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Resumo diabetes

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Liga Acadêmica de Geriatria e Gerontologia - LAGG 
Universidade Federal do Ceará 
Diabetes Mellitus
 
 
 
Diabetes Mellitus 
(Organizado por Bruno Alisson A. Oliveira) 
 
 
 
 
❖ Definição 
 
Diabetes Mellitus é uma doença caracterizada por um distúrbio do ​metabolismo                     
intermediário​, especialmente no que tange aos carboidratos, levando ao aumento dos                     
níveis séricos de glicose, a complicações metabólicas agudas potencialmente fatais, bem                     
como uma série de complicações crônicas multissistêmicas. 
 
➔ Metabolismo intermediário: ​Um conjunto de reações bioquímicas             
responsáveis pela síntese e degradação das moléculas orgânicas,               
classificadas em três grupos básicos: proteínas, carboidratos e lipídios.  
 
 
❖ Fisiologia Pancreática e Controle Hormonal da Glicemia 
 
O pâncreas é uma glândula longa           
com 15­25 cm que se localiza no abdôme.               
Sendo uma das glândulas retroperitoneais,         
ele guarda relação com algumas estruturas           
desta cavidade, localizado­se     
posteriormente ao estômago e mantendo         
estrita relação com o duodeno. O pâncreas,             
como sabemos, a partir de seu mecanismo             
fisiológico no que diz respeito às suas             
secreções, pode ser dividido em pâncreas           
exócrino e pâncreas endócrino: 
● Pâncreas exócrino: é assim classificado por produzir substâncias que serão                   
lançadas na luz do trato digestivo, como o suco pancreático, que contém íons                         
bicarbonato (liberado por intermédio da secretina) e enzimas digestivas (tais como                     
amilase pancreática, tripsina, quimotripsina, etc; liberadas por intermédio da                 
colecistoquinase ou CCK). 
● Pâncreas endócrino: é assim classificado por produzir substâncias hormonais que                   
serão lançadas na corrente sanguínea. É esta classificação do pâncreas que                     
interessa para o nosso estudo. O pâncreas endócrino é composto de aglomerações                       
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de células especiais denominadas ilhotas de Langerhans. A destruição crônica                   
destas células está relacionada ao aparecimento da diabetes. Em resumo, existem                     
quatro tipos de células nas ilhotas de Langerhans. Elas são relativamentes difíceis                       
de se distinguir ao usar técnicas normais para corar o tecido, mas elas podem ser                             
classificadas de acordo com sua secreção, como podemos observar na seguinte                     
tabela:  
 
 
 
Os níveis de glicose no sangue são constantemente controlados por sistemas                     
glicorreguladores que envolvem as Ilhotas de Langerhans (as quais liberam insulina e                       
glucagon) e receptores do hipotálamo (que respondem a uma concentração baixa de                       
glicose liberando epinefrina e hormônio de crescimento). Desta maneira, o controle                     
hormonal da glicose no sangue se dá por meio dos seguintes hormônios: 
● Insulina: ​é considerado um hormônio hipoglicemiante, pois aumenta a expressão de                     
transportadores de glicose, promovendo a captação deste em nível tecidual,                   
diminuindo gradativamente a taxa de glicose sanguínea. Por sua importância no que                       
diz respeito à fisiopatologia e tratamento da DM, este hormônio será melhor                       
detalhado em tópicos subsequentes. 
● Glucagon: considerado um hormônio hiperglicemiante por, justamente, inibir a                 
utilização da glicose para obtenção de energia. 
● Hormônios hiperglicemiantes: são também chamados de hormônios             
contra­reguladores por agirem de forma paradóxica à regulação da glicemia. São                     
eles: epinefrina (catecolaminas), hormônio de crescimento (somatotropina) e o                 
cortisol. 
 
❖ Insulina 
 
A insulina é produzida nos humanos e em outros                 
mamíferos dentro das células­beta das ilhotas de Langerhans,               
no pâncreas. Ela é sintetizada a partir da molécula precursora                   
denominada como pré­proinsulina, que é convertida em             
pró­insulina. Esta sofre a ação de enzimas proteolíticas               
conhecidas como pró­hormônio convertases (PC1 e PC2), o que                 
resulta na formação da insulina propriamente dita e do                 
peptídeo­C. 
A insulina ativa tem 51 aminoácidos e é um polipetídeo. Ela é formada por duas                             
cadeias de polipeptídeos ligadas por duas pontes dissulfídicas: a cadeia A consiste de 21, e                             
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a cadeia B, de 30 aminoácidos. A parte restante da molécula de proinsulina é chamada de                               
peptídeo C. Este polipeptídeo é liberado no sangue em quantidades iguais às da insulina e                             
de maneira concomitante (e por esta razão, também pode ser dosado no sangue como                           
forma de avaliar a reserva pancreática de insulina; ver OBS¹). 
 
OBS¹: Como as insulinas exógenas não contêm peptídeo C, o nível plásmatico deste peptídeo é um                               
bom indicador de produção endógena de insulina: como veremos mais adiante, no DM tipo 1, o                               
peptídeo C apresentará baixas taxas sanguíneas, enquanto que, no DM tipo 2, poderá se apresentar                             
em níveis normais ou altos. Recentemente, descobriu­se que esse peptídeo C também possui atividade                           
biológica, que está aparentemente restrita a um efeito na camada muscular das artérias. 
 
❏ Efeitos Metabólicos 
 
Historicamente, a insulina foi associada a “açúcar no sangue”, mas, na verdade, ela                         
apresenta efeitos profundos no metabolismo dos carboidratos. Mesmo assim, são as                     
anormalidades do metabolismo das gorduras que provocam condições tais como a acidose                       
e arteriosclerose, que são as causas usuais de morte nos pacientes diabéticos. Além disso,                           
nos pacientes portadores de diabetes prolongado, a redução da capacidade de sintetizar                       
proteínas leva ao consumo dos tecidos, assim como a muitos distúrbios celulares                       
funcionais. Consequentemente, está claro que a insulina afeta o metabolismo de lipídios e                         
proteínas quase tanto quanto o metabolismo dos carboidratos.  
 
❏ Funções 
Carboidratos 
1) Consumo de carboidratos → à Insulina é secretada em grande quantidade; 
2) Excesso de carboidratos → à Insulina faz com que sejam armazenados sob                       
forma de glicogênio; 
3) Excesso que não pode ser armazenado → à Convertido sob o estímulo da                         
insulina em gordura. 
Proteínas 
4) Efeito direto na promoção da captação de aminoácidos pelas células e na                       
conversão destes em proteínas; 
5) Inibe o catabolismo das proteínas que já se encontram nas células.  
 
❏ Metabolismo 
 
Quando a insulina é secretada na corrente sanguínea, ela circula quase inteiramente                       
sob forma livre; sua meia­vida plamástica é de aproximadamente, apenas 6 minutos de                         
modo que ela é, na sua maior parte, eliminada da circulação dentro de 10 a 15 minutos.                                 
Com exceção da proção da insulina que se liga aos receptores nas células­lvo,o restante é                               
degradado pela enzima ​insulinase ​principalmente no fígado, e em menor quantidade, nos                       
rins e músculos, e menos ainda na maioria dos outros tecidos. Esta remoção rápida do                             
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plasma é importante, porque, às vezes, sua pronta desativação assim como sua ativação                         
são fundamentais para o controle das funções da insulina. 
 
❏ Efeito da Insulina sobre o Metabolismo dos Carboidratos 
 
Imediatamente após refeição rica em carboidratos, a glicose absorvida para o                     
sangue causa secreção rápida de insulina. A insulina, por sua vez, causa a pronta                           
captação, armazenamento e utilização da glicose por quase todos os tecidos do organismo,                         
mas em especial pelos músculos, pelo tecido adiposo e pelo fígado.  
 
 
 
❏ A Insulina Promove Captação e Metabolismo da Glicose nos Músculos 
 
Durante grande parte do dia o tecido muscular depende não somente da glicose                         
como fonte de energia, mas também dos ácidos graxos. O principal motivo para isso                           
consiste no fato de que a membrana muscular em repouso só é ligeiramente permeável à                             
glicose, exceto quando a fibra muscular é estimulada pela insulina; entre as refeições, a                           
quantidade de insulina secretada é insuficiente para promover a entrada de quantidades                       
significativas de glicose nas células musculares.  
Entretanto, sob duas condições os músculos utilizam grande quantidade de glicose.                     
Uma delas é durante a realização de exercícios moderados ou intensos. Essa utilização da                           
glicose não precisa de grande quantidade de insulina porque as fibras musculares em                         
exercício são mais permeáveis à glicose, mesmo na ausência de insulina, devido ao próprio                           
processo da contração muscular.  
A segunda condição para a utilização muscular de grande quantidade de glicose                       
ocorre nas poucas horas seguintes à refeição. Nesse período, a concentração de glicose no                           
sangue fica bastante elevada e o pâncreas está 
secretando grande quantidade de insulina. Essa insulina adicional provoca transporte rápido                     
da glicose para as células musculares. Por isso, nesse período, a célula muscular utiliza a                             
glicose preferencialmente aos ácidos graxos, como discutiremos adiante. 
 
● Efeito Quantitativo da Insulina para Auxiliar o Transporte de Glicose Através                     
da Membrana da Célula Muscular 
 
O efeito quantitativo da insulina para facilitar o               
transporte de glicose através da membrana da             
célula muscular é demonstrado pelos resultados           
experimentais exibidos na Figura 78­4. A curva             
inferior rotulada como "controle" mostra a           
concentração de glicose livre medida na célula,             
demonstrando que a concentração de glicose           
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permaneceu praticamente zero, apesar do aumento da concentração extracelular de glicose                     
tão grande quanto 750 mg/100 mL. Em contraste, a curva rotulada de "insulina" demonstra                           
que a concentração de glicose intracelular aumentou até 400 mg/100 mL, quando a insulina                           
foi adicionada. Assim, fica claro que a insulina pode aumentar o transporte de glicose no                             
músculo em repouso, pelo 
menos por 15 vezes. 
 
❏ A Insulina Promove a Captação, o Armazenamento e a Utilização da Glicose                       
Hepática 
 
Um dos mais importantes de todos os efeitos da insulina é o de fazer com que a                                 
maioria da glicose absorvida após refeição, seja armazenada quase imediatamente no                     
fígado sob a forma de glicogênio. Então, entre as refeições, quando o alimento não está                             
disponível e a concentração de glicose sanguínea começa a cair, a secreção de insulina                           
diminui rapidamente e o glicogênio hepático é de novo convertido em glicose, que é liberada                             
de volta ao sangue, para impedir que a concentração da glicose caia a níveis muito baixos.                               
O mecanismo pelo qual a insulina provoca a captação e o armazenamento da glicose no                             
fígado inclui diversas etapas quase simultâneas: 
1. A insulina inativa a fosforilase hepática, a principal enzima que leva                       
à quebra do glicogênio hepático em glicose. Isso impede a clivagem                     
do glicogênio armazenado nas células hepáticas. 
2. A insulina causa aumento da captação de glicose do sangue pelas                       
células hepáticas. Isso ocorre com o aumento da atividade da enzima                     
glicocinase, uma das enzimas que provocam a fosforilação inicial da                   
glicose, depois que ela se difunde pelas células hepáticas. Depois de                     
fosforilada, a glicose é temporariamente retida nas células hepáticas                 
porque a glicose fosforilada não pode se difundir de volta, através da                       
membrana celular. 
3. A insulina também aumenta as atividades das enzimas que                   
promovem a síntese de glicogênio inclusive e, de modo especial, a                     
glicogênio sintase, responsável pela polimerização das unidades de               
monossacarídeos, para formar as moléculas de glicogênio. O efeito                 
global de todas essas ações é o de aumentar a quantidade de                       
glicogênio no fígado. O glicogênio pode aumentar até o total de,                     
aproximadamente, 5% a 6% da massa hepática, o que equivale a                     
quase 100 gramas de glicogênio armazenado em todo o fígado. 
4. A enzima glicose fosfatase, inibida pela insulina, é então ativada                     
pela ausência de insulina e faz com que o radical fosfato seja retirado                         
da glicose; isso possibilita a difusão de glicose livre de volta para o                         
sangue. 
Assim, o fígado remove a glicose do sangue quando ela está                     
presente em quantidade excessiva após refeição e a devolve para o                     
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sangue, quando a concentração da glicose sanguínea diminui entre                 
as refeições. Em geral, cerca de 60% da glicose da refeição é                       
armazenado dessa maneira no fígado e então, retorna posteriormente                 
para a corrente,sangmnea. 
 
 
❏ A Insulina Promove a Conversão do Excesso de Glicose em Ácidos Graxos e Inibe a                             
Gliconeogênese no Fígado. 
 
Quando a quantidade de glicose que penetra as células hepáticas é maior da que                           
pode ser armazenada sob a forma de glicogênio ou da que pode ser utilizada para o                               
metabolismo local dos hepatócitos, a insulina promove a conversão de todo esse excesso                         
de glicose em ácidos graxos. Esses ácidos graxos são subsequentemente empacotados                     
sob a forma de triglicerídeos em lipoproteínas de densidade muito baixa e, dessa forma,                           
transportados pelo sanguepara o tecido adiposo, onde são depositados como gordura.  
A insulina também inibe a gliconeogênese. Isso ocorre, em sua maior parte, por                         
meio da redução das quantidades e atividades que as enzimas hepáticas precisam para a                           
gliconeogênese. Contudo, esse efeito é em parte causado por ação da insulina que reduz a                             
liberação de aminoácidos dos músculos e de outros tecidos extra­hepáticos e, por sua vez,                           
a disponibilidade desses precursores necessários para a gliconeogênese. Isso é discutido                     
adiante, em relação ao efeito da insulina sobre o metabolismo das proteínas. 
 
❏ A Falta do Efeito da Insulina sobre a Captação e Utilização da Glicose pelo Cérebro 
 
O cérebro é bastante diferente da maioria dos outros tecidos do organismo, no                         
sentido de que a insulina apresenta pouco efeito sobre a captação ou a utilização da                             
glicose. Ao contrário, a maioria das células neurais é permeável à glicose e pode utilizá­la                             
sem a intermediação da insulina. Os neurônios são também bastante diferentes da maioria                         
das outras células do organismo, no sentido de que utilizam, normalmente, apenas glicose                         
como fonte de energia e só podem empregar outros substratos para obter energia, tais                           
como as gorduras com dificuldade.  
Consequentemente, é essencial que o nível de glicose sanguínea se mantenha                     
sempre acima do nível crítico, o que é uma das funções mais importantes do sistema de                               
controle da glicose sérica. Quando o nível da glicose cai muito, na faixa compreendida entre                             
20 e 50 mg/100 mL, se desenvolvem os sintomas de choque hipoglicêmico que se                           
caracterizam por irritabilidade nervosa progressiva que leva à perda da consciência,                     
convulsões ou, até mesmo, ao coma. 
 
 
 
 
 
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Em suma:  
 
Ação da Insulina 
➔ A insulina pode ser classificada como um hormônio anabólico, pois tende a                       
estocar a glicose. Portanto, de um modo geral, podemos destacar as                     
seguintes funções da insulina: 
➔ Estimular a captação da glicose pelo tecido muscular, onde a glicose é                       
armazenada na forma de glicogênio muscular. 
➔ Aumentar a captação da glicose sanguínea pelas células hepáticas, onde é                     
convertida em glicose 6­fosfato pela glicoquinase. 
➔ Ativar a glicogênio­sintetase, de modo que a glicose 6­fosfato seja convertida                     
em glicogênio e armazenada no fígado. 
➔ Inativar a glicogênio fosforilase (enzima que decompõe o glicogênio hepático                   
em glicose). 
➔ Promove a conversão do excesso de glicose em ácidos graxos que são                       
armazenados no tecido adiposo na forma de ácidos graxos livres e glicerol. 
➔ De um modo mais específico, no que diz respeito à ação da insulina em nível                             
tecidual, temos: 
 
No fígado: 
➔ Promove o estoque de glicose como glicogênio 
➔ Aumenta a síntese de triglicerídeos 
➔ Inibe a glicogenólise e inibe a gliconeogênese (formação de glicose a partir                       
de outros substratos), justificando seu efeito hipoglicêmico. 
 
No músculo esquelético e no tecido adiposo (dependem de insulina): 
➔ A insulina aumenta o número de transportadores de glicose na membrana                     
celular (GLUT­4), aumentado deste modo a captação de glicose. 
➔ Aumento da síntese do glicogênio muscular. 
➔ Aumenta a síntese proteica. 
 
No tecido Adiposo: 
➔ Aumenta o estoque de Triglicerídeos (estimula a lipase lipoproteica e inibe a                       
lipase intracelular). 
➔ Transporte de glicose para dentro da célula. 
 
 
 
 
 
 
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❖ Patogenia  
 
● ∙​        ​Diabetes Tipo I 
➢ O diabetes do tipo 1 é uma doença autoimune na qual a destruição das ilhotas é                               
causada principalmente por células efetoras imunológicas que reagem contra                 
antígenos endógenos das células β. 
➢ A maioria dos pacientes com diabetes do tipo 1 depende da insulina para sobreviver;                           
sem a insulina eles desenvolvem sérias complicações metabólicas, tais como                   
cetoacidose e coma. 
➢ Assim como na maioria das doenças autoimunes, a patogenia do diabetes tipo 1                         
representa a ação recíproca da ​suscetibilidade genética e dos ​fatores                   
ambientais​. 
o ​Fatores Ambientais. ​Há evidências de que os fatores ambientais,                   
especialmente infecções virais, possam estar envolvidos no disparo               
da destruição das células da ilhota no diabetes tipo 1. Associações                     
epidemiológicas têm sido relatadas entre o diabetes tipo 1 e infecções                     
como caxumba, rubéola, vírus coxsackie B ou citomegalovírus, dentre                 
outras. Pelo menos três diferentes mecanismos foram propostos para                 
explicar o papel dos vírus na indução da autoimunidade. 
 
1.  O primeiro é o dano “circunstante”, no qual infecções virais induzem lesão e inflamação nas                             
ilhotas, levando à liberação de antígenos sequestrados das células β e à ativação das células T                               
autorreativas. 
2. A segunda possibilidade é de que os vírus produzam proteínas que mimetizem os antígenos                           
das células β, e a resposta imunológica à proteína viral tenha uma reação cruzada com o tecido                                 
próprio (“mimetismo molecular”). 
3. A terceira hipótese sugere que as infecções virais ocorridas precocemente durante a vida                         
(“vírus predisponente”) possam persistir no tecido de interesse, e que a subsequente reinfecção                         
com o vírus relacionado (“vírus precipitante”), que compartilha epítopos antigênicos, leve a uma                         
resposta imunológica contra as células infectadas da ilhota. Este último mecanismo, também                       
conhecido como “​déjà vu ​viral”, pode explicar a latência entre as infecções e o início do                               
diabetes. 
  
★ Um estudo epidemiológico também não estabeleceu nenhuma associação               
causal entre as vacinações na infância e o risco de desenvolver o diabetes tipo                           
1. 
 
 
 
 
 
 
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❏ Mecanismos de Destruição das Células β 
 
● As manifestações clássicas da doença (hiperglicemia e cetoacidose) ocorrem                 
tardiamente em seu curso, após mais de 90% das células β terem sido destruídos. 
● A anormalidade imunológica fundamental no diabetestipo 1 é a falha na                     
autotolerância nas células T 
● As células T ativadas trafegam então até o pâncreas, onde causam lesão às células                           
β. 
● Os autoantígenos das ilhotas que são alvos do ataque imunológico podem incluir a                         
própria insulina, assim como a enzima descarboxilase do ácido glutâmico (GAB) das                       
células β e o autoantígeno das células da ilhota 512 (ICA512). 
 
 
● ∙​         ​Diabetes Tipo II 
 
➔ O diabetes tipo 2 é uma doença complexa, multifatorial eprototípica. Os fatores                         
ambientais, com o estilo de vida sedentário e os hábitos alimentares,                     
inequivocamente desempenham um papel, como fi cará evidente quando a                   
associação com a obesidade for considerada. 
➔ Os fatores genéticos também estão envolvidos na patogenia, como evidenciado pela                     
taxa de concordância da doença de 35% a 60% nos gêmeos monozigóticos                       
comparados com aproximadamente metade da taxa dos gêmeos dizigóticos. Tal                   
concordância é ainda maior do que no diabetes tipo 1, sugerindo talvez um                         
componente genético ainda maior no diabetes tipo 2. 
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➔ Os dois efeitos metabólicos que caracterizam o diabetes tipo 2 são (1) a resposta                           
diminuída dos tecidos periféricos à insulina (resistência à insulina) e (2) disfunção da                         
célula β que é manifestada como secreção inadequada de insulina diante da                       
resistência à insulina e da hiperglicemia. A resistência à insulina prediz o                       
desenvolvimento da hiperglicemia e é, geralmente, acompanhada pelo               
hiperfuncionamento compensatório das células β e a hiperinsulinemia nos estágios                   
precoces da evolução do diabetes.  
 
 
 
❏ Resistência à Insulina 
 
A resistência à insulina é definida como a incapacidade dos tecidos­alvo de                       
responder normalmente à insulina. Isso leva à captação diminuída de glicose no                       
músculo, glicólise e oxidação reduzida de ácidos graxos no fígado, e à incapacidade                         
de suprimir a gliconeogênese hepática. 
A ​perda da sensibilidade à insulina nos hepatócitos é provavelmente o maior                       
contribuinte da patogenia da resistência à insulina. 
Poucos fatores desempenham um papel tão importante no desenvolvimento                 
da resistência à insulina quanto a obesidade. 
Não é somente a quantidade absoluta de gordura, mas também a                     
distribuição da gordura corporal que tem um efeito na sensibilidade à insulina: a                         
obesidade central (gordura abdominal) está mais provavelmente ligada à resistência                   
à insulina do que os depósitos de gordura periféricos glútea/subcutânea). 
o​O tecido adiposo central é mais lipolítico do que os locais periféricos, o que pode                               
explicar as consequências particularmente deletérias deste padrão de               
distribuição da gordura. 
A leptina e a adiponectina melhoram a sensibilidade à insulina pela                     
acentuação direta da atividade da proteína cinase ativada por AMP (AMPK), uma                       
enzima que promove a oxidação dos ácidos graxos no fígado e no músculo                         
esquelético. Os níveis de adiponectina estão reduzidos na obesidade, contribuindo                   
assim para a resistência à insulina. Notavelmente, a AMPK também é o alvo para a                             
metformina, um medicamento antidiabético oral comumente utilizado. 
o ​Uma variedade de proteínas secretadas na circulação sistêmica pelo                   
tecido adiposo. 
Estudos com modelos experimentais têm demonstrado que a redução dos                   
níveis de citocinas pró­infl amatórias acentua a sensibilidade à insulina. Estas                     
citocinas induzem a resistência à insulina pelo aumento do “estresse” celular, o qual,                         
por sua vez, ativa múltiplas cascatas de sinalização que antagonizam a ação da                         
insulina nos tecidos periféricos. 
No diabetes tipo 2, as células β aparentemente esgotam sua capacidade de                       
se adaptar às demandas prolongadas da resistência periférica à insulina. Em                     
estados de resistência à insulina, como a obesidade, a secreção de insulina é                         
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inicialmente mais alta para cada nível de glicose do que nos controles. O estado                           
hiperinsulinêmico é uma compensação da resistência periférica e pode                 
frequentemente manter a glicose plasmática normal durante anos. Eventualmente,                 
no entanto, a compensação das células β se torna inadequada, e há uma                         
progressão para a hiperglicemia. ​A observação de que nem todos os indivíduos                       
obesos com resistência à insulina desenvolvem diabetes patente sugere que uma                     
predisposição intrínseca para a falha das células ​β ​também pode existir. 
 
 
❖ Diabetes tipo 1 
 
É o tipo mais agressivo, causa emagrecimento rápido. Ocorre na infância e                       
adolescência. Causa destruição auto­imune das células β das Ilhotas de Langerhans.                     
Auto­anticorpos contras as células β contra insulina, contra os tecidos glutâmico                     
descarboxilase, contra tirosina fosfatase. O individuo não tem produção de insulina, a                       
glicose não entra nas células e o nível de glicose no sangue fica aumentado. 
O diabetes tipo 1 era anteriormente conhecido como diabetes melito                   
insulinodependente (DMID), diabetes juvenil ou com tendência à cetose. Esta forma                     
representa 10 a 20 % dos casos de diabetes. Os 80 a 90 % dos pacientes restantes                                 
possuem a segunda forma, diabetes melito não­insulino – dependente (DMNID) também                     
denominada de diabetes tipo 2, anteriormente conhecida como diabetes de forma adulta. 
O diabetes melito primário, ou idiopático, é sem dúvida a forma mais comum. E                           
preciso distingui­lo do diabetes secundário, que inclui formas de hiperglicemia associada a                       
causas identificáveis nas quais a destruição das ilhotas pancreáticas é induzida por doença                         
pancreática inflamatória, cirurgia, tumores, drogas, sobrecargas de ferro e determinadas                   
endocrinopatias adquiridas ou genéticas).  
O diabetes tipo 1 surge em geral até os 30 anos, atingindo preferencialmente                         
crianças e adolescentes, podendo, entretanto afetar pessoas de qualquer idade.                   
Caracteriza­se por deficiência absoluta de produção de insulina no pâncreas; causando                     
assim dificuldades ao fígado de compor e manter os depósitos de glicogênio que é vital para                               
o organismo, com isso acumulando no sangue açúcar, levando a hiperglicemia quer dizer,                         
alto nível de glicose no sangue. Assim a eficiência das células fica reduzida para absorver                             
aminoácidos e outros nutrientes necessários, necessitando do uso exógeno do hormônio de                       
forma definitiva.  
Em alguns pacientes, nos primeiros meses de doença pode não haver necessidade                       
do uso de insulina, o que ocorrerá inexoravelmente dentro de alguns meses por destruição                           
da reserva pancreática de insulina. 
No diabetes tipo 1, pode observar­se mais comumente o início abrupto da doença                         
com quadro clinico exuberante. Estes indivíduos em geral são 13 magros ou de peso                           
normal é bastante instáveis, sendo difícil o controle metabólico da doença, podendo ocorrer                         
quadros de cetoacidose diabética.  
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A cetoacidose diabética ocorre ​quase exclusivamente no diabete tipo 1 e é o                         
resultado de deficiência acentuada de insulina associada a aumento absolutos ou relativos                       
do glucagon. A deficiência de insulina causa degradação excessiva das reservas adiposas,                       
resultando em aumento dos níveis de ácidos graxos livres.  
Sob o ponto de vista etiopatogênico pode se dizer que no diabetes melitus tipo 1                             
ocorre uma auto­agressão imunitária determinando a destruição das células β pancreáticas,                     
produtoras e secretoras de insulina. Contribuem na etiopatogênia, fatores genéticos e                     
ambientais. As infecções virais (coxsackie β, caxumba, sarampo etc), constituem ao fator                       
ambiental mais reconhecido, havendo uma predisposição genética, relacionada a um                   
sistema de histocompatibilidade HLA – DB – HLA­DR. 
A alteração da frequência de determinados antígenos do sistema HLA (sistema de                         
histocompatibilidade dos antígenos leucocitários humanos), somada a infecções virais                 
(agressão ambiental), em respostas imunes inadequadas determinam a destruição                 
auto­imune das células β pancreáticas. 
No diabetes tipo 1, há uma incapacidade em produzir insulina porque as células beta                           
pancreáticas foram destruídas por um processo auto­imune. Neste caso, as células do                       
pâncreas que normalmente produzem insulina são destruídas e, quando pouca ou nenhuma                       
insulina vem do pâncreas, o corpo não consegue absorver a glicose do sangue e as células                               
ficam sem insulina.  
O pâncreas do diabético tipo 1 não produz insulina. Sem o hormônio, a glicose não                             
entra nas células e fica acumulada no sangue e começam a aparecer os sintomas. Quando                             
o açúcar no sangue excede o limite, esse excesso é eliminado pela urina. Nota­se quando o                               
diabético ao urinar no vaso sanitário, algum respingo no chão fica com aparência pegajosa                           
de água. O corpo perde líquido por excesso de micção e a consequência é a sede do                                 
diabético. Também é notada a modificação do apetite e o indivíduo sente mais fome. 
 
 
 
● Reposição da Insulina  
 
No diabetes tipo 1, o pâncreas não consegue produzir insulina, por essa razão ela                           
dever ser reposta. A reposição de insulina pode ser realizada através de injeção. Como a                             
insulina é destruída no estômago, ela não pode ser administrada por via oral. Novas formas                             
de insulina vêm sendo testadas, e não têm funcionado bem, devido à variabilidade da taxa                             
de absorção acarretar problemas na determinação da dose. 
A insulina é injetada na pele, na camada de gordura, normalmente no membro                         
superior, na coxa ou na parede abdominal. O uso de seringas pequenas com agulhas finas                             
torna as injeções praticamente indolores. 
Um dispositivo de bomba de ar que injeta a insulina sob a pele pode ser utilizado em                                 
indivíduos que não suportam agulhas. Uma caneta de insulina, a qual contém um cartucho                           
com insulina e é fechada como uma caneta grande, é um modo conveniente para o                             
transporte da insulina, especialmente para aqueles que tomam injeções diárias longe de                       
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casa. Outro dispositivo é a bomba de insulina, a qual bombeia a insulina continuamente de                             
um reservatório através de pequena agulha que é mantida na pele. Doses adicionais de                           
insulina podem ser programadas de modo que a bomba simule o máximo possível a                           
maneira como ela é normalmente produzida pelo organismo. A insulina encontra­se                     
disponível sob três formas básicas, cada qual com velocidade e duração da ação diferente. 
Os esquemas de insulina variam de uma a quatro injeções por dia. Em geral, existe                             
uma combinação de insulina de ação curta e insulina de ação mais longa. O pâncreas                             
normalmente secreta continuamente pequenas quantidades de insulina durante o dia e a                       
noite. Além disso, sempre que a glicemia aumenta depois da ingestão de alimentos, existe                           
uma rápida secreção de insulina proporcional ao efeito da glicemia produzido pelo alimento.                         
A meta de todos os esquemas de insulina, exceto aquela de uma única injeção é mimetizar                               
esse padrão normal da secreção de insulina o mais próximo possível da resposta a ingestão                             
de alimento e aos padrões de atividade. 
Esquema convencional ­ Uma conduta é simplificar o máximo possível o esquema                         
da insulina, com o objetivo de evitar complicações agudas no diabetes (hipoglicemia e                         
hiperglicemia sintomática). Com esse tipo de esquema simplificado (por ex. uma ou duas                         
injeções diárias), os pacientes podem, com freqüência, apresentar níveis glicêmicos bem                     
acima do normal. A exceção é o paciente que nunca varia os padrões de refeição e os                                 
níveis de atividades.  
Esquema intensivo – A segunda conduta é usar um esquema insulínico mais                       
complexo (três ou quatro injeções por dia) para conseguir o máximo de controle sobre o                             
nível glicêmico que seja seguro e pratico. Outro motivo para usar um esquema insulínico                           
mais complexo é permitir que os pacientes tenham maior flexibilidade para mudar suas                         
doses de insulina de um dia para o outro de acordo com as alterações em seus padrões de                                   
alimentações e de atividade e conforme a necessidade para as variações no nível de                           
glicose prevalente. 
 
❖ Diabetes tipo 2  
 
O diabetes mellitus tipo 2 é uma síndrome heterogênea que resulta de defeitos na                           
secreção e na ação da insulina, sendo que a patogênese de ambos os mecanismos está                             
relacionada a fatores genéticos e ambientais. Sua incidência e prevalência vêm                     
aumentando em varias populações, tornando­se uma das doenças mais prevalentes no                     
mundo. 
O diabetes está associado ao aumento da mortalidade e ao alto risco de                         
desenvolvimento de complicações micro e macrovasculares, como também de neuropatias,                   
pode resultar em cegueira, insuficiência renal e amputações de membros. 
O diabetes tipo 2 é causado pela redução da sensibilidade dos tecidos­alvo ao efeito                           
da insulina. Essa sensibilidade diminuída à insulina é frequentemente descrita como                     
resistência à insulina. Para superar a resistência à insulina e evitar o acúmulo de glicose no                               
sangue, deve haver um aumento na quantidade de insulina secretada. Embora não se saiba                           
o que causa o diabetes tipo 2, sabe­se que neste caso o fator hereditário tem uma                               
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importância bem maior do que no diabetes tipo 1. Também existe uma conexão entre a                             
obesidade e o diabetes tipo 2, embora a obesidade não leve necessariamente ao diabetes. 
O DM 2 é considerado um fator de risco independente de DCV, e frequentemente                           
agrega outros fatores de risco CV presentes na síndrome metabólica (SM): obesidade                       
central, dislipidemias (hipertrigliceridemia e baixo HDL). O aspecto de maior relevância no                       
diagnóstico da SM é o risco de desenvolvimento de DM2 e de doença cardiovascular. O                             
escore de Framingham continua sendo até os dias atuais uma forma confiável, simples e de                             
baixo custo de identificação de pacientes ambulatoriais sob maior risco de doença CV, o                           
que possibilita a introdução de rastreamento mais rigoroso e terapias mais agressivas como                         
forma de prevenção de eventos coronarianos futuros. Mas a pesar de ser considerado um                           
entre os melhores métodos disponíveis para estimar o RCV em diabéticos, tanto para o                           
sexo masculino quanto para o feminino em qualquer faixa etária, já se reconhece que a                             
acurácia em predizer o risco na população diabética é menor do que no não diabética.  
  
● Complicações da DM 
 
A necessidade eminente de conseguir um diagnóstico precoce e instituir o                     
tratamento da DM o mais rápido possível aos pacientes acometidos por esta doença se faz                             
importante devido às complicações associadas à hiperglicemia crônica, causando,                 
principalmente, alterações em nível vascular. 
Podemos destacar complicações agudas e complicações crônicas. 
 
➢ Complicações agudas: 
Cetoacidose diabética (mais comum no DM tipo 1) 
Estado Hiperosmolar Não Cetótico (mais comum no DM tipo 2) 
 
➢ Complicações crônicas: 
Retinopatia 
Nefropatia 
Neuropatia 
Aterosclerose, IAM, AVC, Gangrena. 
 
● Sintomas 
 
➔ 50% dos pacientes com DM tipo 2 são assintomáticos.  
 
Quando se manifestam, os principais sintomas são: 
Polifagia; 
Poliúria (aumento do volume urinário) e polaciúria (aumento da frequência urinária); 
Lesões de difícil cicatrização nas extremidades inferiores; 
Perda de peso no DM tipo 1 ou tipo 2 descontrolado; 
Ganho de peso no DM tipo 2; 
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Desânimo, fraqueza, fadiga; 
Infecções frequentes; 
Polidipsia (sede excessiva); 
Alterações visuais (visão turva). 
 
❖ Tratamento 
 
De um modo geral, podemos contar com as seguintes classes de drogas                       
para o tratamento da DM: secretagogos de insulina (sulfonilureias e glinidas) e                       
sensibilizadores à ação da insulina (glitazonas e metformina). 
 
 
 
SULFONILUREIAS 
 
As sulfonilureias sã​o as drogas mais antigas utilizadas para o tratamento da                       
DM. Elas atuam diretamente na c​élula β do pâ​ncreas (em ní​vel dos canais de pot​ássio                             
ATP­dependetes), aumentando tanto a produ​​to basal de insulina quanto apó​s as refeiçõ​​es. 
Estes fá​rmacos se ligam a receptores especí​ficos associados a canais de K+                       
na membrana da cé​lula β pancre​ática. Esta liga​​ção inibe a sa​ída de ​ons K+ para fora da                                 
c​élula, promovendo despolarizaçã​​o da cé​lula e propiciando a abertura dos canais de                       
Ca++ e seu influxo. O aumento da concentra​​ção de Ca++ intracelular favorece a secreçã​​o                           
hormonal a partir de gr​ánulos de insulina que s​ão expulsos da cé​lula para a corrente                             
sanguí​nea; Tamb​ém aumenta a concentraçã​​o de receptores de insulina na superf​ície                     
das  cé​lulas,  aumentando  a  sensibilidade insulina.  
Estes fá​rmacos n​ão estimulam a s​íntese de insulina, apenas promovem sua                     
liberaçã​​o pelo pâ​ncreas. Alé​m disso, para sua açã​​o, as c​lulas β pancre​áticas devem                         
estar presentes no organismo, sendo ineficazes em pacientes pancreactomizados. 
 
Os principais representantes s​ão: 
➔ Glipizida (Minidiab​); 
➔ Glibenclamida (Daonil​); 
➔ Glimeperida (Amaryl​); 
➔ Glicazida (Diamicron​); 
➔ Clorpropamida (Diabinese​). 
 
 
 
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Destes representantes, a Clorpropamida est​á praticamente em desuso, devido ao                   
seu tempo de dura​​ção muito prolongado, apresentando um risco de hipoglicemia muito                       
elevado. As sulfonilureias mais utilizadas s​ão as de 2​ª geraçã​​o (Glibenclamida) e as de                           
​última geraçã​​o (Glicazida e Glimepirida). 
 
● As principais características das sulfonilureias são:  
 
❖ Potência: as sulfonilureias, em doses eficazes, são capazes de reduzir a Glicemia                         
de jejum para até 60­70 mg/dl e a hemoglobina glicosilada em até 1,5­2,0%.   
 
❖ Fatores preditivos de boa resposta: alguns aspectos relacionados ao paciente                   
garantem uma boa resposta às sulfonilureias, estando relacionadas, principalmente,                 
com a função pancreática do indivíduo. Pacientes com diabetes a mais de 10 anos,                           
com função renal comprometida, não apresentarão vantagem alguma ao fazer uso                     
de sulfonilureias.  
 
● Os fatores de boa resposta às sulfonilureias são: 
 
❏ Diagnóstico recente de DM   
❏ Hiperglicemia de jejum moderada (<220 mg/dl)   
❏ Boa função da célula β   
❏ Ausência de anticorpos anti­insulina e anti­GAD, marcadores             
de DM tipo 1.  
Efeitos colaterais: os mais comuns são ganho de peso e reações cutâneas e                         
gastrointestinais. Porém, o mais grave seria representado pela hipoglicemia.  
 
● Contraindicações:   
 
❏ Diabetes tipo 1   
❏ Gravidez   
❏ Cirurgias de grande porte   
❏ Infecções severas   
❏ Predisposição a hipoglicemias severas 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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MEGLITINIDAS (GLINIDAS)  
 
As glinidas, assim como as sulfonilureias, são drogas secretagogos de insulina, mas                       
são menos utilizadas na prática médica. As principais representantes do grupo são                       
Repaglinida (Posprand e Novonorm) e Nateglinida (Starform e Starlix). 
Quanto ao seu mecanismo de ação, as glinidas ligam­se a canais de potássio e                           
estimulam a secreção de insulina, assim como as sulfonilureias. Contudo, diferentemente                     
destas, as glinidas ligam­se e desligam­se mais rapidamente aos canais de potássio, o que                           
garante um rápido início de ação e alta capacidade de desligamento. Portanto, as glinidas                           
servem como drogas secretoras de insulina para serem administradas no momento das                       
refeições. Deste modo, o indivíduo que faz uso deste medicamento alcança um rápido pico                           
de insulina que, com pouco tempo, volta ä normalidade, garantindo um melhor controle de                           
glicemias pós­prandiais. 
O fato de as glinidas promoverem o controle apenas da glicemia pós­prandial (após                         
a refeição) fez com que tais medicamentos deixassem de ser utilizados na clínica médica,                           
vistoque a glicemia de jejum era muito pouco afetada.  
As principais características das glinidas são: 
➢ Efeitos colaterais: hipoglicemia, rinite, sinusite, ganho de peso,               
cefaleia, diarreia. 
➢ Contra­indicações​: disfunções hepática e renal, gravidez e             
amamentação. 
➢ Doses:  
● Repaglinida: 0,5­4mg; metabolização hepática 
● Nateglinida: 60­120 mg; excreção renal 
 
ACARBOSE  
 
A Acarbose (Aglucose e Glucobay) atua, exclusivamente, na inibição das                   
α­glicosidases intestinais, o que diminui a digestão dos oligossacarídeos e a sua conversão                         
em monossacarídeos. Desta forma, a absorção da glicose é reduzida. 
Sabendo que a Acarbose age no momento da digestão, conclui­se que seu uso se                           
faz após a refeição, apresentando um bom efeito contra a hiperglicemia pós­prandial                       
(principalmente em pacientes idosos), mas com modesto efeito na glicemia de jejum. Além                         
do controle da glicemia pós­prandial, a Acarbose é indicada nos casos em que há tolerância                             
alterada a glicose.  
Sabe­se que a hiperglicemia de jejum que acomete o paciente com DM está                         
relacionada com a secreção hepática de glicose por meio da gliconeogênese. Como as                         
Glinidas e a Acarbose não agem em nível hepático, elas pouco exercem sobre a glicemia                             
de jejum. Portanto, a o uso da Acarbose está restrito para aqueles indivíduos que                           
apresentam glicemia de jejum razoável e que apresentam uma boa resposta ao MEV, mas                           
que continuam apresentando glicemia pós­prandial elevada.  
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As características gerais da Acarbose são:  
➢ Efeitos colaterais:​ distúrbios gastrointestinais. 
➢ Contraindicações: transtornos digestivos, gravidez, lactação, insuficiência           
renal e hepática. 
 
METFORMINA  
 
A Metformina (Cloridrato de Metformina, Diaformin, Dimefor, Glucoformin, etc.) é                   
uma biguandina, caracterizada por ser uma droga sensibilizadora de insulina, agindo                     
também em nível hepático. Seus principais mecanismos de ação podem ser resumidos a: 
● Diminui a resistência hepática à insulina, promovendo a inibição da                   
gliconeogênese por meio do bloqueio da PEPCK e da cadeia respiratória. No                       
hepatócito, a metformina promove ainda o estímulo da via de transdução do                       
sinal de insulina e promove a diminuição do ATP intracelular. 
● Aumento da captação periférica de glicose. 
 
Agindo em nível hepático e bloqueando a gliconeogênese, fica clara a ação da                         
Meformina sobre a glicemia de jejum. Afora isso, como efeito secundário, ela promove o                           
aumento da captação muscular de glicose. Além do efeito sobre o sistema hepático e sobre                             
a glicemia, a Metformina apresenta outras características que só trazem benefícios para o                         
paciente diabético, tais como: 
➔ Atua no metabolismo lipídico: promove a diminuição da lipólise; aumento da                     
esterificação de AGL; aumento da oxidação em fígado e tecido muscular. 
➔ Outras ações: melhora da hemostasia; diminuição do PAI­1; diminuição da                   
agregação plaquetária; aumento da produção de óxido nítrico.  
 
A Metformina é excretada por via renal, mas sem metabolização. Por esta razão,                         
antes de iniciar o uso desta droga, devemos garantir que o paciente tenha sua função renal                               
preservada. Daí a importância de se avaliar a dosagem de ureia e creatinina: uma creatinina                             
de 1,4 para mulheres e 1,5 para os homens são fatores que contraindicam o uso de                               
Metformina nestes pacientes. 
 
OBS² : ​O uso de Metformina para idosos sempre deve ser bem avaliado. Sabe­se                           
que os idosos apresentam uma degradação fisiológica da massa muscular. Sabendo que a                         
creatinina Å formada a partir da creatina muscular, nota­se que os valores de creatinina                           
sérica nos idosos podem não refletir muito bem a função renal. Tais pacientes,                         
normalmente, podem apresentar creatinina mais baixa, mesmo com a função renal                     
preservada. Para os idosos, portanto, devemos optar pela avaliação do clearance de                       
creatinina, e não apenas pela creatinina e ureia sérica.  
 
 
 
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Podemos destacar os seguintes pontos da Metformina:  
 
● Efeitos colaterais: redução absorção cianocobalamina, efeitos           
gastrointestinais (mais comuns), reações cutâneas, hepatoxicidade, acidose             
lática. A acidose lática, embora seja bastante rara, é o efeito colateral mais                         
indesejado. Sua fisiopatologia ainda não está bem descrita. Indivíduos que                   
apresentem predisposição à acidose por outras doenças (por exemplo,                 
insuficiência respiratória, insuficiência cardíaca, sepse, etc.), devem evitar a                 
Metformina. 
● Contraindicações: ​disfunção renal, doenças hepáticas crônicas, DPOC,             
ICC, alcoolismo, amamentação. O uso de Metformina na gestação ainda não                     
é completamente liberado; contudo, estudos recentes mostraram que este                 
medicamento não apresenta potencial teratogênico. 
 
De um modo geral, a Metformina é a droga de escolha para o início do tratamento                               
da diabetes pois, além de todos os seus efeitos benéficos, ela não induz ganho de peso e                                 
não induz insuficiência cardíaca. 
 
TIAZOLIDINEDIONAS (GLITAZONAS) 
 
As Glitazonas, assim como a metformina, atuam como sensibilizadores insulínicos                   
(contudo, elas agem preferencialmente em nível periférico, enquanto a metformina tem o                       
fígado como seu principal sítio de ação). Os dois principais representantes da classe das                           
Glitazonas são a Rosiglitazona (Avandia) e a Pioglitazona, que apresentam metabolização                     
hepática. 
Embora possa agir no tecido muscular, o principal sítio de ação das Glitazonas é o                             
tecido adiposo. Elas promovem uma conversão da gordura visceral (gordura ruim) em                       
gordura subcutânea (gordura boa), sendo esta menos maléfica sob o ponto de vista                         
metabólico. Fazendo isso, tem­se a diminuição dos fatores liberados pelo tecido adiposo                       
que determinam a resistência ä insulina (como o TNF­α e a resistina). De forma secundária,                             
promovem uma maior sensibilidade hepática ä insulina e estimula a captação de glicose em                           
nível muscular. 
 
Em resumo, temos como principais mecanismos de Ação das glitazonas: 
 
➢ Atuação como sensibilizadores insulínicos 
➢ Ligação a receptores PPAR­γ 
➢ Principal sítio de ação no tecido adiposo, promovendo aumento da adiponectina e                       
redução de TNF a e resistina 
➢  Maior sensibilidade hepática a insulina (contudo, a ação periférica é mais marcante) 
➢ Estímulo ä captação de glicose em músculos esqueléticos 
➢ Outros efeitos. 
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Diabetes Mellitus● Reduz colesterol total, TG e LDL pequenas e densas 
● Diminuição do PAI­1 (marcador de coagulação) 
● Melhora da pressão arterial 
● ​Redução de marcadores inflamatórios 
   
 
Efeitos colaterais: infecções do trato respiratório superior, cefaleia, edema, anemia                   
e ganho de peso, hepatotoxicidade. Podem induzir a insuficiência cardíaca.   
Contraindicações:​ hepatopatias, alcoolismo, ICC (classe III e IV). 
  
Devido ao fato de poder trazer riscos cardiovasculares, as Glitazonas estão em                       
segundo plano quando comparadas ä Metformina. Contudo, preconiza­se o uso das                     
Glitazonas naqueles pacientes que não toleram a Metformina. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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❖ Referências 
 
 
1.​ Robbins e Cotran, ​bases patológicas das doenças​, 2010 
2.​ Guyton, Arthur. C. Haal, Jonh. E.​ Tratado de Fisiologia Médica​, 2006 
3.​ Berne & Levy, ​Fisiologia​, 2009 
4. Sagan, Carl. ​Variedades da Experiência Científica ­ Uma Visão Pessoal                     
da Busca Por Deus​, 2006 
5.​ American Diabetes Association. Organização Mundial da Saúde, 1997 
6.​ ​Cecil – Medicina Interna​. 23º ed 
7. ​Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes: 2013­2014​/Sociedade               
Brasileira de Diabetes 
8.​ ​Medicina Interna de Harrison​, 2013 
9.​ ​Tratado de Endocrinologia​. Williams, 11º ed. 
10.​ ​Tratado de geriatria e gerontologia.​ Elizabete Viana de Freitas, 2013 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
  
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