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Memória Não consciente

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Memoria
POll lARRY SQUIRE E ERIc KANDE 
arte essencial do processamento da infonna~ao reali­
zado pelo cerebro nao e consciente, e, portanto, nao 
podemos nos dar conta desse processo. A tomada 
de consciencia da forma e da cor de urn lapis, por 
exemplo, resulta de divefSas opera~6es cerebrais que 
pennitem reconheccr e identificar 0 objeto. Em contrapattida, os 
mecanismos que nos fazem estender a mao em direc;ao ao lapis 
sao inconscientes. 
As rcac;oes a uma ilusao optica ilustram essa no~ao. A distri­
buj~ao de dois desenhos compostos de urn cfrculo, em tomo do 
qual se disp6em cfrculos menores ou maiores, cria uma ilusao. 
Quando 0 cfrculo central e rodeado de cIrculos maiores, causa a 
impressao de ser menor; circundado de cIrculos menores, parece 
maior (uer ilustra~ao na pag. 52). Separando polegar e indicador, os 
palticipantcs devem estimar 0 tamanho dos cIrculos centrais de 
(b), em que ambos parccem proximos, e [<lzer 0 mesmo com os 
cfrculos centrais de (a), que aparentam tel" tamanhos diferentes. 
Os resultados sao conclusivos A escolha do drculo do con­
junto (a) ou de (b) edetenninada, em todos os casos, pe1a ilusao 
os drculos do mesmo tamanho eram tratados como se tivessem 
dimens6es diferentes, e os difercntes, como se fossem do mesmo 
tamanho. No entanto, quando verificavam concretamente 0 
tamanho do circulo, a separac;ao dos dcdos nao era ditada peb 
illlsao optica 0 espac;o entre polegar e indicador era dado pelo 
tamanho real do cfrclllo. Por exemplo, casu acreditassem que os 
drculos centrais tinham a mesma dimcnsao (quando na verclade 
o diametro de um deles era 2,5 mm maior), 0 tamanho da "pinc;a 
digital" correspondia ao tamanho real dos circulos: as pessoas 
separavam mais os dedos quando os aproximavam de urn cfrculo 
maior que quando iam pegar um circulo menor 
o estudo mostra que a percepc;ao visual consciente esta asso­
ciada ao reconhecimento e aidentificac;ao, mas outros aspectos do 
processamento da infonna~ao visual pennanecem inconscientes. 
Essa carac.:terlstica da percepc;ao visual se aplica tambern aos me­
camsmos de memoria A memoria nao euma entidadc Unica. Ela 
50 VIVER MENTE&cEREBRO 
Entre todos os 
sistemas mnemonicos, 
somente a memoria 
declarativa eacessfvel 
" .".a consclencla 
e composta de diferentes sistemas, e apenas urn deles e acessfvel a 
consciencia: a memoria dec1arativa. Algumas formas de memoria, 
como a aquisi~ao de habilidades motoras, nao sao conscientes, e 
os mecanismos celulares subjacentes a certos tipos de memoria 
inconsciente (a habituac;ao, a sensibiliza~ao e 0 condiciona­
mento -classico) podem ser estudados nos invertcbrados, cujo 
sistema nervoso e relativamente simples Esses animais parecem 
tel" apenas memoria nao-dec1arativa.]a humanos e outros verte· 
brados superiores nao apenas desenvolveram lima consideravel 
capacidade de memoria dedarativa, mas conservaram tambem 
a nao-dec1arativa 
[ OR I co SCIENTE 
Aideia da existencia de fonnas nao-dedarativas (inconscientes) 
de memoria foi ganhando espac;o gradativamente. Em 1962, Brenda 
Milner percebeu que 0 paciente amnesico H. M. conseguia apren­
der a desenhar 0 contorno de uma estrela reAetida num espelho, 
mas, minimizando aquestao da habilidade motora, os pesquisadores 
mantiveram aconvicc;ao de que 0 resto damemoria e uma entidade 
simples, nao difercnciada. Provas da preservac;ao da capacidade de 
aprcndizagem e de reten~ao de habilidades nao motoras em pacien­
tes amnesicos surgiram alguns anus depois, mas os neurobiolog0s 
continuaram presos ahipotese de memoria Unica. 
ESPECIAL MEMORIA 
" 
n 
( 
d 
cada uma delas 0 mais rapido possivel 
Num segundo momento, os participantes 
veem os mesmos desen hos, desta vez mis· 
turados a outros. Em media, foi necessaria 
0,9 segundo para nomear os novos objetos, 
e as foonas nao-declarativas poupadas. 
Assim, existia um conjunto inexplorado 
de habilidades de aprendizagem e de 
memoria, independentes das estruturas 
cerebrais do lobo tem poral medio, que sao 
a 
danihcadas na amnesia. e 0,8 segundo para identihcar os objetos a 
Na mesma epoca, os neurobi610gos se vistos antes. As imagens reconhecidas mais 
b 
NO TESTe. cLAsslco DE ILUsAo visual (4), OS 
cfrculos centrais parecem de tamanho dlf«ente, 
mas sao iclenticos. Em (b), 0 cfrculo central da 
direita e llgeiramente maior que 0 da esquerda. 
Nao obstante, amaloria dos observadores julga 
qUI! as dois cfrculQnlio do mesmo tamanho. 
Quando, porem, n"ledem com os dedos um 
dos cfrculos centrais de baixo, reduzem 01.1 
aumentam it aberbIriI de sua pin~a digital em 
fun~ao tamanho real do drculo. 
Nos anos 70, Elizabeth Warrington 
e Lawrence Weiskrantz mostraram que 
o desempenho de pacientes amnesicos 
podlaser normal em primings. Nesse tipo de 
teste, elaborado especialmen te para avaliar 
a memoria, radicais de tres letras (HOT, 
REV) constituem pistas para encontrar 
palavras apresentadas antes (HOTEL, 
REVOLUc::AO). OS resultados do priming 
constitufam uma nova demonstra~ao da 
existencia de multiplas formas de memo­
ria. Foi preciso mais tempo, pOI'em, para 
mensurar quao decisivo era 0 papel das 
instru~6es dadas aos indivfduos. 
Em 1980, gra~as aos trabalhos de Neal, 
Cohen e Larry Squire, foi constatado que 
pacientes amnesicos podiam aprender 
e conservar, tao bem quanta pessoas 
nonnais, a capacidade de ler a escrita in­
vertida no espelho. Extrapolando 0 campo 
das habilidades motoras, a constata~ao 
aumentava a gama das capacidades pre­
servadas em amnesicos e indicava a grande 
diferen~a entre as formas declarativas da 
mem6ria, estas sim atingidas pela amnesia, 
52 VIVER MENTE&CEREBRO 
perguntaram sobre a causa das diferen~as 
observadas nos resultados de determina­
dos testes de memoria de palavras. Eles 
mostraram a independencia, em pessoas 
normais, das capacidades de rememorar 
palavras vistas pouco antes a partir de frag­
mentos (por exemplo, depois de estudar a 
palavra ASSASSINO, e mais faci! formar 
outra a partir de _SS_SS_) e tambem 
reconhecer como familiares vocabulos 
recentemente estudados. 
Usando listas de palavras e de radicais 
de tres letras, mostrou-se a importancia 
dos enunciados em testes desse tipo. So 
um tipo permite observar desempenhos 
normais nos amnesicos ("toone a primeira 
palavra que Ihe ocorrer com este radical"). 
Com os enunciados classicos dos testes de 
memoria ("Use a sequencia de tres letras 
para se lembrar de urna palavra apresenta­
da antes"), 0 desempenho dos pacientes 
amnesicos e inferior ao do grupo-controle. 
Experimentos analogos nos quais 0 desem­
penho dos amnesicos e equivalente foram 
chamados de testes de primin.g. Em 1984, 
quando realizamos esse estudo, a ideia 
de que poderia haver m(dtiplos tipos de 
memoria estava no ar, e 0 f::nomeno de 
priming logo se tomou wn tema de interesse 
maior para pesquisa. 
o termo ativa~ao (pnmin.g) designa 
a melhora da capacidade de detectar ou 
identificar palavras ou objetos pouco 
depois de travar contato com des. A deh­
ni~ao poderia sugerir que a noc;:ao de priming 
remete simplesmente it memoria cotidiana, 
declarativa. Mas pesquisas mostraram que 
a ativa~ao e urn fenomeno de memoria 
distinto e inconsciente, cuja fun~ao e 
aprimorar a percep~ao de estfmulos recen­
tes, sem que necessariamente tenhamos 
consciencia da melhora da velocidade ou 
da ehcacia da percep~ao. 
Num teste, depois de observar de­
senhos de coisas comuns (por exemplo, 
martelo, aviao, cachorro), deve-se nomear 
rapido nao sao aque!as que se reconhecem 
conscientemente como familiares. 
o efeito de pnming e, em essencia, de 
natureza perceptiva. Quando dois tipos de 
aviao sao apresentados - 0 primeiro com 
helice, depois urn jato -, a melhora do 
tempo necessario para nomear 0 objeto 
e considerave1mente reduzida, embora 
a maioria qualifique de"aviao" as duas 
imagens. Assim sendo, 0 efeito da ativa~ao 
parece derivar principalmente do fato de 
o observador ter ativado antes as mesmas 
opera~6es perceptivas. A ativa~ao pode 
persistirdurante um tempo bastante longo, 
mesmo depois de uma unica exposi~ao; 
urn ana apos a sessao em que nomearam 
130 imagens diferentes, os participantes 
continuavam capazes de denomina-Ias 
mais rapido que as imagens novas. 
A VA~AOER CO OM TO 
Gra~as aos pacientes que sofrem de 
amnesia profunda, e possive! testar melhor 
as diferen~as entre ativa~ao e memoria 
declarativa. E. P, portador de uma lesao 
bilateral extensa no lobo temporal medial, 
nao era capaz de assimilar nenhum fato 
novo. Submetido a testes de priming e de 
avalia~ao da capacidade de reconhecer pa­
lavras apresentadas anteriormente, a cada 
sessao E. P recebia urna lista de 24 palavras 
para que estudasse. Cinco minutos depois 
seu reconhecimento era medido. Num dos 
testes, 48 palavras eram apresentadas em 
sequencia, par apenas 25 milissegundos, 
em wna tela de computador (24 palavras 
antigas e 24 novas). E. P. conseguiu ler 
cerca de 55% das palavras da lista init:ial, 
e apenas 33% das novas. Assim, 0 fato de 
ter visto as palavras pouco antes facilitava 
sua leitura. 0 desempenho de pessoas sem 
amnesia foi identico. 
Nos testes de reconhecimento, E. P foi 
apresentado a 48 palavras em seqilencia 
e, em seguida, tinha de responder "sim", 
caso integrassem a ]ista de estudo, ou 
ESPECIAL MEMORIA 
10 
"nao". Uma pontua~o de 50% significaria 
desempenho aleatorio, isto e, seria como 
responder com base no cara ou coroa. 
o paciente obteve exatamente 50% de 
respostas certas, enquanto pessoas nao­
s amnesicas acharam 0 teste relativamente 
facil e reconheceram cerca de 80% das 
n palavras da lista inicial. E. P, pOltanto, era 
incapaz de reconhecer as palavras da lista 
e inicial, mas tirava grande proveito do efeito 
e cia ativa<;ao com essas mesmas palavras. 
n Por que os pacientes amnesicos nao 
o se beneficiam do primil1g para reconhecer 
o as palavras com as quais haviam sido 
'a familiarizados? Eevidente que existe em 
is algum ponto de seu cerebra um vestigio 
do contato recente com essas palavras, 
Ie pais, caso contrario, nao seriam capazes 
as de ler mais rapidamente os vocabulos 
Ie familiares. Os indivlduos nao consultam 
0, a sistema responsavel pelo primil1g antes de 
0: chegar a conclus6es de reconhecimento; 
m talvez nao sejam capazes disso. Quando 
es os participantes avaliam 0 carater familiar 
as (au antigo) de uma palavra, des tern urn 
procedimento operativo diferente do que e 
utilizado na leitura de palavras. Alem disso, 
a facilidade de leitura nao e sinal confiaveJ 
de que a pessoa teve contato recente com 
tal palavra. 
Se 0 priming e uma fonna distinta de 
memoria, independente da memoria 
declarativa, em que nlvel do sistema 
nervoso ela opera? Para responder a 
essa pergunta, a ativa<;ao foi explorada 
par meio da tomografia por emissao de 
pOsitrons (TEP) praduzida enquanto os 
indivfduos completavam palavras. 0 efeito 
de pn'mil1g se traduz no fato de que as pes­
soas tendem a completar os radicais com 
palavras estudadas pouco antes. Durante 
esses testes, as imagens do cerebro eram 
registradas. Numa primeira experiencia 
(atividade de base), nenhum dos radicais 
podia sercompletado para fonnar palavras 
da lista estudada. Na segunda (priming)) urn 
grande numero de radicais pemlitia fonnar 
vocabulos da lista inicial. 
A compara<;:ao das imagens obtidas 
revelou redu<;ao notavel da atividade 
do cortex visual na parte posterior do 
cerebro, 0 giro lingual. Esse resultado 
corrobora a ideia de que 0 priming seria 
essencialmente visual e se produz apos 
a infonna<;:ao ter sido avaliada pelas vias 
de processamento Visual, mas antes da 
analise do significado. 
Embora as imagens obtidas indiquem a 
localiza<;:ao cerebral das atividades ligadas 
ao priming, elas nao infomlam sobre suas 
caracterlsticas temporais. Seria posslvel 
entao imaginarque a redu<;:ao de atividade 
observada no cortex visual posterior, num 
estagio precoce do fluxo de processamento 
sensorial, derivaria de retroa<;6es de centros 
cerebrais superiores, onde na rea{idade 
estariam os efeitos de ativa~o. Uma ex­
periencia em que se registrava a atividade 
eletrica do sistema nervoso aplicando-se 
eletrodos no cranio afastou esses temores: 
os resultados coincidem com os dados 
das imagens. 
Aatividade eletrica registrada acima do 
cortex posterior e reduzida, em rela~o a 
atividade de base. Essa "assinatura" do IJrimi11{1 
- e que e 0 resultado importante desse estu­
do - pode ser detectada no curso dos 100 
mi lissegundosque se seguem aapresenta~o 
de um radical. Nas regi6es mais anteriores, 
300 milissegundos sao necessarios para 
detectaro primeiro sinal de primil1g. 0 priming 
perceptivo se produz no cortex posterior, e 
a infonna<;:ao relativa as paJavras apresenta­
das, annazenadas nessa regiao, pennite em 
seguida urn processamento rna is eficaz dos 
radicais das palavras ativadas. 
APRENDIZAGEM PE elVA 
Enquanto 0 priming perceptivo se pro­
duz depois de uma (mica exposi<;ao, outros 
tipos de aprendizagem nao-declarativas 
sao mais .graduais) rcquerendo as vezes 
milhares de tentativas. Durante muito 
tempo se acreditou que as etapas iniciais do 
pracessamento sensorial eram imutaveis. 
Segundo essa concep~o, as areas corticais 
que recebem inicialmente a informa<;ao 
sensorial do exterior servem de "pre-pro­
cessadores", organizando a infomla<;aO de 
modo confiavel e invariavel para opera<;6es 
complexas que se produzem em nfveis mais 
elevados. lntuitivamente, a ideia parecia 
razoavel. Afinal, eimportante ver sempre 
uma arvore como uma arvore, e 0 rosto de 
urn amigo como 0 rosto desse amigo. 
Essa concep<;:ao evoluiu, em certa 
medida devido aos ttabalhos sobre a 
aprendizagem perceptiva mostrando que 
mesmo as etapas iniciais do processamento 
sensorial no cortexpodem ser alteradas pela 
expetiencia. A "aprendizagem perceptiva" 
aumenta a capacidade de ruscriminar atri­
buras perceptivos simples, como cores OU 
PRIMING ERECONHECIMENTO. 0 desempenho do paciente E.P. e ligeiramente 
superior ao desempenho medio de um individuo normal em 12 testes de ativa\=a 
hlvel d /H'lmlng e a porcentagem de palavras recentemente vistas que os indlviduos 
Wf1Se9ufrllfll ler de forma correta menos a porcentagem de palavras nao estudad;u; 
fJ~{' forarn d dfTadas. Quando se trata de identificar as palavras estudadas durante 
outfQ teste dd rrH!moria de reconhecimento, 0 resultado de E.P. nao ultrapassa Q nlvd 
leatOrio (50% de-..espostas corretas)_ 
IA WWW.VIVERMENTECEREBRO.COM.BR VIVER MENTE&cEREBRO 53 
100 
"'090 Of­
~a5 ~80 ~- .....~~tJ::
z:r:ll:70 ... zo 
uoull:u0 ...60 Q.ll: 
50 
20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 
TEMPO DE PROCESSAM NTO VISUAl EM MlUSSEGUNDOS} 
EM UM TESTE DE APRENDIZAGEM PERCEPTIVA, um conjunto de tres tra~:os diagonais num 
fundo de tra~os horizontais eapresentado. 0 objetivo da tarefa edeterminar 0 mais rapido 
possivel os tra"os, situados no quadrante inferior direito, que estao dispostos na horizontal 
ou na vertical. No comes:o do teste, os individuos tem desempenho fraco, mas depoisde 
um longo treino, os progressos sao notaveis. Em 10 dias, a maioria das figuras apresentadas 
com um tempo de processamento de menos de 50 milissegundos ereconhecida, ante 160 
milissegundos necessarios inicialmente para um desempenho identico. 
a onenta~ao de linhas, imediatamente ap6s A caraetenstica dessa aprendizagem ea 
exercfcios repetidos Nao s50 necessarias grande especificidade da tarefa e da mo­
nem recompensa nem inforrna~ao sobre os dalidade de treinamento. 
enos. No caso do primm!J, a capaciciade de Esse processo foi demonstrado POl' Avi 
identificare de detectarum estimulo aumen­Kami e Dov Sagi, do [nstituto Weizmann 
ta porque vimos 0 estfmulo anteriorrnente. de Israel, numa tarefa de discri'11ina~ao de 
No caso cia aprendizagem perceptiva, um "alvo" (verilHstra¢oacima). Sobreum fun­
discriminam-se melhor alguns ambutos do do de barras horizontais, um pequeno alvo 
estimulo. Como no caso cia habitua~ao e de tres barras diagonais ocupa 0 primeiro 
da sensibiliza~ao na Aplysia (um molusco), plano. As barras diagonais alinham-se na 
aexpenenciatermina par modi ficaI', a longo horizontal ou na vertical. Os volunt<!rios 
prazo, a estrutura do cerebra. fixavam 0 olhar no centro da tela de um 
A aprendizagem perceptiva foi estu­ computador em que 0 dispositivo aparecia 
dada principal mente no ambito cia visao durante wn intervalo de 10 milissegundos. 
humana. Com a pratica, os indivfduos Depois de cada apresenta~ao, diziam se 
aumentarn sua capacidade de discriminar o alvo estava na horizontal ou nao. Os 
textura, direr;ao do movimento, orienta~ao neurobi610gos comandavam 0 tempo 
de linhas eoutros atributosvisuais simples. disponfvel para 0 pracessamento visual 
OS AUTORES 
LARRY SQUIRE leciona neurociencias na Universidadeda Calif6rniaem San Diego. ERIC 
KANDEL, Premio Nobel de Medicina de 2000, efundador do Centro de Neurobiologia 
e do Comportamento da Universidade Columbia, Nova York. 
- Tradufoo de Luciano Vieira Machado 
54 VIVER MENTE&CEREBRO 
apresentando, apos um intervalo variavel, 
uma configura~ao embaralhada, cheia de 
linhas e de angulos. 0 tempo disponfvel 
era en tao limitado ao intetvalo entre a 
apresentagJo do estimulo e cia configuragJo 
embaralhacia; a extensao desse intetvalo 
detenninava a dificuldade da tarefa de 
discrimina~ao. A posi~ao exata das tres 
barras diagonais vanava, maselasocupavam 
sempre 0 mesmo quadrante visual (pOI' 
exemplo, 0 quadrante inferior direito). Os 
participantes faziam mil tentativas pordia, 
com intervalos a cada 50 tentativas. 
No come~o, um tempo consideravel 
para acertar era necessario. Mas, apos J0 
sess6es de treinamento e "to mil tentativas 
em duas semanas, 0 desempenho melho­
rau. Uma vez adquirida a capacidade de 
discrimina~ao pela pratica, os indivfduos a 
mantinham pOI' vanas semanas. 
Experiencias suplementares revelaram 
a especificidade da aprendizagem. A 
princlpio, se 0 dlspositivo-a!vo era deslo­
cado para um quadrante nao treinado, 0 
aumento da capacidade de discrimina~ao 
desaparecia quase pOI' completo, e era 
preciso reaprender a tarefa. Da mesma 
forma, quando a orienta~ao dos elementos 
do fundo passava de horizontal a vertical, 
a capacidade de discrjmina~ao nao Se 
transferia, e tinha de ser aprendicia mais 
uma vez, E, ainda, quando abriam apenas 
um olho durante 0 estagio inicial (treina­
mento monocular), a aprendizagem nao 
se transferia para ooutro. 
Essa notcivel especificiciade indica que 
o aprendizado se cia no infcio do processa­
mento sensorial no cortex visual, onde os 
neuranios sao sensfveis aorienta~o e posi­
~ao cias linhas. Em nfveis mais elevados de 
treinamentovisual, os neuranios processam 
a informa~odosdoisolhoserespondem de 
maneira mais constante, qualquer que seja a 
posic;ao do alvo. Se a localizar;ao cia apren­
dizagem perceptiva est<! no nfvel das areas 
visuais superiores, 0 aprendlzado deveria se 
transferir melhor entre os olhos e de uma 
posi~ao espacial a outra. A aprendizagem 
perceptiva se desenvolve provavelmente 
nas primeiras areas visuais. Nessas areas, os 
axonios de alguns neura nios poderiam gerar 
ramos colaterais mais longos e ramificados 
como conseqilencia da aprendizagem 
ESPECIAL MEMORIA 
III 
si' 
vi 
pl 
a 
rr 
rr 
n 
p 
d 
d 
p 
eI, perceptiva, aumentando assim a forc;a e 0 
de numero das conex6es simipticas que sao 
lei capazes estabelecer. 
'a A expeliencia visual tem efeitos con­
ao sistentes e duliveis que, como 0 priming 
110 visual, se desencadeiam nos circuitos de 
de processamento que nomlalmente recebem 
'es a informac;ao. Nossas experiencias visuais 
m modiAcam as primeiras etapas do processa­
or mento cortical e tambem a maneira como 
)5 nos vemos. Essas modiAcac;6es explicam 
ia, por que 0 experiente tem uma percepc;ao 
diferente daquela do iniciante. 
reI 
10 AP DLZAGEM IEMOCIO 
a5 Pode-se considerar 0 priming e a apren­
0­ dizagem perceptiva como meios que 
:ie permitem acelerar e tomar mais eRcazes 
;a 
m 
A 
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ra 
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)5 
11, 
Ie 
lis 
AMfGDALA EA MEMORIA 
£MOCIONAL Oitolloluntarios tiv:eral)'l 
IlIIl atividade cerebral registrada 
'IIICluanto assistiam a trechos de urn 
n1me neutro e de outro perturbador. 
mSEllTlanas depois, a atlvidade da 
iJIllg ala das pessoas qu lliram os 
tlechos com forte carga enw<ional 
proporcional It SUd C¥1l~<ldede 
lembrar desses filme5~ qUMlO mats 
I~as tinham, maIs a amlgdllJa 
era da (no alto). A atiYidllde deJsa 
ttJra nao indi<:ou rela~o COOl 0 
ro de trechos eTJ\OCionaimente 
IllUtros recordados (embalw 
A WVIJIN,VIVERMENTECEREBRO. COM. BR 
os estagios iniciais do processamento 
perceptivo e, de modo geral, mais com­
petentes, gra<;as a experiencia. Contudo, 
uma exposic;ao previa nao melhora apenas 
a velocidade ou a eRcacia do processamen­
to: ela pode tamb6n modiRcar nossos 
sentimentos sobre aquilo que e pracessado. 
Nossa maneira de avaliar a informac;ao 
-porexemplo, 0 fatode associarum senti­
mento positivo ou negativo aum estfmulo, 
nossos gostos e avers6es fundamentais 
- e fruto de aprendizagem inconsciente 
(nao-dedarativa). Temos sentimentos 
particulares em relac;ao a um alimento, a 
wn Jugar ou awn estfmulo que se considera 
neutro, como um som, por exemplo, por 
causa das experiencias que tivemos com 
detemlinados alimentos, lugares e sons. 
As bases biologicas da aprendizagem 
emocional tem sido bastante estudadas em 
laboratorio. Numa tarefa muito utilizada, 
camundongos ouvem um som e em segui­
da recebem uma leve descarga eletrica nas 
patas. Apenas l.Ul1a ou duas vezes depois de 
submete-Io a esses dois estfmulos, 0 animal 
reage ao som e se imobiliza como se esti­
vesse com medo. Esse fenomeno de medo 
condicionadoeumexemplo de uma fomla 
particular de aprendizagem, 0 condicio­
narnento dassico. Ao contrchio do que 
acontece com as memorias dedarativas, 
o medo condicionado nao e modiRcado 
por les6es no hipocampo. Na verdade, 
a resposta adquirida eeliminada por uma 
lesao bilateral da amigdala, estrutura do 
lobo temporal mediano. 
Os trabalhos de Joseph LeDoux e de 
Michael Davis demonstraram que a infor­
mac;ao sobre 0 sinal de medo etransmitida 
rapidamente por um circuito direto que 
vai do talamo ao nudeo baso-Iateral da 
amfgdala e tambem por urn circuito mais 
longo, envolvendo 0 cortex, capaz de dis­
criminac;6es mais subs sobre a natureza de 
urn estfmuJo. A informac;ao que toma essa 
ultima via leva um pouco mais de tempo 
para alcanc;ar aamfgdala Avia mais direta 
permite alertar rapidamente 0 sistema de 
controle do medo, em caso de perigo 
PARA CONHECER MAIS 
A importancia da amfgdala para a 
memoria emocional Foi especialmente bem 
demonstrada por um estudo realizado em 
adultos jovens. L. Cahill, J McGaugh e 
seus colegas mostraram a oito voluntarios 
trechos de um Rime neutro ou trechos de 
um Alme perturbador, enquanto mediam 0 
metabolismo da glicose no cerebra, com 
uma tecnica de captac;ao de imagens (0 
metabolismo cerebral da glicose e forte­
mente ligado aatividade dos neuronios) 
Tres semanas depois, sem que tivessem sido 
infomndos previamente, os participantes 
foram submetidos a um teste de memoria 
a Am de detemlinar a qualidade da lem­
branc;a dos trechos dos RImes Conforme 
se esperava, eles selembravam mais dos 
trechos do flIme com forte carga emocionaL 
Esse resultado interessante diz respeito a 
atividade metabolica da amfgdala localizada 
no hemisferio cerebral'direito, da primeira 
vez que os A1 mes foram vistos: essa atividade 
awnentava com 0 numero de trechos de que 
os indivfduos se lembravam lnversamente, a 
atividadedessa estlUtura nao indicou re[ac;ao 
com 0 Ilumero de trechos neutros recorda­
dos. Portanto, quanta malS a amigdala se 
mostrava atlva durante a aprendizagem, 
rnais eta amlazenava memorias declarativas 
que tinham contelldo emocional. 
o priming, a aprendizagem perceptiva 
e a aprendizagem emocional ilustram tres 
tipos de memorias nao-dec1arativas que 
funcionam paraleJamente em relac;ao umas 
as outras e em relac;ao a memoria declara­
tiva Esses tipos de memorias nao-decla­
rativas mostram como a percepc;ao pode 
gerar memorias inconscientes. Outros 
tipos da mesma memotia-aprendizagem 
de habilidades, aquisic;ao de habitos e 
condicionamento c1assico - utilizam ou 
os sistemas nervosos motores, que sao 
capazes tambem de registrar memorias 
inconscientes, ou habilidades perceptivas 
ou cognitivas complexas. Nao obstante, 
como todas as formas de memoria nao-de­
c1arativa, a aprendizagem pode acontecer 
sem que tenhamos a menor consciencia 
do que foi aprendido t'l'tC 
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Memoria - Da mente as moleculas. Larry R. Squire e Eric R. Kandel, Artmed, 2003. 
VIVER MENTE&cEREBRO 55

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