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Direito Penal – Parte Especial 
Aula 01 
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula 
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros 
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 
 
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Sumário 
1. Crimes Contra a Administração .............................................................................. 2 
1.1 Princípio da Insignificância nos crimes contra a Administração ....................... 2 
1.2 Classificação doutrinária ................................................................................... 3 
1.3 Conceito de funcionário Público ....................................................................... 5 
1.4 Pode o particular praticar um crime funcional? ............................................... 7 
2. Peculato .................................................................................................................. 8 
2.1 Peculato Apropriação ....................................................................................... 9 
2.1.1 Consumação do crime ............................................................................... 10 
2.1.2 Objeto material .......................................................................................... 10 
2.2 Peculato Desvio ............................................................................................... 11 
2.2.1 Inexigibilidade do elemento fraude para sua configuração ...................... 11 
2.3 Peculato Furto ................................................................................................. 11 
2.3.1 Características importantes ....................................................................... 12 
2.4 Peculato Culposo ............................................................................................ 12 
2.4.1 Extinção de Punibilidade (art. 312, § 3º, do CPB)...................................... 13 
2.4.2 Aplicação de pena no peculato ................................................................. 13 
2.5 Peculato Mediante Erro de Outrem ............................................................... 14 
2.6 Peculato Eletrônico (art. 313- A)..................................................................... 15 
2.6.1 Objeto material: dados verdadeiros .......................................................... 15 
2.7 Modificação ou Alteração não autorizada do próprio sistema de informações 
(artigo 313-B) ........................................................................................................................ 17 
2.8 Extravio, sonegação ou inutilidade de livro ou documento (art. 314, CPB) ... 17 
2.9 Emprego irregular de verbas ou rendas públicas (art. 315, CPB) ................... 19 
2.10 Concussão (art. 316, CPB) ........................................................................... 19 
2.10.1 Excesso de Exação (art. 316, CPB) ........................................................... 20 
2.11 Corrupção passiva (art. 317) e ativa (art. 333)............................................ 21 
 
Direito Penal – Parte Especial 
Aula 01 
O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula 
ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros 
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 
 
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Bibliografia 
 Bitencourt, Cezar Roberto; Tratado de Direito Penal, Ed. Saraiva; 
 Capez, Fernando; Curso de Direito Penal, Ed. Saraiva; 
 Costa Jr., Paulo José da; Curso de Direito Penal, Ed. Saraiva 
 Baltazar Jr., José Paulo; Crimes Federais, Livraria do Advogado (Edição Digital) 
 
 
1. Crimes Contra a Administração 
Conforme se afere do seu próprio nome, os crimes contra a Administração têm por 
sujeito passivo o Estado, visto que o bem jurídico tutelado é a Administração Pública. Aqui, a 
palavra "Estado" encontra-se em seu sentido amplo, em razão de, uma vez que o bem 
jurídico tutelado é o normal funcionamento da Administração Pública, por conseguinte, o 
sujeito passivo será o titular do respectivo bem jurídico violado, veja-se nos seguintes casos: 
em crime contra o Estado, será ele mesmo o sujeito passivo, assim como ocorre em crime 
contra a Autarquia, em que esta será o sujeito passivo. 
De maneira geral, nos crimes contra a administração, esses bens jurídicos traduzem 
interesses importantes para esta. Na sua essência, busca-se proteger o normal 
funcionamento da Administração Pública e o seu patrimônio, com algumas outras vertentes. 
Dentro do normal funcionamento da Administração, destaca-se a obrigação de 
probidade dos servidores. O Estado é o único ente que tem obrigação de ser perfeito, haja 
vista ter como escopo de sua existência servir à sociedade de maneira mais perfeita. 
Essa ideia da moralidade e da probidade administrativas é muito forte nos crimes 
contra a Administração. Configura um importante vetor interpretativo na análise da 
ocorrência do crime e na verificação da efetiva violação do bem jurídico. 
 
1.1 Princípio da Insignificância nos crimes contra a Administração 
As considerações supramencionadas são relevantes para que se avalie, nos crimes 
contra a administração, a aplicabilidade do princípio da insignificância. A tipicidade material 
advém de uma série de requisitos, dentre eles, a verificação de uma lesividade suficiente 
para afetar o bem jurídico tutelado. 
No caso da Administração Pública e de vários outros crimes, a doutrina de uma 
maneira geral e a jurisprudência sempre defenderam a ideia de que seja inaplicável o 
princípio da insignificância, porque há alguns bens jurídicos que não são mensuráveis, sendo 
Direito Penal – Parte Especial 
Aula 01 
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impossível estabelecer uma escala de gradação de ofensividade de um determinado bem, 
não havendo que se falar em valoração progressiva para a honestidade. 
 É possível violar a probidade ou a moralidade administrativas, de maneira que sequer 
considere violado o bem jurídico, tampouco não se preencha os requisitos de 
tipicidade material? 
Entendia-se não ser possível essa gradação, e, portanto, seria inaplicável o princípio 
da insignificância para tais crimes. 
Recentemente, todavia, houve um pequeno abrandamento desse entendimento, 
capitaneado por julgados do STF, muito embora ainda seja seguido pelo STJ o entendimento 
da inaplicabilidade nos crimes em tablado, sob o fundamento de que o bem jurídico é 
imensurável. 
O STF, reanalisando o princípio da insignificância e criando alguns vetores para a 
verificação de sua incidência, vem admitindo a aplicação desse princípio, respeitados alguns 
requisitos. É o que se vê nos precedentes: Inf. 624 (HC 107.370/SP) e Inf. 640, que versavam 
sobre um furto em estabelecimento militar, para o qual também existe uma tendência a não 
se admitir tal princípio, em razão da hierarquia e da disciplina militar, que seriam 
imensuráveis; e HC 112.388/SP. 
Os TRF's, de maneira geral, não admitem o princípio da insignificância nos crimes 
contra a Administração, alinhando-se ao que vem decidindo o STJ. 
A tendência é a consolidação do entendimento do STF no sentido de uma 
admissibilidade excepcional, desde que preenchidos aqueles vetores que foram objeto de 
balizamento para a aplicação do princípio da insignificância: I) mínima ofensividade da 
conduta; II) nenhuma periculosidade social da ação; III) reduzido grau de reprovabilidade do 
comportamento;e IV) inexpressividade da lesão patrimonial, caso existente. Esse tema 
ainda é tormentoso em relação aos crimes contra a Administração Pública. 
 
1.2 Classificação doutrinária 
Outro ponto relevante das questões gerais envolve a classificação doutrinária dos 
crimes, em função da natureza delitiva, da forma de cometimento etc. Realça-se, por 
oportuno, a classificação, quanto ao sujeito passivo, em crimes comuns, próprios e de mão 
própria. Os primeiros caracterizam-se por crimes praticáveis por qualquer pessoa; os 
segundos exigem uma qualidade especial do sujeito ativo, v.g. necessidade de ser praticado 
por um médico ou por servidor público - neste último caso, enquadram-se os crimes contra a 
Administração -; e os terceiros são, a bem da verdade, crimes próprios acrescidos de uma 
especificidade, qual seja: devem ser praticados direta e pessoalmente por determinado 
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sujeito passivo, do que se conclui inadmissível a coautoria e que o sujeito ativo determine 
sua execução por uma outra pessoa. 
Os crimes funcionais contra a administração apresentam-se divididos no Código 
Penal da seguinte forma: crimes funcionais contra a administração (praticados por servidor 
contra a administração), crimes praticados por particular contra a administração e crimes 
contra a administração da justiça. Dessa forma, compõem-se de três categorias distintas. 
Ademais disso, têm uma característica muito interessante, a possibilidade de divisão 
em duas categorias. De um lado, referir-se-á à presença do servidor para especializar um 
crime já existente (v.g. o furto e a modalidade especial peculato furto, sendo a diferença 
entre ambos a prática por um servidor); e, de outro, existem crimes funcionais em que sua 
formação não se dá através de uma especialização, mas pela presença de um servidor 
público somada à conduta delitiva, fazendo com que o crime tenha uma conformação que, 
se for retirado o servidor público, deixará de ser um fato típico, sendo, portanto, a presença 
do servidor como requisito para a conformação do crime imprescindível para a tipicidade da 
conduta evidenciar-se, (v.g. prevaricação, que é um fato típico para o qual se impõe seja 
praticado por um servidor, do contrário, deixará de existir). 
Essas duas categorias de crimes funcionais recebem ainda pela doutrina a divisão em 
crimes funcionais próprios e impróprios. Não há que se confundir com a categorização 
relativa aos crimes comum, próprio e de mão própria. Trata-se uma segunda categorização, 
cuja finalidade se limita à verificação das possibilidades de desclassificação de conduta. 
 Exemplo1: alguém é processado pela prática de peculato furto e, no curso do 
processo, verifica-se desconfigurada a qualidade pessoal de servidor. Como consequência, 
dar-se-á a desclassificação para o crime de furto. Por outro lado, uma vez denunciado pela 
prática de prevaricação, se for verificado que o agente não é servidor público, seria este 
absolvido, pois o fato se tornaria atípico. 
Exemplo2: (Prova MPF) Os crimes contra as finanças públicas são crimes funcionais 
impróprios? Resposta: ERRADO, pois os crimes funcionais são próprios, como se vê no crime 
de ordenar despesa autorizada em lei, para o qual, se o funcionário não for o legítimo 
ordenador de despesa, sua conduta não encontra subsunção complementar ou subsidiária 
em nenhum outro tipo penal. 
Exemplo3: (5º Concurso TRF2/questão discursiva) Explique o que distingue os crimes 
funcionais próprios dos impróprios. 
Em resumo, nos crimes funcionais próprios, a exclusão do servidor público acarreta 
atipicidade total da conduta; e, nos crimes funcionais impróprios, uma atipicidade relativa 
ou a desclassificação da conduta para um crime sem o elemento especializante. 
 
Direito Penal – Parte Especial 
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1.3 Conceito de funcionário Público 
O artigo 327 do CP conceitua-o para fins penais. 
Art. 327. - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora 
transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública. 
O conceito de funcionário público pra fins penais diverge do vislumbrado no direito 
administrativo. No âmbito do Direito Penal apresenta-se mais amplo, abrangendo, inclusive, 
servidor público por equiparação, previsto no § 1º do mesmo dispositivo. 
§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em 
entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada 
ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública. 
Para os agentes públicos, embora não exista correlação direta com o conceito de 
servidor público do Direito Administrativo, é possível utilizar-se de algumas de suas 
definições. Compõem-se aqueles primeiros de agentes políticos, servidores públicos em 
geral - que se vinculam à administração através de contrato celetista ou estatutário -, e a 
categoria de particulares em colaboração com a administração - abrange os agentes 
honoríficos, delegados e credenciados. 
Exemplo: as pessoas que trabalham por delegação ou por conta própria, exercendo 
uma atividade eminentemente pública: tabeliães, notários, leiloeiros, advogados 
credenciados para o exercício de atividades de defesa, advogados dativos. 
Considerando que funcionário público para fins penais envolve a questão da função 
exercida, excluem-se dessa esfera aquelas pessoas que, a despeito de exercerem uma 
função eminentemente pública, não atuem com o interesse público, ou seja, não será 
servidor público para fins penais quem exerce múnus público, mas tem o interesse privado 
de forma imediata, primordialmente. 
Exemplo: o inventariante nomeado pelo Juízo de Sucessões, os tutores e os 
curadores. D'outro bordo, preenche as condições de servidor quem exerce uma função 
pública com predominância de interesse publico envolvido no seu exercício. 
A luz da redação do parágrafo primeiro, equipara-se a funcionário público quem 
exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal. Entretanto, existe divergência 
quanto a esse conceito, consagrada sua interpretação a partir de duas correntes: I) 
interpretação restritiva, para abranger apenas as autarquias; e II) interpretação extensiva, 
alcançando todas as entidades que atuam de forma colateral e vinculadas ao Estado. Esta é a 
posição majoritária, tanto na doutrina quanto na jurisprudência. 
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Corrobora esta última forma interpretativa a previsão da Lei 8.666/93, que conceitua 
funcionário público para fins penais, na qual se verifica também abranger, sendo aqui de 
forma explícita, essas demais entidades, além da autarquia. 
Art. 84. Considera-se servidor público, para os fins desta Lei, aquele que exerce, mesmo 
que transitoriamente ou sem remuneração, cargo, função ou emprego público. 
§ 1o Equipara-se a servidor público, para os fins desta Lei, quem exerce cargo, emprego 
oufunção em entidade paraestatal, assim consideradas, além das fundações, empresas 
públicas e sociedades de economia mista, as demais entidades sob controle, direto ou 
indireto, do Poder Público. 
§ 2o A pena imposta será acrescida da terça parte, quando os autores dos crimes 
previstos nesta Lei forem ocupantes de cargo em comissão ou de função de confiança 
em órgão da Administração direta, autarquia, empresa pública, sociedade de economia 
mista, fundação pública, ou outra entidade controlada direta ou indiretamente pelo 
Poder Público. 
No tocante à segunda parte do artigo, notadamente àquela que trata das pessoas 
vinculadas a empresas terceirizadas (conveniadas ou contratadas pela Administração), 
observa-se que serão consideradas servidor público para a prática de crime conta a 
Administração quem exerce função atividade típica da Administração. 
 Exemplo1: no hospital, os técnicos de enfermagem contratados através de empresa 
terceirizada estarão contribuindo para a realização de um fim último e direto da 
Administração, realiza atividade típica desta, portanto será considerado funcionário público 
para fins penais. 
Exemplo2: carteiros dos Correios e suas empresas franqueadas. Uma vez que são 
empresas que prestam serviços particulares, mas realizam atividade típica da Administração, 
que é o serviço postal, seus funcionários serão considerados públicos se praticarem crime no 
exercício da função. 
Sendo assim, é a partir da análise desses conceitos que será possível identificar quem 
pode figurar no sujeito ativo de crimes contra a Administração. 
Em que pese aos detentores de mandato eletivo, havia uma celeuma jurídica em 
torno da questão, como se verificou, inclusive, na Ação Penal n. 470, que condenou vários 
Deputados Federais pela prática de crimes funcionais próprios, peculato. 
 Esse conceito se presta a identificar apenas o sujeito ativo do crime, ou também é 
cabível para todas as hipóteses em que há referência a funcionário público no CPB? 
Existem dois posicionamentos acerca da matéria. 
De um lado, não se admite em virtude do que segue: I) condição topográfica do 
artigo 327, que seria o último artigo do bloco do CP que trata dos crimes funcionais, 
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portanto teria a função de complementar os artigos antecedentes e identificar o funcionário 
público na qualidade de sujeito ativo de crimes; e II) estar-se-ia banalizando a condição de 
funcionário público ao qualificá-lo como sujeito passivo de crimes, v.g. se se considerasse 
legítimo um funcionário terceirizado de uma empresa que exerce atividade típica da 
administração ser "desacatado" no exercício das funções correlatas, embora não ostente a 
condição de servidor público em sentido estrito. 
Por outra banda, refuta-se a tese ao giro da localização topográfica, por não ser 
suficiente para afastar a aplicação sistemática no Código do conceito de funcionário público 
para ambos as condições, sujeito passivo e ativo, pois se o CPB assim não o fez, insustentável 
se torna a distinção. 
Majoritariamente, adota-se a segunda posição, pela qual se admite uma aplicação 
ampliada desse artigo inclusive para as hipóteses em que o funcionário público é sujeito 
passivo de crimes. 
Observação. Nos TRF's, encontram-se ainda divergências, como exemplo, o TRF1, por 
ser mais conservador, adota o conceito legal apenas para as hipóteses em que o funcionário 
público é sujeito ativo do crime (HC 200401000241424). Em contrário, posicionou-se o TRF 
2ª Região. O STF, por sua vez, julgou a matéria no HC 79823, prestigiando a admissão. 
Em síntese, são funcionários públicos todos os servidores que se vinculam ao Estado 
por cargo, emprego ou função e mandato eletivo. 
Exemplo1: servidores estatutários e celetistas; presidente, governadores, prefeitos, 
deputados; defensores públicos; magistrados; procuradores; auxiliares do juízo (peritos, 
leiloeiros); titulares de cartório; advogado dativo; e médicos conveniados do SUS. Nestes 
últimos casos, o médico de uma clínica particular, vinculada ao Estado através de convênio 
ou credenciamento, estará exercendo atividade típica e em nome da Administração e, 
portanto, incidirá no crime de concussão, caso exija pagamento de valores para a realização 
de procedimentos médicos. 
Exemplo2: estagiários, jurados, despachantes aduaneiros e empregados de empresas 
terceirizadas que prestam serviços de atividade típica. 
Não se incluem nesse rol: funcionário aposentado ou demitido; quem exerce múnus 
público com interesse privado envolvido: tutor, curador, inventariante, síndico da massa 
falida; e terceirizados que não exercem atividades típicas da administração: servente, 
vigilantes. 
 
1.4 Pode o particular praticar um crime funcional? 
É possível, desde que este atue em concurso de agentes com o funcionário público. 
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Impõe-se observar a temática do concurso de agente e a aplicação do art. 30 do 
Código Penal, que trata da comunicabilidade das circunstâncias elementares de tipos penais. 
Para a configuração do delito em debate, faz-se necessário a atuação direta do 
particular e consciente da condição de servidor público do coautor, verificada a 
simultaneidade das ações (precedente do STJ - Resp 297.569) 
Em que pese à contemporaneidade da conduta delitiva do particular em referência à 
consumação do crime funcional praticado pelo funcionário público, exige-se a contribuição 
do particular ao tempo em que ainda não consumado o crime funcional. Ao se consumado o 
crime pelo agente estatal, ainda que o particular tenha ciência dessa condição, este não 
responderá pela prática do referido delito, porque sua contribuição posterior será neutra. 
 
2. Peculato 
O crime de peculato compõe-se de várias figuras, as quais guardam, em sua maioria, 
uma especialização completa, mas, eventualmente, caso seja retirada a condição de servidor 
público do agente, haverá desclassificação do delito em outros tipos do Código Penal. Veja-
se a seguir: 
a) Peculato Apropriação: Guarda uma especialização completa. Previsto no artigo 
312, em sua primeira parte, consiste tal espécie em uma apropriação indébita 
especializada pela condição de servidor. 
 
b) Peculato Desvio: Não existe no CPB uma figura específica correspondente para o 
caso de perda da qualidade pessoal do agente. Eventualmente, poderia cair em 
outra figura típica, a depender do caso concreto. 
 
c) Peculato Furto: É o furto especializado pela condição de servidor. 
 
d) Peculato Culposo: Se retirada a condição de servidor, pode, em algumas 
situações, a conduta recair em algum tipo penal. 
 
e) Peculato Eletrônico: Pode, se retirada a condição de servidor, recair nas figuras 
do estelionato ou da apropriação havida por erro de outrem (artigo 313 - A e 313 
- B). 
Em síntese: 
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Artigo Tipo Penal Conduta subsidiária312, 1ª parte Peculato Apropriação Apropriação Indébita (Art. 
168, CP) 
312, 2ª parte Peculato Desvio 
312, § 1º Peculato Furto Art. 155 do CPB 
312, § 2º Peculato Culposo Diversos 
313 Peculato  Estelionato; 
 Art. 167 do CPB 
 
2.1 Peculato Apropriação 
 Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem 
móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em 
proveito próprio ou alheio: 
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. 
É pressuposto do peculato a posse prévia de um bem ou valor pelo servidor público. 
Então, o sujeito ativo (servidor) apropria-se de uma coisa da qual já tem a posse em razão do 
seu cargo. 
São características da posse: a) prévia, b) lícita e c) relacionada ao exercício do cargo 
ou função públicos. 
Ademais, importa destacar que tal instituto se distingue daquele regulado no Direito 
Civil. Adota-se, no Direito Penal, o sentido amplo da palavra, pois abarca todas as 
possibilidades de relação do servidor com a coisa móvel, traduzida na expressão 
disponibilidade jurídica, que significa ter, a qualquer momento, a possibilidade de dispor, dar 
ordem ou destinação ao bem. 
Exemplo: funcionário que tem a possibilidade de determinar o pagamento de verba 
pública. Sendo ele o titular da conta de determinado órgão, poderá livremente ir ao banco e 
passar o cartão corporativo. Nesse ato, ele gasta o dinheiro público, pois tem a posse do 
cartão e a disponibilidade jurídica da verba. 
 
2º Horário 
 
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Essa ideia de disponibilidade jurídica é essencial para a compreensão do crime de 
peculato. 
 
2.1.1 Consumação do crime 
O núcleo do crime "apropriar-se" apresenta uma ideia de relação entre o agente e o 
bem (quem se apropria constitui uma relação de propriedade), razão porque tanto a 
doutrina quanto a jurisprudência entendem que a consumação se dá no momento da 
inversão da posse. Sua verificação depende de um elemento subjetivo, o que impõe seja 
demonstrada por fato exterior do ato de domínio sobre o bem, que independe do resultado 
material de dano ou de vantagem alheia. Sendo assim, a prova do dolo será através de 
elementos subjetivos exteriores. 
 Existe peculato omissivo? 
 Recentemente, houve debate jurisprudencial a respeito dessa possibilidade na Ação 
Penal 470. No caso, o diretor de marketing do Banco do Brasil, Sr. Francisco Pizzolato, foi 
condenado pelo crime de peculato na sua modalidade omissiva, pois restaram preenchidas 
as condições exigidas pelo sistema penal ao giro da sua respectiva configuração. Verificou-se 
que ele se encontrava na condição de garante e, em razão do exercício dessa função pública, 
teria efetuado o repasse de diversos recursos para a empresa DNA Propaganda. Como 
contrapartida ao financiamento público, a empresa teria a obrigação de devolver os 
chamados bônus de volume para o Banco do Brasil; enquanto caberia ao condenado, na 
qualidade de fiscal da execução desses mandatos, negar novos repasses e exigir a devolução 
dos valores pagos. 
 
2.1.2 Objeto material 
O objeto material é coisa móvel, seja esta pública ou particular (exemplo: bem sob 
guarda da administração). 
Observação. O objeto material não abrange a prestação de serviços. Em precedente, 
destacou o STF: "fruir de um serviço público ou de um serviço de funcionário público, em 
proveito particular, não configura crime de peculato", pois não estaria abrangido pela ideia 
de coisa móvel. 
 Deve ter expressão econômica ou patrimonial? 
Resposta: Não há exigência. 
Observação. No STJ, existe precedente contrário, RHC 23500/2000. 
 
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2.2 Peculato Desvio 
Diferencia-se do peculato apropriação por apresentar a ideia de uma destinação 
originária certa da coisa desvirtuada pelo funcionário público. 
 A finalidade diversa deve ser particular, ou pode ser outra finalidade pública, que não 
a preliminarmente designada? 
Para tal hipótese, o crime pode ser o do artigo 315 do CPB, emprego irregular de 
verbas públicas. 
 
2.2.1 Inexigibilidade do elemento fraude para sua configuração 
Na espécie, usual é a existência de fraude no peculato desvio, seja como meio para a 
sua prática, seja para acobertar eventual e posterior descoberta do delito praticado. Se o 
elemento fraude não estiver presente, em princípio, não haverá prejuízo à conformação do 
delito. Por outro lado, a depender da situação, a fraude pode ser absolvida pelo peculato. É 
o que se vê no uso de documento falso para a prática de peculato que se esgota naquela 
atividade. 
Exemplo: Emprego de documento falso para justificar o desvio de verba pública 
configura peculato com fraude. O crime de fraude, todavia, será absolvido pelo peculato. 
(Precedentes do STJ). 
Sendo assim, conclui-se que não constitui elemento do tipo a fraude. Uma vez esta 
presente, se se esgotar naquela atividade, pode-se considerar o falso absolvido pelo 
peculato desvio. Da mesma forma, a fraude posterior pode ser considerada um post factum 
impunível. 
Para os crimes contra a ordem tributaria, o STJ adota essa ideia de absorção, ou seja, 
se o falso é empregado para reduzir ou suprimir o tributo, exclusivamente para aquela 
finalidade, ele será absorvido, pois representa fraude ao meio; por igual, se o agente 
apresenta documentos à Administração Fazendária para justificar a falsidade praticada 
anteriormente e a supressão do tributo, restará absolvido pelo crime contra a ordem 
tributária. 
 
2.3 Peculato Furto 
A diferença em relação aos demais consiste em o sujeito ativo não ter a posse do 
bem, mas se vale das facilidades que seu cargo lhe proporciona para subtrair ou concorrer 
para que alguém pra ele subtraia. 
 
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2.3.1 Características importantes 
I) O funcionário deve se valer dessa qualidade para ter fácil acesso ao bem ou 
proporcioná-lo a quem o faça, de modo que não se evidencia a relação de disponibilidade 
ocorrida na espécie anterior, mas apenas uma mera facilidade; 
II) Possui duas modalidades: a subtração por ele próprio praticada, em vista da 
facilidade de conhecimento do local de esconderijo da coisa ou de acesso para tal, ou 
concorrer para que seja subtraído (v.g. servidor que não participa diretamente da execução 
da subtração, mas que, em razão da função pública, propicia um ambiente favorável para 
que outro o faça, em concurso necessário de agentes). 
 Se o servidor não se vale das facilidades que o cargo lhe proporciona e, nessas 
condições, subtrai o bem, qual o crime cometido? 
Resposta: Furto simples. 
Observação1. O "peculato de uso" (expressão não contemplada no CPB) consiste na 
ideia de que a pessoa que dispõe de um bem, utiliza-se deste sem o intento de se apropriar. 
Entretanto, no caso concreto, é difícil evidenciar com clareza esse animus, sendopossível 
para bens suscetíveis de utilização, sem que isso desfigure sua existência. Sendo assim, 
pressupõe que o bem jurídico tutelado seja infungível (não pode ser consumível). 
Exemplo1: Funcionária dos Correios que, no exercício da sua função de caixa, retira 
certa quantia em sua disponibilidade, mas com expectativa de posterior restituição. Nesse 
caso, a coisa é fungível e, como consequência, independentemente da intenção, já se 
mostrou configurado o fato típico. 
Exemplo2: Funcionário público que, em razão da sua condição pessoal, pega o veículo 
oficial, mas devolve no dia seguinte. Houve a prática de furto apenas quanto à gasolina, não 
em relação ao carro, em razão de este ser um bem infungível. 
Portanto, o peculato de uso tem as seguintes características: não há dolo de 
apropriação e só incide em relação a objetos materiais não consumíveis. 
Observação2. Exceção: Prefeito Municipal (DL201/67, em seu art. 1º, inciso II - 
utilização de rendas, verbas e bens públicos - única previsão de punição expressa no Código 
Penal do chamado peculato de uso). A redação consiste em "utilizar-se indevidamente, em 
benefício próprio, de bens, rendas ou serviços públicos". A utilização de bens infungíveis 
caracterizará apenas atos improbidade administrativa, salvo no caso do Prefeito. 
2.4 Peculato Culposo 
Consiste na conduta culposa de um funcionário público, a qual mantém relação de 
dependência com a prática dolosa de crime por um terceiro. Segundo a descrição do tipo 
penal, que recebe severas críticas da doutrina por conta da sua redação vaga, o sujeito ativo 
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do crime viola o seu dever de vigilância (cautela) e permite, a partir de sua conduta 
negligente, que um terceiro pratique um crime contra a Administração. 
Exemplo1: Servidor que deixa a janela aberta da repartição e alguém se vale dessa 
situação para subtrair bens moveis do local. 
Necessariamente, exige-se a participação de duas pessoas: o servidor público, que 
age culposamente, e o terceiro, que age sempre dolosamente. 
 Qual o crime praticado pelo terceiro? Precisa ser outro peculato? 
Exemplo2: Funcionário que deixa a porta aberta culposamente e um terceiro entra e 
estupra uma servidora. Nesse caso, não se configura o peculato culposo, porque sua culpa 
não foi suficiente para concorrer com aquela conduta. 
Resposta: O crime de terceiro, para o qual o servidor concorre, tem que ter, 
necessariamente, a mesma natureza do crime de peculato, ou seja, que tenha algum reflexo 
patrimonial. A divergência na doutrina envolve a questão da exigência de se tratar o outro 
crime de peculato. O entendimento majoritário é no sentido de que deve ser preenchida a 
característica patrimonial do peculato. 
 O crime de peculato culposo pode concorrer com um crime tentado? 
Resposta: Não. Deve ser consumado o crime de terceiro, pois só se pode 
responsabilizar o funcionário público pela sua negligência quando sobrevenha um dano 
efetivo para a Administração. 
 
2.4.1 Extinção de Punibilidade (art. 312, § 3º, do CPB) 
Dar-se-á a extinção de punibilidade se houver a reparação do dano até o trânsito em 
julgado da sentença. Se este for feito depois do trânsito, reduzir-se-á da metade a pena do 
agente na execução. 
Observação1. Qualquer pessoa pode fazer o ressarcimento, o que produzirá efeitos 
para a pessoa do acusado ou condenado. 
Observação2. Essa modalidade de extinção somente é aplicável ao peculato culposo. 
 
2.4.2 Aplicação de pena no peculato 
Considerando que peculato é crime que lesa a moralidade administrativa e o 
patrimônio da administração, na dosimetria da pena, deve-se ponderar a gravidade do dano; 
a exigibilidade de conduta diversa do agente; os valores apropriados, quanto maiores, mais 
graves serão as condutas, adotando-se para tanto, como parâmetro, as consequências do 
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crime de peculato; as circunstâncias do delito, como a fraude, a dinâmica da atuação do 
agente, a destinação especial da verba; dentre outros pontos. 
Observação1. Especial condição de servidor público. Todos os crimes funcionais 
contra a Administração são incompatíveis com a agravante genérica de violação do dever de 
ofício, porque isso já configura pressuposto do tipo penal, vez que o sujeito ativo é servidor 
e, justamente em razão da sua qualidade pessoal e da violação aos seus deveres funcionais, 
já lhe é prevista pena mais alta pelo Legislador. Representaria bis in idem considera-la na 
aplicação de pena. 
Observação2. Excepcionalmente, no caso concreto, é possível que se considere uma 
condição especial do servidor público na fixação de uma pena base maior. 
Exemplo1: o servidor público que trabalhou, durante longo tempo, na Comissão de 
Processo Disciplinar, apurando irregularidades administrativas em seu respectivo Órgão. 
Denota-se da narrativa fática que, caso essa pessoa venha a praticar peculato, ser-lhe-ia 
exigível mais ainda uma conduta proba, face à sua vivência naquele cargo, que lhe deu maior 
potencial conhecimento da ilicitude de sua conduta. Verifica-se mais exigível dele seu 
comportamento conforme o direito do que de um servidor público qualquer. 
Exemplo2: Na AP 470, em sua fase de dosimetria, ocorreram algumas considerações a 
esse respeito, pelo fato de serem os condenados líderes partidários e Deputados Federais. 
Destacou-se que, quanto mais graduados os servidores, mais reprovada será a conduta ilícita 
por eles praticadas nessas circunstâncias. 
 
2.5 Peculato Mediante Erro de Outrem 
Diferencia-se da previsão do artigo 312 do mesmo diploma por o sujeito ativo não ter 
a posse prévia do bem. 
Exemplo: uma pessoa paga uma multa para o órgão público errado, e seu servidor 
recebe aquele valor por um erro espontâneo do terceiro, apropriando-se de tal. 
Na espécie, é essencial que o servidor não tenha provocado o erro, deve ser de 
espontâneo de terceiro. Do contrário, configuraria estelionato ou outro crime. 
Segundo Nelson Hungria, o erro pode incidir sobre três elementos: a competência do 
funcionário publico para receber; o valor ou coisa a ser recebido; e a qualidade de entrega. 
Para a jurisprudência, é comum o recebimento por servidor público de remuneração 
a maior por equivoco (verbas salariais). 
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2.6 Peculato Eletrônico (art. 313- A) 
Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a inserção de dados falsos, 
alterar ou excluir indevidamente dados corretos nos sistemas informatizados ou bancos 
de dados da Administração Pública com o fim de obter vantagem indevida para si ou 
para outrem ou para causar dano: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)) 
 Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 
2000) 
Inserido no CPB pela Lei 9983/200, esse dispositivo penal, originariamente, tinha 
como destinatário os funcionários doINSS, com vistas a evitar uma série de irregularidades 
ocorridas na referida Autarquia Previdenciária, que passou a atuar de forma dependente de 
sistemas informatizados. 
Observação1. Esse crime é especial em relação ao artigo 312 do CPB, pois não há 
possibilidade de concurso material deste último com o tipo penal em análise. 
A inserção de dados falsos em sistemas informatizados, por configurar uma 
antecipação de resposta penal, a bem da verdade, antigamente, era considerado uma das 
possíveis modalidades de fraude utilizada na prática do peculato. 
Em face disso, cumpre ressaltar que a mera alteração com o fim de causar dano ou 
com fim de obter vantagem, já configura o delito autônomo de peculato eletrônico. 
Observação2. Segundo o STJ, considera-se existente entre ambos os crimes uma 
relação de especificidade, que importará configurado bis in idem na condenação pelos arts. 
312 e 313 do CPB, no mesmo contexto de fato (HC 213179). 
 
2.6.1 Objeto material: dados verdadeiros 
Pune-se na conduta de alterar ou de excluir dados verdadeiros e de inserir dados 
falsos num sistema baseado em informações legítimas e corretas. A Administração não pode 
se basear seus dados em nenhuma mentira. 
 Qual a distinção entre sistema de informação e banco de dados? 
Não é relevante, mas os bancos de dados são onde se armazenam informações e os 
sistemas são o conjunto de bancos de danos ou de programas que interligam-nos. 
Exemplo prático: Receita Federal tem um sistema chamado COMPROTE. Se alguém 
altera esses dados com finalidade de obter vantagens (v.g. alteração do nome do 
contribuinte para que ele tenha direito a uma compensação), incidiu nesse crime. 
É essencial que o funcionário que cometa o crime seja autorizado a acessar aquele 
sistema. 
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 No caso dos crimes previdenciários, existe uma polêmica interessante em torno do 
seguinte: Se a concessão de um benefício previdenciário indevido, através da 
inserção de dados falsos no sistema correlato, representaria o artigo 313-A ou se 
configuraria um crime de estelionato? 
 Antes da edição do artigo 313-A, havia a polêmica acerca do tipo penal no qual 
incidiria o servidor público: crime de estelionato previdenciário ou peculato. Isso porque, 
antigamente, o funcionário do INSS não tinha disponibilidade direta sobre as verbas 
previdenciárias. Não era ato exclusivo desse funcionário. Por muito tempo, esses crimes 
eram capitulados no art. 171. Em seguida, evolui-se o entendimento para capitula-los no art. 
312. 
Hoje, não há dúvidas de que a concessão do beneficiário previdenciário fraudulento, 
mediante inserção de dados fictícios, enquadra-se no artigo 313-A. 
 
3º Horário 
 
Se o funcionário que comete a conduta descrita no artigo 313-A não é autorizado a 
acessar, haverá uma conduta subsidiária: crime de falsidade ideológica especializado. A 
retirada dessa condição de servidor público autorizado, prejudica a configuração do peculato 
eletrônico. 
Exemplo: Um servidor não autorizado que encontrou o sistema aberto com a senha 
do usuário legítimo e inseriu dados falsos, com intento de obter vantagem e gerar dano à 
Administração, incidirá em falsidade ideológica especializada, art. 299, parágrafo único, do 
CPB. 
Art. 299 - Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia 
constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser 
escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato 
juridicamente relevante: 
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público, e reclusão de um 
a três anos, e multa, se o documento é particular. 
Parágrafo único - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se 
do cargo, ou se a falsificação ou alteração é de assentamento de registro civil, aumenta-
se a pena de sexta parte. 
 
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2.7 Modificação ou Alteração não autorizada do próprio sistema de informações 
(artigo 313-B) 
Art. 313-B. Modificar ou alterar, o funcionário, sistema de informações ou programa de 
informática sem autorização ou solicitação de autoridade competente: 
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, e multa. 
Parágrafo único. As penas são aumentadas de um terço até a metade se da modificação 
ou alteração resulta dano para a Administração Pública ou para o administrado. 
A modificação incide sobre a própria concepção do sistema. 
Exemplo: retirada da funcionalidade do sistema. 
Não há elemento subjetivo especial, é a mera modificação ou alteração do programa 
de informática, sem autorização para fazê-lo. 
Distinção doutrinária entre modificação e alteração: na modificação, há uma 
alteração radical na essência do programa; na alteração, modificam-se alguns elementos 
apenas, sem mexer nas propriedades essenciais do programa. 
Não se exige prejuízo material. Caso existente, haverá a punição especial para o 
resultado danoso, conforme prevê o parágrafo único do dispositivo. 
Segundo a lição de Jose Paulo Baltazar, a distinção entre as figuras dos artigos 313-A 
e 313-B repousa na punição menor dada a este último delito, sendo ele, por conseguinte, da 
competência dos Juizados Especiais. 
Exemplo: A modificação de sistema, que consista em inserir dados ou excluí-los 
indevidamente, com objetivo de causar dano, deve incidir nas tenazes do artigo 313-A, 
mesmo que, na origem, a conduta do agente seja voltada para a alteração do sistema. 
 
2.8 Extravio, sonegação ou inutilidade de livro ou documento (art. 314, CPB) 
Art. 314 - Extraviar livro oficial ou qualquer documento, de que tem a guarda em razão 
do cargo; sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou parcialmente: 
Pena - reclusão, de um a quatro anos, se o fato não constitui crime mais grave. 
O crime traz regra de subsidiariedade expressa. 
Exemplo: Artigo 305 do CPB - supressão de documento. 
Art. 305 - Destruir, suprimir ou ocultar, em benefício próprio ou de outrem, ou em 
prejuízo alheio, documento público ou particular verdadeiro, de que não podia dispor: 
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa, se o documento é público, e reclusão, de um 
a cinco anos, e multa, se o documento é particular. 
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Objeto material: livro oficial (físico ou virtual) e qualquer documento, abrangidos, 
neste último caso, qualquer elemento que preencha a característica de transmissão de 
mensagem (material ou imaterial). 
 O que é documento para fins penais? 
No conceito moderno, envolve tudo aquilo capaz de transmitir uma mensagem 
inteligível. 
Exemplo: e-mail, contrato eletrônico. 
Precedente: STJ, HC65499 - Rel. Min. Laurita Vaz. 
Ementa: HABEAS CORPUS. PENAL E PROCESSO PENAL. "OPERAÇÃO ANACONDA". JUIZ 
FEDERAL. CONDENAÇÃO. ART. 350, PARÁGRAFO ÚNICO, INCISO IV (ABUSO DE PODER), E 
ART. 314 (EXTRAVIO, SONEGAÇÃO OU INUTILIZAÇÃODE LIVRO OU DOCUMENTO), 
AMBOS DO CÓDIGO PENAL .ATIPICIDADE PENAL NÃO CONFIGURADA. REEXAME DO 
MATERIAL FÁTICO-PROBATÓRIO. IMPOSSIBILIDADE. 1. A Lei n.º 4.898 /65 não trouxe 
dispositivo expresso para revogar o crime de abuso de poder insculpido no Código Penal. 
Assim, nos termos do art. 2.º, §§ 1.º e 2.º, da Lei de Introdução ao Código Civil, aquilo 
que não for contrário ou incompatível com a lei nova, permanece em pleno vigor, como é 
o caso do inciso IV do parágrafo único do art. 350 do Código Penal. 2. O Réu, na condição 
de Juiz Federal, agiu com abuso de poder, determinando a inutilização de provas 
relevantes para a investigação criminal em andamento. Essa conclusão a que chegou a 
instância ordinária, soberana na análise do material fático-probatório, é insuscetível de 
revisão por este Superior Tribunal de Justiça na estreita via do habeas corpus em que, 
como se sabe, não se admite dilação probatória. 3. O verbete "documento", por certo, 
não está restrito à idéia de escrito, como em tempos passados. Fitas cassetes, que 
continham gravações oriundas de monitoramento telefônico em investigação criminal, 
se enquadram na concepção de "documento" para fins da tipificação do crime do art. 
314 do Código Penal . Ausência de ofensa ao princípio da reserva legal. 4. Ordem 
denegada. 
Observação1. São os conceitos dos núcleos do tipo: I) Extravio: perda; II) Sonegação: 
o servidor deixa de apresentar algo para o qual tinha obrigação de fazê-lo (o momento da 
consumação ocorre quando, uma vez solicitada a apresentação, o servidor nega-se a fazê-
lo); III) Inutilização: retirada das características do objeto material, sem inutilizado 
completamente, mas apenas para o fim a que se destina. 
Observação2. O servidor tem que ter a guarda desse livro ou documento em razão do 
seu cargo. 
Observação3. Se o servidor for de repartição fiscal ou tributária, poderá incidir no 
crime do artigo 3º, I, da Lei 8.137, desde que verificada a consequência exigida do extravio 
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ou da inutilizarão do livro oficial, dever de acarretar pagamento indevido de tributo ou 
contribuição social. 
Art. 3° Constitui crime funcional contra a ordem tributária, além dos previstos 
no Decreto-Lei n° 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal (Título XI, Capítulo I): 
I - extraviar livro oficial, processo fiscal ou qualquer documento, de que tenha a guarda 
em razão da função; sonegá-lo, ou inutilizá-lo, total ou parcialmente, acarretando 
pagamento indevido ou inexato de tributo ou contribuição social; 
 
2.9 Emprego irregular de verbas ou rendas públicas (art. 315, CPB) 
 Art. 315 - Dar às verbas ou rendas públicas aplicação diversa da estabelecida em lei: 
 Pena - detenção, de um a três meses, ou multa. 
A ser analisado oportunamente, junto aos crimes contra as finanças. 
 
2.10 Concussão (art. 316, CPB) 
 Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da 
função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida: 
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. 
Observação1. Característica importante dessa figura é o emprego pelo servidor de 
abuso de sua função. 
A ideia de exigência está ligada à imposição de sua autoridade sob o administrado, de 
modo que esse terceiro fique sem opção de escolha de ação. Há uma espécie de disparidade 
extrema entre a atitude do servidor público e do administrado. 
Diferentemente da corrupção, na concussão, não há concurso de vontades, mas uma 
exigência impositiva para a qual o administrado acaba cedendo. 
É essencial, portanto, a presença do temor por represália, em face do que o servidor 
pode causar em razão das atribuições que o cargo lhe confere. 
As exigências podem ser direta ou indireta, de forma implícita ou explícita. 
 O que é vantagem indevida? 
A doutrina e a jurisprudência afirmam que abrange vantagens patrimoniais e morais. 
Observação2. A desproporcionalidade entre as punições dos arts. 316 e 317 do CPB. 
Embora o crime de concussão seja muito mais grave, pois há uma imposição; 
enquanto, no crime de corrupção, há apenas solicitação, a pena deste último é muito maior 
do que a estabelecida para o outro tipo penal. 
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Releva-se que, na concussão, impõe-se uma exigência que jamais deixará espaço de 
vontade livre para manifestação da vítima, que é o administrado. Por outro lado, no crime 
de corrupção ativa, pressupõe-se, nas modalidades oferecer ou prometer a vantagem, que 
atuação espontânea do particular. 
Ocorre que a distinção entre a corrupção passiva e a concussão, na prática, é 
dificílima de verificar, pois há vezes em que um simples pedido, na verdade, representa 
exigência, a depender das circunstancias do caso concreto. 
Exemplo: STF, HC 89686. 
a) Crime formal, que se consuma com a mera exigência, independentemente do 
servidor vir a receber essa vantagem. Caso a receba, esse resultado constitui mero 
exaurimento, que se aplica na dosimetria da pena: valor da propina, circunstâncias fáticas, 
forma de pagamento, atos praticados para externar a exigência. 
b) O crime pode ser plurissubsistente. 
c) O momento consumativo ocorre quando o administrado toma ciência da exigência. 
d) Elemento especializante (art. 3º da Lei nº 8.137/ 1990): 
Art. 3° Constitui crime funcional contra a ordem tributária, além dos previstos 
no Decreto-Lei n° 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal (Título XI, Capítulo I): 
II - exigir, solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que 
fora da função ou antes de iniciar seu exercício, mas em razão dela, vantagem indevida; 
ou aceitar promessa de tal vantagem, para deixar de lançar ou cobrar tributo ou 
contribuição social, ou cobrá-los parcialmente. Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) 
anos, e multa. 
 
2.10.1 Excesso de Exação (art. 316, CPB) 
Art. 316. § 1º - Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que sabe ou deveria 
saber indevido, ou, quando devido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, 
que a lei não autoriza: 
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. 
a) Essa modalidade de concussão compõe-se de duas figuras: exigência de valores 
indevidos e o emprego do meio vexatório na cobrança de um tributo ou contribuição, que a 
lei não autoriza. 
b) Forma comissiva 
c) Objeto material específico: só tributo e contribuição social. Não abrange 
emolumentos, custas, tarifas, multa em Auto de Infração, sem natureza tributária. 
(Precedentes do STJ, HC 259971; Resp 476315) 
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O parágrafo segundo do artigo 316, CPB prevê uma forma qualificada do excesso de 
exação. 
Art. 316. § 2º - Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou de outrem, o que recebeu 
indevidamente para recolher aos cofres públicos: 
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.Exemplo: na fiscalização em empresas em que há lançamento de tributos. 
Observação. Caso esse apoderamento ocorra depois que a quantia ingressou nos 
cofres públicos, o crime que se constitui é o de peculato. Portanto, para a espécie, é preciso 
que o servidor seja o intermediário e que receba o montante em nome do Estado, mas que 
ainda não se tenha incorporado ao patrimônio deste. 
 
2.11 Corrupção passiva (art. 317) e ativa (art. 333) 
Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda 
que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou 
aceitar promessa de tal vantagem: 
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. 
§ 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em conseqüência da vantagem ou promessa, 
o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo 
dever funcional. 
§ 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de 
dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem: 
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. 
 
 Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para 
determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício: 
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. 
Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, se, em razão da vantagem ou 
promessa, o funcionário retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo dever 
funcional. 
O crime de corrupção passiva é ato de mercancia da função pública, o funcionário 
corrupto vende a sua função. 
As condutas puníveis são solicitar ou receber em razão da função vantagem indevida 
ou aceitar promessa de tal vantagem. 
Observação1. No julgamento da AP 470, houve debate acerca dos crimes em 
destaque. Em resumo, há uma clara exceção à teoria monista (todo aquele que concorre 
para a prática de um crime responde por o mesmo crime). Nessas figuras, o legislador optou 
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ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros 
doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 
 
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por punir separadamente o corrupto e o corruptor, bem como por identificar o corrupto, 
sem a necessidade de também o fazê-lo para o agente corrompido, e vice-versa. 
Observação2. Esse ato tem relação direta com a função pública do agente. O sujeito 
ativo não precisa estar no exercício da função, mas o ato que ele vende ou pretende vender, 
obrigatoriamente, deve ter uma relação com a função pública respectiva, seja em razão do 
exercício ou de estar em vias de exercer, seja de eventual afastamento por alguma razão. 
Exemplo: No BNDES, o funcionário que exercerá o cargo de Superintendente de 
Contratos e, em diálogo com um empresário, garante-lhe favorecimento em troca de 
vantagem indevida. Ele praticou corrupção, embora não esteja exercendo o cargo que 
motivou o ato de mercancia. 
Não há, necessariamente, bilateralidade. Em algumas modalidade, existe o concurso 
necessário de pessoas, pela pressuposição de um ato do corruptor, são elas: receber e 
aceitar, ambos do art. 317 do CPB. 
Assim como na concussão, a solicitação da vantagem pode ser explícita ou implícita; 
e a vantagem indevida não precisa ser de natureza patrimonial. 
Nas modalidades solicitar, oferecer, aceitar e prometer, não há exigência de resultado 
material, são crimes formais. A única modalidade de crime material é receber. 
Exemplo: Na AP 470, embora os Ministros do STF tenham feito essa distinção de 
natureza material e formal, consumou-se que os crimes já estavam consumados no 
momento da aceitação das vantagens ou das solicitações de vantagens. 
É admissível o processamento de réus por corrupção separadamente, mesmo na 
hipótese de associação criminosa não há impedimento. 
 O que o servidor público vende na corrupção? 
A sua futura atuação ou alguma vantagem ou ato que ele já tenha praticado. 
Observação3. Há uma diferença crucial quanto ao objeto material dos crimes em 
exame. Na corrupção passiva, a solicitação da vantagem não precisa ser prévia à prática de 
ato de ofício, podendo ocorrer em relação aos já praticados. Por outro lado, na corrupção 
ativa, impõe-se a temporalidade da conduta com o ato de ofício que se pretende obter de 
forma indevida. 
A partir do julgamento daquela ação penal, não se exige mais seja descrito 
detalhadamente o ato de ofício objeto de mercancia, no caso do crime do artigo 317 do CPB. 
O crime de corrupção não exige, em sua descrição do tipo, que essa solicitação ou atuação 
se dê em função de um ato de ofício específico, mas sim em razão da função exercida. 
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À época da Ação Penal do Collor, firmou-se entendimento de que era necessário 
externar qual o ato de ofício praticado ou pretendido com a corrupção, sendo 
imprescindível sua descrição na denúncia. 
Observação4. Existe uma previsão no parágrafo primeiro de aumento de pena para 
os casos de retardo ou omissão da prática de ato de ofício ou de sua prática infringindo 
dever funcional. Nessa punição majorada, pune-se o que seria o exaurimento do crime. 
Observação5. Na figura do parágrafo segundo, estabelece-se a forma privilegiada. 
Seu desvalor é reduzido, porque o agente age por pena, compaixão, piedade, sentimento de 
amizade. Não se verifica a venalidade do servidor, mercancia com a respectiva função 
pública. 
Paralelamente ao artigo 317, o artigo 333 prescreve as figuras de oferecer e 
prometer vantagem. 
a) Consumação: No artigo 317, a modalidade solicitação configura o crime no próprio 
ato; aceitação da vantagem, com a aceitação; e o recebimento, com a apropriação dos 
recursos. Na dispositivo do 333, as condutas de oferecimento e promessa consumem-se com 
o conhecimento pelo servidor daquelas ofertas do corruptor. 
Elemento especial de agir: oferta e promessa têm que ter por finalidade determinar o 
servidor a praticar, omitir ou retardar um ato de ofício irregularmente. 
Observação6. Existe uma relação de especialidade do artigo 343 com a corrupção. 
Sendo o destinatário é perito, contador, tradutor ou intérprete, o crime será o do artigo 343 
do CPB: 
 Art. 343. Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou qualquer outra vantagem a testemunha, 
perito, contador, tradutor ou intérprete, para fazer afirmação falsa, negar ou calar a 
verdade em depoimento, perícia, cálculos, tradução ou interpretação: 
 Pena - reclusão, de três a quatro anos, e multa. 
 Qual a conduta do particular que só entrega a vantagem solicitada pelo servidor 
corrupto, vez que não foi tipificada a figura "dar"? 
Exemplo: chega o fiscal corrupto na empresa e exige uma quantia para ignorar as 
irregularidades ali detectadas. 1ª Corrente considera essa conduta atípica, porque não existe 
crime subsidiário e o empresário apenas atendeu a uma solicitação. 2ª Corrente, 
configurado o crime de corrupção ativa, desde ele tenha negociado ou ofertado. 3ª 
Corrente, o particular é partícipe no crime do artigo 317. 
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www.cursoenfase.com.brResposta: a jurisprudência e a doutrina são uníssonas em considerar que a conduta é 
atípica. 
Observação. O crime de corrupção passiva independe da destinação dada à verba 
recebida.

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