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notas sobre pessoas jurídicas- Prof. Dr. Natanael Sarmento

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Notas Sobre Pessoas Jurídicas e Entes Despersonalizados.
Dr. Natanael Sarmento – Prof. Titular da Unicap
1.	Introdução:
 A pessoa jurídica constitui-se de conjuntos ou coletividades de pessoas ou de patrimônios dotados de personalidade jurídica e capacidade para agir em nome próprio.
	 O direito civil brasileiro opta pela expressão “pessoa jurídica” qual o código civil alemão, porém, códigos e leis há com outras denominações como “entes morais”, “pessoas ideais”, “entes coletivos”, assim por diante. 
Nesse sentido, no direito brasileiro a expressão pessoa jurídica designa as unidades públicas ou privadas, sociedades, associações, fundações, partidos políticos, organizações religiosas, estados, municípios, autarquias e outras instituições dotadas de personalidade jurídica. No âmbito da doutrina discute-se a natureza das pessoas jurídicas. ARNOLDO WALD adverte sobre a controvérsia: “A questão da natureza das pessoas jurídicas é das mais controvertidas, havendo tantas teorias quanto os autores que tratam da matéria.” �
 De fato, são incontáveis as teorias a respeito da natureza da pessoa jurídica, mas no nosso entender, as duas explicações clássicas, e contrapostas, albergam todas as outras “incontáveis” novas explicações, que na lição de Wald são tantas teorias quanto são os autores.
 Por um lado, a teoria clássica da “ficção jurídica” sob influência do direito canônico e difundido por SAVIGNY. Para essa escola a única pessoa que existe realmente é o ser humano, o homem existe em si mesmo, naturalmente. A pessoa jurídica não existe realmente, trata-se de criação, de imaginação, de uma ficção legal inventada pelo homem a fim de realizar determinados objetivos.
	Do outro lado, a teoria objetiva defendida por DEL VECCHIO, GIERKE e ZITELMAN, dentre outros. Os seguidores da escola doutrina objetiva sustentam que a teoria da ficção legal tem uma contradição insuperável na medida em que não explica a existência do Estado. Ora, afirma a própria ordem jurídica, o direito advém de um Estado, assim, se as pessoas jurídicas forem meras ficções legais, o próprio Estado, sua ordem jurídica, suas leis não seriam mais seria que ficção da lei. Na explicação da teoria objetiva a par das pessoas humanas existem os organismos sociais, as entidades dotadas de vida autônoma, de organização, estrutura e vontade próprias. São esses organismos fatos concretos dados da realidade objetiva. Ao direito resta conferir legalidade e capacidade para agir de acordo com as regras existentes em todas as sociedades.�	
 A doutrina apresenta-se sem turbulência, enfim, quando ressalta o fato de as pessoas jurídicas serem criadas socialmente, isto é, pelos seres humanos em vida social e visando alcançar de forma mais eficaz determinados fins. Reunidos os homens logram objetivos os quais de outra maneira não poderiam alcançar.
 
 A lei 10.406/2002 que institui o Código Civil divide o Livro I da Parte Geral Das Pessoas em três Capítulos, a saber, Pessoas Naturais, Pessoas Jurídicas e Domicílio. Pessoas Jurídicas estão disciplinadas no capítulo II, artigos 40 a 69 do Código Civil.
 
2. Classificação legal das pessoas jurídicas
As pessoas jurídicas dividem-se quanto à natureza da personalidade, em pessoas de direito público e de direito privado, e quanto à territorialidade em pessoas de direito de direito interno e externo. É o teor do art. 41 do Código: As pessoas jurídicas são de direito publico, interno e externo, e de direito privado. 
Pessoas de direito público externo são os Estados estrangeiros e as organizações internacionais formados pela conjugação de Estados soberanos e regidas por normas de direito internacional público, por exemplo, a Organização da Nações Unidas - ONU, Organização dos Estados Americanos - OEA , a Organização do Tratado do Atlântico Norte – OTAM dentre outras. Certos autores consideram o Vaticano, a sede mundial da Igreja Católica em Roma como pessoa desse gênero.
 
As pessoas jurídicas de direito público interno são enumeradas no art. 41 do CC: I- União; II - os Estados, o Distrito Federal e os Territórios; III- os Municípios; IV – as autarquias, inclusive as associações públicas; V – as demais entidades de caráter público criadas por lei.
As pessoas jurídicas de direito público representam ou integram a estrutura político-administrativa do Estado. Nos termos do Art. 18 da CF/1988, a organização da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal, os Territórios e os Municípios, todos autônomos.
 Relativamente às autarquias, e conforme o Decreto-Lei nº 6.016/1943 pode ser definido como serviço autônomo, criado por lei, com personalidade jurídica, patrimônio e receita própria para executar atividades típicas da administração pública e que requeiram no seu funcionamento gestão administrativa e financeira descentralizada. São exemplos de autarquias as Universidades Federais - UFPE, UFPB, UFAL, UFES, UFPA, etc. o INSS, Instituto Nacional de Seguridade Social, etc.
Quanto às associações públicas essa nova modalidade deve-se a lei 11.107, de 06 de abril de 2005 que altera o inciso IV do art. 41. A nosso ver a referida lei altera paradigmas clássicos entre as esferas da administração pública no Brasil. Haja vista que a constituição associação pública, a associação de entes públicos diversos, esta lei atribui personalidade jurídica a associação para agir em nome próprio. Porém, ao teor do parágrafo primeiro do artigo primeiro da lei 11.107 o consórcio público constituirá associação pública ou pessoa jurídica de direito privado. Portanto, há no mínimo incongruência lógica do legislador atribuir na lei geral (Lei 10.406/2002 – o código civil) personalidade jurídica de direito público e a lei especial (lei 11.107/2005) admitir a possibilidade de personalidade privada. Mais detalhes sobre as associações, matéria ainda não suficientemente analisada pelos civilistas, abordaremos em notas específicas onde melhor explicaremos o instituto e os nossos questionamentos e críticas. 
No que tange ao inciso V – as demais entidades de caráter público criadas por lei o legislador se supera em obscuridade e imprecisão. Trata-se de inciso de caráter enunciativo – demais não especifica nada, é qualquer uma entidade pública desde que criada por lei, mas eis que o artigo 41 do Código tem natureza taxativa, ou seria tautológico nominar cada pessoa de direito público em incisos respectivos como fez o legislador. Uma obra de dois engenheiros com projetos diferentes. Vislumbramos grosseira contradição.
3. 		Pessoas Jurídicas de Direito Privado
A relação das pessoas jurídicas de direito privado do art. 44 do Código (Lei 10.406/2002) “São pessoas jurídicas de direito privado: I - as associações; II - as sociedades; III - as fundações. Parágrafo único. As disposições concernentes às associações aplicam-se, subsidiariamente, às sociedades que são objeto do livro II da Parte Especial deste Código” foi acrescida de mais dois incisos, IV – as organizações religiosas; IV – os partidos políticos, pela lei 10.825/2003. Cada uma das pessoas jurídicas de personalidade privada será explicada oportunamente. Antes vale ressaltar certos aspectos fundamentais da dogmática em relação à matéria. 
3.1 A questão do registro da pessoa jurídica
Trata-se de questão essencial, pois o início da existência legal da pessoa jurídica é o que determina o começo da personalidade jurídica, ou seja, a pessoa jurídica só tem personalidade após o seu registro regular. O Código Civil prescreve o que deve conter no registro (art. 46, I a VI): a denominação, os fins, a sede, o tempo de duração e o fundo social, quando houver; o nome e a individualização dos fundadores ou instituidores, e dos diretores; o modo por que se administra e representa, ativa e passivamente, judicial e extrajudicialmente; se o ato constitutivo é reformável no tocante à administração, e de que modo; se os membros respondem,ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais; as condições de extinção da pessoa jurídica e o destino do seu patrimônio, nesse caso. 
Portanto, a personalidade jurídica desses entes condiciona-se à sua existência legal. A lei civil estabelece para a criação da pessoa jurídica duas fases. Uma de atos constitutivos e a outra, a do registro. A fase de atos constitutivos compreende a manifestação de vontade ou intenção de criação da pessoa jurídica. Dita vontade deve ser reduzida a termo em forma escrita, através de contratos, atas de reuniões, estatuto, ou outro documento. Nesta fase vestibular dos atos constitutivos a lei civil não determina a formalização através da escritura pública (art. 997 do CC). Na fase seguinte, a do registro, a escritura pública é requisito basilar sem o qual a pessoa jurídica não tem existência legal. Repita-se a exaustão, somente depois de registrada no competente cartório de registro civil de pessoas jurídicas a pessoa jurídica de direto privado existe legalmente e tem personalidade jurídica.
Casos há de pessoas jurídicas que dependem ademais da autorização do Poder Executivo para funcionar. Tais as agências de seguradoras, as indústrias petroquímicas, as empresas de transporte público, empresas de radiodifusão, televisivas e jornalísticas, mineradoras.
No art. 45 do Código Civil: “Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo.
 Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular a constituição das pessoas jurídicas de direito privado, por defeito do ato respectivo, contando o prazo da publicação de sua inscrição no registro”.
Em resumo, a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado começa com a inscrição dos atos constitutivos no registro público e nos casos que a lei exigir, da autorização do poder Executivo. As alterações verificadas ulteriormente deverão ser averbadas no respectivo registro. Os interessados na anulação do registro de constituição por defeito ou vício capaz de gerar tal efeito correm contra o prazo fatal de decadência trienal. Depois dos três anos de constituída, com ou sem defeito, o direito a anular a constituição da pessoa jurídica terá perecido. 
	O Código Civil de 2002 ao contrário do precedente de 1916 faz expressamente a distinção entre uma associação e uma sociedade. 
3.1.l Sociedades. A lei civil vigente determina que as sociedades decorram de contrato firmado por pessoas que reciprocamente se obriguem a contribuir com bens ou serviços para fins econômicos e partilhar os resultados.
Prescreve, ademais, a regulamentação específica das sociedades no Livro II da Parte Especial da Lei 10.406/2002 onde regra o Direito de Empresa do artigo 966 ao 1.195, dentre outras, a sociedade em nome coletivo, art. 1.039; sociedade em comandita simples, art. 1.045 e sociedade em comandita por ações, art. 1.090; sociedade limitada, art. 1.052; sociedade anônima, art. 1.088 e também as sociedades simples, art. 997 e sociedades cooperativas, art. 1093.
	Assim, o sentido de sociedade abrange tanto a sociedade simples quanto o empresarial complexo. Releva que visem fins econômicos para os seus sócios, independendo se presta serviços ou exerce atividades produtivas agrárias, industriais ou comerciais. Para todos eles a constituição far-se-á mediante contrato escrito, particular ou público devidamente inscrito no registro próprio, a sociedade empresarial no Registro Público de Empresas Mercantis e a sociedade simples assenta-se no Registro Civil de Pessoas Naturais pela regra do artigo 997 do Código.
 
O código civil admite a aplicação normativa subsidiária às sociedades das disposições legais referentes às associações. 
3.1.2. Associações. A associação não tem finalidade não econômica nem é constituída para a partilha de lucros financeiros ou dividendos. Os fins da pessoa jurídica constituída sob a forma de associação podem ser recreativos, culturais, pios, religiosos ou científicos, finalidades lícitas e não econômicas. 
Trata-se de requisito com a expressa previsão do art. 53: 
“Constituem-se as associações pela união de pessoas que se organizam para fins não econômicos. Parágrafo único. Não há entre os associados, direitos e obrigações recíprocos.”
 Direitos e deveres dos associados são previstos no estatuto da associação. Isonomia a ser observada no estatuto, pois nenhum associado pode ser impedido de exercer direito ou função legitima (art. 58 do Código). Não há reciprocidade de direitos e deveres entre um associado e outro, mas os instituidores da associação podem estabelecer no estatuto diferentes categorias de sócios - fundadores, patrimoniais, remidos- com certas prerrogativas estatutárias desde que lícitas.
 É o que diz o art. 55: “Os associados devem ter direitos iguais, mas o estatuto poderá instituir categorias com vantagens especiais.”
Salvo previsão expressa do estatuto, não há transmissão da qualidade de associado, em relação a terceiros adquirentes por ato inter-vivos ou por ato post mortem. O associado adquire a condição de sócio depois de ser admitido pessoalmente e obter a aprovação do seu nome. Na dicção do artigo 56: “A qualidade de associado é intransmissível, se o estatuto não dispuser o contrário. Parágrafo único. Se o associado for titular de quota ou fração ideal do patrimônio da associação, a transferência daquela não importará, per si, na atribuição da qualidade de associado ao adquirente ou ao herdeiro, salvo disposição diversa do estatuto”. 
Mas cabe ao Estatuto da associação dispor sobre os direitos e os deveres dos associados, sobre as sanções cabíveis nos casos de violação de deveres estatutários. As sanções estatutárias podem ir da advertência à exclusão, mas devem estar expressamente previstas. Na falta de previsão estatutária, em se tratando de comportamento reconhecidamente grave a exclusão deve observar o disposto no art. 57 do Código Civil: “A exclusão do associado só é admitida havendo justa causa, obedecido o disposto no estatuto; sendo este omisso, poderá também ocorrer se for reconhecida a existência de motivos graves, em deliberação fundamentada pela maioria absoluta dos presentes à assembléia geral especialmente convocada para esse fim. Parágrafo único. Da decisão do órgão que, de conformidade com o estatuto, decretar a exclusão, caberá sempre recurso à assembléia geral.” 
 Existindo, ou não, previsão estatutária, somente uma maioria absoluta presente à assembléia geral, convocada especificamente para tal fim, pode excluir o associado faltoso. Mas ao associado faltoso e punido se assegura o direito de recurso à Assembléia Geral. 
Registro das associações
O registro da associação pode ser público ou particular, mas o estatuto deve ter a forma escrita. Sob pena de nulidade desse ato conterá: art. 54, I - a denominação, os fins e a sede da associação; II – os requisitos para admissão; demissão e exclusão dos associados; III- direitos e deveres dos associados; IV- as fontes de recurso para sua manutenção; V- o modo de constituição e funcionamento dos órgão deliberativos e administrativos; VI- as condições para a alteração das disposições estatutárias e para a dissolução.
Assembléia Geral
A assembléia geral é a superior instância de deliberação, a mais relevante da associação. Compete privativamente à Assembléia Geral deliberar sobre questões relevantes qual a escolha e destituição de administradores, aprovação das contas e a modificação dos estatutos, nos termos do artigo 59. 
Para destituir administradores ou alterar o Estatuto a lei exige a aprovação de 2/3 dos presentes à Assembléia Geral, especificamente convocada. O quorum para instalação da Assembléia na primeira convocação é a maioria absoluta dos associados, 1/2 + 1. Nas demais convocações nocaso de não alcançar o quorum em 1ª convocação, exigem-se o quorum mínimo de 1/3 dos associados presentes. Em resumo, a lei civil exige o voto de 2/3, a maioria absoluta presente na 1ª convocação, ou, pelo menos, 1/3 dos associados presentes nas demais convocações, parágrafo único, artigo 59 CC. Qualquer associado terá direito à voz e ao voto na Assembléia Geral, nos termos dos Estatutos da entidade. 
Também a convocação da Assembléia Geral deve observar o disposto no estatuto. A lei atribui o direito dessa convocação a 1/5 dos associados, no art. 60 do Código: “A convocação da assembléia geral far-se-á na forma do estatuto, garantido a um quinto dos associados o direito de promovê-la”. 
Dissolução da Associação
O Código prescreve o destino patrimonial da associação que foi dissolvida. O remanescente patrimonial ou frações ideais líquidas serão destinados à outra associação com fins similares ou idênticos à associação dissolvida. Na ausência de estabelecimento idêntico ou similar no âmbito do Município, do Estado, do Distrito Federal ou do Território na sede da associação dissolvida, o destino do patrimônio será à Fazenda Pública Estadual, do Distrito Federal ou da União.
3.1.3. Fundações
As fundações são instituídas a partir de dotação patrimonial de bens livres destinados a fins assistenciais, culturais, morais ou religiosos. Forma-se de universalidade patrimonial destinada a um fim especial e esse desiderato deve ser declarado pelo instituidor da fundação: 
Art. 62 do CC: “Para criar uma fundação, o seu instituidor fará, por escritura pública ou testamento, dotação especial de bens livres, especificando o fim a que se destina, e declarando, se quiser a maneira de administrá-la. Parágrafo único. A fundação somente poderá constituir-se para fins religiosos, morais, culturais ou de assistência”.
O instituidor pode recorrer à escritura pública lavrada em cartório ou ao testamento nas disposições de suas vontades derradeiras, contanto que dote para tanto bens livres, ou seja, um patrimônio legalmente disponível, sem gravames, impedimentos, ou embaraços de qualquer natureza.
O instituidor,querendo, pode especificar a forma ou maneira da administração, neste caso, haverá de apresentar os estatutos da fundação em até 180 dias ao Ministério Público. Depois deste prazo o encargo passa ao órgão ministerial público a quem compete tal elaboração no caso da omissão do instituidor, vide artigo 65: “Aqueles a quem o instituidor cometer a aplicação do patrimônio, em tendo ciência do encargo, formulará logo, de acordo com as suas bases (art.62), o estatuto da fundação projetada, submetendo-o, em seguida, à aprovação da autoridade competente, com recurso ao juiz. Parágrafo único. Se o estatuto não for elaborado no prazo assinado pelo instituidor, ou, não havendo prazo, em cento e oitenta dias, a incumbência caberá ao Ministério Público”. 
Se os bens dotados forem insuficientes para constituir a fundação, e não dispondo de modo diferente o seu instituidor, o destino desse patrimônio será incorporar-se a outra fundação com semelhanças nas finalidades. Art. 63: “Quando insuficientes para constituir a fundação, os bens a ela destinados são, se de outro modo não dispuser o instituidor, incorporados em outra fundação que se proponha à igual fim ou semelhantes”. 
A incumbência de fiscalizar as fundações cabe ao Ministério Público do Estado no qual a fundação é domiciliada: Art. 66 “Velará pelas fundações o Ministério Públicas onde situadas. § 1º Se funcionarem no Distrito Federal, ou em Território, caberá o encargo ao Ministério Público Federal.§ 2°Se estenderem a atividade por mais de um Estado, caberá o encargo, em cada um deles, ao respectivo Ministério Público”.
Velar pelas fundações quer dizer exercer o controle de legalidade, de regularidade de contas, gestão, fins a que se propõe, enfim, da normalidade da fundação.
Os prazos para anulação dos atos relativos à fundação são de decadência, dez anos. 	A extinção da fundação se dará quando previsto na lei, por ilicitude, pela impossibilidade de existir, pela inutilidade da finalidade, e, obviamente, pelo término do prazo da duração, se tiver. Nesses casos, o patrimônio da fundação declarada extinta se destinará, judicialmente, a outra fundação com o mesmo fim ou assemelhado.
3.1.4. Partidos Políticos:
	Os partidos políticos foram acrescidos ao rol das pessoas jurídicas elencadas na Lei 10.406/2002 – Código Civil pelas alterações da Lei 10.825/2003. No entanto, a Lei n.º 9.096/1995, chamada de Lei Orgânica dos Partidos Políticos que regula o artigo 17, capítulo V, da Constituição Federal. 
Para a Lei 10.825/2003, Art. 1º “O partido político, pessoa jurídica de direito privado, destina-se a assegurar, no interesse do regime democrático, a autenticidade do regime representativo e a defender os direitos fundamentais definidos na Constituição Federal”. 
Relevante ao nosso estudo destacar dois aspectos sobre o Partido Político: primeiro, que é pessoa jurídica de direito privado; segundo, que somente após adquirir a personalidade jurídica na forma da lei civil o Partido poderá pugnar o registro do respectivo Estatuto junto ao Tribunal Superior Eleitoral – TSE.
 Os princípios constitucionais relacionados aos Partidos Políticos - Carta Magna, V, Art. 17 – e regulamentados na Lei 9096/95, resumidamente, são:
- Princípio da liberdade: para criação, fusão, incorporação e extinção dos partidos;
- Princípio da autonomia: para definir sua estrutura interna, organização e funcionamento e normas de fidelidade;
- Princípio da soberania nacional: obrigatoriedade de cláusulas de salvaguarda da soberania nacional;
-Princípio da defesa do Estado Democrático e dos direitos humanos: defesa do regime democrático, do pluripartidarismo e dos direitos fundamentais e humanos;
Em conformidade com tais princípios, a CF expressamente determina:
- A estruturação de caráter nacional;
- O funcionamento parlamentar de acordo com a lei;
- A vedação a recebimento de recursos financeiros do estrangeiro e ao uso de grupos paramilitares;
- A obrigatoriedade de prestação de contas na Justiça Eleitoral.
 
3.1.5 Organizações religiosas
A inclusão das organizações religiosas entre as pessoas jurídicas de direito privado previstas no código civil dar-se igualmente com o advento da lei 10.825/2003. No Brasil, durante o Império e vigência da Constituição de 1824 a religião católica era o credo oficial do Estado. A liberdade de confissão, credo, ou religião que confere caráter laico do Estado brasileiro advém da Proclamação da República no final do século XIX. De acordo com os princípios constitucionais, a lei civil dispõe sobre as organizações religiosas o seguinte:
- Liberdade de criação, estruturação e organização interna;
- Proibição do Poder público de negar reconhecimento ou registro de ato constitutivo necessário ao funcionamento.
4. A representação e responsabilidade civil das pessoas jurídicas
 Sabe-se que as pessoas jurídicas têm personalidade própria para agir como sujeito de direito e deveres. Quem representa, juridicamente, as pessoas jurídicas, ativa e passivamente? Quem tem os poderes para representá-las e tem legitimidade para agir pela pessoa jurídica? 
Tratando-se de pessoas jurídicas privadas, pertencentes aos particulares, com interesses privados, logicamente a lei remete às pessoas designadas nos Estatutos, nos contratos e atos de constituição como as responsáveis. Porém, no caso de omissão do Estatuto essa representação cabe aos diretores por força de lei. São as pessoas dotadas de efetivo poder de decisão e de gestão nas pessoas jurídicas, Art. 17.
Responsabilidade civil é assunto amplo e representa, por si, um curso a parte. Mas, resumidamente, podemos dizer tratar-se do dever legal de reparação dos danos causados a terceiros em conseqüência de atos contrários ao direito. Uma pessoa jurídica pratica ato ilícito quando alguém agindo a seu serviço ou em nomecomete o ato contrário à lei. Conforme a natureza da pessoa jurídica responsável pelo ilícito, se a personalidade jurídica for de direito público, ou se for de direito privado adotam critérios diferenciados à responsabilidade. Para as pessoas de direito público adota-se a teoria do risco integral; para os entes privados, a da culpa. Na regência do Art. 43 do Código Civil as pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente responsáveis pelos danos (responsabilidade objetiva com fundamento na teoria do risco administrativo, basta prova o ato ilícito do agente público e o dano causado). Mas ressalva a ação regressiva da administração contra o agente, se este causou o dano por dolo ou culpa – (teoria subjetiva ou da culpa, na qual se faz necessário comprovar a intenção preordenada do dano – dolo ou a culpa, se agiu por imprudência ou negligência). 
5. Desconsideração da personalidade 
A pessoa jurídica a possui mesma personalidade jurídica que foi adquirida através do registro regular que lhe confere existência legal. Personalizada, a pessoa jurídica tem o nome, domicílio, nacionalidade, patrimônio, bens que não se confundem com o patrimônio pessoal das pessoas naturais que a constituíram. 
 
A chamada teoria da desconsideração da pessoa jurídica ou disregard doctrine, também chamada de teoria da superação da pessoa jurídica abranda essa rigidez de separação entre as pessoas jurídicas e as pessoas físicas responsáveis pelas suas gestões, nos casos previstos em lei. Segue que a personalidade da pessoa jurídica desconsidera-se, provisoriamente, nos casos de confusão patrimonial ou desvio de finalidade, Art. 50 do Código Civil. Nestes casos, os efeitos de das ações judiciais promovidas contra a pessoa jurídica alcançam também o patrimônio pessoal dos diretores e responsáveis legais pela pessoa jurídica.
Mas a desconsideração da personalidade já tinha aplicação entre nós na jurisprudência dos tribunais e na regência do Código de Defesa do Consumidor, a Lei n.° 8078/90
CDC, Art. 28: O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração....omissis
§ 5º. “Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores”.
No Código Civil, Art. 50, a teoria da desconsideração aplica-se ao abuso da personalidade pelo desvio da finalidade e à confusão patrimonial: “Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizada pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidas aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica”.
6. O fim da existência legal da pessoa jurídica: dissolução, liquidação e cancelamento do registro 
Tendo em vista que o começo da existência legal dar-se com o registro competente, o fim observa a mesma formalidade e ocorre com o respectivo cancelamento da inscrição da pessoa jurídica. Esse fato é relevante, juridicamente, na medida em que os atos praticados pela pessoa jurídica até a data do cancelamento são eficazes até a data do cancelamento, o efeito jurídico do cancelamento é “ex-nunc”.
Uma pessoa jurídica pode ser extinta ou dissolver-se por vontade dos seus membros. O fim e a maneira de extinção estando ou não previstos nos atos constitutivos devem resguardar direitos de terceiros. Também pode ocorrer involuntariamente, por decisão do poder público, nos caos previstos em lei, em vista do interesse público e do bem comum. 
 O Código Civil de 2002 regra a dissolução e a cassação. Nessa regência da lei civil identificamos três fases: a primeira, consistente na averbação da sociedade dissolvida ou cassada; a segunda, na liquidação judicial; e, a terceira no cancelamento do registro. É nessa última fase que a pessoa jurídica deixa de existir para todos os fins de direito.
 Art. 52: “Nos casos de dissolução da pessoa jurídica ou cassada à autorização para o seu funcionamento, ela subsistirá para fins de liquidação, até que esta se conclua. § 1º Far-se-á, no registro onde a pessoa jurídica estiver inscrita, a averbação de sua dissolução; §2º As disposições para a liquidação das sociedades, aplicam-se, no que couberem, às demais pessoas jurídicas de direito privado;§ 3º Encerrada a liquidação, promover-se-á o cancelamento da inscrição da pessoa jurídica”.
O Código determina a averbação da dissolução ou da cassação da autorização para funcionamento no registro onde a pessoa jurídica foi inscrita. Depois de dissolvida ou de cassada, ocorre uma sobrevida, a fase de liquidação. Na liquidação compete ao liquidante judicial realizar o ativo e pagar as dívidas até o encerramento da liquidação. Encerrada a liquidação se promove o cancelamento da inscrição no registro próprio. Os negócios realizados pela pessoa jurídica, inclusive, durante a liquidação, são válidos e eficazes, já assinalamos anteriormente que os efeitos jurídicos do cancelamento são ex- num. Numa comparação sepulcral, o registro do cancelamento está para a pessoa jurídica como o registro do óbito está para a pessoa natural, representa o fim da existência legal da pessoa. 
 7. Direitos da personalidade
	
	Dissemos que a personalidade da pessoa jurídica começa com a inscrição no registro próprio e que termina com o cancelamento dessa inscrição no respectivo registro. Portanto, durante a existência legal as pessoas jurídicas possuem personalidade, logo possuem os direitos inerentes a essa personalidade, a exemplo do direito ao nome, à imagem, ao sigilo, entre outros.
	Não se discute mais em nossos dias a pertinência da indenização às pessoas jurídicas vitimadas por danos morais. O Art. 52 do Código Civil diz: “Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade”. 
Direitos da personalidade de pessoas humanas e delas são ontológicos, não se aplicam às pessoas jurídicas, obviamente, tais como os relativos ao corpo humano e a vedação de dispor do próprio corpo, o direito a não submeter-se a tratamento médico constrangedor ou com risco de vida entre outros. A inteligência da lei na proteção dos direitos da personalidade da pessoa jurídica deixa claro que a tutela aplica-se “no que couber”. 
 8. Entes não personificados
O Código Civil regula a matéria das sociedades não personificadas nos artigos 986 usque 990. Mas, cabe distinguir a capacidade processual daquela capacidade atributo da personalidade. A primeira diz respeito a capacidade para litigar, integrar legitimamente o processo; enquanto a outra capacidade, diz respeito a capacidade de agir em nome próprio, a capacidade que é atributo ou aptidão da pessoa enquanto sujeito de direito e deveres civis. 
Nascituro não tem personalidade jurídica, porém, tem os direitos ressalvados, desde a concepção. A lei prevê a nomeação de curador para representar o nascituro.
 
O Código Processual Civil no Art. 12 relaciona os casos de representação jurídica de entes sem personalidade: “(omissis...) III - a massa falida, pelo síndico; IV – a herança jacente ou vacante, por seu curador; V - o espólio, pelo inventariante; VII - as sociedades sem personalidade jurídica, pela pessoa a quem couber a administração dos seus bens; IX – o condomínio, pelo administrador ou pelo síndico”.
Massa falida, Herança, Espólio, Sociedades sem personalidade e Condomínio não possuem personalidade jurídica, porém, possuem representantes legais: síndico, curador, inventariante, administrador, etc. os quais são legitimadospor lei, ativa e passivamente, a exercer capacidade processual e representar os respectivos interesses.
O STJ assenta jurisprudência: “Podem litigar em juízo as pessoas formais, as sociedades de fato, as sociedade ainda sem personalidade jurídica, ou já sem personalidade jurídica”. (STJ - 4ª Turma. Resp. nº 1.551 – MG).
A matéria em exame melhor se estudará no âmbito do direito processual civil, bem como do direito empresarial regulado no livro II da Parte Especial.
 
� WALD, Arnald. Ob.cit.p143
� Cf. MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil. São Paulo: Saraiva,1989,p98 e 99.

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