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Notas sobre Direitos Indígenas

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NOTAS SOBRE DIREITOS INDÍGENAS
		Prof. Dr. Natanael Sarmento – Titular da Unicap.
No sentido antropológico, índio significa o que ou aquele que é originário de um grupo indígena e é por este reconhecido como membro (HUAISS, 2001). Estimados em trezentos e trinta mil pessoas nessa condição, vivem no Brasil segundo o Censo Especial realizado no ano de 1995. Assim sendo, a população indígena representava 0,2% da população brasileira de então. Mais recentemente, segundo a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), há mais de 500 reservas indígenas no país, as quais ocupam no total 12,5% do território nacional, equivalente a 1.069.424,34 km quadrados de terra, onde vivem 512 mil pessoas em aldeias distribuídas em 225 etnias com 180 línguas diferentes.� Mas suas organizações sociais, tradições e costumes são diferenciados, são 170 línguas faladas nas 546 áreas territoriais do país. Alguns grupamentos conservam maior genuinidade cultural, vida autóctone e quase sem aproximação e influência do mundo exterior, enquanto outros mantêm relações diretas e regulares com a chamada civilização em face de atividades extrativas e agrícolas, comércio e produção de madeira, borracha, minérios e assim por diante. Consta que os indígenas reivindicam como seus nada menos que 11% do território nacional. A maior parte dessas terras localiza-se na Amazônia (18% da região), onde vive quase metade dos indígenas do Brasil. 
Na esteira da ideologia de segurança nacional, cujo lema era “integrar para não entregar”, o regime ditatorial pós 1964 intensifica a penetração de territórios indígenas, das terras tradicionalmente ocupadas pelos índios. Em resposta a essa “invasão”, do surto de construções de rodovias e assentamentos de colonos que avançava na região alcançando o interior das áreas tradicionalmente ocupadas pelas populações indígenas, lideranças nativas iniciam a mobilização de suas tribos em articulação com organizações não governamentais ambientalistas e defesas de direitos humanos, além das pastorais da Igreja Católica. 
O Plano Calha Norte (1987) de ocupação territorial da Amazônia refletia essa ideologia. Seu objetivo era reduzir os territórios indígenas contíguos considerados grandes, demovê-los de uma faixa de segurança de 62 km de fronteiras. Seguia-se que os indígenas eram classificados como silvícolas ou aculturados, conforme o grau de adaptação dos grupamentos. Os deveres e a representação dos índios classificados como aculturados deviam cessar progressivamente na medida em que se adaptassem à vida civilizada. Porém, justamente em reação a essa postura excludente e reacionária dos militares golpistas, amplos setores da sociedade civil e da Igreja católica buscam articulação no plano internacional a fim de denunciar os abusos cometidos contra os povos indígenas e invasão de suas terras e, bem assim, apoiar suas legítimas reivindicações. O resultado desta articulação política vai se refletir com a democratização, especialmente nos trabalhos da Constituinte. 
Com efeito, a constituição de 1988 reflete as conquistas do gigantesco esforço de mobilização dos índios e seus aliados e dedica o capítulo VIII à matéria. Por um lado, refletindo o clima de liberdade e o anseio nacional de democratização do país; por outro, pelas fortes pressões exercidas pelas comunidades indígenas que passaram a agir de maneira unificada em defesa de seus direitos, a Carta brasileira recepciona o que existe de mais avançado no direito indígena comparado. Dar-se uma mudança de paradigma com o reconhecimento constitucional dos direitos originais dos povos indígenas, sua forma de organização social, tradições, crenças, costumes, enfim, a cultura material e espiritual dos povos nativos, bem assim de suas terras. Essa nova concepção deixava de lado a visão tradicional de viés positivista-etnocêntrico, que associa a ideia de progresso ao modo de viver do branco civilizado, com todas as distorções resultantes do desejo de aculturação dos índios, de assimilação natural ou outros eufemismos retóricos para o desaparecimento de povos e suas culturas. Os artigos 231 e 232 do capítulo VIII, sob o Título da Ordem Social da CF /1988, expressam essa alteração paradigmática. A jurisprudência, em consonância com os citados dispositivos, vem reconhecendo como crime de racismo o preconceito contra a comunidade indígena, nos termos dos julgados seguintes:
“PENAL. AÇÃO PENAL ORIGINÁRIA. DIREITO DE OPINAR. GARANTIA À NÃO-DISCRIMINAÇÃO E AO NÃO-PRECONCEITO. CONFLITO. MANIFESTAÇÃO DE PENSAMENTO QUE DESVELA, EM VERDADE, PROPÓSITO DE MENOSCABAR DETERMINADA ETNIA. LEI Nº 7.716/89 ART. 20, § 2º. DISCRIMINAÇÃO ÉTNICA. IMPRESCRITIBILIDADE.
 1. Distingue-se a injúria qualificada (CP, art. 140, § 3º, do CP) do crime de racismo em razão do contexto fático em que perpetrada a conduta. Restringindo-se a ofender, de forma estrita, uma única vítima, resta perfectibilizado o delito previsto na regra geral. Se as expressões discriminatórias, contudo, desvelarem preconceito em relação à determinada raça ou etnia, ainda que dirigidas a uma única pessoa, caracterizado estará o crime da lei especial.
 2. Consistindo o bem jurídico tutelado pela infração penal definida no art. 20, § 2º, da Lei nº 7.716/89 na "pretensão ao respeito inerente à personalidade humana, a própria dignidade da pessoa, considerada não só individualmente, como coletivamente" (TEJO, Célia Maria Ramos. Dos crimes de preconceito de raça ou de cor: comentários à Lei 7.716 de 5 de janeiro de 1989. 1. ed. Campina Grande: EDUEP, 1998. p. 23), sujeita-se às suas penas o agente que externa pensamentos pessoais desairosos e notoriamente etnocêntricos, imbuídos de aversão e menosprezo indistinto a determinado grupo social que apresenta homogeneidade cultural e lingüística.
 3. A regra da imprescritibilidade prevista no art. 5º, XLII, da Carta Magna aplica-se ao crime de preconceito étnico perpetrado contra os
índios. Exegese extraída de precedente do STF (HC nº 82.424/RS).” 
(Origem: TRIBUNAL - QUARTA REGIÃO, Classe: APN - AÇÃO PENAL, Processo: 200104010717527 UF: SC Órgão Julgador: QUARTA SEÇÃO, Relator (a) PAULO AFONSO BRUM VAZ, DJU DATA: 29/03/2006 PÁGINA: 571)
“AÇÃO CIVIL PÚBLICA. PUBLICAÇÃO DE ARTIGO EM PERÍODICO. OFENSA À DIGNIDADE DA COMUNIDADE INDÍGENA.
1. A publicação de crônica em periódico fazendo comparação da comunidade indígena com animais, colocando aqueles em patamar inferior que estes, ofende, de forma explícita, a dignidade da comunidade.
2. O valor moral e íntimo da coletividade indígena foi atingido, na sua autoestima e também na consideração social. A publicação teve impacto negativo no ânimo dos integrantes da comunidade causando dor e sentimento de derrota os quais devem ser reparados na presente ação.
3. Valor da indenização razoavelmente fixado em virtude de tratar-se de indenização à comunidade que tem potencial de servir de alerta e desestímulo de conduta da espécie.” (Origem: TRIBUNAL - QUARTA REGIÃO, Classe: AC - APELAÇÃO CIVEL
Processo: 200472020016347 UF: SC Órgão Julgador: QUARTA TURMA Relator (a) MARGA INGE BARTH TESSLER, D.E. DATA: 30/04/2007).
Mas a questão indígena está longe de ser pacífica. Diversos interesses concorrem e, não raro, como de fazendeiros, garimpeiros, posseiros, madeireiros, além de traficantes e contrabandistas, conflitam com o interesse de delimitação e preservação de reservas indígenas. Ditos setores, embora expressem atividades distintas, utilizam a mesma linha discursiva no sentido de considerar excessiva a proteção dada pela União aos índios, de ser uma “mãe” para os índios e “madrasta” para os demais cidadãos brasileiros. Aduzem ainda que a marcha do progresso e da civilização é inevitável, que a redução de territórios indígenas ocorreu em todos os países desenvolvidos do mundo, que no Brasil não pode ser diferente. Ademais, consideram desproporcional a quantidade do território destinada aos nativos, quase 20%, área maior em dimensão que muitos países, para uma população que representa0,2% dos brasileiros. A questão envolve interesses contraditórios, de difícil composição, de modo que as tensões sociais são permanentes nessas áreas de disputas pela posse e uso da terra, conforme observável nos julgados abaixo:
“ADMINISTRATIVO. TERRAS INDÍGENAS. DEMARCAÇÃO. ART. 63 DA LEI Nº 6.001/73. NECESSÁRIA OITIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO.
1. O art. 63 da Lei nº 6.001/73 determina que "nenhuma medida judicial será concedida liminarmente em causas que envolvam interesse de silvícolas ou do Patrimônio indígena, sem prévia audiência da União e do órgão de proteção ao índio". Assim, deve ser anulada a decisão que concedeu liminar de reintegração de posse de terras em processo de demarcação sem atentar para a regra insculpida nesse dispositivo legal.
2. Prejudicada a análise do mérito da liminar concedida.
3. Recurso especial provido.” 
(Origem: STJ - SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, Classe: RESP - RECURSO ESPECIAL – 840150, Processo: 200600852854 UF: BA, Órgão Julgador: SEGUNDA TURMA, Data da decisão: 10/04/2007 Documento: STJ000742719, Relator (a) CASTRO MEIRA, DJ DATA: 23/04/2007 PÁGINA: 246).
“DIREITO ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. DEMARCAÇÃO DE TERRAS INDÍGENAS. ATO DO MINISTRO DE ESTADO DA JUSTIÇA. PORTARIA 1.289/2005, QUE DECLAROU DE POSSE PERMANENTE DO GRUPO INDÍGENA GUARANI ÑANDEVA A TERRA INDÍGENA YVY-KATU. TERRITÓRIO DEMARCADO QUE ENGLOBA FAZENDAS DE PROPRIEDADE DOS IMPETRANTES. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA AMPLA DEFESA, CONTRADITÓRIO E DEVIDO PROCESSO LEGAL. ANÁLISE SUFICIENTE DAS CONTESTAÇÕES APRESENTADAS PELOS IMPETRANTES. LEGALIDADE E CONSTITUCIONALIDADE DO PROCESSO ADMINISTRATIVO QUE CULMINOU COM O ATO IMPETRADO. AUSÊNCIA DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO A SER PROTEGIDO PELA VIA ELEITA. DENEGAÇÃO DA ORDEM.
1. Esta Primeira Seção, quando do julgamento do MS 10.269/DF, Relator para acórdão o Ministro Teori Albino Zavascki (DJ de 17.10.2005), reconheceu a ausência de nulidades no processo administrativo que culminou com a edição do ato ora impetrado, ou seja, a Portaria 1.289/2005, que declarou de posse permanente do grupo indígena Guarani Ñandeva a Terra Indígena Yvy-Katu.
2. No caso dos autos, não houve cerceamento de defesa, tampouco ocorreu violação dos princípios do contraditório e do devido processo legal, pois o processo administrativo foi regularmente instaurado e processado, nos termos da legislação especial (Decreto 1.775/96), oportunizando-se o acesso aos autos e o oferecimento de defesa pelos impetrantes, cujas contestações foram exaustivamente analisadas pela Fundação Nacional do Índio - FUNAI, pela Procuradoria Federal Especializada e pela Consultoria Jurídica do Ministério da Justiça.
3. A demarcação das terras pertencentes tradicionalmente aos índios não representa violação de direitos fundamentais dos atuais proprietários particulares dos imóveis. Pelo contrário, significa o devido cumprimento de disposições constitucionais e legais em favor dos antigos ocupantes das terras (CF/88, art. 231 e seguintes; Lei 6.001/73 e Decreto 1.775/96).
4. Conforme parecer apresentado pela FUNAI, "o fato da cadeia dominial do imóvel não apresentar vícios significa apenas que seus atuais titulares não agiram de má-fé. Isto, porém, não elimina o fato de que os índios foram crescentemente usurpados das terras de ocupação tradicional, sendo forçados a recorrer ao emprego nas fazendas para não deixar romper o vínculo social, histórico e afetivo com os lugares que tinham como referência de sua vida e de sua unidade como grupo diferenciado".
5. Segurança denegada.” 
(Origem: STJ - SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, Classe: MS - MANDADO DE SEGURANÇA - 10994
Processo: 200501506828 UF: DF Órgão Julgador: PRIMEIRA SEÇÃO, Relator (a) DENISE ARRUDA DJ DATA: 27/03/2006 PÁGINA: 136).
“CONSTITUCIONAL. AÇÃO DE REINTETRAÇÃO DE POSSE. PROTEÇÃO AOS ÍNDIOS. LAUDO ARQUEOLÓGICO E ANTROPOLÓGICO. TERRAS TRADICIONALMENTE INDÍGENAS. ALIENAÇÃO PELO ESTADO COMO DEVOLUTAS E CADEIA DOMINIAL DERIVADA. ILEGITIMIDADE. PROVIMENTO DOS RECURSOS DA UNIÃO E FUNAI E REMESSA OFICIAL. AÇÃO IMPROCEDENTE.
- Preliminares de impossibilidade jurídica do pedido e falta de interesse de agir rejeitadas. Não se pretende demarcar as terras em usurpação de atribuição da União, mas da análise de questão possessória relativa a terras reivindicadas pelos autores e pela população indígena local.
- Não prospera a alegada incompetência do magistrado para atuar no feito, pois respondia pela titularidade da 3ª Vara Federal em Campo Grande, conforme ato Conselho da Justiça Federal da 3ª Região. - Não se extrai da sentença parcialidade do magistrado ou sua vinculação a um entendimento prévio específico favorável a uma das partes. Ademais, caberia, em momento próprio, ter sido deduzida exceção de suspeição.
-Sentença fundamentada, na medida em que houve o enfrentamento dos temas, o exame das provas e a exposição da conclusão.
- Inexistente cerceamento de defesa. Despicienda a realização de perícia, à vista da que foi elaborada na ação declaratória n.º 2001.60.00.003866-3.
- A Constituição Federal, em seus artigos 231 e 232 garante proteção aos índios, à sua cultura, terras, recursos hídricos e minerais e de removibilidade condicionada à aprovação do Congresso Nacional, conforme determinam os arts. 231 e 232.
- Procedimento demarcatório iniciado pela FUNAI das terras dos Terena na região da reserva do Buriti fundamenta-se nos dispositivos constitucionais mencionados e no Decreto n.º 1.775/96.
- O deslinde da controvérsia exige o exame da questão fática, a cargo dos antropólogos e arqueólogos, e da jurídica, que se imiscui na primeira.
- Do "Relatório Antropológico para redefinição dos limites da terra indígena Buriti" elaborado por grupos técnicos da FUNAI coordenados pelo antropólogo Gilberto Azanha, em maio de 2001, com base na Portaria 1.155/Pres/FUNAI, aprovado pelo Sr. Presidente da FUNAI e que fundamenta o procedimento demarcatório ora questionado, consta descrição de todo o histórico de ocupação da tribo indígena na região e como seus membros acabaram por ser expulsos pelos fazendeiros e colonos.
- Laudo elaborado por dois peritos nomeados na ação declaratória n.º 2001.60.00.003866-3, dividido em estudo arqueológico e antropológico, também concluiu que a área em questão é tradicionalmente dos Terena.
- Resumidamente, os Terena, descendentes dos Ganá-Txané, habitaram a região do Chaco e do Pantanal. Em meados do século XIX, estavam divididos em vários subgrupos e conviviam na mesma região com outros os ancestrais dos atuais Kadiwéu, conhecidos pela índole guerreira. Desenvolveram entre si aliança alicerçada em trocas matrimoniais e um sistema de relações simbióticas por meio do qual os primeiros forneciam alimentos em troca de proteção militar e artefatos metálicos dos últimos. Entretanto, com a Guerra do Paraguai, as grandes aldeias até então existentes e a sociedade de grande complexidade do ponto de vista da organização social que se formara entrou em colapso, com as famílias em fuga para refúgios ou em pequenos grupos empregados nas fazendas. Após a demarcação de reservas pelo extinto Serviço de Proteção ao Índio - SPI, os diversos subgrupos dos Guaná começaram a se fundir e a compor a população que é hoje denominada Terena.
- Quanto à região do Buriti, os Terena nela habitavam seguramente desde a segunda metade do século XIX, e a primeira posse somente se deu com a demarcação da sesmaria Correntes, em 1896/1898, pertencente a Diocleciano Mascarenhas, que mantinha boa relação com os índios já ali instalados e maliciosamente os convenceu a saírem e se juntarem àqueles que viviam fora de seus limites. Após a saída dos Terena da propriedade de Correntes, logo outros particulares iniciaram pressões para obterem títulos de terras na região e o próprio SPI acabou por ceder e, finalmente, estabelecer uma área de 2.090 ha para os índios, na qual vivem atualmente confinados.
- As terras não foram desocupadas espontaneamente, mas foram obtidas por meio de inegável expulsãodos indígenas. O contato dos Terena com as terras do Buriti, não obstante a expulsão e o confinamento, jamais se extinguiu e continua vivo até os dias atuais.
- A final, a conclusão dos estudiosos designados pelo Juízo na ação declaratória n.º 2001.60.00.003866-3 foi peremptória no sentido de que a área periciada pode ser conceituada como de tradicional ocupação indígena.
- Quanto ao cabimento da conceituação jurídica das terras da região do Buriti como tradicionalmente ocupadas pelos Terena, o conhecido Alvará Régio de 1º de abril de 1680, estendido posteriormente, em 1758, a todo Brasil, reconheceu como originário o direito dos índios às próprias terras, fonte primária e congênita da posse. Posteriormente, a Lei n.º 601, de 18 de setembro de 1850, conceituou as chamadas terras devolutas e deixou claro que entre elas não se incluíam aquelas "concessões do Governo". A transferência destas últimas aos Estados pela Constituição de 1891 (artigo 64) manteve sob domínio da União aquelas pertencentes aos indígenas. Consequentemente, as alienações feitas a particulares pelo Estado de Mato Grosso Sul das terras dos Terena como se fossem devolutas não têm legitimidade, bem assim os títulos acostados aos autos e a cadeia dominial derivada, independentemente da boa fé dos adquirentes.
- Relativamente aos precedentes invocados e à Súmula 650 do Supremo Tribunal Federal, inaplicáveis à situação em comento, pois referem-se a antigos aldeamentos indígenas há séculos desaparecidos e substituídos por grandes concentrações urbanas tais como em Guarulhos, Santo André e São Miguel, situação radicalmente distinta do caso dos Terena. Em primeiro lugar, porque ainda habitam a região do Buriti. Ademais, como foi exposto, após a Guerra do Paraguai a ocupação indígena da região não se identifica com o conceito de aldeia, utilizado nos aludidos precedentes e na súmula, mas à noção de tronco. Somente a partir de 1930, com a criação da reserva de 2.090 ha em que foram confinados, é que a idéia de aldeamento volta a fazer algum sentido, mas é certo que não está extinto.
- Demonstrado o caráter originário da presença dos índios nas terras, prevalece os direitos deles constitucionalmente assegurados, de forma que o título de propriedade dos apelados não lhes socorre.
- A demarcação da região apenas confirmará a posse que incumbe aos indígenas há séculos e não se caracteriza como título aquisitivo de posse ou de constituição da ocupação. Não é necessário o seu término para que os silvícolas possam ocupá-la. Não se trata, in casu, de situação regulada pelo Direito Civil, quando há conflitos entre particulares para se dirimir quem é o titular da propriedade ou posse do bem. O direito à posse dos indígenas não é derivado, mas originário, porque a Constituição Federal assim o definiu. Logo, não se aplicam os artigos 1201, parágrafo único, 1210, § 2º e 1211 do Código Civil nem os artigos 926 e 927 do Código de Processo Civil. 
- O processo demarcatório tem como objetivo a fixação dos limites do território pertencente à União, ao qual será dada destinação específica (propriedade reservada), e culmina com o registro em cartório imobiliário (artigo 6º do Decreto nº 1.775/96), ato que tem caráter de publicidade e não de legitimação. Se a própria Constituição Federal define que são assegurados os direitos originários dos indígenas das terras tradicionalmente por eles ocupadas, não é aceitável que a formalidade condicione o direito de usufruir o que lhes pertence.
- Não se pode tratar os silvícolas como absolutamente capazes e exigir o discernimento próprio de um indivíduo civilizado, inclusive o Código Civil de 2002 estabelece no parágrafo único do artigo 4º que a legislação especial regulará acerca da capacidade dos índios.
- Rejeitada a matéria preliminar. Apelações providas. Ação julgada
improcedente.” 
(Origem: TRIBUNAL - TERCEIRA REGIÃO
Classe: AC - APELAÇÃO CÍVEL - 1041543
Processo: 200360000052220 UF: MS Órgão Julgador: QUINTA TURMA, Relator (a) JUIZA SUZANA CAMARGO DJU DATA:22/01/2008 PÁGINA: 568).
“CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL CIVIL. REINTEGRAÇÃO DE POSSE. TERRAS INDÍGENAS.
1. A Constituição Federal, em seus arts. 231 e seguinte, protege a organização social e os direitos originários dos índios sobre as terras que tradicionalmente ocupam, as quais são inalienáveis, indisponíveis e imprescritíveis.
2. Não obstante a situação em que se encontram os agricultores da região, a área ocupada trata-se de terra devoluta, havendo indícios de que a localidade pode vir a ser caracterizada como terra indígena.” 
(Origem: TRIBUNAL - QUARTA REGIÃO, Classe: AG - AGRAVO DE INSTRUMENTO. Processo: 200404010069579 UF: RS Órgão Julgador: QUARTA TURMA Relator(a) MARGA INGE BARTH TESSLER D.E. DATA: 26/11/2007)
“AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. DANOS MORAIS E MATERIAIS DECORRENTES DE OCUPAÇÃO PERPETRADA POR ÍNDIOS EM IMÓVEIS SITUADOS EM ÁREA SUPOSTAMENTE INDÍGENA. INEXISTÊNCIA DE RESPONSABILIDADE DA UNIÃO E DA FUNAI SOBRE OS FATOS OCORRIDOS. CAPACIDADE CIVIL E POSTULATÓRIA DOS SILVÍCOLAS RECONHECIDAS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
Ação indenizatória ajuizada por proprietários de imóveis na localidade de "Colônia Bom Sucesso", no Município de Itaiópolis-SC, contra a União, a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), o Cacique Alfredo Patté e demais silvícolas, com vistas ao recebimento de indenização por danos morais e materiais decorrentes da invasão dos imóveis de sua propriedade por indígenas, em meados de junho de 1998.
Não prospera a preliminar de impossibilidade jurídica do pedido, porque o ordenamento jurídico brasileiro possibilita o manejo de ação indenizatória para se obter a reparação de danos morais e materiais causados por terceiros ou pela Administração Pública Direta ou Indireta.
Com o advento da Constituição de 1988, migrou-se de um regime de tutela dos povos indígenas para um regime de proteção. Não mais compete ao Estado, através da FUNAI, responder pelos atos das populações autóctones e administrar-lhes os bens, tal como ocorria enquanto vigente o regime tutelar previsto no Código Civil de 1916 e no Estatuto do Índio (Lei 6001/73). A partir do reconhecimento da capacidade civil e postulatória dos silvícolas, em 1988, remanesce ao Estado o dever de proteção das comunidades indígenas e de seus bens (à semelhança do que ocorre com os idosos que, a despeito de serem dotados de capacidade civil, gozam de proteção especial do Poder Público). Desde o reconhecimento constitucional da diversidade cultural (arts. 215, § 10 e 216) e da capacidade civil e postulatória dos índios e de suas comunidades (art. 232 c/c art. 7° do CPC) - o que lhes confere o direito ao acesso a todas as garantias constitucionais de forma autônoma -, não mais subsiste o regime tutelar a que os silvícolas estavam submetidos perante à FUNAI por força do disposto no artigo 6°, III e Parágrafo Único do Código Civil de 1916 e no artigo 7° do Estatuto do Índio, tampouco a classificação dos indígenas em "isolados", "em vias de integração" e "integrados", prevista no artigo 4° do Estatuto do Índio, porque tais dispositivos não foram recepcionados pela atual Constituição. Sendo os silvícolas pessoas dotadas de capacidade para todos os atos da vida civil, segundo a ordem constitucional vigente, não há que se falar em culpa administrativa da FUNAI e da União sobre os fatos que ensejaram a presente ação reparatória. Parcial provimento dos apelos da FUNAI e da União Federal para o fim de reconhecer a ausência de responsabilidade dos referidos entes sobre os fatos que ensejaram a reparação material e moral pretendida.” 
(Origem: TRIBUNAL - QUARTA REGIÃO, Classe: AC - APELAÇÃO CIVEL Processo: 199972010058244 UF: SC Órgão Julgador: QUARTA TURMA Relator (a) EDGARD ANTÔNIO LIPPMANN JÚNIOR D.E. DATA: 03/09/2007).
“CONSTITUCIONAL. PROCESSO CIVIL. IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO. NÃO OCORRÊNCIA. CONFLITO ENTRE ÍNDIOS DA MESMA ETNIA. COMUNIDADE XUKURU DE ORORUBÁ E DE CIMBRES. AUTOTUTELA DE INTERESSES. INSTITUIÇÃO DA VINGANÇA. IMPOSSIBILIDADE. INDIGENATO.DIREITO DOS ÍNDIOS SOBRE AS TERRAS QUE TRADICIONALMENTE OCUPAVAM. EXPULSÃO POR OUTRO GRUPO. DIREITO DA MINORIA AO REGRESSO. OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER IMPOSTA À COMUNIDADE RECORRENTE. APELAÇÃO IMPROVIDA.
1. A Constituição Federal, em seu artigo 231, assegura aos índios o direito à posse em terras tradicionalmente por eles ocupadas, onde exercem suas atividades produtivas.
2. Deflui do texto constitucional a consagração do instituto do indigenato, traduzido pela relação entre a terra e os índios como verdadeiro direito congênito e originário, diferente da posse civil e da ocupação, sendo garantida a posse permanente da terra, por ser habitat natural dos indígenas.
3. No caso concreto, o conflito entre os índios da mesma etnia, índios xukurus, cindiu a comunidade em dois grupos e culminou com a expulsão violenta do grupo menor das terras que tradicionalmente ocupavam, sob a justificativa de impossibilidade de convívio.
4. Os índios, em que pese suas peculiaridades, estão sujeitos à ordem constitucional brasileira, bem como a todo o ordenamento jurídico, de modo que o exercício da autotutela de interesses e a vingança são condutas proscritas pelo sistema.
5. Assim, não se pode colocar sob o manto da proteção estatal, a atitude dos índios que expulsaram os outros, porquanto tais condutas não encontram validade nem amparo na ordem jurídica brasileira.
6. Todos os índios da comunidade xukuru têm direito ao indigenato, sobre as terras que tradicionalmente ocupam, pelo que o direito de um índio não pode excluir o do outro que se encontra na mesma condição jurídica. Aos expulsos, cabe o direito ao retorno às suas moradias.
7. A comunidade indígena xukuru, como organização social, contando com suas lideranças tradicionais e reconhecidas, deve buscar meios pacíficos para resolver seus conflitos, convivendo com as diferenças, e recorrendo ao órgão federal responsável pelo intermédio na solução dos graves conflitos.
8. A obrigação imposta na presente decisão se constitui em obrigação negativa, ou seja "de não fazer", dever de abstinência imposto a apelante no sentido de não impedir que os egressos retornem à terra indígena, sob pena de descumprimento de ordem judicial com todos os seus efeitos.
9. Apelação, remessa oficial e recurso adesivo improvidos.”
(Origem: TRIBUNAL - QUINTA REGIAO, Classe: AC - Apelação Civel – 410210, Processo: 200483000114254 UF: PE Órgão Julgador: Quarta Turma, Relator (a) Desembargador Federal Marcelo Navarro, DJ - Data::12/09/2007 - Página::706 - Nº::176).
Normas de regência dos interesses indígenas 
Sob a regência do art. 6º do Código Civil de 1916, o “silvícola” era considerado pessoa relativamente incapaz para certos atos da vida civil ou à maneira de exercê-los. O legislador do século XIX determinava o regime tutelar estabelecido em leis e regulamentos especiais, regime esse que deveria cessar na medida em que os “silvícolas” fossem se adaptando à civilização do país. A perspectiva jurídico-antropológica era clara: o índio é incapaz e como tal deve ser tutelado. Somente quando o “silvícola” se descaracterizar culturalmente – essa era a expectativa da lei - adotando os costumes, hábitos, meio de vida, etc. do “civilizado”, ele adquire a capacidade. O teor ideológico que alimenta essa norma dificilmente poderia sobreviver no terceiro milênio. Com o advento do novel Código Civil lei n.º 10.406/2002, a regência normativa aprimorou a técnica, mas sem ousadia alguma, ao remeter a matéria para a legislação especial. Sucede que, nesse campo, restam diversas controvérsias, sobretudo em face da necessidade de adaptação do Estatuto do Índio, lei n.º 6.001/73, às inovações da matéria trazidas pela Constituição de 1988. Alheio aos debates e litígios envolvendo direitos indígenas, simplesmente remete a matéria à legislação especial, vide parágrafo único do art. 4º: 
A capacidade civil dos índios será regulada por legislação especial. 
Nesse sentido, o legislador optou pelo entendimento existente no Estatuto do Índio, este que, sem educação, torna o seu desenvolvimento lento e, por isso, deve submeter-se ao regime, ao contrário senso das conquistas obtidas, mormente após a Carta de 1988. Nessa perspectiva, o máximo que o legislador civil avançou na matéria foi deixar de chamar o índio de “silvícola”. Por legislação especial, em caso, entendam-se os vários diplomas legais, decretos e portarias que regulam a matéria: lei n.º 6.001/73, lei n.º 6.015/73, a Constituição Federal, o Decreto n.º 1.775/96. Vale lembrar o projeto substitutivo do Estatuto do índio que claudica na Comissão Especial da Câmara dos Deputados.
Assim, o Novo Código, ao invés de contribuir à pacificação da matéria, apresenta mais insegurança. Com efeito, diversos artigos de leis anteriores ao advento da Constituição de 1988 suscitam discussão se houve ou não revogação ou derrogação tácita, se a previsão infraconstitucional foi, ou não, recepcionada pela nova Carta, dentre outros. De fato, o legislador de 2002 remeteu a matéria para normas cujo teor não é pacífico quanto à vigência, eficácia, efetividade e finalidade social. 
A doutrina, ordinariamente, limita-se a repetir que a lei 10.4006/2002 remete a matéria à legislação especial e a fazer rápida alusão às disposições constitucionais sem enfrentar ou mesmo aludir às contradições, incongruências e incompatibilidades entre aquelas e estas (VENOSA: 2003, DINIZ, 2005, CANNIATO, 2004). Também há quem enfrenta a questão e a torna ainda mais confusa (GAGLIANO e PAMPLONA, 2005): [... O Novo Código Civil remetido à matéria para a legislação especial, parece-nos que o índio passou a figurar, em regra, entre as pessoas privadas de discernimento para os atos da vida civil (absolutamente incapazes), o que não reflete a sua atual situação na sociedade brasileira, p.109]. Os doutos autores reconhecem a extemporaneidade da incapacidade absoluta prevista na legislação especial e, sem informar as fontes ou os princípios norteadores da tese, sustentam: [... Apenas em hipóteses excepcionais, devidamente comprovadas, deve ser reconhecida a sua completa falta de discernimento, para efeito de obter a invalidade dos atos por si praticados, p.109]. A jurisprudência, por sua vez, continua utilizando-se dos critérios que têm por base o grau de integração do índio à sociedade, verbis:
“PENAL – HABEAS CORPUS – LESÃO CORPORAL SEGUIDA DE MORTE – PACIENTE QUE É ÍNDIO JÁ INTEGRADO À SOCIEDADE – POSSUI TÍTULO DE ELEITOR – INAPLICABILIDADE DO ESTATUTO DO ÍNDIO – IMPOSSIBILIDADE DO CUMPRIMENTO DA PENA NO REGIME DE SEMILIBERDADE – ANÁLISE DAS CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS EM QUE FOI ACENTUADA A CENSURABILIDADE DA CONDUTA – REGIME INICIALMENTE FECHADO DEVIDAMENTE JUSTIFICADO – ORDEM DENEGADA.
1. O Estatuto do Índio só é aplicável ao indígena que ainda não se encontra integrado à comunhão e cultura nacional.
2. O indígena que está em pleno gozo de seus direitos civis, inclusive possuindo título de eleitor, está devidamente integrado à sociedade brasileira, logo, está sujeito às mesmas leis que são impostas aos demais cidadãos nascidos no Brasil.
3. O regime de semiliberdade não é aplicável ao indígena integrado à cultura brasileira.
4. O estabelecimento do regime inicial de cumprimento da pena deve observar não só o quantitativo da pena, porém a análise de todas as circunstâncias judiciais, considerada, ainda, eventual reincidência. 
5. Se foi feito contra a conduta do réu rigorosa censurabilidade, justificado está o regime inicialmente fechado, necessário para reprovação do crime e ressocialização do apenado.
6. Ordem denegada.” 
(Origem: STJ - SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, Classe: HC - HABEAS CORPUS – 88853 Processo: 200701904521 UF: MS Órgão Julgador: SEXTA TURMA Relator (a) JANE SILVA (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/MG) DJ DATA:11/02/2008 PÁGINA:1).
“MOEDA FALSA. ART. 289, § 1º, DO CÓDIGO PENAL. LAUDO ANTROPOLÓGICO. DESNECESSIDADE. ÍNDIO INTEGRADO NA SOCIEDADE. INEFICIÊNCIA DA DEFESA. NÃO-DEMONSTRAÇÃO. NEGATIVA DE AUTORIA. NÃO VERIFICADA.DOLO CONFIGURADO. SENTENÇA ANULADA NO TOCANTE À DOSIMETRIA DA REPRIMENDA.
1. Havendo prova inequívoca de ser o índio completamente integrado na civilização, pode o Juiz prescindir do laudo antropológico para aferir a imputabilidade penal.
2. A deficiência da defesa somente levará à anulação do processo se houver prova do prejuízo para o réu. Não demonstrado nos autos qualquer prejuízo, deve ser rejeitada a preliminar de nulidade.
3. A simples negativa de autoria não pode prevalecer ante o conjunto probatório em sentido contrário, que demonstra a consciente prática do ilícito.
4. Configurado o elemento volitivo caracterizador do dolo na conduta do agente, através do conjunto probatório dos autos, tem-se por demonstrado o crime de moeda falsa.
5. Sentença anulada na parte referente à dosimetria da pena, para que seja fixado o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade.” 
(Origem: TRIBUNAL - QUARTA REGIÃO, Classe: ACR - APELAÇÃO CRIMINAL Processo: 200572010044892 UF: SC Órgão Julgador: SÉTIMA TURMA Relator(a) NÉFI CORDEIRO D.E. DATA: 04/07/2007).
“PENAL. PROCESSO PENAL. COMPETÊNCIA. SENTENÇA DE PRONÚNCIA. EXAME ANTROPOLÓGICO. NECESSIDADE.
 - Compete à Justiça Federal processar e julgar homicídio cometido por índio contra índio, quando a motivação envolver questões indígenas. 
 - Constando dos autos elementos suficientes à aferição do nível de integração do índio à sociedade, é dispensável a realização do exame antropológico.
 - A prova da materialidade delitiva e a existência de indícios de autoria são suficientes para que o juiz pronuncie o réu (art. 408 do CPP).” 
(Origem: TRIBUNAL - QUARTA REGIÃO
Classe: RSE - RECURSO EM SENTIDO ESTRITO
Processo: 200372020011084 UF: SC Órgão Julgador: OITAVA TURMA Relator (a) PAULO AFONSO BRUM VAZ DJU DATA: 27/09/2006 PÁGINA: 968).
“PENAL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. AUSÊNCIA DE INTIMAÇÃO VÁLIDA ACERCA DA PAUTA DE JULGAMENTO. NULIDADE.
 - Compete à Fundação Nacional do Índio prestar assistência jurídica ao indígena, nos termos do art. 3º do Decreto nº 4645/2003.
 - A falta de intimação dos procuradores da FUNAI em processo criminal no qual indígena figure como parte eiva de nulidade o julgamento de recurso.” 
(Origem: TRIBUNAL - QUARTA REGIÃO
Classe: EDRSE - EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO EM SENTIDO ESTRITO, Processo: 200372020011084 UF: SC Órgão Julgador: OITAVA TURMA Relator (a) PAULO AFONSO BRUM VAZ DJU DATA: 30/08/2006 PÁGINA: 792).
A rigor, o tema capacidade civil do índio não se aperfeiçoou com o advento do novo código, como de sorte toda matéria relativa ao indígena que permanece suscitando dúvidas e interpretações díspares, como díspares são os interesses materiais e morais que envolvem a chamada “questão indígena” no Brasil. 
Em que pese os inegáveis avanços dos direitos indígenas na Carta Magna, tenho como ufanismo o entendimento recorrente segundo o qual a alusão aos direitos indígenas como originais importa, equivale a reconhecimento do direito de propriedade dos índios sobre as terras tradicionalmente por eles ocupadas. Avançou, porém nem tanto, de modo que ditas terras são bens públicos da União, aos quais se reconhecem a posse permanente e o usufruto exclusivo dos índios. 
Embora a competência de juízes federais para as disputas sobre direitos indígenas esteja prevista no art. 109, XI, da Constituição Federal, há setores da sociedade interessados em que os feitos sejam processados na esfera de competência estadual. Para tanto, aduzem que a regência constitucional “disputa sobre direitos indígenas” não alcança as questões de natureza penal. Dessa forma, não raro, juízes estaduais atuam em julgamentos de ações penais nas quais os índios figuram num dos polos da relação processual. Dito caminho mostra-se temerário porquanto, ordinariamente, disputas territoriais resultam em ilícitos criminais, o que enseja o incidente de competência. Esse julgamento incidental, naturalmente, antecede as questões meritórias da controvérsia, assim, como se o “rabo puxasse o cachorro”, o incidente posterga o objeto. Ora, sabe-se que recursos e artifícios jurídicos são utilizados por litigantes de má-fé como meios protelatórios. Sem uma reforma processual que elimine recursos desnecessários e ambiguidades, ficam o Ministério Público, os advogados das comunidades indígenas e os juízes numa camisa de força, atolados da própria ordem jurídica que defendem em nome do devido processo legal e da ampla defesa. Não apenas através dessa questão do desaforamento da competência federal, os direitos e interesses indígenas escoam frequentemente pelo ralo. O cobiçado território dos índios não está imune nem mesmo a articulações políticas sofisticadas como a da criação de novos municípios. Ora, competência legislativa sobre direitos indígenas, constitucionalmente é privativa do Congresso Nacional, incluindo a autorização para exploração dos recursos hídricos e minerais. Eis que diversos Estados membros da federação realizam plebiscito junto à população local e, através lei aprovada no âmbito das respectivas Assembleias Legislativas, desmembram áreas e criam novos Municípios. Tudo estaria de acordo com a Constituição se os “novos municípios” não adentrassem em áreas tradicionalmente ocupadas pelos indígenas. Tal prática, menos comum do que se pode imaginar, tem motivado diversos conflitos. Se certa área passa a ser municipal, deixa, evidentemente, de pertencer à União. Não é difícil imaginar o que sucede a posse permanente e aos usufrutos perpétuos das populações indígenas sobre a referida terra. Ademais, desde 05 de outubro de 1993, findou o prazo quinquenal previsto no Ato de Das Disposições Constitucionais Transitórias da Cata de 1988, sem cumprir o prometido:
 Art. 67. A união concluirá a demarcação das terras indígenas no prazo de cinco anos a partir da promulgação da Constituição.
No entanto, cabe ressaltar o esforço de organização dos índios, o surgimento de lideranças nacionais, a articulação política, inclusive em âmbito internacional, a participação efetiva de entidades não governamentais e da Igreja na luta em defesa do meio ambiente e dos direitos indígenas. Ditos segmentos são os principais responsáveis pelos avanços legais no sentido de proteção do índio e seu habitat. 
Com efeito, existem diversa leis e normas reguladoras da questão indígena no Brasil. Deve-se começar destacando as disposições constitucionais. Nesse sentido, a competência legislativa sobre populações indígenas é da União nos termos do art. 22, XIV da CF. É competência exclusiva do Congresso Nacional autorizar a exploração e o aproveitamento de recursos hídricos e a pesquisa e lavra de riquezas minerais em terras indígenas, na dicção do art. 49, XVI da Carta. Dentre outros motivos, as terras tradicionalmente ocupadas pelos indígenas são bens da União, art. 20, XI. A defesa judicial dos direitos e interesses das populações indígenas é função institucional do Ministério Público, a teor do art. 129, V da Constituição. Mas os próprios grupos indígenas estão legitimados a promover as devidas defesas de direitos e interesses judicialmente, art. 232. A competência judicial para processar e julgar litígios sobre direitos indígenas é de juízes federais, diz o art. 109, XI. Relevantes disposições constitucionais sobre direitos indígenas se encontram no capítulo específico da matéria:
Título VIII DA ORDEM SOCIAL - Capítulo VIII DOS ÍNDIOS
Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.
§ 1º São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários ao seu bem-estar e as necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições. 
§ 2º As terrastradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios, e dos lagos nestas existentes. 
§ 3º O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras indígenas só podem ser efetivados com autorização do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada à participação nos resultados da lavra, na forma da lei. 
§ 4º As terras de que trata este artigo são inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre elas, imprescritíveis. 
§ 5º É vedada à remoção de grupos indígenas de suas terras, salvo ad referendum do Congresso Nacional, em caso de catástrofe ou epidemia que ponha em risco sua população, ou no interesse da soberania do País, após deliberação do Congresso Nacional, garantido, em qualquer hipótese o retorno imediato logo que cesse o risco. 
§ 6º São nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos, os atos que tenham por objeto a ocupação, o domínio e a posse das terras a que se refere este artigo, ou a exploração das riquezas naturais do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes, ressalvando relevante interesse público da União, segundo o que dispuser lei complementar, não gerando a nulidade e a extinção do direito a indenização ou a ações contra a União, salvo, na forma da lei, quanto às benfeitorias derivadas da ocupação de boa fé. 
§ 7º Não se aplica às terras indígenas o disposto no art. 174, §§ 3º e 4º art. 
Art. 232. Os índios, suas comunidades e organizações são partes legítimas para ingressar em juízo em defesa de seus direitos e interesses, intervindo o Ministério Público em todos os atos do processo. 
No que tange à legislação infraconstitucional, dentre outras normas, vale ressaltar 
a lei nº 5.371/67, que autoriza a instituição da FUNAI - Fundação Nacional dos Índios, a lei nº 6.001/73, o Estatuto do Índio, o Decreto nº 92.470/86 com o Estatuto da FUNAI, alterado pelo Decreto nº 89.420/80, Decreto nº 22/91, sobre o processo administrativo de demarcação de terras indígenas, Decreto nº 23/91, sobre as condições para a prestação de assistência à saúde das populações indígenas, Decreto nº 24/91, sobre as ações visando à proteção do meio ambiente em terras indígenas, Decreto nº 25/91, sobre programas e projetos para assegurar a auto-sustentação dos povos indígenas, Decreto nº 26/91, sobre a educação indígena. De todas essas normas, a de maior alcance e abrangência é o Estatuto do Índio - lei nº 6.001/73. Mas diversos artigos dessa lei afiguram-se incompatíveis com as disposições constitucionais da Carta de 1888 sobre a matéria. O centro da questão reside no fato de certas ideias da lei anterior, principalmente as relacionadas à “integração do índio à comunidade nacional” não serem recepcionadas pela Constituição. A lei nº 6.001/93 classifica os índios em três categorias, isolados, em vias de integração e integrados. Estão na categoria “integrados” os índios incorporados à comunhão nacional e reconhecidos no pleno exercício dos direitos civis, ainda que conservem usos, costumes e tradições característicos da sua cultura. Tal classificação não foi recepcionada pela CF/88. No sentido de adequar a norma de regência dos direitos dos índios com a Constituição, apresenta-se três projetos na Câmara Federal. A Câmara criou uma Comissão Especial com objetivo de apreciar a matéria dos projetes no ano 1992, cujo trabalho resultou em um projeto substitutivo que institui o Estatuto das Sociedades Indígenas o qual, até o presente momento, não foi à votação no plenário da egrégia casa legislativa.
Contudo, a lei n.º 6.001 procura preservar a cultura dos índios e, por essa razão, não se fala em sua revogação pela Carta de 1988, de maneira a permanecer vigendo na parte que não colide ou dispõe de modo contrário aos novos princípios constitucionais. São aplicáveis aos índios as normas constitucionais referentes à nacionalidade e à cidadania brasileira. Tal como acontece com os demais cidadãos, o exercício de direitos civis e direitos políticos dos índios deve observar as condições exigidas em lei. A legislação, em geral, é extensiva aos índios, mas as regras do direito não se aplicam quando desfavoráveis aos índios. Dessa forma, o direito comum tem aplicação limitada. Nas relações jurídicas entre índios e demais pessoas, as leis interpretam-se favoravelmente aos índios, aplica-se a lei comum apenas quando benéfica, sem prejuízo para o índio ou para sua comunidade. No âmbito de relações trabalhistas, permite-se o contrato, observadas as normas da CLT, cabendo à FUNAI fiscalizar ditas relações. Talvez a aplicação plena do art. 231 da CF que reconhece a organização social, costumes, crenças e tradições dos índios tenha aplicação somente em relação de direito de família e das coisas, pois as relações familiares, sucessão e negócios jurídicos entre índios seguem os costumes e tradições da comunidade indígena, salvo expressa manifestação em contrário com fim de adoção do direito positivo brasileiro comum.
A demarcação de terras indígenas compete à União e devido registro no Serviço do Patrimônio da União. A lei n.º 6.001/73 proíbe o arrendamento de terras indígenas a partir da sua vigência, ressalva os anteriores a vigência da lei.
Ditas terras pertencem à União e destinam-se à posse permanente dos índios e ao usufruto exclusivo. O aproveitamento de riquezas naturais só ocorrerá mediante autorização do Congresso Nacional, ouvida a comunidade afetada, a qual se assegura a participação nos resultados da exploração. A gestão do patrimônio indígena deve contar com a participação dos índios quando não totalmente exercida no caso de reconhecida capacidade. O resultado da exploração, lucro, renda e valores devem ser aplicados em programas assistenciais dos índios, sem prejuízo da participação dos índios no resultado da exploração dos recursos do subsolo. O reconhecimento de posse indígena sobre as terras tradicionalmente ocupadas não tem por condição a respectiva demarcação. Assegura-se a posse respeitando-se a situação atual e a tradição histórica da ocupação da área pelo grupo ou comunidade indígena. Mas as terras indígenas são classificadas em três tipos: 1. tradicionalmente ocupadas; 2 reservadas; 3 domínio comum. As terras tradicionalmente ocupadas estão previstas no parágrafo art. 231 da CF/88. São áreas reservadas às terras indígenas destinadas pela União à posse e ocupação dos índios, podendo ter a forma de reserva, parque, colônia agrícola ou território federal. Também existem as terras de domínio indígena, de propriedade plena de índios ou da comunidade indígena. Aquisição de propriedade pelas normas de direito compra, doação, troca ou usucapião. Ao índio posseiro de imóvel com menos de 50 h., assegura-se a prescrição aquisitiva, ou seja, a aquisição da propriedade após dez anos por usucapião.
Sob a amplitude da lei n.º 6.001, existem, inclusive, normas de proteção ao patrimônio cultural, assecuratórias de educação bilíngue, de assistência à saúde. Nesse sentido, posicionam-se os julgados a seguir:
“PROCESSUAL CIVIL. CONSTITUCIONAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL. LEGITIMIDADE ATIVA. INDÍGENAS. SAÚDE. PRESTAÇÃO DE SERVIÇO ODONTOLÓGICO.
 - É cabível o ajuizamento de ação civil pública para a defesa de quaisquer direitos individuais homogêneos socialmente relevantes.
 - O Ministério Público é parte ativa legítima para a ação, pois seu objeto não é a defesa de apenas um indígena, mas a prestação da devida assistência odontológica a todo indígena, residente ou não na aldeia.
 - Ao garantir aos indígenas tratamento médico especializado, a lei não faz qualquer distinção, nem prevê exclusão da assistência à saúde pela FUNASA, de forma que o direito de serem atendidos por aquele órgão independe de estarem aldeados ou não.
 - Onde o legislador não restringiu não cabe ao intérprete restringir e deve-se dar às normas garantidoras de direitos fundamentais a maioraplicabilidade possível.
 - Cabe ao poder público a tutela das comunidades indígenas, assegurando-lhes o direito à vida saudável.
 - Prequestionamento quanto à legislação invocada estabelecido pelas razões de decidir.
- Apelação improvida”. 
(Origem: TRIBUNAL - QUARTA REGIÃO
Classe: AC - APELAÇÃO CIVEL Processo: 200372020046165 UF: SC Órgão Julgador: TERCEIRA TURMA, Relator (a) JOSÉ PAULO BALTAZAR JUNIOR, DJU DATA:05/04/2006 PÁGINA: 539).
“APELAÇÃO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LITISCONSORTE PASSIVO NECESSÁRIO. NÃO CONFIGURAÇÃO. ASSISTÊNCIA À SAÚDE INDÍGENA. COMPETÊNCIA MATERIAL DA UNIÃO. PARTICIPAÇÃO DOS MUNICÍPIOS. ATIVIDADE COMPLEMENTAR E DE CARÁTER NÃO OBRIGATÓRIO. INOBSERVÂNCIA. DESRESPEITO AOS PRECEITOS CONSTITUCIONAIS E LEGAIS CONFIGURADO. NECESSIDADE DE A UNIÃO RETOMAR A RESPONSABILIDADE REPASSADA AOS MUNICÍPIOS. SENTENÇA QUE SE MANTÉM POR SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. RECURSO IMPROVIDO.
- A relação jurídica consubstanciada nos autos perfez-se na necessidade aventada pelo autor de a União e a FUNASA prestarem diretamente os serviços de saúde às comunidades indígenas indicadas, sendo esta a causa de pedir remota. Portanto, como se percebe, a antevista obrigação de fazer não recai sobre os municípios, logo, os entes federativos não participam da relação jurídica base, não havendo que se falar em litisconsórcio passivo necessário.
-Ademais, a apelante limitou-se a invocar a existência de litisconsorte passivo necessário, sem mencionar quais as partes legitimadas a compor a demanda, tampouco fundamentar a qualificação aduzida, eventos que, somados, afastam a necessidade de citação aventada, ainda mais quando verificada a não configuração, no caso dos autos, do modelo de litisconsórcio defendido.
-Segundo os ditames legais e constitucionais, à União cabe a atribuição de prestar assistência à saúde do índio, enquanto aos Estados, Municípios e organismos governamentais cabe tão-só atuar de forma complementar no custeio e execução de tais atividades, não sendo tal atuação, sequer, obrigatória.
-No caso dos autos, observava-se a situação inversa: a União vinha atuado de forma complementar, sendo os municípios os recebedores integrais das verbas e executores das prestações relativas à assistência à saúde indígena, evento que mereceu a correção ofertada pela sentença.
- Sentença que se mantém por seus próprios fundamentos.
- Apelação e remessa improvidas.”
(Origem: TRIBUNAL - QUINTA REGIAO, Classe: AC - Apelação Cível - 375015
Processo: 200180000005822 UF: AL Órgão Julgador: Primeira Turma Relator (a) Desembargador Federal Cesar Carvalho DJ - Data: 27/04/2007 - Página: 891 - Nº: 81).
Diversos tipos penais de crimes contra a cultura e a pessoa do índio, assim, em terras indígenas, está proibido – aos não índios - caçar, pescar, coletar frutos e quaisquer atividades agrícolas, pecuárias e extrativas. Na questão do corte e comércio de madeiras em terras indígenas, além das normas específicas, deve-se observar a regência do Código Florestal, no que couber, quanto aos projetos de reflorestamento previstos na lei nº 4.771/65. Além disso, nos termos do art. 56 da lei n.º 6.001/73, é assegurado ao índio condenado à pena privativa de liberdade, o cumprimento em estabelecimento próprio de assistência ao índio, como se pode observar no julgado em epígrafe:
“HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. CRIME DE HOMICÍDIO QUALIFICADO. PACIENTE INDÍGENA. INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL NÃO DEMONSTRADA ANTE A AUSÊNCIA DE SUBSTRATO FÁTICO QUE AMPARE A ALEGAÇÃO. PRISÃO PREVENTIVA SATISFATORIAMENTE FUNDAMENTADA NO REQUISITO DA APLICAÇÃO DA LEI PENAL, POIS O ACUSADO SE ENCONTRA FORAGIDO DESDE A PRÁTICA DO DELITO. POSSIBILIDADE DE CUMPRIMENTO DA CUSTÓDIA CAUTELAR EM ÓRGÃO FEDERAL DE ASSISTÊNCIA AO ÍNDIO, EX VI DO DISPOSTO NO ART. 56, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI 6.001/973.
1. A base empírica embasadora da denúncia não evidencia, de plano, a existência declarada de disputa sobre direitos ou terras indígenas como fonte motriz do crime ora apurado, razão pela qual não se pode, nesse momento, a competência da justiça estadual.
2. A fuga do réu do distrito da culpa é causa suficiente, por si só, para justificar a decretação da prisão preventiva como forma de garantia do cumprimento da lei penal.
3. A tese de nulidade da citação editalícia do réu não merece sequer ser conhecida, pois a presente alegação não foi suscitada pela defesa, na impetração originária. Assim, resta, na hipótese, impossibilitado o exame da referida tese pelo Superior Tribunal de Justiça, sob pena de se incorrer em vedada supressão de instância.
4. Sendo assegurado aos silvícolas o benefício de cumprimento de penas privativas de liberdade em órgão de assistência ao índio, tem-se como plenamente plausível a concessão de tal benefício ao paciente para que cumpra a prisão provisória no referido estabelecimento.
5. Habeas corpus parcialmente conhecido e, nessa parte, concedido tão somente para assegurar ao paciente, índio pataxó, que permaneça durante o período da prisão preventiva, recolhido junto ao órgão federal de assistência ao índio mais próximo de sua aldeia ou residência”. 
(Origem: STJ - SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
Classe: HC - HABEAS CORPUS – 55792 Processo: 200600495208 UF: BA Órgão Julgador: QUINTA TURMA Relator (a) LAURITA VAZ DJ DATA: 21/08/2006 PÁGINA: 267).
Como se pode observar, a questão indígena afigura-se complexa em termos de ordem jurídica. A parafernália de normas, muitas sem aplicação efetiva, decerto não condiz com o proclamado Estado democrático de direito. Mas, na raiz dessa questão, como de sorte de todas as questões relacionadas com injustiças e violências, estão os interesses econômicos que definem as políticas. Decerto terá relevância meramente romântica o fato de “no começo, não havia branco. Só havia índios. E o índio era parte da terra e a terra era parte do índio” (SARMENTO, 2000: P.207), pois o sistema de trocas e acumulação de capital a tudo transforma em mercadoria, e esta só sobrevive enquanto conservar o seu valor intrínseco, isto é, se for capaz de gerar mais capital à acumulação privada. 
 
� Cf. Jornal do Commercio, Recife, 24/08/2008, domingo, in A Terra da Discórdia, p. 16.

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