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Resumo Direito Processual Penal (2)

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Princípios Gerais
1. PRINCÍPIOS GERAIS INFORMADORES DO PROCESSO
1.1. Imparcialidade do juiz
O juiz situa-se entre as partes e acima delas (caráter substitutivo). O juiz imparcial 
é pressuposto para uma relação processual válida.
Para assegurar essa imparcialidade, a Constituição Federal estipula garantias 
(artigo 95), prescreve vedações (artigo 95, parágrafo único) e proíbe juízos e tribunais de 
exceção (artigo 5.º, inciso XXXVII). Observação: tribunal de exceção é um órgão 
constituído após a ocorrência do fato.
1.2. Igualdade Processual
As partes devem ter, em juízo, as mesmas oportunidades de fazer valer suas 
razões. 
No processo penal, esse princípio sofre alguma atenuação, devido ao princípio 
constitucional do favor rei, segundo o qual o acusado goza de alguma prevalência em 
contraste com a pretensão punitiva. Essa atenuação se verifica, por exemplo, nos artigos 
386, inciso VI, 607, 609, parágrafo único, e artigo 621, todos do Código de Processo 
Penal.
Observação: O defensor público tem prazo em dobro no processo penal. A 
jurisprudência tende a estender o benefício aos advogados dativos.
1.3. Contraditório
Esse princípio decorre do brocardo romano audiatur et altera pars e é 
identificado na doutrina pelo binômio “ciência e participação”.
O juiz coloca-se eqüidistante das partes, só podendo dizer que o direito 
preexistente foi devidamente aplicado ao caso concreto se, ouvida uma parte, for dado à 
outra o direito de manifestar-se em seguida. 
Destarte, as partes têm o direito de serem cientificadas sobre qualquer fato 
processual ocorrido e a oportunidade de se manifestarem sobre ele antes de qualquer 
decisão jurisdicional.
1
Pergunta: A concessão de medidas judiciais inaudita altera parte configura 
exceção ao princípio do contraditório?
Resposta: Não, pois o juiz deverá abrir vista à outra parte para se manifestar sobre 
a medida antes de dar o provimento final. Nesse caso o contraditório é apenas diferido.
Observação: O princípio não se aplica no inquérito policial, que se trata de um 
procedimento inquisitório. Como no inquérito policial não há acusação, também não há 
defesa. Os únicos inquéritos que admitem o contraditório são: o judicial, para apuração 
de crimes falimentares; e o instaurado pela polícia federal, a pedido do Ministro da 
Justiça visando à expulsão de estrangeiro.
1.4. Ampla Defesa
O Estado deve proporcionar a todo acusado a mais completa defesa, seja pessoal 
(autodefesa), seja técnica (defensor) (artigo 5.º, LV, da Constituição Federal), inclusive 
o de prestar assistência jurídica integral e gratuita aos necessitados (artigo 5.º, LXXIV, 
da Constituição Federal).
No processo penal, o juiz nomeia defensor ao réu, caso ele não tenha, mesmo 
sendo revel (artigos 261 e 263 do Código de Processo Penal) e caso seja feita uma 
defesa abaixo do padrão mínimo tolerável, o réu poderá ser considerado indefeso e o 
processo anulado. Se o acusado, citado por edital, não comparece, nem constitui 
advogado, suspende-se o processo e o prazo prescricional (artigo 366 do Código de 
Processo Penal).
1.5. Da Disponibilidade e da Indisponibilidade
Disponibilidade é a liberdade que as pessoas têm de exercer ou não seus direitos. 
No processo penal, prevalece o princípio da indisponibilidade, pelo fato do crime 
ser considerado uma lesão irreparável ao interesse coletivo. O Estado não tem apenas o 
direito, mas sobretudo o dever de punir.
Do Código de Processo Penal, podem ser extraídas algumas regras, a saber:
• A autoridade policial é obrigada a proceder às investigações preliminares (artigo 5.º 
do Código de Processo Penal);
• Impossibilidade de a autoridade policial arquivar o inquérito policial (artigo 17 do 
Código de Processo Penal);
2
• O Ministério Público não pode desistir da ação penal (artigo 42 do Código de 
Processo Penal), nem do recurso interposto (artigo 576 do Código de Processo 
Penal).
A Constituição Federal abranda essa regra, ao permitir a transação em infrações 
de menor potencial ofensivo e também nos casos de ação penal privada e ação penal 
condicionada à representação ou à requisição do Ministro da Justiça. A Lei n. 10.409/02, 
no artigo 37, inciso IV, criou hipótese em que o promotor pode deixar de oferecer a 
denúncia. Neste caso vigora o princípio da oportunidade controlada. 
O Ministério Público não pode desistir da ação penal, mas pode pedir a absolvição 
do réu. Pergunta: tal possibilidade não fere o princípio da indisponibilidade da ação 
penal pública? Resposta: não, pois esse pedido não passa de mero parecer que não 
vincula o juiz, o qual pode proferir sentença condenatória.
1.6. Da Verdade Formal ou Dispositivo
O juiz depende da iniciativa das partes quanto às provas e às alegações para 
fundamentar sua decisão. Esse princípio busca salvaguardar a imparcialidade do juiz. 
Conforme esse princípio, o juiz pode se contentar com as provas produzidas pelas 
partes devendo rejeitar a demanda ou a defesa por falta de elementos de convicção. 
É princípio próprio do processo civil, que vem sendo cada vez mais mitigado, 
diante de uma tendência publicista no processo, permitindo ao juiz adotar uma posição 
mais ativa, impulsionando o andamento da causa, determinando provas, conhecendo 
circunstâncias de ofício e reprimindo condutas abusivas e irregulares (artigos 130 e 342 
do Código de Processo Civil). 
1.7. Da Verdade Material (ou Verdade Real)
Também denominado princípio da livre investigação das provas. Sempre 
predominou no processo penal.
O juiz tem o dever de ir além da iniciativa das partes na colheita das provas, 
esgotando todas as possibilidades para alcançar a verdade real dos fatos para 
fundamentar a sentença. Somente, excepcionalmente, o juiz deve curvar-se diante da 
verdade formal, como no caso da absolvição por insuficiência de provas (artigo 386, 
inciso VI, do Código de Processo Penal). 
Mesmo vigorando o princípio da livre investigação das provas, a verdade 
alcançada será sempre formal, pois o que não está nos autos, não está no mundo.
Esse princípio comporta algumas exceções: artigos 406, 475, 206, 207 e 155, 
3
todos do Código de Processo Penal; a Constituição Federal, no artigo 5.º, inciso LVI, 
veda a utilização de provas obtidas por meios ilícitos.
1.8. Publicidade
É uma garantia de independência, imparcialidade, autoridade e responsabilidade 
do juiz. Também é uma garantia do indivíduo de fiscalizar a atuação jurisdicional. 
A publicidade poderá ser restrita nos casos em que o decoro ou o interesse social 
aconselharem que eles não sejam divulgados (artigo 155, I e II, do Código de Processo 
Civil e artigos 483 e 792, § 1º, do Código de Processo Penal).
O inquérito policial é um procedimento inquisitivo e sigiloso (artigo 20 do Código 
de Processo Penal). O sigilo, entretanto, não se estende ao representante do Ministério 
Público, nem à autoridade judiciária. No caso do advogado, pode consultar os autos do 
inquérito policial, mas, caso seja decretado judicialmente o sigilo, não poderá 
acompanhar a realização de atos procedimentais.
1.9. Do Duplo Grau de Jurisdição
Consiste na possibilidade de revisão, por via de recurso, das causas já julgadas 
pelo juiz de primeiro grau.
Não é tratado de forma expressa na Constituição Federal. O duplo grau de 
jurisdição decorre da própria estrutura atribuída ao Poder Judiciário pela Carta Magna.
Há casos em que não há duplo grau de jurisdição, como, por exemplo, as 
hipóteses de competência originária do Supremo Tribunal Federal (artigo 102, inciso I, 
da Constituição Federal).
1.10. Juiz Natural
Previsto noartigo 5.º, inciso LIII, da Constituição Federal, que dispõe que 
“ninguém será sentenciado senão pelo juiz competente”.
Juiz natural é, portanto, aquele previamente conhecido, segundo regras objetivas 
de competência estabelecidas anteriormente à infração penal, investido de garantias que 
lhe assegurem absoluta independência e imparcialidade.
Do princípio, decorre também a proibição de criação de tribunais de exceção. 
(artigo 5.º, inciso XXXVII, da Constituição Federal).
4
1.11. Da Ação ou Demanda
Indica a atribuição à parte da iniciativa de provocar o exercício da função 
jurisdicional.
A jurisdição é inerte. O princípio impede que o juiz instaure o processo por 
iniciativa própria, o que, certamente, ameaçaria sua imparcialidade. Destarte, a 
movimentação da máquina judiciária exige a provocação do interessado.
O princípio decorre da adoção do processo acusatório, no qual as funções de 
acusar, defender e julgar são exercidas por órgãos distintos. Nosso sistema contrapõe-se 
ao sistema inquisitivo, no qual as funções de acusar, defender e julgar são realizadas 
pelo mesmo órgão. Questiona-se o sistema inquisitivo, pois quando o juiz instaura o 
processo de ofício, acaba ligado psicologicamente à pretensão. 
1.12. Oficialidade
Significa que os órgãos incumbidos da persecutio criminis não podem ser 
privados. A função penal é eminentemente pública, logo, a pretensão punitiva do Estado 
deve ser deduzida por agentes públicos. A ação penal pública é privativa do Ministério 
Público (artigo 129, inciso I, da Constituição Federal). A função de polícia judiciária 
incumbe à polícia civil (artigo 144, § 4.º, da Constituição Federal c/c artigo 4.º do 
Código de Processo Penal).
Admite-se, como exceção, a ação penal privada, a ação penal privada subsidiária 
da pública – quando da inércia do órgão do Ministério Público – e a ação penal popular 
– na hipótese de crime de responsabilidade praticado pelo Procurador-Geral da 
República e por Ministros do Supremo Tribunal Federal (artigos 41, 58, 65 e 66 da Lei 
n. 1.079/50).
1.13. Oficiosidade
As autoridades públicas incumbidas da persecução penal devem agir de ofício, 
sem necessidade do assentimento de outrem.
Ressalvam-se os casos de ação penal privada (artigo 5.º, § 5.º, do Código de 
Processo Penal) e ação penal pública condicionada.
Trata-se de um princípio geral relacionado a todas as autoridades que participam 
do procedimento criminal, e diferencia-se do princípio do impulso oficial, referente ao 
magistrado. 
5
1.14. Do Impulso Oficial
Uma vez instaurada a relação processual, compete ao juiz mover o procedimento 
de fase em fase até exaurir a função jurisdicional. 
1.15. Da Persuasão Racional do Juiz
Situa-se entre o sistema da prova legal, em que os elementos probatórios possuem 
valor prefixado, e o sistema do julgamento secundum conscientiam, em que o juiz pode 
decidir com base na prova dos autos, mas também sem provas e até mesmo contra a 
prova. 
No princípio da persuasão racional, o juiz decide com base nos elementos 
existentes nos autos, mas sua apreciação não depende de critérios legais 
preestabelecidos. A avaliação ocorre segundo parâmetros críticos e racionais. 
Esta liberdade não se confunde com arbitrariedade, pois o convencimento do juiz 
deve ser motivado.
Exceção: os jurados, no Júri, não precisam fundamentar suas decisões, pois para 
eles vigora o princípio da íntima convicção.
1.16. Da Motivação das Decisões Judiciais
As decisões judiciais precisam sempre ser motivadas. Esse princípio tem assento 
constitucional no artigo 93, inciso IX.
Hoje, esse princípio é visto em seu aspecto político: garantia da sociedade que 
pode aferir a imparcialidade do juiz e a legalidade e justiça das suas decisões. 
1.17. Lealdade Processual
Consiste no dever de verdade, reprovando a conduta da parte que se serve de 
artifícios fraudulentos. 
A fraude destinada a produzir efeitos no processo penal pode configurar o crime 
descrito no artigo 347 do Código Penal. 
1.18. Da Economia Processual
6
Preconiza o máximo resultado na aplicação do direito com o mínimo emprego de 
atos processuais. São exemplos da aplicação desse princípio os casos de conexão e 
continência (artigos 76 e 77 do Código de Processo Penal). 
Corolário da economia processual é o princípio do aproveitamento dos atos 
processuais ou da instrumentalidade das formas, em que os atos imperfeitos só serão 
anulados se o objetivo não for atingido, pois o que interessa é o objetivo, e não o ato em 
si mesmo. Tal regra segue o brocardo pas de nullite´sans grief.
No processo penal, não se anulam atos imperfeitos quando não prejudicarem a 
acusação ou a defesa e quando não influírem na decisão da causa (artigos 566 e 567 do 
Código de Processo Penal).
1.19. Do Promotor Natural
Também decorre da norma contida no artigo 5.º, inciso LIII, da Constituição 
Federal, o qual dispõe que ninguém será processado senão pelo órgão do Ministério 
Público com atribuições previamente fixadas e conhecidas.
O Supremo Tribunal Federal vedou a designação casuística de promotor pela 
Chefia da Instituição para promover a acusação em caso específico, pois tal 
procedimento chancelaria a figura do chamado “promotor de exceção” (HC n. 
67.759/RJ, Rel. Min. Celso de Mello, RTJ 150/123).
2. PRINCÍPIOS INFORMADORES DO PROCESSO PENAL
2.1. Estado de Inocência
Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado da sentença penal 
condenatória (artigo 5.º, LVII, da Constituição Federal).
Desdobra-se em três aspectos:
• prova: deve ser valorada em favor do acusado quando houver dúvida;
• instrução processual: inverte-se o ônus da prova, ou seja, o réu não precisa provar 
que é inocente, mas sim a acusação precisa fazer prova de que ele é culpado;
• no curso do processo: trata-se de entendimento expresso na Súmula n. 9 do Superior 
Tribunal de Justiça: “A exigência da prisão provisória, para apelar, não ofende a 
garantia constitucional da presunção de inocência”.
7
2.2. “Favor rei”
A dúvida sempre beneficia o acusado.
- Se há duas interpretações, opta-se pela mais benéfica; 
- Na dúvida, em caso de insuficiência de provas, absolve-se o réu;
- Alguns recursos são exclusivos da defesa (protesto por novo júri e embargos 
infringentes).
- Só cabe ação rescisória penal em favor do réu (revisão criminal).
2.3. Da Verdade Real
É princípio próprio do processo penal, indica que o juiz deve buscar descobrir a 
realidade, não se conformando com o que é apresentado nos autos (verdade formal). 
Como exemplo, pode ser citado o artigo 156 do Código de Processo Penal, que permite 
ao juiz determinar diligências de ofício para dirimir dúvida sobre ponto relevante.
Esse princípio comporta algumas exceções: artigos 406, 475, 206, 207 e 155, 
todos do Código de Processo Penal; a Constituição Federal, no artigo 5.º, inciso LVI, 
veda a utilização de provas obtidas por meios ilícitos.
2.4. Legalidade
Impõe a observância da lei pelas autoridades encarregadas da persecução penal, 
que não possuem poderes discricionários para apreciar a conveniência e oportunidade da 
instauração do processo ou do inquérito.
2.5. Oficialidade
A função penal é eminentemente pública, logo, a pretensão punitiva do Estado 
deve ser deduzida por agentes públicos. Admite-se, como exceção, a ação penal 
privada, a ação penal privada subsidiária da pública – quando da inércia do órgão do 
Ministério Público – e a ação penal popular – na hipótese de crime de responsabilidade 
praticado pelo Procurador-Geral da República e por Ministros do Supremo Tribunal 
Federal (artigos 41, 58, 65 e 66 da Lei n. 1.079/50).
2.6. Oficiosidade8
As autoridades públicas incumbidas da persecução penal devem agir de ofício, 
sem necessidade do assentimento de outrem.
Ressalvam-se os casos de ação penal privada (artigo 5.º, § 5.º, do Código de 
Processo Penal) e ação penal pública condicionada.
2.7. Autoritariedade
Os órgãos investigantes e processantes devem ser autoridades públicas. Exceção: 
ação penal privada.
2.8. Indisponibilidade
A autoridade policial não pode determinar o arquivamento do inquérito policial 
(artigo 17 do Código de Processo Penal). O órgão do Ministério Público não pode 
desistir (dispor) da ação penal pública, nem do recurso interposto (artigos 42 e 576 do 
Código de Processo Penal).
Exceções: ação penal privada e transação penal (artigo 76 da Lei n. 9.099/95).
2.9. Publicidade
A publicidade somente poderá ser restrita nos casos em que o decoro ou o 
interesse social aconselharem que eles não sejam divulgados (artigo 155, I e II, do 
Código de Processo Civil e artigos 483 e 792, § 1º, do Código de Processo Penal).
2.10. Contraditório
As partes têm o direito de serem cientificadas sobre qualquer fato processual 
ocorrido e a oportunidade de se manifestarem sobre ele, antes de qualquer decisão 
jurisdicional.
2.11. Da Iniciativa das Partes (“ne procedat judez ex officio”)
O juiz não pode iniciar ao processo sem a provocação da parte. Cabe ao 
Ministério Público promover privativamente a ação penal pública (artigo 129, inciso I, 
da Constituição Federal) e ao ofendido, a ação penal privada, inclusive a subsidiária da 
pública (artigos 29 e 30 do Código de Processo Penal).
9
2.12. “Ne eat judex ultra petita partium”
Indica que o juiz deve ater-se ao pedido feito na peça inaugural, não podendo 
pronunciar-se sobre o que não foi requerido.
O que vincula o juiz criminal são os fatos submetidos à sua apreciação. Exemplo: 
se na denúncia o promotor descreve um crime de estupro, mas ao classificá-lo, o faz 
como sendo de sedução, pode o juiz condenar por estupro, pois o réu se defende dos 
fatos a ele imputados. Nesse caso o juiz não julgou além do que foi pedido, apenas deu 
aos fatos classificação diversa (artigo 383 do Código de Processo Penal). 
O artigo 384 do Código de Processo Penal trata da mudança na acusação, sempre 
que os fatos narrados na denúncia ou queixa tiverem de ser modificados em razão de 
prova nova surgida no curso da instrução criminal. 
 
2.13. Devido Processo Legal
Previsto no artigo 5.º, inciso LIV, da Constituição Federal, o due process of law 
assegura à pessoa o direito de não ser privada de sua liberdade e de seus bens sem a 
garantia de um processo desenvolvido de acordo com a lei.
Deve ser obedecido não apenas em processos judiciais civis e criminais, mas 
também em procedimentos administrativos, inclusive militares.
2.14. Inadmissibilidade das Provas Obtidas por Meios Ilícitos
Ao considerar inadmissíveis todas as “provas obtidas por meios ilícitos”, a 
Constituição Federal proíbe tanto a prova ilícita quanto a prova ilegítima:
• Provas ilícitas: aquelas produzidas com violação a regras de direito material 
(exemplo: confissão obtida mediante tortura);
• Provas ilegítimas: aquelas produzidas com violação a regras de natureza meramente 
processual (exemplo: documento exibido em plenário do júri, sem obediência ao 
disposto no artigo 475 do Código de Processo Penal).
A doutrina e a jurisprudência tendem também a repelir as chamadas provas ilícitas 
por derivação, ou seja, as provas lícitas produzidas a partir de outra ilegalmente obtida 
(exemplo: confissão extorquida mediante tortura, que venha a fornecer informações 
corretas a respeito do lugar onde se encontra o produto do crime, propiciando sua 
regular apreensão). As provas ilícitas por derivação foram reconhecidas pela Suprema 
Corte Norte-Americana, com base na teoria dos “frutos da árvore envenenada” – fruits 
10
of the poisonous tree -, segundo a qual o vício da planta se transmite a todos os seus 
frutos. 
O Supremo Tribunal Federal, atualmente, não admite as provas ilícitas por 
derivação.
Entendemos que não é razoável sempre desprezar toda e qualquer prova ilícita, 
devendo o juiz admiti-las para evitar uma condenação injusta ou a impunidade de 
perigosos marginais. O direito à liberdade e à vida, por exemplo, não podem sofrer 
restrição pela prevalência do direito à intimidade. Entra aqui o princípio da 
proporcionalidade, segundo o qual não há propriamente um conflito entre as garantias 
fundamentais, devendo o princípio de menor relevância se submeter ao princípio de 
maior relevância. Por exemplo: uma pessoa acusada injustamente, que tenha na 
interceptação telefônica ilegal o único meio de demonstrar a sua inocência. A tendência 
da doutrina é a de acolher essa teoria, para favorecer o acusado (prova ilícita pro reo). 
2.15. Da Brevidade Processual
Verificando-se uma divergência, deve-se adotar a decisão mais célere, de acordo 
com o que normalmente acontece. Exemplo: na dúvida entre tráfico internacional ou 
nacional, os autos devem ser remetidos à justiça estadual; surgindo fato novo, em razão 
da matéria, modifica-se a competência.
2.16. Identidade Física do juiz
O juiz fica vinculado ao processo que presidiu a fase instrutória, devendo decidi-
lo. Atenção: este princípio não vigora no processo penal.
2.17. Do Promotor Natural
Ninguém será processado senão pelo órgão do Ministério Público com atribuições 
previamente fixadas e conhecidas (artigo 5.º, inciso LIII, da Constituição Federal).
Da Aplicação da Lei Processual Penal
1. EFICÁCIA DA LEI PROCESSUAL NO ESPAÇO
11
A lei processual penal aplica-se a todas as infrações penais cometidas em 
território brasileiro, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de Direito 
Internacional. No processo penal vigora o princípio da absoluta territorialidade (artigo 
1.º do Código de Processo Penal).
Ao contrário do que pode parecer, os incisos do artigo 1.º não cuidam de exceções 
à territorialidade da lei processual penal brasileira, mas sim de exceções à aplicação do 
Código de Processo Penal. O inciso I do artigo 1.º contempla verdadeiras hipóteses 
excludentes da jurisdição criminal brasileira.
Considera-se praticado em território brasileiro o crime cuja ação ou omissão, ou 
cujo resultado, no todo ou em parte, ocorreu em território nacional (artigo 6.º do Código 
Penal).
Considera-se, para efeitos penais, como extensão do território nacional: as 
embarcações e aeronaves públicas ou a serviço do governo brasileiro, onde quer que se 
encontrem, e as embarcações e aeronaves particulares que se acharem em espaço aéreo 
ou marítimo brasileiro ou em alto-mar ou espaço aéreo correspondente.
2. EFICÁCIA DA LEI PROCESSUAL PENAL NO TEMPO
Toda norma jurídica limita-se no tempo e no espaço. Isso quer dizer que a norma 
se aplica em um determinado território durante um determinado lapso de tempo.
A eficácia temporal das normas processuais é disciplinada pela Lei de Introdução 
ao Código Civil, nos artigos 1.º, 2.º e 6.º.
As normas de direito processual têm aplicação imediata, sem efeito retroativo. 
Adotou-se, portanto, o princípio tempus regit actum.
O artigo 2.º do Código de Processo Penal dispõe: “A lei processual penal aplicar-
se-á desde logo, sem prejuízo dos atos realizados sob a vigência da lei anterior.” A 
aplicação do dispositivo gera dois efeitos:
1) os atos processuais praticados na vigência da lei anterior são 
considerados válidos;
2) as normas da lei nova aplicam-se imediatamente, respeitados o ato 
jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.
12
No caso de normas mistas (de natureza processuale material), prevalece o caráter 
material, devendo ser aplicada a regra do artigo 2.º do Código Penal, ou seja, retroagirá 
para beneficiar o réu.
A lei tem vigência até que outra expressa ou tacitamente a revogue. A revogação 
ainda pode ser total (ab-rogação) ou parcial (derrogação).
3. IMUNIDADES
3.1. Imunidades Diplomáticas 
Os chefes de Estado e os representantes de governos estrangeiros estão excluídos 
da jurisdição criminal dos países em que exercem suas funções. A imunidade estende-se 
a todos os agentes diplomáticos, ao pessoal técnico e administrativo das representações, 
aos seus familiares e aos funcionários de organismos internacionais (ONU, OEA etc.).
Admite-se a renúncia à garantia da imunidade.
3.2. Imunidades Parlamentares 
São de duas espécies:
• material (absoluta): alcança os Deputados Federais, Deputados Estaduais e 
Senadores, garantindo-lhes a inviolabilidade por suas palavras, opiniões e 
votos. Para alguns, trata-se de causa de exclusão de ilicitude, para outros, causa 
funcional de isenção de pena. É irrenunciável. Estende-se também aos 
Vereadores se o crime foi praticado no exercício do mandato e na 
circunscrição do Município; 
• processual, formal ou relativa: consiste na garantia de não ser preso, salvo por 
flagrantes de crime inafiançável. Alcança os Deputados Estaduais, mas não 
alcança os Vereadores.
4. INTERPRETAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL
Artigo 3.º do Código de Processo Penal: “A lei processual penal admitirá 
interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios 
gerais de direito.” 
Interpretar uma norma significa buscar seu alcance e real significado.
13
4.1. Espécies
4.1.1. Quanto ao sujeito que elabora
• Autêntica ou legislativa: feita pelo próprio órgão encarregado da elaboração 
da lei. Pode ser:
– contextual: feita pelo próprio texto interpretado;
– posterior: feita após a entrada em vigor da lei.
• Doutrinária ou científica: feita pelos estudiosos e doutores do Direito. 
Observação: as exposições de motivos constituem forma de interpretação 
doutrinária, uma vez que não são leis.
• Judicial: feita pelos órgãos jurisdicionais.
4.1.2. Quanto aos meios empregados
• Gramatical, literal ou sintática: leva-se em conta o sentido literal das 
palavras.
• Lógica ou teleológica: busca-se a vontade da lei, atendendo-se aos seus fins 
e à sua posição dentro do ordenamento jurídico.
4.1.3. Quanto ao resultado
• Declarativa: há perfeita correspondência entre a palavra da lei e sua 
vontade.
• Restritiva: a interpretação vai restringir o seu significado, pois a lei disse 
mais do que queria.
• Extensiva: a interpretação vai ampliar o seu significado, pois a lei disse 
menos do que queria.
4.2. Interpretação da Norma Processual Penal
A lei processual admite interpretação extensiva, pois não contém dispositivo 
versando sobre direito de punir.
14
Exceções: tratando-se de dispositivos restritivos da liberdade pessoal (prisão em 
flagrante, por exemplo), o texto deverá ser rigorosamente interpretado. O mesmo quando 
se tratar de regras de natureza mista.
4.3. Formas de Procedimento Interpretativo
• Eqüidade: correspondência ética e jurídica da circunscrição – norma ao 
caso concreto;
• Doutrina: estudos, investigações e reflexões teóricas dos cultores do direito;
• Jurisprudência: repetição constante de decisões no mesmo sentido em 
casos semelhantes.
5. ANALOGIA
Consiste em aplicar a uma hipótese não regulada por lei disposição relativa a um 
caso semelhante.
5.1. Fundamento
Ubi eadem ratio, ibi eadem jus (onde há a mesma razão, aplica-se o mesmo 
Direito).
5.2. Natureza Jurídica
Forma de auto-integração da lei, ou seja, forma de supressão de lacunas.
5.3. Distinção
• Analogia: inexiste norma reguladora para o caso concreto, devendo ser 
aplicada norma que trata de hipótese semelhante.
• Interpretação extensiva: existe norma reguladora do caso concreto, mas 
esta não menciona expressamente sua eficácia.
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• Interpretação analógica: a norma, após uma enumeração casuística, traz 
uma formulação genérica. A norma regula o caso de modo expresso, 
embora genericamente (exemplo: artigo 121, § 2.º, inciso III e IV do 
Código Penal).
Observação: não confundir interpretação analógica com aplicação analógica. 
Aquela é forma de interpretação e esta forma de auto-integração.
5.4. Espécies de Analogia
• In bonam partem – em benefício do agente.
• In malam partem – em prejuízo do agente.
6. FONTES DO DIREITO PROCESSUAL PENAL 
6.1. Conceito
É de onde provém o Direito.
6.2. Espécies
• Material ou de produção: aquela que cria o Direito; é o Estado.
• Formal ou de cognição: aquela que revela o Direito. Pode ser:
– imediata: lei;
– mediata: costumes e princípios gerais do direito (costume é o conjunto de 
normas de comportamento a que as pessoas obedecem de maneira 
uniforme e constante, pela convicção de sua obrigatoriedade jurídica. 
Princípios gerais do direito são postulados gerais que se fundam em 
premissas éticas extraídas do material legislativo).
7. DA PERSECUÇÃO PENAL 
7.1. Conceito
16
É a atividade do Estado que consiste em investigar, processar, comprovar e julgar 
o fato punível.
7.2. Etapas da Persecução Penal
A persecução penal no Brasil desenvolve-se em duas etapas:
1) Fase de investigação (preliminar);
2) Fase Judicial ou Processual (ação penal).
7.3. Investigação
Compete, em regra, à polícia judiciária desenvolver a fase de investigação.
Porém, outras autoridades também podem investigar desde que haja previsão 
legal: 1) juiz da falência investiga crime falimentar; 2) agentes fiscais investigam crimes 
fiscais.
Artigo 4.º, parágrafo único, do Código de Processo Penal: “A competência 
definida neste artigo não excluirá a de autoridades administrativas, a quem por lei seja 
cometida a mesma função.”
O Ministério Público pode investigar? O Superior Tribunal de Justiça já admitiu.
O particular pode investigar? A investigação feita por particular não é proibida. 
Poderá ser realizada, mas os resultados devem ser enviados à polícia ou ao Ministério 
Público. 
O juiz pode investigar? Sim, em duas hipóteses: 1) crime falimentar; 2) Lei do 
Crime Organizado (artigo 3.º).
No Brasil, não há o chamado juizado de instrução, que consiste na possibilidade 
de o juiz presidir investigação. Somente nas hipóteses de crime falimentar e crime 
organizado o juiz preside as investigações. 
7.3.1. Polícia Judiciária
É exercida por autoridades policiais; visa apurar o fato e sua autoria. É auxiliar da 
justiça; investiga crimes (artigo 13 do Código de Processo Penal).
O controle externo da polícia está previsto constitucionalmente e é exercido pelo 
Ministério Público (artigo 129, inciso VII, da Constituição Federal). Na prática, inexiste 
17
lei complementar para disciplinar a matéria.
No Brasil, a polícia judiciária é exercida:
- pela polícia civil;
- pela polícia federal;
- pela polícia militar nos crimes militares.
A polícia judiciária exerce suas funções conforme alguns critérios:
- territorial: quanto ao lugar da atividade pode ser terrestre, marítima ou aérea;
- em razão da matéria;
- em razão da pessoa (exemplo: delegacia da mulher).
A inobservância de qualquer um desses critérios não implica nulidade; é mera 
irregularidade que não contamina a ação penal.
Artigo 22 do Código Processo Penal: “No Distrito Federal e nas comarcas em que 
houver mais de uma circunscrição policial, a autoridade com exercício em uma delas 
poderá, nos inquéritos a que esteja procedendo, ordenar diligências em circunscrição de 
outra,independentemente de precatórias ou requisições, e bem assim providenciará, até 
que compareça a autoridade competente, sobre qualquer fato que ocorra em sua presença 
noutra circunscrição.”
7.3.2. Polícia de Segurança (Administrativa ou Preventiva)
É a polícia ostensiva, fardada, exercida em regra pela polícia militar. 
Normalmente, não investiga crime (exceto os militares), pois tem caráter preventivo. 
Inquérito Policial
1. CONCEITO
18
É o conjunto de diligências realizadas pela polícia judiciária para a apuração de 
uma infração penal e de sua autoria, a fim de que o titular da ação penal possa ingressar 
em juízo (artigo 4.º do Código de Processo Penal).
2. NATUREZA JURÍDICA
O inquérito policial é procedimento persecutório de caráter administrativo e 
natureza inquisitiva instaurado pela autoridade policial.
É um procedimento, pois é uma seqüência de atos voltados a uma finalidade.
Persecutório porque persegue a satisfação do jus puniendi.
Persecução é a atividade estatal por meio da qual se busca a punição e se inicia, 
oficialmente, com a instauração do inquérito policial, também conhecido como 
informatio delicti.
3. FINALIDADE
Conforme dispõe os artigos 4.º e 12 do Código de Processo Penal, o inquérito visa 
a apuração da existência de infração penal e a respectiva autoria, a fim de fornecer ao 
titular da ação penal elementos mínimos para que ele possa ingressar em juízo.
A apuração da infração penal consiste em colher informações a respeito do fato 
criminoso. Apurar a autoria consiste naautoridade policial desenvolver a necessária 
atividade, visando descobrir o verdadeiro autor da infração penal.
4. POLÍCIA JUDICIÁRIA
Quanto ao objeto, a polícia pode ser administrativa (preventiva) ou judiciária 
(repressiva). A polícia judiciária tem a função de auxiliar a justiça, apurando as 
infrações penais e suas respectivas autorias.
O artigo 4.º, caput, do Código de Processo Penal usava inadequadamente o termo 
“jurisdição”. O termo jurisdição designa a atividade por meio da qual o Estado, em 
substituição às partes, declara a preexistente vontade da lei ao caso concreto.
19
A Lei n. 9.043, de 9.5.1995, trocou o termo “jurisdição” por “circunscrição” 
(limites territoriais dentro dos quais a polícia realiza suas funções).
O parágrafo único do citado artigo também contém uma impropriedade. Ao dispor 
que “a competência definida neste artigo não excluirá a de autoridades administrativas, a 
quem por lei seja cometida a mesma função”, o legislador foi infeliz, pois a autoridade 
policial não tem competência, mas sim atribuições. O termo competência aqui 
empregado deve ser entendido como poder conferido a alguém para conhecer 
determinados assuntos, não se confundindo com competência jurisdicional, que é a 
medida concreta do Poder Jurisdicional.
Salvo algumas exceções, a atribuição para presidir o inquérito policial é conferida 
aos Delegados de Polícia (artigo 144, §§ 1.º e 4.º, da Constituição Federal de 1988), 
conforme as normas de organização policial dos Estados. A atribuição pode ser fixada, 
quer pelo lugar da consumação da infração (ratione loci), quer pela natureza da mesma 
(ratione materiae).
A autoridade policial, em regra, não poderá praticar qualquer ato fora dos limites de 
sua circunscrição, sendo necessário:
• se for em outro país: carta rogatória;
• se for em outra comarca: carta precatória;
Se for no Distrito Federal ou em circunscrição diferente dentro da mesma 
comarca, a autoridade poderá ordenar diligências independente de precatórias ou 
requisições (artigo 22 do Código de Processo Penal).O flagrante deve ser lavrado no 
local em que se efetivou a prisão, mas se neste não houver Delegado de Polícia, deverá o 
preso ser apresentado à circunscrição mais próxima (artigos 290 e 308, ambos do 
Código de Processo Penal). Concluído o flagrante, devem os atos subseqüentes ser 
praticados pela autoridade do local em que o crime se consumou.
Observação: tem-se entendido que a falta de atribuição da autoridade policial não 
invalida os seus atos, ainda que se trate de prisão em flagrante, pois a Polícia, por não 
exercer atividade jurisdicional, não se submete à competência jurisdicional ratione loci. 
Conforme já decidiu o Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça, o 
inquérito policial é peça meramente informativa, cujos vícios não contaminam a ação 
penal.
O inciso LIII do artigo 5.º da Constituição Federal não se aplica às autoridades 
policiais, pois estas não processam (promotor natural) nem sentenciam (juiz natural). 
Assim, não foi adotado pelo referido dispositivo constitucional o princípio do “Delegado 
Natural”.
20
5. INQUÉRITOS EXTRAPOLICIAIS (artigo 4.º, parágrafo único, do Código de 
Processo Penal)
Em regra, os inquéritos policiais são presididos por Delegado de Polícia de 
Carreira (artigo 144, § 4.º, da Constituição Federal), mas o parágrafo único do artigo 4.º 
do Código de Processo Penal deixa claro que o inquérito realizado pela polícia judiciária 
não é a única forma de investigação criminal.
Excepcionalmente, portanto, há casos em que são presididos por outras 
autoridades e não pelo Delegado de Polícia, tais como:
• Inquérito judicial para apuração de infrações falimentares (presidido pelo juiz 
da vara onde tramita a falência).
• Comissões Parlamentares de Inquérito (artigo 58, § 3.º, da Constituição 
Federal).
• Crime cometido nas dependências da Câmara dos Deputados ou do Senado 
Federal (Súmula n. 397 do Supremo Tribunal Federal – “O poder de polícia da 
Câmara dos Deputados e do Senado Federal, em caso de crime cometido nas 
suas dependências, compreende, consoante o regimento, a prisão em flagrante 
do acusado e a realização do inquérito”).
• Inquérito civil (instaurado pelo Ministério Público, para proteção do 
patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e 
coletivos; conforme dispõe o artigo 129, inciso III, da Carta Magna).
• Inquérito policial militar.
• Magistrado (o delegado deve remeter os autos ao tribunal ou a órgão especial 
competente para o julgamento).
• Membro do Ministério Público (os autos devem ser remetidos ao Procurador-
Geral de Justiça).
6. VALOR PROBATÓRIO
O inquérito policial tem conteúdo informativo; visa apenas fornecer elementos 
necessários para a propositura da ação penal.
Tem valor probatório relativo, pois os elementos de informação não são colhidos 
sob a égide do contraditório e da ampla defesa, tampouco na presença do Juiz de Direito.
21
7. DISPENSABILIDADE
O inquérito policial é uma peça útil, porém não imprescindível. Não é fase 
obrigatória da persecução penal. Poderá ser dispensado sempre que o Ministério Público 
ou o ofendido (no caso da ação penal privada) tiver elementos suficientes para promover 
a ação penal (artigo 12 do Código de Processo Penal).
O artigo 27 do Código de Processo Penal dispõe que qualquer pessoa do povo 
poderá fornecer, por escrito, informações sobre o fato e a autoria, indicando o tempo, o 
lugar e os elementos de convicção, demonstrando que quando as informações forem 
suficientes não é necessário o inquérito policial.
Segundo o artigo 39, § 5.º, do Código de Processo Penal, o órgão do Ministério 
Público dispensará o inquérito se com a representação forem oferecidos elementos que o 
habilitem a promover a ação penal.
Atenção: o titular da ação penal pode abrir mão do inquérito policial, mas não 
pode eximir-se de demonstrar a verossimilhança da acusação, ou seja, não se concebe 
que a acusação careça de um mínimo de elementos de convicção.
7.1. Juizados Especiais
De acordo com o disposto nos artigos 69 e 77, § 1.º,da Lei n. 9.099/95, o 
inquérito policial é substituído por um simples boletim de ocorrência circunstanciado, 
lavrado pela autoridade policial, chamado de termo circunstanciado, no qual constará 
uma narração sucinta dos fatos, bem como a indicação da vítima, do autor do fato e das 
testemunhas, em número máximo de três, seguindo em anexo um boletim médico ou 
prova equivalente, quando necessário para comprovar a materialidade delitiva 
(dispensa-se o laudo de exame de corpo de delito). Lavrado o termo, este será 
encaminhado ao Juizado Especial Criminal.
8. CARACTERÍSTICAS
• Procedimento escrito: conforme determina o artigo 9.º do Código de Processo 
Penal.
• Procedimento sigiloso (artigo 20 do Código de Processo Penal): o sigilo 
busca salvaguardar a intimidade do indiciado, resguardando-se, assim, seu 
22
estado de inocência. O sigilo não se estende ao representante do Ministério 
Público, nem à autoridade judiciária. Advogado pode consultar os autos de 
inquérito, mas, caso seja decretado judicialmente o sigilo, não poderá 
acompanhar a realização de atos procedimentais (Lei n. 8.906/94, artigo 7.º, 
incisos XIII a XV, e § 1.º).
• Procedimento inquisitivo: todas as atividades concentram-se nas mãos de uma 
única autoridade, que pode agir de ofício e discricionariamente para esclarecer 
o crime e sua autoria. Não há acusação nem defesa, logo não há contraditório 
(exceções: há contraditório no inquérito judicial e no inquérito para expulsão de 
estrangeiro). Não pode ser argüida suspeição da autoridade policial (artigo 107 
do Código de Processo Penal). O artigo 14 do Código de Processo Penal dispõe 
que a autoridade policial poderá indeferir pedido de diligência, exceto o exame 
de corpo de delito (artigo 184 do Código de Processo Penal).
• Legalidade: o inquérito policial não pode ser arbitrário, ou seja, deve obedecer 
à lei.
• Oficiosidade: esse princípio se funda no princípio da obrigatoriedade ou 
legalidade. Sendo um crime de ação penal pública incondicionada, a autoridade 
tem o dever de instaurar o inquérito policial de ofício (artigo 5.º, inciso I, do 
Código de Processo Penal).
• Oficialidade: o inquérito policial é dirigido por órgãos públicos oficiais, no 
caso, a autoridade policial. É uma atividade investigatória feita por órgãos 
oficiais.
• Indisponibilidade: uma vez instaurado, o inquérito policial não pode ser 
arquivado pela autoridade policial (artigo 17 do Código de Processo Penal).
• Autoritariedade: é presidido por uma autoridade pública. Trata-se de exigência 
constitucional (artigo 144, § 4.º).
9. INCOMUNICABILIDADE
Destinada a impedir que a comunicação do preso com terceiros venha a prejudicar 
o desenvolvimento da investigação.
Mediante despacho fundamentado do juiz a partir de requerimento da autoridade 
policial ou do Ministério Público, respeitadas as prerrogativas do advogado, poderá ser 
decretada a incomunicabilidade do indiciado pelo prazo de até três dias, por 
conveniência da investigação ou interesse da sociedade (artigo 21 do Código de 
Processo Penal).
23
Entendemos que a incomunicabilidade não foi recepcionada pela nova ordem 
constitucional. A Constituição Federal, em seu artigo 136, § 3.º, inciso IV, proíbe a 
incomunicabilidade durante o estado de defesa. Assim, se é vedada em situações 
excepcionais, com mais razão deve ser vedada em situações de normalidade. Em sentido 
contrário, o Professor Damásio de Jesus entende que a proibição está relacionada com 
crimes políticos ocorridos durante o estado de defesa.
A incomunicabilidade, de qualquer forma, não se estende ao advogado (Estatuto 
da Ordem dos Advogados do Brasil, artigo 7.º, inciso III). 
10. “NOTITIA CRIMINIS”
10.1. Conceito
É o conhecimento, espontâneo ou provocado, de um fato aparentemente delituoso 
pela autoridade policial.
10.2. Espécies
• “Notitia Criminis” de cognição direta, imediata, espontânea ou inqualificada: 
ocorre quando a autoridade policial toma conhecimento direto da infração 
penal por meio de suas atividades rotineiras. Exemplo: policiamento, 
imprensa, pelo encontro do corpo de delito ou até pela delação anônima. A 
delação anônima (apócrifa) é chamada notitia criminis inqualificada.
• “Notitia Criminis” de cognição indireta, mediata, provocada ou qualificada: 
ocorre quando a autoridade policial toma conhecimento do delito por meio de 
algum ato jurídico de comunicação formal, como por exemplo a delatio 
criminis (comunicação de um crime feito pela vítima ou por qualquer um do 
povo), a requisição do Ministério Público ou autoridade judiciária e a 
representação do ofendido. 
• “Notitia Criminis” de cognição coercitiva: ocorre no caso de prisão em 
flagrante, em que a notícia se dá com a apresentação do autor do fato. 
Observação: se for crime de ação pública condicionada ou de iniciativa 
privada, o auto de prisão em flagrante somente poderá ser lavrado se forem 
observados os requisitos dos §§ 4.º e 5.º do artigo 5.º do Código de Processo 
Penal.
11. INÍCIO
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11.1. Nos Crimes de Ação Pública Incondicionada
• De ofício: a autoridade tem a obrigação de instaurar o inquérito policial, 
independente de provocação, sempre que tomar conhecimento imediato e 
direto do fato, por meio de delação verbal ou por escrito, feito por qualquer 
pessoa do povo (delatio criminis simples), notícia anônima (notitia criminis 
inqualificada), por meio de sua atividade rotineira (cognição imediata), ou no 
caso de prisão em flagrante. O ato de instauração é a portaria. 
• Por requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público: não 
obstante a hipótese prevista no artigo 40 do Código de Processo Penal, se não 
estiverem presentes os elementos indispensáveis ao oferecimento da denúncia, 
a autoridade judiciária poderá requisitar a instauração de inquérito policial 
para a elucidação dos fatos. A autoridade policial não pode se recusar a 
instaurar o inquérito, pois a requisição tem natureza de determinação, de 
ordem, muito embora inexista subordinação hierárquica.
• Delatio criminis: é a comunicação de um crime feita pela vítima ou por 
qualquer um do povo. Caso a autoridade policial indefira a instauração de 
inquérito, caberá recurso ao Secretário de Estado dos Negócios da Segurança 
Pública ou ao Delegado-Geral de Polícia (artigo 5.º, § 2.º, do Código de 
Processo Penal). A delatio criminis pode ser simples (mera comunicação) ou 
postulatória (comunica e pede a instauração da persecução penal). Trata-se de 
faculdade conferida ao cidadão de colaborar com a atividade repressiva do 
Estado. Contudo, há algumas pessoas que, em razão do seu cargo ou função, 
estão obrigadas a noticiar a ocorrência de crimes de que tenham tomado 
conhecimento no desempenho de suas atividades (artigo 66, incisos I e II, da 
Lei das Contravenções Penais; artigo 45 da Lei n. 6.538/78; artigo 269 do 
Código Penal; artigos 104 e 105 da Lei de Falências).
11.2. Nos Crimes de Ação Pública Condicionada
• Mediante representação do ofendido ou de seu representante legal: a 
representação é simples manifestação de vontade da vítima ou de seu 
representante legal, não havendo exigência formal para a sua elaboração.
• Mediante requisição do Ministro da Justiça: deve ser encaminhada ao chefe 
do Ministério Público o qual poderá, desde logo, oferecer a denúncia ou 
requisitar diligências à polícia.
11.3. Nos Crimes de Ação Privada
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Nesses casos a instauração do inquérito policial depende de requerimento do 
ofendido, de seu representante legal ou sucessores, conforme disposto no artigo 5.º,§ 
5.º, combinado com os artigos 30 e 31, todos do Código de Processo Penal.
O artigo 35 do Código de Processo Penal não foi recepcionado pela Constituição 
Federal, por força do artigo 226, § 5.º, podendo a mulher casada requerer a instauração 
do inquérito policial independentemente de outorga marital. Nada obstante, a Lei n. 
9.520, de 27.11.1997, revogou expressamente a norma contida no artigo 35 do Código 
de Processo Penal. 
11.4. Observações
O inquérito policial também pode começar mediante auto de prisão em flagrante 
nos três casos (ação penal pública incondicionada, condicionada e ação penal privada). 
Nos crimes de ação pública condicionada e de ação privada, o ofendido deverá ratificar 
o flagrante até a entrega da nota de culpa (24h).
A autoridade policial não poderá instaurar o inquérito policial se não houver justa 
causa (se o fato for atípico ou se estiver extinta a punibilidade). Porém, o 
desconhecimento da autoria ou a possibilidade do sujeito ter agido sob a proteção de 
alguma excludente da ilicitude não impede a instauração do inquérito.
Inquérito Policial
1. PROVIDÊNCIAS DA AUTORIDADE POLICIAL
O inquérito policial não tem um procedimento rígido, ou seja, uma seqüência 
imutável de atos. O artigo 6.º do Código de Processo Penal indica algumas providências 
que, de regra, devem ser tomadas pela autoridade policial para a elucidação do crime e 
da sua autoria.
1.1. Dirigir-se ao Local do Crime
A autoridade policial, se possível e conveniente, deve se dirigir ao local do crime 
e preservar o estado das coisas até a chegada da perícia. Qualquer alteração no estado de 
coisas pode comprometer as provas a serem produzidas (artigo 169 do Código de 
Processo Penal).
Exceção: acidente automobilístico, em que os veículos devem ser deslocados com 
a finalidade de desobstruir a via pública (artigo 1.º da Lei n. 5.970/73).
26
1.2. Apreender os Objetos Relacionados com o Fato 
Deve também apreender os objetos e instrumentos do crime após liberação pela 
perícia (artigo 11 do Código de Processo Penal – instrumentos e objetos do crime 
apreendidos serão anexados ao inquérito policial).
Para essa apreensão, é necessária uma diligência denominada busca e apreensão, 
que pode ser efetuada no local do crime, em domicílio ou na própria pessoa. A busca 
domiciliar pode ser realizada em qualquer dia, porém devem ser respeitadas as garantias 
de inviolabilidade domiciliar (artigo 5.º, inciso XI, da Constituição Federal).
À noite, é lícito entrar no domicílio alheio em quatro situações:
• a convite do morador;
• em caso de flagrante delito;
• para prestar socorro; 
• em caso de desastre.
Durante o dia:
• nas quatro situações acima citadas; 
• mediante prévia autorização judicial, corporificada em instrumento 
denominado mandado de busca e apreensão.
Antes, a autoridade policial não precisava de autorização judicial, porém, mesmo 
com esta, não podia entrar à noite. Aplicava-se o artigo 172 do Código de Processo Civil 
por analogia, contudo, em dezembro de 1.994, esse artigo teve sua redação alterada, não 
sendo mais possível sua aplicação.
Domicílio, nos termos do artigo 150, § 4.º, do Código Penal, é qualquer 
compartimento habitado; aposento ocupado por habitação coletiva; 
compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade. 
Exemplos: o escritório de advogado, na parte aberta ao público, não é domicílio, 
mas a sala do advogado sim (observação: a busca em escritório de advocacia 
deverá ser acompanhada por um representante da Ordem dos Advogados do 
Brasil); o mesmo entendimento se tem quanto a bar, pois considera-se domicílio a 
27
área interna do balcão, onde é exercida a atividade pelo proprietário ou seu 
funcionário, sendo que a parte externa, a freqüentada pelo público, não; quarto 
de hotel etc. Automóvel não é domicílio. 
A busca pessoal é aquela feita na própria pessoa. Independe de mandado, desde 
que haja fundada suspeita. Pode ser realizada a qualquer dia e a qualquer hora, salvo se a 
pessoa estiver em seu domicílio.
1.3. Ouvir o Ofendido e as Testemunhas
Podem ser conduzidos coercitivamente se desatenderem, sem justificativa, a 
intimação da autoridade policial (princípio da autoritariedade – artigo 201, parágrafo 
único, do Código de Processo Penal). O ofendido e a testemunha faltosa podem 
responder por crime de desobediência (artigo 219 do Código de Processo Penal e artigo 
330 do Código Penal). 
Se o ofendido ou a testemunha for membro do Ministério Público ou da 
Magistratura deverá ser observada a prerrogativa de serem ouvidos, em qualquer 
processo ou inquérito, em dia, hora e local previamente ajustados com a autoridade 
competente. 
A testemunha tem o dever de falar a verdade, sob pena de responder pelo crime de 
falso testemunho (artigo 342 do Código Penal). O ofendido que mentir não comete 
crime de falso testemunho. 
1.4. Ouvir o Indiciado 
Deverá a autoridade policial ouvir o indiciado, observando-se os mesmos 
preceitos norteadores do interrogatório judicial (artigo 6.º, inciso V, do Código de 
Processo Penal). 
1.4.1. Indiciamento
Consiste na suspeita oficial acerca de alguém, ou seja, é a imputação a alguém, no 
inquérito policial, da prática de ilícito penal, sempre que houver razoáveis indícios de 
sua autoria. É um ato abstrato, um juízo de valor da autoridade policial que vai 
reconhecer alguém como principal suspeito. 
1.4.2. Interrogatório extrajudicial
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O termo de interrogatório extrajudicial será assinado pelo delegado de polícia, 
pelo escrivão, pelo interrogado e por duas testemunhas presentes à leitura do termo 
(trata-se de testemunhas instrumentárias, que não depõem sobre fatos, mas sobre a 
regularidade de um procedimento). Observe-se que as duas testemunhas não precisam 
estar presentes ao interrogatório, mas à leitura do termo.
O interrogatório extrajudicial tem valor probatório relativo; só valerá se 
confirmado por outros elementos de prova.
A Constituição Federal consagrou o direito de silêncio ao indiciado. A autoridade 
policial, portanto, deve informá-lo desse direito (artigo 5.º, inciso LXIII, da Constituição 
Federal), não podendo mais adverti-lo de que seu silêncio poderá prejudicar sua própria 
defesa, pois o artigo 186 do Código de Processo Penal não foi recepcionado pela 
Constituição Federal.
Embora tenha o direito de permanecer calado, o indiciado deverá atender à 
intimação do Delegado de Polícia e comparecer ao ato, sob pena de condução coercitiva 
(artigo 260 do Código de Processo Penal).
A autoridade policial não precisa intimar o defensor do indiciado para 
acompanhar o ato, muito menos nomear-lhe um.
1.4.3. Membro do Ministério Público
Se o suspeito for membro do Ministério Público, a autoridade policial não pode 
indiciá-lo, devendo encaminhar os autos do inquérito ao Procurador-Geral de Justiça.
1.4.4. Indiciado menor
No interrogatório do indiciado menor (maior de 18 e menor de 21 anos), a 
autoridade deverá nomear-lhe um curador. Não observada essa regra, a ação penal não 
será afetada, pois o inquérito policial é mera peça informativa e seus vícios não 
contaminam aquela. No entanto, haverá perda do valor probatório do ato e se houve 
prisão em flagrante, esta será relaxada por vício formal (retira-lhe a força coercitiva). 
No interrogatório judicial, a ausência de curador gerará sua nulidade (artigo 564, 
inciso III, alínea “c”, do Código de Processo Penal). Qualquer pessoa pode ser nomeada 
curador. A jurisprudência faz, no entanto, uma restrição em relação aos policiais, pois 
estes têminteresse na investigação.
A idade do menor a ser considerada é a do dia do interrogatório (tempus regit 
actum). 
29
1.4.5. Identificação criminal
A autoridade policial deve proceder à identificação do indiciado pelo processo 
datiloscópico, salvo se ele já tiver sido civilmente identificado (artigo 5.º, inciso LVIII, 
da Constituição Federal).
Embora a Constituição Federal assegure que o civilmente identificado não será 
submetido à identificação criminal, ressalva a possibilidade de o legislador 
infraconstitucional estabelecer algumas hipóteses em que até mesmo o portador da 
cédula de identidade civil esteja obrigado a submeter-se à identificação criminal. O 
legislador já estabeleceu algumas hipóteses.
As hipóteses previstas na Lei n. 10.054/00, em seu artigo 3.º, são as seguintes:
• indiciamento ou acusação por homicídio doloso, crime contra o 
patrimônio mediante violência ou grave ameaça, crime de receptação 
qualificada, crimes contra a liberdade sexual e falsificação de 
documento público;
• fundada suspeita de falsificação ou adulteração de documento de 
identidade;
• mal estado de conservação ou distância temporal da carteira de 
identidade, quando impossibilitar a leitura dos dados essenciais;
• quando constar outros nomes ou apelidos dos registros policiais;
• quando houver registro de extravio da carteira de identidade;
• quando o acusado não comprovar em 48 horas a sua identificação 
civil.
Observações: na primeira hipótese, a regra nos parece inconstitucional por ofensa 
ao princípio do estado de inocência, pois a simples razão de o agente estar sendo 
acusado pela prática deste ou daquele crime não pode, por si só, justificar o 
constrangimento, exceto no caso de envolvimento em quadrilhas organizadas, 
capazes de forjar documentos falsos.
Por fim, há outra hipótese em que o portador da cédula de identidade civil está 
obrigado a submeter-se à identificação criminal: trata-se da identificação criminal de 
pessoa envolvida com ação praticada por organização criminosa (artigo 5.º da Lei n. 
9.034/95). 
A identificação criminal compreende a datiloscópica (impressões digitais) e a 
fotográfica.
30
1.4.6. Incidente de insanidade mental 
Somente o juiz pode determinar a instauração. A autoridade policial não pode.
1.5. Reconhecimento de Pessoas e Coisas e Acareações
Poderão ser realizadas acareações (artigos 229 e 230 do Código de Processo 
Penal) e reconhecimento de pessoas e coisas (artigos 226 a 228 do Código de Processo 
Penal).
Quanto ao reconhecimento, caso haja receio de intimidação, a autoridade policial 
providenciará para que o reconhecido não veja quem o está reconhecendo, mas, em 
juízo, o reconhecimento terá de ser feito frente a frente com o acusado.
A acareação é o confrontamento de depoimentos divergentes prestados. 
1.6. Exame de Corpo de Delito
Deverá ser determinada a realização do exame de corpo de delito sempre que a 
infração tiver deixado vestígios, ou de quaisquer outras perícias que se mostrarem 
necessárias à elucidação do ocorrido (artigos 158 a 184 do Código de Processo Penal). 
Observação: os peritos deverão sempre atuar em número mínimo de dois.
1.7. Reprodução Simulada dos Fatos
O artigo 7.º do Código de Processo Penal dispõe sobre a reprodução simulada dos 
fatos (reconstituição do crime), que não pode contrariar a moralidade e a ordem pública.
O indiciado não pode ser obrigado a participar da reconstituição, o que violaria 
seu direito ao silêncio e seu corolário, o de que ninguém está obrigado a produzir prova 
contra si, mas pode ser obrigado a comparecer (artigo 260 do Código de Processo 
Penal). 
1.8. Relatório
31
Concluídas as investigações, a autoridade policial deve fazer minucioso relatório 
do que tiver apurado no inquérito policial, sem, contudo, expender opiniões, 
julgamentos ou qualquer juízo de valor, devendo, ainda, indicar as testemunhas que não 
foram ouvidas, bem como as diligências não realizadas. 
O relatório é a narração objetiva das diligências feitas pela autoridade. A 
autoridade somente pode fornecer a classificação jurídica do fato, sem emitir qualquer 
juízo de mérito, e a classificação não vincula o Ministério Público.
Encerrado o inquérito, os autos serão remetidos ao juiz competente.
2. PRAZO PARA ENCERRAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL
Deve ser encerrado no prazo de 30 dias, contados a partir da instauração 
(recebimento da notitia criminis), se o indiciado estiver solto. Se o fato for de difícil 
elucidação, a autoridade policial poderá requerer ao juiz a devolução dos autos, para 
ulteriores diligências a serem realizadas no prazo fixado pelo juiz. Não obstante a 
omissão do Código, entende-se que o juiz antes de conceder novo prazo deve ouvir o 
titular da ação penal. 
Se o indiciado estiver preso, o prazo para conclusão do inquérito será de 10 dias, 
contados da data da efetivação da prisão, e não se admitirá qualquer prorrogação.
No caso de ser decretada a prisão temporária, o tempo de prisão será acrescido ao 
prazo de encerramento do inquérito (Lei n. 7.960/90).
A contagem do prazo atende a regra do artigo 798, § 1.º, do Código de Processo 
Penal. Despreza-se o dia inicial, incluindo-se o dia final. O decurso não acarretará a 
perda do direito de punir, apenas o relaxamento da prisão.
2.1. Prazos Especiais
2.1.1. Justiça Federal
Se o inquérito estiver tramitando perante a Justiça Federal, o prazo será de 15 
dias, prorrogável por mais 15, se o indiciado estiver preso. Se o indiciado estiver solto, o 
prazo será de 30 dias, com a possibilidade de prorrogação por mais 30 dias (artigo 66 da 
Lei n. 5.010/66). 
32
No caso de tráfico internacional, aplica-se o prazo da Lei de Tóxicos (vide item 
seguinte), adotando-se o princípio da especialidade.
2.1.2. Tóxicos
• Lei n. 6.368/76: se o indiciado estiver preso o prazo para remessa ao 
Poder Judiciário é de 5 dias (no caso de tráfico é de 10 dias for força 
do artigo 35, parágrafo único). Na hipótese de liberdade, o prazo é de 
30 dias (artigo 21, § 1.°). 
• Lei n. 10.409/02: se o indiciado estiver preso o prazo para remessa ao 
Poder Judiciário é de 15 dias. Na hipótese de liberdade, o prazo é de 
30 dias, podendo ser prorrogado se autorizado pelo juiz (parágrafo 
único do artigo 29).
Remetemos o aluno ao estudo do módulo IV de Legislação Penal Especial, no que 
diz respeito à aplicabilidade da lei nova.
2.1.3. Crimes contra a economia popular
No caso de crimes contra a economia popular, o prazo é de 10 dias, estando o 
indiciado preso ou solto (Lei n. 1.521/51, artigo 10, § 1.º).
3. ARQUIVAMENTO
Só pode ser determinado pelo juiz se houver requerimento do Ministério Público. 
Se o Juiz discordar do pedido de arquivamento, aplicará o disposto no artigo 28 do 
Código de Processo Penal, ou seja, remeterá os autos ao Procurador-Geral, que poderá:
• oferecer a denúncia;
• designar outro órgão do Ministério Público para oferecer a denúncia: o 
promotor ou procurador designado está obrigado a oferecer a denúncia, sem 
que haja ofensa ao princípio da independência funcional, pois age em nome da 
autoridade que o designou (por delegação) e não em nome próprio;
• insistir no arquivamento: neste caso, o Poder Judiciário não poderá discordar 
do arquivamento.
33
O juiz, ao remeter os autos ao Procurador-Geral de Justiça, exerce função 
anormal, qual seja, a de fiscal do princípio da obrigatoriedade da ação penal. 
O delegado não pode arquivar o inquérito policial (artigo 17 do Código de 
Processo Penal).
Arquivado o inquérito policial, não poderá ser promovida a ação privada 
subsidiária, pois esta só é possívelno caso de inércia do Ministério Público.
O inquérito policial, arquivado por falta de provas, só poderá ser reaberto se 
surgirem novas provas (súmula n. 524 do Supremo Tribunal Federal).
O despacho que arquivar o inquérito é irrecorrível. Cabe recurso nas seguintes 
hipóteses: 
• em casos de crime contra a economia popular, caberá recurso de ofício (artigo 
7.º da Lei n. 1.521/51);
• no caso das contravenções previstas nos artigos 58 e 60 do Decreto-lei n. 
6.259/44, quando caberá recurso em sentido estrito;
• do arquivamento determinado de ofício pelo juiz cabe correição parcial.
Se o tribunal der provimento a esses recursos, o inquérito policial será remetido ao 
Procurador-Geral.
Se o promotor de justiça requerer a devolução dos autos à polícia para diligências 
complementares, o juiz poderá, caso discorde, aplicar por analogia o artigo 28 do 
Código de Processo Penal. Se assim fizer, caberá correição parcial.
O pedido de arquivamento feito pelo titular da ação penal privada significa 
renúncia tácita (causa a extinção da punibilidade).
Por fim, salientamos a possibilidade de trancar o inquérito por meio de habeas 
corpus quando houver indiciamento abusivo ou quando o fato for atípico.
Da Ação Penal
1. DA AÇÃO PENAL
34
1.1. Conceito
Ação penal é o direito de pedir ao Estado-Juiz a aplicação do direito penal 
objetivo a um caso concreto. É também o direito público subjetivo do Estado-
Administração, único titular do poder-dever de punir, de pleitear ao Estado-Juiz a 
aplicação do direito penal objetivo, com a conseqüente satisfação da pretensão punitiva.
1.2. Características
A ação penal é um:
• direito público: visa à aplicação do Direito Penal que é público;
• direito subjetivo: pertence a alguém que pode exigir do Estado-Juiz a prestação 
jurisdicional;
• direito autônomo: não se confunde com o direito material tutelado;
• direito abstrato: independe do resultado do processo.
1.3. Condições Genéricas da Ação
1.3.1. Possibilidade jurídica do pedido
A providência pedida ao Poder Judiciário só será viável se o ordenamento, em 
abstrato, expressamente a admitir. Assim, a lei penal material deve cominar, em 
abstrato, uma sanção ao fato narrado na peça inicial.
1.3.2. Legitimidade “ad causam” para agir
É na lição de Alfredo Buzaid a pertinência subjetiva da ação.
É a legitimação para ocupar os pólos da relação jurídica processual. Na ação penal 
pública o pólo ativo é ocupado pelo Ministério Público; na ação penal privada, o pólo 
ativo é ocupado pelo ofendido ou seu representante legal. O pólo passivo é ocupado pelo 
provável autor do fato.
Os legitimados são os titulares dos direitos materiais em conflito. O Estado exerce 
por intermédio do Ministério Público seu direito de punir que colide com o direito de 
liberdade do acusado. No caso da ação penal privada, o ofendido age como substituto 
35
processual (legitimação extraordinária), pois só possui o direito de acusar (jus 
accusationis), sendo que o direito de punir pertence sempre ao Estado. 
1.3.3. Interesse de agir
Consiste na necessidade do uso das vias jurisdicionais para a defesa do interesse 
material pretendido e na sua adequação ao provimento pleiteado. Por conseguinte, não 
será recebida a denúncia quando estiver extinta a punibilidade do acusado. Nesse caso, a 
perda do direito material de punir resultou na desnecessidade de utilização das vias 
processuais.
1.4. Condições Específicas da Ação
Ao lado das condições que vinculam a ação civil, também aplicáveis ao processo 
penal (explicitadas no item anterior), a doutrina atribui a este algumas condições 
específicas, ditas condições específicas de procedibilidade. São elas: 
• representação do ofendido e requisição do ministro da Justiça;
• entrada do agente no território nacional;
• autorização do legislativo para a instauração de processo contra Presidente da 
República e Governadores, por crimes comuns;
• trânsito em julgado da sentença que, por motivo de erro ou impedimento, anule 
o casamento, no crime de induzimento a erro essencial ou ocultamento do 
impedimento. 
1.5. Classificação da Ação Penal
A par da tradicional classificação das ações em geral, levando-se em conta a 
natureza do provimento jurisdicional invocado (de conhecimento, cautelar e de 
execução), no processo penal é corrente a divisão subjetiva das ações, isto é, em função 
da qualidade do sujeito que detém a sua titularidade.
Segundo o critério subjetivo a ação penal pode ser:
• ação penal pública: exclusiva do Ministério Público (artigo 100 do Código 
Penal). Pode ser: 
- incondicionada: nos crimes que ofendem a estrutura social, o interesse geral, e 
por isso independe da vontade de quem quer que seja;
36
- condicionada: depende de representação do ofendido ou de requisição do 
ministro da Justiça.
• ação penal privada: nos crimes que afetam a esfera íntima do ofendido 
A ação penal privada pode ser exclusivamente privada, personalíssima 
ou subsidiária da pública. 
1.6. Ação Penal Pública Incondicionada
O Ministério Público independe de qualquer condição para agir. Quando o artigo 
de lei nada mencionar, trata-se de ação penal pública incondicionada. É regra no Direito 
Penal brasileiro.
A ação penal pública tem como titular exclusivo (legitimidade ativa) o Ministério 
Público (artigo 129, inciso I, da Constituição Federal). Para identificação da matéria 
incluída no rol de legitimidade exclusiva do Ministério Público, deve-se observar a lei 
penal. Se o artigo ou as disposições finais do capítulo nada mencionar ou mencionar as 
expressões “somente se procede mediante representação” ou “somente se procede 
mediante requisição do ministro da Justiça”, apenas o Órgão Ministerial poderá propor a 
denúncia (peça inicial de toda a ação penal pública). 
Somente o Ministério Público pode oferecer a denúncia (artigo 129, inciso I, da 
Constituição Federal). Esse princípio extinguiu o chamado procedimento judicialiforme 
ou ação penal ex officio, também chamado de “jurisdição sem ação” (verificava-se nas 
contravenções penais - artigo 26 do Código de Processo Penal; nas lesões corporais 
culposas e no homicídio culposo). Nesses casos, o juiz ou a autoridade policial, por meio 
de portaria ou pelo auto de prisão em flagrante, iniciava a ação penal (não havia 
denúncia por parte do Ministério Público).
Vale lembrar que apesar de a matéria constar no rol de legitimidade exclusiva do 
Ministério Público, se o parquet não oferecer a denúncia no prazo legal, pode o ofendido 
ou seu representante legal ingressar com ação penal privada subsidiária da pública 
(artigo 5.º, inciso LIX, da Constituição Federal).
Os princípios que regem a ação penal pública incondicionada são os seguintes:
1.6.1. Princípio da oficialidade
Os órgãos encarregados da persecução penal são públicos. O Estado é titular 
exclusivo do direito de punir e o faz por meio do devido processo legal. O Ministério 
Público é titular exclusivo da ação penal pública. 
No caso de inércia do Ministério Público, este princípio sofre relativização, pois a 
vítima pode ingressar com ação penal privada subsidiária.
37
1.6.2. Princípio da obrigatoriedade ou legalidade
O Ministério Público tem o dever, e não a faculdade, de ingressar com a ação 
penal pública, quando concluir que houve um fato típico e ilícito e tiver indícios de sua 
autoria. O Ministério Público não tem liberdade para apreciar a oportunidade e a 
conveniência de propor a ação, como ocorre na ação penal privada.
Como o Órgão Ministerial tem o dever de ingressar com a ação penal pública, o 
pedido de arquivamento deve ser motivado (artigo 28 doCódigo de Processo Penal). 
Devendo denunciar e deixando de fazê-lo, o promotor poderá estar cometendo 
crime de prevaricação.
Esse princípio foi mitigado com a entrada em vigor da Lei n. 9.099/95 (artigos 74 
e 76). No caso de infração de pequeno potencial ofensivo, antes de oferecer a denúncia, 
o Ministério Público pode oferecer a transação, um acordo com o autor do fato. 
Há, ainda, outra exceção ao princípio da obrigatoriedade. A Lei n. 10.409/02 
(nova Lei de Tóxicos) introduziu o instituto da revelação eficaz, permitindo ao 
Ministério Público deixar de propor a ação penal ou requerer a diminuição da pena, ao 
agente que revelar a existência de organização criminosa, ensejando a prisão de um ou 
mais de seus membros; viabilizar a apreensão da droga ou que, de qualquer maneira, 
contribuir para os interesses da Justiça (§ 2.º do artigo 32).
Para esses dois casos vigora o princípio da discricionariedade regrada.
1.6.3. Princípio da indisponibilidade
Depois de proposta a ação, o Ministério Público não pode desistir (artigo 42 do 
Código de Processo Penal). O artigo 564, inciso III, alínea “d”, do Código de Processo 
Penal prevê que o Ministério Público deve manifestar-se sobre todos os termos da ação 
penal pública. 
Esse princípio também foi mitigado pela Lei n. 9.099/95 (referente a crimes de 
menor potencial ofensivo e contravenções penais - artigo 61); o Ministério Público pode 
propor ao acusado a suspensão condicional do processo, conforme artigo 89.
1.6.4. Princípio da intranscendência
A ação penal não pode passar da pessoa do autor e do partícipe. Somente estes 
podem ser processados (não pode ser contra os pais ou representante legal do autor ou 
partícipe).
1.6.5. Princípio da indivisibilidade
38
O Ministério Público não pode escolher, dentre os indiciados, qual vai processar. 
Decorre do princípio da obrigatoriedade. 
Esse princípio também é aplicável à ação penal privada (artigo 48 do Código de 
Processo Penal). 
Alguns doutrinadores, no entanto, entendem que à ação penal pública aplica-se o 
princípio da divisibilidade, pois o Ministério Público pode optar por processar apenas 
um dos ofensores, optando por coletar maiores evidências para processar posteriormente 
os demais. Esse também é o entendimento da jurisprudência. 
1.6.6. Princípio da oficiosidade
Os encarregados da persecução penal devem agir de ofício, independentemente de 
provocação, salvo nas hipóteses em que a ação penal pública for condicionada à 
representação ou à requisição do ministro da justiça. 
1.7. Ação Penal Pública Condicionada
Apesar de o Ministério Público ser o titular exclusivo da ação (somente ele pode 
oferecer a denúncia), depende de certas condições de procedibilidade para ingressar em 
juízo. Sem estas condições, o Ministério Público não pode oferecer a denúncia.
A condição exigida por lei pode ser a representação do ofendido ou a requisição 
do ministro da Justiça.
1.7.1. Representação do ofendido
Representação é a manifestação de vontade do ofendido ou de seu representante 
legal, autorizando o Ministério Público a ingressar com a ação penal respectiva. Sem 
essa autorização, nem sequer poderá ser instaurado inquérito policial.
Se o artigo ou as disposições finais do capítulo mencionar a expressão “somente 
se procede mediante representação”, deve o ofendido ou seu representante legal 
representar ao Ministério Público para que este possa ingressar em juízo. A 
representação não exige formalidades, deve apenas expressar, de maneira inequívoca, a 
vontade da vítima de ver seu ofensor processado. Pode ser dirigida ao Ministério 
Público, ao juiz de Direito ou à autoridade policial (artigo 39 do Código de Processo 
Penal). Pode ser escrita (regra) ou oral, sendo que, neste caso, deve ser reduzida a termo.
A representação tem natureza jurídica de condição objetiva de procedibilidade. É 
condição específica da ação penal pública.
39
A vítima (ou seu representante legal) tem o prazo de seis meses da data do 
conhecimento da autoria (e não do crime), ou, no caso do artigo 29, do dia em que se 
esgotar o prazo para o oferecimento da denúncia, para apresentar sua representação 
(artigo 38 do Código de Processo Penal). Tal prazo é contado para oferta da 
representação e não para o ingresso do Ministério Público com a ação penal, podendo 
este oferecer a denúncia após os seis meses. Tal prazo não corre contra o menor de 18 
anos, ou seja, após completar 18 anos, a vítima terá seis meses para representar ao 
Ministério Público. Em qualquer caso, tal prazo é decadencial (artigo 107, inciso IV, do 
Código Penal). Esse prazo não se suspende nem se prorroga (artigo 10 do Código 
Penal).
A Lei de Imprensa, dispondo de forma diversa, prescreve que o prazo para a 
representação, nos crimes de ação pública condicionada por ela regulados, é de três 
meses, contado da data do fato, isto é, da data da publicação ou da transmissão da 
notícia (Lei n. 5.250/67, artigo 41, § 1.º).
Se a vítima for menor de 18 anos, somente seu representante legal pode oferecer a 
representação. Se o ofendido for incapaz e não tiver representante legal o juiz nomeará 
um curador especial que decidirá se representará ou não. Se maior de 18 e menor de 21 
anos, tanto ele como seu representante legal têm legitimidade, com prazos 
independentes (Súmula n. 594 do Supremo Tribunal Federal), podem oferecer a 
representação e, caso haja conflito entre os interesses de ambos, prevalece a vontade de 
quem quer representar.
Se houver conflito entre o interesse do ofendido e o do seu representante legal, 
será nomeado um curador especial que verificará a possibilidade ou não da 
representação.
No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente, o direito de 
representação transmite-se ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão (enumeração 
taxativa).
Segundo o artigo 25 do Código de Processo Penal, pode o ofendido retratar-se (ou 
seja, desistir da representação) até o oferecimento da denúncia. Após o oferecimento da 
denúncia, a representação será irretratável.
Entendemos que não pode haver retratação da retratação (a pessoa retira a 
representação e depois a oferece de novo – sempre dentro do prazo decadencial de seis 
meses). Como bem lembra Tourinho Filho, admitir o contrário “é entregar ao ofendido 
arma poderosa para fins de vingança ou outros inconfessáveis”. A jurisprudência, no 
entanto, a nosso ver de forma equivocada, tem admitido este inconveniente 
procedimento.
A representação não vincula (obriga) o Ministério Público a ingressar com a ação; 
o Ministério Público só oferecerá a denúncia se vislumbrar a materialidade do crime e os 
indícios de autoria, senão poderá pedir o arquivamento do inquérito policial.
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A representação é autorização para a persecução penal de um fato e não de 
pessoas (eficácia objetiva). Assim, a representação contra um suspeito se estenderá aos 
demais.
1.7.2. Requisição do ministro da Justiça 
Requisição é o ato político e discricionário pelo qual o ministro da Justiça autoriza 
o Ministério Público a propor a ação penal pública nas hipóteses legais. 
A doutrina entende que os casos de ação penal pública condicionada à requisição 
do ministro da Justiça são casos em que a conveniência política em instaurar a 
persecução penal se sobrepõe ao interesse de punir os delitos. 
Se o artigo ou as disposições finais do capítulo mencionar a expressão “somente 
se procede mediante requisição do Ministro da Justiça”, para que o Ministério Público 
possa oferecer a denúncia, é necessária tal formalidade. Tem natureza jurídica de 
condição de procedibilidade e, como a representação, não

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