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EconomiaI - resumo até a 3a aula-1

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1 
 
 Universidade do Estado do Rio de Janeiro 
Faculdade de Direito 
Economia Política I em 2013‐02 
Professora: Iraci Matos Vasconcellos 
 
 
Parte I: Tópicos em História do Pensamento Econômico1 
 
 Bibliografia básica: 
 
 ARAÚJO, C. R.V. História do Pensamento Econômico – uma abordagem  introdutória. 
11ª Ed. São Paulo: Atlas, 1988.  
 
 KUNT, E. História do Pensamento Econômico – 7ª Ed. Rio de Janeiro: Campus, 1989.  
 
 MANKIW, N. Gregory. Introdução à Economia. São Paulo: Cengage Learning, 2009.  
 
1ª aula: Razões principais que levam ao estudo da Economia (25/09/2013) 
Referência: MANKIW: 1º capítulo. 
 Motivação para o estudo da Economia2. 
 
A palavra Economia vem do grego OIKONOMOS e significa “aquele que administra o lar”. Os 
lares e as economias têm muito em comum: uma família precisa tomar decisões,  já que os 
recursos monetários e o tempo são escassos.   
 
Os  economistas  estudam  como  os  agentes  econômicos  (famílias,  empresas  e  Governo) 
tomam decisões: o quanto trabalham, o que compram, quanto poupam ou investem etc. 
 
Toda  vez  que  um  agente  econômico  toma  uma  decisão  de  realizar  uma  atividade,  está 
abrindo mão de outra atividade que poderia  fazer, o que  chamamos de  tradeoff  (ou uma 
escolha conflitante). 
 
 Exemplo 1: tradeoff enfrentado por um aluno que, ao terminar o ensino médio, 
deve decidir entre frequentar uma universidade ou trabalhar. 
 
 Exemplo 2: tradeoff enfrentado hoje pelas nações entre um meio ambiente sem 
poluição ou um máximo nível de renda. 
                                                            
1  Este  documento  apresenta  um  resumo  do  que  foi  apresentado  nas  aulas.  No  entanto,  não  as  substitui.  Tampouco 
substitui a leitura sugerida na referência bibliográfica. 
2 Para motivação completa do estudo da Economia, leia o capítulo 1 do Mankiw (2009), conforme referência bibliográfica. 
2 
 
Como  as  pessoas  enfrentam  tradeoffs,  a  tomada  de  decisões  exige  comparar  os  custos  e 
benefícios de possibilidades  alternativas de  ação. O  custo de oportunidade de um  item é 
aquilo de que você abre mão para obtê‐lo.  
 Exemplo:  um  estudante  que  precisa  decidir  como  alocar  seu  recurso  mais 
precioso  –  o  tempo.  Ele  pode  decidir  gastar  o  tempo  estudando  Economia  ou 
Direito. Para cada hora que passa estudando qualquer uma das disciplinas, abre 
mão de uma hora que poderia usar para estudar a outra ou fazer qualquer outra 
atividade. Dado qualquer uma das opções, a escolha acarretará em um custo. Isto 
é: se decidir estudar Economia haverá um custo ou uma perda associado ao fato 
de não estudar Direito. Este custo é chamado de “custo de oportunidade”. 
Na maioria das sociedades, os recursos são alocados não por um único planejador central, 
mas  pelos  atos  combinados  de  milhões  de  famílias  e  empresas.  Assim,  os  economistas 
estudam como os agentes tomam decisões. E para  isso, a Economia é dividida em Micro e 
Macro. 
A Microeconomia  estuda o  comportamento das  famílias  (ou  consumidores)  e  empresas e 
como interagem nos mercados.  
A Macroeconomia estuda os  fenômenos que afetam e economia como um  todo,  incluindo 
crescimento econômico, inflação e desemprego, sistema monetário, economia internacional. 
Dado  que  os  recursos  são  escassos,  a  preocupação  principal  da  Economia  moderna  é  a 
alocação ótima dos recursos. 
 
2ª aula: Capitalismo (30/09/2013) 
Referência: KUNT: 1º capítulo; ARAÚJO: 2º capítulo. 
 Como funciona o sistema econômico capitalista? 
 O que determina o volume de produção? 
 Qual é a origem do crescimento econômico? 
 Como é feita a distribuição da riqueza e da renda? 
 
 
As questões acima foram propostas pelos autores da chamada “Escola Clássica”. O conjunto 
de autores da escola Clássica tinha características comuns que os uniam na mesma escola. As 
respostas para as perguntas acima tem variações entre os autores. 
 
Antes  de  responder  as  questões  acima,  vamos  estudar  o  sistema  capitalista  e  as 
características principais, dado que o sistema econômico do qual os Clássicos escreveram era 
o capitalista. A compreensão da natureza do sistema econômico é dada pela definição pelo 
modo de produção no qual se baseia [produz para um mercado ou para consumo próprio de 
um grupo específico? A mercadoria tem valor de uso ou valor de troca?], isto é, pelas forças 
produtivas e pelas relações sociais de produção [as relações são pessoais ou impessoais?].  
3 
 
 
 Capitalismo 
 
O capitalismo não surgiu com Adam Smith (1723 – 1790), o “pai da economia clássica”, e sim 
por um processo lento de um período de vários séculos. Embora não haja um acordo geral da 
definição de capitalismos, trata‐se de o um modelo de organização econômico caracterizado, 
segundo KUNT (1989), por quatro conjuntos de esquemas institucionais e comportamentais:  
 
1) Produção de mercadorias orientada pelo mercado;  
 
O  modo  de  produção  capitalista  é  definido  pelo  excesso  na  produção,  o  se  chama  de 
excedente  (KUNT  chama  de  “excedente  social”).    A  produção  não  é  um  meio  direto  de 
satisfação  de  necessidades,  ou  seja,  as  mercadorias  não  têm  apenas  valor  de  uso.    O 
mercado permite  adquirir moeda pela  troca de produtor por moeda ou outro produto. A 
moeda pode ser utilizada na aquisição dos produtos desejados por seu valor de uso. Os bens 
podem ser trocados pelo seu valor de troca. Assim, a sociedade é caracterizada como voltada 
para a produção de mercadorias. A relação entre as pessoas é dada pelo mercado e assim, 
são  interpessoais,  isto é, uma pessoa não  tem qualquer  ligação direta com as pessoas que 
produzem as mercadorias que consome.  
 
2) Propriedade privada dos meios de produção;  
 
Uma  pessoa  ou  um  grupo  tem  direito  sobre  os  insumos  de  produção  (máquinas, 
equipamentos, matérias‐primas,  edifícios  etc.).  Isso  define  duas  classes:  as  detentoras  do 
capital e aquelas que podem ofertas apenas a sua forma de trabalho, como mostra a terceira 
característica. 
 
3) Um grande  segmento da população que não pode existir, a não  ser que venda  sua 
força de trabalho no mercado;  
 
No mercado de trabalho, o vendedor é o trabalhador. Ele vende a sua força de trabalho por 
um preço chamado salário. Os capitalistas são demandantes. 
 
4) Comportamento individualista, maximizador. 
 
O comportamento  individualista, que é considerado uma motivação natural é  fundamental 
para o sistema capitalista. Se cada um tiver fazendo o melhor que pode, tornando máximo o 
seu  desejo,  o  bem‐estar  social  será  alcançado. Mas  recentemente,  pode‐se  incluir  a  livre 
iniciativa como característica fundamental ao sistema. 
 
 
"Não  é  da  benevolência  do  açougueiro,  do  cervejeiro  ou  do  padeiro  que  esperamos  o 
almoço, senão da defesa de seus próprios interesses"  Smith (1723 – 1790). 
 
 
“Não há almoço grátis”. Milton Friedman (1912 – 2006). 
 
 
4 
 
 Capitalismo na Constituição Brasileira 
 
 
O  Brasil  adota  o  capitalismo, mas  onde  podemos  provar  isto? O  grau  de  participação  do 
Estado  depende  do  tipo  de  organização  expresso  na Ordem  Constitucional  Econômica  da 
Constituição de 1988: 
 
Artigo  170  ‐ A  ordem  econômica,  fundada  na  valorização  do  trabalho  humano  e  na  livre 
iniciativa,  tem por  fim assegurar a  todos existência digna,  conforme os ditames da  justiça 
social, observados os seguintes princípios: 
 
I ‐ soberania nacional; 
II ‐ propriedade privada; 
III ‐ função social da propriedade; 
IV ‐ livre concorrência; 
V ‐ defesa do consumidor; 
VI ‐ defesa do meio ambiente; 
VII ‐ redução das desigualdades regionais e sociais; 
VIII ‐ busca do pleno emprego; 
IX ‐ tratamento favorecido para as empresasbrasileiras de capital nacional de pequeno 
porte. 
 
Assim, a Constituição de 1988 adota o modelo de organização econômica capitalista, sendo a 
livre iniciativa principio fundamenta da República.  
 
Um dos objetivos do curso é entender o funcionamento do sistema capitalista  interpretado 
por  alguns  autores  clássicos,  a  partir  de  Adam  Smith.  Muitas  das  questões  e  teorias 
elaboradas pelos autores selecionados são de uso prático até nos dias de hoje. 
 
Outras  escolas  surgiram  desde  estão,  como  por  exemplos  os  Neoclássicos  e  a  Escola 
Keynesiana.  No  entanto,  o  foco  da  parte  I  do  curso,  é  com  o  pensamento  econômico 
Clássico.  Para  entendê‐lo,  é  necessário  levarmos  em  conta  as  condições  institucionais  e 
históricas em que os autores da época viveram. 
 
 
3ª aula: Idéias Anteriores a Adam Smith (02/10/2013) 
Referência: KUNT: 1º, 2º e 3º capítulos; ARAÚJO: 3º capítulo. 
 
Não acho que o capitalismo seja justo. O capitalismo é uma fatalidade, não tem 
saída.  Ele  produz  desigualdade  e  exploração. A  natureza  é  injusta. A  justiça  é 
uma invenção humana. Um nasce inteligente e outro burro. Um nasce atlético, o 
outro aleijado. Quem que corrigir essa injustiça somos nós. A capacidade criativa 
do capitalismo é fundamental para a sociedade se desenvolver, para a solução da 
desigualdade, porque é só a produção de riqueza que resolve  isso. A função do 
Estado é impedir que o capitalismo leve a exploração ao nível que ele quer levar. 
Ferreira Gullar (Revista Veja, 23/09/2012). 
 
 
5 
 
 Economia pré‐capitalista 
 
Os Clássicos sucederam aos mercantilistas e  fisiocratas. Mas, antes mesmo de entender as 
principais características econômicas desses dois grupos, vamos passar pela economia pré‐
capitalista.  
 
O  sistema  era  organizado  segundo  o  modelo  feudalismo,  baseado  em  trocas  e  não  na 
produção.  Possui  hierarquia  onde  os  fortes  protegiam  os  fracos,  ou  seja,  as  relações  não 
eram impessoais. 
 
Parece ser um consenso que a disseminação do comércio foi a mais  importante  força para 
desintegração  do  feudalismo  medieval.  Assim,  o  capitalismo  surgiu  com  o  crescimento, 
intensificação  e  expansão  do  comércio,  que  por  sua  vez,  surgiu  dado  o  aumento  da 
produtividade  agrícola  [mesmo  trabalho  em  menos  horas,  melhores  técnicas,  mais 
habilidades, novos insumos] e o consequente excedente em alimentos e manufaturas.  
 
A  expansão  do  comércio  levou  ao  surgimento  dos  negócios  de  longas  distâncias  e  ao 
estabelecimento de  cidades  industriais para  servir o  comércio, provocando mudanças que 
romperam os laços da estrutura econômica feudal. 
 
Outras mudanças significativas contribuíram para o declínio do sistema senhorial e o avanço 
para a transição ao capitalismo: 
 
 Guerra dos Cem Anos (1337‐1453) que estabeleceu a inquietação e desordem entre a 
França e Inglaterra; 
 Peste  negra  (1348‐1349)  que  reduziu  a  população  inglesa  de  4  milhões  para  2,5 
milhões de habitantes; 
 Surgimento  da  classe  trabalhadora  (após  1500)  que  tinha  na  venda  da  força  de 
trabalho  a  única  possibilidade  de  sobrevivência  (antes  eram  protegidos  pelos 
senhores feudal ou pela Igreja); 
 Movimento dos Cercamentos nos séculos XV e XVI (onde habitantes foram expulsos 
do campo e forçados a buscar sustento nas cidades); 
 Despertar  intelectual  no  século  XVI  que  promoveu  o  processo  cientifico  e 
aprimoramento da prática da navegação. Isto tudo levou as Grandes Descobertas. 
 
 Mercantilismo: a primeira fase do capitalismo 
 
As preocupações mercantilistas eram, sobretudo, com a política econômica, com saldos na 
balança  comercial,  com  o  estoque  de  metais  preciosos  e  com  o  poder  do  Estado. 
Caracterizou‐se  por  uma  forte  intervenção  do  Estado  na  economia,  incluindo  excessivo 
protecionismo. Consistiu numa série de medidas  tendentes a unificar o mercado  interno e 
teve como finalidade a formação de fortes Estados‐nacionais.  
 
Os pensadores econômicos do mercantilismo acreditavam que a fonte de lucro era a troca e 
não a produção, como no sistema capitalista. A explicação para eles acreditarem que o lucro 
vinha da troca está relacionada ao período altamente  inflacionário,  implicando assim que a 
cada troca, o  lucro fosse aumentado. Desta forma, eles não conseguiram explicar de forma 
adequada de onde vinha o lucro, dado a instabilidade dos preços. 
6 
 
Outra  teoria  pouco  explicada  era  como  se  determinava  o  valor  da  mercadoria.  Havia 
diferentes opiniões e dúvidas como: “o valor de um bem era determinado pelos custos de 
produção ou era associado ao valor de uso?” 
 
Assim, o principal problema dos filósofos em explicar teoricamente o modelo econômico era 
o período de transição em uma economia inflacionária. Adicionalmente, havia o problema da 
Igreja Católica  cuja  crença  cristã protecionista  ainda  era muito  forte. Com  a  expansão do 
comercio,  a  visão  protecionista  foi  sendo  rejeitada  por  grande  segmento  de  filósofos  e 
economistas que estavam formulando a nova filosofia do individualismo: os motivos pessoais 
e egoístas eram os motivos básicos quando não únicos que  levavam o homem a agir.   Na 
obra  “Leviathan  (1651)”,  Hobbes  afirmou  que  até  a  compaixão  era  um  tipo  de  auto‐
interesse. 
 
Surgiu  também  a  teologia  protestante  para  confirmar  a  ética  individualista,  o  que 
transformou em  virtudes os motivos pessoais e egoístas. A doutrina dizia que os homens 
eram justos pela fé e não pelas obras. 
 
As  transformações que estavam acontecendo não permitiram a  construção de uma  teoria 
econômica coerente. Os pensadores não forma capazes de entender a economia capitalista, 
mesmo porque ainda não havia todas as características do novo sistema. 
 
 Fisiocratas  
 
Trata‐se de um grupo que  falava da maior  liberdade comercial, bem com de uma  força de 
trabalho  dotada  de  maior  mobilidade;  mostravam  que  o  excesso  de  regulamentação  e 
intervenção  governamental,  preconizado  pelos  mercantilistas,  já  não  se  ajustava  às 
necessidades da expansão econômica. O estudo deles era  focado no problema da França. 
Eles  acreditavam  em  uma  lei  natural  de  governança  e  afirmaram  que  os  dirigentes  não 
entendiam  esta  lei  natural.  Queria  reestruturar  o  Estado  abolindo  as  inúmeras  tarifas, 
impostos, subsídios e transformar tudo isso em um único imposto. 
 
Para  eles,  a  verdadeira  riqueza  das  nações  vinha  da  agricultura,  era  de  onde  vinha  o 
excedente  econômico  [não  é  difícil  entender  dado  que  o  mundo  antes  da  revolução 
industrial era essencialmente agrícola, só a terra tinha a capacidade de multiplicar a riqueza]. 
O processo de produção deles mostra a distribuição de renda, a circulação de moeda e das 
mercadorias. Mesmo assim, o principal problema dos fisiocratas como corrente, cujo pai era 
François Quesnay (1694‐1774), é que não apresentaram uma doutrina completa e coerente 
como a escola Clássica.  
 
Uma hipótese é que os economistas pré‐Smith entendiam o mercado e o sistema econômico 
dado pelas circunstâncias da época, dentre eles: a)  inflação  (dada pela enxurrada de ouro 
nos séculos XVI e XVII; b) o custo de produção variava muito de um lugar para o outro. Não 
havia um consenso, por exemplo, de com era determinado o preço de um bem, o que deu 
origem na chamada Teoria do Valor. Alguns defendiam que o preço era determinado pelos 
custos de produção. E outros já entendiam que o preço a ser cobrado dependia do mercado. 
 
7 
 
Conclusão:  pensadores  econômicos  anteriores  a  Smith  não  apresentaram  uma  analise 
coerente  e  completa  do  modelo  capitalista,  o  que  se  justifica  não  pela  incapacidade 
intelectual, mas porque as transiçõessocioeconômicas não permitiram tal feito. 
 
A indústria estava em expansão e já não era predominante a ideia naturalista dos fisiocratas, 
de que a  riqueza  vinha da natureza. Também  já não  fazia  sentido a  Idea mercantilista de 
excessiva intervenção do Estado. As duas correntes estavam sendo ultrapassada pelos fatos. 
 
As duas correntes anteriores não apresentaram um corpo doutrinário completo e por  isso, 
elas  não  constituíram  escolas,  ao  contrário  dos  Clássicos  que  é  uma  Escola  com  vários 
representantes.  
 
Na  segunda  aula,  levantamos  algumas  questões  que  os  economistas  Clássicos  queriam 
responder. O que mais eles  têm em comum? O que caracteriza a Escola,  isto é, qual era a 
preocupação principal dos economistas? Era o crescimento econômico de  longo prazo e o 
modo  como  a  distribuição  da  renda  entre  as  diversas  classes  sociais  influenciavam  este 
crescimento. 
 
Como um país crescia de acordo com os Clássicos? Através da acumulação de capital. Para 
explicar  tal  crescimento  pela  sociedade,  os  Clássicos  dividiram‐na  entre  trabalhadores, 
latifundiários e capitalistas3. Cada um deles aufere uma renda. Parte da renda é determinada 
para o consumo de toda a sociedade. Os trabalhadores consumem tudo que. O que resta da 
renda  estará  nas  mãos  dos  latifundiários,  que  consumem  tudo  com  supérfluos,  e  dos 
capitalistas, que possuem a  função de acumular,  reinvestir e  criar bases para a expansão. 
Assim, só a classe capitalista era responsável pelo crescimento porque acumulava capital. O 
comportamento das demais classes criava obstáculos ao crescimento. 
 
Obs.: falar apenas de acumulação de capital e classes é uma visão simplificada dos clássicos e 
veremos que há variações sobre o mesmo tema entre eles. 
 
 Outras ideias dos Clássicos 
 
 Trabalho produtivo X trabalho improdutivo 
 
Para os Fisiocratas: 
Trabalho produtivo: agricultura. 
Trabalho improdutivo: os demais. 
 
Para os Capitalistas: 
Trabalho produtivo: que gere produção material. 
Trabalho improdutivo: serviços. 
 
                                                            
3 A principal diferença entre os clássicos e os neoclássicos (que é a corrente atualmente dominante na grande maioria das 
escolas de  Economia)  é que os primeiros  estudavam não  apenas  crescimento, mas queriam  entende‐lo no  contexto de 
classes sociais, dividida em três classes. A teoria econômica moderna faz outra distinção: consumidores, firmas e Governo 
(como economia é a ciência da escolha, estudam‐se as escolhas de cada um dos três agentes econômicos, sendo os dois 
primeiros estudados pela Microeconomia. E o Governo estudado pela Macroeconomia). Dado que os recursos são escassos, 
a preocupação principal dos Neoclássicos é a alocação ótima dos recursos. 
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“Trabalho  improdutivo” não  tem sentido conotativo. Apenas não gera riqueza, na visão de 
cada uma das teorias. 
 
 A ciência econômica é regida por leis naturais às quais cabe obedecer 
As  leis  naturais  levariam  o  sistema  ao  equilíbrio  e  à  auto‐regulação.  Assim,  as  forças 
econômicas levariam a uma situação ideal e harmoniosa entre as classes. Essa é a política do 
laissez‐faire. Os problemas da época,  inclusive  a pobreza, eram  causados pelo excesso de 
intervenção do governo.4 
 
Adam Smith (1723 – 1790) 
 
 Breve biografia:  
Nasceu na Escócia e dedicou sua vida integralmente aos estudos. Morou com a mãe por toda 
a vida, exceto quando viajava a  trabalho, e nunca casou. Profissionalmente, Smith era um 
“nerd” que lecionou nas universidades de Glasgow e Oxford. Construiu algumas obras, mas a 
mais importante é de 1776, conhecida como a “Riqueza das Nações” 5. 
 
 Contexto Histórico 
 
Havia sido superado o período transitório do Mercantilismo e estava sendo desencadeada a 
Revolução Industrial (RI). 
RI:  desencadeada  pelo  rápido  crescimento  da  demanda  (procura)  externa  por  produtos 
industrializados  ingleses,  fruto  do  alto  crescimento  da  produtividade,  que  colocou  a 
Inglaterra na posição de maior potência econômica do século XIX.  
A RI foi poderosa não apenas em termos econômicos, mas também em termos de atitudes e 
ideologias que transformaram radicalmente toda a Inglaterra e boa parte do mundo. 
Economicamente,  aconteceram  explosões  de  inovações  tecnologias.  Por  exemplo:  na 
indústria  têxtil, houve a criação de uma máquina que necessitava apena uma pessoa para 
tecer  vários  fios  ao mesmo  tempo.   No  entanto,  o motor  a  vapor  foi  sem  dúvida  o  que 
impulsionou  várias  indústrias,  como  a  siderúrgica.    A  energia  a  vapor  foi  a  grande 
responsável pelas profundas mudanças econômicas e sociais, já que se não era mais preciso 
o  mesmo  número  de  trabalhadores  para  executar  a  mesma  atividade,  houve  um 
deslocamento de mão de obra entre setores. 
A  RI  foi  um  processo  que  durou  das  últimas  décadas  de  século  XVIII  até  as  primeiras  do 
século  XIX.  A  obra  principal  de  Smith  foi  concluída  em  1776,  quando  a  RI  estava  apenas 
começando.    Apesar  de  estar  no  território  palco  da  RI,  ainda  não  havia  todas  as 
características do capitalismo. Por isso, Smith é considerado um cientista muito perspicaz.  
                                                            
4 A Economia Neoclássica tem outra visão com relação à regulação: dadas as falhas de mercado e as falhas de governo, é 
necessário que haja intervenção na economia, como sugere a nossa Constituição e a Lei de Defesa da Concorrência, Lei n.º 
12.529/11 
5 No seu título mais completo, “Uma indagação sobre a natureza e as causas da riqueza das nações”. 
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Segundo  Hunt  (1989),  quando  estamos  dentro  de  um  evento,  a  tendência  é  que 
enxerguemos que  se  trata de uma exceção. Olhamos para o  acontecimento e  concluímos 
que não faz parte da realidade, que se trata de algo passageiro. Smith, mesmo no começo da 
RI,  foi  um  cientista  social  que  concluiu  prever  que  as  mudanças  eram  não  apenas 
permanentes, mas tais mudanças eram naturais. 
Smith enxergou muito além da RI, mas as transformações serviram como um  laboratório e 
uma pesquisa de  campo essencial. Smith visitou, por exemplo, os  lugares de produção de 
manufaturas  (que  ainda  não  eram  consideradas  fábricas  por  terem  técnicas  artesanais)  e 
percebeu  a  organização  capitalista  na  produção.  Ele  ficou  encantado  com  a  divisão  do 
trabalho ou especialização do trabalho em uma manufatura de alfinetes. Nela, observou os 
ganhos  de  produtividade,  dada  a  divisão  do  trabalho,  uma  das  principais  observações  de 
Smith A opinião consensual é que Smith vai muito além de ver apenas as transformações da 
RI. Muito da teoria escrita por ele está presente até hoje.  
 
 As teorias de História e Sociologia de Smith 
 
Como  se  entende  as  instituições  sociais  e  o  Governo  de  uma  sociedade?  Para  Smith, 
depende  do  estágio  de  desenvolvimento  econômico  e  social.  Eram  quatro  estágios 
associados aos métodos de produção: 
1) Caça: sociedades primitivas, mais baixo nível. 
2) Pastoreio:  produção  baseada  na  domesticação  de  animais  e  pede‐se  acumular 
riqueza, o gado. 
3) Agricultura:  economia  medieval,  feudal,  onde  a  agricultura  era  a  atividade  mais 
importante na diferenciação de classes segundos privilégios e poder. 
4) Comércio: mais alto grau de desenvolvimento social e surgiu com o aparecimento das 
grandes cidades europeias. Estas cidades eram vistas como dependentes do comercio 
exterior e, em larga escala, independente da agricultura. 
 
A Europa possui os dois últimos estágios. O capitalismo criava mercados onde os senhores 
feudais  podiam  trocar  seu  excedente  agrícola  apor  produtos  industrializados.  A  forma 
comercial  ou  capitalista  não  era  desejaou  planejada  pela  sociedade,  acontecia  de  forma 
natural. Não  só a economia e mercados eram  consequências de acontecimentos naturais, 
dada à atuação da mão invisível, mas também o comportamento das pessoas.  
O método de produção e distribuição das necessidades de uma sociedade era chave para a 
compreensão de  suas  instruções  sociais e governos, mas ele deixou  campo de  variedades 
locais e  regionais devidas à geografia e cultura. De qualquer  forma,  toda sociedade estava 
em um dos estágios. 
Smith não tinha dúvida que os capitalistas eram à classe mais poderosa e dominante neste 
conflito por vários motivos:  sua  riqueza,  sua capacidade de  influenciar a opinião publica e 
seu controle de governo. 
 
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 Teoria do Valor 
 
De  forma  geral,  o  pré‐requisito  para  qualquer  mercadoria  ter  valor  era  que  ele  fosse  o 
produto  do  trabalho  humano  (e  não  de  máquinas).  O  trabalho  era  o  primeiro  preço,  o 
dinheiro da compra inicial que era pago por todas as coisas. “Não foi com o ouro nem com a 
prata, mas com o  trabalho que  toda  riqueza do mundo  inicialmente  foi comprada”. Smith 
afirmou que o pré‐requisito para qualquer mercadoria ter valor era que ela fosse o produto 
do trabalho humano. 
De  forma mais  detalhada,  a  teoria  do  Valor  de  troca  da mercadoria  é  determinado  pela 
quantidade  de  trabalho  contido  nesta  mercadoria,  mas  era  possível  ver  isso  apenas  nas 
sociedades pré‐capitalista (sem capitalistas e sem proprietários de terras) porque quando os 
capitalistas  adquiriram  o  controle  dos  meios  de  produção  e  os  proprietários  de  terras 
monopolizaram a terra e os recursos naturais, Smith achou que o valor de troca ou o preço 
passou a ser a soma das três partes componentes: os salários, os lucros e os alugueis. 
Os  preços  eram  proporcionais  às  quantidades de  trabalho  incorporadas  a mercadoria  e  a 
proporção varia de acordo com a  indústria, o que  justificava a Teoria da Soma – uma soma 
simples  dos  três  componentes  básicos  do  preço.     No  entanto,  tal  teoria  era  aplicada  ao 
“estado inicial e rude da sociedade”, dado que o componente de um preço não tinha apenas 
a  necessária  relação  com  o  trabalho  incorporado  à  mercadoria.  Dependia  também  do 
mercado. 
 Preço de mercado X preço natural 
O preço de mercado era o verdadeiro preço da mercadoria, em determinado momento e em 
determinado mercado, regulado pelas  forças da oferta e da demanda. O preço natural era 
aquele  cuja  receita  da  venda  era  suficiente  para  cobrir  os  custos  de  produção  (salários, 
alugueis e  lucros). Havia uma  ligação muito  forte entre eles: preço natural era o preço de 
equilíbrio pelo qual girava o preço de mercado. 
Quando o preço de mercado está acima do preço natural, a quantidade ofertada é maior do 
que  a  quantidade  procurada  (ou  demandada),  causando  há  um  excesso  de  bens  e  uma 
provável redução no preço. Essa é a atuação na mão invisível. 
 
 Teoria do Bem‐Estar 
 
A definição de Smith de bem‐estar econômico era bastante simples e direta. “O bem‐estar 
humano  depende  da  quantidade  de  produto  do  trabalho  anual  e  do  número  dos  que 
deveriam consumi‐lo”. O nível de produção de qualquer sociedade dependia, em sua opinião 
do número de  trabalhadores produtivo e do nível de sua produtividade. Esta, por sua vez, 
dependia da especialização ou graus de divisão do trabalho.  
Para  Smith,  o  progresso  econômico  vinha  da  acumulação  de  capital  produtivo6.  Se  os 
governos  nada  fizessem  para  estimular  ou  desestimular  o  investimento  de  capital  em 
                                                            
6 Smith dividia a produtividade por setores, do mais produtivo para o menos produtivo:  (1) agricultura;  (2)  indústria;  (3) 
comércio  interno;  (4)  comércio  externo.  Este  escalonamento  da  produtividade  corresponde  ao  que  Smith  julgava  ser  a 
ordem natural do desenvolvimento econômico. 
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qualquer  setor,  a  própria  busca  egoísta  de  lucros  máximos  dos  capitalistas  levaria  ao 
desenvolvimento econômico. 
 
As intervenções, as regulamentações, as concessões de monopólios e os subsídios especiais 
do Governo tendiam a alocar mal o capital e diminuir a sua contribuição para o bem‐estar 
econômico.  Além  do  mais,  estes  atos  de  Governo  tendiam  a  restringir  os  mercados, 
reduzindo,  assim,  a  taxa  de  acumulação  de  capital  e  diminuindo  o  grau  de  divisão  do 
trabalho, e com isso, o nível de produção social. 
 
 O Governo só deveria ter três funções: 
 
(1) Proteger a sociedade da violência e da invasão de outras sociedades independentes; 
(2) Proteger  todo membro da sociedade da  injustiça e da opressão de qualquer um de 
seus membros ou a função de oferecer uma perfeita administração da Justiça; 
(3) Conservar certas obras públicas e de criar e manter certas instituições publica. 
 
Os mercados livres e em concorrência não só dirigiam o emprego de capital para os setores 
mais produtivos, como também o faria através da “mão invisível” que dirigia a maximização 
egoísta do lucro para canais socialmente úteis – como que fossem produzidas as mercadorias 
que as pessoas precisassem e mais desejadas. 
 
 Conflitos de classes 
 
Os motivos egoístas  levavam a conflitos  individuais e conflitos de classes. Mas no contexto 
social do capitalismo concorrencial, estes conflitos eram apenas aparentes. A mão  invisível 
solucionava automaticamente os conflitos. 
 
 Importância de Smith:  
Por  que  ele  foi  diferente  dos  demais  economistas?  Porque  foi  o  primeiro  a  elaborar  um 
modelo  abstrato  completo  e  relativamente  coerente  da  natureza,  da  estrutura  e 
funcionamento  do  sistema  econômico  capitalista.  Ele  enxergou  a  ligação  entre  as  classes 
sociais, os vários setores de produção, a distribuição da riqueza e da renda [como se calcula 
o PIB], falou do comércio, da circulação de moeda, do processo de formação de preços, do 
crescimento econômico  [uma variedade de questões que não se havia  falado antes e que, 
mais  importante,  são  temas  atuais,  isto  é,  são  temas  cuja motivação  para  pesquisas  são 
contemporâneos  que  têm  influencia  de  alguma  forma  da  principal  obra  de  Smith].  Ele 
examinou não  só  as  coerências  lógicas,  como  também  as  contradições. Por  isso, ele  foi o 
primeiro a influencia no moderno pensamento econômico. 
 
 
 
 
Bons estudos :)

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