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Razão A atividade racional

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Convite à Filosofia 
De Marilena Chaui 
Ed. Ática, São Paulo, 2000. 
Unidade 2 
A Razão 
Capítulo 2 
A atividade racional 
A atividade racional e suas modalidades 
A Filosofia distingue duas grandes modalidades da atividade racional, realizadas pela 
razão subjetiva ou pelo sujeito do conhecimento: a intuição (ou razão intuitiva) e o 
raciocínio (ou razão discursiva). 
A atividade racional discursiva, como a própria palavra indica, discorre, percorre uma 
realidade ou um objeto para chegar a conhecê-lo, isto é, realiza vários atos de 
conhecimento até conseguir captá-lo. A razão discursiva ou o pensamento discursivo 
chega ao objeto passando por etapas sucessivas de conhecimento, realizando esforços 
sucessivos de aproximação para chegar ao conceito ou à definição do objeto. 
A razão intuitiva ou intuição, ao contrário, consiste num único ato do espírito, que, de 
uma só vez, capta por inteiro e completamente o objeto. Em latim, intuitos significa: ver. 
A intuição é uma visão direta e imediata do objeto do conhecimento, um contato direto e 
imediato com ele, sem necessidade de provas ou demonstrações para saber o que 
conhece. 
A intuição 
A intuição é uma compreensão global e instantânea de uma verdade, de um objeto, de 
um fato. Nela, de uma só vez, a razão capta todas as relações que constituem a 
realidade e a verdade da coisa intuída. É um ato intelectual de discernimento e 
compreensão, como, por exemplo, tem um médico quando faz um diagnóstico e 
apreende de uma só vez a doença, sua causa e o modo de tratá-la. Os psicólogos se 
referem à intuição usando o termo insight, para referirem-se ao momento em que temos 
uma compreensão total, direta e imediata de alguma coisa, ou o momento em que 
percebemos, num só lance, um caminho para a solução de um problema científico, 
filosófico ou vital. 
Um exemplo de intuição pode ser encontrado no romance de Guimarães Rosa, Grande 
Sertão: Veredas. Riobaldo e Diadorim são dois jagunços ligados pela mais profunda 
amizade e lealdade, companheiros de lutas e cumpridores de uma vingança de sangue 
contra os assassinos da família de Diadorim. Riobaldo, porém, sente-se cheio de angústia 
e atormentado, pois seus sentimentos por Diadorim são confusos, como se entre eles 
houvesse muito mais do que a amizade. Diadorim é assassinado. Quando o corpo é 
trazido para ser preparado para o funeral, Riobaldo descobre que Diadorim era mulher. 
De uma só vez, num só lance, Riobaldo compreende tudo o que sentia, todos os fatos 
acontecidos entre eles, todas as conversas que haviam tido, todos os gestos estranhos 
de Diadorim e compreende, instantaneamente, a verdade: estivera apaixonado por 
Diadorim. 
A razão intuitiva pode ser de dois tipos: intuição sensível ou empírica e intuição 
intelectual. 
1. A intuição sensível ou empírica (do grego, empeiria: experiência sensorial) é o 
conhecimento que temos a todo o momento de nossa vida. Assim, com um só olhar ou 
num só ato de visão percebemos uma casa, um homem, uma mulher, uma flor, uma 
mesa. Num só ato, por exemplo, capto que isto é uma flor: vejo sua cor e suas pétalas, 
sinto a maciez de sua textura, aspiro seu perfume, tenho-a por inteiro e de uma só vez 
diante de mim. 
A intuição empírica é o conhecimento direto e imediato das qualidades sensíveis do 
objeto externo: cores, sabores, odores, paladares, texturas, dimensões, distâncias. É 
também o conhecimento direto e imediato de estados internos ou mentais: lembranças, 
desejos, sentimentos, imagens. 
A intuição sensível ou empírica é psicológica, isto é, refere-se aos estados do sujeito do 
conhecimento enquanto um ser corporal e psíquico individual - sensações, lembranças, 
imagens, sentimentos, desejos e percepções são exclusivamente pessoais. 
Assim, a marca da intuição empírica é sua singularidade: por um lado, está ligada à 
singularidade do objeto intuído (ao “isto” oferecido à sensação e à percepção) e, por 
outro, está ligada à singularidade do sujeito que intui (aos “meus” estados psíquicos, às 
“minhas” experiências). A intuição empírica não capta o objeto em sua universalidade e a 
experiência intuitiva não é transferível para um outro objeto. Riobaldo teve uma intuição 
empírica. 
2. A intuição intelectual difere da sensível justamente por sua universalidade e 
necessidade. Quando penso: “Uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo”, sei, 
sem necessidade de provas ou demonstrações, que isto é verdade. Ou seja, tenho 
conhecimento intuitivo do princípio da contradição. Quando digo: “O amarelo é diferente 
do azul”, sei, sem necessidade de provas e demonstrações, que há diferenças. Vejo, na 
intuição sensível, a cor amarela e a cor azul, mas vejo, na intuição intelectual, a 
diferença entre cores. Quando afirmo: “O todo é maior do que as partes”, sei, sem 
necessidade de provas e demonstrações, que isto é verdade, porque intuo uma forma 
necessária de relação entre as coisas. 
A intuição intelectual é o conhecimento direto e imediato dos princípios da razão 
(identidade, contradição, terceiro excluído, razão suficiente), das relações necessárias 
entre os seres ou entre as idéias, da verdade de uma idéia ou de um ser. 
Na história da Filosofia, o exemplo mais célebre de intuição intelectual é conhecido como 
o cogito cartesiano, isto é, a afirmação de Descartes: “Penso (cogito), logo existo”. De 
fato, quando penso, sei que estou pensando e não é preciso provar ou demonstrar isso, 
mesmo porque provar e demonstrar é pensar e para demonstrar e provar é preciso, 
primeiro, pensar e saber que se pensa. 
Quando digo: “Penso, logo existo”, estou simplesmente afirmando racionalmente que sei 
que sou um ser pensante ou que existo pensando, sem necessidade de provas e 
demonstrações. A intuição capta, num único ato intelectual, a verdade do pensamento 
pensando em si mesmo. 
Um outro exemplo de intuição intelectual é oferecido pela fenomenologia, criada por 
Husserl. Trata-se da intuição intelectual de essências ou significações. Toda consciência, 
diz Husserl, é sempre “consciência de” ou consciência de alguma coisa, isto é, toda 
consciência é um ato pelo qual visamos um objeto, um fato, uma idéia. A consciência 
representa os objetos, os fatos, as pessoas. Cada representação pode ser obtida por um 
passeio ou um percurso que nossa consciência faz à volta de um objeto. Essas várias 
representações são psicológicas e individuais, e o objeto delas, o representado, também 
é individual ou singular. 
Por exemplo, diz Husserl, quando quero pensar em alguém, como Napoleão, posso 
representá-lo ganhando a batalha de Waterloo, prisioneiro na ilha de Elba e na ilha de 
Santa Helena, montado em seu cavalo branco, usando o chapéu de três pontas e com a 
mão direita enfiada na túnica. 
Cada uma dessas representações é singular: por um lado, cada uma delas é um ato 
psicológico singular que eu realizo (um ato de lembrar, um ato de ver a imagem de 
Napoleão num quadro, um ato de ler sobre ele num livro, etc.) e, por outro, cada uma 
delas possui um representante singular (Napoleão a cavalo, Napoleão na batalha de 
Waterloo, Napoleão fugindo de Elba, etc.). No entanto, embora sejam singulares e 
distintas umas das outras, todas possuem o mesmo representado, o mesmo significado, 
a mesma significação ou a mesma essência: Napoleão. 
Quando colocamos de lado a singularidade psicológica de cada uma de nossas 
representações e a singularidade de cada um dos representantes, ficando apenas com a 
idéia ou significação “Napoleão”, como uma universalidade ou generalidade, temos 
uma intuição da essência “Napoleão”. A intuição da essência é a apreensão intelectual 
imediata e direta de uma significação, deixando de lado as particularidades dos 
representantes que indicam empiricamente a significação. É assim que tenho intuição 
intelectual da essência ou significação “triângulo”, “imaginação”, “memória”, “natureza”,“cor”, “diferença”, “Europa”, “pintura”, “literatura”, “tempo”, “espaço”, “coisa”, 
“quantidade”, “qualidade”, etc. Intuímos idéias. 
Fala-se também de uma intuição emotiva ou valorativa. Trata-se daquela intuição na 
qual, juntamente com o sentido ou significação de alguma coisa, captamos também seu 
valor, isto é, com a idéia intuímos também se a coisa ou essência é verdadeira ou falsa, 
bela ou feia, boa ou má, justa ou injusta, possível ou impossível, etc. Ou seja, a intuição 
intelectual capta a essência do objeto (o que ele é) e a intuição emotiva ou valorativa 
capta essa essência pelo que o objeto vale. 
A razão discursiva: 
dedução, indução e abdução 
A intuição pode ser o ponto de chegada, a conclusão de um processo de conhecimento, e 
pode também ser o ponto de partida de um processo cognitivo. O processo de 
conhecimento, seja o que chega a uma intuição, seja o que parte dela, constitui a razão 
discursiva ou o raciocínio. 
Ao contrário da intuição, o raciocínio é o conhecimento que exige provas e 
demonstrações e se realiza igualmente por meio de provas e demonstrações das 
verdades que estão sendo conhecidas ou investigadas. Não é um ato intelectual, mas são 
vários atos intelectuais internamente ligados ou conectados, formando um processo de 
conhecimento. 
Um caçador sai pela manhã em busca da caça. Entra no mato e vê rastros: choveu na 
véspera e há pegadas no chão; pequenos galhos rasteiros estão quebrados; o capim está 
amassado em vários pontos; a carcaça de um bicho está à mostra, indicando que foi 
devorado há poucas horas; há um grande silêncio no ar, não há canto de pássaros, não 
há ruídos de pequenos animais. 
O caçador supõe que haja uma onça por perto. Ele pode, então, tomar duas atitudes. Se, 
por todas as experiências anteriores, tiver certeza de que a onça está nas imediações, 
pode preparar-se para enfrentá-la: sabe que caminhos evitar, se não estiver em 
condições de caçá-la; sabe que armadilhas armar, se estiver pronto para capturá-la; 
sabe como atraí-la, se quiser conservá-la viva e preservar a espécie. 
O caçador pode ainda estar sem muita certeza se há ou não uma onça nos arredores e, 
nesse caso, tomará uma série de atitudes para verificar a presença ou ausência do felino: 
pode percorrer trilhas que sabem serem próprias de onças; pode examinar melhor as 
pegadas e o tipo de animal que foi devorado; pode comparar, em sua memória, outras 
situações nas quais esteve presente uma onça, etc. 
Assim, partindo de indícios, o caçador raciocina para chegar a uma conclusão e tomar 
uma decisão. Temos aí um exercício de raciocínio empírico e prático (isto é, um 
pensamento que visa a uma ação) e que se assemelha à intuição sensível ou empírica, 
isto é, caracteriza-se pela singularidade ou individualidade do sujeito e do objeto do 
conhecimento. 
Quando, porém, um raciocínio se realiza em condições tais que a individualidade 
psicológica do sujeito e a singularidade do objeto são substituídas por critérios de 
generalidade e universalidade, temos a dedução, a indução e a abdução. 
A dedução 
Dedução e indução são procedimentos racionais que nos levam do já conhecido ao 
ainda não conhecido, isto é, permitem que adquiramos conhecimentos novos graças a 
conhecimentos já adquiridos. Por isso, se costuma dizer que, no raciocínio, o intelecto 
opera seguindo cadeias de razões ou os nexos e conexões internos e necessários entre 
as idéias ou entre os fatos. 
A dedução consiste em partir de uma verdade já conhecida (seja por intuição, seja por 
uma demonstração anterior) e que funciona como um princípio geral ao qual se 
subordinam todos os casos que serão demonstrados a partir dela. Em outras palavras, na 
dedução parte-se de uma verdade já conhecida para demonstrar que ela se aplica a 
todos os casos particulares iguais. Por isso também se diz que a dedução vai do geral ao 
particular ou do universal ao individual. O ponto de partida de uma dedução é ou uma 
idéia verdadeira ou uma teoria verdadeira. 
Por exemplo, se definirmos o triângulo como uma figura geométrica cujos lados somados 
são iguais à soma de dois ângulos retos, dela deduziremos todas as propriedades de 
todos os triângulos possíveis. Se tomarmos como ponto de partida as definições 
geométricas do ponto, da linha, da superfície e da figura, deduziremos todas as figuras 
geométricas possíveis. 
No caso de uma teoria, a dedução permitirá que cada caso particular encontrado seja 
conhecido, demonstrando que a ele se aplicam todas as leis, regras e verdades da teoria. 
Por exemplo, estabelecida a verdade da teoria física de Newton, sabemos que: 1) as leis 
da física são relações dinâmicas de tipo mecânico, isto é, se referem à relações de força 
(ação e reação) entre corpos dotados de figura, massa e grandeza; 2) os fenômenos 
físicos ocorrem no espaço e no tempo; 3) conhecidas as leis iniciais de um conjunto ou 
de um sistema de fenômenos, poderemos prever os atos que ocorrerão nesse conjunto e 
nesse sistema. 
Assim, se eu quiser conhecer um ato físico particular - por exemplo, o que acontecerá 
com o corpo lançado no espaço por uma nave espacial, ou qual a velocidade de um 
projétil lançado de um submarino para atingir um alvo num tempo determinado, ou qual 
é o tempo e a velocidade para um certo astro realizar um movimento de rotação em 
torno de seu eixo -, aplicarei a esses casos particulares as leis gerais da física 
newtoniana e saberei com certeza a resposta verdadeira. 
A dedução é um procedimento pelo qual um fato ou objeto particulares são conhecidos 
por inclusão numa teoria geral. 
Costuma-se representar a dedução pela seguinte fórmula: 
Todos os x são y (definição ou teoria geral); 
A é x (caso particular); 
Portanto, A é y (dedução). 
Exemplos: 
1. 
Todos os homens (x) são mortais (y); 
Sócrates (A) é homem (x); 
Portanto, Sócrates (A) é mortal (y). 
2. 
Todos os metais (x) são bons condutores de eletricidade (y); 
O mercúrio (A) é um metal (x); 
Portanto, o mercúrio (A) é bom condutor de eletricidade (y). 
A razão oferece regras especiais para realizar uma dedução e, se tais regras não forem 
respeitadas, a dedução será considerada falsa. 
A indução 
A indução realiza um caminho exatamente contrário ao da dedução. Com a indução, 
partimos de casos particulares iguais ou semelhantes e procuramos a lei geral, a 
definição geral ou a teoria geral que explica e subordina todos esses casos particulares. A 
definição ou a teoria são obtidas no ponto final do percurso. E a razão também oferece 
um conjunto de regras precisas para guiar a indução; se tais regras não forem 
respeitadas, a indução será considerada falsa. 
Por exemplo, colocamos água no fogo e observamos que ela ferve e se transforma em 
vapor; colocamos leite no fogo e vemos também que ele se transforma em vapor; 
colocamos vários tipos de líquidos no fogo e vemos sempre sua transformação em vapor. 
Induzimos desses casos particulares que o fogo possui uma propriedade que produz a 
evaporação dos líquidos. Essa propriedade é o calor. 
Verificamos, porém, que os diferentes líquidos não evaporam sempre na mesma 
velocidade; cada um deles, portanto, deve ter propriedades específicas que os fazem 
evaporar em velocidades diferentes. Descobrimos, porém, que a velocidade da 
evaporação não é o fato a ser observado e sim quanto de calor cada líquido precisa para 
começar a evaporar. Se considerarmos a água nosso padrão de medida, diremos que ela 
ferve e começa a evaporar a partir de uma certa quantidade de calor e que é essa 
quantidade de calor que precisa ser conhecida. Podemos, a seguir, verificar um 
fenômeno diferente. Vemos que água e outros líquidos, colocados num refrigerador, 
endurecem e se congelam, mas que, como no caso do vapor, cada líquido se congela ou 
se solidifica em velocidades diferentes. Procuramos, novamente, a causa dessa diferença 
de velocidadee descobrimos que depende tanto de certas propriedades de cada líquido 
quanto da quantidade de frio que há no refrigerador. Percebemos, finalmente, que é essa 
quantidade que devemos procurar. 
Com essas duas séries de fatos (vapor e congelamento), descobrimos que os estados dos 
líquidos variam (evaporação e solidificação) em decorrência da temperatura ambiente 
(calor e frio) e que cada líquido atinge o ponto de evaporação ou de solidificação em 
temperaturas diferentes. Com esses dados podemos formular uma teoria da relação 
entre os estados da matéria - sólido, líquido e gasoso - e as variações de temperatura, 
estabelecendo uma relação necessária entre o estado de um corpo e a temperatura 
ambiente. Chegamos, por indução, a uma teoria. 
A dedução e a indução são conhecidas com o nome de inferência, isto é, concluir 
alguma coisa a partir de outra já conhecida. Na dedução, dado X, infiro (concluo) a, b, c, 
d. Na indução, dados a, b, c, d, infiro (concluo) X. 
A abdução 
O filósofo inglês Peirce considera que, além da dedução e da indução, a razão discursiva 
ou raciocínio também se realiza numa terceira modalidade de inferência, embora esta 
não seja propriamente demonstrativa. Essa terceira modalidade é chamada por ele de 
abdução. 
A abdução é uma espécie de intuição, mas que não se dá de uma só vez, indo passo a 
passo para chegar a uma conclusão. A abdução é a busca de uma conclusão pela 
interpretação racional de sinais, de indícios, de signos. O exemplo mais simples oferecido 
por Peirce para explicar o que seja a abdução são os contos policiais, o modo como os 
detetives vão coletando indícios ou sinais e formando uma teoria para o caso que 
investigam. 
Segundo Peirce, a abdução é a forma que a razão possui quando inicia o estudo de um 
novo campo científico que ainda não havia sido abordado. Ela se aproxima da intuição do 
artista e da adivinhação do detetive, que, antes de iniciarem seus trabalhos, só contam 
com alguns sinais que indicam pistas a seguir. Os historiadores costumam usar a 
abdução. 
De modo geral, diz-se que a indução e a abdução são procedimentos racionais que 
empregamos para a aquisição de conhecimentos, enquanto a dedução é o procedimento 
racional que empregamos para verificar ou comprovar a verdade de um conhecimento 
já adquirido. 
Realismo e idealismo 
Vimos anteriormente que muitos filósofos distinguem razão objetiva e razão subjetiva, 
considerando a Filosofia o encontro e o acordo entre ambas. 
Falar numa razão objetiva significa afirmar que a realidade externa ao nosso 
pensamento é racional em si e por si mesma e que podemos conhecê-la justamente por 
ser racional. Significa dizer, por exemplo, que o espaço e o tempo existem em si e por si 
mesmos, que as relações matemáticas e de causa-efeito existem nas próprias coisas, 
que o acaso existe na própria realidade, etc. 
Chama-se realismo a posição filosófica que afirma a existência objetiva ou em si da 
realidade externa como uma realidade racional em si e por si mesma e, portanto, que 
afirma a existência da razão objetiva. 
Há filósofos, porém, que estabelecem uma diferença entre a realidade e o conhecimento 
racional que dela temos. Dizem eles que, embora a realidade externa exista em si e por 
si mesma, só podemos conhecê-la tal como nossas idéias a formulam e a organizam e 
não tal como ela seria em si mesma. Não podemos saber nem dizer se a realidade 
exterior é racional em si, pois só podemos saber e dizer que ela é racional para nós, 
isto é, por meio de nossas idéias. 
Essa posição filosófica é conhecida com o nome de idealismo e afirma apenas a 
existência da razão subjetiva. A razão subjetiva possui princípios e modalidades de 
conhecimento que são universais e necessários, isto é, válidos para todos os seres 
humanos em todos os tempos e lugares. O que chamamos realidade, portanto, é apenas 
o que podemos conhecer por meio das idéias de nossa razão.

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