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NOTAS SOBRE PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA_REVISTO

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NOTAS SOBRE PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA
Natanael Sarmento, Dr. Professor Titular da UNICAP
A doutrina civilista encontra campo fértil para debates quando trata da prescrição e da decadência. Sobre os fundamentos ou motivações primárias de ambos, porém, argumenta-se, com ampla aceitação, a prevalência do interesse público à segurança dos negócios jurídicos. Sem prazos de prescrição ou sem a decadência do direito, sem uma sanção ao titular de direito que deixa de exercer o seu direito por inércia, as situações irregulares se eternizariam e as consolidadas pelo decurso do tempo não teriam o amparo à regularização. Aumentava-se, assim, a insegurança e a incerteza de negócios e relações jurídicas.
A prescrição e a decadência procuram, justamente, evitar que as situações jurídicas restem indefinidas. Procuram respaldar as situações já consolidadas pelo passar do tempo, extinguir a pretensão ou o direito do titular da pretensão ou do direito que sobre eles tripudia, omite-se, dorme, não age no tempo que a lei determina e espera que agisse. 
 Instituições, grupos sociais, a sociabilidade, elementos culturais e religiosos são fatores relevantes de controle social. Qualquer noção de ordem social tem presente uma ordem jurídica, o que lembra o brocardo romano ubi societa ibi jus. 
 
De fato, a noção da ordem social acompanha a ideia de ordem jurídica. E a ordem jurídica que visa à paz social não espera que as relações irregulares se perpetuem, que as situações solidificadas pelos anos, ou pelos anos esgarçadas, proliferem-se nos tribunais em demandas intermináveis: “fundamenta o instituto o anseio da sociedade em não permitir que demandas fiquem indefinidamente em aberto; no interesse social de estabelecer um clima de segurança e harmonia, pondo termo a situações litigiosas e evitando que, passados anos e anos, venham a ser postas ações, reclamando direito cuja prova de constituição se perdeu no tempo” RODRIGUES (1998:321).
 
CÂMARA LEAL, autor de uma das mais completas obras sobre o tema (LEAL, 1978: 14,15), ressalta 7 (sete) aspectos básicos da prescrição: 1. Ação destruidora do tempo (CORVIELLO); 2. Castigo à negligência (SAVIGNY); 3. Presunção de abandono ou renúncia (CARVALHO DE MENDONÇA); 4. Presunção de extinção do direito (CAPITANT); 5. Proteção ao devedor (SAVINGNY e VAMPRE); 6. Diminuição das demandas (SAVIGNY); 7. Interesse social na estabilidade das relações jurídicas (a maioria dos autores, dentre outros: BRAUDIR, TISSIER, LAURENT, PLANIOL, RIPERT, COLIN, CAPITANT, BELTJENS, GUILOUARD, CHIRONI, ABELLO, COLMO, PUGLIESE, BARASSI, RUGIERO).
	As fontes romanas - CÍCERO em Pro Caecina, JUSTINIANO em De annali exceptione e GAIO nas Istitutiones – aludem a 3 (três) fundamentos: 1. A necessidade de determinar as relações jurídicas a evitar controvérsias imprecisas; 2. A punição em virtude da negligência; 3. O interesse público presente no instituto.
 Em toda violação de direito alheio, por mais privado que seja o bem lesado, o ato contraria o interesse público, pois a lei é uma norma geral, que visa à ordem social, imperativa a todos. Toda ação ilícita perturba, em alguma medida, a normalidade da sociedade, a paz social. A própria ordem jurídica objetiva regrar e pacificar a vida social; para tanto, assegura os direitos e garantias e oferece os meios de defesa destes direitos e garantias.
 
 Do titular do direito, espera-se que ele o exerça regularmente e que utilize os meios disponíveis pela ordem jurídica em sua defesa. Caso ocorra violação do direito ou a simples ameaça, do titular do direito não espera abstenção, inércia. Espera-se que deduza judicialmente a sua pretensão de defender-se. Embora subjetiva, essa pretensão tem prazos expressos em lei para ser exercida, sob pena de perecimento da pretensão.
 	 É a própria ordem normativa que fixa o prazo para o titular do direito promover os meios jurídicos a fim de fazer cessar a ameaça ou obrigar o causador do dano a reparar os danos. Caso o titular do direito ameaçado ou violado deixa de agir no prazo definido na lei, a pretensão surgida no momento da violação se extingue pela prescrição. 
 	 à ordem jurídica e social não interessam atitudes passivas, inertes, desinteressadas. Imagine-se a vida social se credores não cobrassem suas dívidas, se vítimas de danos materiais ou morais não responsabilizassem os causadores dos danos e os obrigassem a indenizá-las. A violação da lei e a afronta a direitos causam prejuízos à vítima, causam também desarmonia social se não resolvidas de acordo com a legalidade. Por outro lado, o exercício regular do direito, a defesa esperada e justa e a promoção dos meios jurídicos existentes na defesa de direitos são fundamentais no combate às injustiças e na harmonização da sociedade. As condutas omissivas do titular e a inação diante da violação do direito estimulam injustiças, impunidades, contribuem para tumultuar as relações sociais e gerar instabilidade às relações jurídicas.
 Neste sentido, os institutos da prescrição e da decadência são os meios jurídicos para a correção das situações instáveis resultantes da inércia do titular da pretensão ou do direito. Remédios que visam a obstar a instabilidade e o desequilíbrio. Tem sentido de punição contra aquele que não age como a ordem esperava que agisse, qual diz a conhecida máxima romana: dormientibus non sucurrit jus.
Na prescrição, o que se extingue é a pretensão do titular do direito violado omisso, negligente, inerte, aquele que não agiu quando deveria agir e como poderia agir.
 
 Sobre a prevalência de interesse público sobre interesse particular, CÂMARA LEAL (1978:18) leciona: “Ora, na prescrição, dando-se o sacrifício do interesse individual do titular do direito, pelo interesse público da harmonia social, que exige a estabilidade do direito tornado incerto, é evidente que sua instituição obedeceu, direta e principalmente, à utilidade pública e que a norma que a estatuiu é de ordem pública”. 
 O tempo repercute diretamente nas relações jurídicas criando, modificando ou extinguindo ditas relações. Certos direitos, quando violados ou quando ameaçados, geram, para o titular, uma pretensão de defesa a qual deve ser exercida no prazo previsto na lei, sob pena de prescrição.
 Assim, o decurso do tempo tanto pode criar direitos, qual ocorre na usucapião ou prescrição aquisitiva, quanto pode extinguir direitos, caso da prescrição extintiva. 
 Os efeitos jurídicos do tempo em virtude da inércia do titular de direito não se limitam aos efeitos produzidos pela prescrição. Há também os efeitos da decadência. E, no campo do direito judiciário ou processual, com mais propriedade nos casos de preclusão e de perempção. A preclusão consiste na perda de alguma faculdade processual, o ato não realizado no prazo previsto produz o efeito no processo de coisa julgada formal. Na perempção, extingue-se o processo em consequência da inépcia da petição inicial e do abandono da ação. 
 No meu entendimento, as regências da prescrição e da decadência têm natureza jurídica processual. Portanto, a regulamentação dos institutos no código civil discrepa da lógica sistêmica. Equívoco tolerável no código de 1916 parece-me inaceitável pelo vigente código de 2002. 
 
Prescrição e decadência resultam da irradiação do tempo no campo da proteção legal, implicam sanções legais ao titular de direito que não o exerce. 
 	 Os diversos aspectos comuns entre prescrição e decadência dão margem às analogias com os dois institutos. 
 
 No passado recente, diversos autores, inclusive o autor da presente nota, lecionavam que a prescrição importava na perda de direito de ação enquanto a decadência representava a perda do direito. Davam-se exemplos. Francisco, locador, não interpõe a ação de despejo do locatário no prazo fixado pela lei. Neste caso, o locador perdeapenas a proteção legal que assegura o direito do despejo. Perdeu o direito à cobrança, porém, não perdeu o direito em si, ao bem imóvel, pois o locador pode ser imitido na posse do imóvel pela entrega do mesmo pelo inquilino ou pela via judicial para reintegração na posse. Atualmente, não usamos a expressão perda do direito de ação, mesmo porque o direito à ação é garantia constitucional de todos. A lei civil denomina de extinção da pretensão. Portanto, não se perde o direito de ação, mas a pretensão. 
 
 Na decadência, a inércia do titular produz o efeito da perda do próprio direito e não apenas da pretensão do direito. Lecionavam os especialistas:
CÂMARA LEAL : “extinção de uma ação, em virtude da inércia do seu titular durante um certo lapso de tempo, na ausência de causas preclusivas de seu curso”;
LIMONGI FRANÇA: “perda da ação atribuída a um direito, e de toda sua capacidade defensiva, em conseqüência do não uso delas durante um determinado espaço de tempo”;
SAN TIAGO DANTAS: “convalescença da lesão de direito pelo não-exercício da ação.” 
 Qual se pode observar, ensinava-se que a prescrição atingia diretamente a ação e reflexivamente atingia o direito. Que, na decadência, fustigava-se direta fatalmente o direito. Nela, o direito e a ação que o assegura surgem ao mesmo tempo. Por serem concomitantes o direito e a ação assecuratória - direito objetivo e direito subjetivo – confunde-se o direito de exercer a ação com o exercício do próprio direito. Há simultaneidade do exercício do direito de ação com o exercício do direito. 
 
 As fontes romanas tratam a prescrição como perda da ação e não como perda do direito.
 Mas o tema agita a doutrina. Doutas opiniões, entre as quais, Orlando Gomes e Caio Mário, lecionam que a prescrição alcança o próprio direito. 
 Para ORLANDO GOMES: “a prescrição é um modo pelo qual um direito se extingue em virtude da inércia, durante certo lapso de tempo, do seu titular, que, em conseqüência, fica sem ação para assegurá-lo”. 
 Para CAIO MÁRIO, a prescrição atinge também o direito: “a liberatória conduz à perda do direito pelo seu titular negligente, ao fim de certo lapso de tempo (...) Perda do direito, dissemos, e assim nos alinhamos entre os que consideram que a prescrição implica algo mais do que o perecimento da ação”.
 A doutrina ressalta duas espécies de prescrição: uma aquisitiva, chamada de usucapião; outra, liberatória ou extintiva. Na prescrição aquisitiva ou usucapião, o decurso do tempo habilita o possuidor converter a posse do bem em propriedade pela inércia do proprietário. A prescrição opera com força positiva na aquisição do direito. Na prescrição aquisitiva, o decurso do tempo torna titular do bem aquele que não tinha essa titularidade. Na prescrição extintiva ou liberatória, qual leciona Orlando Gomes, extinguem-se as relações jurídicas construídas: “É, por outras palavras, um modo geral de extinção das relações jurídicas”.
 
 Mas a expressão prescrição aquisitiva não é pacífica entre os autores. Contudo, usucapião de bens alcança os móveis e imóveis, tem a regência do direito de propriedade do Livro III da Parte Espacial do Código - imóveis, artigos. 1238 a 1244; móveis, artigos 1260 a 1262.
 
 Nessa conformidade, a prescrição aludida nos artigos 205 e 206 da Parte Geral é da espécie extintiva, pois alcança direitos subjetivos.
 Bastante didática a analogia dos dois institutos apresentada por LIMONGI FRANÇA, que ressalta as semelhanças e as diferenças entre prescrição e decadência:
 “1º- quanto à natureza; 
 2º- quanto ao fundamento;
 3º- quanto ao fator operante.
Quanto à natureza, ambos os institutos são causas extintivas. Quanto ao fundamento, ambos se baseiam na inércia do titular. Quanto ao fator operante, em ambos é o mesmo, ou seja, o decurso do tempo. 
No que tange às diferenças, destaca:
 1ª- quanto ao objeto;
 2ª- quanto ao direito;
 3ª- quanto à ação;
 4ª- quanto ao exercício da ação. 
Quanto ao objeto, enquanto a prescrição atinge a ação, a decadência atinge o direito. Quanto ao direito, a prescrição supõe um direito em ato, já adjudicado ao titular, mas cujo exercício foi obstado por violação de terceiro. Ao contrário, a decadência implica um direito ainda em estado potencial. Quanto à ação, a prescrição supõe uma ação cuja origem é distinta do direito e posterior a este (violação). Diferentemente, a decadência supõe uma ação cuja origem é idêntica à do direito, sendo simultâneo o seu nascimento. Quanto ao exercício da ação, na prescrição, este não se confunde com o exercício do direito: a ação é simples remédio jurídico para a defesa do direito. Na decadência, confunde-se o exercício da ação com o do direito: a ação é o próprio meio de exercitar o direito.
 Por seu turno, CÂMARA LEAL apresenta uma regra prática e afasta as dificuldades de distinção dos institutos: se o direito e a ação nascem simultaneamente do mesmo fato; se a ação representa o meio de que dispõe o titular para tornar efetivo o seu direito; se estas circunstâncias tais verificarem, é caso de prazo de decadência. Se tais circunstâncias não se conjugam, o prazo é de prescrição.
 Leal procura destacar que os dois institutos distinguem-se quanto ao objeto: a prescrição, alcançando o direito pela via indireta, reflexa, diante da perda da pretensão da ação que o assegura o direito em virtude da inércia do titular. Na decadência, a inação do titular do direito extingue o direito diretamente.
Regência da prescrição no Código Civil	
 As questões referentes aos institutos da prescrição e da decadência estão longe da pacificação na doutrina. Porém o legislador do Código de 2002 merece elogios por adotar critérios práticos e operativos na regência dos dois institutos.
 Chamamos de critério operacional o dado pela lei civil quando estabelece todos os prazos de prescrição nos artigos 205 e 206 e prazos de decadência, todos os outros prazos. Simples. Na casuística, deve-se ver se a pretensão ou direito violado está previsto no artigo 206 – neste, os prazos vão de 1(um) a 5 (cinco) anos; se não houver a expressa previsão legal, aplicar-se-á o prazo prescricional geral de 10 (dez anos). Do contrário, o prazo será decadencial e terá a expressa previsão legal. O legislador determina na lei o que é prazo prescricional e o que é decadencial. Dúvidas e confusão não estão mais no campo da lei; se existirem, são, unicamente, no campo da interpretação. 
 Todos os prazos da decadência não convencional ou contratual estão previstos expressamente, quer na Parte Geral, quer na Parte Especial do Código Civil. 
	
 Prescrição da pretensão 
	Na regência do art. 189 do Código Civil: “Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela prescrição, nos prazos que aludem os arts. 205 e 206.”
	
	O legislador emprega a expressão perda da pretensão – abeberando-se no direito alemão e no direito suíço. Portanto, não emprega mais expressão perda da ação.
 Na doutrina atual, ação é o meio jurídico através do qual se busca a satisfação da pretensão do titular do direito. A pretensão prescreve quando o titular do direito não a exercita no prazo fixado na lei. A pretensão não se confunde com a ação. Ação é um direito subjetivo público com vida própria, independe do direito material a que correspondente. 
	Não obstante haver essa separação entre o direito subjetivo de ação e o direito material, considero que a nova nomenclatura não traz menos imprecisões que a antiga. Pois, em português, a palavra pretensão tem vários significados: ato de pretender o direito, reivindicar algo, mas também, pretensão como desejo, a aspiração, a ambição, vaidade, bazófia, jactância. 
 Dessa maneira, entendo que a mudança da terminologia prescrição da ação para prescriçãoda pretensão também não exprime exatamente o evento operado no campo jurídico pelo decurso do prazo prescricional. 
 A meu ver, rigorosamente, a prescrição não opera perda do direito de ação, nem perda do direito, nem perda da pretensão. Haja vista o credor que receba a sua dívida, mesmo depois de declarada, prescrita por sentença. Não há o perecimento do direito, nem da pretensão, nem muito menos da ação.
 O decurso do prazo previsto na lei não opera per si o efeito da prescrição. A prescrição só produz o efeito jurídico extintivo ou aquisitivo se a parte a quem interessa a alegar e requerê-la. Tal alegação tem o escopo de tornar ineficaz a pretensão deduzida na ação judicial. Logo, a prescrição cria à parte, que dela se aproveita, o direito de requerê-la pela via de exceção. Uma vez conhecida pelo juízo, importa no indeferimento do pedido, da pretensão da ação.
 
Se o objeto do pedido for dado ou realizado antes do prazo prescricional, evidentemente não há que se falar em prescrição. Somente quando a prescrição é requerida ou declarada pelo juiz que examina determinada pretensão judicialmente, pode-se falar em prescrição. Se a pretensão for deduzida depois do prazo estabelecido na lei, e este fato não for requerido pela parte, ante a derrogação do artigo 194 do Código Civil pela lei 11.280/2006 que altera o CPC, ao juiz compete conhecer de ofício a prescrição. 
A prescrição deve, portanto, ser alegada pela parte que dela aproveita, ou ser declarada de ofício pelo juiz com o escopo de negar a pretensão do autor em face da intempestividade da ação por ele proposta. O efeito pune o titular do direito por ele não ter agido no tempo que deveria agir de acordo com a lei. 
Extrajudicialmente não há o que se falar em prescrição. Leciona THEODORORO JÚNIOR (2003:5) que a violação de um direito subjetivo gera, para o respectivo titular a pretensão, que se define como o poder ou faculdade de exigir de alguém uma prestação. A pretensão sujeita-se a um prazo legal de exercício, que findo sem que o credor o tenha feito valer em juízo, provocará a prescrição. A prescrição, porém, não extingue o direito subjetivo material da parte credora. Cria apenas para o devedor uma exceção que, se for usada no processo de realização da pretensão do credor, acarretará a inibição desta”.
Theodoro Junior usa argumento bastante lógico na demonstração da natureza jurídica de exceção da prescrição. De exceção que tem por fim obstar a pretensão, sem o condão de extinguir o direito subjetivo da parte credora. 
Exceção é o meio de defesa indireta através do qual, na sua resposta o réu, contrapondo-se às pretensões do autor, procura neutralizá-las.
O prazo legal de prescrição da exceção é o mesmo prazo da pretensão, diz o artigo 190: 
“A exceção prescreve no mesmo prazo em que a pretensão.”
		
	O texto legal é autoexplicativo: o prazo de prescrição da pretensão é igual ao prazo da pretensão excipiente. 
Renúncia expressa ou tácita
	Não há prescrição antes da mesma se consumar. O efeito jurídico da prescrição só é produzido exaurido o prazo previsto na lei. Admite-se a renúncia da prescrição desde que não importe prejuízo a terceiros. A renúncia pode ser expressa ou tácita. Expressa se o prescribente faz explícita declaração de que abdicou da prescrição que o favorece, através de documentos, contratos, títulos ou outros meios escritos. Tácita, quando o prescribente expressa a vontade de renunciar a prescrição por meio de atos incompatíveis, qual o de cumprir a obrigação já prescrita. É a regência do artigo 190: 
“A renúncia da prescrição pode ser expressa ou tácita e só valerá, sendo feita, sem prejuízo de terceiro, depois que a prescrição se consumar; tácita é a renúncia quando se presume de fatos do interessado, incompatíveis com a prescrição”.
Alteração de prazos prescricionais 
Os prazos prescricionais estão previstos na lei, são indisponíveis, inalteráveis pelas partes. Há o interesse público prevalecente na prescrição. Portanto, particulares ou interessados não podem avençar, pactuar, contratar ou convencionar alterações que importem a dilatar ou a redução do prazo determinado na lei. É o teor do artigo 192:
 “Os prazos de prescrição não podem ser alterados por acordo das partes.”
Defesa em lei, a alteração do prazo prescricional não traz maiores dificuldades ao operador do direito. Porém, se ocorrer alteração de prazos pelo advento de novas disposições legais, a edição de lei nova, surge o problema do direito intertemporal. Aplicam-se as regras de transição, observando-se a eficácia da lei no tempo prevista na Lei de Introdução ao Código Civil, notadamente, respeitando-se as situações consolidadas e os direitos adquiridos. 
Se a nova lei fixa prazo prescricional mais dilatado que a lei antiga, a solução é simples. Conta-se o tempo transcorrido na lei revogada e aplica-se o prazo da lei nova. Se, porém, o prazo da prescrição da lei nova tem prazo mais reduzido que o da lei anterior, o Código Civil apresenta duas maneiras de contagem do prazo prescricional, conforme o caso. Na primeira situação, se o prazo da lei anterior já tiver ultrapassado mais da metade do tempo nela estipulado para a prescrição. Neste caso, continua a contagem com base na lei antiga, não se aplica o prazo da lei nova; Na segunda situação, se transcorreu menos da metade do prazo de prescrição da lei antiga. Neste caso, aplica-se à contagem do prazo a redução da lei nova que é a aplicável ao caso. É o teor do artigo 2.028 do Código Civil. 
 
Alegação da prescrição
Para alegar a prescrição, utiliza-se um critério restritivo à legitimidade de requerê-la, porém, amplia-se a oportunidade dessa alegação. É restritiva quando apenas as partes que aproveitam da prescrição podem alegá-la e requerer que o juiz a declare. Apenas o prescribente, o representante legal ou sucessores são legitimados. No entanto, amplia-se a oportunidade da alegação uma vez que pode sequer alegada em qualquer grau de jurisdição. Em qualquer instância judiciária, na dicção do art. 193:
 “A prescrição pode ser alegada em qualquer grau de jurisdição, pela parte a quem aproveita.”
A decretação de ofício pelo juiz
Até o advento da lei 11.280/2006, a autoridade judicial não podia suprir de ofício a alegação de prescrição, salvo para favorecer a pessoa absolutamente incapaz. Lecionava-se que o interesse presente na pretensão era privado, cabendo à parte aduzi-lo, querendo. Era defeso ao juiz suprir esse requerimento, que cabia exclusivamente ao interessado. Somente no caso da prescrição favorecer pessoa absolutamente incapaz. Assim era a dicção do art. 194: “O juiz não pode suprir, de oficio, a alegação de prescrição, salvo se favorecer a absolutamente incapazes”. 
A revogação do artigo 194 do Código Civil expressa no § 5º do artigo 219 do Código de Processo Civil, dada pela Lei 11.280/2.006, permite ao juiz decretar a prescrição de ofício.
O legislador atira em gato e acerta em coelho, pois a pretendida alteração da lei processual civil acarreta modificações substanciais no âmbito do direito civil. E vem na contramão da histórica tradição da prescrição, desde a Roma antiga, segundo a qual a prescrição justifica-se como resposta em via de exceção do devedor de direito de natureza patrimonial que se opõe à pretensão do autor com o fim de extinguir o débito pretendido pela prescrição. A matéria decerto agitará a doutrina em futuro próximo e motivará decisões controvertidas no âmbito dos tribunais.
Ação regressiva contra os assistentes e representantes
 As pessoas incapazes cujos direitos são exercidos por representantes podem promover a ação regressiva contra os representantes se estes últimos derem causa à prescrição ou se não a alegaram quando deviam. 
A regra aplica-se ao relativamente incapaz e à pessoa jurídica. Pessoas naturais ou jurídicas, representadas ou assistidas no mundo jurídico, se tal representação prejudicar o representado com efeitos daprescrição, a lei procura proteger através da ação regressiva contra os representantes a fim de ressarci-los dos prejuízos sofridos Pela regência autoexplicativa do art. 195, que diz:
 
 “Os relativamente incapazes e as pessoas jurídicas têm ação contra os seus assistentes ou representantes legais, que deram causa à prescrição, ou não a alegaram oportunamente.”
Contagem do prazo contra o sucessor
 O prazo prescricional iniciado contra a pessoa que vem a falecer continua fluindo contra os sucessores do morto. A contagem do tempo de prescrição não se interrompe pelo evento da morte, corre o prazo contra os herdeiros e sucessores. Diz o art. 196:
“A prescrição iniciada contra uma pessoa continua a correr contra o seu sucessor.” 
Causas impeditivas e suspensivas 
	 A doutrina leciona três espécies de circunstâncias que repercutem sobre os prazos da prescrição. Causas que impedem o início de seu curso; causas que suspendem a contagem do prazo e causas que interrompem a contagem do prazo já iniciado. 
 	 As circunstâncias prescricionais que operam o impedimento da contagem do prazo obstam a contagem do início. As que suspendem a contagem que já foi iniciada que retornar a contagem de onde parou tão logo cesse o motivo da suspensão. No caso, interrompe-se a contagem de prazo já iniciado voltando ao ponto inicial, zerando-se a contagem. 
 Impedir é tolher, obstar, e a causa impeditiva opera esse efeito porquanto não permite que se inicie a contagem do prazo de prescricional. 
 
 Causas suspensivas e interruptivas, diferentemente, são supervenientes porquanto operam seus efeitos quando o prazo da prescrição já foi iniciado. 
 Na causa suspensiva, o obstáculo suspende a contagem, que será reiniciada quando desaparecer a causa da suspensão; difere do prazo interrompido, que anula o prazo anterior.
 Mas o legislador do Código Civil de 2002, na mesma linha do legislador de 1916, não faz essa distinção óbvia e lógica. Trata de causas que impedem e suspendem a prescrição. A nosso ver, poderia primar por melhor técnica desta questão separando-as. 
 
 Impedimento e suspensão do prazo prescricional não podem ser confundidos qual faz a lei civil. No impedimento, o escopo da lei é obstar o início do curso prescricional a fim de proteger as pessoas impossibilitadas de agir pela incapacidade civil, relações de parentesco, confiança ou situação jurídica.
	 Sobre o impedimento da prescrição, o Código do artigo 197 diz: 
“Não corre a prescrição: I - entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal; II - entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar; III - entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou curadores, durante a tutela ou curatela”
	 Trata-se de enumeração taxativa das circunstâncias impeditivas que obstam o início da contagem do prazo. Não permitem que a prescrição comece a correr. Não se espera do incapaz sob o poder familiar, do tutelado ou do curatelado, sob tutela ou curatela, que promovam ação judicial contra aqueles que a lei determina que os proteja: pais, tutores e curadores. Foge do esperado social e moralmente o cônjuge cobrar judicial o outro na vigência da sociedade conjugal. Os prazos não se iniciam, por isso são chamados de causas impeditivas da prescrição. 
	 No artigo 198 do mesmo Código tem-se:
 	“Também não corre a prescrição: I - contra os absolutamente incapazes de que trata o art. 3º; II - contra os ausentes do País em serviço público da União, dos Estados, ou dos Municípios; III - contra os que se acharem servindo nas Forças Armadas, em tempo de guerra;” 
	 Obrou mal o legislador ao tratar, em conjunto, causas impeditivas, como a do inciso I, com causas de outra natureza. Não se inicia a contagem de prazo contra o absolutamente incapaz. Nesta condição, o menor de dezesseis anos, o enfermo mental sem discernimento e incapaz de exprimir a vontade, ainda que transitoriamente, artigo 3°.
 Mas as causas suspensivas são as temporárias e que paralisam o prazo da prescrição em curso para retornarem a contagem após a superação da circunstância ou da causa da suspensão. Ora, as causas do inciso II e III do artigo referem-se a pessoas em serviço civil ou militar do governo brasileiro no exterior que estão em circunstâncias transitórias. Circunstância transitória também a da pessoa temporariamente impossibilitada de exprimir a própria vontade. O legislador confunde alhos com bugalhos.
 
	Na mesma direção, é teor do artigo 199: 
	
“Não corre igualmente a prescrição: I - pendendo condição suspensiva; II - não estando vencido o prazo; III - pendendo ação de evicção.”
	Na pendência de condição suspensiva, enquanto esta condição não se realizar, não há o direito, mas expectativa de direito. Não tem lógico começar a correr o prazo de prescrição contra alguém que ainda não tem o exercício do direito.
 Idêntica lógica se aplica ao prazo não vencido. Impossível falar em violação de direito do credor antes do vencimento do prazo para o pagamento. Sobre pendência de ação de evicção, uma solução lógica a fim de evitar que a decisão judicial se torne inócua ou contraditória. Primeiro se decida o direito controvertido da ação de evicção e, depois que o destino do bem esteja definido, que comece a correr o prazo de prescrição.
Prescrição do fato oriundo de crime 
 No caso da pretensão da ação civil, originar-se de fato sub judice no juízo criminal o prazo da prescrição civil, que não correrá antes da sentença criminal transitar em julgado, pelo artigo 200:
 	“Quando a ação originar-se de fato que se deva apurado em juízo criminal, não correrá a prescrição antes da sentença criminal transitar em julgado.” 
O processo criminal distingue-se do processo civil, porém, com frequência, a reparação civil provém de ilícito criminal. Um mesmo fato pode repercutir diferentemente nas duas esferas. A pessoa pode ser absolvida na ação crime e condenada civilmente. Porém, a recíproca não é verdadeira. Se a pessoa é condenada no crime, deve também ser condenada, com mais razão, na esfera civil. O artigo diz respeito à prejudicial criminal consistente em ação criminal sobre o fato em julgamento no juízo civil. Somente depois da decisão definitiva do juízo criminal, começa a correr o prazo prescricional da pretensão deduzida na esfera civil. 
Solidariedade e indivisibilidade da prescrição
	Sobre os efeitos da prescrição em relação aos credores solidários, na regência do artigo 201, a prescrição que corre contra um dos credores não alcança os demais, exceto no caso da indivisibilidade do crédito. Suspende-se a prescrição em relação a um dos credores; embora solidários, os demais não aproveitam dessa suspensão, salvo se a obrigação for indivisível. Tratando-se de créditos solidários e divisíveis, pela possibilidade jurídica de divisão dos efeitos, da suspensão verificada em relação a um deles, não se aproveitam os outros. No caso de indivisibilidade da obrigação, todos os credores solidários aproveitam da suspensão, pela dicção do artigo 201:
“Suspensa a prescrição em favor de um dos credores solidários, só aproveitam os outros se a obrigação for indivisível.”
Causas interruptivas da prescrição 
A interrupção da prescrição cessa o curso de contagem do prazo em virtude de alguma causa prevista na lei capaz de produzir tal efeito. Há interrupção quando o direito é requerido, quando o titular sai da inação à ação. Quando o prazo da prescrição que fluía em desfavor do titular do direito se interrompe, todo prazo anterior já percorrido é desconsiderado, pois a prescrição recomeça a contar a partir da data do ato que a interrompeu.
Na dicção do artigo 202, o efeito da interrupção somente ocorrerá uma única vez: 
“A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-á:
I - por despacho do juiz, ainda que incompetente, que ordenar a citação, seo interessado a promover no prazo e na forma da lei processual; 
 II - por protesto, nas condições do inciso antecedente;
III - Por protesto cambial;
IV - pela apresentação do título de crédito em juízo de inventário ou em concurso de credores; 
V - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor; 
VI - por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe reconhecimento do direito pelo devedor.
Parágrafo único. A prescrição interrompida recomeça a correr da data do ato que a interrompeu, ou do último do processo para a interromper”.
O fundamento da interrupção reside na ação ou no exercício do direito, na demonstração da vontade do credor do direito patrimonial em haver o respectivo direito e impedir a continuação da contagem do prazo da prescrição. A causa de interrupção resulta, sempre, de ato comissivo do credor, seja promovendo a competente ação de cobrança em juízo, seja protestando judicial ou extrajudicialmente o título, seja constituindo em mora o devedor, seja demonstrando, por qualquer ato, a certeza da defesa do direito contra o qual corre o prazo prescricional.
Legitimidade para interromper a prescrição
Pela dicção do artigo 203: 
“A prescrição pode ser interrompida por qualquer interessado.” 
Trata-se das pessoas legitimadas à interrupção da prescrição. Além do próprio credor ou titular do direito contra quem corre o prazo da prescrição, legitimam-se o representante legal e o terceiro interessado.
 
Para o credor do direito com toda propriedade vez que contra ele corre o prazo da prescrição por ele estar, até então, inerte. Se o titular age em tempestivamente, interrompe o prazo da prescrição que contra ele fluía. Sobre o representante, a regra alcança as duas espécies de representação, a decorrente da lei e a convencional. Assim, pais, tutores, curadores, síndicos, inventariantes, liquidantes, procuradores, mandatários, representantes legais em geral, todos eles estão legitimados a agir e interromper a prescrição. Terceiro interessado é a pessoa que, apesar de não ser autor nem réu na relação processual, tem legitimidade para compor a lide em virtude de legítimo interesse econômico ou moral na ação, de maneira que ocorrendo a prescrição, teria comprovado prejuízo patrimonial ou moral. Tome-se o exemplo de atos do responsável subsidiário da obrigação diante da provável insolvência do titular da obrigação. Embora terceiro, tem interesse em interromper a prescrição a evitar o desfalque do patrimônio do titular que, sendo dissipado, alcança o seu patrimônio. 
Efeitos da interrupção da prescrição
Os efeitos da prescrição podem ser classificados em efeitos objetivos e subjetivos. Os efeitos objetivos incidem, primeiramente, sobre a própria prescrição, porém, alcançam, pela via indireta, a ação e também o direito. Os efeitos subjetivos alcançam as pessoas com interesse na ação, o credor do direito, os representantes e terceiros interessados.
 
	Diz o artigo 204:
 	“A interrupção da prescrição por um credor não aproveita aos outros; semelhantemente, a interrupção operada contra o co-devedor, ou seu herdeiro,não prejudica os demais coobrigados. § 1º A interrupção pôr um dos credores solidários aproveita aos outros; assim como a interrupção efetuada contra o devedor solidário envolve os demais e seus herdeiros; § 2º A interrupção operada contra um dos herdeiros do devedor solidário não prejudica os outros herdeiros ou devedores, senão quando se trate de obrigações e direitos indivisíveis; § 3º A interrupção produzida contra o principal devedor prejudica o fiador.” 
 A norma de interrupção da prescrição no caso da pluralidade de gados tem duas aplicações diferentes conforme o caso específico. Se a interrupção da prescrição é promovida por um credor, um herdeiro ou um coobrigado, dessa interrupção não se aproveitam os demais credores, herdeiros ou coobrigados. Porém, esta regra é excepcionada nos casos de obrigações ou direitos solidários e indivisíveis. Justifica-se pela extensão da eficácia legal da solidariedade segundo a qual credores ou devedores, agentes ativos ou passivos, representam uma unicidade no crédito ou no débito. Portanto, torna-se impossível, juridicamente, a um credor isolado ou a um devedor apenas, nestas condições, aproveitar-se da prescrição sem que todos os demais não aproveitem. O parágrafo terceiro diz respeito à prescrição interrompida contra o devedor que alcança o fiador, pela regra do acessório acompanhar o principal, tendo-se a fiança como contrato acessório.
 	
Prazos da prescrição
O Código trata dos prazos da prescrição em apenas dois artigos: fixa um prazo geral de 10 anos e os demais prazos variáveis de 1 a 5 anos. Sob certo aspecto, melhorou a técnica em relação ao Código de 16, que fixava prazos variáveis em extenso leque, que ia dos dez dias aos vinte anos. Porém, piorou em outro aspecto técnico, comparativamente ao código antecedente, por não fazer distinção entre prazos para os direitos reais e prazos para os direitos pessoais.
 
Segue que a lei vigente estabelece simplesmente prazo geral de dez anos e prazos especiais quando a lei determina prazos menores de dez anos. É o teor do art. 205:
 “A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor.”
 
A aplicação é prática: se não há prazo menor expresso na lei, aplica-se o prazo geral de prescrição de dez anos.
Apesar da inegável praticidade e facilitação, entendo que o artigo traz retrocesso comparativamente aos princípios e fundamentos da prescrição consagrados no Código de 1916.
 
 A meu ver, o artigo 177 do Código de 1916 revogado adotava melhor técnica fixando prazos diferentes na regra geral de prescrição: vinte anos para os direitos pessoais e de dez anos para os direitos reais. Considero grosseiro erro tratar, indistintamente e igualmente, os direitos reais e os direitos pessoais sob qualquer aspecto jurídico, o prescricional inclusive. 
 Mas o legislador de 2002 fixou em dez anos o prazo geral de prescrição tanto para a pretensão de direitos pessoais quanto aos direitos reais. Desconsiderou, em nome da praticidade, diferenças básicas entre a natureza jurídica e a pretensão pessoal que diz respeito às ações que asseguram direitos das obrigações de dar, fazer, ou não fazer - por força da lei ou por convenção das partes - e a pretensão das ações reais cujo escopo faz valer direitos de propriedade ou certos direitos que lhes são pertinentes. 
 Entendo que o legislador devia fixar prazos mais dilatados para a prescrição relativas aos direitos pessoais. O prazo maior se justifica ante a probabilidade do devedor insolvente lograr recuperação da fazenda e obter meios econômicos num lapso de tempo maior e assim em condições de saldar dívidas e obrigações. Porém, a técnica adotada pelo legislador do Código do terceiro milênio desconsidera tais “filigranas” e fixa em dez anos de prescrição regra geral, que se aplica aos direitos reais e aos pessoais. De uma cajadada, reduziu em metade o prazo dos direitos pessoais, que era de vinte anos. Eles sabem o que fazem.
Prazos especiais
 Relativamente aos prazos especais de prescrição, estabelece o artigo 206 do Código Civil as regras claras: prazos anuais, bienais, trienais, quatrienais e quinquenais. O titular da pretensão contra a qual corre a pretensão deve observar o prazo de prescrição das ações previstas nesse artigo a fim de verificar da ocorrência, ou não, da prescrição. Diz: “Art. 206. Prescreve. § 1º Em um ano: I - a pretensão dos hospedeiros ou fornecedores de víveres destinados a consumo no próprio estabelecimento, para pagamento da hospedagem ou dos alimentos; II - a pretensão do segurado contra o segurador, ou a deste contra aquele, contado o prazo: a) para o segurado, no caso de responsabilidade civil, da data em que é citado para responder à ação de indenização proposta pelo terceiro prejudicado, ou data que a este indeniza,com a anuência do segurador; b) quanto aos demais seguros, da ciência do fato gerador da pretensão; III - a pretensão dos tabeliães auxiliares da justiça, serventuários judiciais, árbitros e peritos, pela percepção de emolumentos, custas e honorários; IV - a pretensão contra os peritos, pela avaliação dos bens que entraram para a formação do capital da sociedade anônima, contado da publicação da ata da assembléia que aprovar o laudo; V - a pretensão dos credores não pagos contra os sócios ou acionistas e os liquidantes, contado o prazo da publicação da ata de encerramento da liquidação da sociedade; § 2º Em dois anos, a pretensão para haver prestações alimentares, a partir da data em que se vencerem; § 3º Em três anos: I - a pretensão relativa a aluguéis de prédios urbanos ou rústicos; II - a pretensão para receber prestações vencidas de rendas temporárias ou vitalícias; III - a pretensão para haver juros, dividendos ou quaisquer prestações acessórias, pagáveis, em períodos não maiores de um ano, com capitalização ou sem ela; IV - a pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa; V - a pretensão de reparação civil; VI - a pretensão de restituição dos lucros ou dividendos de má-fé, correndo o prazo da data em que foi deliberada a distribuição; VII - a pretensão contra as pessoas em seguida indicadas por violação da lei ou do estatuto, contado o prazo: a) para os fundadores, da publicação dos atos constitutivos da sociedade anônima; b) para os administradores, ou fiscais, da apresentação, aos sócios, do balanço referente ao exercício em que a violação tenha sido praticada, ou da reunião ou assembléia geral que dela deva tomar conhecimento; c) para os liquidantes, da primeira assembléia semestral posterior à violação; VIII - a pretensão para haver o pagamento de título de crédito, a contar do vencimento, ressalvadas as disposições de lei especial; IX - a pretensão do benefício contra o segurador, e a do terceiro prejudicado, no caso de seguro de responsabilidade civil obrigatório; § 4º Em quatro anos, a pretensão relativa à tutela, a contar da data da aprovação das contas; § 5º Em cinco anos: I - a pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento público ou particular; II - a pretensão dos profissionais liberais em geral, procuradores judiciais, curadores e professores pelos seus honorários, contado prazo da conclusão dos serviços, da cessação dos respectivos contratos ou mandato; III - a pretensão do vencedor para haver do vencido o que despendeu em juízo.”
 A redação não permite dúvidas. A prescrição anual tem como fato gerador a hospedagem ou o consumo de alimentos no próprio estabelecimento; diz respeito à pretensão de contratos de seguros de qualquer espécie, pretensão do segurado contra a seguradora, ou vice-versa. Assim, pretensões como extinguir contratos de seguro, cobrar o prêmio, cobrar indenização; pretensões relativas aos emolumentos geradas pelos serviços notariais, ou a custas judiciais, ou a cobrança de honorários; pretensão dos credores contra os sócios, acionistas e liquidantes; A prescrição em dois anos, da pretensão de receber prestações vencidas de alimentos; em três anos: pretensão de receber prestações vencidas de rendas, juros e dividendos, ressarci-se de enriquecimento sem causa, de reparação civil, de restituição de lucros ou dividendos contra os responsáveis legais, fundadores, fiscais, sócios, liquidantes, para o recebimento de títulos de créditos; prescrição da pretensão em quatro anos, relativas às contas de regime tutelar; em cinco anos: pretensões de recebimentos de dívidas líquidas e certas; remuneratórias, honorárias e despesas judicias antecipadas pelo vencedor contra o sucumbente da ação. 
 
Decadência
O legislador incorporou a decadência ao Código Civil satisfazendo antigos reclamos da doutrina e facilitando a aplicação do instituto. 
No meu entendimento, há aspectos básicos que distinguem a decadência das ações da prescrição da ação ou da prescrição pretensão, qual diz o Código de 2002.
A meu ver, assiste razão a doutrina que leciona o seguinte: Na decadência, o direito e a ação, ou a pretensão nascida com a violação do direito, originam-se do mesmo fato e ao mesmo tempo. Assim, a pretensão do titular do direito violado, ou ameaçado, nasce no momento da ocorrência da ameaça ou da violação do direito. É o mesmo de exercitar o direito pela via judicial através da ação em sentido amplo. Neste sentido, a pretensão da ação ou o direito de ação, representam o próprio direito, o direito em si. Dessa forma, pretensão, ação, exercício de direito, embora complexos distintos, isoladamente, quando conjugados pela decadência, formam uma singularidade indivisível entre o direito e o exercício do direito. Por tal razão, o prazo decadencial é único e fatal, tanto para a defesa da pretensão ou exercício do direito ou promoção da ação judicial, quanto para o próprio direito. 
 
 Relativamente à decadência, rege o art. 207: 
“Salvo disposição legal em contrário, não se aplicam à decadência as normas que impedem, suspendem ou interrompem a prescrição.”
 As normas que impedem, suspendem ou interrompem a prescrição não são aplicáveis à decadência exatamente porque o direito de ação ou a pretensão do titular do direito se confunde com o próprio direito, o que torna o prazo decadencial fatal.
	Na dicção do art. 208: “Aplica-se à decadência o disposto nos arts. 195 e 198, I.”
	Dessa forma, seguindo os mesmos fundamentos e critérios da prescrição, ante a possibilidade jurídica da aplicação nos dois institutos, a lei civil garante ao titular do direito decaído o direito da ação regressiva. Incapazes relativamente, pessoas jurídicas, etc., contra os assistentes e representantes legais. Contra aqueles que derem causa à decadência. O mesmo vale em relação ao direito decaído de ausentes do País, pessoas que estavam a serviço público da União, dos Estados ou dos Municípios. 
Nulidade da renúncia
	Art. 209: “É nula a renúncia à decadência fixada em lei”. 
Da inteligência desse artigo, depreende-se que é válida a renúncia à decadência convencional, assim entendida como aquela estabelecida pelas partes em contrato, porquanto a regra declara a nulidade da renúncia apenas à decadência estabelecida em lei.
O juiz só decreta de ofício a decadência fixada em lei
 O juiz só deve conhecer de ofício a decadência fixada pela lei. Ao constatar a ocorrência do prazo legal de decadência, o julgador deve decretá-la, independentemente do requerimento da parte que se aproveita da decadência. É a dicção do art. 210:
 	“Deve o juiz, de oficio, conhecer da decadência, quando estabelecida por lei.”
 Porém, em se tratando da decadência convencional, não deve o juiz conhecê-la de ofício. É defeso ao juiz decretá-la; a lei espera que, neste caso específico, a parte requeira a decadência contratual. O que poderá fazer em qualquer grau de jurisdição. É o teor do artigo 211: 
“Se a decadência for convencional, a parte a quem aproveita pode alegá-la em qualquer grau de jurisdição, mas o juiz não pode suprir a alegação.”
	Em síntese, os prazos de prescrição estão fixados na lei, os prazos de decadência estão previstos na lei ou nos contratos. Os prazos de decadência não se suspendem. O prazo decadencial pode decorrer da lei e da convenção das partes, sendo que os prazos legais são irrenunciáveis e os convencionais podem ser renunciados pela parte a quem aproveita. O prazo legal de decadência deve ser decretado de ofício pelo juiz, mas, no caso da decadência convencional, é defeso ao juiz conhecê-la de ofício. Prazos legais de decadência são todos aqueles fixados pelo Código na Parte Geral e na Parte Especial excetuando-se os prazos dos artigos 205 e 206 de prescrição. Os dispositivos legais relativos à decadência não possuem correspondência com o Código anterior, que não empregava a terminologia decadência estando os prazos de decadência assim declarados nos tribunais ou lecionadospelos doutos sob a rubrica da prescrição.

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