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Disturbios Hemodinamicos - Resumo

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Arlindo Ugulino Netto – PATOLOGIA – MEDICINA P4 – 2009.1 
 
1 
 
FAMENE 
NETTO, Arlindo Ugulino. 
PATOLOGIA 
 
DISTÚRBIOS HEMODINÂMICOS 
(Professor Raimundo Sales) 
 
 A integridade das células e dos tecidos requer um equilíbrio líquido normal e constante. No entanto, 
anormalidades na permeabilidade vascular ou na homeostasia pode resultar em lesão mesmo no cenário de um aporte 
sanguíneo intacto. As principais perturbações envolvendo a hemodinâmica e a manutenção do fluxo sanguíneo 
incluem: edema, hiperemia, hemorragia, manutenção do fluxo sanguíneo, trombose, embolia, infarto e choque. 
 A homeostase normal do líquido abrange a manutenção da integridade da parede do vaso, bem como a 
pressão intravascular e osmolaridade dentro de certas variações fisiológicas. As mudanças no volume vascular, 
pressão ou conteúdo protéico, ou alterações na função endotelial, todas afetam o movimento final da água através da 
parede vascular. Tal extravasamento de água nos espaços intersticiais é denominado edema e tem manifestações 
diferentes dependendo de sua localidade. A homeostase normal do líquido também significa manutenção do sangue 
como um líquido até determinado momento quando uma lesão necessita da formação de um coágulo. A coagulação 
em locais inadequados (trombose) ou a migração de coágulos (embolia) obstrui o fluxo sanguíneo aos tecidos e leva 
à morte da célula (infarto). Reciprocamente, a inabilidade em coagular após lesão vascular resulta em hemorragia; o 
sangramento local pode comprometer a perfusão do tecido regional, enquanto a hemorragia mais extensiva pode 
resultar em hipotensão (choque) e morte. 
 
 
EDEMA 
 O termo edema significa acúmulo anormal de líquido nos espaços intersticiais ou nas cavidades corporais 
(sendo, nestes casos, mais comumente denominado de derrame: derrame pericárdico, pleural, peritoneal ou ascite) 
gerando um tipo de inchaço ou tumefação. O edema pode ser: 
� Inflamatório quando está relacionado à permeabilidade vascular aumentada com o escape de exsudato rico 
em proteínas. O edema inflamatório surge como um evento do processo inflamatório agudo, em que as 
alterações do fluxo geram um aumento da permeabilidade vascular e extravasamento de líquido, proteínas e 
células (exsudato) para o espaço intersticial (hiperemia ativa). 
� Não-inflamatório ou hemodinâmico, relacionado com o desequilíbrio das forças de Starling com perda de 
transudato pobre em proteínas. Acontece, por exemplo, nos casos de insuficiência cardíaca, em que 
desequilíbrios hemodinâmicos causam o extravasamento de um transudato para o líquido intersticial. 
� Linfedema, secundário à obstrução ou diminuição da drenagem linfática (como ocorre na filariose). Neste 
caso, ocorre a formação de um edema frio de pele com aspecto grosseiro, gerando ainda uma insuficiência 
venosa local. Mastectomias realizadas em virtude de carcinomas (tumores de linhagem epitelial que sofrem 
metástase por via linfática) de mamas pode gerar linfedema de membro superior devido à retirada de 
linfonodos da região axilar. 
 
 O edema pode ser localizado, como na obstrução do retorno venoso em uma extremidade ou bloqueio de um 
grupo regional de linfonodos ou vasos linfáticos, ou sistêmico, denominado de anasarca, que é um tipo de edema 
grave e generalizado com tumefação tecidual subcutânea profunda. As coleções edematosas nas cavidades corporais 
são denominadas hidrotórax, hidropericárdio e hidroperitônio (ascite). 
 Normalmente, a saída de líquido para o interstício a partir da terminação arteriolar da microcirculação é quase 
equilibrada pelo fluxo para dentro na terminação venular; um pequeno resíduo do excesso de líquido intersticial é 
drenado pelos linfáticos. Tanto a pressão capilar elevada ou a pressão osmótica coloidal diminuída pode resultar em 
líquido intersticial aumentado. Qualquer líquido de edema intersticial em excesso é, tipicamente, removido pela 
drenagem linfática, retornando, ao final das contas, à corrente sanguínea via ducto linfático; claramente, a obstrução 
linfática (devido à cicatrização ou tumor) também debilitará a drenagem líquida e resultará em edema. 
 Uma retenção primária de sódio (e sua associação obrigatória com a água) na doença renal também leva ao 
edema. Casos de síndrome nefrótica, em que o paciente perde cerca de 3g de proteínas pela urina, pode causar 
edema. Síndrome nefrótica e casos de insuficiência cardíaca congestiva podem causar anasarca. Cirrose hepática, por 
diminuição da síntese de proteínas plasmáticas, também pode gerar uma queda na pressão osmótica vascular e levar 
à formação de edemas. 
 
PRINCIPAIS CAUSAS DE EDEMA NÃO-INFLAMATÓRIO 
 Os edemas não-inflamatórios, ou seja, sem sinais de processos inflamatórios associados (calor e rubor), 
aparecerão sempre que houver: 
Arlindo Ugulino Netto – PATOLOGIA – MEDICINA P4 – 2009.1 
 
2 
 
� Aumento na pressão hidrostática intravascular: elevações locais na pressão hidrostática podem resultar de 
drenagem venosa deficiente. Ainda que esta pressão hidrostática venosa elevada seja importante, a 
patogênese do edema cardíaco é mais complexa. A insuficiência cardíaca congestiva está associada a débito 
cardíaco reduzido e, portanto, perfusão renal diminuída. A hipoperfusão renal, sucessivamente, deflagra o eixo 
renina-angiotensina-aldosterona, induzindo à retenção de sódio e água pelos rins (aldosteronismo secundário). 
Esse processo é presumidamente planejado para ampliar o volume intravascular e, portanto, melhorar o débito 
cardíaco (via a lei de Frank-Starling) com restauração da perfusão renal normal. Se o defeito cardíaco não 
puder aumentar o débito cardíaco, entretanto, a carga extra de líquido resulta somente na pressão venosa 
elevada e, eventualmente, edema. 
� Queda na pressão coloidosmótica: pode resultar da perda excessiva ou síntese reduzida de albumina (como 
ocorre na cirrose hepática), a proteína sérica mais responsável pela manutenção da pressão osmótica coloidal. 
A síntese reduzida de albumina ocorre no cenário da patologia hepática difusa ou como uma consequência da 
má nutrição protéica. Em cada caso, a pressão osmótica plasmática reduzida leva ao consequente movimento 
de líquido para os tecidos intersticiais e a uma redução no volume plasmático resultante. 
� Obstrução linfática: a drenagem linfática deficiente e o consequente linfedema são, em geral, localizados; e 
podem resultar de obstrução inflamatória ou neoplásica. Por exemplo, a infecção parasitária filaríase causa, 
com frequência, fibrose linfonódica e linfática maciça na região inguinal. O edema resultante da genitália 
externa e membros inferiores é tão extremo que é denominado elefantíase. 
� Retenção de sódio e água, quando existe uma doença renal subjacente (glomerulonefrite e insuficiência renal 
aguda). O sal elevado, com o acompanhamento obrigatório da água, causa o aumento da pressão hidrostática 
(devido à expansão do volume líquido intravascular) e a diminuição da pressão osmótica coloidal. 
 
PRINCIPAIS SITUAÇÕES CLÍNICAS COM EDEMA SISTÊMICO 
 A insuficiência cardíaca congestiva (ICC) é a causa mais comum de edema sistêmico. Embora o aumento 
da pressão hidrostática seja o principal fator, o débito cardíaco e o fluxo renal reduzidos levam à ativação do 
eixo renina-angiotensina-aldosterona, resultando em retenção renal de sódio e água, que por sua vez, expande 
o volume hídrico e a carga do coração, levando a posterior insuficiência cardíaca e a aumento adicional da 
pressão hidrostática. 
 
 A pressão oncótica reduzida do plasma ocorre em várias condições, mas a mais importante é a proteinúria 
da síndrome nefrótica. A síntese comprometida de proteínas plasmáticas na cirrose hepática é uma outra 
causa importante de pressão oncótica reduzida, o que faz com que o líquido se mova para fora do 
compartimento vascular, provocando o edema não-inflamatório.O edema pulmonar é um problema clínico comum visto mais tipicamente no cenário da insuficiência 
ventricular esquerda, mas também ocorre na insuficiência renal, síndrome da angústia respiratória aguda, 
infecções pulmonares e reações de hipersensibilidade. Os pulmões têm duas a três vezes o seu peso normal e 
seccionamento revela líquido espumoso, tingido de sangue, representando uma mistura de ar, líquido de 
edema e eritrócitos extravasados. Ocorre hipertensão pulmonar. 
 
 O edema cerebral pode ser localizado (devido ao abscesso ou neoplasma) ou pode ser generalizado, como na 
encefalite, crises hipertensivas ou obstrução do fluxo externo venoso do cérebro. O trauma pode resultar em 
edema local ou generalizado, dependendo da natureza ou extensão da lesão. Com o edema generalizado, o 
cérebro é excessivamente expandido, com sulcos estreitados e giros distendidos, mostrando sinais de 
achatamento contra o crânio inflexível. 
 
PRINCIPAIS SITUAÇÕES CLÍNICAS COM EDEMA LOCALIZADO 
 Edema de membro inferior bilateral: obstrução ou estenose da veia cava inferior por trombose ou pressão 
externa, por exemplo, gestação, tumor, ascite. 
 
 Edema de membro inferior unilateral: obstrução das principais veias de efluxo de um perna, por exemplo, 
trombose das veias femoral ou ilíaca; veias varicosas nas pernas com retorno venoso comprometido 
 
 Causas incomuns de edema localizado: destruição ou bloqueio dos linfonodos inguinais ou linfáticos, por 
exemplo, filaríase, excisão cirúrgica, linfonodos, radiação e tumor. 
 
MORFOLOGIA 
• Edema subcutâneo: mas evidente nos pés, tornozelos e parte inferior das pernas (edemas gravitacional). O 
edema generalizado (anasarca) é caracterizado por edema facial, sobretudo, periorbitário. 
Arlindo Ugulino Netto – PATOLOGIA – MEDICINA P4 – 2009.1 
 
3 
 
• Edema de órgãos sólidos: discreto aumento no tamanho e no peso, separação dos elementos 
parenquimatosos e compressão da microcirculação. 
• Pulmões: pesados, subcreptantes e úmidos. Septos alargados e líquido pobre em proteínas nos espaços 
alveolares. 
 
 
HIPEREMIA E CONGESTÃO 
 Os dois termos significam aumento do volume sanguíneo no tecido ou na parte afetada. A hiperemia é um 
processo ativo resultante do fluxo interno tecidual aumentado devido à dilatação arteriolar, como no músculo 
esquelético durante o exercício ou em locais de inflamação. O tecido afetado é avermelhado pelo congestionamento 
dos vasos com sangue oxigenado. 
 A congestão (hiperemia passiva) é um processo passivo resultante do efluxo externo deficiente de um tecido. 
A parte afetada adquire uma coloração vermelho-azulada devido à desoxigenação dos eritrócitos represados (cianose). 
Pode ser localizada, como na obstrução venosa, ou sistêmica, como na insuficiência cardíaca. 
 Na insuficiência ventricular esquerda, os pulmões estão principalmente afetados; na insuficiência cardíaca 
direita, os órgãos sistêmicos são afetados, por exemplo, fígado, baço, com preservação dos pulmões. 
 A congestão e o edema, em geral, ocorrem juntos, de maneira primária visto que a congestão no leito capilar 
pode resultar em edema devido à transudação líquida aumentada. Na congestão de longa duração, denominada 
congestão passiva crônica, a estase do sangue pouco oxigenado também causa hipóxia crônica, que pode resultar em 
degeneração celular parenquimatosa ou morte, alguma vezes, com cicatrização microscópica. 
 
MORFOLOGIA 
 Em geral, a hiperemia e a congestão estão associados ao edema. Quando agudas, os vasos estão distendidos 
e os órgãos estão incomumente sanguinolentos. Quando crônicas, podem levar a atrofia hipóxica ou a morte das 
células parenquimatosas, ou a micro-hemorragias com deposição de Fe2+ e fibrose. 
 Os órgãos mais afetados são os pulmões, fígado e baço. Os pulmões sofrem por congestão e edema 
visualizados principalmente com insuficiência ventricular esquerda, como por exemplo, no infarto do miocárdio, 
miocardite, miocardiopatia; cardiopatia reumática com estenose mitral; válvula mitral insuficiente com regurgitação. Os 
capilares alveolares ficam ingurgitados e tortuosos; ocorre extravasamento de líquido proteináceo nos espaços áreos; 
com o decorrer do tempo, os septos edemaciados e impregnados com hemossiderina tornam-se fibrinóticos (induração 
parda dos pulmões). 
 O fígado sofre com a congestão aguda e crônica, com insuficiência cardíaca direita (cor pulmonale), raramente 
com obstrução da veia hepática ou da veia cava inferior. Quando agudas, o sangue apresenta-se vermelho-escuro, 
tenso, ligeiramente pesado, com perda de sangue das veias centrais quando seccionadas. Quando crônicas, o sangue 
apresenta-se vermelho-azulado, centro dos lóbulos congestionados com bordas de parênquima acastanhado, algumas 
vezes gorduroso. Se ocorrer rotura de sinusóides centrais, verifica-se necrose hemorrágica central. 
 O baço sofre congestões agudas com infecções hematogênicas. O baço, durante hiperemia aguda, apresenta-
se discretamente aumentado, cianótico; aos cortes, exsudação de sangue e colapso. Quando crônicas, ocorre 
esplenomegalia congestiva, fibrose perissinusoidal; a organização de micro-hemorragias leva à fibrose. 
 
 
HEMORRAGIA 
 A hemorragia indica, em geral, extravasamento de sangue devido à ruptura do vaso. Como descrito 
previamente, o sangramento capilar pode ocorrer sob condições de congestão crônica e uma tendência aumentada à 
hemorragia de lesão geralmente insignificante é vista numa grande variedade de disfunções coletivamente clínicas 
denominadas diáteses hemorrágicas. 
 Todavia, a ruptura de uma grande artéria ou veia é quase sempre devido à lesão vascular, incluindo trauma, 
aterosclerose, ou erosão inflamatória ou neoplásica da parede do vaso. 
 A hemorragia pode ser manifestada em uma variedade de padrões, dependendo do tamanho, da extensão e 
da localização do sangramento: 
� A hemorragia pode ser externa ou interna (confinada dentro de um tecido). O acúmulo de sangue dentro do 
tecido é chamado hematoma. 
� As diminutas hemorragias de 1mm a 2mm na pele, mucosas ou superfícies séricas são denominadas 
petéquias (com formato punctiforme) e são associadas tipicamente a pressão intravascular localmente 
elevada, baixa contagem de plaquetas (trombocitopenia), função plaquetária defeituosa (como na uremia) ou 
déficits no fator de coagulação. 
� As hemorragias levemente maiores de 3mm são denominadas púrpuras e podem ocorrer de forma secundária 
ao trauma, inflamação vascular ou fragilidade vascular aumentada. 
� Hemorragias subcutâneas maiores que 1cm ou 2cm são denominadas equimoses e são caracteristicamente 
vistas após trauma, porém podem ser exacerbadas por quaisquer das condições previamente mencionadas. 
Arlindo Ugulino Netto – PATOLOGIA – MEDICINA P4 – 2009.1 
 
4 
 
Os eritrócitos nessas hemorragias locais são degradados e fagocitados pelos macrófagos; a hemoglobina (cor 
vermelho-azulada) é então enzimaticamente convertida em bilirrubina (cor azul-esverdiada), causando as 
mudanças de características na cor de um hematoma. 
� Os grandes acúmulos de sangue em uma ou outra cavidade corporal são denominados hemotórax, 
hemopericárdio, hemoperitôneo ou hemartrose. 
 
OBS1: Melena e hematêmese são consideradas tipos de hemorragias externas partindo do pressuposto que a luz do 
trato gastrointestinal é tido como parte do meio externo. 
 
 A rápida perda de até 20% do volume de sangue ou perdas lentas de até grande quantidades pode ter pouco 
impacto em adultos sadios; perdas maiores, entretanto, podem resultar em choque hemorrágico (hipovolêmico). O local 
da hemorragia também é importante: o sangramento que seria trivial em tecidos subcutâneos pode causar morte de 
localizado no cérebro. Finalmente, a perda de ferro e uma anemia subsequente pela deficiência do ferro tornam-se um 
consideração na perda sanguínea externa crônica ou recorrente (Ex: úlcerapéptica ou sangramento menstrual). Ao 
contrário, quando os eritrócitos são retidos, como na hemorragia dentro de cavidades ou tecidos corporais, o ferro pode 
ser reutilizado para a síntese de hemoglobina. 
 
 
HEMOSTASIA E TROMBOSE 
 Os dois processos estão intimamente relacionados. A hemostasia é vital para o controle normal do 
sangramento, ocorre através da formação de um coágulo sólido no local da lesão no vaso, mas a trombose é um 
processo patológico, com formação de uma massa coagulada de sangue no sistema vascular sem rotura. 
 A trombose tem o potencial de diminuir ou obstruir o fluxo vascular para as estruturas críticas, por exemplo, 
coração e cérebro; deslocar-se ou fragmentar-se criando êmbolos obstrutivos; produzir infarto. 
 
PROCESSO DE HEMOSTASIA NORMAL 
 Existem três fatores contribuintes importantes para a hemostasia e a trombose: 
� A parede vascular com seu revestimento de endotélio e tecidos conjuntivos subendoteliais subjacentes; 
� Plaquetas, essenciais para a hemostasia e para a formação de trombos; 
� Sistema de coagulação. 
 
A sequência geral de eventos na hemostasia no local da lesão vascular é a seguinte: 
� Após a lesão inicial, há um breve período de vasoconstrição arteriolar mediado pela endotelina. O efeito é 
transitório. Entretanto, o sangramento reiniciar-se-á se não houver ativação dos sistemas plaquetários e 
de coagulação. 
� A lesão endotelial expõe a matriz extracelular (MEC) subendotelial altamente trombogênica, permitindo 
que as plaquetas se adiram e tornem-se ativadas, isto é, submetendo uma mundaça na forma e liberação 
de grânulos secretório. Em minutos, os produtos secretados recrutam plaquetas adicionais (agregação) 
para formar um tampão hemostático; este é o processo da hemostasia primária; 
� O fator tecidual, um fator pró-coagulante fixado à membrana sintetizando pelo endotélio, também é 
exposto no local da lesão, culminando na ativação da trombina. Sucessivamente, a trombina converte o 
fibrinogênio solúvel circulante em fibrina insolúvel, resultando na deposição local de fibrina. A trombina 
também induz adicionalmente o recrutamento plaquetário e a liberação granular. Esta sequência, a 
hemostasia secundária, leva mais tempo que o tampão plaquetário inicial; 
� A fibrina polimerizada e os agregados plaquetários formam um tampão permanente e sólido para prevenir 
qualquer hemorragia adicional. Neste estágio, os mecanismos contra-regulatórios (Ex: ativador do 
plasminogênio tecidual – APT) são estabelecidos em movimento para limitar o tampão hemostático ao 
local da lesão. 
 
Por um lado, as células endoteliais possuem propriedades antiplaquetárias, anticoagulante e fibrinolíticas, 
mas, por outro lado, quando lesadas ou ativadas, exercem funções pró-coagulantes. Quando ocorre a lesão, as 
plaquetas (que desempenham um papel central na hemostasia e na trombose) são expostas ao colágeno 
subendotelial e a outras glicoproteínas do tecido conjuntivo. As plaquetas, além de uma grande variedade de 
receptores, apresentam grânulos citoplasmáticos, nos quais encontramos infusões de serotonina, adenosinadifosfato 
(ADP) e de tromboxanos, além de alguns fatores da coagulação. A seguir, são submetidas a adesão e alteração em 
sua forma, secreção (reação de liberação) e agregação, eventos estes coletivamente chamados de ativação 
plaquetária. 
� A adesão refere-se à inserção nos locais de lesão endotelial do fator de von Willebrand (fixam as 
plaquetas ao colágeno), pontes moleculares e dos receptores glicoprotéicos no colágeno e elementos 
Arlindo Ugulino Netto – PATOLOGIA – MEDICINA P4 – 2009.1 
 
5 
 
do tecido conjuntivo. A deficiência genética da doença de von Willembrand causa distúrbios 
hemorrágicos. 
� Secreção ou reação de liberação libera conteúdos de grânulos plaquetários (proteínas de coagulação, 
fatores de crescimento e enzimas) e corpúsculos densos (com ADP), resultando no aparecimento de 
um complexo fosfolipídico da membrana na superfície da plaqueta, ao qual os fatores da coagulação 
aderem. 
� Agregação implica na interaderência, iniciada por ADP e tromboxano A2, seguida pela geração de 
trombina e, finalmente, fibrina. 
 
 O sistema de coagulação consiste, em essência, uma série de transformações de pró-enzimas em enzimas 
ativadas, culminando na polimerização de fibrinogênio em fibrina. É comum dividir-se a coagulação em uma via 
extrínseca e em uma via intrínseca, convergindo ambas para ativação do fator X. Na teoria, a via intrínseca é ativada 
pelo fator de Hangeman (fator XII) e a via extrínseca pelo fator tecidual. Entretanto, há muitos elos entre as duas vias, 
inclusive o fator tecidual que também ativa a via intrínseca. 
 
 Uma vez formada a fibrina, ocorre a agregação plaquetária sobre a lesão vascular, culminando na formação de 
um trombo sobre a mesma. Além de induzir a coagulação, a ativação da cascata da coagulação estabelece em um 
movimento uma cascata fibrinolítica que limita e regula o tamanho do coágulo final. Isso é realizado principalmente pela 
geração da plasmina a partir do plasminogênio (por uma via dependente do fator XIIa). 
 
TROMBOSE 
 A trombose é um tipo de coagulação intravascular patológico. O trombo representa a hemostasia no sistema 
vascular intacto. Na trombose, atuam três influências (tríade de Virchow): 
• Lesão endotelial: é o fator trombogênico mais importante, podendo induzir a trombose sozinha. É 
particularmente importante nas artérias do coração (como ocorre na arterosclerose ulcerativa e no infarto 
transmural do miocárdio). Quando ocorre lesão, as células são ativadas com liberação de fatores trombolíticos 
(e antitrombolíticos), o colágeno é exposto e tem início a série de eventos plaquetários e da coagulação. 
• Alterações no fluxo normal: a turbulência nas artérias no coração ou a estase nas veias interrompe o fluxo 
laminar e lâmina plasmática que separa os elementos figurados da parede vascular. 
o Plaquetas são ativadas pelo contato com endotélio; 
o Redução do fluxo retarda a diluição dos fatores de coagulação ativados e a depuração hepática; 
o Estase ou turbulência retardam o influxo dos inibidores; 
o A turbulência pode induzir lesão endotelial. 
Arlindo Ugulino Netto – PATOLOGIA – MEDICINA P4 – 2009.1 
 
6 
 
• Hipercoagulabilidade: trata-se de um fenômeno mal definido, que não está associado e achados laboratoriais 
compatíveis e significativos. Considerado como fator responsável pela tendência aumentada à trombose com 
deficiência de antitrombina III ou de proteína C; politraumatizados; câncer disseminado; síndrome nefrótica; 
anticoncepcionais orais; no final da gravidez ou após o parto. 
 
 Os trombos podem formar-se em qualquer parte do sistema cardiovascular. Nas câmaras cardíacas e na aorta, 
devido ao rápido fluxo, são não-oclusivos (mural). Nos locais de origem, os trombos costumam estar firmemente 
fixados, mas nas extremidades ascendentes e descendentes podem propagar-se produzindo cabeças ou caudas 
frouxamente fixadas que podem fragmentar-se e embolizar. 
 
DESTINO DO TROMBO 
 Depois de formado o trombo, se o paciente sobreviver aos efeitos isquêmicos imediatos do mesmo, pode 
ocorrer uma das seguintes sequências: 
� Propagação do trombo obstruindo um vaso ou um ramo crítico: o trombo pode acumular mais plaquetas e 
fibrina, levando eventualmente à obstrução do vaso. 
� Embolização parcial ou total: os trombos podem deslocar-se e viajar para outros locais na vasculatura. 
� Resolução e dissolução: remoção dos trombos por atividade fibrinolítica. Algumas moléculas são sintetizadas 
para agir no mecanismo de regulação da coagulação: antitrombina III, proteínas C e S, inibidor da via do fator 
tecidual-TFPI, heparina. 
� Organização e recanalização: os trombos podem induzir a inflamação e fibrose (organização) e podem tornar-
se eventualmente recanalizadas; isto é, podem restabelecero fluxo vascular, ou podem ser incorporados na 
parede vascular espessada, formando uma cicatriz com pequenos novos vasos. 
 
SIGNIFICADO CLÍNICO 
 Os trombos arteriais podem obstruir vasos críticos, por exemplo, coronário, cerebral. Aqueles localizados nas 
câmaras cárdicas podem embolizar para a perna, rins e baço. No lado arterial, os trombos tendem a cinza-
avermelhados e podem atingir os seguintes locais: ventrículo esquerdo sobre infarto do miocárdio, apêndices 
auriculares; aorta sobre ateromas ulcerados e fissurados; artérias ateroscleróticas; sacos aneurismáticos; etc. 
 Os trombos venosos nas veias profundas das pernas são problemas comuns. Em geral são silenciosos, podem 
embolizar para os pulmões (causando tromboembolismo pulmonar) e tendem a ocorrer em certos quadros clínicos: 
idade avançada; repouso ao leito e imobilização (associada a estase vascular); cardiopatias (infarto do miocárdio, 
estenose mitral reumática, insuficiência cardíaca congestiva, lesão vascular ou anomalia cardíaca congênita); lesão 
tecidual (fraturas, queimaduras, trabalho de parto); câncer visceral disseminado; final de gestação ou período pós-
parto; uso de anticoncepcionais orais (estrogênio em altas doses). 
 
OBS³: A coagulação intravascular disseminada (CID) é um início rápido e insidioso de trombos de fibrina 
disseminada na microcirculação. É mais comum em mulheres pós-parto, mas o sistema de ativação pode ser 
disseminadamente ativado por meio de células cancerígenas ou venenos de cobras. Com o desenvolvimento de 
trombos múltiplos, há um consumo concomitante de plaquetas e proteínas coagulantes (daí, o sinônimo coagulopatia 
de consumo); ao mesmo tempo, os mecanismos fibrinogênicos são ativados e como resultado uma disfunção 
inicialmente trombótica pode desenvolver-se numa disfunção grave de hemorragias por falta de fatores de coagulação. 
Deve ser enfatizado que a CID não é uma doença primária, mas sem dúvida uma complicação potencial de qualquer 
condição associada com ativação disseminada de trombina. 
 
 
EMBOLIA 
 Representa uma massa intravascular sólida, líquida ou gasosa transportada pelo sangue até um local distante 
de sua origem. Mais de 98% têm como origem trombos (tromboembolia). Entre os outros tipos possíveis, os mais 
comuns são fragmentos de placas ateromatosas (ateroêmbolos) e embolia gordurosa. 
 Os êmbolos que surgem nas veias impactam nos pulmões e podem causar tromboembolismo pulmonar, 
cuja principal complicação é a embolia pulmonar. Os êmbolos que surgem no lado arterial da circulação, mais amiúde 
nos trombos intracardíacos, costumam impactar para as pernas, cérebro e vísceras e, em geral, causam infartos. 
• Tromboembolismo pulmonar: os êmbolos venosos originam-se de trombos venosos profundos da coxa, e 
são, em geral, carregados através de canais progressivamente maiores, passando para o lado direito do 
coração e, daí, para a vasculatura pulmonar. Dependendo do tamanho do embolo, ele pode ocluir a principal 
artéria pulmonar, impactar-se através da bifurcação ou distribuir-se nas arteríolas menores ramificadas. A 
morte súbita, insuficiência cardíaca direita (cor pulmonale) ou colapso cardiovascular ocorre quando 60% ou 
mais da circulação pulmonar é obstruída com êmbolos. 
• Tromboembolismo sistêmico: refere-se aos êmbolos que viajam dentro da circulação arterial. A maioria 
surge de trombos murais intracardíacos, dois terços dos quais estão associados a infartos da parede 
Arlindo Ugulino Netto – PATOLOGIA – MEDICINA P4 – 2009.1 
 
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ventricular esquerda e outro quatro com átrios esquerdos dilatados e fibrilantes. Ao contrário dos êmbolos 
venosos que tendem a alojar-se principalmente num leito vascular (o pulmão), os êmbolos arteriais podem 
viajar para uma ampla variedade de locais. 
• Embolia gordurosa: glóbulos microscópicos podem ser encontrados na circulação após fraturas de ossos 
longos (que tem medula óssea amarela) ou, raramente, no cenário do trauma de tecido mole e queimaduras. 
Placas ateromatosas podem ainda formar êmbolos migratórios. A síndrome embólica gordurosa é 
caracterizada por insuficiência pulmonar, sintomas neurológicos, anemia e trombocitopenia. Os pacientes 
apresentam sintomas que se originam 3 dias após a lesão: taquipnéia, dispnéia e taquicardia; podem 
apresentar ainda trombocitopenia devido à adesão plaquetária a miríades de glóbulos gordurosos, sendo 
removidos da circulação; a anemia pode resultar como consequência da agregação plaquetária. 
• Embolia gasosa: as bolhas gasosas dentro da circulação podem obstruir o fluxo vascular quase tão 
prontamente como as massas trombóticas. As bolhas (geralmente de Nitrogênio ou gás Hélio) agem como 
obstruções físicas e podem coalescer-se para formar massas espumosas suficientemente grandes para ocluir 
os grandes vasos. Uma forma particular de embolia gasosa, denominada doença de descompressão, ocorre 
quando os indivíduos são expostos a mudanças bruscas na pressão atmosférica. Os mergulhadores e os 
praticantes de pesca submarina, os trabalhadores de construções subaquáticas e indivíduos em aeronaves 
despressurizadas em rápida ascensão estão todos sob risco. 
• Embolia do líquido amniótico: é uma complicação grave e incomum. O início é caracterizado por dispnéia 
abrupta grave, cianose e choque hipotensivo, seguido de convulsões e coma. A causa de base é a infusão de 
líquido amniótico ou tecido fetal na circulação materna via um rasgo nas membranas placentárias ou ruptura 
das veias uterinas. 
 
 
INFARTO 
 Um infarto é uma área de necrose isquêmica causada pela oclusão do suprimento arterial ou da drenagem 
venosa num tecido particular. Raramente é causado por obstrução da drenagem venosa, em geral em órgão sem 
canais de desvio, como por exemplo, ovários e testículos. 
 As obstruções vasculares apresentam as seguintes características: 
� Na maioria dos casos têm origem trombótica ou embólica; 
� Raramente são provocados por tumores expansíveis, espasmo, aprisionamento de uma víscera em um saco 
herniário, torção de uma víscera móvel, compressão das veias de paredes delgadas, etc. 
 
Nem todas as oclusões vasculares levam a infarto. Os fatores que modificam o resultado incluem: 
� Estado geral do sangue e do sistema cardiovascular (anemia e ICC aumentam a probabilidade); 
� Padrão anatômico do suprimento vascular (Ex: o polígono de Willis diminui a probabilidade de infartos) 
� Velocidade do desenvolvimento de oclusão; 
� Vulnerabilidade do tecido à isquemia: os neurônios e as células miocárdicas e epiteliais dos túbulos 
proximais dos rins são especialmente sensíveis à isquemia (hipóxia). 
 
 Os infartos são classificados como hemorrágicos ou anêmicos, e também sépticos ou moles. 
� Os infartos hemorrágicos ocorrem com oclusão venosa e nos tecidos que são frouxos ou que apresentam 
circulação dupla ou anastomótica. 
� Os infartos brancos ou pálidos ocorrem nos órgãos sólidos com artérias terminais. 
 
 
CHOQUE 
 O choque (colapso vascular) consiste em um sério distúrbio hemodinâmico e metabólico devido a uma 
hipoperfusão disseminada das células e tecidos devido ao volume sanguíneo circulante inadequado. Este fato gera 
uma incapacidade do sistema circulatório de manter aporte sanguíneo adequado a microcirculação devido à diminuição 
da perfusão de nutrientes aos órgãos vitais, depuração inadequada de metabólitos e um desvio hipóxico proveniente 
do metabolismo aeróbico para anaeróbico, às vezes resultando em acidose láctica. 
 As causas do choque estão relacionadas a uma queda do volume sanguíneo circulante efetivo por conta de 
uma propulsão cardiopulmonar inadequada (problemas em nível do pulmão e coração) ou uma grande vasodilatação 
periférica (o que pode fazer com que os órgãos não sejam bem perfundidos). 
 O choque pode ser agrupado em cinco grandes categorias: choque cardiogênico, hipovolêmico, anafilático, 
neurogênico e séptico.TIPOS DE CHOQUE 
• Choque cardiogênico: resulta da falência da bomba miocárdica. Isso pode ser causado por dano miocárdico 
intrínseco (infarto), arritmias ventriculares, compressão extrínseca (tamponamento cardíaco), obstrução ao 
Arlindo Ugulino Netto – PATOLOGIA – MEDICINA P4 – 2009.1 
 
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fluxo externo (embolia pulmonar), rupturas ventriculares, miocardites, etc. Em suma, qualquer afecção que 
previna o enchimento cardíaco direito ou esquerdo (embolia pulmonar, tamponamento cardíaco e mixoma 
atrial) pode causar uma dificuldade de expulsão do sangue do coração em direção aos demais órgãos. 
 
• Choque hipovolêmico: é um fenômeno secundário à perda do volume sanguíneo ou plasmático. Isso pode 
ser causado por hemorragia, perda líquida por queimaduras graves, trauma, diarréria, vômitos, formação 
excessiva de urina, transpiração excessiva. 
 
• Choque anafilático: decorre de uma reação de hipersensibilidade do tipo 1 a injeção de drogas ou soros, 
picadas de insetos, ingestão de alimentos. Indivíduos previamente sensibilizados com anticorpos do tipo IgE, 
ao manter um novo contato com aquele mesmo antígeno que o sensibilizara previamente, apresentam a 
formação de complexos antígeno-anticorpos. Estes complexos se aderem à membrana plasmática dos 
mastócitos, que passam a liberar mediadores químicos como a histamina, a heparina, fator quimioático para 
neutrófilos, etc. Estes mediadores desencadeiam então uma vasodilatação sistêmica, aumento da 
permeabilidade vascular e edema generalizado, o que culmina em um hipotensão grave e falência da 
circulação periférica, caracterizando o estado de choque. 
Os sintomas respiratórios ocorrem devido a espasmos da musculatura bronquial e edema das mucosas 
brônquicas e glótica. É comum também o desenvolvimento de prurido generalizado devido à ação irritativa da 
histamina sobre as terminações nervosas. 
 
• Choque neurogênico: é decorrente do comprometimento do controle neural do tônus vasomotor provocando 
vasodilatação generalizada. É causada por lesão aguda do cérebro ou da medula espinhal e por acidente 
anestésico. 
 
• Choque séptico: é a causa mais comum de morte na UTI. O choque séptico é consequência da resposta do 
sistema imunológico do hospedeiro à agentes infecciosos. A maioria dos casos (70%) é provocada por bacilos 
gram-negativos produtores de endotoxinas (daí o termo choque endotóxico). 
As endotoxinas são lipopolissacarídios (LPSs) da parede bacteriana que são liberados quando as paredes 
celulares são degradadas como ocorre durante uma resposta inflamatória. Esta LPS, ao cair na corrente 
sanguínea, une-se a uma proteína circulante e torna-se capaz de se ligar a um receptor de superfície celular 
dos monócitos e macrófagos (CD14). Esta reação desencadeia a liberação de uma grande variedade de 
citocinas como a IL-1 e o TNF que geram e propagam o estado patológico. Este induz a produção de proteínas 
coagulantes, óxido nítrico (hipotensão), aumento da expressão das moléculas de adesão para neutrófilos pelas 
células endoteliais (o que gera focos inflamatórios), efeito tóxico direto sobre o endotélio e a ativação da via 
extrínseca da coagulação (com a tendência de formação de tromboembolismos). Deste modo, as extremidades 
e órgãos periféricos não vão ser bem perfundidos (principalmente os pulmões e o fígado). Todos estes fatores 
causam, portanto: 
� Vasodilatação sistêmica (hipotensão) 
� Contratilidade miocárdica diminuída 
� Lesão e ativação endotelial, causando adesão leucocitária e dano capilar alveolar pulmonar 
� Ativação do sistema de coagulação, culminando em coagulação intravascular disseminada (ver OBS³). 
Os resultados clínicos da liberação destes mediadores são: 
� Tríade de hipotensão (devido à liberação de óxido nítrico), coagulação intravascular disseminada 
(devido à ativação de proteínas coagulantes por TNF) e distúrbios metabólicos (por diminuição da 
perfusão); 
� Lesões endoteliais devido à ação danosa do TNF (que induz à apoptose) o que também favorece à 
trombose; 
� Hipotensão devido à vasodilatação sistêmica com queda da pressão arterial 
� Redução da contratilidade miocárdica devido à diminuição da pressão de perfusão com lesão das 
células miocárdicas e consequente diminuição do débito e perfusão tissular; 
� Lesão endotelial pode ocorrer devido a ativação dos neutrófilos antes deles saírem dos vasos o que 
associado a uma maior aderência endotelial pode resultar em lesão difusa dos capilares alveolares 
(síndrome da angústia respiratória do adulto por edema pulmonar). 
� O fígado também é suscetível a lesão pelos neutrófilos, podendo ocorrer falta da gliconeogênese com 
insuficiência na capacidade de manter os níveis normais de glicose; 
� A ativação do sistema de coagulação, o que gera a CID (devido a uma maior expressão de proteínas 
de coagulação, lesões endoteliais e ativação da via extrínseca da coagulação). Muitos órgãos passam 
a apresentar inflamações e trombose intravascular, podendo ocorrer falência de múltiplos órgãos. 
 
 
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ESTÁGIOS DO CHOQUE 
 O choque é uma disfunção que, se não corrigida, leva à morte. A menos que o insulto seja maciço e 
rapidamente letal, o choque tende a desenvolver-se através de três fases gerais: 
� Uma fase não-progressiva inicial durante a qual os mecanismos compensatórios reflexos são ativados e a 
perfusão dos órgãos vitais é mantida. Uma variedade de mecanismos neuro-humorias ajuda a manter o débito 
cardíaco e a pressão sanguínea nesta fase: reflexos barorreceptores, liberação de catecolaminas, ativação do 
eixo renina-angiotensina-aldosterona, liberação hormonal diurética e estimulação simpática generalizada. O 
efeito final é taquicardia, vasoconstricção periférica e conservação renal de líquido. 
� Um estágio progressivo, caracterizado por hipoperfusão tecidual e início da piora circulatória e desequilíbrios 
metabólicos, incluindo acidose. Neste cenário de hipóxia, a respiração aeróbia intracelular é substituída pela 
glicólise anaeróbia com produção excessiva de ácido láctico. A acidose láctica metabólica diminui o pH tecidual 
e torna menos intensa a resposta vasomotora, as arteríolas dilatam-se e o sangue começa a acumular-se na 
microcirculação. Este acúmulo expõe as células endoteliais ao desenvolvimento de lesão anóxica com CID 
subsequente. 
� Um estágio irreversível, que se estabelece após o corpo ter causado a si próprio lesão celular e tecidual tão 
grave que mesmo se os defeitos hemodinâmicos fossem corrigidos, a sobrevivência não seria possível. A 
lesão celular disseminada é refletida na fuga enzimática lisossomal, com agravamento adicional do estado do 
choque. Neste ponto, o paciente tem uma interrupção renal completa devido à necrose tubular aguda e, apesar 
das medidas médicas heróicas, a piora clínica quase que inevitalmente culmina em morte.

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