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www.demartiniambiental.com.br 1 Revista Meio Ambiente Industrial, set/out. 2006, p. 24-25 O Futuro é a Governança Sustentável “O resultado de 200 anos de Revolução Industrial foi o aquecimento global e as próprias empresas que ajudaram neste processo vão se tornar mais cuidadosas daqui por diante” Jeff Immelt, Presidente Mundial General Electric Esta afirmação é um alerta do principal executivo da segunda maior empresa do mundo e indica o rumo dos negócios atuais ao traduzir as necessidades de mercado numa estratégia que possibilite orientar as empresas para o futuro, ou em outras palavras: as empresas devem mudar a forma de fazer negócios. Após cada nova inundação, furacão, tempestade ou seca, mesmo com as incertezas cientificas ainda existentes, reforça-se a percepção publica de que o aquecimento global é um fato técnico, conseqüência das emissões de gases produzidos pela queima de carvão e derivados de petróleo. Podemos incluir no crescente grupo que tem este ponto de vista, os representantes de nações e os líderes de grandes indústrias. Esta percepção força a regulamentação de novos instrumentos, como o Protocolo de Kyoto, e provoca a mudança do padrão vigente de gestão das corporações, pois a certeza de que o mundo está em transformação faz com que se mude, também, a demanda dos diversos grupos de interesse envolvidos (como o público em geral, consumidores, acionistas, investidores, mídia, organizações governamentais e não governamentais) e exige das empresas o abandono de práticas gerenciais convencionais adotadas há décadas por um novo modelo de crescimento econômico integrado com o ambiental e o social, idéia surgida com o Desenvolvimento Sustentável. Este conceito original, que chamaremos neste artigo de governança sustentável, é uma abordagem que possibilita a geração de valor para a empresa através da sustentabilidade do negócio ao adotar práticas que otimizem o desempenho de seus processos e produtos. A expressão governança corporativa é comumente empregada para o conjunto de mecanismos que estrutura a administração de uma empresa de forma a dar transparência aos seus acionistas e ao mercado sobre os processos de tomada de decisão e os atos praticados pelos seus administradores. Ou seja, prestar informações claras sobre onde e como os recursos são aplicados. As práticas de governança corporativa influenciam no desempenho das empresas, pois os investidores preferem investir em empresas que possuam maior probabilidade do retorno sobre seu investimento, e por isto, hoje exige estas informações de uma forma transparente. A governança corporativa ganhou notoriedade ao ser escolhida como instrumento gerencial para inibir práticas fraudulentas, como as que abalaram o mercado financeiro nos Estados Unidos com enormes prejuízos para grandes e pequenos investidores que aplicaram recursos com base apenas na grife de grandes marcas corporativas, sem saber como eram empregados. A governança corporativa considera, por exemplo, como os executivos e o Conselho de Administração são escolhidos, como prestam contas de suas decisões e as conseqüências destas decisões. Luiz Carlos De Martini Jr. www.demartiniambiental.com.br 2 Por sua vez, a denominação governança sustentável expressa, de maneira mais adequada e precisa, como uma empresa se organiza e é suportada por sistemas de negócios que aumentem a sua credibilidade através do desempenho ambiental e social de seus processos e produtos. Uma visão míope, por exemplo, insistiria em administrar os resíduos industriais como uma perda inevitável do processo produtivo, e não como uma oportunidade de redução de custos, pois o caminho correto é desacoplar a geração de resíduos da geração de produtos industriais. Ao adotar a governança sustentável a poluição passa a ser entendida como desperdício e uso ineficiente dos recursos de produção, os quais se refletem na eficiência do processo produtivo. Recursos de produção são as matérias-primas e os insumos (água, energia, combustíveis e outros), a mão-de-obra, os recursos naturais (por exemplo, solo, capacidade de dispersão do ar, a capacidade de diluição de efluentes nos corpos d’água e a cobertura vegetal), os equipamentos, os processos industriais, os resíduos e demais subprodutos, tanto diretos quanto indiretos (fornecedores e receptores). A produtividade deve ser entendida como obter a maior produção com o menor custo possível, incluindo os custos ambientais, como multas por infrações à legislação ambiental, atrasos de produção devido a interdições e ações judiciais promovidas pelo Ministério Público, ou indenizações em caso de acidentes com danos ambientais. Da mesma forma, o desempenho do produto é também avaliado pelas interações deste com o meio ambiente, incluído o produto pós- consumo, como no caso das embalagens usadas. Retornando a questão inicialmente abordada sobre as mudanças climáticas, é um erro estratégico considerar o Protocolo de Kyoto aplicável apenas aos países desenvolvidos e para poucas empresas brasileiras que aproveitam uma oportunidade através da negociação de créditos de carbono. Pois, independente de pleitear um ganho pelo Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), uma política de governança sustentável que aborde atitudes pró-ativas em favor das mudanças climáticas através de metas de redução da emissão de gases poluentes, contribui para a competitividade ao reduzir o desperdício com emissões atmosféricas, reforça o posicionamento ambiental da empresa no mercado e fortalece sua credibilidade. Mesmo nos Estados Unidos, que não ratificaram o protocolo para não se impor metas de redução de emissões com a economia em crescimento, os executivos americanos acreditam que uma legislação mais rigorosa é uma questão de tempo. Ao formular uma “agenda de mudanças” para a governança sustentável eficaz, é fundamental, além da credibilidade, obtida através da coerência e consistência de ações, competência e ética, a adoção de tecnologias mais limpas e redução dos resíduos por parte das empresas, e também a implementação pelo Estado de uma legislação ambiental que estimule a adoção de soluções ambientais, como mecanismos de incentivo de mercado, para evitar o aumento excessivo de custos, e a conseqüente perda da rentabilidade. Luiz Carlos De Martini Junior Engenheiro ambiental e autor do livro Redução de Resíduos Industriais: como produzir mais com menos. demartini@demartiniambiental.com.br "Governança sustentável é uma abordagem que possibilita a geração de valor para a empresa através da sustentabilidade do negócio ao adotar práticas que otimizem o desempenho de seus processos e produtos"
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