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1 Universidade do Estado do Rio de Janeiro Faculdade de Direito Economia Política I em 2013‐02 Professora: Iraci Matos Vasconcellos Parte I: Tópicos em História do Pensamento Econômico1 Bibliografia básica: ARAÚJO, C. R.V. História do Pensamento Econômico – uma abordagem introdutória. 11ª Ed. São Paulo: Atlas, 1988. KUNT, E. História do Pensamento Econômico – 7ª Ed. Rio de Janeiro: Campus, 1989. MANKIW, N. Gregory. Introdução à Economia. São Paulo: Cengage Learning, 2009. 1ª aula: Razões principais que levam ao estudo da Economia (25/09/2013) Referência: MANKIW: 1º capítulo. Motivação para o estudo da Economia2. A palavra Economia vem do grego OIKONOMOS e significa “aquele que administra o lar”. Os lares e as economias têm muito em comum: uma família precisa tomar decisões, já que os recursos monetários e o tempo são escassos. Os economistas estudam como os agentes econômicos (famílias, empresas e Governo) tomam decisões: o quanto trabalham, o que compram, quanto poupam ou investem etc. Toda vez que um agente econômico toma uma decisão de realizar uma atividade, está abrindo mão de outra atividade que poderia fazer, o que chamamos de tradeoff (ou uma escolha conflitante). Exemplo 1: tradeoff enfrentado por um aluno que, ao terminar o ensino médio, deve decidir entre frequentar uma universidade ou trabalhar. Exemplo 2: tradeoff enfrentado hoje pelas nações entre um meio ambiente sem poluição ou um máximo nível de renda. 1 Este documento apresenta um resumo do que foi apresentado nas aulas. No entanto, não as substitui. Tampouco substitui a leitura sugerida na referência bibliográfica. 2 Para motivação completa do estudo da Economia, leia o capítulo 1 do Mankiw (2009), conforme referência bibliográfica. 2 Como as pessoas enfrentam tradeoffs, a tomada de decisões exige comparar os custos e benefícios de possibilidades alternativas de ação. O custo de oportunidade de um item é aquilo de que você abre mão para obtê‐lo. Exemplo: um estudante que precisa decidir como alocar seu recurso mais precioso – o tempo. Ele pode decidir gastar o tempo estudando Economia ou Direito. Para cada hora que passa estudando qualquer uma das disciplinas, abre mão de uma hora que poderia usar para estudar a outra ou fazer qualquer outra atividade. Dado qualquer uma das opções, a escolha acarretará em um custo. Isto é: se decidir estudar Economia haverá um custo ou uma perda associado ao fato de não estudar Direito. Este custo é chamado de “custo de oportunidade”. Na maioria das sociedades, os recursos são alocados não por um único planejador central, mas pelos atos combinados de milhões de famílias e empresas. Assim, os economistas estudam como os agentes tomam decisões. E para isso, a Economia é dividida em Micro e Macro. A Microeconomia estuda o comportamento das famílias (ou consumidores) e empresas e como interagem nos mercados. A Macroeconomia estuda os fenômenos que afetam e economia como um todo, incluindo crescimento econômico, inflação e desemprego, sistema monetário, economia internacional. Dado que os recursos são escassos, a preocupação principal da Economia moderna é a alocação ótima dos recursos. 2ª aula: Capitalismo (30/09/2013) Referência: KUNT: 1º capítulo; ARAÚJO: 2º capítulo. Como funciona o sistema econômico capitalista? O que determina o volume de produção? Qual é a origem do crescimento econômico? Como é feita a distribuição da riqueza e da renda? As questões acima foram propostas pelos autores da chamada “Escola Clássica”. O conjunto de autores da escola Clássica tinha características comuns que os uniam na mesma escola. As respostas para as perguntas acima tem variações entre os autores. Antes de responder as questões acima, vamos estudar o sistema capitalista e as características principais, dado que o sistema econômico do qual os Clássicos escreveram era o capitalista. A compreensão da natureza do sistema econômico é dada pela definição pelo modo de produção no qual se baseia [produz para um mercado ou para consumo próprio de um grupo específico? A mercadoria tem valor de uso ou valor de troca?], isto é, pelas forças produtivas e pelas relações sociais de produção [as relações são pessoais ou impessoais?]. 3 Capitalismo O capitalismo não surgiu com Adam Smith (1723 – 1790), o “pai da economia clássica”, e sim por um processo lento de um período de vários séculos. Embora não haja um acordo geral da definição de capitalismos, trata‐se de o um modelo de organização econômico caracterizado, segundo KUNT (1989), por quatro conjuntos de esquemas institucionais e comportamentais: 1) Produção de mercadorias orientada pelo mercado; O modo de produção capitalista é definido pelo excesso na produção, o se chama de excedente (KUNT chama de “excedente social”). A produção não é um meio direto de satisfação de necessidades, ou seja, as mercadorias não têm apenas valor de uso. O mercado permite adquirir moeda pela troca de produtor por moeda ou outro produto. A moeda pode ser utilizada na aquisição dos produtos desejados por seu valor de uso. Os bens podem ser trocados pelo seu valor de troca. Assim, a sociedade é caracterizada como voltada para a produção de mercadorias. A relação entre as pessoas é dada pelo mercado e assim, são interpessoais, isto é, uma pessoa não tem qualquer ligação direta com as pessoas que produzem as mercadorias que consome. 2) Propriedade privada dos meios de produção; Uma pessoa ou um grupo tem direito sobre os insumos de produção (máquinas, equipamentos, matérias‐primas, edifícios etc.). Isso define duas classes: as detentoras do capital e aquelas que podem ofertas apenas a sua forma de trabalho, como mostra a terceira característica. 3) Um grande segmento da população que não pode existir, a não ser que venda sua força de trabalho no mercado; No mercado de trabalho, o vendedor é o trabalhador. Ele vende a sua força de trabalho por um preço chamado salário. Os capitalistas são demandantes. 4) Comportamento individualista, maximizador. O comportamento individualista, que é considerado uma motivação natural é fundamental para o sistema capitalista. Se cada um tiver fazendo o melhor que pode, tornando máximo o seu desejo, o bem‐estar social será alcançado. Mas recentemente, pode‐se incluir a livre iniciativa como característica fundamental ao sistema. "Não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro ou do padeiro que esperamos o almoço, senão da defesa de seus próprios interesses" Smith (1723 – 1790). “Não há almoço grátis”. Milton Friedman (1912 – 2006). 4 Capitalismo na Constituição Brasileira O Brasil adota o capitalismo, mas onde podemos provar isto? O grau de participação do Estado depende do tipo de organização expresso na Ordem Constitucional Econômica da Constituição de 1988: Artigo 170 ‐ A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: I ‐ soberania nacional; II ‐ propriedade privada; III ‐ função social da propriedade; IV ‐ livre concorrência; V ‐ defesa do consumidor; VI ‐ defesa do meio ambiente; VII ‐ redução das desigualdades regionais e sociais; VIII ‐ busca do pleno emprego; IX ‐ tratamento favorecido para as empresasbrasileiras de capital nacional de pequeno porte. Assim, a Constituição de 1988 adota o modelo de organização econômica capitalista, sendo a livre iniciativa principio fundamenta da República. Um dos objetivos do curso é entender o funcionamento do sistema capitalista interpretado por alguns autores clássicos, a partir de Adam Smith. Muitas das questões e teorias elaboradas pelos autores selecionados são de uso prático até nos dias de hoje. Outras escolas surgiram desde estão, como por exemplos os Neoclássicos e a Escola Keynesiana. No entanto, o foco da parte I do curso, é com o pensamento econômico Clássico. Para entendê‐lo, é necessário levarmos em conta as condições institucionais e históricas em que os autores da época viveram. 3ª aula: Idéias Anteriores a Adam Smith (02/10/2013) Referência: KUNT: 1º, 2º e 3º capítulos; ARAÚJO: 3º capítulo. Não acho que o capitalismo seja justo. O capitalismo é uma fatalidade, não tem saída. Ele produz desigualdade e exploração. A natureza é injusta. A justiça é uma invenção humana. Um nasce inteligente e outro burro. Um nasce atlético, o outro aleijado. Quem que corrigir essa injustiça somos nós. A capacidade criativa do capitalismo é fundamental para a sociedade se desenvolver, para a solução da desigualdade, porque é só a produção de riqueza que resolve isso. A função do Estado é impedir que o capitalismo leve a exploração ao nível que ele quer levar. Ferreira Gullar (Revista Veja, 23/09/2012). 5 Economia pré‐capitalista Os Clássicos sucederam aos mercantilistas e fisiocratas. Mas, antes mesmo de entender as principais características econômicas desses dois grupos, vamos passar pela economia pré‐ capitalista. O sistema era organizado segundo o modelo feudalismo, baseado em trocas e não na produção. Possui hierarquia onde os fortes protegiam os fracos, ou seja, as relações não eram impessoais. Parece ser um consenso que a disseminação do comércio foi a mais importante força para desintegração do feudalismo medieval. Assim, o capitalismo surgiu com o crescimento, intensificação e expansão do comércio, que por sua vez, surgiu dado o aumento da produtividade agrícola [mesmo trabalho em menos horas, melhores técnicas, mais habilidades, novos insumos] e o consequente excedente em alimentos e manufaturas. A expansão do comércio levou ao surgimento dos negócios de longas distâncias e ao estabelecimento de cidades industriais para servir o comércio, provocando mudanças que romperam os laços da estrutura econômica feudal. Outras mudanças significativas contribuíram para o declínio do sistema senhorial e o avanço para a transição ao capitalismo: Guerra dos Cem Anos (1337‐1453) que estabeleceu a inquietação e desordem entre a França e Inglaterra; Peste negra (1348‐1349) que reduziu a população inglesa de 4 milhões para 2,5 milhões de habitantes; Surgimento da classe trabalhadora (após 1500) que tinha na venda da força de trabalho a única possibilidade de sobrevivência (antes eram protegidos pelos senhores feudal ou pela Igreja); Movimento dos Cercamentos nos séculos XV e XVI (onde habitantes foram expulsos do campo e forçados a buscar sustento nas cidades); Despertar intelectual no século XVI que promoveu o processo cientifico e aprimoramento da prática da navegação. Isto tudo levou as Grandes Descobertas. Mercantilismo: a primeira fase do capitalismo As preocupações mercantilistas eram, sobretudo, com a política econômica, com saldos na balança comercial, com o estoque de metais preciosos e com o poder do Estado. Caracterizou‐se por uma forte intervenção do Estado na economia, incluindo excessivo protecionismo. Consistiu numa série de medidas tendentes a unificar o mercado interno e teve como finalidade a formação de fortes Estados‐nacionais. Os pensadores econômicos do mercantilismo acreditavam que a fonte de lucro era a troca e não a produção, como no sistema capitalista. A explicação para eles acreditarem que o lucro vinha da troca está relacionada ao período altamente inflacionário, implicando assim que a cada troca, o lucro fosse aumentado. Desta forma, eles não conseguiram explicar de forma adequada de onde vinha o lucro, dado a instabilidade dos preços. 6 Outra teoria pouco explicada era como se determinava o valor da mercadoria. Havia diferentes opiniões e dúvidas como: “o valor de um bem era determinado pelos custos de produção ou era associado ao valor de uso?” Assim, o principal problema dos filósofos em explicar teoricamente o modelo econômico era o período de transição em uma economia inflacionária. Adicionalmente, havia o problema da Igreja Católica cuja crença cristã protecionista ainda era muito forte. Com a expansão do comercio, a visão protecionista foi sendo rejeitada por grande segmento de filósofos e economistas que estavam formulando a nova filosofia do individualismo: os motivos pessoais e egoístas eram os motivos básicos quando não únicos que levavam o homem a agir. Na obra “Leviathan (1651)”, Hobbes afirmou que até a compaixão era um tipo de auto‐ interesse. Surgiu também a teologia protestante para confirmar a ética individualista, o que transformou em virtudes os motivos pessoais e egoístas. A doutrina dizia que os homens eram justos pela fé e não pelas obras. As transformações que estavam acontecendo não permitiram a construção de uma teoria econômica coerente. Os pensadores não forma capazes de entender a economia capitalista, mesmo porque ainda não havia todas as características do novo sistema. Fisiocratas Trata‐se de um grupo que falava da maior liberdade comercial, bem com de uma força de trabalho dotada de maior mobilidade; mostravam que o excesso de regulamentação e intervenção governamental, preconizado pelos mercantilistas, já não se ajustava às necessidades da expansão econômica. O estudo deles era focado no problema da França. Eles acreditavam em uma lei natural de governança e afirmaram que os dirigentes não entendiam esta lei natural. Queria reestruturar o Estado abolindo as inúmeras tarifas, impostos, subsídios e transformar tudo isso em um único imposto. Para eles, a verdadeira riqueza das nações vinha da agricultura, era de onde vinha o excedente econômico [não é difícil entender dado que o mundo antes da revolução industrial era essencialmente agrícola, só a terra tinha a capacidade de multiplicar a riqueza]. O processo de produção deles mostra a distribuição de renda, a circulação de moeda e das mercadorias. Mesmo assim, o principal problema dos fisiocratas como corrente, cujo pai era François Quesnay (1694‐1774), é que não apresentaram uma doutrina completa e coerente como a escola Clássica. Uma hipótese é que os economistas pré‐Smith entendiam o mercado e o sistema econômico dado pelas circunstâncias da época, dentre eles: a) inflação (dada pela enxurrada de ouro nos séculos XVI e XVII; b) o custo de produção variava muito de um lugar para o outro. Não havia um consenso, por exemplo, de com era determinado o preço de um bem, o que deu origem na chamada Teoria do Valor. Alguns defendiam que o preço era determinado pelos custos de produção. E outros já entendiam que o preço a ser cobrado dependia do mercado. 7 Conclusão: pensadores econômicos anteriores a Smith não apresentaram uma analise coerente e completa do modelo capitalista, o que se justifica não pela incapacidade intelectual, mas porque as transiçõessocioeconômicas não permitiram tal feito. A indústria estava em expansão e já não era predominante a ideia naturalista dos fisiocratas, de que a riqueza vinha da natureza. Também já não fazia sentido a Idea mercantilista de excessiva intervenção do Estado. As duas correntes estavam sendo ultrapassada pelos fatos. As duas correntes anteriores não apresentaram um corpo doutrinário completo e por isso, elas não constituíram escolas, ao contrário dos Clássicos que é uma Escola com vários representantes. Na segunda aula, levantamos algumas questões que os economistas Clássicos queriam responder. O que mais eles têm em comum? O que caracteriza a Escola, isto é, qual era a preocupação principal dos economistas? Era o crescimento econômico de longo prazo e o modo como a distribuição da renda entre as diversas classes sociais influenciavam este crescimento. Como um país crescia de acordo com os Clássicos? Através da acumulação de capital. Para explicar tal crescimento pela sociedade, os Clássicos dividiram‐na entre trabalhadores, latifundiários e capitalistas3. Cada um deles aufere uma renda. Parte da renda é determinada para o consumo de toda a sociedade. Os trabalhadores consumem tudo que. O que resta da renda estará nas mãos dos latifundiários, que consumem tudo com supérfluos, e dos capitalistas, que possuem a função de acumular, reinvestir e criar bases para a expansão. Assim, só a classe capitalista era responsável pelo crescimento porque acumulava capital. O comportamento das demais classes criava obstáculos ao crescimento. Obs.: falar apenas de acumulação de capital e classes é uma visão simplificada dos clássicos e veremos que há variações sobre o mesmo tema entre eles. Outras ideias dos Clássicos Trabalho produtivo X trabalho improdutivo Para os Fisiocratas: Trabalho produtivo: agricultura. Trabalho improdutivo: os demais. Para os Capitalistas: Trabalho produtivo: que gere produção material. Trabalho improdutivo: serviços. 3 A principal diferença entre os clássicos e os neoclássicos (que é a corrente atualmente dominante na grande maioria das escolas de Economia) é que os primeiros estudavam não apenas crescimento, mas queriam entende‐lo no contexto de classes sociais, dividida em três classes. A teoria econômica moderna faz outra distinção: consumidores, firmas e Governo (como economia é a ciência da escolha, estudam‐se as escolhas de cada um dos três agentes econômicos, sendo os dois primeiros estudados pela Microeconomia. E o Governo estudado pela Macroeconomia). Dado que os recursos são escassos, a preocupação principal dos Neoclássicos é a alocação ótima dos recursos. 8 “Trabalho improdutivo” não tem sentido conotativo. Apenas não gera riqueza, na visão de cada uma das teorias. A ciência econômica é regida por leis naturais às quais cabe obedecer As leis naturais levariam o sistema ao equilíbrio e à auto‐regulação. Assim, as forças econômicas levariam a uma situação ideal e harmoniosa entre as classes. Essa é a política do laissez‐faire. Os problemas da época, inclusive a pobreza, eram causados pelo excesso de intervenção do governo.4 Adam Smith (1723 – 1790) Breve biografia: Nasceu na Escócia e dedicou sua vida integralmente aos estudos. Morou com a mãe por toda a vida, exceto quando viajava a trabalho, e nunca casou. Profissionalmente, Smith era um “nerd” que lecionou nas universidades de Glasgow e Oxford. Construiu algumas obras, mas a mais importante é de 1776, conhecida como a “Riqueza das Nações” 5. Contexto Histórico Havia sido superado o período transitório do Mercantilismo e estava sendo desencadeada a Revolução Industrial (RI). RI: desencadeada pelo rápido crescimento da demanda (procura) externa por produtos industrializados ingleses, fruto do alto crescimento da produtividade, que colocou a Inglaterra na posição de maior potência econômica do século XIX. A RI foi poderosa não apenas em termos econômicos, mas também em termos de atitudes e ideologias que transformaram radicalmente toda a Inglaterra e boa parte do mundo. Economicamente, aconteceram explosões de inovações tecnologias. Por exemplo: na indústria têxtil, houve a criação de uma máquina que necessitava apena uma pessoa para tecer vários fios ao mesmo tempo. No entanto, o motor a vapor foi sem dúvida o que impulsionou várias indústrias, como a siderúrgica. A energia a vapor foi a grande responsável pelas profundas mudanças econômicas e sociais, já que se não era mais preciso o mesmo número de trabalhadores para executar a mesma atividade, houve um deslocamento de mão de obra entre setores. A RI foi um processo que durou das últimas décadas de século XVIII até as primeiras do século XIX. A obra principal de Smith foi concluída em 1776, quando a RI estava apenas começando. Apesar de estar no território palco da RI, ainda não havia todas as características do capitalismo. Por isso, Smith é considerado um cientista muito perspicaz. 4 A Economia Neoclássica tem outra visão com relação à regulação: dadas as falhas de mercado e as falhas de governo, é necessário que haja intervenção na economia, como sugere a nossa Constituição e a Lei de Defesa da Concorrência, Lei n.º 12.529/11 5 No seu título mais completo, “Uma indagação sobre a natureza e as causas da riqueza das nações”. 9 Segundo Hunt (1989), quando estamos dentro de um evento, a tendência é que enxerguemos que se trata de uma exceção. Olhamos para o acontecimento e concluímos que não faz parte da realidade, que se trata de algo passageiro. Smith, mesmo no começo da RI, foi um cientista social que concluiu prever que as mudanças eram não apenas permanentes, mas tais mudanças eram naturais. Smith enxergou muito além da RI, mas as transformações serviram como um laboratório e uma pesquisa de campo essencial. Smith visitou, por exemplo, os lugares de produção de manufaturas (que ainda não eram consideradas fábricas por terem técnicas artesanais) e percebeu a organização capitalista na produção. Ele ficou encantado com a divisão do trabalho ou especialização do trabalho em uma manufatura de alfinetes. Nela, observou os ganhos de produtividade, dada a divisão do trabalho, uma das principais observações de Smith A opinião consensual é que Smith vai muito além de ver apenas as transformações da RI. Muito da teoria escrita por ele está presente até hoje. As teorias de História e Sociologia de Smith Como se entende as instituições sociais e o Governo de uma sociedade? Para Smith, depende do estágio de desenvolvimento econômico e social. Eram quatro estágios associados aos métodos de produção: 1) Caça: sociedades primitivas, mais baixo nível. 2) Pastoreio: produção baseada na domesticação de animais e pede‐se acumular riqueza, o gado. 3) Agricultura: economia medieval, feudal, onde a agricultura era a atividade mais importante na diferenciação de classes segundos privilégios e poder. 4) Comércio: mais alto grau de desenvolvimento social e surgiu com o aparecimento das grandes cidades europeias. Estas cidades eram vistas como dependentes do comercio exterior e, em larga escala, independente da agricultura. A Europa possui os dois últimos estágios. O capitalismo criava mercados onde os senhores feudais podiam trocar seu excedente agrícola apor produtos industrializados. A forma comercial ou capitalista não era desejaou planejada pela sociedade, acontecia de forma natural. Não só a economia e mercados eram consequências de acontecimentos naturais, dada à atuação da mão invisível, mas também o comportamento das pessoas. O método de produção e distribuição das necessidades de uma sociedade era chave para a compreensão de suas instruções sociais e governos, mas ele deixou campo de variedades locais e regionais devidas à geografia e cultura. De qualquer forma, toda sociedade estava em um dos estágios. Smith não tinha dúvida que os capitalistas eram à classe mais poderosa e dominante neste conflito por vários motivos: sua riqueza, sua capacidade de influenciar a opinião publica e seu controle de governo. 10 Teoria do Valor De forma geral, o pré‐requisito para qualquer mercadoria ter valor era que ele fosse o produto do trabalho humano (e não de máquinas). O trabalho era o primeiro preço, o dinheiro da compra inicial que era pago por todas as coisas. “Não foi com o ouro nem com a prata, mas com o trabalho que toda riqueza do mundo inicialmente foi comprada”. Smith afirmou que o pré‐requisito para qualquer mercadoria ter valor era que ela fosse o produto do trabalho humano. De forma mais detalhada, a teoria do Valor de troca da mercadoria é determinado pela quantidade de trabalho contido nesta mercadoria, mas era possível ver isso apenas nas sociedades pré‐capitalista (sem capitalistas e sem proprietários de terras) porque quando os capitalistas adquiriram o controle dos meios de produção e os proprietários de terras monopolizaram a terra e os recursos naturais, Smith achou que o valor de troca ou o preço passou a ser a soma das três partes componentes: os salários, os lucros e os alugueis. Os preços eram proporcionais às quantidades de trabalho incorporadas a mercadoria e a proporção varia de acordo com a indústria, o que justificava a Teoria da Soma – uma soma simples dos três componentes básicos do preço. No entanto, tal teoria era aplicada ao “estado inicial e rude da sociedade”, dado que o componente de um preço não tinha apenas a necessária relação com o trabalho incorporado à mercadoria. Dependia também do mercado. Preço de mercado X preço natural O preço de mercado era o verdadeiro preço da mercadoria, em determinado momento e em determinado mercado, regulado pelas forças da oferta e da demanda. O preço natural era aquele cuja receita da venda era suficiente para cobrir os custos de produção (salários, alugueis e lucros). Havia uma ligação muito forte entre eles: preço natural era o preço de equilíbrio pelo qual girava o preço de mercado. Quando o preço de mercado está acima do preço natural, a quantidade ofertada é maior do que a quantidade procurada (ou demandada), causando há um excesso de bens e uma provável redução no preço. Essa é a atuação na mão invisível. Teoria do Bem‐Estar A definição de Smith de bem‐estar econômico era bastante simples e direta. “O bem‐estar humano depende da quantidade de produto do trabalho anual e do número dos que deveriam consumi‐lo”. O nível de produção de qualquer sociedade dependia, em sua opinião do número de trabalhadores produtivo e do nível de sua produtividade. Esta, por sua vez, dependia da especialização ou graus de divisão do trabalho. Para Smith, o progresso econômico vinha da acumulação de capital produtivo6. Se os governos nada fizessem para estimular ou desestimular o investimento de capital em 6 Smith dividia a produtividade por setores, do mais produtivo para o menos produtivo: (1) agricultura; (2) indústria; (3) comércio interno; (4) comércio externo. Este escalonamento da produtividade corresponde ao que Smith julgava ser a ordem natural do desenvolvimento econômico. 11 qualquer setor, a própria busca egoísta de lucros máximos dos capitalistas levaria ao desenvolvimento econômico. As intervenções, as regulamentações, as concessões de monopólios e os subsídios especiais do Governo tendiam a alocar mal o capital e diminuir a sua contribuição para o bem‐estar econômico. Além do mais, estes atos de Governo tendiam a restringir os mercados, reduzindo, assim, a taxa de acumulação de capital e diminuindo o grau de divisão do trabalho, e com isso, o nível de produção social. O Governo só deveria ter três funções: (1) Proteger a sociedade da violência e da invasão de outras sociedades independentes; (2) Proteger todo membro da sociedade da injustiça e da opressão de qualquer um de seus membros ou a função de oferecer uma perfeita administração da Justiça; (3) Conservar certas obras públicas e de criar e manter certas instituições publica. Os mercados livres e em concorrência não só dirigiam o emprego de capital para os setores mais produtivos, como também o faria através da “mão invisível” que dirigia a maximização egoísta do lucro para canais socialmente úteis – como que fossem produzidas as mercadorias que as pessoas precisassem e mais desejadas. Conflitos de classes Os motivos egoístas levavam a conflitos individuais e conflitos de classes. Mas no contexto social do capitalismo concorrencial, estes conflitos eram apenas aparentes. A mão invisível solucionava automaticamente os conflitos. Importância de Smith: Por que ele foi diferente dos demais economistas? Porque foi o primeiro a elaborar um modelo abstrato completo e relativamente coerente da natureza, da estrutura e funcionamento do sistema econômico capitalista. Ele enxergou a ligação entre as classes sociais, os vários setores de produção, a distribuição da riqueza e da renda [como se calcula o PIB], falou do comércio, da circulação de moeda, do processo de formação de preços, do crescimento econômico [uma variedade de questões que não se havia falado antes e que, mais importante, são temas atuais, isto é, são temas cuja motivação para pesquisas são contemporâneos que têm influencia de alguma forma da principal obra de Smith]. Ele examinou não só as coerências lógicas, como também as contradições. Por isso, ele foi o primeiro a influencia no moderno pensamento econômico. Bons estudos :)
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