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Memoria POll lARRY SQUIRE E ERIc KANDE arte essencial do processamento da infonna~ao reali zado pelo cerebro nao e consciente, e, portanto, nao podemos nos dar conta desse processo. A tomada de consciencia da forma e da cor de urn lapis, por exemplo, resulta de divefSas opera~6es cerebrais que pennitem reconheccr e identificar 0 objeto. Em contrapattida, os mecanismos que nos fazem estender a mao em direc;ao ao lapis sao inconscientes. As rcac;oes a uma ilusao optica ilustram essa no~ao. A distri buj~ao de dois desenhos compostos de urn cfrculo, em tomo do qual se disp6em cfrculos menores ou maiores, cria uma ilusao. Quando 0 cfrculo central e rodeado de cIrculos maiores, causa a impressao de ser menor; circundado de cIrculos menores, parece maior (uer ilustra~ao na pag. 52). Separando polegar e indicador, os palticipantcs devem estimar 0 tamanho dos cIrculos centrais de (b), em que ambos parccem proximos, e [<lzer 0 mesmo com os cfrculos centrais de (a), que aparentam tel" tamanhos diferentes. Os resultados sao conclusivos A escolha do drculo do con junto (a) ou de (b) edetenninada, em todos os casos, pe1a ilusao os drculos do mesmo tamanho eram tratados como se tivessem dimens6es diferentes, e os difercntes, como se fossem do mesmo tamanho. No entanto, quando verificavam concretamente 0 tamanho do circulo, a separac;ao dos dcdos nao era ditada peb illlsao optica 0 espac;o entre polegar e indicador era dado pelo tamanho real do cfrclllo. Por exemplo, casu acreditassem que os drculos centrais tinham a mesma dimcnsao (quando na verclade o diametro de um deles era 2,5 mm maior), 0 tamanho da "pinc;a digital" correspondia ao tamanho real dos circulos: as pessoas separavam mais os dedos quando os aproximavam de urn cfrculo maior que quando iam pegar um circulo menor o estudo mostra que a percepc;ao visual consciente esta asso ciada ao reconhecimento e aidentificac;ao, mas outros aspectos do processamento da infonna~ao visual pennanecem inconscientes. Essa carac.:terlstica da percepc;ao visual se aplica tambern aos me camsmos de memoria A memoria nao euma entidadc Unica. Ela 50 VIVER MENTE&cEREBRO Entre todos os sistemas mnemonicos, somente a memoria declarativa eacessfvel " .".a consclencla e composta de diferentes sistemas, e apenas urn deles e acessfvel a consciencia: a memoria dec1arativa. Algumas formas de memoria, como a aquisi~ao de habilidades motoras, nao sao conscientes, e os mecanismos celulares subjacentes a certos tipos de memoria inconsciente (a habituac;ao, a sensibiliza~ao e 0 condiciona mento -classico) podem ser estudados nos invertcbrados, cujo sistema nervoso e relativamente simples Esses animais parecem tel" apenas memoria nao-dec1arativa.]a humanos e outros verte· brados superiores nao apenas desenvolveram lima consideravel capacidade de memoria dedarativa, mas conservaram tambem a nao-dec1arativa [ OR I co SCIENTE Aideia da existencia de fonnas nao-dedarativas (inconscientes) de memoria foi ganhando espac;o gradativamente. Em 1962, Brenda Milner percebeu que 0 paciente amnesico H. M. conseguia apren der a desenhar 0 contorno de uma estrela reAetida num espelho, mas, minimizando aquestao da habilidade motora, os pesquisadores mantiveram aconvicc;ao de que 0 resto damemoria e uma entidade simples, nao difercnciada. Provas da preservac;ao da capacidade de aprcndizagem e de reten~ao de habilidades nao motoras em pacien tes amnesicos surgiram alguns anus depois, mas os neurobiolog0s continuaram presos ahipotese de memoria Unica. ESPECIAL MEMORIA " n ( d cada uma delas 0 mais rapido possivel Num segundo momento, os participantes veem os mesmos desen hos, desta vez mis· turados a outros. Em media, foi necessaria 0,9 segundo para nomear os novos objetos, e as foonas nao-declarativas poupadas. Assim, existia um conjunto inexplorado de habilidades de aprendizagem e de memoria, independentes das estruturas cerebrais do lobo tem poral medio, que sao a danihcadas na amnesia. e 0,8 segundo para identihcar os objetos a Na mesma epoca, os neurobi610gos se vistos antes. As imagens reconhecidas mais b NO TESTe. cLAsslco DE ILUsAo visual (4), OS cfrculos centrais parecem de tamanho dlf«ente, mas sao iclenticos. Em (b), 0 cfrculo central da direita e llgeiramente maior que 0 da esquerda. Nao obstante, amaloria dos observadores julga qUI! as dois cfrculQnlio do mesmo tamanho. Quando, porem, n"ledem com os dedos um dos cfrculos centrais de baixo, reduzem 01.1 aumentam it aberbIriI de sua pin~a digital em fun~ao tamanho real do drculo. Nos anos 70, Elizabeth Warrington e Lawrence Weiskrantz mostraram que o desempenho de pacientes amnesicos podlaser normal em primings. Nesse tipo de teste, elaborado especialmen te para avaliar a memoria, radicais de tres letras (HOT, REV) constituem pistas para encontrar palavras apresentadas antes (HOTEL, REVOLUc::AO). OS resultados do priming constitufam uma nova demonstra~ao da existencia de multiplas formas de memo ria. Foi preciso mais tempo, pOI'em, para mensurar quao decisivo era 0 papel das instru~6es dadas aos indivfduos. Em 1980, gra~as aos trabalhos de Neal, Cohen e Larry Squire, foi constatado que pacientes amnesicos podiam aprender e conservar, tao bem quanta pessoas nonnais, a capacidade de ler a escrita in vertida no espelho. Extrapolando 0 campo das habilidades motoras, a constata~ao aumentava a gama das capacidades pre servadas em amnesicos e indicava a grande diferen~a entre as formas declarativas da mem6ria, estas sim atingidas pela amnesia, 52 VIVER MENTE&CEREBRO perguntaram sobre a causa das diferen~as observadas nos resultados de determina dos testes de memoria de palavras. Eles mostraram a independencia, em pessoas normais, das capacidades de rememorar palavras vistas pouco antes a partir de frag mentos (por exemplo, depois de estudar a palavra ASSASSINO, e mais faci! formar outra a partir de _SS_SS_) e tambem reconhecer como familiares vocabulos recentemente estudados. Usando listas de palavras e de radicais de tres letras, mostrou-se a importancia dos enunciados em testes desse tipo. So um tipo permite observar desempenhos normais nos amnesicos ("toone a primeira palavra que Ihe ocorrer com este radical"). Com os enunciados classicos dos testes de memoria ("Use a sequencia de tres letras para se lembrar de urna palavra apresenta da antes"), 0 desempenho dos pacientes amnesicos e inferior ao do grupo-controle. Experimentos analogos nos quais 0 desem penho dos amnesicos e equivalente foram chamados de testes de primin.g. Em 1984, quando realizamos esse estudo, a ideia de que poderia haver m(dtiplos tipos de memoria estava no ar, e 0 f::nomeno de priming logo se tomou wn tema de interesse maior para pesquisa. o termo ativa~ao (pnmin.g) designa a melhora da capacidade de detectar ou identificar palavras ou objetos pouco depois de travar contato com des. A deh ni~ao poderia sugerir que a noc;:ao de priming remete simplesmente it memoria cotidiana, declarativa. Mas pesquisas mostraram que a ativa~ao e urn fenomeno de memoria distinto e inconsciente, cuja fun~ao e aprimorar a percep~ao de estfmulos recen tes, sem que necessariamente tenhamos consciencia da melhora da velocidade ou da ehcacia da percep~ao. Num teste, depois de observar de senhos de coisas comuns (por exemplo, martelo, aviao, cachorro), deve-se nomear rapido nao sao aque!as que se reconhecem conscientemente como familiares. o efeito de pnming e, em essencia, de natureza perceptiva. Quando dois tipos de aviao sao apresentados - 0 primeiro com helice, depois urn jato -, a melhora do tempo necessario para nomear 0 objeto e considerave1mente reduzida, embora a maioria qualifique de"aviao" as duas imagens. Assim sendo, 0 efeito da ativa~ao parece derivar principalmente do fato de o observador ter ativado antes as mesmas opera~6es perceptivas. A ativa~ao pode persistirdurante um tempo bastante longo, mesmo depois de uma unica exposi~ao; urn ana apos a sessao em que nomearam 130 imagens diferentes, os participantes continuavam capazes de denomina-Ias mais rapido que as imagens novas. A VA~AOER CO OM TO Gra~as aos pacientes que sofrem de amnesia profunda, e possive! testar melhor as diferen~as entre ativa~ao e memoria declarativa. E. P, portador de uma lesao bilateral extensa no lobo temporal medial, nao era capaz de assimilar nenhum fato novo. Submetido a testes de priming e de avalia~ao da capacidade de reconhecer pa lavras apresentadas anteriormente, a cada sessao E. P recebia urna lista de 24 palavras para que estudasse. Cinco minutos depois seu reconhecimento era medido. Num dos testes, 48 palavras eram apresentadas em sequencia, par apenas 25 milissegundos, em wna tela de computador (24 palavras antigas e 24 novas). E. P. conseguiu ler cerca de 55% das palavras da lista init:ial, e apenas 33% das novas. Assim, 0 fato de ter visto as palavras pouco antes facilitava sua leitura. 0 desempenho de pessoas sem amnesia foi identico. Nos testes de reconhecimento, E. P foi apresentado a 48 palavras em seqilencia e, em seguida, tinha de responder "sim", caso integrassem a ]ista de estudo, ou ESPECIAL MEMORIA 10 "nao". Uma pontua~o de 50% significaria desempenho aleatorio, isto e, seria como responder com base no cara ou coroa. o paciente obteve exatamente 50% de respostas certas, enquanto pessoas nao s amnesicas acharam 0 teste relativamente facil e reconheceram cerca de 80% das n palavras da lista inicial. E. P, pOltanto, era incapaz de reconhecer as palavras da lista e inicial, mas tirava grande proveito do efeito e cia ativa<;ao com essas mesmas palavras. n Por que os pacientes amnesicos nao o se beneficiam do primil1g para reconhecer o as palavras com as quais haviam sido 'a familiarizados? Eevidente que existe em is algum ponto de seu cerebra um vestigio do contato recente com essas palavras, Ie pais, caso contrario, nao seriam capazes as de ler mais rapidamente os vocabulos Ie familiares. Os indivlduos nao consultam 0, a sistema responsavel pelo primil1g antes de 0: chegar a conclus6es de reconhecimento; m talvez nao sejam capazes disso. Quando es os participantes avaliam 0 carater familiar as (au antigo) de uma palavra, des tern urn procedimento operativo diferente do que e utilizado na leitura de palavras. Alem disso, a facilidade de leitura nao e sinal confiaveJ de que a pessoa teve contato recente com tal palavra. Se 0 priming e uma fonna distinta de memoria, independente da memoria declarativa, em que nlvel do sistema nervoso ela opera? Para responder a essa pergunta, a ativa<;ao foi explorada par meio da tomografia por emissao de pOsitrons (TEP) praduzida enquanto os indivfduos completavam palavras. 0 efeito de pn'mil1g se traduz no fato de que as pes soas tendem a completar os radicais com palavras estudadas pouco antes. Durante esses testes, as imagens do cerebro eram registradas. Numa primeira experiencia (atividade de base), nenhum dos radicais podia sercompletado para fonnar palavras da lista estudada. Na segunda (priming)) urn grande numero de radicais pemlitia fonnar vocabulos da lista inicial. A compara<;:ao das imagens obtidas revelou redu<;ao notavel da atividade do cortex visual na parte posterior do cerebro, 0 giro lingual. Esse resultado corrobora a ideia de que 0 priming seria essencialmente visual e se produz apos a infonna<;:ao ter sido avaliada pelas vias de processamento Visual, mas antes da analise do significado. Embora as imagens obtidas indiquem a localiza<;:ao cerebral das atividades ligadas ao priming, elas nao infomlam sobre suas caracterlsticas temporais. Seria posslvel entao imaginarque a redu<;:ao de atividade observada no cortex visual posterior, num estagio precoce do fluxo de processamento sensorial, derivaria de retroa<;6es de centros cerebrais superiores, onde na rea{idade estariam os efeitos de ativa~o. Uma ex periencia em que se registrava a atividade eletrica do sistema nervoso aplicando-se eletrodos no cranio afastou esses temores: os resultados coincidem com os dados das imagens. Aatividade eletrica registrada acima do cortex posterior e reduzida, em rela~o a atividade de base. Essa "assinatura" do IJrimi11{1 - e que e 0 resultado importante desse estu do - pode ser detectada no curso dos 100 mi lissegundosque se seguem aapresenta~o de um radical. Nas regi6es mais anteriores, 300 milissegundos sao necessarios para detectaro primeiro sinal de primil1g. 0 priming perceptivo se produz no cortex posterior, e a infonna<;:ao relativa as paJavras apresenta das, annazenadas nessa regiao, pennite em seguida urn processamento rna is eficaz dos radicais das palavras ativadas. APRENDIZAGEM PE elVA Enquanto 0 priming perceptivo se pro duz depois de uma (mica exposi<;ao, outros tipos de aprendizagem nao-declarativas sao mais .graduais) rcquerendo as vezes milhares de tentativas. Durante muito tempo se acreditou que as etapas iniciais do pracessamento sensorial eram imutaveis. Segundo essa concep~o, as areas corticais que recebem inicialmente a informa<;ao sensorial do exterior servem de "pre-pro cessadores", organizando a infomla<;aO de modo confiavel e invariavel para opera<;6es complexas que se produzem em nfveis mais elevados. lntuitivamente, a ideia parecia razoavel. Afinal, eimportante ver sempre uma arvore como uma arvore, e 0 rosto de urn amigo como 0 rosto desse amigo. Essa concep<;:ao evoluiu, em certa medida devido aos ttabalhos sobre a aprendizagem perceptiva mostrando que mesmo as etapas iniciais do processamento sensorial no cortexpodem ser alteradas pela expetiencia. A "aprendizagem perceptiva" aumenta a capacidade de ruscriminar atri buras perceptivos simples, como cores OU PRIMING ERECONHECIMENTO. 0 desempenho do paciente E.P. e ligeiramente superior ao desempenho medio de um individuo normal em 12 testes de ativa\=a hlvel d /H'lmlng e a porcentagem de palavras recentemente vistas que os indlviduos Wf1Se9ufrllfll ler de forma correta menos a porcentagem de palavras nao estudad;u; fJ~{' forarn d dfTadas. Quando se trata de identificar as palavras estudadas durante outfQ teste dd rrH!moria de reconhecimento, 0 resultado de E.P. nao ultrapassa Q nlvd leatOrio (50% de-..espostas corretas)_ IA WWW.VIVERMENTECEREBRO.COM.BR VIVER MENTE&cEREBRO 53 100 "'090 Of ~a5 ~80 ~- .....~~tJ:: z:r:ll:70 ... zo uoull:u0 ...60 Q.ll: 50 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 TEMPO DE PROCESSAM NTO VISUAl EM MlUSSEGUNDOS} EM UM TESTE DE APRENDIZAGEM PERCEPTIVA, um conjunto de tres tra~:os diagonais num fundo de tra~os horizontais eapresentado. 0 objetivo da tarefa edeterminar 0 mais rapido possivel os tra"os, situados no quadrante inferior direito, que estao dispostos na horizontal ou na vertical. No comes:o do teste, os individuos tem desempenho fraco, mas depoisde um longo treino, os progressos sao notaveis. Em 10 dias, a maioria das figuras apresentadas com um tempo de processamento de menos de 50 milissegundos ereconhecida, ante 160 milissegundos necessarios inicialmente para um desempenho identico. a onenta~ao de linhas, imediatamente ap6s A caraetenstica dessa aprendizagem ea exercfcios repetidos Nao s50 necessarias grande especificidade da tarefa e da mo nem recompensa nem inforrna~ao sobre os dalidade de treinamento. enos. No caso do primm!J, a capaciciade de Esse processo foi demonstrado POl' Avi identificare de detectarum estimulo aumenKami e Dov Sagi, do [nstituto Weizmann ta porque vimos 0 estfmulo anteriorrnente. de Israel, numa tarefa de discri'11ina~ao de No caso cia aprendizagem perceptiva, um "alvo" (verilHstra¢oacima). Sobreum fun discriminam-se melhor alguns ambutos do do de barras horizontais, um pequeno alvo estimulo. Como no caso cia habitua~ao e de tres barras diagonais ocupa 0 primeiro da sensibiliza~ao na Aplysia (um molusco), plano. As barras diagonais alinham-se na aexpenenciatermina par modi ficaI', a longo horizontal ou na vertical. Os volunt<!rios prazo, a estrutura do cerebra. fixavam 0 olhar no centro da tela de um A aprendizagem perceptiva foi estu computador em que 0 dispositivo aparecia dada principal mente no ambito cia visao durante wn intervalo de 10 milissegundos. humana. Com a pratica, os indivfduos Depois de cada apresenta~ao, diziam se aumentarn sua capacidade de discriminar o alvo estava na horizontal ou nao. Os textura, direr;ao do movimento, orienta~ao neurobi610gos comandavam 0 tempo de linhas eoutros atributosvisuais simples. disponfvel para 0 pracessamento visual OS AUTORES LARRY SQUIRE leciona neurociencias na Universidadeda Calif6rniaem San Diego. ERIC KANDEL, Premio Nobel de Medicina de 2000, efundador do Centro de Neurobiologia e do Comportamento da Universidade Columbia, Nova York. - Tradufoo de Luciano Vieira Machado 54 VIVER MENTE&CEREBRO apresentando, apos um intervalo variavel, uma configura~ao embaralhada, cheia de linhas e de angulos. 0 tempo disponfvel era en tao limitado ao intetvalo entre a apresentagJo do estimulo e cia configuragJo embaralhacia; a extensao desse intetvalo detenninava a dificuldade da tarefa de discrimina~ao. A posi~ao exata das tres barras diagonais vanava, maselasocupavam sempre 0 mesmo quadrante visual (pOI' exemplo, 0 quadrante inferior direito). Os participantes faziam mil tentativas pordia, com intervalos a cada 50 tentativas. No come~o, um tempo consideravel para acertar era necessario. Mas, apos J0 sess6es de treinamento e "to mil tentativas em duas semanas, 0 desempenho melho rau. Uma vez adquirida a capacidade de discrimina~ao pela pratica, os indivfduos a mantinham pOI' vanas semanas. Experiencias suplementares revelaram a especificidade da aprendizagem. A princlpio, se 0 dlspositivo-a!vo era deslo cado para um quadrante nao treinado, 0 aumento da capacidade de discrimina~ao desaparecia quase pOI' completo, e era preciso reaprender a tarefa. Da mesma forma, quando a orienta~ao dos elementos do fundo passava de horizontal a vertical, a capacidade de discrjmina~ao nao Se transferia, e tinha de ser aprendicia mais uma vez, E, ainda, quando abriam apenas um olho durante 0 estagio inicial (treina mento monocular), a aprendizagem nao se transferia para ooutro. Essa notcivel especificiciade indica que o aprendizado se cia no infcio do processa mento sensorial no cortex visual, onde os neuranios sao sensfveis aorienta~o e posi ~ao cias linhas. Em nfveis mais elevados de treinamentovisual, os neuranios processam a informa~odosdoisolhoserespondem de maneira mais constante, qualquer que seja a posic;ao do alvo. Se a localizar;ao cia apren dizagem perceptiva est<! no nfvel das areas visuais superiores, 0 aprendlzado deveria se transferir melhor entre os olhos e de uma posi~ao espacial a outra. A aprendizagem perceptiva se desenvolve provavelmente nas primeiras areas visuais. Nessas areas, os axonios de alguns neura nios poderiam gerar ramos colaterais mais longos e ramificados como conseqilencia da aprendizagem ESPECIAL MEMORIA III si' vi pl a rr rr n p d d p eI, perceptiva, aumentando assim a forc;a e 0 de numero das conex6es simipticas que sao lei capazes estabelecer. 'a A expeliencia visual tem efeitos con ao sistentes e duliveis que, como 0 priming 110 visual, se desencadeiam nos circuitos de de processamento que nomlalmente recebem 'es a informac;ao. Nossas experiencias visuais m modiAcam as primeiras etapas do processa or mento cortical e tambem a maneira como )5 nos vemos. Essas modiAcac;6es explicam ia, por que 0 experiente tem uma percepc;ao diferente daquela do iniciante. reI 10 AP DLZAGEM IEMOCIO a5 Pode-se considerar 0 priming e a apren 0 dizagem perceptiva como meios que :ie permitem acelerar e tomar mais eRcazes ;a m A 0 o 10 ra 1a )5 11, Ie lis AMfGDALA EA MEMORIA £MOCIONAL Oitolloluntarios tiv:eral)'l IlIIl atividade cerebral registrada 'IIICluanto assistiam a trechos de urn n1me neutro e de outro perturbador. mSEllTlanas depois, a atlvidade da iJIllg ala das pessoas qu lliram os tlechos com forte carga enw<ional proporcional It SUd C¥1l~<ldede lembrar desses filme5~ qUMlO mats I~as tinham, maIs a amlgdllJa era da (no alto). A atiYidllde deJsa ttJra nao indi<:ou rela~o COOl 0 ro de trechos eTJ\OCionaimente IllUtros recordados (embalw A WVIJIN,VIVERMENTECEREBRO. COM. BR os estagios iniciais do processamento perceptivo e, de modo geral, mais com petentes, gra<;as a experiencia. Contudo, uma exposic;ao previa nao melhora apenas a velocidade ou a eRcacia do processamen to: ela pode tamb6n modiRcar nossos sentimentos sobre aquilo que e pracessado. Nossa maneira de avaliar a informac;ao -porexemplo, 0 fatode associarum senti mento positivo ou negativo aum estfmulo, nossos gostos e avers6es fundamentais - e fruto de aprendizagem inconsciente (nao-dedarativa). Temos sentimentos particulares em relac;ao a um alimento, a wn Jugar ou awn estfmulo que se considera neutro, como um som, por exemplo, por causa das experiencias que tivemos com detemlinados alimentos, lugares e sons. As bases biologicas da aprendizagem emocional tem sido bastante estudadas em laboratorio. Numa tarefa muito utilizada, camundongos ouvem um som e em segui da recebem uma leve descarga eletrica nas patas. Apenas l.Ul1a ou duas vezes depois de submete-Io a esses dois estfmulos, 0 animal reage ao som e se imobiliza como se esti vesse com medo. Esse fenomeno de medo condicionadoeumexemplo de uma fomla particular de aprendizagem, 0 condicio narnento dassico. Ao contrchio do que acontece com as memorias dedarativas, o medo condicionado nao e modiRcado por les6es no hipocampo. Na verdade, a resposta adquirida eeliminada por uma lesao bilateral da amigdala, estrutura do lobo temporal mediano. Os trabalhos de Joseph LeDoux e de Michael Davis demonstraram que a infor mac;ao sobre 0 sinal de medo etransmitida rapidamente por um circuito direto que vai do talamo ao nudeo baso-Iateral da amfgdala e tambem por urn circuito mais longo, envolvendo 0 cortex, capaz de dis criminac;6es mais subs sobre a natureza de urn estfmuJo. A informac;ao que toma essa ultima via leva um pouco mais de tempo para alcanc;ar aamfgdala Avia mais direta permite alertar rapidamente 0 sistema de controle do medo, em caso de perigo PARA CONHECER MAIS A importancia da amfgdala para a memoria emocional Foi especialmente bem demonstrada por um estudo realizado em adultos jovens. L. Cahill, J McGaugh e seus colegas mostraram a oito voluntarios trechos de um Rime neutro ou trechos de um Alme perturbador, enquanto mediam 0 metabolismo da glicose no cerebra, com uma tecnica de captac;ao de imagens (0 metabolismo cerebral da glicose e forte mente ligado aatividade dos neuronios) Tres semanas depois, sem que tivessem sido infomndos previamente, os participantes foram submetidos a um teste de memoria a Am de detemlinar a qualidade da lem branc;a dos trechos dos RImes Conforme se esperava, eles selembravam mais dos trechos do flIme com forte carga emocionaL Esse resultado interessante diz respeito a atividade metabolica da amfgdala localizada no hemisferio cerebral'direito, da primeira vez que os A1 mes foram vistos: essa atividade awnentava com 0 numero de trechos de que os indivfduos se lembravam lnversamente, a atividadedessa estlUtura nao indicou re[ac;ao com 0 Ilumero de trechos neutros recorda dos. Portanto, quanta malS a amigdala se mostrava atlva durante a aprendizagem, rnais eta amlazenava memorias declarativas que tinham contelldo emocional. o priming, a aprendizagem perceptiva e a aprendizagem emocional ilustram tres tipos de memorias nao-dec1arativas que funcionam paraleJamente em relac;ao umas as outras e em relac;ao a memoria declara tiva Esses tipos de memorias nao-decla rativas mostram como a percepc;ao pode gerar memorias inconscientes. Outros tipos da mesma memotia-aprendizagem de habilidades, aquisic;ao de habitos e condicionamento c1assico - utilizam ou os sistemas nervosos motores, que sao capazes tambem de registrar memorias inconscientes, ou habilidades perceptivas ou cognitivas complexas. Nao obstante, como todas as formas de memoria nao-de c1arativa, a aprendizagem pode acontecer sem que tenhamos a menor consciencia do que foi aprendido t'l'tC - Memoria - Da mente as moleculas. Larry R. Squire e Eric R. Kandel, Artmed, 2003. VIVER MENTE&cEREBRO 55
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