes termos: FAS (Free Alongside Ship), FOB (Free on Board), CFR (Cost and Freight) e CIF (Cost, Insurance and Freight). Podem ser utilizados em qualquer tipo de transporte ou no transporte multimodal os seguintes termos: EXW (Ex Works), FCA (Free Carrier), CPT (Carriage Paid To), CIP (Carriage and Insurance Paid To), DAT (Delivered at Terminal), DAP (Delivered at Place) e DDP (Delivered Duty Paid) b) Divisão em Grupos para Seguro: Há apenas dois INCOTERMS em que há obrigação de contratação do seguro. São os termos contratuais CIF (Cost, Insurance and Freight) e CIP (Cost and Insurance Paid To), os quais impõem ao vendedor a contratação do seguro internacional. Nos outros 9 (nove) INCOTERMS, poderá haver contratação de seguro internacional, mas este não será obrigatório. c) Divisão em Grupos para Entrega: Quanto ao local de entrega, os INCOTERMS podem ser divididos em quatro grupos, cada um deles tendo como inicial uma letra (E, F, C e D). Os INCOTERMS iniciados com as letras E, F e C são utilizados em contratos de partida; os INCOTERMS iniciados com a letra D são utilizados em contratos de chegada. Assim, temos a seguinte divisão: - Grupo E: EXW (Ex Works) - Grupo F: FCA (Free Carrier), FAS (Free Alongside Ship) e FOB (Free on Board). - Grupo C: CPT (Carriage Paid To), CIP (Carriage and Insurance Paid To), CFR (Cost and Freight), CIF (Cost, Insurance and Freight) - Grupo D: DAT (Delivered at Terminal), DAP (Delivered at Place) e DDP (Delivered Duty Paid). Na versão INCOTERMS 2000 (versão anterior e que ainda pode ser usada!), não existiam os termos DAT (Delivered at Terminal) e DAP (Delivered at Place). Esses termos substituíram os antigos DEQ (Delivered Ex Quay), DAF (Delivered at Frontier), DES (Delivered Ex Ship) e DDU (Delivered Duty Unpaid). Na versão INCOTERMS 2000 tínhamos, portanto, 13 (treze) termos; na versão 2010, são 11 (onze). Comércio Internacional p/ ACE Teoria e Questões Prof. Ricardo Vale – Aula 16 Prof. Ricardo Vale www.estrategiaconcursos.com.br 33 de 68 4- O Brasil e os INCOTERMS 2010: Com a entrada em vigor da versão INCOTERMS 2010, o governo brasileiro decidiu que seria necessário tornar pública a possibilidade de que as empresas brasileiras utilizassem as novas regras. Por isso, editou a Resolução CAMEX nº 21/2011, que “dispõe sobre os INCOTERMS e estabelece que nas exportações e importações brasileiras serão aceitas quaisquer condições de venda praticadas no comércio internacional, desde que compatíveis com o ordenamento jurídico nacional”. A Resolução CAMEX nº 21/2011 detalhou as obrigações do vendedor e do comprador em cada uma das fórmulas contratuais previstas na versão INCOTERMS 2010. Adicionalmente, ela dispôs sobre duas especificidades importantes da aplicação dos INCOTERMS face à legislação brasileira: 1)- Nas importações brasileiras, não pode ser utilizado o DDP, já que o vendedor estrangeiro não dispõe de condições legais para proceder ao desembaraço aduaneiro. 2)- Nas exportações brasileiras em que se utilizar a modalidade EXW, fica subentendido que o desembaraço aduaneiro de exportação será realizado pelo exportador brasileiro. Perceba que, nesse caso, é necessário fazer um aditamento ao INCOTERM. O art. 3º da Resolução CAMEX nº 21/2011 dispõe, ainda, que a utilização das condições de venda nela previstas não
Compartilhar