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Notas sobre atos e negócios jurídicos_REVISTO

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Notas sobre atos, fatos e negócios jurídicos
Dr. Natanael Sarmento – Prof. Titular da Unicap
Livro III
Fatos jurídicos
 1. Conceito e classificação
O Código Civil vigente repetiu a expressão “fatos jurídicos” com a qual o Código de 1916 intitulava o livro III da Parte Geral. Mas o emprego desta expressão registra comentários críticos da doutrina face à abrangência da noção de fato jurídico por dizer respeito tanto aos fatos humanos quanto aos fatos naturais que repercutem no direito. Argumenta-se que o Digesto utilizara melhor técnica se empregasse a expressão “atos jurídicos”, da qual deriva o “negócio jurídico”.
 
Contudo, a expressão “fato jurídico” emprega-se em dois sentidos: um, lato; outro, restrito. No sentido lato, significa qualquer acontecimento com repercussão no mundo jurídico decorrente, ou não, da vontade humana. Portanto, “todo acontecimento dependente, ou não, da vontade humana a que o direito atribui eficácia”. Em sentido restrito, “ato jurídico” representa a “manifestação da vontade que provoca efeitos jurídicos, nomeadamente, o negócio jurídico”, leciona Orlando Gomes (GOMES, 2001:237).
 
Na lição clássica de SAVIGNY, fato jurídico é o “acontecimento em virtude do qual se constitui ou se extingue a relação jurídica”. Essa lição, fundadora do conceito de fato jurídico de Savigny, foi aprimorada por juristas posteriores para “todo acontecimento em virtude do qual se constitui, se modifica ou se extingue a relação jurídica”.
Com efeito, a doutrina moderna obtempera que a existência do direito não compreende, apenas, o momento inicial de aquisição do direito e o momento final da extinção. Ressaltam-se as modificações ou alterações das relações jurídicas, mudanças relacionadas ao objeto ou ao titular decorrentes, ou não, de vontade humana.
Um fato da natural, tipo uma precipitação pluvial, pode ter reflexos, ou não, no âmbito do direito. Tempestades, maremotos, terremotos, qualquer fenômeno natural não terá relevância jurídica se as suas consequências não repercutirem no mundo do direito. Portanto, restarão fatos jurídicos se produzirem danos materiais ou pessoais, se criarem, alterarem ou extinguirem relações do âmbito jurídico. 
Porém, se ditos fenômenos naturais não trouxeram consequências para o mundo do direito, são apenas fenômenos naturais sem relevância para o mundo jurídico. 
Assim, os fatos jurídicos no sentido amplo decorrem de manifestação de vontade humana ou de fatos da natureza.
Mas esses acontecimentos advindos da declaração de vontade - atos jurídicos - agitam a doutrina civilista. Costuma-se subdividir os atos jurídicos no sentido lato e no sentido restrito. No sentido lato, entram os atos ilícitos e, no restrito, apenas os atos lícitos, para uns, negócios jurídicos.
Nesse sentido, o ato jurídico no sentido lato “abrange as ações humanas, tanto aquelas que são meramente obedientes à ordem constituída, determinantes de consequências jurídicas ex lege, independentemente de serem ou não queridas, como aquelas outras declarações de vontade, polarizadas no sentido de uma finalidade, hábeis a produzir efeitos jurídicos queridos” (PEREIRA, 2004:475).
Diz-se dos negócios jurídicos que se formam através da manifestação de vontade dirigida à obtenção de determinados fim. Isto é, que o agente pretende o efeito jurídico alcançado pelo ato. 
O legislador trata dos negócios jurídicos no título I, usa a expressão abeberada na moderna doutrina alemã na qual a vontade humana constitui o fundamento e o efeito do negócio jurídico. Não qualquer vontade, mas aquela vontade adequada à ordem legal (PEREIRA, 2004:477).
Destarte, os negócios jurídicos resultam da declaração de vontade do agente, e os efeitos jurídicos desse ato são os desejados. 
Uma parcela da doutrina ressalta que os atos válidos da espécie unilateral, quais os testamentos, coadunam-se com a noção de atos jurídicos em sentido restrito, enquanto os atos bilaterais e os multilaterais, quais os contratos ou a convenção condominial, são típicos negócios jurídicos.
Importa ressaltar que a vontade humana ou a declaração nem sempre produzem o efeito jurídico pretendido pelo agente. É o caso do ato ilícito, que é aquele praticado contra a ordem jurídica, contra a moral ou contra os bens costumes. Nos atos ilícitos, os efeitos jurídicos independem da vontade do agente que o praticou. O efeito jurídico será o determinado pela ordem legal. Aquele que viola direito e causa dano, material ou moral, tem o dever de indenizar a vítima, e este efeito jurídico do ato ilícito subsiste mesmo que o agente causador de danos não tenha pretendido ou desejado reparar os prejuízos que causou. 
 2. Aquisição, modificação e extinção de direitos
	
 Não há sociedade sem direito, do brocardo ubi societes ibi jus. Com efeito, as relações jurídicas estão presentes em todas as sociedades, relações entre pessoas ou pessoas e bens que definem a aquisição, a alteração e a extinção de direito.
 O revogado Código de 1916 definia ato jurídico no art. 81: “todo ato lícito que tenha por fim imediato adquirir, resguardar, transferir, modificar ou extinguir direito”. 
 A diferença entre o ato e o efeito é destacada por San Tiago Dantas (2001:212), para quem a definição da lei trata das consequências do ato, mas não esclarece quais são os atos que as produzem. Dantas faz crítica à generalidade e à imprecisão técnica do Código de 1916 na definição dos atos jurídicos. 	
 Já o Código de 2002, por seu turno, sequer esboça uma definição de ato ou de negócio jurídico. A lei vigente começa enumerando os requisitos de validade dos negócios jurídicos.
 
3. Requisitos de validade dos negócios jurídicos
O Código Civil prescreve os elementos essenciais de validade do ato jurídico no art. 104:
A validade do negócio jurídico requer:
I- Agente capaz;
Objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
Forma prescrita ou não defesa em lei.
Trata-se de requisitos essenciais dos atos jurídicos, essenciais por comporem a substância e serem indispensáveis à validade do negócio jurídico. O negócio jurídico válido deve pressupor um agente capaz de praticar o ato, um negócio que tenha por objeto um bem ou uma obrigação lícita e possível e que o negócio observe a forma prevista na lei, sendo formal, ou não contrarie a legalidade, se tratando de ato informal ou livre.
 A existência dos requisitos de validade do negócio jurídico resulta nos efeitos jurídicos desejados pelas partes. Por outro lado, a ausência de qualquer dos requisitos torna imperfeito o negócio jurídico, inquinando o ato de nulidade absoluta cujo efeito jurídico é determinado pela lei independente da vontade do agente. 
 A Capacidade do agente
Um negócio jurídico pressupõe uma manifestação de vontade capaz e livre. Esse é elemento subjetivo da obtenção de determinado fim, o escopo do ato sem o qual não existe negócio jurídico. Em notas anteriores, tratamos da personalidade e da capacidade civil das pessoas naturais e jurídicas. Portanto, não desconhecemos as distinções de capacidade de direito e capacidade de exercício de direito; da incapacidade absoluta e da relativa, da cessação da incapacidade para o exercício ou prática dos atos da vida civil e dos casos de antecipação da maioridade, da representação legal e responsabilidade civil de pessoas jurídicas, públicas e privadas. 
Ressalte-se, ademais, que a capacidade para a prática dos atos tem a regência de normas gerais e de normas específicas. Para certos atos, uma pessoa é plenamente capaz, mas, para outros, é legalmente impedida da prática. Um exemplo são os tutores, pessoas capazes, porém impedidos de adquirir os bens dos pupilos sob suas respectivas tutelas; as pessoas maiores de 18 anos, capazes dos atos gerais da vida civil, exceto do casamento, em virtude de impedimento previsto na lei tipo grau de parentesco, por exemplo.
	 Objeto lícito,possível, determinado ou determinável
O objeto do negócio deve ser lícito, que significa estar em conformidade com a lei e não ser contrário à moral e aos bons costumes. Não teria sentido validar-se um negócio jurídico contrário à lei, negócio com objeto violador das regras do direito, da moral social ou contrário aos bons costumes. 
Além de lícito, o objeto do negócio jurídico deve ser determinado ou determinável. O escopo da lei é assegurar a realização do ato, não validar o inexequível, o impossível física e juridicamente. Não tem validade um negócio impossibilitado de ser efetivado, dado, realizado, feito, qual a compra e venda dos anéis do Planeta Saturno, a divisão de bem indivisível, ou validar algo juridicamente impossível, divórcio de pessoas não casadas, casamento de um homem e várias mulheres ou vice-versa. Assim, o objeto do negócio deve ser determinado, espécie, quantidade e qualidade. Também nulo o negócio jurídico cujo objeto não se possa determinar, qual a doação a qual não tem objeto determinado nem determinável, doar-se não se sabe o quê, não se sabe quanto, não se sabe quando. 
 Forma prescrita ou não defesa em lei
 A forma do ato jurídico é a configuração externa da manifestação da vontade do agente. Existem negócios jurídicos que são formais por força de lei; mas, em regra, os atos negociais de declaração de vontade não dependem de forma especial prevista em lei: são os atos de forma livre. 
 Quando a lei determina uma forma especial, essa formalidade passa a ser da substância do ato, a forma deve ser observada integralmente, é requisito de validade do negócio jurídico. Qual a aquisição da propriedade imóvel que a lei exige escritura pública no registro no Cartório de Imóveis, a adoção, o casamento civil, dentre outros atos formais. Tais atos só serão válidos e produzirão os efeitos jurídicos se as respectivas formas prescritas na lei forem observadas por quem os pratica. 
 Negócios jurídicos são realizáveis, validamente, sem necessidade de formalidades especiais, quais os negócios com bens móveis.
 Nos negócios jurídicos, adota-se, quanto à declaração de vontade, a informalidade como regra e a formalidade quando prevista expressamente nos casos especiais. A maior parte dos negócios jurídicos independe de forma especial, e os casos com forma determinada na lei são os casos especiais. Tal é a dicção do art. 107 do Código: “A validade das declarações de vontade não dependerá de forma especial senão quando a lei expressamente a exigir”.
 Nesta conformidade, a realização do negócio jurídico pode ser livre ou especial de acordo com a natureza do ato. Na forma livre, a vontade jurídica manifesta-se através de critérios e meios escolhidos pelo agente, livremente, contanto que não viole direito de terceiros nem preceitos gerais de ordem pública. Será válida, porém, quando se trata de ato formal, quando a lei determina a forma que o agente deve seguir a fim de produzir o efeito jurídico por ele desejado. Os atos formais, explica-se, como formalidade legal a fim de assegurar a manifestação de vontade da pessoa e a maior segurança jurídica ao negócio. Neste caso praticado de acordo com a forma prescrita, a forma do ato é da sua substância e, também, prova material de sua realização (DE PLACIDO E SILVA: 2000: 366).
 Os atos a que a lei expressamente exige forma especial serão inválidos se deixar de se revestir da forma exigida pelo princípio forma legis omissa corruit actus.
 
A incapacidade relativa de uma das partes
Os casos de incapacidade relativa de uma das partes no negócio jurídico cuidam-se de exceção pessoal, portanto, a ser suscitada pelo menor ou pelo seu representante legal. É o teor do art. 105:
 
“A incapacidade relativa de uma das partes não pode ser invocada pela outra em benefício próprio, nem aproveita os co-interessados capazes, salvo se, neste caso, for indivisível o objeto do direito ou da obrigação comum”. 
O dispositivo objetiva proteger os interesses dos incapazes, e apenas os incapazes ou seus representantes podem alegar o referido vício a fim de invalidar o negócio jurídico. Porém, sendo o objeto do direito ou da obrigação indivisível, ante a impossibilidade de separação do objeto do direito ou da obrigação, os co-interessados maiores, eventualmente presentes, serão beneficiados com a anulação do ato. 
A impossibilidade relativa
Princípios da autonomia da declaração de vontade e da boa-fé dos negócios jurídicos, sempre que o negócio seja juridicamente possível, devem prevalecer a fim de atender a vontade das partes. Neste sentido, o Código Civil remove os obstáculos superáveis assim entendidos à impossibilidade relativa do objeto. O objeto ou a obrigação impossível, em dado momento, qual a condição que subordina a realização do ato a evento futuro e incerto, no caso de cessar antes de realizada, não se invalida o negócio jurídico. Diz o art. 106: 
“A impossibilidade inicial do objeto não invalida o negócio jurídico se for relativa, ou se cessar antes de realizada a condição a que ele estiver subordinado”. 
Tem o escopo de convalidar a manifestação de vontade.
Formas especiais e livres
Nos atos negociais de imóveis com valor acima de trinta salários mínimos, a lei exige escritura pública. Portanto, a inscrição do registro no cartório de registro de imóveis passa a ser requisito de validade do negócio jurídico. Idem quanto à modificação ou renúncia relativa a direitos reis sobre bens imóveis. Diz o art. 108: 
“Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País”.
 No caso, a forma especial requerida é a escrituração de imóveis ou de qualquer negócio que importe na modificação jurídica dos imóveis no respectivo cartório de registro público de imóveis com o escopo de conferir maior segurança e publicidade ao negócio jurídico. 
Formas especiais voluntárias
A lei faculta aos contraentes a estipulação de cláusulas formais; não devem ser confundidas com as formalidades previstas na lei. Se a lei estabelece a escritura pública como requisito de validade de negócio sobre imóveis, as partes não podem contratar, validamente, em sentido contrário. Mas as partes podem ajustar o requisito do instrumento público quando a lei não o faz. É a dicção do art. 109: 
“No negócio jurídico celebrado com a cláusula de não valer sem instrumento público, este é da substância do ato.”
Desta forma, se os contratantes estipulam uma cláusula de escrituração pública de negócio jurídico para o qual dita forma especial não era exigida pela lei, porém, em virtude da cláusula ser avençada pelos contratantes, ela passa a ser da substância do negócio e, portanto, requisito de validade.
Reserva mental
Quando uma das partes transmite, intencionalmente, declaração não desejada com o fim de iludir ou enganar a outra parte, faz reserva mental. A reserva mental anula, ou não, o negócio jurídico. O escopo da reserva mental é levar a parte ao erro, portanto, se a parte que seria vítima do engano tem pleno conhecimento do fato, o vício que inquinava o negócio deixa de existir. 
Diz o art.110: “A manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja feito a reserva mental de não querer o que manifestou, salvo se dela o destinatário tinha conhecimento”. 
O silêncio anuente 
O negócio jurídico pode ser realizado e produzir os seus efeitos quando a parte silencia se o comportamento silencioso importar concordância, no caso da lei não exigir declaração de vontade expressa.
O silêncio da parte valida o negócio jurídico quando a lei não obriga declaração de vontade expressa; quando os costumes locais ou as circunstâncias em que o negócio se realiza autorizam. Em uma palavra, quando é lícito presumir o silêncio como anuência ou concordânciada parte silente. Essa consagração legal do popular “quem cala, consente” tem a regência do art. 111 do Código Civil: 
“O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem e não for necessária a declaração de vontade expressa”. 
Não se considera anuência se circunstâncias e usos locais não abonarem a presunção de concordância ou se a lei determinar declaração expressa. 
Interpretação dos negócios jurídicos
Na indicação de regras para a interpretação dos negócios, o Código Civil reafirma princípios ampliativos, quais os da prevalência da intenção sobre a forma e dos costumes locais. Porém, é restritivo quanto à interpretação dos negócios benéficos.
A norma de regência das relações civis, dos interesses privados, considera mais relevante a intenção dos agentes do que a literalidade, o sentido gramatical da declaração: 
“Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciadas do que o sentido literal da linguagem”.
A declaração é meio de expressão da vontade e esta é o fim desejado. Deve-se observar a justa adequação entre o meio, a declaração e o fim, a intenção da parte. O intérprete deve levar em conta, no caso de desacordo entre meio e fim, mais o fim, que é a essência ou conteúdo do negócio do que o meio, que é a forma. Não significa que a declaração não tem importância e, apenas, a subjetividade do agente. Essa regra deve ser aplicada às declarações mal redigidas, ambíguas, contraditórias ou omissas. Não se aplica àquela declaração de vontade certa, inequívoca, clara, precisa, que não dá margem às dúvidas. 
Dar segurança jurídica a vontade das partes quando essa vontade é autônoma, legitimada socialmente, lícita e de boa-fé. Diz o art. 113: “Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa fé e os usos do lugar de sua celebração”. O dispositivo ressalta a lealdade das partes, a boa-fé e o interesse social, que deve ser observado mesmo nos atos negociais de particulares.
Quanto aos negócios jurídicos benéficos e à renúncia, o intérprete ou hermeneuta deve fazer interpretação literal ou restrita. Restar atento aos exatos termos da declaração de vontade, sem mais, nem menos, na dicção do art. 114: 
“Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente”. 
 Representação	
Os negócios e atos jurídicos podem ser praticados diretamente ou por interposta pessoa, o representante. Na representação, a relação jurídica obriga determinada pessoa perante terceiro por ato praticado em seu nome pelo respectivo representante. O ato executado pelo representante produz em relação ao representado os mesmos efeitos como se ele o praticasse diretamente. Há duas espécies de representação: uma, voluntária; outra, determinada pela lei. Na representação voluntária, o representante dispõe de mandato, escrito ou tácito, para agir em nome do representado. Os poderes e os limites da representação voluntária ou convencional decorrem do contrato de mandato. Já na representação determinada pela lei legal, os poderes da representação decorrem de prescrições, deveres e direitos, previstos na própria lei. Exemplos: representação dos pais em face dos filhos menores, representação dos tutelados e curatelados pelos tutores e curadores respectivos, representação da massa falida pelo síndico, do espólio pelo inventariante, etc. 
Na representação voluntária, o representado outorga, voluntariamente, os poderes ao representante para que este mandatário possa praticar o ato jurídico em nome do mandante ou representado. Forma bastante usual de representação voluntária é a conferida através de instrumento de procuração. Em uma procuração, o representado outorga poderes ao procurador para representá-lo. Na dicção do Artigo 115: 
“Os poderes de representação são conferidos pela lei ou pelo interessado”.
 
Quando o representante exerce os poderes da representação regularmente, significa que praticou o ato ou negócio jurídico nos termos determinados pelo representado. Significa que a vontade manifestada pela lei ou pelo mandato deve produzir os efeitos jurídicos decorrentes do ato, qual reza o art. 116: 
“A manifestação de vontade do representante, nos limites dos poderes, produz efeitos em relação ao representado”.
Tendo em vista o interesse social, a licitude e a moralidade dos negócios jurídicos, a lei procura dificultar a prática de atos que possam macular a correção, a justeza e a boa-fé dos negócios jurídicos. Assim, atos do representante que importem em confusão ou conflito de interesses com o representado, viciam o ato, tornando-o anulável. Caso de negócio jurídico celebrado pelo representante com ele mesmo, sem expressa e especial permissão legal ou do representado. É o teor do artigo 117: 
“Salvo se o permitir a lei ou o representado, é anulável o negócio jurídico que o representante, no seu interesse ou por conta de outrem, celebrar consigo mesmo”. 
 Não havendo permissão legal ou autorização do representado, o negócio jurídico celebrado pelo representante consigo mesmo é anulável. No caso de conflito de interesses entre o representante e o representado conhecido pela parte, o negócio é igualmente anulável. Contudo, a lei civil estabelece o prazo decadencial de cento e oitenta dias para dita anulação no art. 119: “É anulável o negócio concluído pelo representante em conflito com de interesses com o representado, se tal fato era ou devia ser do conhecimento de quem com aquele tratou. Parágrafo único: É de cento e oitenta dias, a contar da sua conclusão ou da cessação da incapacidade, o prazo de decadência para pleitear-se a anulação prevista neste artigo.”
A representação requer comprovação para comprovar a condição de representante e a extensão dos poderes conferidos pelo representado. Agindo em nome do representado, não se escusa o representante da prova da representação voluntária ou decorrente da lei. Rege o art. 118: “O representante é obrigado a provar a quem tratar em nome do representado a qualidade e a extensão dos seus poderes, respondendo pelos excessos cometidos.”
Os efeitos da representação voluntária recebem a regência da Parte Especial do Código Civil, notadamente no que concerne ao mandato, art.653, e a representação do poder familiar, art. 1634, dos tutores em relação aos menores sob tutela, art. 1.740 e a curatela, art. 1.774. Diz o art. 120: 
“Os requisitos e os efeitos da representação legal são os estabelecidos nas normas respectivas; os da representação voluntária são os da Parte Especial deste Código”. 
	Condição, termo e encargo
O Código Civil de 2002 não manteve a nomenclatura modalidade dos atos jurídicos com a qual o Código de 1916 intitulava o capítulo referente à condição, ao termo e ao encargo. 
No âmbito da doutrina, sobram discrepâncias quanto à denominação. Ora chamados de elementos acidentais dos atos jurídicos, ora de modalidades dos atos jurídicos, ora de ambas as denominações, indistintamente, como fazem CAIO MARIO PEREIRA (2004: 553) e SILVIO DE SALVO VENOZA (2003:517), por exemplo. 
O negócio jurídico válido pressupõe o agente capaz, o objeto lícito e a forma prevista ou não defesa em lei, os chamados elementos essenciais. Elementos que integrarem a própria constituição do negócio.
A lei faculta às partes a inclusão de outros elementos, os chamados elementos acidentais. São eles a condição, o termo e o encargo, elementos que podem, ou não, integrar o negócio jurídico. Porém, uma vez presentes no negócio jurídico por expressa manifestação da vontade das partes, ditos elementos devem seguir o negócio jurídico, do qual se tornam cláusula obrigatória e indissociável.
A condição é a cláusula voluntária que subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e incerto. Esse conceito de condição é dado pelo art. 121: 
“Considera-se condição a cláusula que, derivada exclusivamente da vontade das partes, subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e incerto”.
	
 No conceito, destaca-sea voluntariedade da parte e a subordinação do efeito jurídico à eventualidade futura e incerta. Assim, a cláusula condicional decorre, exclusivamente, da vontade das partes. Logo, não se trata de imposição de ordem legal. O evento ou acontecimento deve ser futuro, pertencente ao devir; e a incerteza, algo cuja ocorrência futura não é certa ou inexorável, portanto, que poderá, ou não, ocorrer. 
O Código Civil prescreve normas sobre condições suspensivas e resolutivas.
Na condição suspensiva, os efeitos do exercício do negócio jurídico ficam suspensos até a realização da condição estipulada pelas partes. Assim, a partes postergam a eficácia do negócio até a realização do evento futuro e incerto. Uma vez realizado o evento futuro, tem-se por satisfeita a condição, os efeitos serão retroativos à data de sua celebração - ex-tunc. O negócio aperfeiçoado e completo pela satisfação da condição produz efeitos do momento inicial da manifestação de vontade das partes. Por exemplo, se José Sarmento compromete-se na promessa de venda celebrada com Rogério Porto a vender a sua Ferrari, porém, com a cláusula condicional ou subordinativa do negócio a que a fábrica produza um novo modelo com motor mais potente, o negócio jurídico da compra e venda fica suspenso até que a fábrica italiana produza, ou não, o modelo com maior potência. A eventualidade é futura (se houvesse modelos mais potentes já fabricados, não seria condição pela ausência do futurismo) e incerta, pois a fábrica Ferrari poderá, ou não, produzir modelos com motores mais potentes que os do veículo de José. Se ocorrer o evento da condição, levanta-se a cláusula suspensiva e realiza-se plenamente o negócio jurídico da venda. Do contrário, sem a ocorrência da condição, a eficácia do negócio permanece suspensa até o dia em que a condição se realize. 
Porém, os efeitos jurídicos do negócio sob condição resolutiva são produzidos desde logo, portanto, desde logo eficaz. Todavia, a ineficácia do negócio fica dependente de evento futuro e incerto: o negócio jurídico é eficaz e resolve-se com o advento da condição que determina a ineficácia. Se José Sarmento avença com o Pastor Elias, através de contrato de comodato, a utilização pelo ministro religioso do imóvel pertencente ao primeiro, sem ônus e graciosamente até que a Igreja Tal adquira um outro imóvel, desde logo o Pastor Elias, o comodatário, instalar-se-á no imóvel de José a usufruir dos efeitos jurídicos decorrente do comodato, os quais cessarão no dia da ocorrência do evento futuro e incerto – a compra do outro imóvel - se algum dia, isso ocorrer.
O Código civil regula a licitude das condições por exclusão, são lícitas quando não são ilícitas ou impossíveis. Diz o art. 122: 
 “São lícitas todas as condições se não são contrárias à lei, à ordem pública ou aos bons costumes; entre as condições defesas se incluem as que privarem de todo efeito o negócio jurídico, ou o sujeitarem ao puro arbítrio de uma das partes.” 
 Segue que condição ilícita é a cláusula estipulada em afronta à lei, à ordem pública e aos bons costumes. Condições defesas cláusulas impeditivas do efeito do negócio, a exemplo da venda do Bar com cláusula de ele não vender bebidas alcoólicas. Idem quanto às estipulações unilaterais as quais a doutrina denomina de condição potestativa, por exemplo, a cláusula que autoriza de forma unilateral o locador rescindir o contrato de locação quando ele entender oportuno (quando ele quiser, quando ele decidir, quando ele puder, etc).
 
No que diz respeito às condições que invalidam o negócio jurídico, o Código prescreve no artigo 123: 
“Invalidam os negócios jurídicos que lhes são subordinados: I - as condições físicas ou juridicamente impossíveis, quando suspensivas; II - as condições ilícitas, ou de fazer coisa ilícita. III - as condições incompreensíveis ou contraditórias.” 
A primeira questão a ser examinada trata da impossibilidade física ou jurídica de realizar a condição que subordina a eficácia do ato. A condição fisicamente impossível atenta contra a ordem de natureza física e, por este motivo, não poderá ser realizada. Exemplo: venderei o terreno a você quando o mar secar, o Sol brilhar à noite, a galinha criar dentes, o bode der leite e assim por diante. Condição juridicamente impossível é condição ilegal, atentatória à ordem jurídica e invalida o ato uma vez que o direito não pode amparar ilegalidade. Exemplo: venderei a propriedade fundiária quando estiveres rico sem justa causa ou à custa de outrem. Mas tanto as condições físicas quanto as juridicamente impossíveis só invalidam os efeitos do ato se tratando de condição suspensiva pela razão de que a condição resolutiva produz, desde o início, a eficácia jurídica do ato, tornando-se ineficaz quando da ocorrência do evento futuro e incerto. 
Reputam-se condições ilícitas aqueles que atentem contra a lei, a ordem social, os costumes. Exemplo: o colar de pérola será seu quando te tornares minha amante ou abdicares da fidelidade conjugal ou fizeres trottoir na Praça da Independência ou quando mudares de sexo, etc. Assim, ante a ilicitude de tais condições, os atos negociais subordinados à realização de tais eventos, à míngua de idoneidade, são inválidos. Finalmente, o art. 123 trata das condições incompreensíveis e contraditórias. A cláusula condicional deve ser clara a fim de que a parte possa compreender o que tem de realizar a fim de efetivar o negócio. Deve, também, guardar coerência entre o elemento acidental e os elementos essenciais do ato a fim de não tornar o negócio inócuo, desprovido de sentido. Exemplo: alugarei o imóvel residencial, mas você não poderá ali estabelecer a sua residência ou de terceiros, pois o local é minha residência. 
Na condição resolutiva, a aquisição do direito dá-se no próprio ato negocial desde logo. É condição resolutiva porque a cláusula condicional resolve, e resolver é fazer cessar o efeito jurídico dado inicialmente ao ato. Se a condição estipulada no negócio for impossível de ser realizada, ou impossível de não se realizar, é tida como cláusula inexistente. Sendo inexistente, a condição, os efeitos jurídicos desde então produzidos e os direitos provisórios até a resolução perdem este caráter de provisório; o negócio jurídico subsiste como se não existisse cláusula condicional. É a inteligência do Art. 124: 
“Tem-se por inexistentes as condições impossíveis, quando resolutivas, as de não fazer coisa impossível.”
Na regência do art. 125,
“Subordinando-se a eficácia do negócio jurídico à condição suspensiva, enquanto esta se não verificar, não se terá adquirido o direito, a que ele vise.” 
Assim, a aquisição do direito visado no negócio jurídico fica suspensa, o agente somente adquire esse direito pretendido com a realização do evento futuro e incerto. Até então, tem uma expectativa de direito. Exemplo: Luiz compromete-se com Pedro a doar-lhe um automóvel quando ele colar grau no curso de Direito. Enquanto Pedro não concluir o curso de Direito e colar grau, não adquire os direitos da propriedade do automóvel, tendo, todavia, expectativa destes direitos. 
	Sobre a introdução de novas condições no negócio jurídico sob condição suspensiva, a lei admite novas disposições se a condição anterior ainda é pendente, não foi satisfeita. Essas novas disposições condicionais não terão valor jurídico no caso da condição anterior ter sido realizada, mesmo que a nova cláusula seja incompatível com a anterior. É a dicção do artigo 126: 
“Se alguém dispuser de uma coisa sob condição suspensiva, e, pendente esta, fizer quanto àquelas novas disposições, estas não terão valor, realizada a condição, se com elas forem incompatíveis.” 
	A respeito do efeito jurídico do negócio sob condição resolutiva, dispõe o art. 127: 
“Se for resolutiva a condição, enquanto esta não se realizar, vigorará o negócio jurídico, podendo exercer-se desde a conclusão deste o direito por ele estabelecido.”
 Salientamos, anteriormente, quea condição resolutiva subordina a ineficácia do direito ao evento futuro e incerto. Portanto, até a realização da condição, o negócio tem vigência plena, desfaz-se com a sua ocorrência.
 Em redação de valor técnico deplorável, o art. 128 cuida da realização de condição resolutiva nos atos negociais periódicos ou continuados. Para dizer que a eficácia da condição resolutiva se aplica aos atos ainda não praticados, não sendo aplicável aos atos já realizados, a redação torna nebuloso o entendimento: 
“Sobrevindo a condição resolutiva, extingue-se, para todos os efeitos, o direito a que elas se opõe; mas, se oposta a um negócio de execução continuada ou periódica, a sua realização, salvo disposição em contrário, não tem eficácia quanto aos atos já praticados, desde que compatíveis com a natureza da condição pendente e conforme os ditames da boa-fé.” 
 	 Pois se o negócio jurídico, sob condição resolutiva, vigora enquanto a condição não advir e, realizada a condição, extingue-se o direito, se o negócio jurídico contiver realização continuada, não pode a resolução retroagir a eficácia de atos anteriores, salvo vontade das partes, de boa-fé, em sentido contrário. É relevante o resguardo do direito do titular sujeito à condição, bem como aplicar a retroatividade compatível ajustável quando estipulada de boa-fé pelos contratantes. 
	Se o agente de boa-fé recebe proteção da ordem legal, do contrário, o agente malicioso e de má-fé deve ser punido. Pelo teor do art. 129: 
“Reputa-se verificada, quanto aos efeitos jurídicos a condição cujo implemento for maliciosamente obstado pela parte a quem desfavorecer, considerando-se, ao contrário, a condição maliciosamente levada a efeito por aquele a quem aproveita o seu implemento.” 
A má-fé pode consistir na ação indevida que objetiva impedir a outra parte de realizar a condição. Também não se aproveita quem, maliciosamente, levanta a condição a fim cessar os efeitos jurídicos do negócio. Enfim, a lei busca proteger e dar validade às ações motivadas pela boa-fé e não respaldar os atos decorrentes de má fé através da punição com a invalidade ou validade do ato em desfavor do agente de má-fé.
	Também a lei civil prescreve o reconhecimento de atos de conservação dos direitos condicionais a fim de que o titular do direito sob condição possa satisfazer a cláusula subordinativa do direito, ex-vi do art. 130: 
“Ao titular do direito eventual, nos casos de condição suspensiva ou resolutiva, é permitido praticar os atos destinados a conservá-lo.”
Toda pessoa titular de direito dispõe de meios jurídicos à defesa contra ameaça ou lesão aos seus direitos. O titular do direito submetido à condição não foge a esta regra. 
 
 Termo
No termo, está presente também um evento futuro, porém, diferentemente da condição, o acontecimento futuro é certo. Os efeitos jurídicos do ato negocial podem ser fixados no tempo quando as partes estipularem o início da eficácia ou o término do efeito do negócio.
 
Neste sentido, será inicial o termo a dies a quo e final a dies ad quem, conforme o efeito do ato seja suspensivo ou resolutivo, respectivamente. Assim, a eficácia do negócio sujeito a termo inicial fica suspensa até a ocorrência do termo, apesar de o direito já ter sido adquirido, pois o termo suspende o exercício do direito, e não a sua aquisição. Na dicção do art. 131: 
“O termo inicial suspende o exercício, mas não a aquisição do direito”. 
Tratando-se de final, determina-se a cessação dos efeitos do negócio. 
Tendo em vista que o termo indica o momento inicial ou final do exercício, e não da aquisição do direito decorrente de negócio jurídico, a doutrina costuma mencionar a existência de termos convencionais, quando fixados pelas partes, legais, quando previstos na lei e judiciais, quando fixados pelo juízo.
Prazos
Alguns doutrinadores costumam destacar a diferença entre o termo e o prazo. Diz-se não haver como confundi-los vez que o prazo é o lapso do tempo enquanto o termo é uma declaração de vontade que subordina o exercício do negócio a evento futuro certo sem, todavia, suspender a aquisição do direito. De maneira que pode haver negócios jurídicos sem essa cláusula chamada de termo, contudo, qualquer negócio jurídico realizar-se-á em determinado prazo. 
	O Código Civil regula a contagem dos prazos no artigo 132:
 	“Salvo disposição legal ou convencional em contrário, computam-se os prazos, excluindo o dia do começo, e incluindo o do vencimento. § 1º Se o dia do vencimento cair em feriado, considerar-se-á prorrogado o prazo até o seguinte dia útil. § 2º Meado considera-se, em qualquer mês, o seu décimo quinto dia. § 3º Os prazos de meses e anos expiram no dia de igual número do início, ou no imediato, se faltar exata correspondência. § 4° Os prazos fixados por hora contar-se-ão de minuto a minuto.”
A contagem dos prazos, quando estipulada pelas partes ou quando fixada pela lei, deve seguir as regras definidas no artigo 132. Assim, no prazo com vencimento no dia de sábado, se o local de pagamento não tiver expediente no dia, prorroga-se o prazo para o primeiro dia útil. A prorrogação isenta qualquer sanção civil, juros e multas. Não se adotou, para prazos contados em meses, o mês de trinta dias. O prazo mensal se expira no dia correspondente ou o seguinte, na falta deste dia correspondente. Se o vencimento ocorrer em meados do mês, o prazo expira-se no décimo quinto dia, é irrelevante se o mês tem 28 ou se 31 dias. Na contagem em anos, o período é de doze meses, contados do dia do início ao dia e ao mês correspondente do ano seguinte. Na contagem mensal, o período de tempo conta-se até o dia correspondente ao do início da contagem no mês seguinte, não existindo correspondência no ano ou no mês do dia do vencimento.
O Código estabelece regras de prazos preferenciais nos testamentos e nos contratos. Assim, presume-se em favor do herdeiro em detrimento do legatário e do devedor em relação ao credor, nos contratos, qual dispõe o art. 133:
 “Nos testamentos, presumem-se o prazo em favor do herdeiro, e, nos contratos, salvo, quanto a esses, se do teor do instrumento, ou das circunstâncias, resultar que estabeleceu a benefício do credor, ou de ambos os contratantes.” 
A lei presume que o devedor pode quitar seu débito antes do vencimento, porém o credor não pode exigir a quitação antes do prazo do vencimento da dívida. Idem quanto aos o herdeiro à entrega ou ao pagamento de legado. 
A execução é imediata se o negócio jurídico não tem prazo determinado. Art. 134: 
“Os negócios entre vivos, sem prazo, são exeqüíveis desde logo, salvo se a execução tiver de ser feita em lugar diverso ou depender de tempo.” 
Não se afigura razoável a execução imediata quando as circunstâncias objetivas não permitem essa execução.
Assim, o Código estabelece que, para o termo, aplicam-se as disposições relativas à condição, quando cabíveis, ou seja, os efeitos jurídicos da suspensão e da resolução, ex-vi do art. 135: 
“Ao termo inicial e final aplicam-se, no que couber, as disposições relativas à condição suspensiva e resolutiva.” 
 Modo ou encargo
Chama-se de modo ou de encargo a cláusula que estipula obrigações ou ônus pela qual uma das partes se compromete sem suspender o exercício ou a aquisição dos direitos do negócio jurídico. Numa doação de imóvel onde se fixa o encargo, o donatário destina parte do terreno pra certo fim, como a construção de uma escola, hospital, parque, etc. A pessoa beneficiada com o imóvel não está obrigada a aceitar a doação, porém, ao aceitá-la com a cláusula onerosa, resta obrigada a cumprir o contrato. O doador tem legitimidade para propor a ação contra o donatário se este não adimplir a obrigação tanto para resolver a doação como para obrigá-lo a realizar a obrigação avençada nos termos do contrato de doação. 
 
O encargo, ordinariamente, não suspende a aquisição e, tampouco, o exercício do direito, masimporta uma obrigação ou ônus. Mas a lei prevê encargo com condição suspensiva. Neste caso, a aquisição ou o exercício do direito pode ficar suspenso até a realização do encargo estipulado. É a dicção do artigo 136: 
“O encargo não suspende a aquisição, nem o exercício do direito, salvo quando expressamente imposto no negócio jurídico, pelo disponente, como condição suspensiva.”
Importa ressaltar que a ilicitude ou a impossibilidade física ou jurídica do encargo não são consideradas, isto é, considera-se não escrita. O negócio jurídico subsiste, validamente, ficando a parte livre da obrigação ou do ônus física ou juridicamente impossível. O negócio jurídico estará viciado se a ilicitude ou a impossibilidade for o motivo determinante da disposição – testamento ou doação - caso de invalidade do negócio. Logo, o negócio jurídico não produzirá a eficácia pretendida. Diz o art. 137: 
“Considera-se não escrito o encargo ilícito ou impossível, salvo se constituir o motivo determinante da liberalidade, caso em que se invalida o negócio jurídico.”
A lei busca dar validade ao negócio jurídico realizado pelas partes de boa-fé, porém, não o faz no caso do defeito ou vício que maculam o ato de vontade pela má-fé ou pela ilicitude. Por exemplo, alguém que vende ou doa o que não lhe pertence. 
 
 Defeitos do negócio jurídico
O ato ou negócio jurídico pode operar-se de forma perfeita ou não. Quando perfeito, produz os efeitos jurídicos desejados pelas partes. Quando imperfeito, os efeitos decorrem da lei. De fato, o negócio realizado de maneira regular, com vício ou macula, não recebe a tutela da lei para produzir os efeitos jurídicos desejados por quem os praticou fraudulentamente, de má-fé, etc.
O ato ou negócio jurídico irregular ou defeituoso, da ordem legal, recebe a reprovação, a sanção correspondente ao defeito do ato, a nulidade ou a anulabilidade.
A matéria cinge-se à controvertida teoria da ineficácia dos atos jurídicos. Nela, os autores apresentam suas classificações arbitrárias. Pela classificação do Código Civil, ou seja, nos termos expressos da norma jurídica, os atos jurídicos são válidos ou inválidos, e os defeitos dos negócios tornam ditos negócios anuláveis ou nulos. Mas alguns autores apresentam os atos inexistentes. Denominados inexistentes pelo elevado grau do defeito que sequer chegam a existir à ordem jurídica (VENOZA, 2003:568). Outros autores destacam que o Código Civil não cogitou dos atos inexistentes e alertam para a controvérsia doutrinária (PEREIRA, 2004:630). A meu ver, em que pesem as doutas opiniões em contrário, a classificação do Código, tecnicamente, atende plenamente. Para a lei, os negócios são válidos e, neste caso, produzem eficácia; ou inválidos e, neste caso, a ineficácia será absoluta, ou relativa, se nulo ou anulável, respectivamente. 
A vontade do agente é pressuposto essencial do negócio jurídico. Essa vontade deve ser plena quanto à capacidade e à liberdade a fim de exercer validade os efeitos civis previstos na ordem jurídica. Esse requisito de validade do negócio jurídico faz criar, modificar e extinguir os direitos.
A incapacidade do agente vicia o negócio jurídico. Do incapaz não se espera que exerça, pessoalmente, seus direitos ou pratique atos da vida civil. Deve fazê-lo através da representação legal, pelo assistente ou representante.
A vontade do agente é o fundamento ou a razão de ser do negócio jurídico, ensina Washington de Barros Monteiro: “A vontade é a alma do negócio jurídico” (MONTEIRO: 1987:184). O negócio jurídico válido produz todos os efeitos jurídicos desejados. Logo, não contém vícios de vontade ou de ilicitude pelo objeto e pela forma.
Porém, diversas circunstâncias permanentes ou transitórias podem ocorrer com os negócios jurídicos de maneira a desvirtuar a declaração de vontade das partes dos fins legítimos e desejados. Tais circunstâncias podem tornar o ato ineficaz, de forma absoluta ou relativa, conforme importe na ausência do elemento essencial de formação do negócio jurídico ou de algum defeito susceptível de correção, relativo. O novo Código nomina como defeitos jurídicos: 1.erro ou ignorância; 2. dolo; 3. coação; 4. fraude contra credores; 5. estado de perigo; 6. lesão; 7. simulação. 
1. Erro ou ignorância
Considera-se erro a noção falsa ou incorreta do objeto do negócio. O agente não manifestaria a vontade da forma por ele realizada se tivesse a seu tempo o exato conhecimento das reais qualidades, da natureza ou das condições do objeto. 
Em vernáculo, erro significa falsa noção do real e ignorância significa desconhecimento, falta de ciência. Porém, para o Código Civil, erro ou ignorância conduzem à mesma consequência, ex-vi do art. 138: 
“São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem de erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio.”
Portanto, o que importa distinguir não é erro de ignorância, mas o erro substancial do acidental. A lei prescreve o erro essencial no art. 139: 
“O erro é essencial quando: I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma das qualidades a ele essenciais; II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante; III - sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for motivo único ou principal do negócio jurídico”.
O inciso I prescreve três casos: 1° - Erro quanto à natureza do negócio; 2º - Erro quanto ao objeto principal do negócio e 3º - Erro sobre alguma qualidade essencial do objeto do negócio.
Para melhor esclarecer, apresento os seguintes exemplos: 1. Dione Sarmento realiza um negócio pensando haver recebido a casa em doação, porém, na realidade, o proprietário cedeu o imóvel para uso gratuito em comodato. Trata-se, no caso, de um erro substancial quanto à natureza do negócio, pois o comodatário não adquire o domínio do imóvel, esta mudança de titular dar-se entre o doador e o donatário na doação; 2. Dionary Sarmento adquire uma biblioteca imaginando estar comprando acervo de obras raras, mas, na verdade, o objeto da compra não passa de publicações vulgares, listas telefônicas antigas, livros escolares usados, etc. A compradora cometeu erro em relação ao objeto principal da declaração de vontade, o objeto adquirido não correspondeu ao objeto pretendido no negócio jurídico. 3. Francisco Sarmento pensa ter adquirido um Rolex de ouro quando, na realidade, comprou uma falsificação made in Paraguai. Ele errou essencialmente em relação à qualidade do objeto. 
O inciso II diz respeito ao erro quanto à identidade da pessoa. Maria casa civilmente com Paulo, empresário, porém, o nubente, na verdade, é outra pessoa, trata-se de Pablo. Também se considera erro da identidade pessoal aquele que diz respeito à honra e à boa fama da pessoa. Maria casou com João pensando tratar-se de comerciante respeitado quando, na verdade, ele era o chefe do tráfico de cocaína e dono de extensa ficha criminal, procurado pela polícia de sete países. Maria incorreu no erro em relação às qualidades essenciais da pessoa. 
O inciso III cuida do erro de direito. O erro de fato incide sobre aspectos essenciais do objeto ou da pessoa, enquanto o erro de direito decorre de ignorância ou de má interpretação da norma jurídica. O agente pensa que a declaração de vontade foi feita de acordo com a lei e, em verdade, não foi este o caso. A lei admite o erro de direito como erro substancial se este for o motivo único ou motivo principal do negócio jurídico. Porém, com o escopo de preservar a segurança dos negócios jurídicos, o erro de direito só é admissível quando o agente comprovar de boa fé a não realização do negócio se tivesse conhecimento exato da norma que o regula. Exemplo: Uma farmácia compra 500 ampolas de injeção sem conhecer a proibição da comercialização e circulaçãodeste produto no país pela Agência Nacional de Saúde. Quando as circunstâncias do negócio permitem, argumenta-se o erro de direito, não havia da parte do empresário da farmácia a intenção de violar a lei. Sobre o erro de direito Caio Mário (2004: 525) comenta: “No estado atual da ciência jurídica, ganhou terreno aceitação do erro de direito, como causa de anulação do negócio jurídico”. Mas ocorre no caso de a declaração ser determinante do negócio, de o agente não realizar o ato se conhecesse a norma que vicia o ato, pois a indicação de recusa de cumprir a norma afasta a escusa do erro de direito.
Por outro lado, não tem relevância o fato de o agente cometer o erro quanto aos motivos do negócio se a falsa compreensão não era a razão determinante do negócio jurídico. Juliana doa a sua bicicleta à Manoela porque tinha em vista uma viagem de estudo que faria à Espanha. Mas essa viagem, no final das contas, não aconteceu. Mesmo arrependida da doação, Juliana não tem respaldo na lei para desfazer o negócio jurídico gratuito da qual é doadora.
Diferente quando o contrato do negócio determina, expressamente, que a razão que determina a doação da bicicleta é a viagem. Neste caso, a viagem é o motivo determinante ou razão de ser da doação, expresso na declaração de vontade. Como esta razão não se realizou, a lei prevê a anulação do negócio, é a dicção do artigo 140: 
“O falso motivo só vicia a declaração de vontade quando expresso como razão determinante.” 
 
 Irrelevante quanto aos efeitos se a erronia da declaração de vontade decorre de meios diretos ou indiretos. Releva a vontade do agente no negócio se há correspondência entre a intenção e a vontade declarada, não importa os meios pelos quais a vontade se expressa. Diretamente pela própria pessoa ou por meios indiretos, eletrônico, telefônico, radiofônico, telegráfico, ex-vi do art. 141: 
“A transmissão errônea de vontade por meios interpostos é anulável nos mesmos casos em que o é a declaração direta.”
 O erro acidental não impede a efetivação do negócio, ou seja, os erros que dizem respeito às qualidades secundárias da pessoa ou do objeto do negócio. Somente vicia a declaração de vontade o falso motivo quando ele é determinante à manifestação errônea da vontade, art. 142: 
“O erro de indicação da pessoa ou da coisa, a que se referir à declaração de vontade, não viciará o negócio quando, por seu contexto e pelas circunstâncias, se puder identificar a coisa ou pessoa cogitada.” 
Assim, se alguém faz uma doação a título de incentivo para o artista Lucas Sarmento por haver esculpido uma estátua, mas se enganou em relação à pessoa, já que o escultor foi Matheus Sarmento, uma vez identificado autor da obra, o erro quanto à pessoa indicada anteriormente não diz respeito à qualidade essencial do negócio, não impedirá a doação ao autor da obra. Desta forma, a vontade manifestada pelo doador em beneficiar o artista com a doação se realiza corretamente, desfeito o erro. 
O critério empregado pela lei para o aproveitamento do negócio jurídico a fim de determinar o erro acidental de cálculo é bastante prático. Considera-se acidental o cálculo inexato passível de retificação. Se o erro se verificou na diferença de cálculo e o agente autoriza a retificação da declaração de vontade a fim de validar o negócio, art. 143: 
“O erro de cálculo apenas autoriza a retificação da declaração de vontade.”
A declaração de vontade, que expressa a subjetividade do agente, não deve ser prejudicada se o elemento objetivo do negócio jurídico for atendido de modo a atender a vontade do agente, embora diversa. Não prejudica a validade do ato se o erro na declaração não alterar a vontade da parte em realizar o negócio. Diz o art. 144: 
“O erro não prejudica a validade do negócio quando a pessoa, a quem a manifestação de vontade se dirige, se oferecer para executá-la na conformidade real da vontade do manifestante”. 
Se Mariana Sarmento imagina fazer negócio com uma televisão Toshiba de 42, mas, na hora da entrega, apresenta uma TV Sansung 22 e ela aceita uma pela outra por entender que os modelos e marcas são equivalentes e que não lhe trazem prejuízo, o negócio será válido, mesmo que, no caso, o erro diga respeito a elemento não acessório do negócio jurídico. 
Dolo
O Código Civil não define o dolo civil, mas o dolo encontra-se no rol dos defeitos dos negócios jurídicos passíveis de anulação dos negócios jurídicos e dos atos. Art. 145: 
“São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este for a sua causa.”
O dolo consiste do uso de artifício com intenção de levar alguém à prática de ato prejudicial em virtude do desvio da noção correta provocado pelo ardil empregado. 
A diferença entre o dolo e o erro consiste em que, neste, a errônea da declaração de vontade decorre da falsa noção interna, de equívoco provindo do próprio agente. No dolo, não, uma ação maliciosa de terceiro induziu o agente a praticar negócio jurídico o qual ele não praticaria se os fatos não tivessem sido deturpados pela ação dolosa.
O dolo pode ser essencial ou acidental. Apenas o dolo essencial enseja a anulação dos negócios jurídicos. O dolo acidental obriga a reparação de perdas e danos. Para caracterizar se o dolo é principal ou acidental, observa-se critério prático. Se, apesar do emprego de artifícios e ardis, a vítima do ludíbrio realizasse o negócio de outro modo, este é acidental; se, porém, não realizasse de modo algum, o dolo é essencial. É o teor do art. 146:
 “O dolo acidental só obriga a satisfação das perdas e danos, e é acidental quando, a seu despeito, o negócio seria realizado, embora de outro modo”. 
No dolo acidental, o agente admite efetivar o negócio noutras condições, deduzindo-se do negócio aquilo que representa prejuízo para si. Eis porque não ser caso de anulação do negócio, porém, de reparação civil das perdas e dos danos em favor da parte prejudicada e desfavor da parte que empregou artifícios a fim obter vantagens indevidas. 
Em negócios comerciais, tornaram-se banalidades os excessos publicitários sobre a qualidade dos produtos oferecidos. Consumidores, não raramente, cometem erro levados pela chamada propaganda enganosa. A expressão dolus bonus é empregada pela doutrina ao dolo acidental, quando o consumidor, embora enganado, não desiste do produto apresentado. Se o produto não corresponde ao anúncio publicitário, pode o consumidor reclamar das perdas e danos decorrentes da qualidade do produto adquirido, a menos que o contido no anúncio que o levou a adquirir aquele produto seja fiel.
Nos negócios jurídicos bilaterais, o dolo pode decorrer de uma ação ou de uma omissão ardilosa do agente, inclusive, do silêncio de uma das partes. O relevante, juridicamente, para anular o negócio, é identificar se o dolo é essencial, e não se o agente agiu ou deixou de agir dolosamente. O silêncio doloso decorre da intenção do agente de celebrar o negócio omitindo uma declaração a respeito do fato ou da qualidade do objeto do negócio que, se ele declarasse, a outra parte não realizaria o negócio. 
É a regra do artigo 147: 
“Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio não se teria celebrado.”
 
Também pode ser anulado negócio jurídico doloso praticado por terceiros. Havendo o chamado conluio, se a parte beneficiária tinha conhecimento do ardil ou devesse ter. No caso do contratante desconhecer o dolo de terceiro, não se anula o negócio. Mas se o negócio jurídico subsistir, o terceiro que agiu dolosamente deve satisfazer todas as perdas e danos da parte lograda. Na dicção do artigo 148:
 “Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo de terceiro, se a parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento; em caso contrário, ainda que subsista o negócio jurídico, o terceiro responderá por todas as perdas e danosda parte a quem ludibriou.” 
Nos casos de dolo praticados por representantes legais, aquelas pessoas que exercem direitos ou praticam atos e negócios jurídicos em nome de outros por expressa determinação da lei, ou de convenção das partes, a responsabilidade civil do representante distingue-se conforme o caso. Na representação legal, a obrigação do representado se estende ao até o limite do que ele aproveitou. No caso do dolo praticado pelo representante convencional, a responsabilidade civil do representado é solidária. É o que diz o art. 149:
 “O dolo do representante legal de uma das partes só obriga o representado a responder civilmente até a importância do proveito que teve; se, porém, for do representante convencional, o representado responderá solidariamente com ele por perdas e danos.” 
Na representação legal, a responsabilidade do representado limita-se a ressarcir até o limite da vantagem por ele aferida no negócio, enquanto na representação convencional, o representado responde, ademais, pelas perdas e danos.
Nos chamados dolos recíprocos, assim entendidos quando ambos os contraentes agem dolosamente, nenhum deles pode alegar o dolo do outro a fim de anular o negócio ou requerer indenização, qual se diz popularmente “sujo não pode falar de mal lavado”. Sendo o negócio realizado, mesmo que ambas as partes do negócio ajam dolosamente, ele será válido. Não cabe, no caso, invalidar o negócio, pois não há boa-fé a ser protegida, nem, tampouco, a reparação civil, já que as manobras maliciosas foram recíprocas e, como tal, elas se compensassem. Diz o art. 150:
 “Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para anular o negócio, ou reclamar indenização.”
Coação
A coação como defeito de negócio jurídico consiste na ameaça ou na violência física ou moral, iminente e capaz de incutir no agente um temor fundado que o faça agir de modo diverso do qual agiria espontaneamente. O coagido pratica o ato sem o desejar. Difere do erro e do dolo, nos quais a vontade do agente é falsa ou defeituosa; na coação, a vontade simplesmente não existe.
Para viciar o ato jurídico, a coação deve causar, no agente, um fundado temor. Não se trata de temor descabido, sem fundamento. A ameaça de dano deve ser, também, iminente. Não se fala em ameaça passada ou futura. Essa ameaça pode ser à própria pessoa, aos membros da família ou aos bens. Contudo, a coação deve ser suficiente para incutir, na vítima, o temor fundamentado. A gravidade do dano deve ser proporcional ao que se pretende extorquir e presente. Descaracteriza a coação uma ameaça banal e futura, a ameaça contra a qual a vítima poderia adotar medidas de proteção. Por temor fundado, entenda-se a ameaça de morte, de tortura, de prisão, de estupro, de destruição, de escândalo e assim por diante. Também se admite a coação contra terceiros. Neste caso, cabendo às diligências judiciais para apuração da ocorrência da coação e das circunstâncias. Na regência do art. 151:
 “A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta ao paciente fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens. Parágrafo único: Se não for pessoa da família do paciente, o juiz decidirá se houve coação, com base nas circunstâncias.”
Na apreciação judicial da coação, o juízo deve considerar todas as circunstâncias que possam ter influído na declaração de vontade do coagido. São relevantes a idade, o sexo, o temperamento, o estado de saúde e demais circunstâncias pessoais e sociais que contribuíram para agravar a coação pelo teor do art. 152: 
“No apreciar a coação, ter-se-ão em conta o sexo, a idade, a condição, a saúde, o temperamento do paciente e todas as demais circunstâncias que possam influir na gravidade dela.” 
Não se considera coação o simples temor reverencial, nem a ameaça de exercício regular de direito. A lei não considera suficiente para anular o negócio jurídico a simples alegação de temor ou constrangimento, o dever de obediência dos filhos em relação aos pais ou o respeito dos liderados aos líderes e superiores hierárquicos, tampouco, a ameaça de recorrer às vias judiciais para assegurar direitos. Diz o artigo 153: 
“Não se considera coação a ameaça de exercício normal de um direito, nem um simples temor reverencial.”
 A coação pode ser exercida por terceiros desde que incuta, na vítima, o temor fundado e iminente. Deve-se sopesar o grau de participação da parte que aproveita do ato involuntário do coato. No caso do preposto ter conhecimento da coação, além da anulação do negócio em relação ao representado, o representante responde, solidariamente, com o representado coator pelas perdas e danos sofridos pelo coato. Diz o artigo 154:
 “Vicia o negócio jurídico a coação exercida por terceiro, se dela tivesse ou devesse ter conhecimento à parte a quem aproveite, e esta responderá solidariamente com aquele por perdas e danos”.
 
Porém, se a coação foi exercida por terceiro, e a parte a quem aproveita desconhecer esse fato e não tiver conhecimento ou ciência da coação, o negócio jurídico valerá. No entanto, o agente causador da coação responderá pelas perdas e danos do coato. É o que diz o art. 155: 
“Subsistirá o negócio jurídico, se a coação decorrer de terceiro, sem que a parte a quem aproveite dela tivesse conhecimento ou devesse ter conhecimento; mas o autor da coação responderá pôr todas as perdas e danos que houver causado ao coacto.”
 Essa regra afigura-se complexa quanto à aplicação pelo intérprete. Deve ser entendida de forma ampla, conforme o caso e suas circunstâncias. Se o coato não emite a vontade no negócio jurídico, e se o coagido realiza o ato de maneira que, livremente e espontaneamente, não realizaria, o negócio, certamente, é anulável. Dizer que o negócio “subsiste” se a coação for praticada por terceiro e se a parte beneficiada desconhecia a coação, resolvida apenas mediante a dedução de perdas e danos pelo autor da coação, pode ser contraditório. Se o coato não tiver interesse na subsistência do negócio que realizou involuntariamente e sob coação, mesmo assim, esse “negócio jurídico” subsiste validamente? Bastando o coator indenizar a vítima do dano e o negócio convalida-se? A intenção do legislador deveria ter sido para punir unicamente o autor da coação quando a coação for da exclusiva responsabilidade dele, sem conhecimento da parte que se beneficia do negócio. E excluir desta responsabilidade civil a parte sem envolvimento na coação. Porém, dar validade, subsistência a um negócio jurídico decorrente da coação afronta o bom senso, no meu ponto de vista. 
 Estado de perigo
O Código de 2002 regula o estado de perigo como defeito dos negócios jurídicos no artigo 156:
 “Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa. Parágrafo único. Tratando-se de pessoa não pertencente à família do declarante, o juiz decidirá segundo as circunstâncias.” 
No estado de perigo, a pessoa, diante de necessidade premente de salvar a sua vida ou a vida de familiar, assume compromissos exorbitantes, obrigações excessivas. O risco representado no perigo de vida determina a realização do negócio jurídico desproporcional e a pessoa, premida pela necessidade, obriga-se, para escapar do perigo, aceitando acordos excessivos, exorbitantes, onerosos, em demasia. Não fossem as circunstâncias do perigo, do risco e da necessidade de salvação, a pessoa livremente não avençaria ou aceitaria as obrigações que assumiu ante a situação de periculosidade. Não está presente em negócio celebrando em tais circunstâncias a livre vontade, a boa-fé, a licitude. A ninguém é dado obter vantagens indevidas das necessidades de outrem. No exemplo: avença do náufrago que assume a obrigação de pagar uma recompensa milionária pelo socorro à pessoa que o retira do perigo; da cobrança excessiva pelo transportedo doente ao hospital ou dos serviços hospitalares, etc. Caracteriza a lesão tanto o perigo pessoal de quem se obriga com a prestação excessiva quanto o perigo de vida de pessoas da família. 
Lesão
A lesão vicia o consentimento, a vontade no negócio jurídico porquanto a pessoa é lesada em face de premente necessidade ou da inexperiência. Ditas circunstâncias determinam que a pessoa assuma prestações desproporcionais. O fundamento da lesão tem origem no risco de dano patrimonial. Portanto, a lesão não deve ser confundida com o estado de perigo, cujo risco é dano pessoal. O compromisso lesivo é o desproporcional, decorrente da premente necessidade ou da inexperiência da pessoa lesada. A verificação do que se considera desproporcional deve observar a data do evento, portanto, não caracteriza lesão quando os valores se tornam desproporcionais no futuro por acréscimos moratórios, juros, etc. Se alguém endividado desfaz-se de bens por preços vis, premido pela necessidade, se o comerciante aceita empréstimo financeiro a juros escorchantes para não ser protestado, se a pessoa pagou um preço, muitas vezes, a maior por um objeto por ingenuidade. Na dicção do art. 157:
 “Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta. § 1° Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo em que foi celebrado o negócio jurídico; § 2º Não se decretará a anulação do negócio, se foi oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito.” 
O artigo citado deixa claro que o negócio jurídico não será anulado se as partes avençarem no sentido de erradicarem a desproporcionalidade da prestação pela oferta do suprimento ou pela redução da vantagem. 
 Fraude contra credores
A fraude contra credores consiste em atos de devedor insolvente ou prestes à insolvência que desfalca ou dissipa o patrimônio - com doações ou remissão de dívida - a fim de subtrair ditos bens do pagamento das dívidas com os credores sem garantia real - quirografários. Os atos fraudulentos do devedor objetivam desfalcar o patrimônio com a intenção de não ter como pagar os credores sem garantia. A lei civil visa proteger os credores quirografários e, para tanto, torna revogável ou anulável os atos de doação e de perdão de dívida do devedor insolvente e fraudulento. 
Somente as pessoas credoras no tempo dos atos fraudulentos estão legitimadas a promover a anulação dos negócios de transmissão gratuita através da ação revocatória ou ação pauliana. Esta ação civil destina-se a anular os atos fraudulentos praticados contra credores. Podem promovê-la os credores anteriores ao ato - quirografários - e demais pessoas que, embora com garantias, estas não sejam insuficientes. É a dicção do art. 158:
 “Os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida, se os praticar o devedor insolvente, ou por ele reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, poderão ser anulados pelos credores quirografários, como lesivos dos seus direitos. §1º Igual direito assiste aos credores cuja garantia se tornar insuficiente; § 2º Só os credores que já eram ao tempo daqueles atos podem pleitear a anulação deles.”
Considera-se devedor insolvente aquele devedor cujos débitos suplantam o patrimônio em valores econômicos. 
Contratos onerosos celebrados pelo devedor insolvente, se o estado de insolvência é notório ou for do conhecimento da outra parte, são, igualmente, anuláveis. O estado de insolvência deve ser do conhecimento público, do domínio comum ou do conhecimento do outro contratante. Se o devedor insolvente contrata a venda de certo bem, este contrato de venda pode ser anulável pelos credores sem garantia na via judicial. A anulação do contrato visa a garantir que o devedor insolvente possa pagar sua dívida. Dispõe o art. 159:
 “Serão igualmente anuláveis os negócios onerosos de devedor insolvente, quando a insolvência for notória, ou se houver motivo para ser conhecida do outro contratante.”
 
O escopo da lei civil consiste em proteger os credores, não impedir a realização de negócios jurídicos. Se o adquirente pagar o preço real do bem ao vendedor insolvente e efetivar o depósito judicial da quantia respectiva, tendo o cuidado de mandar citar por edital os credores, estes últimos perderão a legitimidade ativa para propor a ação pauliana anulatória. Se não houve fraude, obviamente, o negócio não se anula. O fim da ação anulatória é garantir o crédito dos credores, e se houve o depósito judicial da garantia devida, a ação anulatória perde o seu objeto. É a dicção do art. 160:
“Se o adquirente dos bens do devedor ainda não tiver pagado o preço e este for, aproximadamente, o corrente, desobrigar-se-á depositando-o em juízo, com a citação de todos os interessados. Parágrafo único. Se inferior, o adquirente, para conservar os bens, poderá depositar o preço que lhes corresponda o valor real.” 
Visa o artigo em comento proteger os credores e amparar os adquirentes de boa-fé, possibilitando, assim, que este último conserve o bem adquirido de boa-fé, validando o negócio jurídico. O depósito do valor real do bem adquirido em juízo supre essa garantia, mesmo que não tenha sido pago ao credor esse valor real.
Nas relações jurídicas, em geral, e civis privadas, em particular, a boa-fé dos contratantes tem o amparo da ordem jurídica. Inclusive para validar os negócios onerosos contraído com devedor insolvente, adotadas as medidas previstas pela lei. Por outro lado, procura-se coibir e punir a má-fé por meio de sanções civis e ações judiciais anulatórias, reparação civil de perdas e danos, etc. 
 Na fraude contra credores, agem ou podem agir de má-fé, em primeiro lugar, o devedor insolvente que desfalca sem causa justa o patrimônio. Dissipa, de forma ilícita, os bens a fim de burlar os credores. Má-fé, também, dos contratantes dos negócios de transmissão gratuita, quando for o caso, dos terceiros adquirentes. Devedor insolvente, contratante e adquirente de má-fé, qualquer deles responde, passivamente, às ações judiciais movidas contra os credores, na forma da lei. A posição firmada na jurisprudência é da formação de litisconsórcio obrigatório na ação pauliana (RT, 447/147 in DINIZ, 2004: 162). 
Na regência do artigo 161, a legitimidade passiva da ação pauliana alcança o devedor insolvente, o contratante e o adquirente de má-fé:
 “A ação, nos casos dos art. 158 e 159, poderá ser intentada contra o devedor insolvente, contra a pessoa que com ele celebrou a estipulação considerada fraudulenta, ou terceiros adquirentes que hajam procedido de má fé.”
No caso do credor quirografário receber do devedor insolvente pagamento de dívida ainda não vencida ou antecipada, a lei o obriga a repor esse valor recebido ao acervo do concurso de credores. Todos os credores, proponentes ou não da ação, podem se habilitar ao concurso de credores da ação pauliana. Se alguém dentre os credores é beneficiado com pagamento anterior ao vencimento, sem devolver o que recebeu ao concurso de credores, viola direitos dos demais credores. Os credores quirografários prejudicados pelo credor beneficiado podem anular este pagamento antecipado. É o teor do artigo 162:
 “O credor quirografário, que receber do devedor insolvente o pagamento da dívida ainda não vencida, ficará obrigado a repor, em favor do acervo sobre que tenha que de efetuar o concurso de credores, aquilo que recebeu”.
No mesmo sentido, é a fraude presumida da garantia que foi dada a algum dos credores quirografários em detrimento dos demais. A garantia real conferida pelo devedor insolvente a algum credor viola o direito dos demais e enseja a anulabilidade do ato, artigo 163:
 “Presumem-se fraudatórias dos direitos dos outros credores as garantias de dívidas que o devedor insolvente tiver dado a algum credor.” 
Trata-se de presunção de má-fé que, não obstante presumida,legitima os credores prejudicados à ação anulatória da garantia.
Em sentido contrário, há a presunção da boa-fé do devedor insolvente nos negócios onerosos, porém indispensáveis a conservar e manter estabelecimento comercial, rural ou industrial, ou a sustentar a sua família. Consideram-se dívidas necessárias somente as que evitam a paralisação da atividade do estabelecimento, o que, decerto, torna a situação do devedor insolvente mais difícil para retornar ao seu estado de solvência. A solvência do devedor é o esperado pela ordem jurídica e pelos fins sociais a que a lei se destina. Não se pode negar ao insolvente a possibilidade de sua recuperação econômica, nem tampouco, a subsistência junta da sua família, um dever de todos. Na inteligência do artigo 164: 
“Presumem-se, porém, de boa-fé e valem os negócios ordinários indispensáveis à manutenção de estabelecimento mercantil, rural, ou industrial, ou a subsistência do devedor e de sua família.”
Novas dívidas podem ser assumidas pelo devedor insolvente, as dívidas necessárias especificadas nesse artigo, que não legitimam os credores à promoção de ação pauliana.
 
Na dicção do artigo 165: 
“Anulados os negócios fraudulentos, a vantagem resultante reverterá em proveito do acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores. Parágrafo único. Se esses negócios tinham por único objeto atribuir direitos preferenciais, mediante hipoteca, penhor ou anticrese, sua invalidade importará somente na anulação da preferência ajustada.”
 Ora, a ação pauliana visa à anulação dos negócios fraudulentos de direitos de credores quirografários a fim de devolver o patrimônio ou a garantia real – hipoteca, penhor ou anticrese - ao acervo de credores. O concurso de credores obre-se com todos credores habilitados. Se o negócio tinha por fim favorecer determinado credor ou estabelecer preferência através de garantia dada indevidamente, a revogação deste negócio só alcança o que excede o direito. Só vicia aquilo que lesa o direito dos outros credores. Retirado o privilégio descabido do credor “preferido” pelo devedor que não fez por onde, não cabe impedi-lo da habilitação em igualdade de condição com os demais credores no concurso. 
 
	INVALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO NO CÓDIGO CIVIL
No direito civil positivo, os defeitos dos negócios tornam os atos nulos ou anuláveis, não havendo qualquer menção aos chamados atos inexistentes, tão reclamados pela doutrina. Negócio nulo ou de nulidade absoluta é inquinado de vício insanável por ofensa a preceito de ordem pública e, por esta razão, a lei impõe sanção mais severa impedindo que o negócio produza qualquer efeito jurídico. No negócio jurídico nulo, afrontam-se elementos essenciais do ato negocial, objetivam-se fins ilícitos, pretere-se forma exigida pela lei ou a própria lei taxativamente declara nulo:
 
“Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando:
I – celebrado por pessoa absolutamente incapaz;
II – for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto;
III – o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito;
IV - não revestir a forma prescrita em lei;
V- for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade;
VI – tiver pôr objetivo fraudar lei imperativa;
VII - a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção.”
Declarada a nulidade, essa decisão torna sem efeito o negócio jurídico como se jamais tivesse existido porquanto produz efeito ex tunc. Matéria sumulada no STF, súmula n.º 346.
Simulação
Inova o Código de 2002 com o tratamento dispensado à simulação. O Código anterior, coerentemente, situava a simulação entre os defeitos susceptíveis de anulação do ato jurídico. Mas o novel Digesto desloca a simulação para o âmbito da nulidade. E erra. Não observa a boa técnica nem a lógica. O negócio jurídico é nulo quando não se aproveita, mas, contraditoriamente, o novo Código declara nulo o negócio simulado nada obstante admitir a sua subsistência se for válido na substância e na forma. A disposição legal prima pela incoerência e contradição, não apenas em relação à teoria da ineficácia como em relação ao próprio artigo 167. Na sistemática adotada pelo próprio Código, o negócio jurídico será válido ou inválido; sendo inválido, poderá ser nulo ou anulável. 
Na simulação, existe uma declaração falsa da vontade porquanto o agente oculta a verdadeira finalidade do negócio desejado e declara, intencionalmente, outro, lesando terceiros. A vontade emitida não corresponde à vontade almejada pelo agente que visa, com isso, lograr terceiros. Consequentemente, no negócio simulado, o efeito jurídico produzido realmente pelo ato não condiz com a declaração de vontade e, por isto, o ato é passível de anulação. Considera-se simulação absoluta ou relativa conforme a realização, ou não, de algum negócio. Exemplo: Teresa, em vias do divórcio, emite títulos de crédito para pagamentos de negócios inexistentes. O intento é dividir um patrimônio desfalcado com o ex-cônjuge. No caso, as falsas emissões de títulos não passam de simulacros, negócio algum foi realizado pela emitente. Já no caso da simulação relativa, as partes chegam a realizar o negócio, mas com declaração de vontade distinta do negócio de fato desejado. Daniel assina recibo de venda com valor a menor do que o preço efetivamente pago pelo comprador. O negócio jurídico da compra e venda se realizou, mas não nas bases declaradas pelos agentes. 
A doutrina aborda outros aspectos na classificação de negócio simulado, como a que ressalta o efeito do negócio simulado. Neste sentido, identificam uma simulação maliciosa e outra inocente, conforme o simulacro prejudique, ou não, a terceiros. No caso da simulação inocente, a declaração de vontade não prejudica terceiros e não contraria preceito legal; logo, não viciará o negócio. Exemplo: Lourival, solteiro, faz doação de bem à concubina, mas dissimulando o negócio como se fosse uma venda. Se essa doação não traz prejuízos a direito de terceiros nem viola disposição legal, será válido. Diferente da simulação maliciosa, que importa prejuízo a terceiros. Exemplo: Bisneto, casado, faz doação de bem à concubina simulando uma compra e venda. Neste caso, a doação viola direito do cônjuge. Nada obstante a clara distinção entre os dois negócios simulados, a terminologia “simulação inocente” não é pacífica. 
Na nova disciplina do Código, a simulação recebe a regência do art. 167: 
“É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for, na substância e na forma. § 1º Haverá simulação nos negócios jurídicos quando: I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem; II - contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira; III - os documentos particulares forem antedatados ou pós-datados; § 2º Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do negócio jurídico simulado.” 
Como se pode observar, a simulação pode incidir sob aparência de transmissão de direito à pessoa diversa da pretendida, nas declarações ou cláusulas não verdadeiras e também em relação a datas de documentos particulares. 
No âmbito da doutrina, ordinariamente, pelo menos até o advento deste Código, classificava-se a simulação em absoluta ou relativa, mas ambas como defeitos passíveis de anulação. Diante da nova disciplina legal, terão que refazer seus conceitos ou fustigar a nova disciplina legal. Neste caso, entendendo que o legislador obrou mal, ressaltamos a incongruência normativa em face da teoria das nulidades, mas com a advertência de que a nova disciplina legal declara o negócio jurídico simulado nulo. 
Neste sentido, situado no Código Civil, o negócio jurídico simulado no rol das nulidades, sanção mais grave que, em geral, diz respeito a interesses públicos, a nulidade pode ser alegada não apenas pelo interessado, como também pelo Ministério Público. Segue

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