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7. Setor Externo

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109
TEXTO 7 
 
7. O SETOR EXTERNO 
 
A análise das relações econômicas internacionais constitui condição necessária 
para um adequado entendimento da estrutura econômica de uma determinada nação. Isto 
porque os países não são estruturas isoladas, e mesmo os mais “fechados” acabam por 
manter uma série de relações econômicas com outros países, envolvendo trocas de 
mercadorias, fatores de produção e ativos financeiros. Tais relações acabam tendo 
importantes implicações no cômputo de determinados agregados macroeconômicos. 
 
Assim, numa economia aberta, a oferta agregada passa a ser composta não 
apenas pela produção doméstica, mas também por bens e serviços produzidos por outros 
países. Por outro lado, na poupança total da economia, pode vir a incluir-se, não apenas a 
poupança interna, mas também a poupança externa. Em outras palavras, a existência de 
transações econômicas internacionais produz inúmeras implicações, não só para as 
contas nacionais, como para a própria teoria macroeconômica. 
 
Na análise que efetivamos até o momento, tratamos da determinação do produto e 
da demanda agregada, considerando apenas variáveis internas ao país. Acontece, que 
atualmente, ao menos do ponto de vista econômico, o mundo se apresenta 
crescentemente interligado, seja através dos fluxos comerciais, seja através dos fluxos 
financeiros. De modo geral as relações econômicas internacionais têm posição 
fundamental para a maioria dos países, inclusive o Brasil. As importações representam 
parcela significativa da oferta dos países, enquanto as exportações constituem importante 
elemento de demanda. 
 
A constatação da importância do setor externo no funcionamento das economias 
nacionais levou ao surgimento de importante ramo de estudo na Teoria Econômica, 
denominado “Economia Internacional”. Este ramo procura, em primeiro lugar, responder a 
perguntas como: Por que os países fazem comércio entre si e quais os benefícios deste 
comércio? Esta é a chamada parte microeconômica da análise. Do ponto de vista do que 
interessa neste texto, poderíamos dizer que os países comercializam entre si, pois não 
são auto-suficientes, isto é, não conseguem produzir tudo o que necessitam; assim, o 
bem-estar dos cidadãos e o desenvolvimento econômico podem ser maiores quando se 
comercializa com outros países. 
 
Um outro aspecto a considerar, é que a economia internacional estuda os impactos 
macroeconômicos da relação entre os países. Uma questão importante é que esta 
relação envolve moedas diferentes, colocando-se assim um segundo grupo de questões 
para a Economia Internacional, relativas às taxas de câmbio. O tipo de regime cambial 
traz conseqüências em termos de política monetária e fiscal, bem como sobre o nível de 
atividade, emprego e produto do país. É sobre este último que nos interessa analisar 
quanto os seus efeitos sobre a demanda agregada. 
 
7.1. O Comércio internacional e a demanda agregada 
 
Antes de analisarmos a influência do comércio internacional sobre a demanda 
agregada é necessário compreender por que os países comercializam entre si? Esta é a 
questão básica a ser respondida. Muitas explicações podem ser levantadas como a 
diversidade de condições de produção ou a possibilidade de redução de custos, a 
 
 
110
obtenção de economias de escala, na produção de determinado bem vendido para um 
mercado globalizado. Os economistas clássicos forneceram a explicação teórica básica 
para o comércio internacional através do chamado “Princípio das Vantagens 
Comparativas”. 
 
7.1.1. Princípios Orientadores 
 
O Princípio das Vantagens Comparativas sugere que cada país deve especializar-
se na produção daquela mercadoria em que é relativamente mais eficiente, ou que tenha 
custo relativamente menor, que será, portanto, a mercadoria a ser exportada; por outro 
lado, este mesmo país deverá importar aqueles bens cuja produção interna implicar custo 
relativamente maior, porque a produção interna é relativamente menos eficiente. Deste 
modo explica-se a especialização dos países na produção de bens diferentes, a partir da 
qual se concretiza o processo de troca entre países. 
 
Ao analisar-se a evolução do setor externo da economia brasileira nos últimos anos 
três aspectos chamam a atenção: em primeiro lugar, o gradativo abrandamento do grau 
de abertura comercial do Brasil, vis-à-vis a outros países; em segundo, a importância do 
setor externo como fator determinante das fases de crescimento e recessão do país; e, 
em terceiro, a capacidade de resposta do setor externo aos instrumentos de política 
econômica, quer na direção correta, quer na direção incorreta. 
 
O ano de 1968 pode ser considerado o início de um processo de maior abertura do 
país ao resto do mundo. A tentativa de buscar novas alternativas de crescimento ficou 
evidenciada pelas alterações da política cambial (implantação do sistema de 
minidesvalorizações) e pela criação de um sistema de incentivos às exportações. 
 
Para se ter uma idéia do que representou essa internacionalização da economia 
brasileira basta observar o comportamento de algumas variáveis: as exportações 
passaram de US$ 1,9 bilhão em 1968 para US$ 58,2 bilhões em 2001 e para US$ 
118.309 em 2005; da mesma forma, as importações saltaram de US$ 1,9 bilhão em 1968 
para US$ 55,6 bilhões em 2001e para US$ 73.551 em 2005. No mesmo período, a dívida 
externa líquida (dívida externa bruta menos reservas internacionais) passava de US$ 3,5 
bilhões (1968) para US$ 210,1 bilhões (2001). Em 2005 as exportações somaram US$ 
118,3 bilhões enquanto as importações chegaram a US$ 73,5 bilhões a dívida externa 
liquida estava em US$ 115,6. 
 
Vale observar, porém, que, ao longo desses anos, ocorreram fatos importantes na 
economia internacional. Além das crises do petróleo (1974, 1979 e “quase crise” em 
2000), o mundo assistiu a uma substancial elevação das taxas internacionais de juros 
(início dos anos 80), moratória de países devedores (Brasil, México, Argentina, Peru, nos 
anos 80, e mais recentemente a Rússia, em 1998); crescimento significativo dos fluxos 
financeiros internacionais, crises financeiras e assim por diante. Como seria de esperar, 
esses fatos impactaram a economia brasileira, gerando em alguns momentos estímulos e, 
em outros, grandes dificuldades para o país. 
 
O objetivamos de agora em diante discutir como o Brasil foi afetado pelas 
diferentes situações da economia internacional, como foram acionados internamente os 
instrumentos de política econômica, as conseqüências sobre produção, emprego e 
inflação, enfim, como se comportou o setor externo da economia brasileira nos últimos 
anos. Para o entendimento dessa questão, é fundamental discutir o significado e a 
 
 
111
composição do balanço de pagamentos, bem como outros conceitos relativos à área 
externa. 
 
7.2. O Balanço de Pagamentos. 
 
O balanço de pagamentos de um país representa o registro das transações entre o 
país e o resto do mundo. Formalmente, o balanço de pagamentos registra todas as 
transações entre residentes e não residentes de um país num determinado período de 
tempo. Em termos gerais, o balanço de pagamento é composto dos seguintes itens: 
balança comercial; balança de serviços; transferências unilaterais; balança de transações 
correntes (que representa a soma das contas anteriores); balança de capitais; uma conta 
de ajuste denominada de erros e omissões e, por fim, resultado do balanço de 
pagamento. Vejamos agora a estrutura do balanço de pagamentos do Brasil no ano de 
2005. 
 
Tabela 1 – Brasil: balanço de pagamento, ano de 2005 (em milhões de dólares). 
Discriminação 2005 
1 – Balança Comercial (saldo) 44.758
 1.1. Exportações 118.309 
 1.2. Importações -73.551 
2 – Balança de Serviços (saldo) -34.115
 2.1. Pagamento de Juros -13.496 
 2.2. Lucros e Dividendos- 12.686 
 2.3. Outros itens - 7.933 
3 – Transferências Unilaterais (saldo) 3.556
4 – Balança de Transações correntes (saldo de 1 + 2 + 3) 14.199
5 – Balança de Capitais (saldo) -8.808
 5.1. Investimentos 15.193 
 5.2. Empréstimos e Amortizações -24.001 
6 – Erros e Omissões (saldo) -1.072
7 – Resultado Final (saldo de 4 + 5 + 6) 4.319
Fonte: Conjuntura Econômica Vol.60 Nº 06 
 
A balança comercial registra as operações de compra e venda de mercadorias: em 
2005, as exportações no valor de US$ 118.309 bilhões representam ingresso de divisas e 
importações de US$ 73.551 bilhões significam saída de divisas. Como se verá adiante, a 
balança comercial ganha posição relevante no balanço de pagamentos, porque é o 
componente do balanço mais sensível aos instrumentos internos de política econômica. 
 
A balança de serviços, como o próprio nome diz, refere-se a pagamentos (saída de 
divisas) e recebimentos (entrada de divisas) relativos à remuneração de serviços. O saldo 
total da conta serviços em 2005 foi de US$ -34.115. Os principais componentes dessa 
conta são: 
 
a) juros, que se referem aos serviços da dívida externa (não incluem 
amortizações); vale destacar que os juros são devidos tanto pelo setor 
público como pelo setor privado; como o Brasil é tomador de empréstimos 
no exterior e não emprestador, a conta líquida dos juros (isto é, juros pagos 
menos recebidos) tem sido negativa; o valor de – US$ 13.496 bilhões (2005) 
representa uma saída de divisas do país; 
 
 
 
112
b) lucros e dividendos referem-se a remessas efetuadas por empresas 
estrangeiras instaladas no país para seus países de origem; embora existam 
empresas brasileiras com filiais no exterior, a presença de estrangeiras no 
Brasil é muito maior, fazendo com que o resultado líquido seja negativo 
(US$ 12.686 bilhões em 2005), isto é, saída de dólares da economia 
brasileira; 
 
c) outros, em que se pode destacar principalmente as operações com fretes e 
seguros; toda a mercadoria transacionada internacionalmente envolve 
despesa de frete e seguro; se, por exemplo, o seguro ou transporte de 
mercadoria for feito por empresa brasileira, ocorre entrada de divisas; se 
realizado por empresa estrangeira, significa saída de divisas; em 2005, essa 
conta foi deficitária em US$ 7.933 bilhões. 
 
As transferências unilaterais referem-se ao fluxo de recursos provenientes de 
pessoas trabalhando fora do país. Se um brasileiro vai trabalhar no Japão e remete parte 
de seu salário para o Brasil, será uma entrada de divisas no país. Por outro lado, se um 
japonês trabalhar no Brasil e fizer a mesma remessa para seu país de origem, implicará 
uma saída de divisas do país. No caso brasileiro, em 2005, as transferências unilaterais 
apontaram uma entrada “líquida” de divisas da ordem de US$ 3.586 bilhões. 
 
A balança de transações correntes (também conhecida como conta corrente) é a 
soma dos três itens anteriores (balança comercial, de serviços e transferências 
unilaterais). É o item mais importante do balanço de pagamentos, à medida que mostra o 
desempenho do país como o resto do mundo. Em 2005, o saldo foi positivo em US$ 
14,199 bilhões. 
 
A balança de capitais, por sua vez, indica as alternativas de cobertura do déficit 
em transações correntes quando houver. Uma das formas é o ingresso de capitais 
estrangeiros de risco (item investimentos), que podem entrar no país por meio da 
construção de uma unidade de empresa multinacional, aquisição de empresas nacionais 
por residentes fora do país. Em 2005, o Brasil conseguiu atrair investimentos de ordem de 
US$ 15.193 bilhões, número esse muito expressivo, se considerarmos que antes do 
Plano Real a entrada de recursos no Brasil por esse item era de cerca de US$ 2,0 
bilhões/ano. A outra forma de entrada de capitais é por meio de empréstimos externos 
obtidos pelo setor público junto a órgãos oficiais (Banco Mundial, FMI, Clube de Paris etc.) 
ou junto a bancos privados externos (aí pode ser tanto o setor público como o privado) e 
ainda com o lançamento de títulos de empresas públicas e privadas no exterior. É 
importante observar que esse item pode ser negativo, porque inclui empréstimos novos e 
subtrai amortizações; assim, em períodos em que há dívida vencendo e dificuldade de se 
obterem novos recursos, o resultado pode ser negativo ou positivo. Em 2005 este item 
chegou a US$ -24.001 bilhões, ou seja, saiu mais que entrou recursos neste ano, dai que 
o saldo foi de -8.808 bilhões. 
 
Se a balança de capitais registrar um saldo (positivo) maior que o saldo (negativo) 
da balança de transações correntes, diz-se que o país tem um superávit na balança de 
pagamentos. Em outras palavras, há mais divisas disponíveis do que aquela necessária 
para cobrir o déficit e estas “sobras” de moedas estrangeiras representará um aumento 
das reservas internacionais do país. Em caso contrário, isto é, se os recursos da balança 
de capitais não forem suficientes para cobrir o saldo da balança de transações correntes, 
ter-se-á um déficit na balança de pagamentos. 
 
 
 
113
Em 2005 houve soldo positivo de US$ 4.319 bilhões, o que representou uma 
ampliação do nível de reservas internacionais. 
 
7.2.1. Relações entre balança comercial e demanda agregada 
 
Como já falamos, por Balança Comercial entendem-se basicamente as 
exportações e as importações de mercadorias. Se as exportações forem maiores que as 
importações, a balança comercial do país será superavitária, se ocorrer o inverso, 
teremos uma balança comercial deficitária. 
 
Para análise do que influencia os níveis da utilização da capacidade produtiva nos 
interessa entender como a relação com o resto do mundo, ou seja, o setor externo auxilia 
nos níveis de Demanda Agregada. Esta relação se dá pelo saldo na Balança Comercial 
do país. Se o saldo for positivo, exportação maior que importação, este contribuirá para 
aumentar os níveis de Demanda Agregada, mas se o saldo for negativo, exportação 
menor que importação, este contribuirá para diminuir o grau de utilização da capacidade 
produtiva do país. 
 
Tabela 02 – Brasil: Balança Comercial em anos selecionados em milhares de 
dólares 
Anos Exportações Importações Saldo 
1990 31.414 20.661 10.753 
1995 46.506 49.858 -3.352 
2000 55.086 55.722 -636 
2005 118.309 73.551 44.758 
Fonte: FGV / Conjuntura Econômica – Vol 60 Nº 06 
 
Vejamos agora os principais fatores a determinarem o saldo da balança comercial 
que são, o nível de renda da economia e do resto do mundo, a taxa de câmbio e os 
termos de troca. Assim: 
a) quanto maior a renda interna do país maior será a demanda por produtos 
importados, logo, piora o saldo da balança comercial; 
b) quanto maior a renda do resto do mundo maior a demanda por produto do 
país melhorando o saldo da balança comercial; 
c) quanto mais desvalorizada a moeda nacional em relação às moedas 
estrangeiras, maior a competitividade dos produtos nacionais e, portanto, 
maior o estímulo às exportações e desestímulo às importações, melhora o 
saldo da balança de pagamento; 
d) quanto melhor os termos de troca, isto é, quanto mais caros forem os 
produtos que exportamos em relação aos produtos que importamos, melhor 
será o saldo da balança de pagamento nacional. 
 
7.3. A influência da taxa de câmbio 
 
Do ponto de vista dos objetivos de política econômica, vale observar que a taxa de 
câmbio pode contribuir para o aumento do PIB, por meio da elevação da exportação, que 
é um dos componentes da demanda agregada. Portanto, para incentivar a exportação e, 
portanto, o PIB, a política cambial precisa ser agressiva. A política de incentivos à 
exportação também pode ser usada para aumentar as vendas externas, embora seu grau 
de flexibilidade seja reconhecidamente menor. 
 
 
 
114
Por outro lado, desvalorizações mais pronunciadasda moeda local (e, portanto, 
aumentos da taxa de câmbio) impactam negativamente a inflação, pelo aumento dos 
preços dos produtos importados, em reais. Portanto, se o objetivo da política econômica 
está concentrado no combate à inflação, quanto mais baixo for o valor do dólar, maior 
será a contribuição da política cambial para estabilizar a inflação. A mesma contribuição 
ocorre com a redução das alíquotas do imposto de importação, como ocorreu no âmbito 
do Plano Real. 
 
Quanto ao equilíbrio externo, a experiência brasileira é muito rica em termos do 
papel da política cambial. As crises externas de 1982-1983, de 1987 e de 1998-1999 
foram superadas a partir de fortes desvalorizações da moeda brasileira. De outro lado, as 
prefixações da correção cambial de 1980, o congelamento do câmbio no Plano Cruzado e 
a política cambial do real mostraram que, quando a moeda local fica supervalorizada, a 
crise no setor externo acontece, inevitavelmente. 
 
É importante lembrar que políticas de ajustamento do balanço de pagamentos 
(redução do déficit), nas quais a política cambial tem um papel crucial, normalmente vêm 
acompanhadas de retração do ritmo de atividade econômica. Isso porque, além da 
desvalorização da moeda, objetiva-se conter a demanda agregada (redução de gastos 
públicos, aumento de impostos, aumento de juros etc.) para diminuir o volume de 
importações. Embora as importações acabem sendo afetadas, a demanda dirigida à 
produção doméstica também se contrai, levando, freqüentemente o país à recessão. 
 
Quando falamos de trocas internacionais precisamos incorporar o elemento taxa de 
câmbio. Assim, observa-se uma importante diferença do comércio internacional em 
relação ao comércio doméstico. Este último é realizado com uma mesma moeda nacional, 
enquanto no comércio internacional existe a necessidade da conversão entre diferentes 
moedas. Dentro do Brasil, a compra e venda de mercadorias são feitas com a moeda 
nacional, o Real, porém, quando um brasileiro adquire um produto alemão (importa), o 
vendedor alemão quer receber em euro (moeda da CE). Do mesmo modo, quando o 
Brasil exporta para a Japão, desejará receber o valor das exportações em reais e não em 
iens, pois ele tem seus custos, com salários, impostos, matéria-prima, etc, em reais e não 
em moeda estrangeira. Deste modo, o comércio internacional introduz um novo elemento 
a ser considerado: a taxa de câmbio. 
 
A taxa de câmbio é o valor que uma moeda nacional possui em termos de outra 
moeda nacional; é a taxa pela qual duas moedas de países diferentes podem ser 
trocadas, ou cambiadas. 
 
Assim temos, por exemplo, a taxa de câmbio do real, moeda nacional brasileira, em 
relação ao dólar norte-americano, moeda nacional dos EUA, era em dezembro de 2005 
de aproximadamente 2,20 R$/US$, ou seja, cada 1 (um) dólar valia 2,20 reais. É assim 
que através das taxas de câmbio, torna-se possível realizar as transações entre os 
países. As taxas de câmbios são basicamente determinadas através do mercado cambial. 
 
Aqui cabe uma observação importante, o mercado cambial pode ser feito com 
várias moedas como, por exemplo, o dólar, o euro ou outra moeda qualquer. No nosso 
caso usamos mais o dólar porque as nossas transações comerciais majoritariamente 
ainda são com países que tem o dólar como moeda de troca. 
 
Por mercado cambial entende-se o mercado em que as moedas dos diferentes 
países são transacionadas. Neste mercado, existem ofertas e demandas pelas várias 
 
 
115
moedas. Deste modo, temos por um lado àqueles agentes, privado ou públicos, que 
demandam determinada moeda. No Brasil, temos, por exemplo: 
i. os importadores de mercadorias que necessitam de moeda estrangeira para 
pagamento de suas faturas; 
ii. os agentes que necessitam de moeda estrangeira para saldar dívidas 
contraídas anteriormente; 
iii. as empresas estrangeiras que atuam no Brasil e desejam remeter lucros para 
a matriz; 
iv. os turistas brasileiros que viajam para o Exterior, necessitam de moeda 
estrangeira para efetuar seus gastos. 
 
A partir destes agentes, temos a demanda brasileira por moeda estrangeira. 
Porém, ao mesmo tempo, estes agentes também estão oferecendo reais no mercado 
cambial. 
 
Por outro lado, há outros agentes, que também podem ser privados ou públicos, 
por exemplo, que oferecem moeda estrangeira e procuram reais, neste caso, temos: 
i. os exportadores brasileiros; 
ii. os estrangeiros que querem investir no Brasil; 
iii. os tomadores de empréstimos no exterior; 
iv. os turistas que trazem moeda estrangeira para o Brasil, etc. 
 
As oscilações na demanda e na oferta de determinada moeda devem conduzir a 
modificações no equilíbrio deste mercado – taxa de câmbio e quantidade de moeda 
transacionada. Assim, por exemplo, um aumento dos investimentos estrangeiros no Brasil 
significa um aumento na oferta de moeda estrangeira e também um aumento na demanda 
de reais. Estes aumentos fazem com que a taxa de câmbio se modifique, valorizando o 
real e desvalorizando as moedas estrangeiras (dólar, euro, etc.). Ou seja, o preço do real 
em relação às moedas estrangeiras deve crescer e a quantidade de reais que se compra 
com um dólar ou euro ou ien deve ser menor. Assim, define-se uma valorização da 
moeda nacional, quando o poder de compra desta em relação às demais cresce, e uma 
desvalorização, quando seu poder de compra cai. 
 
A determinação da taxa de câmbio envolve diversas variáveis, sendo as 
exportações e importações consideradas como as principais. Se tais variáveis forem as 
preponderantes no mercado de divisa do país, a taxa de câmbio de equilíbrio deve refletir 
a competitividade da produção doméstica frente à do restante dos países. Entretanto, esta 
competitividade também pode ser influenciada pela taxa de câmbio, à medida que uma 
desvalorização cambial aumenta a competitividade deste país e uma valorização a 
diminua, pois, quando se desvaloriza o câmbio, aumenta-se o preço, em moeda nacional, 
dos produtos importados e possibilita-se a diminuição dos preços dos produtos 
exportados ou tomando medidas que influenciam as taxas de câmbio. Assim, os governos 
podem procurar intervir nas taxas de câmbio, por exemplo, desvalorizando-as com o 
intuito de aumentar suas exportações e diminuir as importações, conseguindo talvez 
aumentar o nível de emprego e de renda do país. Se todos os países optarem por este 
tipo de atuação, teremos uma guerra comercial, ou seja, uma guerra cambial. 
 
Como vimos, a taxa de câmbio é uma variável muito importante dentro de uma 
economia, pois ela pode influenciar o nível de produção e de inflação desta economia, 
além do próprio comércio externo e dos movimentos de capital relacionados a este país e 
de vários outros aspectos de sua economia. Deste modo, o governo procura regulamentar 
 
 
116
o mercado cambial com o objetivo de melhorar o desempenho de certas variáveis 
econômicas de seu interesse. 
 
Em suma, o nível de exportações e importações de determinado país depende 
basicamente das condições de competitividade da economia e das condições de 
demanda interna e externa. As exportações do país, como dissemos, correspondem à 
demanda de não-residentes por produtos nacionais, isto é, ampliam a demanda agregada 
do país, sendo assim, dependem do preço do produto e da renda no resto do mundo. 
Quanto menor o preço do produto nacional e quanto maior for a renda externa, maior será 
o volume de exportações. Já as importações ampliam a oferta interna e correspondem à 
demanda de residente por produtos estrangeiros, esta dependerá do preço dos produtos 
e da renda interna do país. Quanto menor o preço do produto importado e quanto maior a 
renda interna, maior será o volume de importações. 
 
Antes de continuarmos a discussão sobre política cambial, é interessante definir 
alguns conceitos.O primeiro refere-se ao termo taxa de câmbio que, na realidade, é a 
medida de conversão de uma moeda em outra moeda. No caso brasileiro, a taxa de 
câmbio tem como referência o valor do dólar norte-americano (como poderia ser outra 
moeda, euro, Px). Como se verá, a taxa de câmbio é um preço fundamental da economia, 
porque afeta a situação do setor externo, a inflação, o crescimento da produção e assim 
por diante. Já quando se fala em política de comércio exterior de um país, está-se 
referindo às decisões do governo que afetam as entradas e saídas de divisas do país em 
termos de transações comerciais (tarifas de importação, estabelecimento de quotas, 
incentivos à exportação etc.). 
 
7.4. Os Sistemas Cambiais 
 
Por sua importância como um dos preços básicos da economia, tem sido comum, 
principalmente entre os países que registram maior instabilidade, mudanças freqüentes 
na forma de condução da política cambial, dependendo das condições do mercado 
internacional e do objetivo de política econômica que está sendo perseguido. Em termos 
simplificados, pode-se dividir em três os sistemas de cambio existentes: câmbio livre, 
câmbio fixo e “minibandas”. 
 
No sistema de câmbio livre, o valor da moeda estrangeira é determinado pelas 
forças livres de mercado, isto é, oferta e demanda de dólares. A oferta de dólares como já 
dissemos, é dada pelos exportadores, pelos turistas estrangeiros que vêm ao Brasil, pelas 
empresas multinacionais, que vêm fazer investimentos, pelos empréstimos obtidos por 
empresas brasileiras no exterior, enfim, por todos os agentes que trazem dólares para o 
país. Por outro lado, a demanda de dólares é determinada pelos importadores, pelas 
empresas brasileiras que efetuam pagamento de juros ou títulos no exterior, pelas 
empresas multinacionais quando remetem juros ou lucros para seus países de origem, 
pelos turistas brasileiros quando vão ao exterior, ou seja, por todos os agentes que 
enviam dólares para fora do país. 
 
Uma das características do câmbio livre é sua alta volatilidade, como ocorreu no 
Brasil em 1999 e em 2002. Essa volatilidade é explicada pelos movimentos bruscos de 
entrada (dólares de privatização, novos empréstimos externos etc.) ou saída de dólares 
(vencimentos de empréstimos no exterior, remessa de lucros etc.). Essa volatilidade traz 
uma série de inconvenientes para o bom funcionamento da economia: em primeiro lugar, 
torna-se um campo fértil para a especulação com moeda estrangeira, trazendo incerteza 
aos agentes econômicos; em segundo, gera dificuldades para os importadores 
 
 
117
determinarem o preço (em reais) das mercadorias importadas, sejam elas bens 
intermediários ou bens finais; e, em terceiro, acaba por desestimular as exportações pela 
incerteza quanto ao valor a ser recebido pelo exportador (em reais). 
 
Essa volatilidade faz com que a maior parte dos países do mundo adotem o 
sistema chamado de “flutuação suja”. Nesse sistema, o câmbio flutua livremente, mas 
dentro de certos limites que o Banco Central não comunica ao mercado. Se a cotação 
supera o limite máximo estabelecido, o Banco Central vende moeda estrangeira, fazendo 
o contrário (comprando) quando a cotação cai abaixo do limite inferior. 
 
Um segundo sistema cambial é o de taxa fixa, no qual o valor da moeda 
estrangeira é determinado pelo governo e não se altera. A experiência mais forte nesse 
sentido é a da Argentina, que desde 1991 vinha mantendo a paridade 1 US$ = 1 peso. O 
Banco Central da Argentina, de acordo com a lei, comprometia-se a vender e a comprar 
qualquer montante de divisas à taxa estipulada, até que em 2001, depois de uma grave 
crise, teve que liberar o câmbio. 
 
Uma observação importante em relação ao sistema de câmbio fixo é o fato de o 
mesmo ser normalmente adotado por países que têm problemas inflacionários, e 
identificam no câmbio fixo uma forma de eliminar a inflação, uma vez que os preços dos 
produtos importados param de subir (a chamada “âncora cambial”). Para que esse 
programa tenha sucesso como elemento de combate à inflação, é necessária uma 
adequada condução das políticas fiscal e monetária. 
 
No Brasil, assistiu-se a vários congelamentos de taxas de câmbio, como no Plano 
Cruzado e Verão, mas os resultados em termos de combate a inflação, não tiveram êxito. 
Além disso, para a implantação de um sistema de câmbio fixo, o país precisa contar com 
um bom nível de reservas, para que o Banco Central possa fazer frente a eventuais 
ataques especulativos (agentes querendo trocar moeda local por moeda estrangeira 
acreditando que a paridade fixa não vá se manter). 
 
Por outro lado, um sistema de câmbio fixo pode comprometer as contas externas 
do país, tirando competitividade das exportações e incentivando importações, 
principalmente se mantido por um período de tempo muito longo. Essa experiência o 
Brasil viveu por ocasião do Plano Cruzado, levando inclusive o país à moratória em 1987. 
 
O terceiro sistema é, na verdade, um meio termo entre os dois primeiros: é o 
sistema de minibandas, no qual o governo estabelece (e informa ao mercado) mini-
intervalos, em que o Banco Central garante que a moeda estrangeira permanecerá. Se 
necessário, o Banco Central compra ou vende divisas para manter sua cotação dentro da 
minibandas. 
 
Esse sistema ganhou muito impulso na América Latina, principalmente a partir da 
experiência do México, que havia sido bem-sucedida até o final de 1994. O Brasil, a partir 
de 1995, passou a utilizar o sistema de minibandas, mas da mesma forma que o México, 
também teve seu sistema fracassado em janeiro de 1999. Na realidade, esse sistema, a 
exemplo do câmbio fixo, também foi adotado com objetivos antiinflacionários, mas tem 
uma pequena flexibilidade, dada pela banda, que vai gradualmente sendo alterada ao 
longo do tempo. 
 
 
 
 
 
118
7.5. Taxa de Cambio de Equilíbrio 
 
O conflito entre manter as contas externas equilibradas e combater a inflação tem 
levado a uma grande discussão sobre qual a taxa de câmbio “adequada” para um país. 
Infelizmente, essa questão não tem uma resposta objetiva, embora se possam tecer 
algumas considerações a respeito. 
 
Inicialmente, vale lembrar que a política cambial a ser adotada procura estar 
sintonizada com o objetivo que está sendo perseguido pela política econômica do país: se 
a ênfase está concentrada no controle da inflação, no equilíbrio externo ou no 
crescimento da produção. No lançamento do Plano Real, por exemplo, o objetivo da 
política econômica era o de atacar a inflação. Já em janeiro de 1999, o objetivo centrava-
se na busca do equilíbrio externo. 
 
Para discutir esse quadro, é importante avaliar os impactos das mudanças 
cambiais nas exportações e nas importações. O quadro 01 mostra que o aumento da taxa 
de câmbio tende a elevar as exportações (porque a receita em reais aumenta) e reduzir 
as importações (porque a despesa em reais aumenta). 
 
Quadro 01 – Relação entre taxa de câmbio, exportações e importações (dois 
exemplos). 
Taxa de Câmbio 
(R$ por Dólar) 
Preço do Aço 
(em US$) 
Preço do Aço 
(em US$) Exportações 
2,00 4,00 8,00 Desejam exportar mais 
1,00 4,00 4,00 Desejam exportar menos 
Taxa de Câmbio 
(R$ por Dólar) 
Preço do Petróleo 
(em US$) 
Preço do Petróleo
(em US$) Importações 
2,00 0,50 1,00 Desejam importar menos 
1,00 0,50 0,50 Desejam importar mais 
 
Feitas essas observações, a discussão pode ser iniciada supondo duas situações 
distintas: a primeira, partindo de uma situação de equilíbrio das contas externas, e a 
segunda, saindo de uma situação de desequilíbrio. 
 
A teoria de paridade do poder de compra diz que, a partir de uma situação de 
equilíbrio, a variação da taxa cambial será igual à diferença entre a inflação interna e 
externa. O impacto da inflação interna fica evidentesobre o comportamento do setor 
externo, à medida que eleva os custos da produção e, se a receita não acompanhar 
esses custos, a rentabilidade da exportação diminui ou até mesmo desaparece. Esse fato 
ocorreu na década de 60 no Chile e na Argentina, quando esses países congelaram a 
taxa de câmbio, na presença de inflação interna 
 
Outra questão importante, que impacta a evolução da taxa cambial, refere-se ao 
índice de relação de trocas de um país. O índice de relação de trocas é a relação entre o 
índice de preços de exportação (Px) e o índice de preços dos produtos importados (Pm). 
Se essa relação é desfavorável ao país (isto é, os preços de importação sobem mais que 
os de exportação), a diferença deve ser “compensada” com a desvalorização do câmbio. 
Isso porque a receita da exportação deve evoluir menos favoravelmente que as despesas 
com a importação, tendendo a gerar déficit. A forma de evitar o déficit é desvalorizar a 
moeda para compensar. 
 
 
 
119
Deve-se levar em conta também os efeitos dos ganhos de produtividade sobre a 
taxa de câmbio. Assim, se um país está registrando ganhos de produtividade (como 
ocorreu com o Brasil após a implantação do Real) superiores a de seus concorrentes, a 
taxa de câmbio que equilibra as contas externas do país pode ser reduzida, porque os 
custos de produção ficam mais baixos, exatamente em função desses ganhos de 
produtividade. 
 
É importante observar que a análise aqui efetuada está-se referindo à evolução da 
taxa de câmbio no sentido de alterar ou não a rentabilidade do exportador. Do ponto de 
vista da capacidade de competição do produto no exterior, seria necessário levar em 
conta também a evolução da produtividade dos países concorrentes. 
 
Outro ponto importante a destacar é a evolução relativa das moedas com as quais 
o Brasil mantém intercâmbio comercial. Nos anos de 1996-1998, as moedas européias e 
o ien japonês, desvalorizaram-se perante o dólar, acarretando também uma 
desvalorização em relação ao real, dado que o Brasil define sua política cambial em 
relação ao dólar. O procedimento mais correto seria levar em conta uma cesta de 
moedas, com a participação ponderada dos países com os quais o Brasil mantém 
comércio. 
 
7.6. Política de Comércio Exterior 
 
Uma análise retrospectiva das políticas de comércio exterior adotadas no mundo 
mostra que, em determinados períodos de tempo, o comércio internacional foi visto como 
um importante fator de desenvolvimento econômico, enquanto em outros, esse mesmo 
comércio representou uma ameaça às economias domésticas. Além disso, para vários 
países, principalmente na América Latina, a política de comércio exterior passou a ser 
vista como elemento estratégico nos programas de estabilização, ao tornar a concorrência 
mais acirrada no mercado interno (como ocorreu com o Brasil por ocasião da implantação 
do Plano Real). 
 
Logo após a Segunda Guerra Mundial e até 1973, o mundo assistiu a um processo 
crescente de liberalização das economias, com conseqüente redução de barreiras 
alfandegárias (a tarifa média de importação nos paises industrializados caiu de 35% para 
6% nesse período). No período 1953 a 1973, para um crescimento do PIB mundial de 
4,8% a.a., o comércio internacional aumentou 7,8% (Tabela 03). 
 
Tabela 03 – Crescimento do PIB e do volume de comércio mundial (em anos 
selecionados) entre 1953 a 1999. 
Discriminação 1953/1973 1974/1985 1986/1990 1991/1999 2003 
Comercio Mundial (A) 7,80 4,10 5,20 6,20 6,6 
PIB Mundial (B) 4,80 3,30 3,40 3,10 3,9 
Relação A/B 1,63 1,24 1,53 2,00 1,69 
Fonte: World Bank 
 
A partir de 1974, nota-se significativa alteração nas políticas de comércio exterior 
adotada no mundo. O substancial aumento dos preços do petróleo em 1974 e o 
surgimento de países emergentes com grande capacidade de competição internacional 
deram “espaço” para o surgimento de um novo conjunto de medidas protecionistas, no 
que se convencionou chamar de restrições não tarifárias. Tais medidas envolviam ações 
antidumping, quotas, licenças não automáticas de importação e assim por diante. 
 
 
 
120
No início dos anos 80, esse quadro foi reforçado com o segundo choque do 
petróleo, a escalada dos juros internacionais (conseqüência do desequilíbrio fiscal norte-
americano) e ainda a crise da dívida externa dos países em desenvolvimento. Com isso, 
no período 1974-1985, o PIB mundial cresceu 3,3% ao ano e o comércio mundial apenas 
4,1% ao ano. 
 
Para reverter essa situação de protecionismo excessivo é que se criou a 
Organização Mundial de Comércio (1986), a qual propicia, por meio de vários acordos, 
uma nova onda de redução de barreiras à importação. Embora as principais cláusulas 
acordadas no âmbito da OMC entrassem em vigor em 1995, já a partir de 1986 o 
comércio internacional é retomado, e reforçado depois com o processo de globalização, 
como se pode observar na Tabela acima. 
 
No caso brasileiro, verificam-se vários períodos distintos da política de comércio 
exterior. Nos anos 50, foi a política de substituição de importações, a qual se esgota no 
início da década de 60, e somente é substituída por uma estratégia mais agressiva de 
exportações a partir de 1968, período no qual o comércio exterior foi visto como uma 
importante “mola” do processo de desenvolvimento econômico. Acompanhando a 
tendência mundial, o período 1974-1988 é caracterizado pelo aumento das tarifas de 
importação e das restrições não tarifárias, o que transformou o Brasil numa das 
economias mais fechadas do mundo. De acordo com Silber9, entre 1980 e 1987, o grau 
de abertura da economia brasileira10 ao comércio mundial reduziu-se em 42% (de 9,4% 
em 1980 para 6,6% em 1987). 
 
A partir de 1988, essa situação inverte-se e o país inicia um novo período de 
abertura da economia. Em março de 1990, foram eliminados os regimes especiais de 
importação e as restrições não tarifárias sobre as importações. Em 1991, entrou em vigor 
um cronograma gradual de redução das tarifas de importação, cuja evolução está 
apresentada na Tabela 04. 
 
Como se pode observar, houve forte redução de tarifa entre 1988 (45%) e 1994 
(14,2%), que foi mantida nos anos iniciais do Plano Real. Posteriormente, em 1998, a 
elevação das alíquotas de importação de brinquedos, têxteis e eletroeletrônicos, entre 
outros, gerou um aumento na tarifa média de importação, que volta a se reduzir em 1999. 
 
Tabela 04 – Brasil Tarifas de Importações (em %) de 1988 a 1999. 
Ano Tarifa Média Ano Tarifa Média 
1988 45,0 1994 14,2 
1989 41,0 1995 14,5 
1990 32,2 1996 13,6 
1991 25,3 1997 13,8 
1992 21,2 1998 16,7 
1993 17,1 1999 10,8 
Fonte: Conjuntura Econômica 
 
 
 
9 Ver a respeito SILBER, 5. D. Cenário mundialeas perspectivas da economia brasileira. São Paulo: 
FIA/USP, 2000. 
10 O grau de abertura de um país é medido pela soma das exportações e Importações de um determinado 
período e dividido pelo PIB do mesmo período multiplicado por 100. Ou seja, pela fórmula: 
Grau de Abertura = 100×+
PIB
MX 
 
 
121
7.7. Outros Conceitos Importantes 
 
Além dos itens que compõem o balanço de pagamentos, existem outros conceitos 
importantes utilizados na análise do setor externo. Esses conceitos são apresentados a 
seguir. 
 
7.7.1. Índice de relação de trocas 
 
O índice de relação de trocas mede a relação entre os preços dos produtos que o 
país exporta (Px) e o preço dos produtos que o país importa (Pm) (ambos medidos em 
dólares), isto é: 
 
Pm
PxIRT = 
 
É importante observar três aspectos em relação ao índice de relação de trocas: (a) 
sempre que a relação se tornar desfavorável às exportações, isto é, o índice cair, a 
tendência é de desvalorização da moeda local, porque serão necessárias mais 
exportações para adquirir a mesma quantidadede importação; (b) é comum observar 
queda no índice, sempre que ocorre uma desvalorização cambial no país, uma vez que os 
importadores pressionam os exportadores para reduzirem os preços (em dólares) a fim de 
se apropriarem de parte dos benefícios da desvalorização cambial; e (c) sempre que os 
preços internacionais sobem excessivamente, como ocorreu com o petróleo em alguns 
períodos, os países importadores perdem no índice de relação de trocas e o câmbio é 
pressionado no sentido da desvalorização. 
 
7.8. Indicador da Situação Externa 
 
A situação externa de um país pode ser analisada através da construção de 
indicadores a partir de dados sobre a dívida externa e do balanço de pagamento. Assim, 
podem-se construir quatro indicadores. Indicador de vulnerabilidade, de 
comprometimento, de segurança e de abertura. A seguir analisaremos cada um destes 
indicadores. Com alguns dados mais detalhados de cada um destes indicadores relativos 
aos últimos anos de nossa economia. 
 
7.8.1. Indicador de vulnerabilidade 
 
O indicador ou coeficiente de vulnerabilidade é um indicador do grau de solvência 
externa de um país, e mede a relação entre a dívida externa líquida de um país (dívida 
externa – reservas internacionais) e o valor das exportações. O objetivo é verificar 
quantos anos de exportação são necessários para pagar a dívida externa. 
 
Indicador de vulnerabilidade, calculado através da relação dívida externa menos as 
reservas, dividido pelas exportações, cujo resultado representa quantos anos de 
exportações são necessários para pagar a dívida externa. Assim: 
 
 
 
Onde: DB = Dívida Externa Bruta, 
 R = Reservas Internacionais, 
 X = Exportações. 
Indicador de vulnerabilidade Externa = 
X
RDB − 
 
 
122
A Tabela 05 apresenta a evolução do coeficiente de vulnerabilidade do Brasil 
desde 1980. Chamam a atenção três períodos em que o índice se tornou muito elevado: o 
primeiro, no período 1981-1982, quando o índice ultrapassou a casa dos 4,0 (significando 
que seriam necessários mais de quatro anos de exportação para pagar toda a dívida 
externa), e o Brasil recorreu ao FMI (1982), desvalorizando a moeda; o mesmo ocorre em 
1986-1987, quando o Brasil decretou moratória da dívida externa (governo Sarney) e 
novamente desvalorizou a moeda (gestão Bresser Pereira); e, por fim, o período 1998-
1999, quando outra vez o Brasil recorreu ao FMI e desvalorizou a moeda (adoção do 
regime de câmbio flexível). 
 
Tabela 05 – Brasil: Coeficiente de vulnerabilidade em anos selecionados de 1990 a 
2005 
Anos Dívida Bruta (1) 
Reservas Externas 
(2) 
Exportações 
(3) 
Coeficiente 
(1 – 2) / (3) 
1990 123,4 10,0 31,4 3,61 
1995 159,3 51,8 46,5 2,31 
2000 216,9 33,0 55,1 3,34 
2005 179,5 53,8 118,3 1,06 
Fonte: Conjuntura Econômica Vol 60 nº 06 
 
7.8.2. Indicador de Comprometimento 
 
Vejamos agora o indicador de comprometimento que é calculado através da 
relação entre o pagamento de juros referentes à dívida externa/exportações, e representa 
a parcela das exportações comprometida com o pagamento de juros. Desta forma: 
 
 
 
Onde: Juros = Juros da Dívida Externa, 
 X = Exportações. 
 
Tabela 06 – Brasil: Coeficiente de Comprometimento em anos selecionados de 1990 
a 2005 
Anos Juros pagos (1) 
Exportações 
(2) 
Coeficiente 
(1) / (2) 
1990 9,7 31,4 0,31 
1995 8,2 46,5 0,18 
2000 14,6 55,1 0,26 
2005 13.5 118,3 0,11 
Fonte: Conjuntura Econômica Vol 60 nº 06 
 
7.8.3. Indicador de Segurança 
 
Já o indicador de segurança é calculado pela relação entre as reservas 
internacionais do país e as importações, indicando quantos meses de importações estão 
garantidos pelas reservas que dispõe. Ou seja: 
 
 
 
Onde: Reservas = Saldo de reservas estrangeiras que o país possui, 
 M = São as Importações do País. 
 
Indicador de Comprometimento = 
X
Juros 
Indicador de Segurança =
M
RESERVAS 
 
 
123
Tabela 07 – Brasil: Coeficiente de segurança em anos selecionados de 1990 a 2005 
Anos Reservas externas (1) 
Importações 
(2) 
Coeficiente 
(1) / (2) 
1990 10,0 20,7 0,34 
1995 51,8 49,7 1,04 
2000 33,0 55,8 0,59 
2005 53,8 73,6 0,73 
Fonte: Conjuntura Econômica Vol 60 nº 06 
 
7.8.4. Indicador de Abertura 
 
O último indicador é o de abertura da economia do país, que representa a relação 
do comércio exterior do país como a produção interna, ou seja, a soma das exportações e 
importações dividido pelo PIB, e multiplicado por cem. Assim: 
 
 
 
Onde: X+M = É a soma das Exportações e Importações do país 
 PIB = É o Produto Interno Bruto. 
 
Tabela 08 – Brasil: Coeficiente de abertura em anos selecionados de 1990 a 2005 
Anos Exportações (1) 
Importações 
(2) 
PIB 
(3) 
Coeficiente 
(1+2) / (3) 
1990 31,4 20,7 469,3 11,1 
1995 46,5 49,7 705,5 13,6 
2000 55,1 55,8 595,4 18,6 
2005 118,3 73,6 797,8 24,0 
Fonte: Conjuntura Econômica Vol 60 nº 06 
 
Explorada a questão conceitual, pode-se partir para uma análise da situação do 
setor externo da economia brasileira. Para facilitar a visualização das diferentes etapas 
enfrentadas pelo país, a exposição será dividida em vários períodos, que serão 
destacados em seguida. 
 
7.9. Evolução do Setor Externo 
 
Como já foi comentado no início deste texto, a partir de 1968 o Brasil adotou uma 
estratégia de maior abertura da economia ao resto do mundo. Até então, o volume de 
comércio de mercadorias do país com o resto do mundo apresentava números muito 
reduzidos, situando-se em torno de US$ 2,5 bilhões a US$ 3 bilhões (exportações mais 
importações) e praticamente estáveis nos 20 anos anteriores ao início deste processo. E, 
é bom frisar, a política cambial era a principal responsável por esse quadro de 
estagnação. 
 
Na verdade, antes de 1968, o sistema cambial adotado pelo Brasil consistia em 
desvalorizações abruptas da taxa de câmbio, em grandes intervalos de tempo, fato esse 
que trazia conseqüências desfavoráveis sobre o desempenho das principais variáveis do 
setor externo da economia. Em primeiro lugar, havia um grande risco para o exportador, 
dada a incerteza em relação ao tempo e tamanho da próxima desvalorização. Além disso, 
a atividade exportadora não contava com estímulos suficientes para aumentar seu volume 
Indicador de Abertura =
PIB
MX + 100 
 
 
124
de vendas ao exterior, em virtude de problemas relacionados à remuneração (taxa 
cambial valorizada, inexistência de incentivos fiscais etc.). Como conseqüência, a 
capacidade de importar do país também era reduzida. 
 
Além disso, as desvalorizações cambiais bruscas criavam movimentos 
especulativos em termos de importações e de fluxo de capitais. Quando eram esperadas 
desvalorizações cambiais significativas, os agentes procuravam antecipar importações e 
converter moeda nacional em moeda estrangeira, fazendo o oposto logo após a 
desvalorização. 
 
Esse sistema representava um forte obstáculo à política de desenvolvimento 
econômico, para a qual era importante a importação de equipamentos, máquinas, 
matérias-primas, componentes etc. Essa necessidade crescente de importações tenderia 
a criar fortes pressões sobre a balança de pagamentos, em razão da baixa capacidade de 
exportar do país. A constatação dessa evidência resultou, a partir de 1968, na formulação 
de uma política de desenvolvimento com ênfase nas exportações, sendo a taxa cambial 
um dos principais instrumentos dessa nova política.

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