Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO DEPARTAMENTO DE QUÍMICA PROFESSORES: EGÍDIO BEZERRA E LEVY BARRETO DOUTORANDA: JANETE GOMES DE MOURA. Metabolismo do Fósforo e Enxofre nas Plantas Trabalho apresentado como parte das exigências da disciplina Nutrição Mineral de Plantas. Recife, 22 de Novembro de 2013. 2 Introdução geral Nutrição mineral de plantas O estudo sobre nutrição de plantas tem permeado toda a história da humanidade, remontando ao abandono do nomadismo e ao estabelecimento das primeiras civilizações (Kerbauy, 2008). Atualmente, a pesquisa e o desenvolvimento no campo da Nutrição Mineral de Plantas é uma área de domínio essencialmente interdisciplinar em contínua expansão, transcendendo os limites da fisiologia vegetal e da química do solo. Como exemplo a relação da obtenção de compostos químicos realizada por vários seres vivos para suprir o seu metabolismo. A nutrição mineral e o crescimento das plantas envolvem a caracterização de elementos minerais essenciais. Na natureza, estão à disposição das plantas, quase todos os elementos da tabela periódica. Uma simples análise química de um vegetal não funcionaria para determinar quais destes elementos são essenciais, pois a planta pode absorver e armazenar em seus tecidos muitos elementos que não lhe são essenciais. Todos os elementos essenciais são encontrados dentro da planta, mas nem todos os elementos encontrados na planta são essenciais (Malavolta, 1997). É necessário determinar os nutrientes de acordo com um critério de essencialidade (Figura 1). A maneira mais comum de se determinar a essencialidade de um elemento às plantas é através de experimentos com soluções nutritivas preparadas com água e sais purificados. Assim, podem-se omitir os elementos da solução um a um, podendo ser classificados como essenciais os que atendam aos seguintes critérios: 1. Na ausência do elemento a planta não cresce normalmente nem completa o seu ciclo de vida, ou seja, não se desenvolve corretamente e não se reproduz; 2. O elemento é insubstituível, ou seja, deficiência só pode ser corrigida através do seu fornecimento e não de algum outro. 3. O elemento químico faz parte de uma molécula, de um constituinte ou de uma reação bioquímica essencial à planta. 3 Figura 1. Relação entre produtividade (ou crescimento) e conteúdo de nutriente do tecido vegetal. Nutrição de plantas Plantas crescem e se desenvolvem absorvendo água e elementos minerais do solo e dióxido de carbono (CO2) através das folhas. Uma série de elementos minerais são individualmente necessários à medida que o crescimento e o desenvolvimento somente ocorrerá se todos estão adequadamente disponíveis, e serão modificados ou cessarão se algum deles não for adequadamente suprido. O fator limitante ou deficiente muitas vezes pode ser a água, a luz solar ou até mesmo o CO2, porém mais freqüentemente será um dos elementos minerais obtidos do solo. Estes elementos podem ser facilmente fornecidos através da aplicação de fertilizantes. Às vezes solos levemente deficientes em alguns nutrientes são desejados para o plantio de tabaco, pois podem ser corrigidos e a aplicação de fertilizantes pode ser controlada, evitando um crescimento vegetativo exagerado, pois este nem sempre é desejado. Tudo isso é muito relevante para o tabaco, onde o objetivo é produzir folhas com uma composição química relativamente específica para alcançar importantes padrões de qualidade. Por isso é importante uma adubação equilibrada que contemple os requerimentos da planta e que permita que o produtor tenha uma boa produção e qualidade, gerando os melhores rendimentos. Para isso é importante saber qual a função dos nutrientes e suas interações 4 com outros elementos minerais, bem como a identificação dos sintomas de deficiência ou excesso destes nas plantas. Apesar de as plantas serem autotróficas, elas necessitam de um suprimento contínuo de elementos minerais para desempenhar suas atividades metabólicas. Esses nutrientes, derivados da intemperização de minerais do solo, da decomposição da matéria orgânica ou de adubações suplementares, são absorvidos fundamentalmente pelo sistema radicular, estando mais prontamente disponíveis às raízes aqueles que se acham dissolvidos na solução do solo. A Nutrição mineral de plantas refere-se, pois, ao suprimento e à absorção de elementos químicos necessários para o metabolismo e para o crescimento. A absorção de nutrientes é um processo tipicamente de área. A presença de pelos radiculares, que são extensões de células epidérmicas, e o aumento da área superficial de membranas plasmáticas de células da rizoderme (células de transferência) em dicotiledôneas, aumentam grandemente a área de contato da raiz com o solo e, conseqüentemente, a absorção. A taxa de absorção de um determinado nutriente dependerá de sua concentração no volume de solo ocupado pelas raízes, além de sua taxa específica de difusão ou fluxo em massa. Os nutrientes minerais são adquiridos primariamente na forma de íons inorgânicos e entram na biosfera predominantemente através do sistema radicular da planta. A grande área superficial das raízes e sua grande capacidade para absorver íons inorgânicos em baixas concentrações na solução do solo, tornam a absorção mineral pela planta um processo bastante efetivo. Além disso, outros organismos, como os fungos (micorrízicos) e as bactérias fixadoras de nitrogênio, freqüentemente contribuem para a aquisição de nutrientes pelas plantas. Depois de absorvido, os íons são transportados para as diversas partes da planta, onde são assimilados e utilizados em importantes funções biológicas. Função dos íons e sintomas de excesso e de carência nutricionais Os nutrientes essenciais são exigidos pelos vegetais em quantidades determinadas, que variam de acordo com a espécie, o estágio de desenvolvimento e a exposição a estresses ambientais ou interações ecológicas. Com exceção do C, H e O atmosféricos, os principais elementos encontram-se nos solos em combinação química diferente, sendo absorvidos somente quando sob algumas formas específicas. 5 A carência e o excesso estão relacionados com sintomas visíveis que se relacionam com sua função e mobilidade. As plantas que são deficientes em nutrientes móveis, como o N, P, K, Mg, S e Cl, apresentam sintomas em órgãos mais maduros, tais como as folhas basais. Já as plantas com deficiência em nutrientes com mobilidade intermediária, como o Fe, Zn, Cu, B, Mo, e com baixa mobilidade, como o Ca e Mn são mais afetadas nos tecidos mais jovens (Figura 2). De maneira geral os sintomas de deficiências na maioria das vezes só se tornam visíveis claramente quando a deficiência já está avançada, bem como a produção das culturas diminuírem. Os sintomas de deficiência nutricional manifestam-se principalmente nas folhas, clorose (amarelecimento) e a necrose (morte), sendo estes dois sintomas critérios para diagnose visual. A adubação é uma das principais tecnologias usadas para aumentar a produtividade e a rentabilidade das culturas, embora tenha alto custo. Figura 2. Aquisição dos nutrientes Requerimentos nutricionais As doenças nutricionais de plantas podem ser causadas tanto pela falta ou pelo excesso de certos nutrientes no solo. Embora nitrogênio, fósforo e potássio (NPK) sejam os principais nutrientes em fertilizantes, outros elementos como magnésio, cálcio, boro, enxofre, manganês, zinco, cobre e ferro também são essenciais para a produção. Boro, zinco, cobree ferro são requeridos somente em pequenas quantidades e por isso são chamados de micronutrientes. A diferença entre macronutrientes e micronutrientes é baseada somente na quantidade requerida pela planta e não pela sua importância. Os 6 macro são requeridos em quantidades relativamente altas, com respostas proximamente ligadas com as quantidades disponíveis, dentro de uma longa escala de quantidade. Os micronutrientes são requeridos em quantias muito pequenas, mas a sua falta pode causar a morte ou baixa performance. Nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K) são os três mais importantes macronutrientes. Cálcio e enxofre estão presentes na planta em razoável quantidade e também são considerados macronutrientes, mas sua importância é encoberta ou pelo fato de raramente serem deficientes ou são aplicados em quantidades suficientes nos compostos usados para suprir nitrogênio, fósforo e potássio. O magnésio, que também é requerido em boas quantidades, também deve ser aplicado de forma específica. O conteúdo específico de um determinado elemento no tecido foliar não necessariamente reflete a necessidade da planta nestas quantias; o fenômeno do consumo de luxo pode anular estas conclusões. A absorção mineral em excesso dentro de requerimentos nutricionais determinados e específicos pode ser uma indesejável ocorrência, como pode ser visto no caso do cloro. Muitas vezes é uma interação entre vários elementos ao invés de quantidades absolutas de um deles que é mais importante, e o consumo de luxo também pode ter efeitos importantes. 7 Metabolismo O metabolismo compreende os processos pelos quais os nutrientes são utilizados para o crescimento e manutenção do ser. Os nutrientes podem, principalmente, ser convertidos em material celular ou ser usados como fonte de energia. As plantas, geralmente autotróficas, não dependem do fornecimento de compostos ricos em energia produzidos por outros organismos, como, ocorre aos heterotróficos. Metabolismo mineral Refere-se aos nutrientes minerais, especificando os meios por onde eles são adquiridos do ambiente e como eles são distribuídos dentro do corpo da planta ou alocados em vários destinos (Epstein & Bloom, 2004). Componentes celulares A unidade funcional básica, fundamental, de uma planta, é a célula e a principal resposta para a questão é que os primeiros destinos dos nutrientes, uma vez adquiridos, são as paredes celulares, o citoplasma e o vacúolo. Parede celular A parede celular é quantitativamente o maior “produto” das plantas e a principal característica estrutural delas. Seu principal constituinte é o polissacarídeo fibroso – a celulose. Os constituintes adicionais da parede celular são hemicelulose, lignina, suberina, proteínas (enzimas), ceras, compostos pécticos, cálcio, boro, silício e água. As paredes celulares atuam como materiais de troca de cátions por conta de suas cargas carboxilas (-COOH - ). Elas são circundadas por aglomerados de cátions, cujas identidades dependem grandemente da composição da solução permeando as paredes. Esses cátions, sendo facilmente permutáveis, entretanto, não são parte da estrutura da parede celular. 8 Como relatado, apenas três elementos minerais foram citados como constituintes da parede celular: cálcio, boro e silício. Há elementos minerais adicionais, que são componentes integrais das proteínas e enzimas das paredes celulares, tais como: o Nitrogênio (N) e o Enxofre (S). As quantidades relativas desses três elementos mencionados variam grandemente. Os três elementos (cálcio, boro e silício) tem todos os papeis nas propriedades físicas das paredes celulares (resistência e rigidez). Vacúolo O vacúolo como a parede celular não está no fluxo principal do metabolismo celular vegetal. O vacúolo é um compartimento central aquoso com uma grande e heterogênea congregação de solutos orgânicos e inorgânicos. Sua composição varia grandemente até entre células de uma mesma planta, e ainda mais entre genótipos. Caso algum nutriente tenha um grande suprimento, mas algum outro fator limita o crescimento, onde a absorção do nutriente abundante pode chegar ao nível de “consumo luxurioso”. O principal compartimento onde esses nutrientes, temporariamente em excesso, são estocados é no vacúolo. Onde esse “consumo luxurioso” irá depender da abundância de um nutriente no meio, é, porém, outro fator que influencia contra um alto grau de estequiometria química em plantas, isto é, os elementos químicos nas plantas, especialmente os inorgânicos, não ocorrem em proporções fixas e constantes. O pH do vacúolo, entretanto, é mantido na estreita faixa de cerca de 5,0 a 5,5. Citoplasma O Citoplasma, a entidade celular em que reside a maquinaria viva de todos os organismos eucariontes, é quimicamente homogêneo em comparação com a parede celular e os vacúolos. Ele é composto de organelas que desempenham funções especificas; todas as organelas e outros grupos moleculares são conectados e suas atividades, coordenadas por uma rede de filamentos, o citoesqueleto. Como todos os organismos eucariontes compartilham um ancestral evolutivo, a expectativa seria de que a maquinaria básica de vida do citoplasma mostraria evidências da estequiometria química (ou equações químicas). As células (Figura 3) funcionam em um ambiente aquoso e sua composição interna é dominada pela água (H2O). O pH do citosol, o fluido do citoplasma, é ligeiramente acima de 7,0. As moléculas do mecanismo da vida: proteínas, lipídeos, carboidratos, nucleotídeos e outras são construídas como cadeias, 9 anéis ou espirais de átomos de carbono. Os outros elementos principais e quantitativamente ilimitados do mecanismo da vida são Nitrogênio, Fósforo e Enxofre. O citoplasma é o único compartimento celular em que é esperado um alto grau de estequiometria química. Em volume e massa, o citoplasma é o menor dos três compartimentos celulares. Ele é constituído de uma fina camada com sua divisória externa, a membrana plasmática, sendo pressionada contra a parede celular, e a interna, o tonoplasto, entre o citoplasma e o vacúolo. Devido à proeminência quantitativa de paredes celulares e vacúolos na constituição das plantas, os conteúdos da maioria dos elementos químicos pode variar bastante. Figura 3. Composição da célula vegetal. 10 Metabolismo do Fósforo e Enxofre nas Plantas Metabolismo do Fósforo nas Plantas O fósforo é crucial no metabolismo das plantas, desempenhando papel importante na transferência de energia da célula, na respiração e na fotossíntese. É também componente estrutural dos ácidos nucléicos de genes e cromossomos, assim como de muitas coenzimas, fosfoproteínas e fosfolipídeos. As limitações na disponibilidade de P no início do ciclo vegetativo podem resultar em restrições no desenvolvimento, das quais a planta não se recupera posteriormente, mesmo aumentando o suprimento de P a níveis adequados (Grant et al., 2001). Segundo Kerbauy (2004) a demanda de P pelas plantas para um crescimento ótimo está na faixa de concentração de 2 a 5 g kg -1 de matéria seca. O enxofre também é de grande importância para as plantas, o mesmo se encontra formando substancias determinantes de qualidade e desempenhando funções vitais, sobretudo, no metabolismo das albuminas e nas reações enzimáticas. Participa na formação de alguns aminoácidos (cisteina, cistina, metionina e taurina) e devido a isso está presente em todas as proteínas vegetais.Além disso, está presente em coenzimas como a ferredoxina, que contem ferro e enxofre em proporções equivalentes, atuando diretamente na fotossíntese e na fixação biológica de nitrogênio (Serrana, 2000). A demanda de enxofre pelas plantas varia entre as espécies de 1,0 a 5,0 g kg -1 de matéria seca. Entre as famílias, a ordem de exigência é a seguinte: gramíneas < leguminosas < crucíferas. Essa exigência se reflete também no teor de S das sementes, que está entre (g kg-1 de matéria seca); 1,8 – 1,9 nas gramíneas; 2,5 a 3,0 nas leguminosas; e 11 a 17 nas crucíferas. O mesmo ocorre com o conteúdo de S nas proteínas das espécies dessas famílias. Na média, as proteínas da leguminosas (relação N/S=40) contém menos S do que as dos cereais (N/S = 30). Considerando a importância dos macronutrientes nas plantas, sobretudo o fósforo e enxofre, o presente trabalho tem como objetivo abordar sobre o metabolismo de ambos nutrientes na planta. 11 Metabolismo do P nas Plantas A maior proporção do P do solo está “fixada” em formas que a planta não aproveita diretamente: fosfatos de ferro e alumínio são as mais abundantes nos solos ácidos (pH inferior a 7,0) das regiões subtropicais e tropicais. Uma fração muito pequena (20 Kg/ha é a média brasileira) é disponível para as raízes por se encontrar na solução do solo ou fracamente adsorvida no complexo coloidal (argila + matéria orgânica). Na prática agrícola as plantas dispõem de duas fontes de fósforo: o solo e o adubo. Sendo que nas regiões tropicais e subtropicais, há baixos teores de P disponível e sua ausência limita a produção das culturas principalmente aquelas anuais. Segundo Priya & Sari (2009), o fósforo é um macro nutriente essencial que tem importante papel na transferência de energia, regulação metabólica e ativação da proteína (Tabela 1). Contudo, o teor de P encontrado no solo na forma orgânica é de 50 a 80%. O P é o elemento que mais comumente limita a produção das culturas, devido a sua falta no solo. 12 Tabela 1. Classificação dos nutrientes minerais de plantas Fonte: Epstein & Bloom (2004). Papel do P nas plantas O Fósforo depois do N, o P é o elemento mais freqüentemente limitante dos solos. É principalmente absorvido com HPO-, e menos rapidamente como HPO. O pH deve ser menor que 6,8 para uma melhor disponibilidade deste elemento. Em pH elevado podem se formar ainda fosfatos de cálcio ou magnésio, que são pouco solúveis, podendo precipitar compondo assim a fase sólida e indisponível do solo. O fósforo representa menos de 1% na matéria seca. Sua atividade principal está relacionada com a floração, a frutificação, o desenvolvimento das raízes e a maturação dos órgãos vegetativos. Está presente no ácido nucléico e nos fosfolipídios. Além de suas atividades básicas, o fósforo coordena processos diversos como: respiração, divisão celular, formação de proteínas e do amido. O composto tri-fosfato de adenosina é o principal armazenador de energia, que será mais tarde transferida para os processos 13 orgânicos. É facilmente redistribuído de um órgão para o outro, indo das folhas velhas para as novas, para os frutos e sementes. As plantas bem supridas de fósforo são altamente resistentes a doenças. O fósforo participa de biomoléculas tais como DNA, RNA, fosfolipídeos, açúcares fosforilados, ATP, ADP, tendo também função reguladora, como a de ativar ou desativar enzimas. Os papéis fundamentais do P na vida da planta é com relação a sua participação nos chamados compostos ricos de energia, a exemplo, o trifosfato de adenosina (ATP), que é produzido na fosforilações oxidativas e fotossintéticas, e em menor grau, nas que se dão ao nível de substrato. O ATP, “moeda universal”, que a célula viva gasta em todos os processos termodinamicamente “morro acima”. O P também participa das reações de síntese e desdobramento de carboidratos (inclusive do amido), de síntese de proteínas, de síntese e desdobramento de óleos e gorduras, do trabalho mecânico, da absorção salina. Absorvido pelas raízes como H2PO4 - , a espécie iônica predominante na faixa de pH em que vive a planta, o P se encontra no xilema em maior proporção nessa forma, embora outras mais complexas (ésteres de carboidratos, nucleotídeos, fosforilcolina). Do mesmo modo que acontece com o N, o fósforo se redistribui facilmente na planta, em particular quando sobrevém a sua falta. As folhas mais velhas das plantas carentes em P mostram a princípio uma coloração verde-azulada, podendo ocorrer tonalidades roxas nelas e no caule. Durante o crescimento do fruto e dos tecidos meristemáticos há grande mobilização do fósforo. Age na respiração e na produção de energia. Age na divisão das células, intensificando-a; entra na composição de algumas substâncias de reserva, como os albuminóides e o amido; dá força e rigidez aos caules dos cereais; facilita a floração; aumenta a frutificação; apressa a maturação; intensifica a resistência das plantas às moléstias; contribui para o desenvolvimento do sistema radicular e para a saúde geral da planta. O fósforo age na colheita, como fator de qualidade e quantidade, isto é, contribui para uma produção maior e melhor. Participa ativamente em grande parte das reações bioquímicas, da fotossíntese, respiração, síntese de proteínas e glicídios, atuando no equilíbrio entre amido e açúcares. Como nutriente é fator de crescimento e precocidade, ativador inicial (arranque), que em geral tende a encurtar a fase vegetativa (participa em todas as reações energéticas do metabolismo). Acelera a maturação das folhas de tabaco, que está relacionada com um aumento de carboidratos (açúcares). 14 Deficiência de Fósforo (P) O fósforo é absorvido principalmente na forma de íons fosfato (H2PO4-), mas internamente na planta também se move na forma de fosforilcolina, distribuídos facilmente pelo floema. Figura 4. Fosforilcolina Desta forma estes se acumulam nas folhas mais novas, flores e sementes em desenvolvimento. Sintomas de sua deficiência aparecem em folhas mais velhas, com manchas de coloração tipicamente arroxeadas, causadas pelo acúmulo de antocianinas (pigmentos fenólicos). A expansão foliar é comprometida, há decréscimo no número de flores e atraso na iniciação floral, culminando numa baixa produção, e em casos de privação contínua, na morte da planta (Kerbauy, 2008). Absorção, transporte e redistribuição A absorção é o processo pelo qual o elemento M passa para o substrato (solo, solução nutritiva) para uma parte qualquer da célula (parede celular, citoplasma, vacúolo). Figura 5. Efeito da concentração externa de fosfato na absorção por raízes de arroz (Km = 0,167 mols/l) e feijoeiro (Km = 0,229). (MALAVOLTA et al., 1989) 15 O ácido ortofosfórico, H3PO4, dá por dissociação três espécies iônicas (H2PO4 - , HPO4 -2 e PO4 -3 ), dependendo do pH do meio, no pH que vai de 4 a 8 predomina o H2PO4 - . A absorção do fósforo é influenciada pela concentração de Mg +2 no meio, o efeito é sinergético. As micorrizas aumentam a superfície absorvente e promovem maior absorção de H2PO4. O P absorvido na forma mineral é rapidamente incorporado com compostos orgânicos, 10 minutos depois da absorção 80% do fósforo pode ser encontrado como fosfohexases e difosfato de uridina. O transporte no xilema se faz principalmente na forma de H2PO4 - podendo na seiva bruta aparecer o elemento como fosforil coalina e ésteres de carboidrato. Altas concentraçõesde Ca, Cu, Fé e Zn e um pH puco ácido pode determina a precipitação do ácido do fosfato inorgânico nos vasos do xilema. A redistribuição do P pelo floema é das mais rápidas, o elemento aparecendo ai como fosforil colina principalmente. Ocorrendo deficiência, o P não metabólico localizado no vacúolo pode sair sendo redistribuído para os órgãos mais novos cujo crescimento cessa quando acaba tal reserva. Na Figura 6 está apresentado a concentração de fósforo na cultura do algodão irrigado, onde podemos observar a sua importância no metabolismo dessa planta. Figura 6. Teor de fósforo nas folhas do cultivar BRS 187 8H cultivado sob irrigação, em função de dias após a emergência das plantas. Fonte: Brandão et al. (2009). 16 Para o P, observou-se uma variação ampla dos teores foliares ao longo das épocas de avaliação (1,68-2,84 g/kg), constatando-se que o ponto de mínimo ocorreu aos 71 dias. Nesse período, as plantas encontravam-se em pleno florescimento e formação das primeiras maçãs, caracterizado como o estádio F5. De acordo com a literatura, para lavouras de alta produtividade, no máximo florescimento são considerados teores adequados de P, da ordem de 2,5-4,0 e de 3,0-4,0 g/kg. O fósforo é um nutriente de alta demanda pelo algodoeiro, pois estimula o crescimento radicular, florescimento e desenvolvimento dos frutos. Ao contrário do N, que prolonga a fase vegetativa das plantas, o fósforo favorece a maturação dos capulhos, aumenta o rendimento e a qualidade da fibra. Fósforo nas Plantas Fosfato é facilmente redistribuído pelo floema, onde move-se como P inorgânico ou como fosforil-colina, acumulando-se, então, nas folhas mais novas e nas flores e em sementes em desenvolvimento. Como conseqüência, sintomas de sua deficiência aparecem em folhas mais velhas, com manchas de coloração tipicamente arroxeadas,causadas pelo acúmulo de antocianinas. A expansão foliar é comprometida, há decréscimo no número de flores e atraso na iniciação floral, culminando, em última instância, numa baixa produção. O fósforo apresenta-se na planta na forma de fosfato (PO4 3- ) e pirofosfato (P2O7 4- ). Com relação ao fosfato, este tem cinco funções principais: É parte de moléculas grandes ou de agrupamentos de moléculas como o DNA, RNA e os fosfolípideos das membranas (estrutural). É um transportado de substratos, como na glucose fosfato e muitas coenzimas, e como um transportador e transdutor de energia química, como na adenosina trifosfato (ATP) que pode ser visualizado na Figura 7. 17 Figura 7. Visão geral da estrutura do ATP. Participa da sinalização celular, como no inositol trifosfato. Modifica proteínas irreversivelmente. È um constituinte de biominerais (em animais) Armazenamento e fornecimento de energia (ATP- trifosfato adenosina- armazena energia e depois transfere para processos endergônicos, a energia da molécula fica disponível quando ocorre a hidrolise de um ou dois radicais fosfatado terminais o que libera 7600 cal/mol). Oxidativa – transporte de elétrons de um transportador mais eletronegativo para outro mais oxidado. O Fósforo na Fotossíntese Em investigações pioneiras (Arnon et al., 1950) descobriram que o processo inicial da fotossíntese consiste na geração de energia redutora na forma de nicotinamida adenina dinucleotídeo fosfato (NADPH) e ATP, um processo conhecido como fosforilação. A Figura 8 mostra o chamado “esquema Z” da fosforilação. O aparato fotossintético primário inteiro está localizado nas membranas tilacóides dos cloroplastos. Dois fotossistemas denominado fotossistemas I e II pela ordem de sua descoberta (mas não de suas funções) operam em série, o fotossistema II envolvido nas etapas iniciais durante as quais a energia luminosa quebra a molécula de água e liberam elétrons e oxigênio. Os elétrons são transferidos para o fotossistema I por meio de quinonas (Q) e deles para o complexo do citocromo b6 f e a plastocianina (PC). 18 Uma vez no fotossistema I, os elétrons, excitados novamente pela luz, são transferidos por um número de etapas para reduzir a ferredoxinas, que por sua vez reduz o NADPH + a NADPH. O transporte de elétrons pelos vários transportadores também gera um gradiente de concentração de prótons ao longo da membrana tilacóide e essa força movido a prótons direciona a síntese de ATP, não diferente do processo correspondente na mitocôndria. Figura 8. O esquema Z para organismos fotossintetizantes que liberam o O2. Mesmo esse breve exame das reações dependentes da luz da fotossíntese mostra o papel crucial do fósforo no NADPH, ATP e vários intermediários gerados pelo processo. Seguindo a formação de energia redutora, NADPH, e de ATP na presença de luz, a fotossíntese continua com a assimilação de carbono, nas reações que são independentes da luz. O ciclo de reação é frequentemente chamado de ciclo de Calvin- Benson, em honra a Melvin Calvin e Andy Benson que, juntos aos seus colaboradores, o descobriram, nos anos 1950. O ciclo é mostra na Figura 9, seus produtos intermediários, gerados em sucessão, são compostos fosforilados, começando com a molécula receptora ribulose 1,5-bifosfato. A seqüência que discutimos é exclusiva de plantas; sua geração de compostos de açúcar hexose fornece a energia que as plantas usam para o seu próprio crescimento, desenvolvimento e reprodução. 19 Figura 9. O ciclo de Calvin-Beanson. Fósforo na Respiração A primeira seqüência de reações nessa utilização de energia é a glicólise Figura 10. O sítio desse processo é o citosol, essa série de reações é notavelmente uniforme em todos os organismos e é o único pelo qual carboidratos são utilizados em organismos anaeróbicos. 20 Figura 10. Vista geral da respiração. Os substratos para a respiração são gerados por outros processos celulares e entram nas vias respiratórias. As vias de glicolise e da pentose fosfato no citosol e plastídio, respectivamente, convertem açucares a ácidos orgânicos via hexose fosfato e trioses fosfatos, gerando o NADPH ou NADPH e ATP. Os ácidos orgânicos são oxidados no ciclo do ácido cítrico, na mitocôndria, e o NADPH e o FADH2 produzidos fornecem a energia para síntese de ATP, pela cadeia de transporte de elétrons e ATP sintase, na fosforilação oxidativa. Na glucogênese, o carbono da quebra de lipídios é quebrado em glioxisomas, metabolizado no ciclo do ácido cítico e, então, usado para a síntese de açucares no citosol, pela glicólise reversa. Com a formação de piruvato, o metabolismo oxidativo tem seguimento via acetilcoenzima (acetil-CoA), em direção ao ciclo do ácido cítrico, em que uma pequena quantidade de ATP é gerado. O sítio das reações é a matriz mitocondrial. Entretanto, é no último estágio do metabolismo oxidativo respiratório - a cadeia de elétrons respiratória localizada no interior da membrana mitocondrial - que a maior quantidade de ATP é gerada. Por meio de uma série de transportadores de elétrons, 21 incluindo notavelmente os citocromos, os elétrons depois alcançam o complexo do citocromo a-citocromo a3, onde os elétrons são passados para o oxigênio: 2e - + 2H + + ½ O2 H2O A oxidação de um mol de glicose no metabolismo oxidativo resulta na geração de cerca de 38 mols de ATP a partir de ADP. Influencia do Fósforo na fixação simbiótica de N2 As leguminosas de maneira geral são vulneráveis a deficiência de fósforo,por este elemento influenciar na fixação simbiótica de N2. O fósforo exerce importante papel no crescimento e atividade dos nódulos. Na fixação simbiótica de N2 há uma grande exigência de fósforo para a obtenção da máxima atividade dos nódulos do que para o crescimento dos nódulos, que é apoiada através da assimilação de nitrato devido as exigências de energia na redução do N2 atmosférico. Nos tecidos do Phaseolus vulgaris L. o decréscimo na concentração de fósforo resultou em um aumento no conteúdo de carboidratos na raiz, decréscimo na taxa de respiração total e decréscimo nas concentrações do ATP da raiz. Sob condições limitantes de P em soja observa-se um decréscimo de sucrose e hexose nos nódulos (Rotaru & Sinclair, 2009). Ainda tratando-se do sistema radicular, em condições de solos ácidos, o fósforo é um fator limitante para o crescimento das plantas, pois a sua deficiência aumenta a concentração de ácidos orgânicos nas raízes de algumas plantas, bem como afeta as atividades de algumas enzimas envolvidas no metabolismo do sistema radicular de algumas espécies. Em primeira instância há um aumento na atividade do fosfoenolpiruvato carboxilase (PEP carboxilase) e da malato dehidrogenase (Li-Song Chen et al., 2007). O Fósforo e sua relação com doenças A deficiência de fósforo faz com que a planta ofereça menor barreira física a entrada do agente causal (menos lignina e suberina, por exemplo), menor resistência 22 devido a diminuição da produção de defensivos endógenos (alexinas, glicosídios, alcalóide) e variações no ambiente inter ou intracelular mais favorável na forma de acumulo de substratos que são alimentos para o fungo, bactéria e outros. Tabela 2. Principais interações entre fósforo e patógeno. Condição Efeito Deficiência Menos proteínas (geral, enzimáticas, protetoras)desregulação na absorção iônica (deficiência ou excessos induzidos; desequilíbrios entre os elementos). Falta de síntese dos percursores das alexinas, glicosídios, lignina, suberina, alcalóides. Paredes celulares menos resistentes ( menos lignina e suberina). Maturação adiantada; escape do patógeno Excesso Não há informação Fonte: Malavolta (2006). Deficiência do P nas Plantas Devido ao papel do P na síntese de proteínas, sua ausência promove o menor crescimento da planta. Os frutos e sementes acumulam quantidades também menores. A rápida redistribuição do fósforo dos órgãos mais velhos para os mais novos quando vem a carência do elemento faz com que as folhas mais velhas sejam as primeiras a mostrar os sintomas na forma de uma coloração verde-azulada, frequentemente com a tonalidade roxa da antocianina (um pigmento solúvel em água). Figura 11. Planta com deficiência de fósforo Sintomas visuais de deficiência consistem em redução na expansão, na área e número de folhas; coloração verde mais escura, porque a expansão da folha fica mais retardada do que a formação da clorofila e do cloroplastos; drástica redução na relação 23 parte aérea / raízes e senescência precoce das folhas; retardamento na formação dos órgãos reprodutivos e no início da floração e diminuição do número de flores. Sintomas de toxidade de P são raros, mas plantas sensíveis podem apresentá-los nas folhas com teores iguais ou superiores a 3mg kg-, tendo sido encontrado em sorgo e outras plantas, como pintas vermelho-escura nas folhas mais velhas. Fertilizantes fosfatados Os principais fertilizantes fosfatados comerciais são os “Superfosfatos” (fosfato monocálcico), os fosfatos de amônio e nitrofosfatos, os fosfatatos de fusão e os fosfatos naturais. O consumo brasileiro desses produtos em 1977 foi de quase 1,5 milhão de toneladas. 24 Metabolismo do Enxofre nas Plantas O Enxofre é absorvido na forma de íon sulfeto S (+6) e desse modo transporta-se no xilema. O íon sulfeto forma parte da estrutura de sulfolipídeos e polissacarídeos, mas, a maior parte dos S das plantas encontra-se nos aminoácidos metionina e cisteína. Estes aminoácidos desempenham um papel importante através da formação de pontes de dissulfeto (S-S). Em algumas proteínas a conversão entre pontes de dissulfeto e grupamentos sulfidrila (SH) pode determinar ativação ou inativação da atividade enzimática e é onde o enxofre encontra-se no estado de oxidação S(-2) e este processo de redução ocorre fundamentalmente nos cloroplastos. As proteínas contendo ferro e enxofre (ex.: ferridoxina) são importantes para a transferência de elétrons no processo de fotossíntese, na fixação biológica de N e redução de íons NO. Outros compostos essenciais que contêm S são as vitaminas timina e biotina, além da coenzima A que integra as vias metabólicas respiratórias e de biossíntese e de degradação de ácidos graxos. O Enxofre (S) nas condições de solo é absorvido pelas raízes predominantemente como SO4 -2 ; as plantas podem, porém, absorver também enxofre orgânico de aminoácidos, SO2 (gasoso) pelas folhas e até mesmo enxofre elementar (como S “molhável” finamente dividido) e também pelas folhas e frutos. Nos compostos orgânicos da planta (aminoácidos, proteínas, por exemplo) o S se apresenta reduzido, S -2 com valência -2. Daí então, segue-se que no tecido vegetal deve haver a redução do SO4 -2 (+6) para -2, o que implica a transferência de 8 elétrons. São possíveis intermediários no processo: SO4 -2 /sulfato + 6 SO3 -2 /sulfito + 4 S2O3 -2 /tiossulfato + 2 S/enxofre 0 S -2 /sulfeto – 2. O que se sabe atualmente sobre a redução do sulfato nas plantas superiores pode ser assim resumido: sulfurilase do ATP Ativação: ATP + SO4 -2 ------------------------------------ → APS +PP sulfotransferase do APS Formação de sulfito: APS + RSH------------------------------------ → RS + SO3 H + AMP 25 redutase do SO3 -2 Redução do sulfito: 6 XH + + SO3 -2 ------------------------------------ → 6 X + S-2 + 3 H2O Onde: APS = adenosina fosfossulfato (“sulfato ativo”); RSH = substrato com radical sulfidrilo (-SH); PP = pirofosfato; AMP = monofosfato de adenosina; XH = doador de elétrons desconhecido. A incorporação do S -2 em compostos orgânicos pode se dar, por exemplo, através da reação: transacetilase Serina + acetil CoA ------------------------------------ → Acetilserina + CoA; Acetilserina + S -2 → cisteína + acetato. Além de fazer parte de alguns aminoácidos e de todas as proteínas vegetais, o S desempenha outras funções: como SO4 -2 é ativador enzimático, como SH é grupo ativo de enzimas e coenzimas (acido lipóico, tiamina, biotina) na fotossíntese participa da síntese da clorofila, da absorção do CO2, da atividade da carboxilase de ribulose – 2P e de reações de fosforilação; é essencial ainda no processo de fixação de N2 pelas leguminosas noduladas. Cerca de 90% do S total das plantas corresponde a formas orgânicas. O elemento é pouco móvel no floema no floema, de modo que os sintomas de carência aparecem em primeiro lugar nas folhas mais novas como uma clorose geralmente uniforme, podendo haver tonalidades roxas. Funções do Enxofre (S) Apresenta-se associado ao nitrogênio na composição das proteínas. Encontra-selivre (atuando especialmente na regulação osmótica celular e equilíbrio iônico) e, igualmente ao NO3-, deve reduzir-se antes de incorporar-se a moléculas orgânicas. A redução assimilatória requer energia e por isso depende da fotossíntese. Componente essencial de aminoácidos como a cisteína, cistina e metionina, participa da formação de proteínas e metabólitos-chave do metabolismo orgânico (tiaminas, biotina, etc.). Desempenha funções na atividade respiratória e compostos redox. Favorece a formação de cloroplastos que são fundamentais no metabolismo de lipídeos. O enxofre é um macronutriente das plantas que é requerido para síntese protéica. Além disso, é um componente estrutural de varias coenzimas e grupos protéicos, como a ferrodoxina, que é importante para a assimilação do nitrogênio. Assim, o enxofre tem papel fundamental no crescimento das plantas e regulamento do desenvolvimento das 26 plantas. No passado, o enxofre raramente limitava o crescimento, mas hoje em dia o S tornou-se um problema crescente para a agricultura resultando na redução da qualidade e produtividade da planta (Astolfi et al., 2004). Absorvido principalmente na forma de SO4 2- , o S pode ser metabolizado nas raízes numa pequena extensão, conforme as necessidades desses órgãos; assim, a maior parte do SO4 2- absorvida é translocada como tal para a parte aérea. O enxofre presente nos aminoácidos cisteína e metionina atua como grupo funcional ou como constituinte estrutural de várias proteínas. Aí, desempenha sua principal função, formando pontes dissulfeto necessárias para a estabilização da estrutura polipeptídica. O enxofre faz parte também de sulfolipídeos e, portanto, é um componente estrutural de membranas biológicas. Outros compostos essenciais que contêm S são as vitaminas tiamina e biotina, além da coenzima A, essencial para a respiração e para a síntese e degradação de ácidos graxos. Enxofre no ambiente O enxofre ele está entre os elementos mais versáteis na biologia: Ele tem um papel fundamental na estrutura e regulação de proteínas, pois os grupos sulfurosos no aminoácido cisteina frequentemente formam pontes de bissulfeto que determinam à conformação da proteína; Figura 12. Estrutura molecular da cisteína. Ele participa no transporte fotossintético e respiratório de elétrons, por meio de agrupamentos ferro-enxofre; Os sítios catalíticos de várias enzimas como uréases e coenzima A contêm enxofre; Compostos secundários de enxofre variam de fatores Nod de rizobios, discutidos previamentes neste capitulo, a aliina anti-septica em alho e sulforafano anti- carcinogênico em brócolis. 27 A maioria do enxofre em células vegetais deriva em partes do sulfato (SO4 2- ) absorvido da solução do solo. O sulfato dos solos vem predominantemente da desagregação da rocha matriz. Além disso, a queima de combustíveis fósseis libera varias formas gasosas de enxofre, incluindo o dióxido de enxofre (SO2) e sulfeto de hidrogênio (H2S), que chega ao solo pela chuva. Quando dissolvido na água, o dióxido de enxofre é hidrolisado para se tornar H2SO4, um ácido forte, que é o principal componente danoso da chuva ácida. As plantas também podem metabolizar dióxido de enxofre capturado na forma gasosa pelos estômatos. Entretanto, a exposição prolongada (isto é, > 8h) a altas concentrações atmosféricas (isto é, > 0,3 ppm) causa amplos danos nos tecidos devido à formação de acido sulfúrico. Assimilação de Sulfato O sulfato é um dos principais solutos aniônicos requeridos para a síntese de diferentes metabólitos e coenzimas. Após a entrada do sulfato pelo solo, o mesmo pode ser acumulado e/ou armazenado no vacúolo, ou ainda ser incorporado em combinações orgânicas em um processo chamado de assimilação (Bick & Leustek, 1998). A redução de sulfato a cisteína muda o número de oxidação do enxofre de +6 para -4 e com isso acarreta a transferência de 10 elétrons. Glutationa (Figura 12), tioredoxina, ferredoxina, NAD(P)H ou O-acetilserina podem servir como doadores de elétrons em varias etapas da via Figura 13. Conforme Astolfi et al. (2004), a cisteina é um precursor da glutationa e seus derivados, pelo qual é importantante no processo de tolerância e desintoxicação das plantas. Figura 12. Glutationa reduzida 28 As folhas geralmente são muitas vezes mais ativas que das raízes na assimilação do enxofre, presumivelmente porque a fotossíntese fornece tioredoxina e ferrodoxina reduzidas e a fotorespiração gera serina, que pode estimular a produção de O- acetilserina. O enxofre assimilado nas folhas é exportado via floema para sítios de síntese de proteínas (por exemplo, parte aérea, ápices da parte aérea e de raízes, e frutos). A glutationa atua como um sinal que coordena a absorção radicular de sulfato e a assimilação deste pela parte aérea. Figura 13. Compostos envolvidos na assimilação do enxofre A primeira etapa na síntese de compostos orgânicos que contem enxofre é a redução do sulfato em aminoácido cisteína (Figura 13). Sulfato é muito estável e, então, 29 necessita ser ativado antes que reações subseqüentes possam proseguir. A ativação começa com a reação entre SO4 -2 e ATP para formar adenosina 5-fosfosulfato (APS) e pirofosfato (PPi): SO4 -2 + MgATP (APS) + PPi + Mg 2+ A enzima que catalisa esta reação, ATP sulfurilase, tem duas formas: uma maior, encontrada em plastídios e uma menor, no citoplasma. A reação de ativação é energicamente desfavorável. Para impulsionar essa reação para a frente, os produtos APS e PPi devem ser convertidos imediatamente em outros compostos. PPi é hidrolisado em fosfato inorgânico (Pi) via pirofosfatase inorgânica, de acordo com a seguinte reação: PPi + H2O 2Pi O outro produto, APS, é rapidamente reduzido ou sulfatado, onde a redução é a via dominante. A redução do APS é um processo de muitas etapas que ocorre exclusivamente nos plastídios. Primeiro, a APS redutase transfere dois elétrons aparentemente do GSH, para produzir sulfito (SO3 2- ): APS + 2 GSH SO3 2- + 2H + + GSSG + AMP Segundo a redutase do sulfito transfere 6 elétrons da ferredoxina (Fdred) para produzir sulfeto (S 2- ): SO3 2- + 6 Fdred S 2- + 6 Fdox Então, o sulfeto resultante reage com a O-acetilserina (OAS) para formar cisteína eacetato e acetato, catalisado pela serina acetiltransferase e OAS tiol-liase: Serina + acetilCoa OAS + Coa OAS + S 2- cisteína + acetato 30 A sulfatação do APS é a via alternativa que ocorre no citoplasma. Primeiro, APS quinase catalisa uma reação de APS com ATP para formar 3-fosfoadenosina-5- fosfosulfato (PAPS). APS + ATP PAPS + ADP As sulfotransferases, então, podem transferir o grupo sulfato do PAPS para vários compostos, incluindo colina, brassinosteroides, flavonol, glucosídeo de ácido gálico, glucosinalatos, peptídeos e pilossacarídeos. Regulação de Enxofre As assimilações de enxofre são bem coordenadas, com a deficiência de um elemento reprimindo a via assimilativa de outro. A regulação não ocorre apenas a nível de proteínas (o que é esperado, dado a exigência de nitrogênio e enxofre nos aminoácidos) mas também na transcrição dos RNAsm codificando para as enzimas envolvidas na assimilação de enxofre. As reações de SO3 - , ocorrem nos plastídios e envolvem a transferência de 6 elétrons de 6 moléculas de ferredoxina em aparentementeuma etapa. Tais saltos nos estados de oxidação-redução não ocorrem em qualquer outra parte da biologia e são predominantemente e são pobremente entendidas. Eles consomem uma quantidade desproporcional de energia em uma planta: plantas possuem tipicamente 2% de enxofre, mas essas reações abrangem cerca de 25% da transferência da energia transpiratória (Rotaru & Sinclair, 2009). Enxofre no mecanismo de defesa das plantas O enxofre é crucial para a sobrevivência das plantas, pois ele tem participação na defesa (SDCs) das plantas sob condições biótica e abióticas. O mecanismo de defesa (SDCs) é constituído pelo enxofre elementar (SO), H2S, glutationa, vários metabolitos secundários e proteínas ricas em enxofre (Rausch & Wachter, 2005). A glutationa (GSH) protege o citosol e outros compartimentos celulares contra o oxigênio de espécie reativa (ROS), que acumulam em resposta a fatores bióticos e 31 abióticos, a glutationa também atua como um componente do glutationa- S-transferase, ou seja, atua no processo de desintoxicação. Dentre os produtos secundários da planta que contém o enxofre e atua na defesa, o mais conhecido é o glucosinolato, o mesmo é derivado de aminoácidos e contém pelo menos dois átomos de enxofre. Trabalhos relatam que o glucosinolato contribua para a proteção de patógenos. As proteínas ricas em enxofre são estruturas complexas rica em S-Tianino, sendo tóxicos para fungos, leveduras, insetos, nematódeos e algumas bactérias gram- positivas. O Enxofre na Fotossíntese O SO2 pode causar efeitos positivos no crescimento e fisiologia das plantas em baixas concentrações, especialmente em terras com deficiências do enxofre. Porém, grandes quantidades de SO2 podem causar toxidade, redução no crescimento e uma redução na acumulação de sulfite e sulfato dentro da planta. os fatores principais que determinam a fototoxidade são: condições ambientais, duração de exposição, atmosfera, concentração de SO2, o estado do enxofre na terra e a constituição genética da planta (Saxe, 1991). O enxofre pode entrar na folhas como o CO2 pelos estômatos, caso os estômatos se encontrem fechados o SO2 pode ainda entrar nas folhas superando a resistência cuticular (Swanepoel et al., 2007). O fator de solubilidade é quase 40 vezes mais alto do que o CO2, isto permite dissolver o SO2 no apoplasto formando o sulfito de hidrogênio (HSO3) que entra na cela. Nos cloroplastos pela influencia do pH o SO2 será convertido a sulfito que vai inibir: 1. A assimilação de CO2, 2. Atividade da bifosfatase do estroma, 3. Atividade da ribulose-1,5-bifosfato carboxilase / oxigenase (rubisco), 4. fotofosforilação, 5. Operação da translocação da triose-fosfato. 32 Com o aumento do SO2 ocorre a inibição de enzimas fotossintéticas. Há também relatos de que o SO2 e sues produtos de oxidação são capazes de interferir no transporte de elétrons na fotossíntese e consequentemente o metabolismo. Deficiência do Enxofre e sintomas nas plantas Os sintomas de deficiência de enxofre consistem em clorose generalizada em toda superfície foliar. Em muitas espécies o enxofre não é facilmente redistribuído a partir dos tecidos maduros; consequentemente, esses sintomas são usualmente observados em folhas mais jovens. Contudo, em certas espécies, a clorose aparece simultaneamente tanto em folhas velhas quanto nas mais novas (Kerbauy, 2008). Com relação ao solo, os Sintomas de deficiência de S são incomuns, uma vez que a maioria dos solos o contém em quantidades apreciáveis, além de estar presente em vários adubos formulados encontrados no comércio. Quando presentes, sintomas de deficiência consistem de clorose geral extendendo-se por toda a folha. Em muitas espécies, S não é facilmente redistribuído a partir dos tecidos maduros; conseqüentemente, esses sintomas são usualmente observados, em primeiro plano, em folhas mais jovens. Contudo, em certas espécies, a clorose aparece simultaneamente, tanto em folhas velhas quanto nas mais novas. Devido a sua participação em um grande número de reações e compostos, a falta de S provoca vários distúrbios metabólicos e sintomas: Diminuição da fotossíntese e na atividade respiratória, Queda na síntese de proteínas com o aparecimento de altas relações N solúvel / N protéico, Redução o teor de gorduras, Acúmulo de carboidratos solúveis com elevação da relação C solúvel / C amido, Diminuição da fixação livre e simbiótica de N2 do ar, Clorose, primeiros nas folhas mais novas, coloração adicional em algumas plantas (laranja, vermelho, roxo), Folhas pequenas, Enrolamento das margens das folhas, Necrose e desfolhamento, Internódios curtos, 33 Redução do florescimento, Menor nodulação das leguminosas. Figura 14. Planta com deficiência de enxofre. Malavolta (1980) sabendo da importância do fósforo e enxofre nas plantas avaliou o teor adequado destes nutrientes em diversas culturas conforme pode ser observado na Tabela 3. Tabela 3. Níveis adequados dos elementos P e S em algumas culturas. Níveis adequados Culturas % P S Algodão 0,2 1,3 Amendoim 0,2 - Bananeira 0,2 - Batata 0,3 - Cacau 0,2 0,3 Cafeeiro 0,15 0,2 Cana-de-açúcar 0,2 0,2 Coqueiro 0,1 - Couve-flor 0,5 - Laranjeira 0,2 - Macieira 0,2 - Milho 0,2 0,3 Pessegueiro 0,2 - Pinus ssp. 0,2 0,2 Soja 0,3 0,3 tomateiro 0,4 0,3 Fonte: Malavolta (1980). 34 Considerações Finais O fósforo e o enxofre são macronutrientes de grande importância às plantas por participarem na constituição de compostos orgânicos, na proteção contra patógenos, bem como no metabolismo das plantas, assegurando dessa forma uma boa produção. “As plantas não têm alma para pensar”. Aristóteles 35 Referências Bibliográficas ASTOLFI, S.; ZUCHI, S.; PASSERA, C. Role of sulphur availability on cadmium induced changes of nitrogen and sulphur metabolism in maize (Zea mays L.) leaves. Journal of Plant Physiology, v. 161, p.795–802, 2004. BICK, J. A.; LEUSTEK, T. Plant sulfur metabolism -the reduction of sulfate to sulfite. Current Opinion in Plant Biology, n.1, p. 240-244, 1998. BRANDÃO, Z. N.; SOFIATTI, V.; LIMA, R. L. S.; FERREIRA, G. B.; MEDEIROS, J. C.; HENRIQUE, J. N. D.; SILVA, B. B.; BELTRÃO, N. E. M. Teores de macronutrientes no tecido foliar de plantas de algodão em diferentes estádios fenológicos. VII Congresso Brasileiro do Algodão, Foz do Iguaçu, PR-2009. [CD- Room]. CHEN, L.; TANG, N.; JIANG, H.; YAN, L.; SMITH, B.R. Changes inorganic acid metabolism differ between roots and leaves of Citrus grandis in response to phosphorus and aluminum interactions. Journal of Plant Physiology, p. 2-12, 2009. EPSTEIN, E.; BLOOM, A. Nutrição mineral de Plantas Princípios e Perspectivas. 2ª ed. Londrina: Editora Planta. p.401. 2006. GRANT, C. A.; FLATEN, D. N.; TOMASIEWICZ, D. J.; SHEPPARD, S. C. A importância do fósforo no desenvolvimento inicial da planta. Informações Agronômicas, n.95, p. 1-16, 2001. MALAVOLTA, E. Elementos da Nutrição mineral de Plantas. São Paulo: Editora Agronômica Ceres. p. 251. 1980. MALAVOLTA, E.; VITTI, G. C.; OLIVEIRA, S. A. Avaliação do estado nutricional das plantas: princípios e aplicações. 2ª ed. rev. e atual – Piracicaba: POTAFOS, São Paulo. p. 319, 1997. 36 PRIYA, P.; SAHI, S.V. Influence of phosphorus nutrition on growth and metabolism of Duograss (Duo festulolium). Plant Physiology and Biochemistry, v. 47, p. 31-36, 2009. RAUSCH, T.; WACHTER, A. Sulfur metabolism: a versatile platform for launching defence operations. TREND in Plant Science, v.10, n.10, p. 503-509, 2005. ROTARU, V.; SINCLAIR, T. R. Interactive influence of phosphorus and iron on nitrogen fixation by soybean. Environmental and Experimental Botany, v.66, p. 94- 99, 2009. SAXE, H. Photosynthesis and stomatal response to polluted air and the use of physiological and biochemical responses for easy detection and diagnostic tools. Advances in Botanical Research, n.18, p.1–28, 1991. SERRANA. A importância do enxofre. Boletim Técnico, p. 1- 4, 2000. SWANEPOEL, J. W.; KRUGER, G.H.J.; HEERDEN, P.D.R. Effects of sulphur dioxide on photosynthesis in the succulent Augea capensis Thunb. Journal of Arid Environments, n.70, p. 208–221, 2007.
Compartilhar