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Claudio Henrique de Castro - Reflexões sobre o Direito e o Cotidiano - Ano 2012

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Prévia do material em texto

Claudio Henrique de Castro
Reflexões sobre o 
Direito e o cotidiano
Desenvolvimento I Direito do 
Sustentado I Trânsito
Cidadania e 
Democracia
Prefácio do Prof. Vitorio Sorotiuk | Fotografias de Lina Faria
Reflexões sobre o 
Direito e o cotidiano
Cidadania e Democracia, 
Desenvolvimento Sustentado 
e Direito do Trânsito.
Claudio Henrique de Castro
Dedico esta obra para minha querida mãe Leda 
que me ensinou que as coisas mudam, 
sempre para melhor.
Ficha catalográfica elaborada por Maury Antonio Cequinel Junior 
Bibliotecário CRB9a/896
Castro, Claudio Henrique de 
C355 Reflexões sobre o direito e o cotidiano : cidadania 
e democracia, desenvolvimento sustentado e 
direito de trânsito. / Claudio Henrique de Castro. 
Curitiba : Ctrl S Comunicação, 2012.
209 p.
1. Direito 2.Cidadania 3.Democracia
4. Desenvolvimento Sustentado
5. Direito do Trânsito 6. Oratória I.Título
CDU 34
FICHA TÉCNICA:
Fotos: 
Lina Faria
Revisão g ramat ica l técnica: 
Professor Adão Lenartovicz
Produção gráfica: www.ctrlscomunicacao.com.br
Projeto gráfico e capa: 
Simon Taylor
Diagramação: 
Fernanda Pivatto
PREFÁCIO
O observatório crítico.
Quando ingressei na Faculdade de Direito na 
Universidade Federal do Paraná lembro-me de um discurso 
marcante de um estudante citando José Ingenieros: “Juventude 
sem rebeldia é servidão precoce." A frase expressa que cada 
nova geração traz em si uma nova visão de mundo e se 
forma observando o mundo constituído forçando uma nova 
existência também no plano das relações sociais e da cultura.
Recentemente um músico, ao lhe perguntarem sobre 
as críticas ao seu estilo musical, respondeu perguntando: 
“Alguém já viu erguerem uma estátua a um crítico?", 
menosprezando a crítica.
Onde a razão?
Está com um filósofo chinês que disse que, observando 
os manuscritos dos grandes homens cultos da história da 
humanidade, observou que, em muitos textos, encontrou 
partes rabiscadas e corrigidas. Chegou à conclusão de que 
mesmo os grandes sábios erravam. E eram sábios justamente 
porque sabiam se corrigir.
Essas reflexões são necessárias para enfrentar os 
textos de Claudio Henrique de Castro em suas Reflexões 
sobre o Direito e o cotidiano: Cidadania e Democracia, 
Desenvolvimento Sustentado e Direito do Trânsito. Pois 
o direito é movimento, expressão do novo e do velho na 
sociedade, de interesses em conflito, busca incessante em 
dar a cada um o que é seu. A análise jurídica deve ser feita 
com a técnica da elaboração do direito, mas com o conteúdo 
cultural, social em histórico, em uma sociedade de conflitos.
Essa é a riqueza do novo livro do autor: a observação 
crítica sobre os problemas atuais da nossa existência como o 
exercício da cidadania, o trânsito cujas estatísticas revelam 
uma guerra civil oculta permanente e a questão urgente, vital 
e planetária que é a sustentabilidade ambiental.
Para os amantes da observação crítica, da democracia, 
da pluralidade de ideias, as indagações e assertivas do autor 
significam uma soma ao pensamento crítico da sociedade 
sobre a sua existência.
VITORIO SOROTIUK
Advogado e Professor de Direito 
Ambiental da Faculdade de Ciências 
Jurídicas Tuiuti. Formado em Direito 
pela UFPR, Mestre em Direitos Sociais e 
Econômicos pela PUCPR, Diplomado 
em Estudos de Desenvolvimento pela 
Universidade de Genebra - Suíça.
RESUMO
A presente obra é uma coletânea de artigos do autor, 
publicados em sites e blogs. Discutem-se temas relacionados 
com cidadania, democracia, desenvolvimento sustentado e 
direito do trânsito. O foco da obra explora o cotidiano das 
cidades e as questões de infraestrutura do estado brasileiro. 
Os textos buscaram uma linguagem objetiva e acessível às 
pessoas sem formação jurídica. As fotografias de Lina Faria 
complementam a reflexão dos assuntos abordados.
Palavras chaves: Cidadania, Democracia, Desenvolvimento 
Sustentado e Direito do Trânsito.
ABSTRACT
This book is a collection of articles by author, publi- 
shed on websites and blogs. Discuss topics related to citi- 
zenship, democracy, sustainable development and the law of 
transit. The focus of the work explores the daily life of cities 
and infrastructure subjects in the Brazilian state. The texts 
have sought an objective language and accessible to people 
without legal training. Lina Faria’s photographs complement 
the discussion of the issues addressed.
Keywords: Citizenship, Democracy, Sustainable Development 
and the Law of Transit.
SUMÁRIO
I. Cidadania e Democracia
1.1. O cotidiano no interminável 0800.................................. 17
1.2. Juros sobre juros e o perigo do melado.
A capitalização dos juros autorizada pelo STJ.............. 22
1.3. As razões que perpetuam a impunidade no Brasil....... 26
1.4. As licenças de táxis hereditárias em Curitiba................ 30
1.5. A Busca da Dignidade
e do Respeito aos Professores.......................................... 33
1.6. Os desvios do dinheiro público na publicidade............42
1.7. O STF, as cotas raciais e as cotas de ensino público.....47
1.8. Afinal, por quais razões pagamos impostos?................. 51
1.9. Corrupção custa 100 bilhões
por ano aos bolsos dos brasileiros..................................54
1.10. A República Brasileira e o Custo Brasil........................ 56
1.11. O julgamento do médico de Michael Jackson
e a Justiça brasileira........................................................60
1.12. O Ensino Superior na rede privada
em Curitiba e região metropolitana: cenário atual 
e perspectivas para os professores................................ 63
1.13. O aumento da remuneração
das Polícias no Paraná....................................................69
1.14. A profissionalização da Polícia (PEC 300/2008) 
e a gradativa união das Polícias Civil e Militares
é uma tendência m undial..............................................72
1.15. A segurança e o porte de armas no Brasil..................... 80
1.16. As desventuras jurídicas do Caso Battisti....................83
1.17. Considerações preliminares quanto às inovações da 
Lei Complementar 135/2010 (Lei da Ficha Limpa) ...88
ii. Desenvolvimento Sustentado
2.1. A recente produção legislativa do Congresso Nacional e
o Desenvolvimento do Brasil...........................................94
2.2. As novas leis de mobilidade urbana
e de prevenção às infrações contra a ordem econômica 
à luz do transporte nas cidades.......................................98
2.3. O Novo Fundo de Previdência Complementar 
do Governo Federal: sua sustentabilidade
e os efeitos sobre o desenvolvimento............................ 101
2.4. Os aeroportos brasileiros na ficção
da infraestrutura .............................................................108
2.5. A invasão de privacidade e a necessária
plataforma tecnológica de infraestrutura para 
resguardar os direitos dos Cidadãos e do Estado......112
III. Direito do Trânsito
3.1. A imposição legal de câmeras em bares e casas
noturnas em Curitiba e os acidentes de trânsito......... 118
3.2. É possível reduzir os acidentes envolvendo
motociclistas no trânsito do Brasil?.............................. 121
3.3. A grande contribuição do STJ para a cultura
da impunidade que reina no Brasil...............................127
3.4. Locatário também paga por multas de trânsito.......... 133
3.5. Estádio, estrada e uma morte que poderia
ser evitada ........................................................................137
3.6. A obrigatoriedade de sinalização
no uso de equipamentos de monitoramento 
de velocidade e a Resolução 396 do Contran...............141
3.7. O EstaR é legal?...............................................................145
3.8. Resolução 363 do Contran é adiada.............................149
3.9. As novas funções da URBS e algumas questões
ainda sem respostas........................................................154
3.10. Advogado da Comissão de Trânsito da OAB
questiona URBS............................................................158
3.11. Os pedestres e o Direito de Trânsito no Brasil.......... 160
3.12. Trânsito: as regras mais descumpridas.
As bebedeiras, os acidentes de trânsito e o Estado ..164
3.13. Pontos para se discutir a paz no trânsito.
Sugestões para diminuir o inferno no trânsito......... 168
3.14. Das ilegalidades do reconhecimento de firma 
do condutor e do proprietário para recorrer
em multa de trânsito .................................................... 171
3.15. Os motoboys, a indústria da morte e a nova lei
n° 12.436/2011.............................................................. 175
3.16. Sem multas, com emprego............................................179
3.17. O lado quente da Comissão de Trânsito ..................... 181
3.18. De volta para o futuro: a suspensão do direito 
de dirigir e a contagem de pontos retroativa
no prazo de cinco anos .................................................188
3.19. As multas da URBS e a decisão do STJ.....................200
3.20. A Inconstitucionalidade das Novas Alterações
do Código de Trânsito................................................. 203
iV. oratória
4.1. Professor dá dicas para advogados desenvolverem
boa oratória.................................................................... 206
Sites onde os textos foram publicados
amoc1cic.com.br
http:/ /b logdojj.com.br/
promotordejust ica .b logspot.com.br
www.abla.com.br
www.ac identesdesastres.com.br
www.asarmasmund ia l.b logspot .com
www.b logdajo ice.com.br
www.b logdozebeto .com .br
www.b logso ldacaust ico .com.br
www.co lunam isterx.b logspot .com
www.cr imesdel itos.com.br
www.egov.ufsc.br/porta l/
www.espacov ita l.com.br
www.f ichacorr ida.wordpress.com.br
www.guiasaojose .com.br
www.inte log.com.br
www.invesd itura.com.br
www.jorgeyared .b logspot .com .br
www.jorna ld idata .com.br
www.jorna le .com.br
www. jo rna loestadodoparana.com
www.jusbrasi l. com.br
www.louzada.adv.com.br
www.metavendasbraz i l .com.br
www.paranaextra.com.br
www.promotorde just ica .b logspot .com.br
www.psc.org.br
www.rentacarnews.com.br
www.s ind i locpr.com.br
www.s inpes.org.br
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Cidadania e Democracia
Reflexões sobre o Direito e o cotidiano 17
1.1. o cotidiano no interminável 0800.
9 de agosto de 2012
Um estudante de Direito se encontra com uma 
estudante de Artes Plásticas e lá pela tantas a artista 
pergunta: “Afinal, o que vocês estudam?” Com o peito 
estufado o acadêmico responde: “Ora! As leis, os códigos, e as 
decisões dos tribunais!” Nesta singela resposta constatamos 
que o Direito está cada vez mais distante do cotidiano da 
sociedade, pois são dezenas de pequenos problemas que 
não são resolvidos pelas Leis e pelos Tribunais e que as 
pessoas não conseguem sequer se imaginar ajuizando ações 
para resolvê-los.
Do outro lado alguns setores do Direito falam no 
chamado “demandismo”, uma tendência da população bater 
às portas do Poder Judiciário para resolver seus problemas 
cotidianos e com isto os “milhares” de processos são 
intermináveis. Isto se chama Democracia, mas mesmo assim 
são poucos os que se aventuram ao risco de ganhar ou perder 
uma ação para se resolver problemas do cotidiano.
Mas, afinal, o que é o cotidiano?
Listamos alguns casos do que na soma causam 
desgastes nas pessoas nas esferas pública e privada:
1) Ligações aos finais de semana, nas manhãs, nos finais de 
tarde e até à noite de empresas de telemarketing;
2) Questões envolvendo perturbação ao sossego, de 
vizinhança ou veículos com sons de toda ordem, 
reformas, carros com som alto etc;
18 Claudio Henrique de Castro
3) Cobranças de correspondências bancárias de cartões (elas
continuam), envio de boletos de pagamento;
4) Diferenças pequenas em impostos e taxas para pagar;
5) Problemas de interrupção de sinal de telefone, água, luz, tv
a cabo, entregas e produtos com pequenos defeitos;
6) Batidas de veículos irrelevantes advindas de condutas ilegais,
mas superáveis diante dos custos envolvidos para a solução;
7) Questões de trânsito, como ausência de sinalização, 
fiscalização, condutas proibidas e reiteradamente 
praticadas como estacionamento na guia, irregular, 
alta velocidade, condutor alcoolizado, que apesar da 
exposição ao perigo não causam acidentes (sempre é bom 
lembrar que 57 mil pessoas morreram no Brasil no ano 
passado no trânsito);
8) Atrasos em documentos oficiais, passaportes, pedidos 
de alvarás, pedidos de certidões, processos de 
aposentadorias etc;
9) Atendimentos exclusivamente por telefone de serviços 
essenciais, com a demora de mais de meia hora ao telefone 
para explicar e se re-explicar os problemas sem soluções 
objetivas e adequadas, sempre com um protocolo e com a 
promessa de se gravar as intermináveis ligações;
10) Falhas reiteradas nos serviços essenciais, como 
atendimentos em postos de saúde e hospitais, mas 
que pela dimensão individual são “suportáveis” pelos 
menos favorecidos;
O resultado é que os serviços são prestados com baixa 
qualidade, mas não compensa questioná-los nas esferas 
judiciais ou administrativas.
Reflexões sobre o Direito e o cotidiano 19
Com efeito, o Direito não resolve os problemas 
do cotidiano e ingressam neste cenário as denominadas 
Agências de Regulação, os Procons, os Juizados Especiais e 
fundamentalmente o Poder Judiciário que não resolvem os 
problemas do cotidiano da população, pois quem batalha 
pela sobrevivência não tem tempo, dinheiro e conhecimento 
para se dirigir a estes órgãos que funcionam por provocação
- e não autonomamente.
Em conseqüência, parte das grandes corporações 
reduz a qualidade do atendimento, dos serviços e produtos 
e inserem no preço esta perversa redução, pois menos 
qualidade, menos custos e lucro maior.
O que podemos fazer?
Àqueles poucos que recorrem aos seus direitos entram 
nas estatísticas dos custos operacionais. Estes recebem 
indenizações irrisórias, admitidas pelos tribunais superiores 
que falam em “indústria das indenizações” e “demandismo”
- e este resultado invariavelmente acontece depois de muitos 
anos de espera, até décadas para a solução dos casos judiciais. 
A função didática e preventiva das indenizações perdeu-se 
nos congressos e discursos científicos do Direito.
A epidemia das mortes do Trânsito sequer é estudada 
pelo Direito, que está preocupado, na maior parte das vezes, com 
o exibicionismo intelectual das pós-graduações, com linhas de 
pesquisas de duvidosa prática e de pouquíssimo alcance social.
Neste cenário, o cotidiano escapa ao Direito e as 
questões mais simples do dia-a-dia das pessoas não se 
resolvem, sejam no que tange a qualidade dos serviços 
públicos essenciais, no trânsito e transporte, seja num 
pequeno ato da vida diária das pessoas.
20 Claudio Henrique de Castro
Viver se tornou um interminável 0800 para se tentar 
resolver problemas cada vez maiores do outrora simples, mas 
hoje complexo convívio social.
Quem sabe a atuação dos políticos possa resolver nosso 
cotidiano, cujos personagens principais prometem e prometem 
e o povo, o verdadeiro dono do poder, esquece sempre de 
cobrar, no repetitivo ciclo eleitoral de dois em dois anos.
22 Claudio Henrique de Castro
1.2. Juros sobre juros e o perigo do melado.
A capitalização dos juros autorizada pelo STJ.
5 de julho de 2012
Recentemente o Superior Tribunal de Justiça proferiu 
decisão favorável à capitalização dos juros, ou seja, que é 
possível a incidência dos juros sobre os juros, pois se entendeu 
queela, a capitalização, vedada pelo Decreto n° 22.626/33 
(conhecido como Lei de Usura) em intervalo inferior a um 
ano, é permitida pela Medida Provisória n° 2.170-36 para as 
instituições financeiras, desde que expressamente pactuada, 
estando ligada à circunstância de os juros devidos e já vencidos 
serem, periodicamente, incorporados ao valor principal.
Nem a legislação de Justiniano, o último imperador 
romano, que morreu em 565 d.C., permitia esta prática. A 
sabedoria do Direito Romano Imperial impedia tal procedimento.
Passados mais de mil e quatrocentos anos, eis que 
é perm itida a referida prática no Brasil, num momento 
em que o endividamento da população chegou a índices 
preocupantes para a banca internacional e para a economia 
doméstica, obrigando o governo a reduzir os impostos 
para aquecer o consumo.
Trocando em miúdos: pela decisão, a capitalização 
dos juros deve estar inscrita no contrato e o consumidor deve 
assinar na linha pontilhada no final.
A cena é simples: o gerente do banco mostra o 
contrato, diz “Leia, por favor!”, você passa os olhos e assina o 
contrato junto com uma nota promissória e com as bênçãos 
do Poder Judiciário brasileiro - e está tudo perfeito.
Reflexões sobre o Direito e o cotidiano 23
Em 1961 o Supremo Tribunal Federal analisou esta 
questão e, em brilhante decisão, afirmou que a vedação 
legal do anatocismo é de ordem pública, prevalecendo sobre 
a convenção das partes (RE n° 47.497 - SP). Assim, não 
importava o contrato assinado entre as partes na bacia das 
almas do contrato financeiro.
O assunto é velho, e muito bem descrito na decisão do 
STF. O jurista Teixeira de Freitas, na sua Consolidação das Leis 
Civis (de 1856, p. 121), afirmou que é possível a capitalização 
dos juros, desde que pactuada pelas partes. O jurista Lacerda 
de Almeida (1897) era contrário a esta posição. Acontece que 
naquele tempo, quem assinava contrato com os bancos estava 
em posição de igualdade, falava grosso com os banqueiros, 
não havia classe média no Brasil, que somente surgiu na 
década de 40 do século passado. Portanto, falar em acordo 
entre as partes era possível.
Com o surgimento dos contratos de massa, e a 
ascendente classe C e D ter mais poder de compra, ter acesso 
a financiamentos e conta corrente em banco não significa que 
se possa discutir de igual para igual um contrato. O próprio 
Código de Defesa do Consumidor fulmina esta pretensa 
situação ideal e confere prevalência aos consumidores.
Este assunto pode ser que não suba para apreciação 
do Supremo Tribunal Federal por conta de mecanismos 
processuais impeditivos. Resta-nos rezar para que esta 
decisão seja revertida.
Com efeito, é necessário se discutir profundamente o 
acerto ou desacerto desta decisão do Superior Tribunal de Justiça.
24 Claudio Henrique de Castro
A repercussão social disto nos faz lembrar o que 
aconteceu ao sistema bancário nos Estados Unidos em 
2008, onde mais de 400 bancos quebraram devido a cascata 
financeira impossível de ser cumprida pelos mutuários norte- 
americanos.
Até agora o sistema bancário norte-americano está 
mancando. A sanha das instituições financeiras deu no que 
deu: toda sociedade está padecendo os efeitos da quebradeira.
A lição que fica é simples e vinha dos nossos 
avós:“Quem nunca comeu melado quando come se lambuza”.
Notas
http://www.stj.gov.br/p ortal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp. 
area=398&tmp.texto=106280
http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&
docID=146791
26 Claudio Henrique de Castro
1.3. As razões que perpetuam a impunidade no Brasil.
22 de junho de 2012
Até ontem comer uma pizza em Curitiba era um 
ato de preocupação com as calorias e o regime. Depois 
do arrastão no bairro do Batel, os relógios, os aparelhos 
celulares, as carteiras, as bolsas chiques e os cartões 
de crédito e de débito entraram também nesta lista de 
preocupações. É o modo de ser paulistano chegando à 
capital dos paranaenses.
Em São Paulo a moda agora é freqüentar os 
restaurantes que foram assaltados, pois dificilmente o crime 
se repete, ou andar acompanhado de um cão de raça pitbull 
com coleirinha repleta de cristais swarovski.
Enquanto isso, no Senado estuda-se a reforma do 
Código Penal, com um tímido aumento das penas dos 
crimes contra a administração pública, em descompasso 
com o grande volume de delitos descobertos em face 
de constantes operações da Polícia Federal e a crescente 
conscientização da sociedade que paga a conta.
Muitos delitos no projeto tiveram suas penas 
reduzidas, a exemplo de todos os crimes contra o sistema 
financeiro nacional e o peculato (apropriação de bem em 
função do cargo). Diante disso, pergunta-se: “Será essa a 
vontade da sociedade que assiste a recorrente impunidade 
dos crimes de colarinho branco?”
Reflexões sobre o Direito e o cotidiano 27
O projeto inaugura novas modalidades de crimes, 
alguns com nomenclatura inglesa: bullying (intimidação 
vexatória) e stalking (perseguição obsessiva), e outros em 
bom português: corrupção entre particulares, praticar ato 
fraudulento, plágio intelectual, uso de celular na prisão, 
abandono de animais, furto com uso de explosivo, ofensa 
à empresa e eutanásia. Talvez a proposta mais sensata 
seja a descriminalização do porte de drogas, tratando- 
se o dependente como portador de doença, frente a nova 
epidemia do crack e das anfetaminas nas baladas.
Também tramita a proposta de reforma do Código 
Processual Penal. E como talvez se pense paradoxalmente 
que o processo penal não combina com o direito penal, em 
muitos pontos as propostas são antagônicas.
O Brasil possui um colossal déficit de vagas nas 
penitenciárias do sistema federal e nos estados. Isto somado 
aos processos penais intermináveis resulta um sistema 
penal direcionado para quem habita o andar de baixo, pois 
o aprisionado normalmente é aquele que não teve condições 
de pagar bons advogados.
A felicidade dos povos e o advento dos Códigos 
inauguram um velho debate: até que ponto a legislação 
penal está distante dos anseios populares, posto que a maior 
parte das cartas, e-mails e mensagens para a Comissão de 
sábios foi no sentido do aumento das penas já existentes
- e Comissão fazendo-se de surda resolveu caminhar na 
direção contrária, principalmente no que diz respeito aos 
crimes contra a administração pública?
28 Claudio Henrique de Castro
O Banco Mundial recentemente lançou um 
mapeamento da corrupção no planeta. Paulo Maluf e Daniel 
Dantas estão nela, personagens conhecidos da imprensa e dos 
tribunais brasileiros, sendo que o primeiro, deputado federal, 
ocupa um importante espaço político da mesma cidade de 
São Paulo que padece dos arrastões em condomínios e 
restaurantes.
Neste cenário podemos pensar em penitenciárias 
abertas, lá mesmo, em Brasília no Distrito Federal e nas 
principais capitais brasileiras.
Notas:
http://star.worldbank.org/corruption-cases/
http://www.valor.com.br/brasil/2717530/reformas-em-lei-
caminham-em-sentidos-opostos-em-sentidos-opostos
30 Claudio Henrique de Castro
1.4. As licenças de táxis
hereditárias em curitiba.
1o de junho de 2012
A recente Lei Municipal n° 14.017/2012 que dispõe 
sobre a hereditariedade das licenças de táxi em Curitiba é 
manifestamente inconstitucional diante do inciso I do art. 3° 
da Constituição Federal, que prevê que constituem objetivos 
fundamentais da República Federativa do Brasil, entre outros, 
o de construir uma sociedade livre, justa e solidária.
Uma sociedade justa afasta institutos jurídicos 
hereditários, salvo o direito de herança que é eminentemente 
das coisas privadas e não públicas. O próprio sentido do 
regime republicano afasta a hereditariedade de direitos 
públicos, pois herança pública é essencialmente monárquica.
Há mais de cem anos foi superado oregime 
monárquico no Estado brasileiro, sobrou apenas o Rei Momo 
e a Rainha nos Carnavais.
Estamos num ano eleitoral e o pauta legislativa é farta 
em medidas para cativar o eleitorado.
Vejamos a Constituição do Estado do Paraná que 
estabelece no seu inciso I do art. 12 que é competência do 
Estado, em comum com a União e os Municípios, zelar 
pela guarda da Constituição, das leis e das instituições 
democráticas e conservar o patrimônio público. Ora, basta 
uma simples leitura para afastarmos a referida lei municipal.
Reflexões sobre o Direito e o cotidiano 31
A Lei Orgânica de Curitiba prevê no seu inciso III, art.
11, que compete ao Município prover a tudo quanto respeita 
ao seu interesse e ao bem-estar de sua população, cabendo-lhe, 
em especial: III. Organizar e prestar diretamente, ou submeter 
ao regime de concessão ou permissão, mediante licitação, os 
serviços públicos de interesse local, incluindo o transporte 
coletivo, que tem caráter essencial. Assim, a licitação é a regra.
Temos o maior respeito para com os taxistas e suas 
famílias, mas pensamos que as Capitanias Hereditárias do 
século XVI provaram que a hereditariedade não funciona 
administrativamente, apenas as capitanias de Pernambuco e 
São Vicente deram certo.
A referida lei municipal institui o nepotismo 
normativo. Imaginem os Ministros do Supremo relatando 
uma ação deste tipo e todas as piadas que seriam 
elegantemente proferidas à capital do Estado. A competência, 
contudo, não chega tão longe, vai apenas ao Tribunal de 
Justiça, embora possa, com expedientes recursais, daqui a 
alguns anos, chegar a Brasília.
Haverá certamente alguma ação judicial que a 
declarará inconstitucional. O mais curioso é que a vida 
republicana é baseada nas efemérides eleitorais.
Reflexões sobre o Direito e o cotidiano 33
1.5. A Busca da Dignidade e do Respeito aos Professores.
19 de julho de 2012
1. o s perfis econômicos dos Professores
Temos de forma breve, dois perfis valorosos de 
Professores na rede privada de Ensino Superior:
1. o profissional liberal que tem seu consultório, 
escritório, emprego público ou outra atividade e está 
na docência para complementar a renda principal não 
proveniente da docência. Este Professor dificilmente vai 
se mobilizar, comparecer a reuniões sindicais ou apoiar o 
movimento de forma ativa. Temos assim esta dificuldade 
em virtude das condições objetivas de colocação do 
profissional no mercado de trabalho;
2. e aqueles Professores que têm exclusivamente a 
docência como principal fonte de renda, e têm medo da 
despedida arbitrária, que rotineiramente acontece, e com 
o desemprego estrutural, a cada despedida tem-se dezenas 
de currículos na gaveta do empregador para a entrevista de 
emprego, por meio de anúncio em jornal dominical ou até 
nas rádios AM em alguns casos.
Estes dois perfis, somados à completa ausência, na 
grande maioria das instituições, de Planos de Carreira e da 
estabilidade profissional, que os docentes da rede pública 
possuem, geram atual dificuldade na mobilização e a festa 
dos lucros advindos das imposições salariais aos Professores.
34 Claudio Henrique de Castro
Os Professores, sejam os de tempo integral ou 
parcial, merecem respeito, mas não nos esqueçamos que 
isto influencia nas negociações sindicais. Precisamos 
conscientizar toda a categoria dos desafios que se colocam 
pela grande corrosão salarial que abate a classe.
Outra questão relevante é a grande distância dos 
salários dos Professores antigos (cinco, dez ou mais anos 
de casa) com os novos contratados. A lógica é a de que ao 
saírem os professores antigos, jamais os salários chegarão 
ao patamar daqueles, criando-se um círculo vicioso cujo 
objetivo é o rebaixamento geral dos salários.
Pesquisas e aprimoramento do conhecimento 
não estão nesta pauta, mas meramente o repasse do 
conhecimento e, consequentemente, os índices da pesquisa 
brasileira são os piores dos países em desenvolvimento. 
Isto não importa verdadeiramente aos lucros desmedidos 
e ao mercado de escala: quanto menores os investimentos, 
maiores os lucros (Milton Santos).
Os Professores na rede privada se tornaram mais uma 
peça na engrenagem dos lucros fáceis da rede privada de 
ensino com as bênçãos do MEC e do Estado brasileiro, que 
se dizem preocupados com o futuro do país.
Há pouco o Ministro da Ciência e Tecnologia numa 
palestra nos EUA, apresentou-se como ministro do “Ministério 
da Ficção Científica”, em face da sua carência na língua inglesa 
ou talvez de um ato falho que espelha a realidade.
Reflexões sobre o Direito e o cotidiano 35
2. As Instituições de ensino, o lucro fácil e o crescimento 
econômico sem valorização salarial
Com isto, os Professores tornam-se dóceis e úteis 
(Foucault), e seus salários são desprestigiados em face 
das belas reformas de instalações físicas, das suntuosas 
construções de prédios e estacionamentos, das coloridas 
propagandas em placas nas esquinas das ruas, dos outdoors 
bem elaborados, das sonoras propagandas de rádio e 
fascinantes campanhas de televisão, dos patrocínios de 
shows dos mais variados, estando na beira da associação 
de praias tropicais, alegria e festas de finais de semana para 
cativar os nossos jovens estudantes. É o canto da sereia do 
negócio do “Ensino Superior Privado”.
A publicidade para atrair novos alunos é a principal 
arma nesta competição desmedida para manter o mercado 
aquecido. O novo foco é a classe C, com mensalidades baixas, 
ensino a distância e todas as facilidades possíveis para se 
conseguir um “diploma do curso superior”. Tudo isto põe o 
conhecimento à distância da sociedade, em patamares cada 
vez mais reduzidos em qualidade de ensino.
Numa medição bastante simples, comparando o 
aumento das mensalidades e os “reajustes” dos salários, 
no período de 2009 a 2012, chegamos a 40%(quarenta por 
cento) na defasagem dos salários dos Professores.
Cabe a lembrança de que o pecado capital da ávareza 
se concretiza, em muitas personalidades que comandam 
financeira e administrativamente as Instituições de Ensino 
Superior, sejam elas laicas ou confessionais.
Os alunos e a sociedade sequer imaginam esta 
grave disparidade.
36 Claudio Henrique de Castro
Assim, o desgaste nos salários dos Professores torna-se 
a principal ferramenta empresarial para se auferirem os lucros 
em cima dos alunos e de suas famílias. Consagra-se um circuito 
perverso no qual o que menos importa é a qualidade de ensino, o 
respeito e a dignidade dos Professores, dos alunos e da sociedade.
3. A globalização do ensino e a perda da soberania nacional
Assim, temos um processo de macdonaldização o 
ensino no qual o conhecimento, apostilado, colhido em 
portais, sínteses e resumos digeríveis são apresentados aos 
alunos como “conhecimento”.
Enquanto os países desenvolvidos aplicam os recursos 
públicos no fortalecimento do conhecimento, na rede privada os 
recursos públicos são investidos pelo Prouni e incentivos fiscais de 
forma a não cobrar efetivamente pela qualidade do ensino, ficando 
relegado aos Enades, a pretensa “qualidade” das instituições 
privadas, sem se avaliar como os Professores são tratados, salários, 
condições de ensino e progressão na carreira, embora, este item 
conste retórica e demagogicamente nas avaliações institucionais.
Este grave rebaixamento do conhecimento e a 
pauperização dos Professores brasileiros interessam à 
globalização, pois a cada dia que passa nos tornamos reféns 
do conhecimento proveniente dos países desenvolvidos, 
cujas políticas de ensino são absolutamente diferentes da 
prática empresarial educacional brasileira.
Não por acaso as grandes redes nacionais estão sendo 
vendidas para grandes grupos estrangeiros; nenhum dos dois 
verdadeiramente tem compromissos com a pátria brasileira, mas 
com a bandeira, sem nacionalidade,dos lucros sobre os salários 
dos Professores e a lógica do aumento desmedido dos ativos.
Reflexões sobre o Direito e o cotidiano 37
O principal ativo desses homens de negócios é a 
quantidade de alunos em milhares e não o ativo humano, dos 
Professores. Sem docentes, todas as instalações tornam-se 
prédios fantasmas e abandonados.
Vejam, por exemplo, uma negociação de compra e 
venda de grupo educacional recente cujo preço de compra 
ultrapassou 1 bilhão de reais.
4. Ausência de piso salarial, paralisação das cláusulas 
convencionais e reajustes rituais
Há muito falamos em piso salarial, mas os patrões 
insensíveis nos vêm com a desculpa dos módulos de ensino 
e dos professores horistas, essas grandes modalidades de 
empobrecimento dos Professores, com todo respeito aos que 
se submetem a esses regimes.
Precisamos de um piso realmente digno. Podemos 
começar a falar em cinco mil reais, na prática do piso da rede 
pública federal de ensino superior ou uma progressão na 
qual admitamos uns três mil reais aumentando com o passar 
do tempo de trabalho e da progressão na carreira.
As instituições que não possuem profissionalismo ou 
sustentabilidade para a gestão do Ensino devem mudar de 
negócio. Manter instituições às custas do empobrecimento 
dos docentes e da enganação de milhares de alunos não pode 
mais persistir no cenário atual, cujo lucro fácil se dá em 
virtude da diminuição de salários e dos custos.
O que ocorre é que, se empresa vai mal, os empresários 
sempre vão bem. Aliás, onde estão esses empresários que, com 
raras exceções, sequer pegaram num giz em algum dia na vida?
38 Claudio Henrique de Castro
As negociações das cláusulas convencionais não 
avançam e os reajustes anuais são um “rito de passagem anual” 
cujo argumento dos patrões é meramente o da correção pelo 
INPC e mais nada. Ou às vezes um misericordioso 0,5 (meio 
por cento) como está correndo na “negociação” de 2011/2012.
Assim a intransigência e a mesquinhez consolidam a 
postura do Sindicato dos patrões, claro; por detrás disto estão 
os lucros sempre crescentes.
Há uma verdadeira caixa preta na contabilidade 
dessas instituições, cuja escuridão interessa aos vampiros do 
ensino superior privado.
Temos que abrir essas “caixas pretas” para sabermos 
quais os motivos contábeis que implicam todos os anos o 
rebaixamento salarial e a pauperização dos Professores.
5. As negociações não se bastam; é necessário avançarmos
Na última assembleia conseguimos o apoio das entidades 
representativas dos Estudantes, que, com irreverência, alegria 
e liderança propuseram o apoio no sentido de divulgar dados, 
denunciar instituições arbitrárias, aos alunos e vestibulandos, 
mas fundamentalmente apoiar a valorização dos Professores e 
denunciar os abusos nas mensalidades.
Na década de 90 uma Faculdade conhecida em 
Curitiba, ameaçou despedir professores em massa e a 
reação dos alunos veio a galope, por dois meses os alunos 
não pagaram as mensalidades e a instituição voltou atrás 
vestindo as sandálias da humildade.
Esta lição, com apoio dos alunos, pode e deve ser 
repetida em larga escala ainda este ano.
Reflexões sobre o Direito e o cotidiano 39
É hora de pensarmos neste tipo de paralisação e 
chamamento, invocarmos a solidariedade dos alunos para 
paralisarem os pagamentos até que a insensibilidade do 
Sindicato dos patrões se altere e negociemos de forma a 
resgatar um mínimo de Dignidade e Respeito à nossa classe: 
“Sem professores não existem as outras profissões”.
Outra medida importante é tornarmos as visitas do 
MEC quando da avaliação dos cursos, um visita verdadeira, 
sem mentiras ou armações da pseudoqualidade de Ensino. 
Para isto é necessário que os Professores avisem o Sindicato 
de tais visitas para que alertemos as comissões de avaliação 
das reais condições de ensino das instituições, da precarização 
e miserabilização dos salários dos Professores, sem planos de 
carreira e tudo mais que sempre é divulgado no Didata.
Por último, dois professores do Sindicato foram 
recentemente despedidos, em meio às negociações, - eles irão voltar!
Este ato demonstra as estratégias dos “escoteiros do 
mal” em tentar calar aqueles que se voltam para a defesa do 
Ensino no Brasil e da valorização dos Professores. O Sinpes 
irá reagir com firmeza e determinação!
6. conclusões e perspectivas de atuação:
Diante das reflexões colocadas no presente artigo 
podemos concluir que:
1. Devemos nos mobilizar, de todas as formas possíveis;
2. Vamos convencer e conscientizar a Sociedade e os 
Alunos do momento histórico que passamos e das nossas 
necessidades salariais e de condições de ensino;
40 Claudio Henrique de Castro
3. Precisamos que as Instituições adotem os Planos 
de Carreira, Piso Salarial condigno e que avancem nas 
cláusulas convencionais; isto não virá de graça, é necessário 
nos mobilizarmos;
4. É necessário que nos juntemos aos Alunos para 
fazermos pressões reais frente a esta exclusão salarial na qual 
fomos submetidos e ao aumento desmesurado das mensalidades 
escolares; isto inclui modalidades de mobilização diferenciadas;
5. Nossa recomposição salarial é de 40% (quarenta por 
cento). Na mesa de negociação pedimos apenas 12% (doze 
por cento) em virtude da soberana decisão da Assembleia 
da Categoria, mas isto não exclui outras demandas como 
qualidade de ensino e a dignificação dos Professores;
6. O Sindicato precisa da mobilização dos Professores, pois 
o nutriente das nossas reivindicações está na união da categoria;
7. Professores lutando, também estão ensinando!
42 Claudio Henrique de Castro
1.6. o s desvios do dinheiro público na publicidade.
19 de maio de 2012
1. o que manda a constituição
O Direito é simples. Vejamos. O art. 37 da Constituição 
Federal que prevê o princípio da impessoalidade e disciplina 
a publicidade de Estado dispõe:
“Art. 37. A administração pública direta e indireta 
de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do 
Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos 
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, 
publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (...)
§ 1° - A publicidade dos atos, programas, obras, 
serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá 
ter caráter educativo, informativo ou de orientação 
social, dela não podendo constar nomes, símbolos 
ou imagens que caracterizem promoção pessoal de 
autoridades ou servidores públicos.”
Se um estrangeiro nos visitar e perguntar se os governos 
federal, dos Estados e dos Municípios gastam dinheiro público 
em propaganda, a resposta seria dada pelo texto constitucional.
Dessa forma, entenderia o estrangeiro que o dinheiro 
público não pode ser gasto em publicidade posto que ainda 
somos o país que somos: o 95° em analfabetismo; 73° em 
expectativa de vida; 98° em mortalidade infantil e que 
possui uma epidemia de delinquência com uma taxa de 31 
homicídios a cada 100 mil habitantes.
Reflexões sobre o Direito e o cotidiano 43
Ele nos diria: “Muito bem! Vocês gastam de forma 
racional os recursos públicos!”
Porém, isto é verdade? Sabemos que não.
2. o que acontece na prática
No Poder Executivo da esfera federal, aquele que tem 
a caneta na mão para e liberar os recursos, os Ministérios, 
faz uso desmedido dos recursos de publicidade; e figura 
do chefe do Executivo sempre está presente com as frases 
que caracterizam a gestão - nas liberações de verbas para 
os bancos oficiais, empresas estatais e demais entes que 
manipulam e administram as verbas públicas.
Não se pode afirmar categoricamente, mas a liberação 
de recursos que nutrem os grandes jornais, as revistas 
semanais, os canais e redes de rádio e televisão, tem muito a 
ver com a modulação das críticas ao poder.
Nas esferas estaduais e municipais, os recursos se 
avolumam nos períodos que antecedem os pleitoseleitorais, numa 
verdadeira avalanche de dinheiro para as agências de publicidade 
que fomentam e movimentam milhões em favor dos candidatos.
No plano do Legislativo federal, estadual e municipal 
este processo é mais intenso do que se pode imaginar, 
muitas vezes com o repasse de verbas para personagens 
que representam indiretamente o poder de plantão. Essas 
interpostas pessoas, que administram os meios de comunicação, 
fazem um sobrepreço da publicidade para aplicar a diferença 
nas campanhas eleitorais. Os exemplos são recentes na cena 
histórica e caracterizam as gestões ou as alterações estilísticas 
dos símbolos oficiais, isto em todas as esferas governamentais.
44 Claudio Henrique de Castro
Ainda - e mais, há a grande possibilidade de lavagem 
de dinheiro das verbas de publicidade em cima do valor real 
sob o manto da denominada “criatividade” que a princípio 
não tem preço, pois, afinal, quanto vale uma ideia, um 
jingle, uma peça publicitária?
Não estamos aqui afirmando que todos agem assim, 
mas que essa possibilidade é bastante possível, não se pode 
negar. A eleição e a reeleição, inegavelmente, são sempre a 
prioridades dos poderes instituídos.
3. o que diz o juridiquês
Infelizmente os Tribunais não possuem uma linha 
de interpretação serena e objetiva quanto à análise das 
propagandas oficiais, e o conceito inscrito na Constituição 
passa a ser letra m orta, salvo casos escancarados 
desafiados, por vezes e apenas, por oposições partidárias 
ou ideológicas.
A doutrina, isto é, a escrita dos sábios do Direito, é 
silenciosa e vacilante quanto ao tema publicidade oficial. 
Assim, os Poderes fazem como bem entendem suas peças 
publicitárias e a utilizam para a promoção oficial. Vale a 
sentença popular: “Todos fazem! Por que não podemos 
fazer tam bém?”
4. o que precisa mudar
Não há propriamente propostas sobre o tema e sua 
disciplina legal, até em razão de o artigo da Constituição 
ser bastante explicativo e autoaplicável. Entretanto, algumas 
reflexões podem ser lançadas sobre o tema:
Reflexões sobre o Direito e o cotidiano 45
1. As Assembleias Legislativas e as Câmaras Municipais não 
podem usar dos recursos públicos para publicidade, nem 
dos seus personagens, muito menos, de campanhas. Com 
efeito, a divulgação dos seus atos é feita por meio dos atos 
oficiais. Leia-se: diários oficiais;
2. As publicidades dos governos federal, estaduais e 
municipais, das empresas públicas, da administração 
direta ou indireta, devem ser rigorosamente fiscalizadas 
pelos órgãos de controle, e os Tribunais devem enfrentar 
este tema com os conceitos de: desvio de finalidade, desvio 
de poder e de propaganda antecipada, fulminando com a 
inelegibilidade os personagens envolvidos e determinando 
a devolução aos cofres públicos das quantias despendidas. 
Sobra legislação para fazer isto. Basta vontade política;
3. Toda publicidade oficial deve ser profundamente analisada 
quanto aos dispêndios, causa e extensão dos efeitos. 
É hora de as prioridades do governo brasileiro serem 
efetivamente a solução dos graves problemas sociais;
4. Por fim, a imprensa, para ser crítica, deveria nortear seu 
trabalho com a premissa de que “é possível sobreviver sem 
as verbas de propaganda e publicidade oficiais”.
Reflexões sobre o Direito e o cotidiano 47
1.7. o STF, as cotas raciais e as cotas de ensino público.
25 de abril de 2012
O Supremo Tribunal Federal vota hoje as cotas 
raciais no ensino público. Nosso prognóstico é que o 
julgamento será apertado, mas será aprovada a legalidade 
das cotas para a alegria dos setores mais progressistas que 
vislumbram nelas um mínimo resgate dos mais de 500 anos 
de opressão aos pobres, negros, efetivados pela sociedade 
patriarcal e estamental brasileira.
Nosso patriciado dirigente não admite alguns avanços 
que estão ocorrendo (Damatta).
Nem só de samba e manifestações culturais vivem 
os negros e os excluídos. Sem a vinda da África ao Brasil 
seguramente nosso povo não seria um povo alegre (Darcy 
Ribeiro). Seríamos tristes e sem musicalidade, seríamos um 
povo tímido, apático, sem tempero ou poesia. Felizmente a 
mãe África nos livrou disto tudo.
As cotas são transitórias, têm a perspectiva de acabar 
em 2025/2030, conforme previsões dos setores que militam 
pelas ações afirmativas. As reparações da escravidão do Brasil 
ainda estão por vir. Não tivemos ainda uma reforma agrária, 
não desfavelizamos as periferias das cidades e das grandes 
capitais, ainda não temos Justiça Social, apesar da pródiga 
Constituição Federal de 1988.
48 Claudio Henrique de Castro
O discurso sobre as cotas começou com um artigo 
do Ministro Marco Aurélio no Supremo Tribunal Federal, 
depois na Universidade de Brasília e se espalhou pelo Brasil 
afora. Ainda há muitas resistências, como naqueles primeiros 
anos em que os então abolicionistas entoavam seus discursos 
libertários contra a escravidão no Brasil.
Zito Costa, numa profunda e detalhada Tese de 
Doutorado da USP, comprovou que as telenovelas brasileiras, 
na sua esmagadora maioria, colocavam os negros e pardos 
sempre em posições subalternizadas. Onde estão as cotas da 
mídia (?). Afinal ainda não vivemos numa democracia racial, 
ao contrário do que pensava Gilberto Freyre. A ideologia do 
embranquecimento da década de 30/40 do século passado, 
ainda ecoa nos setores conservadores.
O Direito muda, os conceitos de Justiça também. 
Temos muito que descobrir nos horizontes da cidadania 
e da inclusão social. O país, é sem dúvida, a nação que 
concentra os maiores recursos de biomassa do Planeta - e 
a maior parte da população ainda não recebeu seu quinhão 
desta imensa riqueza.
Ainda temos piadas sobre os negros e pobres, 
ainda temos a imagem distorcida da globalização e do 
“darwinismo social” (Milton Santos), na qual os mais 
capazes sempre vencem socialmente. Entretanto, este 
cenário estaria correto se todos tivessem oportunidades 
semelhantes, o que não corresponde à realidade brasileira. 
Ótima educação e saúde significam dinheiro e posição 
social. A democracia social está ainda por vir, tem-se 
quinhentos anos de espera.
Reflexões sobre o Direito e o cotidiano 49
Temos ainda um longo caminho a trilhar pela 
agenda política e a reforma ética das instituições, 
banindo os personagens que solapam os cofres públicos 
e que são investidos pelo voto popular. A CNBB sugeriu 
que deveríamos ter a “cotas dos políticos honestos”; 
consolidou-se Lei da Ficha Limpa. É um tímido começo 
para esta nova realidade, mas que possui reflexos positivos 
na agenda das eleições brasileiras.
Parabéns ao Supremo Tribunal Federal por mais este 
importante passo que será dado em prol da Cidadania, após, 
é claro, alguns pedidos de vistas, embargos declaratórios e 
todos aqueles expedientes processuais que conhecemos.
Reflexões sobre o Direito e o cotidiano 51
1.8. Afinal, por quais razões pagamos impostos?
24 de janeiro de 2012
Imagine uma profissão em que todo santo dia sua 
mulher e sua família façam orações para que você chegue no 
final do expediente salvo e ileso. Pensem em uma profissão 
em que sua conduta deva ser tecnicamente impecável 
frente a situações bastante estressantes e que de sua atuação 
dependam vidas humanas. Avalie uma profissão em que 
você tenha o dever da coragem e que enfrente personagens 
perigosos, armados e audaciosos. Medite a respeito de uma 
profissão à qual toda sociedade fique atenta e que os mais 
diversos crimes sejam o seu cotidiano.
A exemplo da Polícia Federal, que instituiu um sólido 
planejamento estratégico, reduziu os graus da hierarquia, 
reduziu as diferenças salariais da base com o topo da carreira e se 
profissionalizou, desvinculando-se do Poder Executivo, é chegada 
a hora das valorosas polícias estaduais, a Civil e a Militar.
Não há tempo a perder. O Paranápode dar um 
exemplo para o Brasil e definitivamente lançar um plano 
de valorização salarial condizente com os novos desafios 
frente ao crime organizado. Temos plena confiança nisto e 
acreditamos nas nossas autoridades estaduais recém-eleitas.
Defendemos altos salários para os professores, pois sem 
educação os países tornam-se incubadores da criminalidade. Mas 
a força repressiva e investigativa do Estado deve estar aparelhada, 
principalmente para os crimes de Estado, os chamados white- 
collar-crime, ou crimes do colarinho branco, isto é, os crimes da 
classe alta, os que mais esvaziam os cofres públicos no Brasil.
52 Claudio Henrique de Castro
Quando se trata de votar aumento de subsídios para 
a classe política, rapidamente são elevados os rendimentos 
da classe dirigente. Quando se fala no salário da base do 
Estado, professores, profissionais da Saúde e policiais, há 
muito discurso e pouca ação.
As promessas dos atores da política são sempre as 
mesmas: “Saúde, Educação e Segurança!”. Por detrás desse 
discurso, na base do Estado, estão profissionais de alto valor 
moral e ético, que lutam com o suor do trabalho para viver e 
sobreviver. Não nos esqueçamos ainda dos trabalhadores da 
limpeza pública, que correm dezenas de quilômetros por dia 
recolhendo o lixo das cidades.
A hora da mudança é agora. Não se pode mais 
adiar o discurso da cidadania, da democracia, do 
Estado de Justiça Social. Para isto são necessários novos 
concursos públicos com salários condizentes com as 
tarefas que se avizinham necessárias para a construção de 
uma sociedade realmente democrática.
Afinal, por quais razões pagamos os impostos?
54 Claudio Henrique de Castro
1.9. corrupção custa 100 bilhões por ano aos bolsos dos brasileiros*.
23 de novembro de 2011
A corrupção custa para os brasileiros cerca de cem 
bilhões de reais por ano. Com base nesses dados o advogado 
e professor universitário Cláudio Henrique de Castro prega 
uma mudança de mentalidade da população em relação 
ao corrupto. Segundo ele, o Brasil precisa passar por uma 
reforma na educação para barrar a ação de corruptos. Para 
o professor a raiz de boa parte dos problemas vividos pelos 
brasileiros teve origem na década de 70.
Cláudio Henrique de Castro aponta o serviço público 
como o maior foco de corrupção no país.
Entre as soluções apontadas pelo professor 
estão: tornar a justiça acessível aos pobres, acabar com 
a prescrição penal e com a prisão especial e rigor na 
aplicação da Lei de Responsabilidade Fiscal sem as análises 
elásticas que ocorrem normalmente. Mas ele acredita que 
o brasileiro já está mais consciente em relação à corrupção. 
Segundo dados oficiais, o Brasil é a NONA potência 
mundial, mas é o número 95° em analfabetismo, 73° em 
expectativa de vida, 98° em mortalidade infantil, e a taxa de 
homicídios é de 31 para cada grupo de cem mil habitantes. 
Para Cláudio Henrique de Castro esses números têm tudo 
a ver com a corrupção.
*Notícia Jornalística
56 Claudio Henrique de Castro
1.10. A República Brasileira e o custo Brasil.
22 de novembro de 2011
O conceito de Custo Brasil normalmente passa pela 
ineficiência e corrupção do Estado brasileiro, uma clara 
crítica à corrupção endêmica instalada no país. Contudo, 
devemos olhar para os lados e verificarmos que há um custo 
em todos os países; o custo da exclusão social que gera 1 
bilhão de pessoas que passam fome no mundo e 1,2 bilhão de 
pessoas não tem acesso à água tratada no mundo.
No mundo verifique-se que 10% dos mais ricos 
detêm 85% do capital global, e metade dos habitantes detém 
apenas 1% e que os países altamente industrializados do G8 
venderam 87% das armas exportadas do mundo inteiro, 
fomentando e lucrando com a guerras locais e regionais.
O Brasil se coloca como a 9a potência mundial, mas 
em 95° em analfabetismo; 73° em expectativa de vida; 98° em 
mortalidade infantil e com uma taxa de 31 homicídios a cada 
100 mil habitantes, numa verdadeira epidemia da delinquência.
Estas assimetrias devem ser consideradas no 
conceito de Custo Brasil. Vejamos o problema da 
corrupção que nos custa R$ 100 bilhões por ano, o que 
resulta em 3,7 bi de prejuízos por ano, para cada Estado da 
Federação, combinada com a política de juros altíssimos 
que beneficia o rentismo em detrimento do estudo e do 
trabalho se enquadram na “erosão ética”.
Inegáveis a ineficiência da infraestrutrura e da 
logística na “erosão técnica” e ainda os 20 milhões de pobres 
na “erosão humana”.
Reflexões sobre o Direito e o cotidiano 57
Quais soluções poderiam ser apontadas para a
redução do Custo Brasil?
Vejamos algumas sugestões veiculadas pelos setores
mais progressistas:
1. Fidelidade partidária, não a de araque que assola a 
legislação e a Justiça Eleitoral;
2. Acabar com prisão especial, com a cessação dos privilégios 
oferecidos às elites;
3. A imposição de ficha limpa para as pessoas indiciadas a 
critério de juízo de recebimento do inquérito;
4. A indicação obrigatória em cada produto da carga de 
imposto para conscientizar as pessoas sobre a arrecadação 
do Estado;
5. Rigor da LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal) e não 
nas interpretações elásticas e casuísticas que ocorrem 
rotineiramente;
6. Proibição do voto secreto e salários aos membros do Poder 
Legislativo;
7. Tornar a justiça acessível aos pobres;
8. Acabar com a prescrição penal que se tornou um grande 
negócio para a impunidade das elites;
9. Evitar o cinismo pragmático do relaxa, transgride e goza;
10. Enfrentar o falso problema do garantismo penal;
11. Redução drástica dos cargos de provimento indicados no 
Estado brasileiro e os milhares de cargos em comissão 
para somente servidores de carreira;
12. Superar o duplo padrão ético no Estado no cumprimento 
da lei e a cultura da transgressão da lei e do jeitinho (“aos 
amigos tudo, aos inimigos os rigores da lei”);
13. Implantar uma agenda ética, a exemplo da Noruega;
14. Efetivar uma profunda revisão do conceito de felicidade 
na qual todos participem da riqueza do Estado; por 
exemplo, a Costa Rica que possui 18% em comparação 
com o Brasil que possui 33% de pobres na sua população;
15. Instaurar a definitivamente a República no Estado 
brasileiro -, passados 122 anos da sua proclamação, 
o Estado Brasileiro ainda não é feito para, pelo e em 
função do povo, mas serve na sua maior parte aos 
detentores do poder e seus apoiadores.
60 Claudio Henrique de Castro
1.11. o julgamento do médico de Michael Jackson e a Justiça brasileira.
9 de novembro de 2011
Terminou anteontem (7) em Los Angeles o julgamento 
do médico de Michael Jackson, Conrad Murray, condenado 
por homicídio culposo do cantor, depois de cinco semanas 
de testemunhos para elucidar como ocorreu a morte do astro, 
há dois anos. Este julgamento célere e minucioso demonstra 
como a impunidade é abominada pelos norte-americanos, 
não obstante todas as críticas que se possam fazer ao sistema 
processual penal anglo-saxão.
Um processo semelhante recentemente term inou 
no Brasil após quase 30 anos de suspense, recursos e idas e 
vindas nos tribunais superiores. O resultado é muito claro: 
a lentidão do processo penal brasileiro aliada aos hábeis 
recursos processuais e à alta rotatividade de juízes redunda 
na prescrição dos delitos e a conseqüente impunidade.
Estatisticamente os pobres e desassistidos são 
condenados; as classes média e alta permanecem imunes 
à legislação penal.
Recentes debates legislativos buscam reformas e mais 
reformas. Mas de uma coisa não há dúvida: o denominado 
garantismo penal aliado às bizantinas estratégias processuais 
de defesa, na maior parte dos casos, nutre a impunidade.
Reflexões sobre o Direito e o cotidiano 61
As lições do julgamento do médico de Michael 
Jackson ressoam na América Latina, cuja democraciaprocessual penal ainda não chegou aos tribunais brasileiros. 
O ditado popular “quem pode mais chora menos” é uma 
realidade nas delegacias e prisões, nas quais o poder 
econômico prevalece à frente da justiça penal.
A doutrina processual, preocupada com o garantismo 
do contraditório, da ampla defesa e da sentença final 
transitada em julgado, afasta-se de uma sociedade justa na 
qual as diferenças de classes sociais não sejam determinantes 
no julgamento. Afinal, não somos iguais perante as leis (?).
O reflexo disto também se faz sentir de tutela expressiva 
dos delitos patrimoniais privados, cada vez mais protegidos, 
e a crescente impunidade dos políticos e administradores 
públicos quanto aos delitos praticados em detrimento dos 
cofres públicos, sustentados por toda sociedade.
A inelegibilidade e a indisponibilidade de bens são 
apenas uma pequena retribuição penal, se as compararmos à 
legislação dos países altamente desenvolvidos que punem de 
forma exemplar seus corruptos.
O Direito penal e processual penal brasileiro têm 
muito que aprender com o recente julgamento do médico 
de Michael Jackson, independente da condenação que 
o júri de sete homens e cinco mulheres lhe imputou de 
forma rápida e fundamentada.
Reflexões sobre o Direito e o cotidiano 63
1.12. o Ensino Superior na rede privada em curitiba e região metropolitana: cenário atual e perspectivas para os professores.
24 de abril de 2011
O governo de Fernando Henrique Cardoso, por meio 
do seu ministro Paulo Renato, implantou uma estrutura 
eminentemente privada de ensino superior no Brasil, financiada 
pelos cofres públicos. Hoj e aquele ministro presta consultoria de 
negócios para os empresários do ensino no Brasil, comprando 
instituições deficitárias para revendê-las a grandes grupos 
nacionais e estrangeiros. O governo Lula alterou muito pouco 
esta realidade, implantando o Prouni e medidas de inclusão de 
alunos carentes, mas o cerne da questão não foi enfrentado: a 
qualidade do ensino é cada vez mais baixa.
O discurso do governo Dilma parece querer 
transformar esta realidade, mas se volta tão somente ao ensino 
fundamental, o que é um começo. Nesta verdadeira indústria 
do conhecimento, o binômio lucro versus corte de custos é 
predominante, salvo raras exceções. Com efeito, no meio disso 
o professor tornou-se mero repassador de conhecimento e 
mais uma peça que encarece o circuito deste mercado que se 
convencionou chamar de Educação Superior privada.
Em Curitiba e região metropolitana a realidade não é 
diferente. Este ano os representantes dos empresários, a par 
dos reajustes muito superiores do INPC para as mensalidades 
e acréscimos de toda ordem para os estudantes, vêm 
repassando apenas e tão somente o reajuste do INPC, sem 
qualquer avanço nas cláusulas sociais da categoria. Na última
64 Claudio Henrique de Castro
negociação de férias do meio do ano, por exemplo, ofereceram, 
com piedade e desprendimento, apenas e tão somente uma 
semana ou sete dias, sem descurar das semanas acadêmicas 
de doutrinação pedagógico-salarial, numa afronta à CLT.
O desgaste e a grave corrosão nos salários chega a 60% 
(sessenta por cento) nos últimos anos, o que aproxima o salário 
dos professores à garantia do salário mínimo, abaixo do piso 
do Estado do Paraná. O quadro é sombrio, pois um exército de 
desempregados e profissionais recém-formados se submetem às 
mais degradantes condições de trabalho e a recebem R$15,00 
(quinze reais) por hora-aula. Também a disputa por horas-aula 
no semestre deixa a categoria desunida pois cada professor pode 
avançar sobre turmas dos colegas e afetar diretamente o salário 
do semestre seguinte. Resumindo: quem tinha três turmas pode 
ficar com apenas uma e ver reduzido seu salário em dois terços.
Outra realidade é a profissão como “bico”, para 
conferir aos detentores do título de professores a captação 
de clientela e o status da cátedra, deixando de lado a 
remuneração recebida. Outra característica da situação 
é que, a par da formação do exército de desempregados, a 
mão de obra especializada está cada vez mais difícil de ser 
encontrada, ou seja, não se conseguem profissionais com os 
requisitos mínimos para o exercício da profissão, sejam quais 
forem as áreas: Exatas, Humanas ou Biológicas.
Ao mesmo tempo, o MEC, que deveria fiscalizar tudo 
isto, desde os tempos do ministro Paulo Renato vem sendo 
complacente e beijando as mãos dos empresários do ensino. 
Grandes grupos internacionais estão comprando gradativamente 
as redes de ensino, num franco processo de desnacionalização 
da educação brasileira, com as bênçãos das autoridades.
Reflexões sobre o Direito e o cotidiano 65
O Ministério, quando se preocupa, olha apenas as 
estruturas físicas para a solução do Ensino. Fecha os olhos 
para o apelo à inexistência de carreiras docentes e à absoluta 
ausência de política de valorização dos professores pelos 
perversos patrões do ensino, que, na maioria, são empresários 
sem qualquer formação acadêmica para este mister.
A última edição do Didata, jornal da categoria 
dos Professores, cada vez maior em número de páginas, 
demonstra este quadro, com relatos de graves arbitrariedades 
trabalhistas cometidas contra os professores. Alguns se 
perguntam: cadê o Ministério Público do Trabalho, cadê o 
MEC, cadê o Poder Judiciário Trabalhista nas ações coletivas?
Há denúncias de que algumas instituições 
praticam o “jogo do empurra das aprovações”, que 
leva à lógica da aprovação sequencial, caso contrário, 
demissão sumária, pois alunos a menos, lucros menores. 
No nível fundamental a coisa é mais degradante ainda! 
Cerca de 80% (oitenta por cento) dos recém-concursados 
num Estado do Nordeste, abandonaram nas duas primeiras 
semanas os postos de trabalho pelo desconhecimento do 
conteúdo a ser ministrado, o salário e outras oportunidades 
no mercado. Hoje, com todo respeito a estes outros ofícios, 
um simples reparo em computador doméstico, encanamento 
ou pequeno serviço de pintura é muito mais valorizado 
que a nobre função da docência. O custo da hora-ofício 
vai de R$50,00 (cinquenta reais) a R$150,00 (cento e 
cinquenta reais), quando a hora-aula em Curitiba e região 
metropolitana aos docentes é de R$15,00 (quinze reais). Só 
que esta aula exige preparação, estudo permanente, compra 
de livros, pesquisas e, acima de tudo, muito profissionalismo.
66 Claudio Henrique de Castro
E os professores sabem da sua im portância social; 
não obstante a remuneração percebida, esforçam-se ao 
máximo para m inistrar aulas de qualidade e conteúdo. 
A bandeira da valorização dos Professores do Ensino 
Superior não é encampada por nenhum político, seja 
do Paraná, seja de outros Estados, ao mesmo tempo que 
os empresários é que elegem seus representantes para 
garantir favores tributários e a expansão cada vez maior 
do famigerado ensino à distância, de custos ínfimos 
e lucros astronômicos, de duvidosa e baixa eficiência 
de ensino e baixíssima remuneração em relação aos 
rendimentos. Os m inistérios da República são postos 
de sindicalistas, num a continuidade da República das 
centrais sindicais de dirigentes que pouco sentaram nos 
bancos escolares do Ensino Superior.
Há pouco tempo ocorreu um triste episódio em 
Curitiba, sem divulgação na mídia. Um professor de uma 
Universidade da rede privada que se autodenomina a melhor 
do Sul, do Brasil, talvez até da Via Láctea, se suicidou, 
vítima de depressão. Estudos recentes demonstram que 
esta enfermidade é a que mais atinge os docentes da rede 
pública e privada, chegando a índices alarmantes, inclusive 
no nosso estado vizinho de Santa Catarina.
Reflexões sobre o Direito e o cotidiano 67
Quais as luzes para este quadro nefasto? Em recente 
assembléia dos professores realizada pelo SINPES - Sindicato 
dos Professores do Ensino Superior de Curitibae da Região 
Metropolitana, esses assuntos foram exaustivamente 
debatidos e chegamos à conclusão de “Estado Permanente de 
Greve e Mobilização em prol da Valorização dos Professores”, 
por meio de medidas que sensibilizem a sociedade de Curitiba 
e do Estado, além, claro, dos empresários do ensino. Os 
professores e os acadêmicos merecem respeito e consideração, 
pois acima de tudo irão influir no desenvolvimento social 
a econômico do nosso país. Foram dez itens debatidos e 
aprovados para articular esta mobilização durante o ano de 
2011/2012. Tudo para mudar esta triste realidade.
Reflexões sobre o Direito e o cotidiano 69
1.13. o aumento da remuneração das Polícias no Paraná.
2 de março de 2012
As recentes tratativas que resultaram no aumento 
salarial das polícias no Estado do Paraná demonstram 
duas importantes mudanças no Estado. A primeira: o 
discurso de campanha não foi uma armadilha eleitoral; o 
segundo: se avizinham políticas para conter a galopante 
criminalidade que se instalou no Estado, da capital (do 
centro às periferias) e até nos mais distantes rincões do 
interior. A Lei Seca, que trouxe nova dosagem nos limites 
de direção veicular, é uma lei que em algumas capitais 
“pegou”, como em São Paulo e Rio de Janeiro, entre 
outras. Em Curitiba ainda não, pela ausência de blitzes e 
equipamentos.
O número de telefone 190, que demora para atender e, 
dependendo da ocorrência, a chegada da viatura leva de meia 
a uma hora, também se juntam à necessidade de mudanças. 
O treinamento das polícias, com formação em Direitos 
Humanos, de novas técnicas de prevenção e combate entram 
na pauta do novo horizonte em que as polícias podem atuar, 
ajustando-se aos novos desafios do Estado democrático de 
direito que deixou no passado a ditadura de 1964 e aquela 
velha polícia formada desde o Estado Novo.
70 Claudio Henrique de Castro
Mas o principal está por vir: a inamovibilidade dos 
delegados, as investigações profissionais e a independência 
investigatória urgem no horizonte do Estado para se acabar 
com aquele exemplo que, até há pouco tempo, era citado 
de forma negativa nos Congressos de Direito, os chamados 
delegados calças-curtas, sem formação e indicados pelos 
políticos detentores do currais eleitorais.
Não só de pão vive o homem mas, sem dúvida, os 
reajustes anunciados significam um grande avanço para as 
valorosas corporações policiais, cujos integrantes arriscam as 
próprias vidas pela segurança da sociedade.
72 Claudio Henrique de Castro
1.14. A profissionalização da Polícia(PEc 300/2008) e a gradativa união das Polícias civil e Militares é uma tendência mundial.
22 de setembro 2011
Quando vemos que Curitiba é a sexta cidade mais 
violenta do Brasil e o bairro da CIC (Cidade Industrial de 
Curitiba) o lugar mais perigoso da capital (1), nos perguntamos 
se a solução para isto tudo é o aumento do efetivo das Polícias 
ou a implantação de políticas sociais robustas e investimentos 
maciços em Educação e Saúde públicas igualitárias.
A profissionalização da Polícia (PEC 300/2008) (2) 
e a gradativa união das Polícias Civis e Militares é uma 
tendência mundial. O §8° do art. 144 da Constituição 
Federal (3) dispõe sobre a possibilidade da criação das 
guardas municipais para os municípios do Brasil. No 
Paraná teremos 399 guardas municipais, cada município 
com a sua, com uniformes, leis, regimes de aposentadorias 
etc. Não esqueçamos que no Brasil são 5.435 municípios, 
num cipoal legislativo chamado “interesse local”.
A competência da Guarda Municipal é a de:
“Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e 
responsabilidade de todos, é exercida para a preservação 
da ordem pública e da incolumidade das pessoas e 
do patrimônio, através dos seguintes órgãos: (...) 
§ 8° - Os Municípios poderão constituir guardas 
municipais destinadas à proteção de seus bens, serviços 
e instalações, conforme dispuser a lei.(grifamos)”
Reflexões sobre o Direito e o cotidiano 73
Esta competência é de proteção de bens, serviços 
e instalações municipais em substituição àquelas 
terceirizações de vigilância nos bens públicos municipais, 
apenas e tão somente isto. Temos sérias dúvidas sobre a 
legalidade do porte de arma deste pessoal, bem como, 
sobre a extensão dos direitos de aposentadoria especial dos 
Policiais Militares e diversas outras deferências legislativas 
que estão ocorrendo no âmbito destas guardas municipais, 
mas este é outro assunto. Ocorre que esta competência não 
é de “Polícia de Segurança Pública” nem sob a forma de 
“convênio”, conforme decidiu o Superior Tribunal de Justiça 
(A.I.1056.8994-RJ) em 2008, isto é, não pode a Guarda 
Municipal lavrar multas (decisão abaixo).
Nesta semana o Supremo Tribunal Federal declarou 
que o tema é de Repercussão Geral e, portanto, será 
decidido o assunto, em breve, se é possível estas guardas 
lavrarem multas de trânsito ou não. Podemos apenas fazer 
um exercício de prognóstico quanto ao tema, tanto pode o 
Supremo admitir como deferir esta possibilidade.
São 49 decisões do Supremo Tribunal Federal 
sobre a competência municipal de legislar sobre 
“interesse local”, poucas essencialmente sobre trânsito 
e que não envolvem a figura da guarda municipal, mas 
afastam a possibilidade de o Município legislar sobre 
o direito de trânsito, que é competência privativa da 
União, impossibilidade de vistoria em veículos 
(ADI.3323/DF), impossibilidade de imposição legal 
do cinto de segurança (ADI.1032 e outras), nem muito 
menos, legislar concorrentem ente m atéria da União 
(RESP. 596489, 2a Turma).
74 Claudio Henrique de Castro
O Ministro Marco Aurélio, relator do processo 
de Repercussão Geral (5) em duas laudas reconheceu a 
relevância do tema, até porque milhares de recursos advindos 
de processos que se requerem a nulidade das multas da 
Guarda Municipal carioca e outras poderiam inundar o 
Supremo Tribunal Federal, num mar de recursos de multas.
Em Curitiba, a URBS mediante convênio com o Estado, 
lavrava multas não somente previstas nos incisos VI a VIII do 
art. 24 do Código de Trânsito Brasileiro, mas também de outras 
espécies normativas, alargando de forma ilegal a competência 
municipal, (se é que é válida), disposta no CTB (6):
“Art. 24. Compete aos órgãos e entidades executivos 
de trânsito dos Municípios, no âmbito de sua 
circunscrição: (...)
VI - executar a fiscalização de trânsito, autuar e 
aplicar as medidas administrativas cabíveis, por 
infrações de circulação, estacionamento e parada 
previstas neste Código, no exercício regular do 
Poder de Polícia de Trânsito;
VII - aplicar as penalidades de advertência por escrito 
e multa, por infrações de circulação, estacionamento 
e parada previstas neste Código, notificando os 
infratores e arrecadando as multas que aplicar;
VIII - fiscalizar, autuar e aplicar as penalidades e 
medidas administrativas cabíveis relativas a infrações 
por excesso de peso, dimensões e lotação dos veículos, 
bem como notificar e arrecadar as multas que aplicar;”
Reflexões sobre o Direito e o cotidiano 75
Outra afronta era a questão de possuir natureza 
privada, de sociedade anônima (URBS S.A.) quando o 
Poder de Polícia é indelegável por ordem da Constituição e 
somente pode ser exercido pelo Poder Público (art. 144 da 
Constituição Federal).
Reforçamos, neste sentido, o entendimento de que 
matéria de “interesse local” (art. 30, inciso I, da Constituição 
Federal) não diz respeito à imposição de multas pelo simples 
fato de que quem institui legalmente a infração de trânsito é 
privativamente a União, e a fiscalização e o poder de polícia 
não podem ser deferidos à Guarda Municipal.
Na decisão do Superior Tribunal de Justiça encartada 
no processo e Repercussão Geral, encontra-se a seguinte 
decisão (item 7, p. 110):
“g u a r d a m u n i c i p a l . e x e r cí c i o d o p o d e r 
d e p o l í c i a d e l e g a ç ã o d a c o m p e t ê n c i a 
i m p o s s i b i l i d a d e .
Guarda Municipal Representação por 
Inconstitucionalidade. Indelegabilidade das 
funções de segurança publica e controle de 
trânsito, atividades próprias do Poder Público. As 
atividades próprias do Estado são indelegáveis pois 
só diretamente ele as pode exercer; dentre elas se 
inserem o exercício do poder de polícia de segurança 
pública e o controle do trânsito de veículos, sendo 
este expressamente objeto de norma constitucional 
estadual que a atribui aos órgãos da administração 
direta que compõem o sistema de trânsito, dentre 
elas as Polícias Rodoviárias (Federal e Estadual) 
e as Polícias Militares Estaduais. Não tendo os
76 Claudio Henrique de Castro
Municípios Poder de Polícia de Segurança Pública, as 
Guardas Municipais que criaram tem finalidade 
específica guardar os próprios dos Municípios (prédios 
de seu domínio. praças etc.) sendo inconstitucionais 
leis que lhes permitam exercer a atividade de 
segurança pública, mesmo sob a forma de Convênios.”
O atentado de 11 de setembro nos EUA provocou 
muitas vítimas em razão de uma briga histórica entre a Polícia 
de Nova Iorque e os Bombeiros, pois suas faixas de rádio não 
se comunicavam e os bombeiros da segunda torre ainda em 
pé não sabiam que a primeira havia desabado. Esta ausência 
de comunicação entre polícias não é privilégio dos norte- 
americanos. A falta das carreiras específicas e da coordenação 
de funções das polícias tem contribuído para a baixa eficiência 
das políticas públicas de segurança, não somente nos países 
altamente desenvolvimentos, mas também nos emergentes, que 
é o caso brasileiro, onde até as Forças Armadas, comandadas 
pelo Exército adentram os morros das habitações populares 
para coibir o tráfico e as milícias armadas.
O Paraná, com efeito, possui um grave déficit nos seus 
quadros das valorosas Polícias Militar e Civil, há ainda muito 
a ser feito. Interpretar a Constituição de forma a alargar a 
competência da não menos valorosa Guarda Municipal é 
criar novas instâncias de poder, sem qualquer possibilidade 
de profissionalização e mais uma esfera de baixa ou nenhuma 
comunicação e planejamento nas políticas de segurança 
pública, mormente quando o governador e os prefeitos são 
de partidos diferentes e visões políticas conflitantes.
Reflexões sobre o Direito e o cotidiano 77
Temos a convicção de que o STF não admitirá a referida 
possibilidade de a guarda municipal lavrar multas de trânsito, 
até porque a Guarda Municipal carioca é comandada por 
uma sociedade anônima (Empresa Municipal de Vigilância
S.A.), nesse sentido, a banalização do poder de polícia, como 
ocorria em Curitiba, deve ser coibida, pois está intimamente 
ligada à questão arrecadatória municipal e não propriamente à 
preocupação com segurança e bem-estar dos citadinos.
Por fim, a Polícia Militar não somente está preparada 
para multar, mas possui formação completa para atuar na 
seara do trânsito e segurança. É, com efeito, uma corporação, 
coordenada e subordinada a valores e políticas legais de 
atuação e que não diz respeito somente a infrações de 
parada obrigatória ou em local não regulamentado, mas 
essencialmente da tarefa ostensiva de proteger os cidadãos.
Antes de pensarmos nas Polícias que devem lavrar 
multas, devemos também pensar nos Professores que 
queremos e devemos valorizar para ensinarem a ótima 
convivência em Sociedade, com valores éticos e morais de 
respeito à dignidade humana.
O trânsito neste sentido é apenas um reflexo do 
ethos de uma sociedade em constante transformação 
histórica que por vezes pode gerar uma inversão de valores, 
primeiro a arrecadação, depois a proteção às vidas humanas 
(DAMMATA, Roberto. Fé em Deus e Pé na Tábua).
Aguardemos a decisão do Supremo Tribunal Federal, 
nessa novela que terá muitos capítulos emocionantes.
78 Claudio Henrique de Castro
Referências:
(1) http://g1.globo.com/parana/noticia/2011/07/curitiba-e- 
sexta-capital-mais-violenta-de-pais.html
(2) http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetrami 
tacao?idProposicao=414367
(3) http://www .planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/ 
Constituicao.htm
(4) http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp? 
idConteudo=189421
(5) http ://w w w .stf.jus.br/portal/processo/verProcesso 
A ndam ento.asp?num ero=637539& classe=RE& orig 
em =A P& recurso=0& tipoJulgam ento=M
(6) http://www.denatran.gov.br/ctb.htm
(7) http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docT 
P=TP&docID=1395275&ad=s#2%20-%20VOLUME
80 Claudio Henrique de Castro
1.15. A segurança e o porte de armas no Brasil.
12 de abril de 2011
Há um falso problema no Brasil, que é o da proibição 
do porte de armas. Já tivemos um referendum que afastou por 
completo a proibição das armas no país. A grande maioria da 
população votou pela liberdade do uso. Contudo, a restrição 
ao porte permanece para os cidadãos de bem. Isto é uma 
ilegalidade. O tráfico continua e os únicos que possuem porte 
são: os membros do Poder Judiciário, Ministério Público, 
senadores, deputados federais, um restrita parte da elites e os 
novos megaempresários da segurança pública no Brasil: as 
empresas de segurança privada e, finalmente, os criminosos, 
aqueles que sobrevivem do crime. Os cidadãos que trabalham 
são expressamente proibidos de portar armas de fogo e são 
potenciais vítimas de quaisquer delinquentes que têm a certeza 
da ausência de riscos no cometimento do crime.
O Brasil possui as mais fortes restrições ao porte 
de armas - e isto tem endereço certo: o crescimento 
astronômico nos lucros das empresas de vigilância e 
segurança. Nossas empresas de armas faliram ou se 
mudaram para os EUA, como é o caso da Forjas Taurus.
As anunciadas novas medidas proibitivas do porte 
são de caráter eminentemente demagógico e eleitoreiro. Na 
verdade, temos que liberar o porte de armas, obviamente 
com critérios, não tão rigorosos que somente os amigos 
do Rei consigam obtê-lo, mas assegurar que os cidadãos 
tenham a mínima possibilidade de reação frente aos 
criminosos. Vive-se a Sociedade do medo.
Reflexões sobre o Direito e o cotidiano 81
Qualquer pessoa pode encomendar armas de grosso 
calibre, metralhadores, escopetas e fuzis. O mercado paralelo 
de armas, por conta da proibição, é gigantesco - e diante 
dessa realidade as autoridades se calam.
Curitiba, que é a mais violenta cidade do Sul do Brasil, 
e Campina Grande do Sul, disputando o posto de mais violenta 
do Brasil em homicídios, são exemplos marcantes disto.
Apesar deste cenário, nenhuma palavra escutamos dos 
políticos de plantão, que sempre aparecem com os mesmos 
discursos: vamos lutar por educação, segurança etc.
Investimentos sociais são a forma mais sensata 
para diminuir o problema. Enquanto isso não acontece, 
padecemos de segurança nas escolas, nas ruas, nas praças, 
em todos os lugares. A exceção são as ilhas de consumo, 
os shoppings, que por isso mesmo ficam abarrotados nos 
feriados e finais de semana.
Reflexões sobre o Direito e o cotidiano 83
1.16. As desventuras jurídicas do caso Battisti.
2 de janeiro de 2011
Cesare Battisti, italiano refugiado no Brasil desde 
2004, recebeu pedido de Extradição do Governo Italiano 
(Nota Verbal de 21/02/2007) que foi protocolizado sob n° 
1085 de 16/12/2009 junto ao Supremo Tribunal Federal. Com 
passagens na França até 1982, foi para o México e permaneceu 
até 1990, voltou para França e veio ao Brasil em 2007.
Em verdade, o corpo do acórdão do Supremo Tribunal 
Federal não deixou claro que a decisão é do Presidente, pois: 
quatro votos foram pela Extradição, um voto pela observância 
do Tratado e quatro votos pelo caráter discricionário do 
Presidente da República (item 8, página 3, do

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