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Victor Alberto Danich 
João Arnoldo Gascho 
Leandra bôer Possa 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SOCIOLOGIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 SOCIOLOGIA COMO CIÊNCIA 
1.1 Primeiras palavras 
1.2 O que estuda a Sociologia? 
1.2.1 Sociologia e o Estudo dos Fatos Sociais 
1.3 Diferentes Teorias 
1.4 Sociologia na prática 
 
2 CULTURA E REPRESENTAÇÕES SOCIAIS 
2.1 Conceito de cultura... 
2.2 Cultura, identidade social e representações sociais 
2.2.1 Identidade cultural 
2.2.2 Identidade cultural e representações sociais 
2.3 Dimensões da cultura: material e não-material 
2.4 Outras discussões em torno da cultura 
 
3 ORGANIZAÇÃO DA SOCIEDADE E ESTRUTURA SOCIAL 
3.1 Grupos Sociais 
3.1.1 Os principais grupos sociais 
3.1.2 Características dos grupos sociais 
3.1.3 Tipos de grupos sociais 
3.1.4 Agregados sociais 
3.1.5 Forças de sustentação dos grupos sociais 
3.1.6 Status e papel social 
3.1.7 Estrutura e organização social 
3.2 Processos Sociais 
3.2.1 Diferentes tipos de processos sociais 
3.3 Estratificação E Mobilidade Social 
3.3.1 Estratificação social 
3.3.2 Diferentes tipos de estratificação social 
3.3.3 Mobilidade social 
3.3.4 Tipos de mobilidade social 
3.3.5 Estratificação social nas diferentes sociedades 
3.3.6 Castas sociais 
3.3.7 Estamentos ou estados 
3.3.8 Classes sociais 
3.3.9 Classes sociais no Brasil 
3.4 Instituições Sociais 
3.4.1 Características das instituições sociais 
3.4.2 Principais instituições sociais 
 
4 FUNDAMENTOS ECONÔMICOS DA SOCIEDADE 
4.1 A produção 
4.1.1 O Processo de trabalho 
4.1.2 Elementos do processo de trabalho 
4.1.3 Processo de trabalho e processo de produção 
4.1.4 Divisão do trabalho 
4.2 Relações de produção 
4.2.1 Relações técnicas de produção 
4.2.2 Relações sociais de produção 
4.3 As forças produtivas 
4.3.1 Modo de Produção primitivo 
4.3.2 Modo de Produção escravista 
4.3.3 Modo de produção asiático 
4.3.4 Modo de produção feudal 
4.3.5 Modo de produção capitalista 
4.3.6 Modo de produção socialista 
4.4 Estrutura econômica da sociedade 
4.4.1 Relações de produção e relações de distribuição 
4.4.2 Relações de produção e relações de consumo 
4.4.3 Relações de produção e relações de intercâmbio 
4.4.4 O Trabalho como base do valor 
4.5 Liberalismo e subdesenvolvimento 
4.5.1 Neoliberalismo 
 
REFERÊNCIAS 
1 SOCIOLOGIA COMO CIÊNCIA: CONCEITOS E FUNÇÃO 
João Arnoldo Gascho 
 
1.1 Primeiras palavras 
 
 É natural para o homem viver em sociedade. Tanto é assim, que o grego 
Aristóteles, já no século IV antes de Cristo, falava no ser humano como animal social 
e político. Cada um de nós, inserido que está num agrupamento humano organizado 
e estruturado, se sente no direito de dar opinião sobre esta organização e esta 
estrutura. Igualmente, cada ser humano, como ser social, tem opinião a dar sobre o 
que se passa com esse agrupamento e também sobre a adequação e justiça desta 
organização e estrutura. Queremos entender como a sociedade funciona e nos 
entender dentro dela. 
 Em cada época da história, de acordo com a maneira ou com os 
pressupostos assumidos para interpretar a sociedade, houve diferentes 
interpretações. Assim, a mitologia interpretava a sociedade humana como fruto da 
vontade dos deuses e da força do destino implacável. Nesta interpretação, não era o 
indivíduo, nem a sociedade em seu conjunto, que determinava sua organização e 
sua história, mas fatores externos, alheios à sua vontade e controle. O surgimento 
da filosofia, por volta do século V antes de Cristo, mudou esta visão e o ser humano 
sentiu-se com o poder, advindo da sua razão, para interpretar a realidade e intervir 
sobre ela. Ou seja, o ser humano percebeu-se como capaz de produzir 
conhecimento e construir ele mesmo sua história individual e coletiva. A religião 
trouxe novos elementos para explicar a realidade e dar diretrizes à atividade 
humana; a sociedade humana deveria ser explicada em sua origem, determinada 
em suas formas de proceder e orientada por um destino fundamentado na vontade e 
em mandamentos divinos. Tivemos épocas na história, como na Idade Média, em 
que por força da Igreja, a sociedade tinha uma característica teocêntrica (Deus no 
centro). 
 Finalmente, o movimento científico surgido no século XVI, culminou com o 
surgimento de uma nova forma de interpretação da realidade e também da realidade 
social. Todo conhecimento que não pudesse ser experimentado e comprovado de 
forma sistemática e incontestável, segundo método lógico e específico, era rejeitado. 
Nem todos os cientistas negaram a interpretação religiosa ou filosófica, mas 
colocaram a ciência em outro patamar de conhecimento. Outros, como Augusto 
Comte (1798-1857), tinham como conhecimento válido apenas aquele construído 
segundo normas rígidas de experimentação, de pesquisa, de comprovação racional 
e empírica. 
 
Augusto Comte apresentou a teoria dos três estágios, isto é, a Sociedade passou 
inicialmente pelo estágio mítico ou religioso, no qual tudo era explicado por 
indicações externas, do mito ou da religião; em seguida, houve o momento filosófico 
ou metafísico, baseado no conhecimento intelectual especulativo da filosofia. Esses 
estágios devem ser superados pelo conhecimento científico que ele chamou de 
estágio positivo, que corresponde ao verdadeiro amadurecimento da humanidade. 
 
 Assim, Comte queria superar, no estudo da realidade social, o estágio da 
mera opinião ou da especulação racional e, por isso, rejeitou também qualquer 
influência da filosofia tradicional e, sobretudo, da religião ou da mitologia. Ele queria 
que o estudo da sociedade fosse feito com o mesmo rigor e com o mesmo método 
das ciências naturais, denominando a forma de estudar a sociedade, por ele 
iniciada, como física social. Por isso ele é conhecido como o iniciador da 
Sociologia, com sua obra Curso de Filosofia Positiva, publicado em 1839. 
 
 Vamos refletir: 
Todos nos sentimos no direito de dar opinião sobre a realidade social: damos 
explicação sobre as razões das desigualdades sociais; “sabemos” porque 
existem conflitos; explicamos o fenômeno da violência; falamos com 
convicção sobre a influência da mídia... Mas até que ponto as nossas 
explicações refletem um conhecimento elaborado e comprovado? Será que 
conseguimos sair do senso comum, da opinião e do palpite? Será que o 
estudante universitário pode se contentar com o senso comum, a opinião e o 
palpite? 
 
 
1.2 O que estuda a Sociologia? 
 
 Augusto Comte deu o início, mas foi com Émile Dürkheim (1858-1917) que a 
Sociologia ganhou status de ciência. O primeiro passo foi definir qual o objeto de 
estudo da Sociologia. Tratava-se de caracterizar um objeto específico de estudo 
diferente das demais ciências. Para Dürkheim, esse objeto foi chamado de Fato 
Social. 
 
1.2.1 Sociologia e o Estudo dos Fatos Sociais 
 
Estamos, pois, diante de uma ordem de fatos que apresenta 
caracteres muito especiais: consistem em maneiras de agir, de 
pensar e de sentir exteriores ao indivíduo, dotadas de um poder de 
coerção em virtude do qual se lhes impõem. (...) Constituem, pois, 
uma espécie nova e é a eles que deve ser dada e reservada a 
qualificação de FATOS SOCIAIS (DURKHEIM, 1974, p.6). 
 
 Três características são próprias do fato social: 
a) generalidade: é comum aos membros de um grupo; 
b) exterioridade: é externo ao indivíduo, existe independentemente da sua 
vontade; 
c) coercitividade: atua sobre os indivíduos tão fortemente que estes se sentem 
impelidos a seguir o comportamento estabelecido. 
 
 Os fatos sociais, para fins de estudo científico e para superarmos o senso 
comum e a mera opinião, devem ser tratados como “coisas”, deforma semelhante, 
por exemplo, ao estudo do movimento dos corpos pela Física, ou do estudo do 
metabolismo nos seres vivos pela Biologia. Deve-se afastar a idéia de que as 
ciências consideradas humanas, não podem ter a objetividade das ciências naturais, 
seguindo método rigoroso de experimentação e investigação. O rigor científico deve 
afastar todos os indícios e procedimentos que possam sugerir subjetividade. 
Segundo Cohn apud Oliveira (2000, p.15). “(...) executar o trabalho científico é 
estabelecer relações não evidentes. É preciso fugir ao império do senso comum e 
atravessar a grossa camada da evidência, tentando captar as tendências que estão 
surgindo na sociedade”. 
 Vamos considerar o trabalho - fato social - como objeto de estudo sociológico. 
O rigor científico que a Sociologia, como ciência, exige, deverá afastar interferências 
de ordem pessoal e subjetiva do pesquisador, como fatores de ordem emocional, 
preconceitos de qualquer origem ou qualquer outro aspecto que possa desviar o 
estudo de forma tendenciosa. A ciência exige estudo sistemático, investigação e 
busca de dados de forma controlada, com resultados que possam ser validados e 
comprovados. 
 Vamos aprofundar um pouco este estudo? 
 
a) A partir de uma reportagem de jornal ou de revista, identifique um fato social e 
analise se ele possui as características apontadas acima. 
b) Você acha que a ciência e a tecnologia interferem na forma de organização 
social? Elas geram fatos sociais ou elas seriam, em si mesmas, um fato social? 
c) De que forma os modos de produção influenciam no modo de ser de uma 
sociedade? O trabalho pode ser entendido, então, como um fato social, objeto de 
estudo da Sociologia? 
 
 É natural ao homem viver em grupo. As conseqüências desta realidade social, 
e o modo de realizar-se esta vida em grupo são objetos de estudo da Sociologia. 
Identificar, analisar e entender as mudanças que ocorrem na sociedade e também 
as diferenças que existem entre diferentes funções sociais e mesmo as diferentes 
profissões podem e devem ser entendidas num contexto de padrões estabelecidos 
socialmente. 
 
A época do empirismo passou. Hoje em dia não é mais possível improvisar quando 
se trata de entender e explicar um fenômeno ou fato social (Oliveira, 2003, p.17). 
 
 
1.3 Diferentes teorias 
 
 Da mesma forma que em outras ciências, há diferentes teorias também na 
Sociologia. Teorias fundamentam-se em pressupostos, conceitos, metodologias, e 
diferentes teorias levam a diferentes interpretações da realidade, com implicações 
diretas na forma de entender e aplicar os conhecimentos gerados. Abaixo, 
apresentaremos duas teorias sociológicas que implicam maneiras diferentes de 
entender a sociedade e os fatos sociais, e, consequentemente, maneiras diferentes 
de viver em grupo. Falaremos da teoria positivista/funcionalista e da teoria histórico 
crítica ou dialética. 
 
 Qualquer teoria sociológica fundamenta-se num entendimento ou conceito 
anterior: afinal, o que é SOCIEDADE? Sintetizando o que nos traz Abbagnano 
(1999), podemos considerar três aspectos: sociedade implica relações 
intersubjetivas, comunicação; deve ser considerada como uma totalidade, grupo de 
indivíduos em seu conjunto; supõe a existência de condicionamentos ou 
determinações que regem os relacionamentos dos indivíduos enquanto conjunto. 
 
 Vamos conversar um pouco sobre a teoria funcionalista/positivista? 
 
 Augusto Comte considerava que a sociedade poderia ser analisada sob um 
ponto de vista estático e sob um ponto de vista dinâmico. Sob o ponto de vista 
estático, a sociedade é vista como ordem e organização estabelecida que precisa 
ser mantida para a própria sobrevivência do conjunto. A visão dinâmica entende a 
perspectiva do progresso social, entendido como o movimento necessário para que 
a harmonia, o equilíbrio, a estabilidade e a ordem sejam mantidas sem rupturas. A 
palavra Positivismo, que denomina a teoria de Comte, tem a ver com “o que está 
posto” ou “a realidade que está aí”. 
 Para o Positivismo de Comte, o progresso social não se faz fora da ordem. 
Você está imaginando que isso tem algo a ver com o lema escrito na bandeira do 
Brasil? Pois você está totalmente certo. No século XIX muitos brasileiros, sobretudo 
os mais influentes e seus filhos, iam estudar na Europa. Boa parte destes ia para a 
França, onde estavam mais fortes as idéias positivistas. Esta elite acabou gerando, 
no Brasil, o movimento que derrubou o Império e proclamou a República, em cuja 
bandeira ficou registrado o lema Positivista: Ordem e Progresso. 
 Uma outra denominação dada a esta teoria é Funcionalismo ou Organicismo. 
Guareschi (1997, p.20) explica este conceito dizendo que, nesta perspectiva, a 
sociedade. 
 
[...] está estruturada de forma especial: tudo o que está aí forma um 
sistema organizado, em que tudo tem sua função (...) Aqueles que 
seguem essa teoria enxergam o mundo todo organizadinho. Não há 
nada sobrando. Costumam dizer que a sociedade é como se fosse 
um organismo, ou como se fosse um organismo vivo. 
 
 
 Segundo essa teoria, qualquer mudança pode ser perigosa para a ordem e o 
equilíbrio social, e as únicas mudanças aceitáveis são aquelas que ajudam a manter 
a ordem das coisas, caso contrário, levam à desestruturação social. 
 O ideal positivista de ciência encara o objeto de estudo como algo fixo e 
determinado, submetido à análise fria e objetiva do pesquisador. O fato social, como 
objeto de estudo da Sociologia como ciência, no Positivismo, parte da premissa que 
a realidade social é algo pronto e acabado e deve ser estudada como se assim 
fosse permanecer. De alguma forma, a ciência positivista “congela” o objeto de 
estudo ao que está aí, em determinado tempo e espaço. 
 Vamos refletir e conversar um pouco sobre a teoria histórico-crítica... 
 
A teoria positivista/funcionalista para se entender a sociedade, no seu modo 
de ver e analisar, corresponde à realidade que observamos? O fato social, 
como objeto de estudo da sociologia, é “algo que está aí, pronto e acabado”? 
Que outra forma de considerar o fato social pode nos levar a outro modelo de 
análise e entendimento da sociedade? 
 
 
 O debate sobre a questão acima certamente já levantou nova hipótese de 
análise. Esta hipótese parte de outro conceito de sociedade que leva a teoria 
diferente. Para Guareschi (1997, p.23: “Que nomes a gente poderia dar a esta outra 
teoria? Um dos nomes é o de teoria histórica, e vamos ver por que. Quando se fala 
em história, ou histórico, a primeira coisa que vem à mente é de algo que passa, de 
algo transitório”. Se atribuirmos à sociedade uma condição histórica, estamos 
admitindo que ela também é transitória, mutável, como é a história. Por isso, essa 
teoria, também chamada de crítica, vê a mudança como parte essencial da própria 
realidade, e assim também da sociedade. Os fatos sociais, objeto de estudo da 
Sociologia, não podem, portanto ser estudados como algo pronto, “congelado” no 
tempo, mas como realidades em processo, ou como diz o mesmo Guareschi (1997, 
p.23) “O que é criado não é eterno, apareceu e vai desaparecer. Por isso mesmo é 
precário, transitório, isto é, histórico”. 
 Na concepção crítica ou histórica da sociedade e da sua correspondente 
teoria sociológica, incorpora-se a idéia da mudança, da condição humana de decidir 
sobre sua realidade e sobre seu destino. É o ser humano, com suas decisões e 
ações que cria a sociedade e assim ele também pode - e deve! – transformá-la. O 
equilíbrio social, nesta concepção, encontra-se não em estruturas fixas, nem em 
funções pré-estabelecidas, em algo “posto” (daí Positivismo!), mas no processo, no 
dinamismo natural e necessário das coisas, e a mudança é sempre possível. 
 A teoria crítica ou histórica parte do pressuposto de que a sociedade nunca 
está pronta; há,necessariamente, forças internas contraditórias em toda a realidade, 
e com muito mais razão na realidade social, que colocam esta realidade em posição 
de marcha. O equilíbrio não é algo a ser alcançado, mas algo a ser buscado 
permanentemente, admitindo que toda realidade tem um lado que não pode ser 
escondido, mas que está aí para ser revelado. A esta visão chamamos também de 
visão dialética da realidade. 
 
O que é dialética? 
 
No sentido original, dialética é a arte de discutir a partir de tensão natural que 
sempre há de existir entre opostos, sejam idéias ou fatos históricos. É a lei básica 
pela qual avança o pensamento e também a realidade. 
A dialética na Sociologia nos leva a entender a realidade social como a convivência 
de contrários; esta convivência provoca tensões que são o motor da mudança, da 
evolução e do progresso. Refuta-se, portanto, a idéia de Comte para quem o 
progresso vem pela ordem. Onde há pensamento único, concordância total, não se 
avança em idéias. Onde se acredita que tudo está bem, para que mudar? 
 
 Para refletir: 
Argumente a favor da teoria positivista/funcionalista e, depois a favor da teoria 
histórico/crítica que usa o modelo dialético. Qual teoria predomina, como 
prática, na sociedade atual? 
 
 
 
1.4 Sociologia na prática 
 
 Os sociólogos modernos, via de regra, não se mantêm no estudo de 
conceitos e teorias abstratas, mas voltam-se a áreas específicas, buscando 
entender determinadas realidades sociais específicas. Podemos dizer que a 
pesquisa sociológica toma diversos caminhos: 
• Sociologia urbana: das características e implicações da urbanização sobre a 
sociedade. 
• Sociologia étnica: voltada ao estudo da organização social de diferentes grupos 
étnicos. 
• Sociologia da comunicação: implicações da mídia, da propaganda e das novas 
tecnologias da informação e comunicação sobre a organização e o comportamento 
social. 
• Estudo das classes sociais e da mobilidade social: como a sociedade se estrutura 
em classes, e como se processa a passagem de indivíduos ou grupos de uma 
classe para outra. 
• Sociologia industrial ou organizacional: estudo dos grupos humanos ligados por 
compromissos com uma organização e das relações que ali acontecem. 
• Estudo da ciência e da tecnologia: implicações da evolução científica e tecnológica 
sobre a organização social. 
 
 Existem, além destes caminhos, outras aplicações específicas do estudo da 
Sociologia e, como continuidade de estudos, individual ou em grupos, vocês 
poderiam: 
a) Enumerar outros campos específicos de estudo da sociologia e as contribuições 
que esta ciência pode trazer para este campo de estudo. 
b) Refletir sobre as contribuições específicas do estudo da sociologia para o seu 
campo de formação profissional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 CULTURA E REPRESENTAÇÕES SOCIAIS 
 
 Leandra Bôer Possa 
 
Caros e caras acadêmicos e acadêmicas... 
Este material foi escrito para orientar a discussão e a aprendizagem de vocês a respeito de 
uma temática importantíssima, que se refere a sua formação humanística, pois esta 
temática, a CULTURA, diz respeito a cada um de nós e a cada um dos grupos sociais em 
que vivemos. Então, vamos lá, este texto orienta os estudos, mas é importante que neste 
processo vocês também cooperem, discutindo com o professor e os colegas o conteúdo 
aqui apresentado. 
 
 
 
 
2.1. Conceito de cultura 
 
 
Podemos começar este 
estudo pensando um pouco 
sobre o conceito de cultura, 
ou seja, como podemos 
entender o que é cultura? 
 
 
Primeiro, então, façam um exercício para pensar: O que vocês fazem no 
dia a dia, quais são suas ações e comportamentos durante um dia, que 
remetam a pensar que isso seja cultura? 
 Vamos lá... 
Vou começar: acordam todas as manhãs, tomam café, moram com a 
família, dizem bom dia para as pessoas quando passam, vão trabalhar, são 
casados, ou não solteiros,... 
 O que mais?___________________________________________________ 
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________ 
 
Após termos pensado sobre o que fazemos, como nos comportamos e 
agimos, podemos então pensar sobre como outras pessoas o fazem... 
 
No interior do Rio Grande do Sul, nas estâncias e fazendas, trabalham alguns 
sujeitos que são chamados de peões. Na lida com o campo e com o gado, estes 
sujeitos acordam muito cedo, por volta das 5 horas da manhã. Lá vão eles tomar 
chimarrão e, logo após, vão para o campo. Na volta dos afazeres, lá pelas 8 horas, 
quando chegam, as mulheres preparam seu café da manhã. Então, todos sentam à 
mesa e comem carreteiro (arroz com carne seca) e feijão, um desjejum que, para 
muitos de nós, só seria apreciado como almoço. 
 
Para os russos, o cumprimento normal entre os homens seria darem-se beijos nas 
faces. O que para muitos de nossos homens brasileiros seria um atentado à 
masculinidade. 
 
Para os povos nômades, do pólo norte, receber um visitante é uma festividade, pois 
são pouco visitados. Para demonstrar esta alegria, o homem da casa oferece a 
mulher para que esta durma com o visitante. 
 
Para alguns povos árabes, o homem pode ser casado com tantas mulheres quantas 
pode sustentar. Por isso pode ter várias famílias, isso é permitido. No Brasil, este 
modo de vida seria considerado poligamia. 
 
 Vocês devem conhecer mais exemplos como estes, que nos diferem de 
povos longínquos. Mas também podemos ter vários exemplos que nos diferem entre 
pessoas que constituem um mesmo povo e uma mesma comunidade. Vamos 
conversar sobre isso. Tragam exemplos que conhecem. 
Pois bem, agora vamos tentar interpretar aquilo que fazemos no nosso 
cotidiano e aquilo que nos difere, a partir de alguns conceitos de cultura elaborados 
por alguns cientistas: 
• Para Taylor (1871, p.71), cultura é: “aquele todo complexo que inclui 
conhecimento, crenças, arte, moral, lei, costumes e todas as outras aptidões 
e hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade”. 
• Para Keesing (1981, p.54), cultura é: “sistemas de idéias compartilhadas, 
sistema de conceitos e regras e significados que subjazem e são expressos 
nas maneiras como os seres humanos vivem”. 
• Para Johnson (1997, p.59), cultura é: “o conjunto acumulado de símbolos, 
idéias e produtos materiais associados a um sistema social, seja ele uma 
sociedade inteira ou uma família.” 
• Para Helman (2003, p.12), cultura é: “um conjunto de princípios (explícitos e 
implícitos) herdados pelos indivíduos membros de uma dada sociedade; 
princípios esses que mostram aos indivíduos como ver o mundo, como 
vivenciá-lo emocionalmente e como comportar-se em relação às outras 
pessoas, às forças sobrenaturais ou aos deuses e ao ambiente natural. Essa 
cultura proporciona aos indivíduos um meio de transmitir suas diretrizes para 
a geração seguinte mediante o uso de símbolos, da linguagem, da arte e dos 
rituais.” 
• Para Goodenough in Laraia (2002, p.55), cultura é: “tudo aquilo que alguém 
tem que conhecer ou acreditar para operar de maneira aceitável dentro de 
uma sociedade”. 
• Para Strauss in Laraia (2002, p.61), cultura é “um sistema simbólico que é 
uma criação acumulativa da mente humana.” 
• Para Geertz in Laraia (2002, p.62), a cultura “deve ser ‘considerada‘ não um 
complexo de comportamentos concretos, mas um conjunto de mecanismos 
de controle, planos, receitas, regras e instruções (que os técnicos de 
computadores chamam de programa) para governar o comportamento.” 
• Para Cortela (1998, p.41), a cultura “é o conjunto da ação do humano sobre o 
mundo por intermédio do trabalho.” 
 
 Podemos então concluir que Cultura é “tudo isso, mas se configura em uma 
‘lente’, como ‘um óculos’ que aprendemosa colocar para perceber e conhecer o 
mundo e as relações nele; ‘um óculos’ que aprendemos a colocar e usar para poder 
viver e agir no mundo e em sociedade”. 
 
Com estes conceitos, podemos agora interpretar as nossas ações e 
comportamentos cotidianos que anotamos no início desta sessão. O que 
fazemos, como agimos e como nos comportamos tem relação com a cultura? 
Por quê? 
 
 
 Para refletirmos um pouco mais... 
 
[...] não basta a natureza criar indivíduos altamente inteligentes, isto ela o faz com 
freqüência, mas é necessário que coloque ao alcance desses indivíduos o material que lhe 
permita exercer a sua criatividade de uma maneira revolucionária. Santos Dumont (1873-
1932) não teria sido o inventor do avião se não tivesse abandonado a sua pachorrenta 
Palmira, no final do século XIX, e se transferido em 1892 para Paris. Ali teve acesso a todo 
conhecimento acumulado pela civilização ocidental. Em Palmira, o seu cérebro privilegiado 
poderia talvez realizar outras invenções, como por exemplo, um eixo mais aperfeiçoado para 
carros de bois, mas jamais teria tido a oportunidade de proporcionar à humanidade a 
capacidade de locomoção aérea. (LARAIA, 2002, p 46) 
 
 
A partir deste exemplo trazido por Laraia podemos, então, estabelecer 
algumas conclusões sobre a importância da cultura no processo de 
desenvolvimento dos indivíduos que compõem a sociedade. O que pensam 
sobre isto? 
 
 
 
2.2 Cultura, identidade social e representações sociais 
 
 
Como observamos e refletimos no momento anterior, podemos imaginar a 
cultura como um elemento social do qual cada ser humano vai se apropriando no 
momento que começa a viver em sociedade. Neste sentido, a cultura não é uma 
determinação biológica, genética, pois não nascemos com a cultura, mas vamos 
aprendendo-a tendo em vista a interação que realizamos em nosso grupo social. 
No entanto, imaginar a cultura como uma produção humana de grupos 
sociais, fora da constituição genética não é algo tão óbvio para algumas pessoas na 
sociedade humana, pois muita gente acreditou e ainda acredita que as formas de 
vida e as características de um povo são determinações biológicas-genéticas. 
 
Na história da humanidade, podemos observar algumas destas idéias sobre a 
cultura que geraram formas perversas e racistas de interpretação de um povo e de 
uma cultura. Algumas delas: Hittler com a idéia de superioridade da raça ariana; a 
evangelização e imposição da cultura européia aos índios brasileiros; a escravidão 
dos africanos e a proibição de suas manifestações culturais... 
 
Podemos continuar esta lista com histórias mais recentes. As dos neonazistas e 
grupos de jovens que colocam fogo em índio; ou que massacram outros jovens em 
metrôs; ou ainda de policiais que matam por engano um dentista por ele ser negro e 
confundido com marginal. 
 
Por outro lado, ainda existe muita gente que acreditou e acredita na 
supremacia de uma cultura sobre outras. A idéia de que uma forma de vida seja a 
mais correta, a mais eficiente, a que tem valores mais nobres, constitui-se de 
concepções sociais que não conseguem observar e admitir formas de vida e 
comportamentos, estilos de vida e de crença, valores e contextos diferentes. No 
sentido da não-aceitação de culturas diferentes, têm-se os preconceitos e os 
estigmas. Vejamos alguns exemplos: 
 
Para alguns, os povos ciganos são tidos como pessoas sujas, não possuem caráter. 
O seu modo de vida não é visto como cultura, pois este não se integra a uma cultura 
dominante da sociedade. 
 
O modo de vida e a simplicidade do homem do campo são percebidos pela cultura 
científica como ingenuidade, como cultura menor. 
 
 
Os índios do Xingu são tidos como seres impuros, e o seu modo de vida é tido 
como inadequado diante da tecnologia de nossos tempos. 
 
 
 
O que nos esquecemos em tudo isso? O que nos faz seres humanos e seres 
de identidade? 
 
 Esta é a idéia da qual nos esquecemos: que o que nos faz ter uma identidade 
social, uma identidade com o grupo social a que pertencemos, uma representação 
social, idéias com significado e sentido, com os quais compartilhamos em um grupo 
social, são justamente os modos de vida, a aprendizagem de comportamentos, 
crenças e valores do indivíduo neste grupo social. Neste sentido, estamos ouvindo 
muito nos meios de comunicação a idéia... O povo Xingu está perdendo a sua 
identidade. Podemos então refletir... Por quê? 
O ser humano é uma espécie animal que tem um caráter biológico universal e 
o que nos diferencia enquanto seres e nos possibilita a variedade de grupos sociais 
são as formas de pensar, os hábitos, as crenças e os valores e, por isso, a cultura. É 
a cultura como capacidade humana de criar conhecimentos, crenças, valores e 
comportamentos diante de um contexto natural e social, que constitui os diferentes 
grupos sociais e sociedades, bem como a diversidade de culturas com a qual 
estamos acostumados a conviver, mas que nem sempre respeitamos. 
 Vamos fazer uma reflexão... 
 
Um menino nascido no nordeste brasileiro é adotado, quando bebê, por uma 
família norte-americana e levado para Nova Iorque. Lá é criado e aprende a ser 
um ser humano com esta família que lhe tem muita estima, sendo ele filho 
único. Diante deste fato podemos nos perguntar: Que língua esta criança irá 
falar? Assimilará que valores? Como irá se comportar? Se depois de crescida 
vier para o Brasil, conhecer seus irmãos biológicos, irá perceber-se diferente? 
Por quê? 
 
Podemos então perceber, através do exemplo acima, que o que nos dá uma 
identidade cultural, que nos projeta uma identidade individual é a cultura, as 
aprendizagem que realizamos com o nosso grupo social. 
 
 
2.2.1 Identidade cultural 
 
 Algumas perguntas são insistentes no contexto do desenvolvimento da 
espécie humana ao longo da história e ainda hoje. São elas: Quem é o ser humano? 
Quem é o homem? Por que estamos aqui neste mundo? Qual é o sentido de nossa 
existência? 
 Estas perguntas, em diferentes épocas históricas, terão diferentes 
possibilidades de respostas, pois a resposta a estas perguntas é a tentativa de 
identificar o ser humano, de dar-lhe e de dar-nos uma identidade, de nos diferenciar. 
Como afirma Cortela(1998, p 24), 
 
[...] nos diferenciar do restante da realidade de modo que nela nos 
localizemos; ao mesmo tempo, é a procura de uma definição (do 
latim finis, limite, fronteira) daquilo que é nosso contorno, que nos 
circunscreve, nos contém, ou seja, marca nosso lugar. 
 
 Neste contexto de perguntas humanas sobre a sua existência, a identidade 
cultural é uma das possibilidades de compreendermos que o que diferencia e 
identifica os seres humanos dos outros animais é a capacidade humana de construir 
sentidos próprios para a sua existência. O ser humano é capaz, diferentemente de 
outros animais, de produzir conhecimentos sobre um mundo natural, transformando-
o em um mundo cultural. É capaz de construir um mundo, nele viver e a ele 
transformar tendo em vista que inventa uma variedade de possibilidades de 
interpretação e de experiências que o afastam, cada vez mais, de sua condição de 
animal. 
 Para Cortela (1998), o ser humano, nesse processo, cria uma identidade 
porque se dedica a pensar a sua própria condição, sendo a única criatura viva no 
mundo (que se tem conhecimento) a se recusar em ser o que é. 
 A identidade cultural então, é a hominização do humano, pois através da 
cultura o ser humano se identifica tornando-se humano na vida social e histórica, ao 
mesmo tempo em que é capaz de produzir novas formas de compreensão de sua 
existência, criando novos elementos culturais. Para Pinto (1979, p 122), a cultura é a 
 
[...] coletânea do processo hominização, [que] não tem data de 
nascimento definida nem forma distintiva inicial.A criação da cultura 
e a criação do homem são na verdade duas faces de um e mesmo 
processo, que passa de principalmente orgânico na primeira fase a 
principalmente social na segunda, sem contudo em qualquer 
momento deixar de estar presentes os dois aspectos e de se 
condicionarem reciprocamente. A realização biológica do ser em 
curso de hominização determina as possibilidades de criação cultural 
que lhe são dadas em tal fase, mas estas, ao se realizarem, 
contribuem para o desenvolvimento e aperfeiçoamento das 
qualidades orgânicas, até o momento em que impelem o animal a 
transformar o modo de existência, tornando-o um ser produtor, a 
princípio inconsciente e depois consciente, de si mesmo. 
 
 
Para refletir sobre a identidade cultural humana vamos discutir dois cenários 
projetados por Cortela (1998): 
 
 
Cenário 1: 
Estamos em um dos universos possíveis, ele é finito e tem provavelmente o formato 
cilíndrico (em função da curvatura do espaço sobre si mesmo); - Esse universo 
surgiu há aproximadamente 15 bilhões de anos, a partir de uma grande explosão 
inicial apelidada de “Big Bang” e se extinguirá daqui a outros tantos bilhões de anos, 
em função do esvaecimento da matéria e energia nele existentes; - Dessa explosão 
original resultou uma expansão (que ainda continua), em escala inimaginável, e que 
se concentrou, basicamente, em grandes massas estelares que, por sua vez, se 
agrupam em 100 bilhões de galáxias; - Uma dessas galáxias é a nossa a Via Láctea, 
que contém 100 bilhões de estrelas; - Nessa galáxia, há 4,6 bilhões de anos, 
originou-se o nosso sistema solar; - O Sol, uma das 100 bilhões de estrelas da 
galáxia, é relativamente pequeno (de 5ª grandeza), e tem, girando a sua volta, 9 já 
conhecidos planetas (do grego planetès, vagabundo, errante); - Um desses planetas 
é a Terra, o quinto em tamanho e distante 150 milhões de quilômetros do Sol; - Na 
Terra há vida e, até há pouco, supunha-se que só a havia nela; - Estima-se que 
nosso planeta tenha entre 3 e 30 milhões de espécies de vida diferentes, embora 
apenas 1,4 milhão tenha sido classificada (750.000 insetos, 41.000 vertebrados, 
250.000 plantas e o restante de outros invertebrados, fungos, algas e 
microorganismos); - Uma dessas espécies é a nossa, em sua forma mais recente 
(35.000 anos para cá), chamada de Homo Sapiens Sapiens; - A espécie humana 
tem, no momento, 5,5 bilhões de indivíduos; - Um deles sou eu [...] De forma 
caricatural (mas não falsa), assim se poderia responder à questão Quem sou eu?: 
sou apenas um indivíduo entre outros 5,5 bilhões, pertencente a uma única espécie 
entre outras 30 milhões diferentes, vivendo em um planetinha, que gira em torno de 
uma estrelinha entre outras 100 bilhões, que compõem uma mera galáxia em meio a 
outras 100 bilhões, presentes em um universos existentes... [...] No que se refere a 
essas conclusões, deveria ser menos instável viver, digamos, durante o período 
medieval europeu (entre os séculos V e XV), quando tudo parecia estar em “ordem”: 
a Terra no centro do Universo, o Homem no centro na Terra, a Alma no centro do 
Homem e Deus no centro da Alma. (p 25-27) 
 
 
Cenário 2: 
Tal como os símios, somos, entre os mamíferos, um ancestral comum (no momento, 
identificado em registros fósseis de 22 milhões de anos); porém, ainda não há 
provas cabais sobre qual é e quando viveu o primeiro ancestral direto de um 
hominídeo (hipóteses situam-no entre 8 e 10 milhões a.C.). [...] Supõe-se que há 5 
milhões de anos se iniciou a separação mais nítida, em distintas linhas evolutivas, 
entre símios e hominídeos; o fóssil mais aproximado dessa distinção é o 
Australopithecus, (4,4 milhões de anos), quase certamente o primeiro bípede 
humano. Na seqüência, tivemos o Homo Habilis (2 milhões de anos), o Homo Eretus 
(conhecido como o primeiro a migrar para fora do continente africano, nosso mais 
possível local de origem, há 1,6 milhão de anos), o Homo Neanderthalensis (entre 
400 mil e 250 mil anos) e, por fim, o Homo Sapiens mais próximo a nós (35.000 
anos). [...] Esse processo de milhões de anos foi acompanhado de alterações 
significativas em nosso equipamento biológico e estas, aos poucos, foram 
superando a pretensa desvantagem de nossa não-especialização. 
 
 
O que pensam sobre estes cenários? Podemos perceber nestas histórias a 
importância da cultura como reflexão da identidade humana? POR QUÊ? 
 
 
2.2.2 Identidade cultural e representações sociais 
 
A identidade cultural humana como vimos anteriormente, nos projeta como 
construtores de sentido para a nossa existência em diferentes momentos históricos. 
A identidade cultural é um processo de identificação que se constitui pela produção 
de sentidos que permitem a regulação de comportamentos, a identificação e 
distribuição de papéis sociais. São redes de sentidos que orientam a conduta 
humana coletiva, na medida em que as normas, valores, códigos, são aprendidos 
por todos em uma comunidade, sendo essa a matriz da identificação. 
Graças à identidade cultural e às representações sociais, temos a 
possibilidade, como seres humanos, de dizer não e de não admitir a coerção física 
(prática dos animais), substituindo-a por uma coerção simbólica (idéias, leis, normas, 
valores). A orientação e adesão do ser humano à sociedade humana, não é um 
convencimento forçado, mas sutil e virtual através do envolvimento. Pelo sistema 
simbólico da comunidade e dos próprios sujeitos dela pertencentes, 
compreendemos o quanto a identidade cultural é importante e, ao mesmo tempo, 
manipuladora dos indivíduos. 
 Pensando um pouco sobre isto, vamos a alguns exemplos: 
 
Ninguém obriga alguém, pela força, a ser cidadão jaraguaense. O sujeito se constrói 
cidadão deste lugar não porque nasce aqui, mas porque vive aqui. Podemos refletir 
e criticar as formas e sistemas simbólicos de vida desta cidade, mas se tirarmos ou 
se deixarem de existir algumas de suas características, códigos de vida e valores, 
certamente a identidade cultural desta comunidade e, por conseguinte, das pessoas, 
é abalada. Identificamos isso quando uma pessoa de Jaraguá vai viver em outro 
lugar. Mesmo tendo a possibilidade de apreender e apropriar-se de uma nova 
cultura e de com ela se identificar, as lembranças do sistema simbólico aprendido 
em Jaraguá se mantêm neste sujeito. 
 
É impossível forçar alguém, nos tempos de hoje (ao contrário da escravidão no 
Brasil), pela força física, a trabalhar em uma empresa. No entanto, se deixássemos 
as pessoas livres, no sentido de trabalharem quando quisessem ou quando 
achassem importante, não teríamos empresas. Percebam então que na sociedade 
em que estamos inseridos existe uma forma de identidade cultural que nos conduz 
dia após dia para o emprego, e esta identificação está situada em elementos globais 
(sobrevivência...), mas também se situa em elementos específicos (cooperação com 
os colegas de trabalho...). 
 
O que estes dois exemplos explicam do parágrafo anterior ao quadro? 
 
O sistema simbólico que discutíamos anteriormente está situado em algo que 
podemos também chamar de representações sociais. Mas o que são 
representações sociais? Para Moscovici (1978), não são simples imagens ou 
opiniões sobre o mundo, mas são teorias coletivas sobre o real, são sistemas 
lógicos e se constituem em uma linguagem compartilhada de uma estrutura social 
baseada em valores e conceitos. Este sistema determina, pelos grupos sociais, um 
campo de comunicação de idéias e valores e regem as condutas desejadas e 
admitidas neste grupo. 
Neste sentido, entende-se a cultura como uma representação social que 
define um conjunto de idéias, conhecimentos, valores, ideologias, regras e normas, 
que tem origem na vida cotidiana e do senso comum. Este conjunto orienta o 
pensamento prático, a comunicação e compreensão, as relações e as atitudes 
humanas (individuaise coletivas) em um determinado agrupamento social. Neste 
sentido, as representações sociais se configuram em um conjunto de idéias que 
permitem o entendimento e a ação comunicativa, possibilitando atribuir significados 
e sentidos a uma imagem, objeto ou fenômeno social. 
 
Segundo Habermas, o agir comunicativo não pode ser entendido como agir racional, pois este exige 
capacidade de entender do sujeito e de coordenar a ação, bem como a possibilidade de justificação 
prático-moral. Pressupõe validade do discurso, validade universal (verdade, justeza, veracidade), que 
pelo menos implicitamente são colocadas e reciprocamente reconhecidas pelos interessados, tornam 
possível o consenso que serve de base para o agir comum. O agir comunicativo orienta-se por 
normas intersubjetivamente válidas. Construídas entre o Eu e o Tu. 
 
Significado é um conceito produzido pela cultura independente da atividade individual do sujeito sob 
um objeto, o significado se caracteriza por um sistema conceitual determinado de significações, 
elaborado historicamente. O significado é construído pelo individual pela apropriação, e em se 
apropriando faz uso instrumental do significado para compreender e se integrar ao mundo social em 
que está inserido. O sentido por sua vez é uma atribuição de valor individual, subjetivo e se torna 
complexo porque exige que o sujeito construa pela sua atividade um sentido de ação, pensamento. 
(Leontiv, A. O desenvolvimento do Psiquismo, Lisboa:Horizontes, 1978) 
 
A representação social como um conjunto de significados e sentidos 
(objetivos e subjetivos) é produto de uma construção de idéias que vai definir a 
existência de sujeitos enquanto pensadores, trabalhadores, concretizadores da 
cultura. Os seres humanos como produtores e produtos da história são, também, 
aqueles que constroem um mundo de representações, pois atuando e 
transformando o mundo, são capazes de pensar seu cotidiano e com isso também 
são capazes de modificar a forma de pensar as suas relações nele. 
No mundo, os seres humanos não são meros objetos, pois eles criam 
instrumentos de trabalho e tecnológicos, retiram da terra o seu sustento, modificam 
a natureza, vivem em grupo criando e construindo relações sociais complexas como 
a cultura, as religiões, a economia e a política. É com esta ação humana e social 
que em cada contexto histórico se constituem as representações sociais. 
O mundo humano não é constituído de uma cultura, mas de múltiplas culturas 
que são produzidas nos grupos sociais e que lhe permitem se afastar de um sistema 
natural (sistema em que vivem as outras espécies de animais) para viver em 
sociedade: uma cultura humana. 
 
Isso nos leva a uma questão: Como o ser humano cria a cultura, que 
transforma a sua condição de ser natural para um ser social, histórico e 
cultural? 
 
O ser humano cria a cultura a partir de sua capacidade de utilizar a linguagem e 
de construir instrumentos de trabalho que lhe possibilitem produzir, a partir da 
natureza, um ambiente cultural eminentemente humano. A linguagem e os 
instrumentos são a possibilidade humana de produzir ação de transformação 
consciente no mundo. Estes elementos podem ser definidos como: 
• Linguagem: pensar de forma simbólica o mundo, representar o mundo por 
meio de signos e símbolos, comunicar, interagir com outras idéias, antecipar 
pensamentos antes de acontecerem no mundo real, planejar e executar 
projetos. 
• Instrumentos: criação de materiais que possibilitem não a ação direta sobre 
o mundo e a natureza, mas uma ação indireta, através de alguns 
instrumentos/recursos. Os instrumentos aqui vão da primeira flecha de 
madeira e pedra (no período da pedra lascada), passam pela enxada e o 
arado puxado a boi, até os mais sofisticados computadores de automação 
industrial nos dias de hoje. Instrumentos equipamentos, técnicas, e 
tecnologias que ampliam e tornam mais eficientes os sentidos e membros 
humanos, mas também que garantem a sua atuação de não especializado 
biologicamente para ação. 
 
Vamos então discutir e refletir sobre a identidade cultural e as representações 
culturais, identificando os elementos da linguagem e dos instrumentos em 
uma organização empresarial. 
Será que uma organização empresarial, uma indústria metalúrgica, ou têxtil, 
como espaço de trabalho, pode ser considerada espaço de identidade cultural 
para as pessoas que ali trabalham? Por quê? 
 
Nas discussões sobre cultura até aqui realizadas podemos perceber a 
importância deste tema para a formação profissional? 
 
 
 
2.3 Dimensões da cultura: Material e não-material 
 
 Como vimos anteriormente, a cultura se configura como sistema através da 
linguagem e da construção de instrumentos. Neste sentido, podemos considerar que 
o conteúdo cultural se dá pela cultura material e pela cultura não-material, sendo 
estas: 
 
• A cultura material inclui tudo o que é feito, modelado ou transformado como 
parte da vida social coletiva, da preparação do alimento à produção de aço e 
computadores, passando pelo paisagismo, pelas técnicas de construção civil, 
aeronáuticas e pelos instrumentos tecnológicos a que temos acesso e que 
continuamos a desenvolver. 
• A cultura não-material, eminentemente simbólica que inclui das palavras às 
notas musicais, das definições sobre as coisas aos conceitos, das idéias às 
teorias sobre o mundo, pois a cultura não-material representa, pela 
linguagem, o sistema simbólico de idéias, que modelam, informam e 
comunicam a vida dos seres humanos, uma vida de relações recíprocas 
configuradas em sistemas sociais dos quais, os seres humanos participam. 
As mais importantes dessas idéias são as ATITUDES, CRENÇAS, VALORES 
e NORMAS. 
 
 Vamos buscar exemplos para a compreensão e discussão destas dimensões 
da cultura... 
 
Quando imaginamos uma dona de casa dos anos 30 do século XX podemos 
imaginar o seu dia diante dos afazeres domésticos, tais como lavar e passar 
roupa, preparar alimentação... Quando pensamos nesta dona de casa no 
século XXI, diante destes afazeres domésticos, o que muda? Muda por quê? 
Seria este um bom exemplo de transformação da cultura material? E será que 
a mudança desta cultura material também promove mudanças em relação ao 
papel desta mulher na sociedade? Ou seja, existe aí uma mudança de cultura 
não-material? Qual? 
 
Quando imaginamos um operário metalúrgico do início da revolução industrial, 
o que podemos identificar? Como podemos compreender o trabalho deste 
operário nos dias de hoje? Existe aqui alguma mudança nas dimensões 
material e não-material da cultura? Quais? 
 
 
 
2.4 Outras discussões em torno da cultura 
 
 
 Neste último tópico, apontarei algumas discussões atuais, e outras nem tanto, 
que vocês poderão estar aprofundando durante o desenvolvimento das aulas da 
disciplina. 
 O primeiro tópico que trago é a idéia de que hoje o conhecimento sociológico 
nos aponta uma idéia de cultura não mais resignada a uma visão de homogeneidade 
(uma cultura) ou de hierarquia (uma cultura superior), pois quando tratamos a cultura 
no campo da identidade cultural e da representação social, é importante que se leve 
em consideração as múltiplas formas de viver, comportar-se, cooperar, acreditar e 
produzir idéias de um povo. Neste sentido, podemos hoje falar, no campo 
sociológico, das múltiplas culturas e da diversidade cultural, tendo como ponto 
principal o respeito às manifestações culturais locais (comunitárias). Esta discussão 
está no entendimento da rede de relações humanas e culturais no campo da 
complexidade humana, pois daí tem-se as condições de conceber a possibilidade de 
os sujeitos humanos terem de construir múltiplas interações com o mundo. 
 A discussão sobre a diversidade cultural torna possível compreender que o 
outro é possuidorde seu próprio olhar, e de uma forma de relação com o mundo que 
lhe permite construir uma realidade, um mundo sob ângulos de interpretação e de 
vivências que não são os nossos, mas que nem por isso são menores ou menos 
eficientes. Não podem ser subjugados, pois as formas com que outros representam 
o mundo serão o conflito e a contradição de nossas formas de representação, são 
representações não pensadas por nós e por isso podem ser representações 
negligenciadas em nossa forma de interpretar e viver. 
 Nesta discussão sobre diversidade cultural entra em jogo a nossa capacidade 
de flexibilizar pensamentos e ações, tendo em vista que os contrários não são 
negações, mas são elementos que conciliam a realidade. Nesta perspectiva, não 
nos cabe mais pensar entre o certo ou o errado, mas pensar que para a existência 
do certo é necessário o seu contrário e, neste sentido, certo e errado estão 
conciliados na realidade. 
 Além das diversidades culturais locais, assinaladas no primeiro tópico, trago 
agora outro elemento de discussão, que implica a complexidade da cultura humana: 
a cultura global. 
 O avanço tecnológico na área da informação e as transformações das bases 
produtivas capitalistas no sentido de um mercado globalizado têm provocado 
mudanças e relações surpreendentes no campo da cultura, configurando-se nas 
idéias de que até pouco tempo atrás pouco se sabia, ou se sabia tardiamente dos 
acontecimentos do mundo. Hoje, estes acontecimentos e as culturas dos diferentes 
povos chegam às nossas vidas locais através da TV em tempo real, da internet... 
Nunca, em tempos históricos passados, conhecemos tanto sobre outros povos, 
outras políticas, outras formas de viver como temos a oportunidade de conhecer 
hoje. Podemos, em tempo real, estar informados e fazer leituras cotidianas sobre a 
diversidade cultural e sobre a intolerância e supremacia de culturas para com outras 
culturas. Quando estamos na frente da telinha da TV, ou navegando na internet 
podemos ter hoje a sensação de sermos cidadãos do mundo, não mais do Brasil, ou 
de Jaraguá do Sul. 
 Por outro lado, a cultura global em função da nova dinâmica capitalista (o 
neoliberalismo), com base no mercado global, está sendo subvertida por uma forma 
de cultura a que chamamos de indústria cultural, sendo esta uma tentativa de cultivo 
de uma cultura de massa capaz de dominar as representações com um poder 
simbólico que canaliza as vontades, desejos, comportamentos e conceitos de 
existência humana de forma global. São massas populacionais manobradas 
conforme os ventos e as intenções de uma política cultural orientada pela economia 
do mercado e do consumo. 
 A indústria cultural segue a trajetória dos processos industriais de produção 
de mercadorias. Segundo Costa: 
 
A trajetória da produção cultural ao se submeter à lógica da 
mercadoria, que acompanha um suposto progresso material para 
livrar a civilização da barbárie, pode ser identificada na legitimidade 
que os bens culturais adquirem em função da velocidade da 
circulação, na capacidade de romperem a dinâmica espaço-
temporal ou, até mesmo, no fato de conquistarem reconhecimento 
via consumo massivo, independente da qualidade estética e de 
conteúdo dos artefatos simbólicos. (2004, p 176) 
 
 
 O que o autor quer dizer está expresso em muitos exemplos de nossa 
realidade. Nunca se vendeu tanto livros de auto-ajuda, ou de empreendedorismo, 
como nos últimos anos. Também, nunca se viu tanta publicação na área. Por quê? 
Os discursos ecológicos, culturais, inclusivos, a responsabilidade social e muitos 
outros conceitos hoje estão a serviço da indústria cultural que tem uma variedade e 
uma sofisticação quase inatingíveis. Ela chega como aprendizagem por várias vias e 
por diversos caminhos, com uma diversidade de nuances, cores e imagens que nos 
fazem comprar a idéia, a ação, ou mesmo um produto, como parte indispensável de 
nossas vidas. Neste momento, pensamos como pudemos ter vivido sem isso até 
ontem. 
 Adorno dizia que a indústria cultural, a tentativa quase concretizada de uma 
cultura de massa é ideologicamente uma verdade posta a serviço de uma mentira. A 
grande questão está aí... Até que ponto nossa identidade cultural, e nossas 
representações, daí derivadas, são verdades postas a serviço de uma mentira criada 
por nós mesmos e pela nossa sociedade? 
 
Deixo vocês com esta e outras perguntas essenciais: Quem é o ser Humano? 
Qual é o nosso lugar? Que sentidos estamos construindo para a nossa 
existência? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 ORGANIZAÇÃO DA SOCIEDADE E ESTRUTURA SOCIAL 
Victor Alberto Danich 
 
3.1 Grupos Sociais 
 
 Começaremos nossa conversa dizendo que a Sociologia sempre esteve 
interessada em estudar os grupos sociais. Os grupos, como unidades elementares 
de associação humana, antecedem a qualquer estudo de outros fenômenos sociais. 
Estudar a sociedade significa analisar como os grupos sociais se formam e como 
evoluem historicamente. Segundo Oliveira (2000), os grupos sociais são formas 
estáveis de integração social. Neles existem normas, costumes e hábitos próprios, 
assim como funções e posições determinadas na estrutura social. 
 Para Fichter (1973, p. 85), o grupo social pode ser conceituado como “uma 
coletividade estruturada, contínua, de pessoas sociais que desempenham papéis 
recíprocos, segundo determinadas normas, interesses e valores sociais, para a 
consecução de objetivos comuns”. 
 De modo geral, os grupos sociais estabelecem normas bem definidas para 
serem respeitadas por todos seus membros. As normas funcionam como um modelo 
determinante do comportamento das pessoas: o modo de falar, o tipo de roupa que 
devem usar, as crenças e valores que devem respeitar e assumir. Nesse sentido, 
estar dentro do grupo significa incorporar uma visão de mundo de acordo com os 
interesses da totalidade deste grupo. Conforme Oliveira (2000), a Sociologia define o 
conceito de grupo da seguinte forma: 
 
GRUPO SOCIAL é toda reunião de duas ou mais pessoas associadas pela 
interação, de modo a manter uma organização capaz de ações conjuntas para 
alcançar objetivos comuns a todos os seus membros. 
 
 
3.1.1 Os principais grupos sociais 
 
De acordo com Oliveira (2000), os grupos sociais são formados por uma 
pluralidade de indivíduos que participam, ao mesmo tempo, de vários grupos sociais 
com interesses específicos, já que entre eles se estabelecem posições, interações e 
sentimentos comuns entre seus membros. A lista a seguir, segundo Oliveira (2000) 
mostra alguns dos grupos sociais existentes na sociedade. 
 
Grupo familiar: Representado pela família. 
Grupo vicinal: Formado pela vizinhança. 
Grupo educativo: Desenvolvido na escola. 
Grupo religioso: Ligado a Instituições religiosas. 
Grupo de lazer: Clubes e associações esportivas ou culturais. 
Grupo profissional: Relações profissionais na empresa, escritório, etc. 
Grupo político: Partidos políticos, Estado, agremiações, etc. 
 
3.1.2 Características dos grupos sociais 
 
 Conforme estudado anteriormente, os grupos têm funções diversas na 
estrutura social, tanto no tipo de organização, como também em finalidades e 
objetivos. Seguramente, vocês devem sentir-se identificados com alguns deles. 
Entretanto, os grupos possuem em comum certas características similares que, de 
acordo com Fichter (1973), podem ser discriminadas da seguinte forma: 
a) Identificação: o grupo deve ser identificado pelos seus membros e pelos 
membros de fora como tal. 
b) Estrutura social: cada elemento do grupo ocupa uma posição social em relação 
à posição dos outros membros. 
c) Papéis individuais: os comportamentos individuaisdefinidos no grupo fazem 
com que cada um de seus membros tenha uma participação determinada, de 
modo a permitir sua identificação. 
d) Relações recíprocas: deve existir interação social entre todos os membros do 
grupo, como forma de estabelecer canais de comunicação entre os membros. 
e) Normas de comportamento: são os padrões que orientam a ação do grupo, 
como maneira de determinar a forma e desempenho do papel do indivíduo 
dentro do grupo. 
f) Interesses e valores comuns: tudo aquilo que é aceito como bom e passível de 
ser compartilhado pela totalidade dos membros do grupo. 
g) Finalidade social: é o objetivo e finalidade do grupo. 
h) Permanência: para que o grupo se perpetue como tal é necessário que ele 
possua capacidade de interação ao longo do tempo. 
 
3.1.3 Tipos de grupos sociais 
 
Vocês perceberam que existem características comuns a todos os grupos, 
independente da natureza. Porém, há uma forma de distinção entre pequenos e 
grandes grupos, que podem ser chamados conceitualmente de grupos primários, 
grupos secundários e grupos intermediários. 
 
a) Grupos primários: São aqueles nos quais predominam os contatos 
caracterizados por uma estreita colaboração e interação face a face, o que 
permite uma fusão de identidade permanente com o grupo. Por exemplo: a 
família, os vizinhos, os colegas de trabalho ou de lazer. 
b) Grupos secundários: são aqueles que estabelecem relações através de 
contatos indiretos, que ocorrem de forma passageira e sem intimidade, cujas 
relações se estabelecem de maneira formal e impessoal. Por exemplo: grupos 
mais complexos, como o Estado ou a Igreja. 
c) Grupos intermediários: são aqueles nos quais podem complementar-se ou 
alternar-se os dois tipos de contatos sociais, tanto primários como secundários. 
Exemplo: a escola. 
 
3.1.4 Agregados sociais 
 
Os agregados sociais são constituídos por uma reunião de pessoas através 
de relações passageiras, aglomeradas ocasionalmente. Apesar da proximidade 
física, exibem um mínimo de comunicação e relações sociais. Os principais 
agregados sociais, segundo a classificação de Fichter (1973), são as manifestações 
públicas, diferentes tipos de multidão, público e massa. 
a) Manifestações públicas: são agregados de pessoas que se reúnem 
deliberadamente em função de um objetivo, participando de determinada ação 
coletiva. Por exemplo: um desfile, uma procissão ou um festejo isolado de acordo 
com uma comemoração de título futebolístico. 
b) Multidão: é um agregado pacífico ou tumultuoso de indivíduos que ocupam um 
determinado espaço físico. Tem como característica a proximidade física, o 
anonimato, a indiferenciação, comportamento coletivo e desordenado. Exemplo: 
pessoas reunidas observando uma construção ou um incêndio. Também podem 
ser populares envolvidos em motins, revoltas, linchamentos, manifestações de 
protesto ou comemorações de rua por uma conquista futebolística. 
c) Público: é um agrupamento de pessoas que recebem os mesmos estímulos, 
mas que são mais ou menos autônomos em suas ações e opiniões. O modo de 
pensar e agir do público são expressos através daquilo que é conhecido como 
opinião pública. Existe, no público, uma forma primária de organização, porque o 
mesmo está sujeito a certos regulamentos. Exemplo: as pessoas que assistem a 
palestras, jogos de futebol, show musicais, etc. formam o público. Para isso, são 
necessárias certas normas como fazer silêncio, aplaudir, comprar ingressos, 
obedecer a horários, etc. 
d) Massa: é um conjunto de pessoas que recebem de forma passiva opiniões ou 
informações veiculadas através dos meios de comunicação. Essas informações 
são opiniões já formadas, transmitidas pelos meios de comunicação de massa. É 
por isso que a massa é um agrupamento grande de pessoas separadas 
fisicamente e desconhecidas uma das outras. Exemplo: pessoas que assistem 
ao programa de televisão, ou a uma programação determinada. 
 
 
3.1.5 Forças de sustentação dos grupos sociais 
 
 
Em toda sociedade existem mecanismos institucionais ou tradicionais que 
servem para que os grupos sociais mantenham sua coesão dentro da estrutura 
social. Vocês devem sentir o efeito desses condicionantes ao se relacionarem com 
os integrantes do grupo ao qual pertencem. De acordo com Oliveira (2000), as 
principais forças de sustentação dos grupos são as lideranças, as normas e sanções 
sociais, os símbolos e os valores sociais. 
 
a) Liderança: é aquela pessoa que possui a capacidade de conduzir o grupo de 
acordo com suas idéias e valores. O líder cumpre um papel central na 
sustentação do grupo, já que tem a capacidade de transmitir normas e valores 
sociais de modo que os mesmos sejam aceitos pelos membros do grupo por 
consenso. 
b) Normas e sanções sociais: todo grupo social possui normas e regras de 
conduta que orientam o comportamento dos indivíduos. Estas normas cumprem 
o papel de reforçar os valores e princípios socialmente estabelecidos na 
sociedade. A sanção social funciona como recompensa ou punição que o grupo 
utiliza para enquadrar o comportamento dos indivíduos na sociedade. Conforme 
o comportamento do indivíduo, ajustado ou não aos padrões normativos da 
sociedade, a aplicação da sanção pode ser tanto aprovativa como reprovativa. 
c) Símbolos: são significados abstratos de alguma coisa que possui um 
determinado valor para as pessoas que a utilizam. Quando é atribuído algum 
significado a um objeto, o mesmo se torna símbolo de algo, como prestígio, 
posição social ou elemento religioso. Por exemplo, a cruz possui um significado 
simbólico importante para os cristãos, assim como uma bandeira para os 
habitantes de um país. Ambos são objetos concretos, mas possuem um 
significado espiritual abstrato. Podemos dizer que os símbolos são convenções. 
A linguagem é a mais importante expressão simbólica, já que ela representa, 
com sua manifestação, todas as características culturais de um povo. 
d) Valores sociais: a sociedade estabelece a forma de comportamento das 
pessoas. Todos nós somos condicionados a um processo de socialização 
através do qual nos ensinam como devemos nos comportar. Esse 
comportamento sempre está sujeito a normas condicionadas a valores sociais. 
Essa maneira de atuar é imposta através de um processo cultural carregado de 
significados, princípios e tradições transmitidos historicamente. Quando ocorrem 
mudanças de comportamento na sociedade, dizemos que há uma mudança de 
valores. Quando as pessoas não se entendem com referência a determinados 
temas que envolvem política, religião ou moral é porque existem entre elas 
concepções ou escalas de valores diferentes, dependendo do ambiente no qual 
foram socializadas. 
 
3.1.6 Status e papel social 
 
É possível saber a posição que uma pessoa ocupa na sociedade? Vocês 
devem ter notado que a sociedade confere aos seus membros uma série de 
atribuições (direitos e deveres) de acordo com as posições que os indivíduos 
ocupam na organização social. Essas atribuições devem conferir com os papéis 
desempenhados pelos indivíduos, enquanto estão realizando uma determinada 
tarefa nas diferentes atividades da sociedade. 
 
STATUS é a posição ou lugar que o indivíduo ocupa na organização social, 
caracterizada por direitos e obrigações, reconhecidos pública e juridicamente, 
importante para o desempenho de suas funções na sociedade. 
 
 
Exemplo: Na universidade, o professor tem direitos e deveres diferentes do 
aluno. O presidente de uma empresa ocupa uma posição diferente dos seus 
empregados. Em ambos os casos, suas posições diferentes lhes dão maior ou 
menor ganho, prestígio social ou poder. 
Na sociedade, as pessoas ocupam diferentes status conforme a função que 
estão desempenhando num determinado momento. Quando um indivíduo se 
encontra em casa, com sua família,seu status é diferente daquele que ocupa 
quando está trabalhando. No primeiro caso, seu status está configurado como pai; 
no segundo, como funcionário. Cada status possui um papel diferente, de acordo 
com a função específica realizada num determinado momento. 
 
PAPEL SOCIAL é o comportamento que a sociedade ou o grupo espera de 
qualquer indivíduo que ocupa um determinado status dentro da organização 
social. 
 
 
 Podemos perceber que o status e o papel são inseparáveis já que ambos 
determinam tanto a posição como a tarefa desempenhada pelos indivíduos na 
sociedade. O sistema de status configura um padrão de relações que atua nas 
interações sociais entre os indivíduos. As pessoas sempre esperam que o indivíduo 
desempenhe o papel ajustado ao status que ele ocupa na sociedade. Se isso não 
acontecer, o indivíduo é punido socialmente por não cumprir com seu papel. 
Exemplo: uma pessoa que tem status definido socialmente deve-se 
comportar como tal, não pode fingir ser outra coisa que interfira no seu papel. Um 
representante comercial não pode fazer uma visita a um cliente vestido de jogador 
de futebol, por mais que seja um esportista. 
 Segundo Lakatos e Marconi (1999), o status pode ser: 
a) atribuído: independe da capacidade do indivíduo, lhe é atribuído de acordo com 
a posição que ocupa na sociedade. Exemplo: em virtude do nascimento, da 
idade, do sexo, sistema de parentesco, classe social, etc. 
b) adquirido: obtido através de suas qualidades, capacidades ou habilidades 
específicas. Exemplo: são os status que o indivíduo adquire ao longo da vida, em 
função de suas qualidades particulares. 
Na sociedade, os indivíduos sempre estão competindo por um status mais 
elevado. Num sistema de classes no qual existe uma relativa mobilidade social (que 
significa sair de um status inferior para um superior) a rivalidade é maior, já que 
existem muitos indivíduos tentando subir na escala social, de modo a melhorar sua 
situação. Por outro lado, aqueles que se encontram num status superior tendem a 
manter sua posição, muitas vezes a qualquer custo. Quando esse problema de 
rivalidade chega próximo do conflito, a busca de status torna-se um problema 
patológico. 
Vamos refletir sobre isto, lendo o artigo a seguir: 
 
A ANSIEDADE POR STATUS 
 
 
Numa sociedade de classes, na qual os condicionantes de sucesso estão em função de metas vinculadas ao 
futuro, em que as circunstâncias não estão totalmente sob controle, termina-se implantando um processo 
neurótico de ansiedade na convivência social. Por outro lado, o julgamento que os indivíduos fazem de si 
próprios em termos de êxitos e fracassos anteriores, cria uma constante incerteza no que pode acontecer mais à 
frente. Quando a ansiedade corresponde a parâmetros de comportamentos normais, a mesma pode ser 
integrada na conduta e na personalidade do indivíduo. Mas, quando o fato ambicionado, em função de seu êxito 
ou fracasso, aparece carregado de incerteza e insegurança, em que a intensidade da frustração é 
desproporcional com relação aquele significante, surge o fenômeno da ansiedade por status. 
Normalmente, o temor e a ansiedade estão presentes nos casos de perturbações e conflitos. Entretanto, a 
ansiedade unida à conquista por status, é expressa através de compulsões infundadas. Em tais casos, a 
explicação não reside num problema psíquico, senão nos problemas motivacionais comuns das sociedades de 
classes. A ansiedade psíquica está vinculada a um temor sem fundamentos, uma idéia fixa ou um ato 
involuntário que se repete incessantemente. A ansiedade por status entranha um conflito simbólico, que é a 
busca de uma meta que está sempre distante e evadida do sujeito. O objeto manifesto não faz mais do que 
representá-la. Serve como defesa simbólica contra a insegurança de não obter o êxito esperado. A ansiedade 
por status sempre é acompanhada de uma fuga para alguma coisa: uma meta ou várias metas a serem 
alcançadas. O objeto específico não é admitido conscientemente, porque foi reprimido. 
É por isso que o objeto consciente deve aparecer como alguma outra coisa qualquer. O propósito comum em 
todos os casos é evitar a ansiedade provocada pelo possível fracasso. O fracassado numa sociedade de status 
transforma-se num excluído social. Por esta causa, os indivíduos numa sociedade de status sempre estão 
presos aos eternos condicionantes de êxitos e fracassos. 
Porém, como os fracassos e os êxitos nunca são definitivos, os indivíduos convivem com a incerteza e 
instabilidade que rege o caráter social das comunidades de status. A ansiedade que leva à procura incessante 
de status é permissível numa sociedade desse tipo, permitindo certo alívio à ansiedade criada por esse contexto. 
Enquanto o indivíduo corre atrás do status, não se confronta com sua ansiedade, porque o temor está dentro 
dele. A ansiedade não pode ser superada pelas fugas na direção das metas, porém pode ser “acalmada”. O 
indivíduo que corre ou transforma-se num “alpinista de status” tem um objetivo imediato: chegar a qualquer 
custo. Isto o alivia. Entretanto, para que o peso da ansiedade não descarregue encima dele, tem que estar 
correndo e escalando sempre. Com esta prática ou conduta social, logra-se diminuir a ansiedade e mantê-la 
longe da consciência. Os poderosos impulsos que existem por trás da compulsão ou obsessão estão 
determinados em última instância por uma aguda ansiedade social. A necessidade de sempre estar à procura de 
status cada vez mais elevado converte-se num meio de fuga de aquilo que se quer realmente fugir: o fracasso. 
Essa fuga tem uma conotação inconsciente, muito longe de ser percebida pelos atores dessa “comedia humana” 
de representação de papéis, que seria: “Eu progrido para não ser um fracassado” e não “Eu pratico alpinismo 
social para não fracassar”. 
 
Victor Alberto Danich (Jornal A Notícia, 17/12/2002) 
 
3.1.7 Estrutura e organização social 
 
Para finalizar, podemos dizer que uma estrutura social é um conjunto 
ordenado dos grupos e todas as forças ou mecanismos de sustentação desses 
grupos. Isso significa que a estrutura social é a somatória dos status existentes no 
grupo social ou na sociedade. Cada indivíduo que participa na organização social 
desempenha um papel determinado de acordo com a posição que ocupa nessa 
estrutura. 
 
ORGANIZAÇÃO SOCIAL é o conjunto de todas as ações que os membros de um 
grupo realizam enquanto desempenham seus papéis sociais, de acordo com a 
posição que estes ocupam na estrutura social. 
 
 
 Conforme Pierson (1970), organização social pode ser conceituada como um 
conjunto de relações de obrigação entre os grupos que existem na sociedade, 
enquanto a estrutura social pode ser considerada como a posição dos indivíduos 
dentro desse sistema de relações. Por exemplo: quando analisamos o 
funcionamento das relações entre os diferentes grupos da sociedade, estamos 
descrevendo a organização social. Quando estamos estudando a posição que os 
indivíduos ocupam nas relações familiares, políticas, religiosas, etc., no contexto dos 
diferentes grupos, estamos analisando a estrutura social. 
 
 
3.2 Processos Sociais 
 
Os processos sociais são as diversas formas pelas quais os grupos e os 
indivíduos interagem uns com outros, como se relacionam e de que maneira 
estabelecem as relações sociais entre eles. Isso significa que o processo social está 
em uma constante mudança devido às relações que se estabelecem entre os 
indivíduos, pois é resultado da interação e da ação social. 
Podemos dizer, também, que a comunicação é um dos requisitos 
fundamentais para estabelecer a interação social, que ocorre através de processos 
culturais historicamente determinados. 
 
PROCESSO SOCIAL é qualquer movimento resultante dos contatos e da 
interação social entre os membros de um grupo ou de uma sociedadeatravés da 
história, provocando mudanças. 
 
 
3.2.1 Diferentes tipos de processos sociais 
 
Todo processo social, como já vimos, envolve diferentes tipos de relações 
entre os grupos ou membros da sociedade. Entretanto, esses relacionamentos não 
ocorrem sempre de maneira harmoniosa, uma vez que os indivíduos e os grupos 
podem estar se ajudando por existirem interesses recíprocos entre eles, ou 
separando-se por questões de hostilidade mútua. De qualquer modo, os processos 
sociais podem ser tanto associativos como dissociativos na dinâmica da organização 
social. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Começaremos por analisar os processos sociais de modo a entender como 
eles ocorrem na dinâmica da interação associativa ou dissociativa entre os membros 
da sociedade. 
 
Processos 
sociais 
 
Associativos 
 
Dissociativos 
 
Cooperação 
 
Acomodação 
 
Assimilação 
 
Competição 
 
 
 
Conflito 
 
a) Cooperação: é a forma particular de processo social, no qual os indivíduos do 
grupo atuam em conjunto visando à concretização de um objetivo. A cooperação 
é fundamental para a coesão e continuidade do grupo e da sociedade. A 
cooperação poder ser direta no caso em que indivíduos realizam, em conjunto, 
coisas semelhantes (Ex. trabalho associado: um pedreiro fazendo a massa e 
outro levantando uma parede). A cooperação indireta ocorre quando são 
realizados trabalhos diferentes, porém em regime de cooperação (Ex. trabalho 
cooperado: um médico precisa de um eletricista para reparar a luz do 
consultório). 
b) Competição: ocorre quando os indivíduos agem uns contra outros de maneira 
pacífica, de modo a obter vantagens numa determinada situação, ocupar um 
lugar de privilégio na hierarquia social, ou tentar se destacar em algum segmento 
da sociedade. Para isso, deve existir uma rivalidade definida, como é o caso do 
aluno que tenta ser merecedor do melhor lugar entre os outros alunos que estão 
rivalizando com ele. A Sociologia entende a competição como uma contenda 
contínua existente na sociedade. A melhor maneira de manter a competição 
dentro de parâmetros pacíficos é estabelecer regras claras para qualquer evento 
que contemple esse processo, como é o caso dos esportes, dos concursos, de 
vagas de emprego, dos vestibulares, etc. 
c) Conflito: quando a competição chega a um ponto tal de tensão social, na qual 
não existem barreiras para conter o choque, surge o conflito. Quando um 
indivíduo se esforça para obter um determinado objetivo, e outro se interpõe no 
seu caminho visando o mesmo propósito, surge o choque pessoal. Desse modo, 
os indivíduos estabelecem entre si uma relação de hostilidade que, ao atingir 
uma elevada situação de tensão social, transforma-se em conflito. Se por um 
lado a competição é contínua, o conflito atinge certo grau de tensão para depois 
diminuir progressivamente, até chegar a um estado de acomodação. 
d) Acomodação: é um processo social que tem como finalidade a diminuição do 
conflito entre os indivíduos ou grupos. É uma forma em que o indivíduo se ajusta 
a uma situação da qual não concorda, a fim de evitar o confronto, enquadrando-
se de maneira formal e externa, sem que ocorram modificações internas, no qual 
o conflito permanece latente. Isso ocorre porque a acomodação é apenas uma 
forma superficial de resolver o conflito, de modo a possibilitar a convivência com 
pessoas ou grupos antagônicos. 
e) Assimilação: é o processo em que os indivíduos ou grupos resolvem, de 
maneira definitiva, os conflitos sociais. É um processo de ajustamento social, 
pelo qual os indivíduos aceitam os padrões comportamentais de outros grupos 
sem que exista qualquer tipo de conflito latente. Os indivíduos começam a 
construir semelhanças de modo inconsciente, já que estas são adquiridas por 
imitação num processo de integração sócio-cultural. O caso mais claro de 
assimilação pode ser verificado nos imigrantes estabelecidos no Brasil. No início, 
estes imigrantes conservaram seus costumes e tradições, acomodando-se para 
poder conviver com outros padrões culturais. Com o passar do tempo, foram 
incorporando, sem perceberem, os hábitos e costumes do novo país, 
assimilando-se de maneira definitiva. 
 
Para finalizar, podemos perceber, no nosso estudo, que os aspectos mais 
importantes dos processos sociais são aqueles que de uma forma ou outra, 
provocam modificações internas na personalidade do indivíduo ou dos grupos. 
Todos os processos sociais, sejam de caráter associativo ou dissociativo, sempre 
farão parte do caminho histórico dos indivíduos na construção de uma humanidade 
coletiva. 
Agora que já estudamos os diferentes tipos de processos sociais, tente 
identifica-los no texto a seguir. 
 
A GUERRA OCULTA 
 
.... ”As guerras étnicas se ampliaram. Na ex-Iugoslávia, a manipulação por parte das 
potências ocidentais de um processo de decomposição em curso estimulou a tragédia, na 
África as rivalidades étnicas e regionais terminaram se confundindo com a degradação 
econômica e social. No Oriente Médio, o fundamentalismo se exacerba em função do 
imperialismo econômico e cultural. Em 1995, a nível mundial, uma pessoa em cada 50 era 
refugiada ou imigrante. Chegamos na atualidade a um total de 15 milhões de pessoas 
deslocadas por causa dos “planos de desenvolvimento”.......”o fenômeno de refugiados 
começou a se tornar evidente a partir de 1990. Em 1965, 1,3 milhões de pessoas estavam 
sob cuidados do Alto Comissariado da ONU. Esta cifra passou para 2,5 milhões em 1975, 
foi para 5,7 milhões em 1979, chegando a 23 milhões no início de 1994....” 
 
Victor Alberto Danich (Jornal A Notícia, 09/10/2001). 
 
 
 
 
3.3 Estratificação E Mobilidade Social 
 
 Nossa conversa inicia-se analisando por que muitas pessoas acreditam que 
na sociedade há igualdade de oportunidades para todos. Imaginamos que os 
indivíduos têm uma chance mais ou menos igual de ser bem sucedidos na luta pela 
vida. Isso é resultado da educação recebida através da disciplina cultural e do 
controle social, que nos faz pensar que numa sociedade aberta, democrática, onde 
existem ilimitadas formas de sucesso. Porém, sempre existiram desigualdades em 
toda a história da humanidade, independente do modelo social existente. Sempre 
houve uma pequena parcela de pessoas em situação privilegiada e um grande 
número de pessoas muito pobres. Entretanto, a desigualdade social entre os 
extremos da pobreza e a riqueza passa despercebida para grande parte dos setores 
médios da sociedade. 
 Isso acontece porque imaginamos que existe uma ordem natural nas 
situações de desigualdade. Parece-nos que a dinâmica dos processos sociais é 
resultado do êxito individual, principalmente nas sociedades divididas em classes, 
nas quais o poder de uma pessoa ou grupo é tido na mais alta estima. 
 
Os abjetamente pobres e todos aqueles cujas energias são 
inteiramente absorvidas pela luta pelo sustento diário são 
conservadores, porque não podem dar-se ao luxo de se esforçar 
para pensar ou entender no que poderia acontecer num futuro muito 
próximo, assim como os altamente prósperos são conservadores, 
porque têm pouca oportunidade de ficar descontentes com a 
situação de hoje. (VEBLEN, 1965, p. 204). 
 
3.3.1 Estratificação social 
 
 O conceito de estratificação social é usado geralmente na definição de 
estruturas socialmente fixas, como classe, raça e sexo. O nome provém de uma 
terminologia usada em geologia, que estuda a disposição e composição das rochas 
em camadas sob a superfície terrestre. No caso da Sociologia, a estratificação 
social refere-se à posição permanente em que os indivíduos estão dispostos nas

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