Buscar

Curso Direito Penal SP

Prévia do material em texto

Seja bem Vindo! 
 
Curso 
 Penal Direito
CursosOnlineSP.com.br 
 Carga horári 60a: hs 
 
Conteúdo 
 
Teoria Geral do Direito Penal ............................................................................... Pág. 8 
Teoria Geral do Crime .......................................................................................... Pág. 21 
Ilicitude (ou Antijuridicidade) ................................................................................ Pág. 32 
Culpabilidade ....................................................................................................... Pág. 36 
Concurso de Pessoas .......................................................................................... Pág. 41 
Concurso de Crimes............................................................................................. Pág. 45 
Penas ................................................................................................................... Pág. 47 
Medida de Segurança .......................................................................................... Pág. 59 
Suspensão Condicional da Pena – Sursis ........................................................... Pág. 60 
Livramento Condicional ........................................................................................ Pág. 62 
Efeitos da Condenação ........................................................................................ Pág. 63 
Reabilitação ......................................................................................................... Pág. 64 
Crimes em Espécie .............................................................................................. Pág. 71 
Crimes contra a Pessoa ....................................................................................... Pág. 71 
Crimes contra o Patrimônio .................................................................................. Pág. 81 
Crimes contra a Propriedade Imaterial ................................................................. Pág. 93 
Crimes contra a Organização do Trabalho........................................................... Pág. 94 
Crimes contra o Sentimento Religioso e contra o Respeito aos Mortos .............. Pág. 95 
Crimes contra a Dignidade Sexual ....................................................................... Pág. 96 
Crimes contra a Família ....................................................................................... Pág. 102 
Crimes contra a Incolumidade Pública ................................................................. Pág. 105 
Crimes contra a Paz Pública ................................................................................ Pág. 113 
Crimes contra a Administração Pública................................................................ Pág. 118 
Lei de Contravenções Penais .............................................................................. Pág. 130 
Lei de crimes contra a Economia Popular ............................................................ Pág. 131 
Lei de crimes Hediondos ...................................................................................... Pág. 134 
Lei sobre a Tortura ............................................................................................... Pág. 135 
Código de Trânsito Brasileiro ............................................................................... Pág. 136 
Lei de Drogas ....................................................................................................... Pág. 139 
Lei Maria da Penha .............................................................................................. Pág. 143 
 
8 
1. Teoria geral do Direito Penal 
 
 O direito penal é ramo do direito público. Sua finalidade é tutelar os 
mais relevantes bens da sociedade. Por meio de suas normas veda-se a 
prática de condutas tendentes a lesionar a vida, as integridades física, 
psicológica e sexual, o patrimônio, a Administração Pública (em sentido 
amplo), entre tantos outros. 
 O direito penal elenca as condutas consideradas penalmente 
reprováveis no convívio humano e fixa as penalidades pertinentes para cada 
uma. Diversos são os crimes, uns de maior, outros de menor potencial 
ofensivo. Outros, ainda, são sequer chamados de crimes, mas como não 
são irrelevantes, são passíveis de punição sob o título de contravenções. 
 O direito penal é um dos ramos mais antigos do direito e evoluiu 
juntamente com a sociedade. As penalidades, hoje, mais que apenas 
remediar o ilícito, destinam-se à reinserção do ofensor ao convívio social. A 
pena não deve apenas ter o objetivo punitivo, mas também o educativo. 
 
 
1.1 Fontes do direito penal 
 
 As fontes do direito penal dividem-se em: 
 a) materiais; e 
 b) formais. 
 Fontes materiais são aquelas que criam a norma penal, ou seja, 
aquelas donde emanam as leis (em sentido amplo) penais. No Brasil, a fonte 
material do direito penal é, exclusivamente, o Estado. Conforme dispõe o 
artigo 22, inciso I, da Constituição Federal de 1988: 
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: 
I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, 
marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; 
[…] 
Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a 
legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas 
neste artigo. 
 Dessa forma, a competência para legislar sobre direito penal é 
privativa da União, isto é, a União, privativamente, figura como fonte material 
do direito penal brasileiro. Entretanto, o parágrafo único do citado dispositivo 
constitucional deixa claro que a União, mediante lei complementar, pode 
conferir autorização para que os Estados legislem sobre questões 
específicas de direito penal. São dois, portanto, os pontos de atenção em 
relação à possibilidade dos Estados legislarem sobre direito penal: 
 a) autorização expressa em lei complementar; e 
 b) estipulação de pontos específicos sobre direito penal, vedada a 
autorização genérica para legislar. 
9 
Já as fontes formais do direito penal subdividem-se em: 
 a) diretas; e 
 b) indiretas. 
 Só há uma fonte direta para o direito penal, e essa fonte é a lei, em 
atenção ao princípio da reserva legal, de prisma constitucional (art. 5º, 
XXXIX) e legal (art. 1º, do Código Penal). 
 Já as fontes indiretas do direito penal são os princípios gerais de 
direito e os costumes, a teor da disposição contida no artigo 4º, da Lei de 
Introdução ao Código Civil. No entanto, veja-se a redação do mencionado 
artigo: 
Art. 4º - Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo 
com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. 
 Desta forma, o que dizer acerca da analogia? Conforme ensina Julio 
Fabbrini Mirabete, a analogia não é fonte do direito penal, mas sim forma de 
auto-integração da legislação penal. Quanto à analogia, há que se frisar, 
ainda, que sua utilização jamais pode resultar na instituição de crimes ou de 
sanções criminais, pois tal competência é exclusivamente legal. Nada 
impede, porém, a utilização da analogia em benefício do réu, desde que 
presente uma lacuna legal, naquilo que a doutrina chama de analogia in 
bonam partem. 
 Quanto à equidade, também não configura fonte indireta do direito 
penal, mas apenas método interpretativo da legislação, por meio do qual se 
obtém a adequação de determinada norma em face de uma específica 
situação concreta. 
 Por derradeiro, aos princípios gerais de direito e aos costumes deve-
se juntar, como fonte indireta do direito penal, o ato administrativo. Explica-
se através de um exemplo concreto. A Lei de Drogas (Lei n.º 11.343/06), 
embora tipifique o tráfico de drogas, não elenca quais substâncias reputam-
se ilícitas, aptas, portanto, a ensejar a prática do ilícito quedescreve. Nesse 
caso, o legislador deixou a cargo do Poder Executivo (Ministério da Saúde), 
por meio de ato administrativo (Portaria n.º 344/98), a integração do 
conteúdo legal. O exemplo em tela expõe, nitidamente, como o ato 
administrativo reveste-se do caráter de fonte indireta do direito penal quando 
integra uma norma penal em branco. 
 
 
1.2 Lei penal 
 
 A lei, como salientado, é a única fonte direta do direito penal. A 
expressão “lei” pode ser usada em sentido estrito, caso em que se está a 
tratar da norma penal incriminadora, isto é, dos tipos penais em si, mas 
também pode ser usada em sentido amplo, caso em que se está a tratar da 
norma penal não incriminadora, isto é, das normas que destinam-se a 
explicar ou permitir algo. 
 A analogia, como salientado no tópico anterior, é forma de integração 
da lei penal. Portanto, não há que se falar no emprego de analogia em 
 
10 
relação às normas penais incriminadoras, o que não ocorre em relação às 
normais penais não incriminadoras que apresentam alguma espécie de 
lacuna, situação em que pode ser utilizada a analogia in bonam partem. 
 A lei penal incriminadora é caracteristicamente composta por dois 
elementos: 
 a) o preceito primário; e 
 b) o preceito secundário. 
 O preceito primário descreve a conduta criminosa em si, enquanto o 
preceito secundário descreve a pena aplicável a esta conduta. Veja-se o 
exemplo: 
PRECEITO PRIMÁRIO: 
Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: 
PRECEITO SECUNDÁRIO: 
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. 
 Por derradeiro, cumpre frisar que são características da lei: 
 a) a generalidade, isto é, a aplicabilidade indistinta a todas as 
pessoas; 
 b) a imperatividade, isto é, a obrigatoriedade de sua observância, sob 
pena de sujeição às sanções nela descritas; 
 c) a impessoalidade, isto é, a não-vinculação a determinadas 
pessoas; 
 d) a exclusividade, ante a vigência do princípio da reserva legal; e 
 e) a anterioridade, isto é, a impossibilidade de aplicação da lei penal 
para fatos ocorridos em momento anterior ao início de sua vigência, salvo se 
para benefício do réu. 
 
 
1.3 Norma penal em branco 
 
 Via de regra, as normas penais são completas, isto é, não dependem 
de nenhuma outra para serem imediatamente aplicadas. Há normas, no 
entanto, que são incompletas, isto é, que dependem de outras para só então 
serem aplicadas. 
 A norma penal que depende de outra para estar completa é chamada 
de norma penal em branco. Essas normas existem diante da impossibilidade 
de previsão imediata, pelo Poder Legislativo, de todas as situações 
passíveis de configuração do ilícito. 
 Sempre que se fala em norma penal em branco, se está a falar de 
uma norma principal e de uma norma complementadora. Enquanto a norma 
principal a de estar prevista, obrigatoriamente, em lei, a norma 
complementadora pode estar prevista em lei, assim como pode estar 
prevista num decreto, portaria, regulamento etc. 
 Ademais, a norma complementadora incide sobre o preceito primário 
da norma principal, e não sobre seu preceito secundário. O legislador pode 
 
11 
deixar a cargo de outra instância legislativa ou administrativa o 
estabelecimento de critérios objetivos de complementação da norma, mas 
não pode deixar de fixar as penas para o delito (preceito secundário). Se o 
legislador deixasse para a instância administrativa a possibilidade de fixação 
das penas, estar-se-ia ferindo o princípio da reserva legal, pois há que se 
lembrar que não há crime sem lei anterior que o defina, assim como não há 
pena sem prévia cominação legal. 
 Veja-se a ilustração: 
 
___________________|_____________________|____________________ 
Norma penal em branco Norma complementadora Sanção 
Art. 33, Lei n.º 11.343/06 Portaria n.º 344/98 MS Art. 33, Lei n.º 11.343/06 
PRECEITO PRIMÁRIO PRECEITO SECUNDÁRIO 
 
 
 Como se vê, a norma penal em branco está no preceito primário da 
norma penal, e é integrada pela norma complementadora. O preceito 
secundário mantém-se inalterado. Isso ocorre, pois o legislador deve prever 
o fato típico, e, como no caso da Lei de Drogas, faltando-lhe o conhecimento 
técnico necessário, ele descreve a conduta com uma expressão genérica e 
entrega à autoridade administrativa competente a incumbência de integrar 
(complementar) a expressão, dando-lhe aplicabilidade. 
 Veja-se o artigo 33, da Lei n.º 33.343/06, onde a expressão “drogas” 
representa o “espaço em branco” dessa norma penal: 
 
PRECEITO PRIMÁRIO: 
 Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, 
adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer 
consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer 
drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com 
determinação legal ou regulamentar: 
 
PRECEITO SECUNDÁRIO: 
Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 
(quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa. 
 
 
1.4 Aplicação da lei penal 
 
1.4.1 Lei penal no tempo 
 
 Via de regra, a lei vigente à época da prática do fato é a sua lei de 
regência, em consagração ao princípio tempus regit actum. No entanto, há 
casos expressamente autorizados de retroação e de ultratividade da lei. A 
Constituição Federal veda a punição por crime sem anterior previsão legal, 
mas autoriza a retroação da lei para benefício do réu. O Código Penal, por 
sua vez, dispõe sobre regras de ultratividade das leis temporária e 
excepcional. 
12 
Diante de situações em que, aparentemente, incidem duas ou mais 
leis sobre um mesmo fato, utilizam-se os seguintes instrumentos para 
afastar o conflito entre normas: 
 a) novatio legis incriminadora; 
 b) abolitio criminis; 
 c) novatio legis in pejus; e 
 d) novatio legis in mellius. 
 Verifica-se a novatio legis incriminadora quando há a criação de um 
tipo penal. Se fosse instituída uma lei que criminalizasse o aborto no caso de 
estupro, se estaria diante de uma inovação legal incriminadora. Essa nova 
lei, que criminaliza uma conduta que antes não era considerada delituosa, 
não retroage, em atenção ao princípio da irretroatividade e anterioridade da 
lei, segundo o qual: não há crime sem lei anterior que o defina. 
 Em sentido contrário, a abolitio criminis configura uma exclusão de um 
tipo penal. Essa exclusão opera-se mediante a revogação, por meio de lei, 
de um tipo penal vigente. Por exemplo, se uma lei revogar os artigos 124 e 
126 do Código Penal, haverá uma abolição de conduta criminosa, donde 
quem praticar o aborto não incorrerá mais em um fato típico. Nos casos de 
abolitio criminis, a lei tem aplicação retroativa para beneficiar o réu que 
esteja sendo processado ou que esteja cumprindo pena em razão dessa 
conduta delituosa, pois segundo o artigo 2º, do Código Penal, ninguém pode 
ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar como criminoso, 
cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença 
condenatória. A abolitio criminis aplica-se, inclusive, aos casos que tenham 
sido decididos por sentença condenatória transitada em julgado. 
 A novatio legis in pejus é uma inovação legal que trás prejuízo ao réu, 
pois agrava uma conduta criminosa em vigência. Quando há aumento de 
pena para um determinado delito, por exemplo, há uma novatio legis in 
pejus. A inovação legal que agrava a conduta delituosa aplica-se, tão 
somente, aos fatos ocorridos após o início de sua vigência, sendo 
irretroativa, portanto. 
 Em sentido oposto, a novatio legis in mellius é uma inovação legal 
que trás benefício ao réu, pois torna menos grave uma conduta criminosa 
em vigência. Quando há diminuição ou abrandamento do regime de 
cumprimento de pena, por exemplo, há umanovatio legis in mellius. A 
inovação legal que reduz a gravidade da conduta delituosa aplica-se 
retroativamente, inclusive em relação aos casos já definitivamente julgados. 
É mandamento constitucional, albergado no artigo 5º, inciso XL, que “a lei 
penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu”. 
 Outra situação que não pode deixar de ser mencionada é a 
possibilidade de ultratividade da lei benéfica ao réu. Como se viu, a lei penal 
só pode retroagir quando tiver por objetivo beneficiar o réu, e, nesse sentido, 
também pode a lei penal ser aplicada depois de sua revogação, pelo mesmo 
objetivo. A ultratividade é, pois, a aplicação da lei penal em momento 
posterior à sua revogação, o que se permite apenas quando ela for 
beneficiar o réu. Por exemplo, se o réu comete um crime que, à época, era 
apenado com detenção, e, posteriormente (durante o trâmite processual) é 
 
 
13 
publicada nova lei (novatio legis in pejus), que pune com reclusão a mesma 
conduta, a ele deverá ser aplicada a lei da época dos fatos (lei revogada), 
por lhe traduzir um benefício penal. 
 Conduto, note-se, a ultratividade e a retroatividade em benefício do 
réu vigem apenas na seara penal, mas não na processual penal. As regras 
de direito material tendem sempre a beneficiar o réu, o que não ocorre com 
as normas processuais, que são aplicáveis imediatamente, tão logo se 
tornem vigentes. 
 Para o processo penal impera o princípio tempus regit actum, e, 
portanto, iniciada a vigência de uma lei processual durante o trâmite de um 
processo, essa lei tem aplicação imediata, traga benefícios ou prejuízos ao 
réu. 
 
 
1.4.2 Leis temporárias e excepcionais 
 
 A lei penal pode ser ordinária, isto é, vigente em qualquer 
circunstância, mas também pode ser excepcional ou temporária. Tanto a lei 
excepcional como a temporária são auto-revogáveis, isto é, findo o motivo 
ou o prazo motivo para o qual foram instituídas, elas são automaticamente 
revogadas. 
 Lei temporária é aquela com prazo de vigência previamente 
estipulado, ou seja, é uma lei por prazo determinado, o qual, uma vez 
transcorrido, gera, automaticamente, a revogação da mesma. 
 Lei excepcional é aquela com vigência durante específicas e 
determinadas situações emergenciais. Finda a situação de emergência, 
revogada estará a lei excepcional. 
 No entanto, é importante estar atento para o fato de que tanto as leis 
temporárias como as excepcionais são dotadas de ultratividade, isto é, elas 
surtem efeitos mesmo depois de revogadas. Por exemplo, imagine-se uma 
crise nacional no abastecimento de água, onde seja publicada uma lei 
excepcional que tipifique a conduta de todos os que forem flagrados 
desperdiçando água. Nesse caso, superada a situação emergencial, a lei 
será automaticamente revogada, porém quem praticou aquela conduta que 
ela descrevia como crime, na época de sua vigência, suportará os efeitos do 
processo e da condenação criminal mesmo depois de sua revogação. A 
revogação da lei excepcional, assim como da temporária, não gera uma 
abolitio criminis para os que cometeram o ilícito quando elas eram vigentes, 
o que evita que as pessoas, cientes dessa circunstância, descumpram 
intencionalmente seus mandamentos à época de sua vigência. 
 
 
1.5 Tempo do crime 
 
 Três são as teorias apontadas pela doutrina para identificar o 
momento em que se considera praticada uma infração penal: 
 a) teoria da atividade; 
 b) teoria do resultado; e 
 
14 
 c) teoria da ubiquidade. 
 Segundo a teoria da atividade, considera-se praticado o crime no 
momento da ação ou omissão delituosa. 
 Segundo a teoria do resultado, considera-se praticado o crime no 
momento da consumação do crime, sendo irrelevante o momento em que foi 
praticada a ação ou omissão delituosa. 
 Por fim, segundo a teoria da ubiquidade, considera-se praticado o 
crime no momento da ação ou omissão delituosa ou no momento da 
consumação do crime, ou seja, considera-se como tempo do crime tanto o 
momento da conduta como aquele em que ocorre o resultado. 
 O Código Penal brasileiro adotou, pois, a teoria da atividade, 
conforme disposição do seu artigo 4º: 
Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou 
omissão, ainda que outro seja o momento do resultado. 
 Por isso, nos crimes permanentes e nos continuados, caso 
sobrevenha legislação mais grave para o ofensor (novatio legis in pejus), ela 
será perfeitamente aplicável, não havendo que se falar em ultratividade da 
lei mais benéfica. Tanto o crime permanente como o crime continuado tem 
sua execução prolongada no tempo, ou seja, o momento da ação ou 
omissão não é único, mas diferido, e, sobrevindo legislação durante o 
período em que o crime (permanente ou continuado) está em atividade, a ele 
se aplica a nova legislação, seja ela mais benéfica ou gravosa. 
 Por derradeiro, quanto à prescrição, é importante mencionar que o 
Código Penal não adotou a teoria da atividade, mas sim a do resultado. 
Portanto, quando se tratar de prescrição, esta tem início a partir da 
consumação do crime, e não a partir da data em que o mesmo foi praticado, 
haja visto expressa ressalva legal: 
Art. 111 - A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença 
final, começa a correr: 
I - do dia em que o crime se consumou; 
II - no caso de tentativa, do dia em que cessou a atividade 
criminosa; 
III - nos crimes permanentes, do dia em que cessou a 
permanência; 
IV - nos de bigamia e nos de falsificação ou alteração de 
assentamento do registro civil, da data em que o fato se tornou 
conhecido. 
 
 
1.6 Lei penal no espaço 
 
1.6.1 Territorialidade 
 
 O Código Penal aplica-se ao território brasileiro. A afirmação óbvia 
carece de esclarecimento para que se identifique, com exatidão, o que pode 
ser considerado como território brasileiro. 
15 
Além do solo, considera-se território brasileiro: 
 a) o subsolo; 
 b) o espaço aéreo; 
 c) o mar territorial (faixa de 12 milhas, contadas da baixa maré); 
 d) as ilhas fluviais ou lacustres (ilhas de lagos ou rios nas faixas de 
fronteiras); 
 e) as ilhas oceânicas (afastadas do continente, como a ilha de 
Fernando de Noronha); 
 f) os navios e aeronaves de caráter público, onde quer que se 
encontrem; 
 g) os navios e aeronaves brasileiros, mercantes ou particulares que 
estejam em águas ou no espaço aéreo internacional; 
 h) as embaixadas, consulados ou representações diplomáticas 
brasileiras; e 
 i) a estação brasileira no continente antártico. 
 Em qualquer destes locais, cometida uma infração penal, esta se 
sujeita às leis brasileiras, leis que também são aplicáveis para os crimes 
praticados a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de 
propriedade privada, desde que elas estejam em pouso no território nacional 
ou em voo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar 
territorial do Brasil (parágrafo segundo, do art. 5º, Código Penal). 
 Caso o Brasil tivesse admitido, com exclusividade, a aplicação da lei 
penal brasileira para o crime cometido em qualquer dos locais considerados 
como território brasileiro, estar-se-ia diante da adoção do critério da 
territorialidade. 
 No entanto, o caput do artigo 5º do Código Penal é claro ao dispor 
que “aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras 
de direito internacional, ao crime cometido no território nacional”. Ao admitir 
a aplicação da lei estrangeira no país, em algumas situações, o Brasil 
adotou o critério da territorialidade temperada. 
 
 
1.6.2 Lugar do crime 
 
 Assim como ocorre quanto ao tempo, também quanto ao lugar do 
crime a doutrina apresenta 3 (três) teorias para identificar o local em que se 
considera praticada uma infração penal: 
 a) teoria da atividade; 
 b) teoria do resultado; e 
 c) teoria da ubiquidade. 
 Segundo a teoria da atividade, considera-sepraticado o crime no local 
em que ocorre a ação ou omissão delituosa. 
 Segundo a teoria do resultado, considera-se praticado o crime no 
local em que ocorre a consumação do crime. 
 
16 
 Por fim, segundo a teoria da ubiquidade, considera-se praticado o 
crime no local em que ocorre a ação ou omissão, ou, alternativamente, no 
local em que ocorre a consumação. Em outras palavras, considera-se como 
local do crime tanto o local da atividade como o do resultado do crime. 
 O Código Penal brasileiro adotou a teoria da ubiquidade, conforme se 
extrai de seu artigo 6º: 
Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu 
a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se 
produziu ou deveria produzir-se o resultado. 
 Essa regra, no entanto, comporta exceções. Tanto a Lei dos Juizados 
Especiais (Lei n.º 9.099/95) como o Estatuto da Criança e do Adolescente 
(Lei n.º 8.069/90) adotam a teoria da atividade para determinação da 
competência. O Código de Processo Penal, por sua vez, para determinação 
da competência, adota a teoria do resultado, isto é, a persecução penal deve 
tramitar perante o foro do local em que se consumar a infração (racione loci). 
 
 
1.6.3 Extraterritorialidade 
 
 A extraterritorialidade é hipótese excepcional, que se subdivide em: 
 a) condicionada; e 
 b) incondicionada. 
 A extraterritorialidade condicionada se verifica naquelas situações em 
que o Brasil se obrigou a reprimir, por Tratado ou Convenção, os crimes 
praticados por brasileiros e os praticados em aeronaves ou navios 
brasileiros, mercantes ou privados, quando estiverem em território 
estrangeiro e ali não forem julgados. 
 Contudo, para aplicação da lei brasileira nos casos de 
extraterritorialidade condicionada é necessário o preenchimento das 
seguintes condições: 
 a) entrar o agente no território nacional; 
 b) ser o fato punível também no país em que foi praticado; 
 c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira 
autoriza a extradição; 
 d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí 
cumprido a pena; 
 e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, 
não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável. 
 Já a extraterritorialidade incondicionada se verifica quando forem 
cometidos crimes contra a vida ou a liberdade do Presidente da República, 
contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, 
de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia 
mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público, à Administração 
 
 
17 
Pública, por quem está a seu serviço, ou de genocídio, quando o agente for 
brasileiro ou domiciliado no Brasil. 
 Em qualquer dos casos de extraterritorialidade incondicionada, a 
punição segundo a lei brasileira será efetivada ainda que o agente seja 
absolvido ou condenado no estrangeiro. 
 Por derradeiro, a teor do artigo 7º, parágrafo terceiro, do Código 
Penal, também se aplica a lei brasileira ao crime cometido por estrangeiro 
contra brasileiro fora do Brasil se, reunidas as condições de aplicabilidade da 
lei brasileira nos casos de extraterritorialidade condicionada: 
 a) não foi pedida ou foi negada a extradição; 
 b) houve requisição do Ministro da Justiça. 
 Portanto, para finalizar: 
 
EXTRATERRITORIALIDADE 
Crimes cometidos no estrangeiro, mas sujeitos à lei brasileira 
CONDICIONADA 
Exige o preenchimento de 
determinadas condições (art. 7º, §2º, 
do CP) 
INCONDICIONADA 
A aplicação da lei brasileira ocorre 
independentemente da absolvição ou 
condenação no estrangeiro 
1) Crimes que por tratado ou 
convenção, o Brasil se obrigou a 
reprimir; 
1) Crime contra a vida ou a liberdade 
do Presidente da República; 
2) Crimes praticados em aeronaves ou 
embarcações brasileiras, mercantes ou 
de propriedade privada, quando em 
território estrangeiro e aí não sejam 
julgados. 
2) Crime o patrimônio ou a fé pública 
da União, do Distrito Federal, de 
Estado, de Território, de Município, de 
empresa pública, sociedade de 
economia mista, autarquia ou fundação 
instituída pelo Poder Público; 
3) Crimes praticados por brasileiro; 3) Crime contra a administração 
pública, por quem está a seu serviço; 
4) Crimes praticados por estrangeiro 
contra brasileiro fora do Brasil, se 
reunidas as condições (art. 7º, §2º, do 
CP): a) não foi pedida ou foi negada a 
extradição; b) houve requisição do 
Ministro da Justiça. 
4) Crime de genocídio, quando o 
agente for brasileiro ou domiciliado no 
Brasil. 
 
 
1.6.4 Pena cumprida no estrangeiro 
 
 Quando houver o cumprimento de pena no estrangeiro, ela será 
considerada pelo Poder Judiciário brasileiro, desde que relativa ao mesmo 
crime. Se as penas forem diversas (reclusão e penalidade pecuniária), a 
pena aplicada no estrangeiro atenuará a pena a ser cumprida no Brasil. E se 
 
18 
as penas forem idênticas (reclusão e reclusão), a pena aplicada no 
estrangeiro será computada na pena a ser cumprida no Brasil. 
 Com isso, evita-se o bis in idem, ou seja, a aplicação da mesma 
punição, pelo mesmo crime, por mais de uma vez. 
 
 
1.6.5 Eficácia da sentença estrangeira 
 
 A sentença estrangeira só passa a produzir efeitos no Brasil após sua 
homologação, pelo Superior Tribunal de Justiça (art. 105, I, “i”, da CRFB/88). 
 Dispõe o artigo 9º do Código Penal, que a sentença estrangeira, 
quando a aplicação da lei brasileira produzir na espécie as mesmas 
consequências, pode ser homologada no Brasil para: 
 a) obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e a outros 
efeitos civis; 
 b) sujeitá-lo a medida de segurança. 
 E, essa homologação depende: 
 a) para obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e 
outros efeitos civis, de pedido da parte interessada; 
 b) para os outros efeitos, da existência de tratado de extradição com o 
país de cuja autoridade judiciária emanou a sentença, ou, na falta de tratado, 
de requisição do Ministro da Justiça. 
 
 
1.7 Princípios do direito penal 
 
1.7.1 Princípio da intervenção mínima 
 
 O princípio da intervenção mínima é elementar e regente do Direito 
Penal. Segundo ele, o Estado, através do Direito Penal, só deve se 
preocupar com os bens mais relevantes para a sociedade, deixando de 
limitar as atividades que não o sejam. 
 A evolução social mostra que condutas anteriormente consideradas 
como penalmente relevantes, podem deixar de ser com o passar dos 
tempos, como no caso do adultério, antes considerado crime e hoje não 
mais. 
 É duplo, portanto, o sentido do princípio em análise, pois ao mesmo 
tempo que dirige ao legislador o dever de selecionar quais bens jurídicos 
possuem relevância penal, também dirige a ele o dever de retirar a 
punibilidade daqueles bens que deixaram de ser considerados como 
relevantes. 
 
 
1.7.2 Princípio da lesividade 
 
 O princípio da lesividade complementa o princípio da intervenção 
mínima. Enquanto o último estabelece quais bens são relevantes para o 
 
19 
Direito Penal, o primeiro determina qual o nível de lesão a esses bens deve 
ser passível de punição. 
 É por isso que condutas que não excedem o âmbito do próprio autor, 
sem lesão a bens de terceiros, não são passíveis de punição. 
 Portanto, se a conduta não possuir certa dose de lesividade, ela não 
deve atrair a atenção do Direito Penal. 
 
 
1.7.3 Princípio da fragmentariedade 
 
 Inobstante a divisão do Direito em ramos, como o Civil, o 
Administrativo e o Tributário, cada um deles se subdivide, se fragmenta. A 
fragmentariedade é indicativa das diferentes parcelas de bens que o Direito 
Penal cuida. 
 Segundo a doutrina de Rogério Greco, a fragmentariedade é “uma 
consequência da adoção dos princípios da intervenção mínima, da 
lesividade e da adequação social,que serviram para orientar o legislador no 
processo de criação dos tipos penais. Depois da escolha das condutas que 
serão reprimidas, a fim de proteger os bens mais importantes e necessários 
ao convívio em sociedade, uma vez criado o tipo penal, aquele bem por ele 
protegido passará a fazer parte do pequeno mundo do Direito Penal”. 
 
 
1.7.4 Princípio da insignificância 
 
 Determinadas condutas, tamanha a irrelevância para o Direito Penal, 
devem ser consideradas insignificantes, não sendo passíveis de punição. 
 O princípio da insignificância, também conhecido como princípio da 
bagatela, alinha-se ao princípio da intervenção mínima, e socorre aqueles 
que cometeram lesão a determinado bem juridicamente tutelado pelo 
ordenamento penal, mas que em razão da pequenez, não merece mover a 
máquina estatal punitiva. 
 
 
1.7.5 Princípio da legalidade 
 
 O princípio da legalidade está constitucional e legalmente 
resguardado. Segundo ele, “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de 
fazer alguma coisa senão em virtude de lei” (art. 5º, inciso II, da CRFB/88), e 
“não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia 
cominação legal” (art. 5º, XXXIX, da CRFB e art. 1º, do CP). 
 Em matéria penal, é reserva da lei a tipificação de condutas e 
determinação das penas, portanto. 
 
1.7.6 Princípio da retroatividade da lei mais benéfica 
 
 Em matéria penal, vige o princípio da irretroatividade, mas há 
expressa ressalva quanto a lei mais benéfica ao réu. Nesse caso, admite-se 
 
20 
a retroatividade da lei, conforme expressa autorização do artigo 5º, inciso 
XL, da CRFB/88. 
 Também o Código Penal, no caput de seu artigo 2º dispõe que 
“ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar 
crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença 
condenatória”, e no parágrafo primeiro que “a lei posterior, que de qualquer 
modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos 
por sentença condenatória transitada em julgado”. 
 
 
1.7.7 Princípio da presunção de inocência 
 
 Até condenação proferida em sentença transitada em julgada, todos 
devem ser considerados inocentes. A determinação constitucional do artigo 
5º, inciso LVII, dispõe: “ninguém será considerado culpado até o trânsito em 
julgado de sentença penal condenatória”. 
 É com base nessa garantia que confere-se ao condenado em primeira 
instância o direito de recorrer em liberdade, por exemplo. 
 
 
1.7.8 Princípio da personalização da pena 
 
 Apenas aquele que incorreu no fato típico legalmente descrito pode 
suportar as punições dele decorrentes. A Constituição da República de 1988 
foi clara ao estipular que “nenhuma pena passará da pessoa do condenado, 
podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de 
bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles 
executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido” (art. 5º, XLV, da 
CRFB/88). 
 Note-se que a obrigação de reparar o dano e pena de perdimento de 
bens alcança, exclusivamente, os bens que eram do próprio condenado, 
sem o que se haveria lesão ao princípio constitucional da personalização da 
pena. 
 
 
1.7.9 Princípio da individualização da pena 
 
 O condenado tem o direito de ter sua pena individualizadamente 
determinada. Conforme estipulação do artigo 5º, inciso XLVI da Constituição 
da República de 1988, “ a lei regulará a individualização da pena e adotará, 
entre outras, as seguintes: 
 a) privação ou restrição da liberdade; 
 b) perda de bens; 
 c) multa; 
 d) prestação social alternativa; 
 e) suspensão ou interdição de direitos.” 
 
21 
 Ademais, consoante inciso XLVII do dispositivo constitucional em 
análise, ficam expressamente vedadas as penas: 
 a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 
84, XIX (guerra declarada); 
 b) de caráter perpétuo; 
 c) de trabalhos forçados; 
 d) de banimento; 
 e) cruéis; 
 
 
1.7.10 Princípio do devido processo legal 
 
 Dispõe o artigo 5º, inciso LIV, da Constituição da República de 1988, 
que “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido 
processo legal”. A garantia em análise confere aos acusados o direito de 
serem processados segundo as regras vigentes, sem a possibilidade de 
serem submetidos à regras ou tribunais de exceção. 
 A observância do devido processo legal confere ao acusado a certeza 
de respeito de seus direitos e exercício das faculdades legais 
disponibilizadas à demonstração de sua participação na atividade criminosa 
para a qual foi acusado. 
 Intimamente ligado ao princípio do devido processo legal estão os 
princípios do contraditório e da ampla defesa. Conforme artigo 5º, inciso LV, 
da Constituição da República, “aos litigantes, em processo judicial ou 
administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e 
ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”. 
 O respeito dessas garantias confere ao acusado o direito de se 
defender plenamente e consagram comandos básicos de um Estado 
Democrático de Direito. 
 
 
2. Teoria geral do crime 
 
 Crime é a conduta humana que fere a legislação penal. Praticado o 
fato considerado típico pela lei penal, seu agente incorre nas sanções por 
ele descritas. Via de regra, apenas o ser humano pode ser sujeito ativo de 
uma conduta criminosa, embora a pessoa jurídica também o passa em 
algumas situações. 
 Nem toda a conduta humana que fira a legislação penal, no entanto, 
configura um crime. Dessa forma, a conduta também pode traduzir a prática 
de uma contravenção penal. Enquanto crime é uma conduta mais grave, 
contravenção é a conduta de menor potencial ofensivo, conhecida também 
como “crime-anão”. 
 Segundo o artigo 1º da Lei de Introdução ao Código Penal, considera-
se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, 
quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de 
multa, e, contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, 
 
22 
pena de prisão simples ou de multa, ou ambas. alternativa ou 
cumulativamente. 
 Em sentido formal, crime é a violação da lei penal. Em sentido 
material, crime é todo fato humano que fere ou expõe a perigo bens que são 
penalmente tutelados. Por fim, em sentido analítico, crime é um fato típico e 
antijurídico, donde a culpabilidade é pressuposto da aplicação da pena, ao 
passo que a periculosidade é pressuposto da aplicação da medida de 
segurança. 
 Para a conceituação de crime existem duas teorias: 
 a) bipartida; e 
 b) tripartida. 
 Pela teoria tripartida, crime é toda ação ou omissão humana: 
 a) típica; 
 b) antijurídica; e 
 c) culpável. 
 Já a teoria bipartida considera que crime é toda ação ou omissão 
humana: 
 a) típica; e 
 b) antijurídica. 
 Para essa teoria, a culpabilidade não é elemento autônomo do crime, 
mas mero pressuposto da aplicação da pena. 
 Em todo caso, conduta típica é aquela ação ou omissão humana que 
se enquadra à classificação estipulada em lei como criminosa. 
Antijuridicidade é a contrariedade de uma conduta humana com o 
ordenamento jurídico, conduta que causa dano ou perigo de dano a um bem 
jurídico tutelado. Já a culpabilidade é o juízo de reprovabilidade da conduta 
em relação ao fato típico praticado. 
 
 
2.1 Classificação dos crimes 
 
 Acerca dos crimes, várias classificações são apresentadas, dentre as 
quais merece destaque: 
 a) Crimes comuns, próprios e de mão-própria 
 a.1) crime comum: é aquele que pode ser cometido por qualquer 
pessoa; 
 a.2) crime próprio: é aquele que só pode ser cometido pela pessoa 
que ostente uma condição especial, isto é, exige-se um sujeito ativo 
específico, como o funcionário público em relação ao peculato, por exemplo; 
 a.3) crime de mão-própria: é aquele que só pode ser cometidomediante atuação pessoal do sujeito ativo, como o crime de falso 
testemunho, por exemplo. 
 b) Crimes principais e acessórios 
 
23 
 b.1) crime principal é aquele que independe da prática de qualquer 
delito anterior; e 
 b.2) crime acessório é aquele pressupõe a existência de um crime 
anterior, como o delito de receptação, que depende de um furto ou roubo 
anteriormente realizado, por exemplo. 
 c) Crimes instantâneos, permanentes e instantâneos de efeitos 
permanentes 
 c.1) crime instantâneo é aquele encerra-se de imediato, isto é, aquele 
em que a consumação ocorre de plano, sem prolongamentos; 
 c.2) crime permanente é aquele que se consuma através de 
prolongação no tempo, como no sequestro, por exemplo; 
 c.3) crime instantâneo de efeito permanente é aquele que, embora 
consumado instantaneamente, seus efeitos permanecem 
independentemente da vontade do sujeito ativo, como no caso de bigamia, 
por exemplo. 
 d) Crimes comissivos, omissivos puros e omissivos impróprios 
 d.1) crime comissivo é aquele que depende de uma ação do sujeito 
ativo, isto é, de uma conduta positiva destinada à prática do crime; 
 d.2) crime omissivo (ou omissivo puro) é aquele que depende de uma 
omissão do sujeito ativo, isto é, de uma conduta negativa daquele que, 
diante da verificação concreta de uma situação descrita em lei, que lhe dava 
a incumbência de atuar, deixa de fazê-lo voluntariamente, como no caso de 
omissão de socorro, por exemplo; 
 d.3) crime omissivo impróprio (ou comissivo por omissão) é aquele 
que depende de uma omissão diante de uma situação que impõe ao sujeito 
ativo o dever jurídico de impedir o resultado, como um médico que não 
administra o medicamente necessário ao paciente, deixando com que o 
mesmo morra. 
 e) Crimes transeuntes e não-transeuntes 
 e.1) crime transeunte é aquele que não deixa vestígios, como os 
crimes contra a honra, por exemplo; 
 e.2) crime não-transeunte, em sentido oposto, é aquele que deixa 
vestígios, caso em que deve ser realizado o exame de corpo de delito, como 
no caso de lesão corporal, por exemplo. 
 f) Crimes unissubjetivos e plurissubjetivos 
 f.1) crime unissubjetivo é aquele que pode ser praticado por apenas 
uma pessoa, embora nada impeça que seja praticado por duas ou mais; 
 f.2) crime plurissubjetivo é aquele que exige duas ou mais pessoas, 
só com o que se poderá falar na específica prática criminosa, como na 
quadrilha ou bando, ou na rixa, por exemplo. 
 g) Crimes unissubsistentes e plurissubsistentes 
 g.1) crime unissubsistente é aquele que só exige um ato executório 
para que possa ocorrer a consumação do crime; 
 
24 
 g.2) crime plurissubsistente é aquele que depende de dois ou mais 
atos executórios, só com o que poderá ocorrer a consumação do crime. 
 h) Crimes simples, qualificados e privilegiados 
 h.1) crime simples ocorre quando o tipo penal é simples, básico, sem 
qualquer causa que majore ou reduza sua gravidade, como furto simples ou 
homicídio simples, por exemplo; 
 h.2) crime qualificado ocorre quando ao tipo penal básico é agregada 
circunstância que majora a gravidade e, consequentemente, a pena do 
crime, como o homicídio cometido por motivo fútil, por exemplo; 
 h.3) crime privilegiado ocorre quando ao tipo penal básico é agregada 
circunstância que reduz a gravidade e, consequentemente, a pena do crime, 
como o homicídio por motivo de relevante valor social, por exemplo. 
 i) Crime habitual 
 i.1) crime habitual é aquele que se consuma mediante a reiteração de 
atos, que isoladamente, via de regra, não tem relevância penal. Por 
exemplo, a prostituição, isoladamente, não tem relevância penal. No entanto, 
comete crime habitual (rufianismo) aquele que tira proveito da prostituição 
alheia, fazendo-se sustentar por quem a exerça. 
 j) Crime profissional 
 j.1) crime profissional é aquele praticado por alguém que exerce uma 
profissão lícita, e dela se vale para cometer um delito, como no caso do 
médico que realiza um aborto, por exemplo. 
 k) Crime exaurido 
 k.1) crime exaurido ocorre quando, após preenchidas as 
circunstâncias verificadoras do tipo penal, o sujeito ativo o leva a 
consequências mais graves. 
 l) Crimes materiais, formais e de mera conduta 
 l.1) crime material é aquele que exige um resultado externo em 
relação a ação, como a morte, no caso do homicídio, por exemplo. 
 l.2) crime formal é aquele em que não se exige a realização daquilo 
que era pretendido pelo sujeito ativo, como no caso da ameaça, em que o 
delito se consuma com sua simples feitura, independentemente de sua 
concretização. 
 l.3) crime de mera conduta é aquele que se consuma mediante mera 
ação ou omissão do sujeito passivo, sendo irrelevante a produção de 
qualquer resultado naturalístico, como a violação de domicílio ou a omissão 
(pelo médico) de denúncia à autoridade pública sobre doença cuja 
notificação é compulsória, por exemplo. 
 m) Crimes de dano e de perigo 
 m.1) crime de dano é aquele que exige a efetiva lesão de um bem 
jurídico, só com o que se pode falar em consumação; 
 
25 
 m.2) crime de perigo é aquele que se consuma mediante a simples 
criação de uma situação de perigo em relação ao bem juridicamente 
tutelado, donde extrai-se a seguinte subdivisão: 
m.2.1) crime de perigo concreto, que exige a criação de uma 
efetiva situação de perigo, como no caso de expor ou abandonar 
recém-nascido, para ocultar desonra própria (art. 134, do CP); e 
m.2.2) crime de perigo abstrato, que não exige a criação de uma 
situação concreta de perigo, bastando que esta situação seja 
presumível (presunção absoluta), como no crime de quadrilha ou 
bando (art. 288, do CP). 
 n) Crimes complexos 
 n.1) crime complexo, em sentido estrito, é aquele que agrupa, em um 
único tipo legal, duas ou mais condutas que, isoladamente, são 
consideradas delituosas, como o roubo, que é a soma do crime de furto e 
ameaça (ou lesão corporal); e 
 n.2) crime complexo, em sentido amplo, quando um tipo legal abrange 
um tipo simples acrescido de circunstâncias que, isoladamente, não são 
típicas, como o constrangimento ilegal, que é a soma do crime de ameaça 
com a mera obrigatoriedade do sujeito passivo fazer algo que não deseja. 
 o) Crimes vagos 
 o.1) crime vago é aquele em que o sujeito passivo é uma coletividade, 
como ocorre em relação ao crime de falsificação, corrupção, adulteração ou 
alteração de produto destinado a fins medicinais ou terapêuticos (art. 273, do 
CP). 
 Além destas, existem outras classificações atribuídas aos crimes, mas 
conforme o contexto do exame da Ordem dos Advogados do Brasil, estas 
são as que tem sido objeto de maior indagação dos candidatos. 
 
 
2.2 Objeto do crime 
 
 O objeto do crime pode ser tanto jurídico como material. Não há como 
se falar em crime sem se falar em objeto. 
 Objeto jurídico é aquele resguardado pela lei penal, como a honra, a 
fé pública, a vida etc. 
 Objeto material, por sua vez, é a pessoa ou coisa sobre a qual se 
manifesta a conduta delituosa, como a pessoa lesionada ou o bem furtado. 
 
 
2.3 Sujeitos crime 
 
 O sujeito ativo do crime é aquele que pratica a conduta delituosa, ao 
passo que o sujeito passivo é aquele contra quem essa conduta é praticada. 
O sujeito ativo é o ofensor, ao passo que o sujeito passivo é o ofendido. 
 O sujeito passivo pode ser uma pessoa, física ou jurídica, mas não 
pode ser um animal, nem uma pessoa morta. Nesse último caso, o sujeito 
 
26 
passivo do crime pode ser a família do de cujus, mas não ele que deixou de 
ser sujeito de direitos. 
 Sempre que ocorre um crime, o Estado é sujeito passivo dele, pois é 
dele que emana a legislação violada. O Estado, por ser sempre sujeito 
passivo do crime, é chamado de sujeito passivo constante, ou formal. 
 Já aquele que sofre pontualmente a lesão a um bemjurídico é 
chamado de sujeito passivo eventual ou material, como a pessoa que tem 
um veículo furtado, por exemplo. 
 
 
2.4 Fato típico 
 
 Um fato é típico quando a conduta do homem preenche com perfeição 
uma descrição legalmente proibitiva. Quando alguém mata outrem, incorre 
na proibição constante do artigo 121 do Código Penal, ou seja, pratica um 
fato típico. 
 O fato típico é elemento do crime, ao lado da ilicitude e da 
antijuridicidade. A culpabilidade mostra-se, pois, como mero pressuposto 
para aplicação da pena. 
 Para que se fale em fato típico, há que se falar em: 
 a) conduta; 
 b) resultado; 
 c) relação causal; e 
 d) tipicidade. 
 Esses elementos são necessários quando o sujeito pratica crimes 
materiais, assim como quando pratica crimes omissivos impróprios, pois no 
caso dos crimes formais, de mera conduta e omissivos próprios, basta a 
presença da conduta e da tipicidade, sendo irrelevante a presença do 
resultado e do nexo de causalidade. 
 
 
2.4.1 Conduta 
 
 Penalmente, conduta é a ação ou omissão criminosa, praticada de 
forma culposa ou dolosa, tendente a causar lesão a algum bem 
juridicamente tutelado. 
 Acerca da conduta, a doutrina apresenta três teorias: 
 a) teoria causalista; 
 b) teoria finalista; e 
 c) teoria social. 
 Segundo a teoria causalista, considera-se conduta qualquer ação ou 
omissão humana que produza efeitos exteriores, sendo irrelevante que ela 
tenha sido culposa ou dolosa. Por essa teoria o dolo e culpa devem ser 
alocados como integrantes da culpabilidade. 
 Segundo a teoria finalista, considera-se conduta a ação ou omissão 
humana que seja consciente e voluntariamente praticada, com a finalidade 
 
27 
de produzir determinado resultado. Portanto, só há que se falar em fato 
típico quando presente o elemento subjetivo do injusto, isto é, a livre vontade 
de praticar o fato criminoso. Essa teoria liga o dolo e a culpa à conduta, 
diferentemente da teoria causalista. 
 Já para a teoria social, considera-se conduta apenas a ação ou 
omissão que tenha relevância social e que seja dominada pela vontade 
humana. Em razão da vagueza na expressão “relevância social”, a teoria 
não encontrou maior espaço de difusão. 
 A conduta criminosa, ademais, pode ser comissiva ou omissiva. É 
comissiva a conduta que traduz um agir do agente, enquanto é omissiva a 
conduta que traduz um deixar de agir quando há o prévio dever jurídico para 
tanto (crimes omissivos impróprios) ou quando não há esse prévio dever 
(crimes omissivos próprios), como na omissão de socorro. E há, ainda, os 
crimes comissivos por omissão, isto é, o agente deixa de praticar uma 
conduta para garantir um resultado criminoso, como por exemplo, quando o 
empregado deixa de trancar a caixa registradora para que outrem, em 
conluio com ele, pratique um furto. 
 
 
2.4.2 Resultado 
 
 O resultado do crime pode ser: 
 a) normativo; ou 
 b) naturalístico. 
 Resultado normativo é o dano ou perigo de dano ao bem 
juridicamente tutelado pela norma penal. Praticado um delito, qualquer que 
seja sua natureza, verifica-se o resultado normativo, portanto. 
 Já o resultado naturalístico é o dano causado no mundo dos fatos, 
como ocorrência direta da conduta criminosa. Nem todos os delitos 
produzem resultados naturalísticos, pois há crimes que independem deles, 
tal como os crimes formais e os de mera conduta. 
 
 
2.4.3 Relação de causalidade 
 
 A relação de causalidade é o vínculo que une a conduta ao resultado. 
O Código Penal brasileiro adotou como regra, a teoria da conditio sine qua 
non, segundo a qual considera-se como causa todo fato que tenha 
concorrido para a produção do resultado criminoso, desde que o agente 
responsável por essa causa tenha atuado volitivamente em relação à 
produção desse resultado criminoso. 
 Excepcionalmente, no entanto, o Código Penal adotou a teoria da 
causalidade adequada, conforme redação do parágrafo primeiro, do artigo 
13, que dispõe que “a superveniência de causa relativamente independente 
exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos 
anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou”. Portanto, no caso de 
causa relativamente independente, que seja superveniente, o agente não 
será responsabilizado pelo resultado, mas apenas pela tentativa. No entanto, 
 
28 
se a causa relativamente independente for preexistente, o resultado será 
imputado a quem o tenha praticado. Em qualquer caso, quando se tratar de 
causa absolutamente independente, o agente só será responsabilizado 
pelos atos até então praticados. 
 
 
2.5 Crime culposo e doloso 
 
 Para que se fale em crime culposo, há que se falar em: 
 a) negligência; 
 b) imprudência; ou 
 c) imperícia. 
 A negligência é o não agir, ou o agir de maneira sabida ou 
presumivelmente insuficiente. A imprudência é a o agir além do padrão 
recomendado. E a imperícia é o agir sem a capacitação técnica ou 
profissional suficiente para prática do ato. 
 O crime culposo é resultado de uma conduta voluntária, ao menos 
inicialmente, que produz um resultado involuntário em razão da imprudência, 
da negligência ou da imperícia. Para que se fale em punição do crime 
culposo, há que se falar, obrigatoriamente, em previsibilidade do resultado, 
em ausência de previsão pelo agente, e, em tipicidade da conduta culposa, 
pois segundo o parágrafo único do artigo 18 do Código Penal, salvo os 
casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como 
crime, senão quando o pratica dolosamente. 
 Segundo classificação doutrinária, a culpa pode ser: 
 a) consciente; ou 
 b) inconsciente. 
 Verifica-se a culpa consciente quando o agente prevê que o resultado 
lesivo pode ocorrer, mas espera, sinceramente, que ele não aconteça. Já a 
culpa inconsciente verifica-se quando o agente não prevê o resultado que 
era objetivamente previsível. 
 A diferença básica entre culpa consciente e dolo eventual é que, 
enquanto na primeira o agente não espera o acontecimento do resultado 
lesivo, no segundo ele age indiferente em relação a produção ou não do 
mesmo. Em ambos os casos há previsibilidade por parte do agente, falando-
se em dolo quando ele age com indiferença em relação a lesão ao bem 
juridicamente tutelado, e em culpa quando ele acredita, sinceramente, que 
não causará lesão a esse bem. 
 A conduta dolosa, por sua vez, é aquela intencionalmente dirigida à 
prática de um ilícito. O dolo pode ser classificado em: 
 a) direto (ou propriamente dito); 
 b) indireto; 
 c) genérico; e 
 d) específico. 
 
29 
 Dolo direito é aquele livremente direcionado à prática de um crime 
tipificado na lei penal. Aquele que deseja furtar um veículo e o faz, age com 
dolo direto em relação ao artigo 155 do Código Penal. 
 Dolo indireto é aquele que não se mostra clara e prontamente 
identificável. O dolo indireto se subdivide em alternativo e eventual. Dolo 
alternativo é aquele em que o agente pratica sua conduta ciente de que ela 
pode causar resultados diversos, sendo que sua pretensão se dirige à 
realização de qualquer deles. Já o dolo eventual é aquele em que o agente 
prevê a possibilidade de um determinado resultado e, embora não o deseje 
diretamente, assume o risco de produzi-lo. 
 Dolo genérico é a mera intenção de lesionar a norma penal, 
incorrendo em uma conduta típica nela descrita. 
 Dolo específico é a somatória de, além de lesionar a norma penal, 
obter uma vantagem excedente ou praticar um fim especial. 
 Por derradeiro, há o crime preterdoloso quando o agente pratica uma 
ação ou omissão dolosa, mas produz um resultado mais grave do que 
aquele que havia sido previsto em decorrência de um conduta excedente, 
que é culposa. No crime preterdoloso, a conduta culposa (posterior) supera 
a dolosa (primária). 
 
 
2.6 Erro de tipo 
 
 Conforme redação do caput do artigo 20do Código Penal, o erro 
sobre elemento constitutivo do tipo legal exclui o dolo, mas permite a 
punição por crime culposo, se previsto em lei. 
 Como mencionado, o dolo é elemento essencial do tipo penal. 
Verificado, no entanto, que o agente praticou sua conduta pautada por erro 
sobre elemento constitutivo do tipo penal, excluir-se-á o dolo. 
 O erro de tipo pode ser essencial, quando recair sobre as elementares 
ou circunstâncias do crime, e pode ser acidental, quando recair sobre dados 
acessórios do mesmo. 
 Quando o erro de tipo é essencial, o agente que pratica a conduta não 
sabe que está incorrendo em um fato típico. Esse desconhecimento, dentre 
outras causas, pode decorrer de simples ignorância. Quando o erro de tipo 
essencial for invencível, não só o dolo, mas também a culpa será excluída, 
com o que se considerará atípico o fato praticado. No entanto, se o erro de 
tipo essencial for vencível, haverá mera exclusão do dolo, sendo o agente 
responsabilizado pela conduta culposa, se houver previsão legal. 
 Quando o erro de tipo é acidental, em qualquer hipótese haverá 
responsabilização do agente, pois ele possui ciência de estar praticando um 
tipo penal, manifestando erro apenas em relação a elementos acessórios da 
conduta, como o modo de execução, a causalidade ou o próprio objeto 
material. Se “A”, pretendendo matar “B”, o confunde, atira e mata “C”, 
responde como se tivesse praticado o crime contra “B”, tendo incorrido em 
um erro de tipo acidental, erro que recaiu sobre o objeto material do crime. 
Para casos como o do exemplo, dispõe o parágrafo terceiro do artigo 20 do 
Código Penal, que o erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado 
não isenta de pena, e, neste caso, não se consideram as condições ou 
 
 
30 
qualidades da vítima, mas sim as da pessoa contra quem o agente queria 
praticar o crime. 
 O erro sobre o modo de execução do crime pode se manifestar 
mediante erro na execução (aberratio ictus), ou na produção de resultado 
diverso do pretendido (aberratio criminis). Quando se tratar de erro na 
execução (aberratio ictus), o agente responderá como se tivesse praticado 
corretamente o delito, contra o objeto material que pretendia ofender. 
Contudo, quando se tratar da produção de resultado diverso do pretendido 
(aberratio criminis), o agente responderá apenas de forma culposa, se 
houver previsão legal, pelo resultado efetivamente praticado. 
 O erro sobre a relação de causalidade, conhecido como aberratio 
causae, ocorre quando o agente consegue praticar o resultado que 
pretendia, mas não da forma como havia planejado. 
 
 
2.7 Crime tentado e consumado 
 
 Basicamente, o crime se divide entre os momentos preparatórios e os 
executórios. Os momentos preparatórios compreendem a mera e a efetiva 
cogitação, e a preparação material, com a reunião dos instrumentos 
necessários à prática delituosa. Os atos preparatórios não são passíveis de 
punição, salvo se constituírem, autonomamente, infração penal, como em 
relação ao porte ilegal de arma de fogo, por exemplo. Os atos executórios 
são aqueles de efetiva prática criminosa. 
 Uma vez iniciada a prática dos atos executórios, o agente incorre na 
conduta penalmente descrita. Se os atos executórios desenrolarem-se até o 
final, o delito reputar-se-á consumado. No entanto, se por circunstâncias 
alheias à vontade do agente, o delito não se consumar, reputar-se-á como 
tentado o crime. 
 A tentativa é punível com a pena correspondente ao crime 
consumado, diminuída de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), conforme 
redação legal do parágrafo único, do artigo 14, do Código Penal. 
 A tentativa pode ser classificada em: 
 a) perfeita; ou 
 b) imperfeita. 
 É perfeita a tentativa quando o agente pratica todos os atos 
executórios e o crime não se consuma por circunstâncias alheias à sua 
vontade. 
 Em contrapartida, é imperfeita a tentativa quando o agente, também 
por circunstâncias alheias à sua vontade, não consegue executar todos os 
atos necessários à consumação. 
 Seja perfeita ou imperfeita, a punição da tentativa não varia. 
 Por derradeiro, frise-se que não há punição por tentativa em crimes 
culposos, assim como não é punível a tentativa em relação às 
contravenções penais (art. 4º, da Lei das Contravenções Penais). 
 
 
 
 
31 
2.8 Desistência voluntária e arrependimento eficaz 
 
 O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou 
impede que o resultado se produza, só responde pelos atos já praticados 
(art. 15, do CP). 
 O Código Penal brasileiro cuidou de possibilitar ao agente várias 
fórmulas de desestímulo à prática criminosa. 
 Todo aquele que desiste de prosseguir nos atos executórios que já 
tenha dado início (desistência voluntária), só será responsabilizado pelo atos 
já praticados, assim como aquele que, embora praticado todos os atos 
executórios, impeça a produção do resultado criminoso (arrependimento 
eficaz). 
 Note-se que o que a lei penal exige é a voluntariedade da conduta, 
mas não a espontaneidade. Portanto, não há qualquer óbice na aplicação 
dos institutos mencionados se o agente deixa de praticar os atos de 
execução ou impede o resultado após acolher o conselho de alguém. Por 
exemplo, se “A” danifica os freios do carro de “B” para que ele colida com 
outrem, mas antes de “B” sair com o carro, “A” confessa (espontaneamente 
ou seguindo o conselho de “C”, por exemplo) o que fez e impede o 
resultado, ele será responsável apenas pelo dano que causou nos freios do 
veículo de “B”, não respondendo por qualquer outro delito, consumado ou 
tentado. 
 
 
2.9 Arrependimento posterior 
 
 Situação diversa é o arrependimento posterior, tratado no artigo 16 do 
Código Penal. Segundo aludido dispositivo, nos crimes cometidos sem 
violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, 
até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a 
pena será reduzida de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços). 
 Preenchidos os requisitos exigidos pelo artigo 16, há causa 
obrigatória de redução de pena, causa esta que beneficia co-autores e 
partícipes. 
 
 
2.10 Crime impossível 
 
 O crime impossível é aquele que não é passível de punição, seja por 
ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto. Se “A”, 
supondo que “B” (de cujus) está vivo, atira contra ele pretendendo matá-lo, 
incorre em um crime impossível. 
 Como não há tipicidade, não há que se falar em responsabilidade 
penal. 
 O crime impossível ocorre também nos casos de flagrante preparado 
(ou provocado), hipótese em que a polícia torna impossível a consumação 
do delito, conforme orientação do Supremo Tribunal Federal. 
 
 
 
32 
3. Ilicitude (ou antijuridicidade) 
 
 O conceito de ilicitude (ou antijuridicidade) se divide em: 
 a) formal; e 
 b) material. 
 Segundo o conceito formal, ilicitude é a contrariedade entre a conduta 
e o ordenamento jurídico positivo. 
 Segundo o conceito material, ilicitude é a contrariedade da conduta 
em relação a um bem jurídico tutelado. 
 Portanto, agregando os conceitos, conclui-se que ilicitude é a relação 
de antagonismo entre uma conduta humana e o ordenamento positivo, 
causando lesão ou expondo a perigo de lesão um bem jurídico tutelado 
(DOTTI, p. 334, 2006). 
 Acerca da conduta humana, outras duas teorias devem ser 
apresentadas, por meio das quais se avalia o caráter da ilicitude: 
 a) teoria subjetiva; e 
 b) teoria objetiva. 
 Segundo a teoria subjetiva, o fato típico só pode ser considerado 
antijurídico se o agente possuir capacidade para entender e avaliar o caráter 
criminoso de sua conduta. Segundo a teoria subjetiva, os inimputáveis, 
portanto, não praticam crimes. 
 E segundo a teoria objetiva, o fato típico é antijurídico 
independentemente de o sujeito ativo ser dotado de capacidade de avaliar o 
critériocriminoso de sua conduta. Portanto, pela teoria objetiva os 
inimputáveis praticam crime, embora lhes seja ausente a culpabilidade. 
 Quanto às causas de exclusão da ilicitude, existem algumas de ordem 
legal e outras de ordem supralegal. Presente alguma delas, não que se falar 
em crime, pois elas excluem um de seus elementos fundamentais, que é a 
ilicitude da conduta. 
 São causas legais de exclusão da ilicitude: 
 a) o estado de necessidade; 
 b) a legítima defesa; 
 c) o estrito cumprimento do dever legal; 
 d) o exercício regular de direito; 
 e) outras, previstas na Parte Especial do Código Penal, como o aborto 
praticado pelo médico para salvar a vida da gestante ou no caso de estupro. 
 Já as causas supralegais de exclusão da ilicitude decorrem, 
basicamente, do mandamento constante do artigo 4º, da Lei de Introdução 
ao Código Civil, que dispõe que em caso de omissão da lei, o juiz deve 
decidir segundo a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. 
Nesse contexto, a doutrina apresenta como causas supralegais de exclusão 
da ilicitude: 
Art. 23, do CP 
33 
a) ação socialmente adequada, isto é, aquela realizada dentro de um 
âmbito de normalidade, como o corte de cabelo de calouros nos trotes 
universitários, por exemplo; 
 b) princípio da insignificância, pois o direito penal deve se preocupar 
apenas com condutas que sejam efetivamente relevantes; 
 c) consentimento do ofendido, quando o crime praticado estiver 
relacionada à bens disponíveis. 
 
 
3.1 Estado de necessidade 
 
 Em determinadas situações, o Estado não tem condições de tutelar as 
pessoas de maneira imediata, motivo pelo qual transfere a elas o poder de 
se auto-protegerem, desde que tenham sua atuação pautada pela 
razoabilidade e pela proporcionalidade. 
 O artigo 24 do Código Penal dispõe que, considera-se em estado de 
necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não 
provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio 
ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se. 
 O estado de necessidade não pode ser alegado por aquele que tenha 
o dever legal de enfrentar o perigo (art. 24, §1º, do CP). 
 O Código Penal brasileiro trata de duas espécies de estado de 
necessidade (classificação quanto ao bem sacrificado): 
 a) o justificante; e 
 b) o exculpante. 
 O estado de necessidade justificante é a regra, situação por meio do 
qual se sacrifica um bem de menor valor para salvaguardar outro, de maior, 
ou, ao menos, de igual valor. 
 Já o estado de necessidade exculpante é a exceção, situação por 
meio do qual se sacrifica um bem de maior valor para salvaguardar outro, de 
valor inferior, caso em que a justificativa pode advir da inexigibilidade de 
conduta diversa e, nesse caso, excluir a culpabilidade, ou, em caso negativo, 
ensejar apenas a redução da pena a ser aplicada. O parágrafo segundo do 
artigo 24 do Código Penal, dispõe que embora seja razoável exigir-se o 
sacrifício do direito ameaçado, a pena pode ser reduzida de 1/3 (um terço) a 
2/3 (dois terços). 
 Segundo ao terceiro que sofre a ofensa, o estado de necessidade 
pode ser classificado como: 
 a) defensivo; ou 
 b) agressivo. 
 O estado de necessidade defensivo ocorre quando o ato necessário à 
salvaguarda do bem jurídico ameaçado é praticado em detrimento de um 
bem jurídico pertencente ao responsável pela causação da situação de 
perigo. 
 Já o estado de necessidade agressivo ocorre quando o ato 
necessário à salvaguarda do bem jurídico ameaçado é praticado em 
 
34 
detrimento de um bem jurídico pertencente a terceiro inocente, hipótese em 
que surge o dever de indenizar, na esfera cível. 
 Caso o agente cometa excesso em sua conduta e extrapole os meios 
necessários no estado necessidade, responderá pelo ilícito, tenha ele agido 
culposa ou dolosamente. 
 Por derradeiro, caso o agente suponha, erroneamente, estar em 
situação de perigo, pode se verificar o estado de necessidade putativo. No 
entanto, a suposição errônea feita pelo agente deve ser perfeitamente 
justificável, caso em que ele se valerá da hipótese excludente de ilicitude em 
estudo. E, ainda, caso a suposição feita pelo agente não seja justificável, 
pode ele deixar de responder pelo crime praticado em razão de ausência de 
culpabilidade, em decorrência do erro de proibição (MIRABETE, 2006, p. 
177). 
 
 
3.2 Legítima defesa 
 
 A legítima defesa é uma faculdade conferida pelo Estado para que o 
particular que esteja sofrendo agressão injusta, atual ou iminente, possa 
repeli-la através do uso moderado dos meios necessários. 
 Similar ao que ocorre no estado de necessidade, o Estado delega ao 
particular a incumbência de defender seus próprios interesses, em razão 
dele não poder fazê-lo de maneira imediata. 
 O artigo 25 do Código Penal dispõe que, entende-se por legítima 
defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta 
agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem. 
 Enquanto o estado de necessidade pode ser dirigido em face de 
terceiro, a legítima defesa só pode ser dirigida em face do agressor, e desde 
que essa agressão seja injusta. Para o estado de necessidade é indiferente 
se a agressão é justa ou injusta. 
 Cometido o excesso, ou seja, caso o agente extrapole o uso dos 
meios necessários para repelir a injusta agressão, ele responderá pelo ilícito, 
tenha atuado culposa ou dolosamente. Ademais, quando há excesso no uso 
dos meios necessários surge para o agredido (antes agressor) o direito de 
repelir tais excessos agressivos, naquilo que a doutrina chama de legítima 
defesa sucessiva. 
 Assim como ocorre no estado de necessidade, no âmbito da legítima 
defesa pode o agente, erroneamente, supor que está sendo agredido e 
repelir essa suposta agressão. Nesse caso, estar-se-á diante da hipótese de 
legítima defesa putativa. No entanto, não há exclusão da ilicitude nessa 
hipótese, pois ausente um dos requisitos previstos no artigo 25 do Código 
Penal, que é a agressão real, atual ou iminente, embora haja exclusão da 
culpabilidade (MIRABETE, 2006, p. 183). 
 Por derradeiro, há que se frisar que inexiste a figura da legítima 
defesa recíproca, isto é, não há que se alegar legítima defesa quando duas 
pessoas entram em duelo, tendo uma provocado e a outra aceitado o 
desafio. 
 
 
 
35 
3.3 Estrito cumprimento do dever legal 
 
 Todo aquele que está a desempenhar um dever legar não comete 
crime quando atuar dentro dos limites legais que lhe são impostos no 
exercício do seu dever. O artigo 23, inciso III, do Código Penal, dispõe que 
não há crime quando o agente pratica o fato em estrito cumprimento do 
dever legal. 
 Os agentes públicos, como os policiais, gozam dessa excludente de 
ilicitude, com o que se viabiliza seu exercício profissional. Mas não apenas, 
já que também os pais atuam no estrito cumprimento do dever legal quando 
impõe limites ordinários aos filhos. 
 Não há que se falar em estrito cumprimento do dever legal em relação 
aos crimes culposos, posto que lei nenhuma obriga ao cometimento de ato 
negligente, imprudente ou imperito (MIRABETE, 2006, p. 185). 
 Assim como ocorre com o estado de necessidade e com a legítima 
defesa, pode haver o estrito cumprimento do dever legal putativo, que se 
verifica quando o agente acredita na existência de um dever legal 
inexistente. Nesse caso, haverá um erro de proibição. 
 
 
3.4 Exercício regular de direito 
 
 Conforme disposição do artigo 23, inciso III, do Código Penal, não há 
que se falar em crime quando a conduta é pratica em exercício regular de 
direito. 
 Quando um particular realiza a prisão em flagrante de um criminoso 
estar-se-á diante de uma nítida hipótese de exercício regular de direito. 
 Caso haja excesso no exercício regular do direito, de modo a torná-lo 
irregular, o agente responsabiliza-sepelo excesso. O artigo 187 do Código 
Civil estipula que comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, 
excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou 
social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. 
 A principal diferença entre o estrito cumprimento do dever legal e o 
exercício regular de direito é que no primeiro caso o agente age impelido por 
um dever, enquanto que no segundo há uma faculdade, um direito. 
 
 
3.5 Ofendículos 
 
 Ofendículos são objetos criados pelo homem para evitar atuações 
criminosas. Esses objetos devem ser instalados de maneira proporcional, 
sem excessos, sob pena do agente responder pelo delito culposo ou doloso 
a que der causa. 
 Parte da doutrina entende que o ofendículo é maneira de legítima 
defesa preordenada, enquanto outra parte entende tratar-se de exercício 
regular de direito. 
 
 
 
 
36 
3.6 Excesso punível 
 
 Quando o agente intensifica sem necessidade sua conduta lícita, ele a 
converte em ilícita, e por ela se responsabiliza. Nesse caso, autoriza-se que 
a parte contrária se defenda em relação ao excesso, naquilo que a doutrina 
chama de legítima defesa sucessiva. 
 O excesso punível apresenta-se mediante as seguintes modalidades: 
 a) excesso doloso: ocorre quando o sujeito ativo pretende um 
resultado além do necessário. Nesse caso, ele responde pela prática de 
crime doloso; 
 b) excesso culposo: ocorre quando o sujeito ativo quebra um dever 
objetivo de cuidado mediante conduta negligente, imprudente ou imperita e 
dá causa a um resultado não desejado. Nesse caso, ele responde por crime 
culposo (quanto ao excesso), desde que essa conduta seja prevista como 
crime culposo. 
 c) excesso exculpante: ocorre quando a intensificação desnecessária 
resulta da alteração de ânimo pela surpresa ou pelo medo (DOTTI, p. 400, 
2006). Nesse caso, o agente deverá ser absolvido por ausência de 
culpabilidade em razão de inexigibilidade de conduta diversa. 
 E, ainda: 
 a) excesso intensivo: ocorre quando o sujeito atacado intensifica a 
conduta, de forma dolosa ou culposa, pelo uso imoderado dos meios 
necessários. 
 b) excesso extensivo: ocorre quando não há mais agressão atual e o 
sujeito atacado pratica nova conduta contra o autor da agressão. Nesse 
caso, essa nova conduta é considerada como crime autônomo, cuja 
responsabilização também será autônoma. 
 
 
4. Culpabilidade 
 
 A culpabilidade é o juízo de reprovabilidade da conduta praticada pelo 
autor de um crime, isto é, pelo autor de um fato típico e antijurídico. No 
direito penal vige a teoria subjetiva, por meio da qual é fundamental que se 
verifique a existência de culpa do agente, sem o que não há que se falar na 
possibilidade de sua punição. 
 Se adotada a teoria tripartida, ausente a culpabilidade não há que se 
falar em crime, pois para esta, crime é a conduta típica, antijurídica e 
culpável. 
 Em contrapartida, se adotada a teoria bipartida, para a qual crime é 
uma conduta típica e antijurídica, a ausência de culpabilidade não excluirá o 
crime, mais sim a punibilidade do mesmo. Para esta teoria, a culpabilidade é 
mero pressuposto para aplicação da pena. 
 São 3 (três) as teorias sobre a culpabilidade: 
 a) teoria psicológica; 
 b) teoria psicológico-normativa; e 
37 
c) teoria normativa pura (adotada pelo Código Penal brasileiro). 
 Segundo a teoria psicológica, a culpabilidade é a ligação entre o 
agente e o fato criminoso, ligação esta de ordem psíquica que pode decorrer 
da intenção (dolo) ou da previsibilidade (culpa stricto sensu) do fato. No 
entanto, a teoria psicológica foi criticada por não distinguir a simples 
culpabilidade, ou seja, a vontade ou previsibilidade de qualquer conduta 
humana, da específica culpabilidade penal, que só se verifica quando há 
lesão a bens penalmente tutelados (MIRABETE, 2006, p. 192). 
 Consequentemente, entendeu-se que somente a culpa e o dolo não 
bastavam à descrição da culpabilidade, com o que surgiu a teoria 
psicológico-normativa. Segundo essa teoria, a culpa e o dolo, como 
elementos de ligação entre o agente e a conduta, devem receber uma 
valoração normativa, considerando a reprovabilidade da conduta, que só 
pode ser reputada existente quando demonstrar-se que o agente possuía 
consciência da sua ilicitude, ou que ao menos possuía condições para obter 
esse conhecimento (MIRABETE, 2006, p. 192). 
 A teoria psicológico-normativa foi questionada, contudo, por 
considerar que a culpa e o dolo não poderiam ser reputados como 
elementos da culpabilidade, mas sim como elementos integrantes da 
conduta do agente, com o que se criou a teoria normativa pura, teoria esta 
adotada pelo Código Penal brasileiro. Segundo essa teoria, para que se fale 
em culpabilidade, que é a reprovabilidade que liga o autor ao fato, exige-se a 
imputabilidade, a potencial consciência da ilicitude e a exigibilidade de 
conduta diversa. 
 
 
4.1 Elementos da culpabilidade 
 
 Segundo a teoria adotada pelo Código Penal brasileiro (teoria 
normativa pura), são elementos da culpabilidade: 
 a) a imputabilidade; 
 b) a potencial consciência da ilicitude; e 
 c) a exigibilidade de conduta diversa. 
 
 
4.1.1 Imputabilidade 
 
 Só há que se falar em culpabilidade se o agente possuir capacidade 
para entender o caráter ilícito de sua conduta. A imputabilidade penal 
decorre da sanidade mental do agente, e reflete sua capacidade de se auto-
determinar. 
 Em sentido oposto, inimputável é aquele que não possui consciência 
para se determinar. O artigo 26 do Código Penal dispõe que, é isento de 
pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental 
incompleto ou retardado era, ao tempo da ação ou omissão, inteiramente 
incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de se determinar de acordo 
com esse entendimento. 
 
38 
 E há, ainda, os semi-imputáveis, que são aqueles dotados de parcial 
consciência para se auto-determinar. Nesse caso, a pena pode ser reduzida 
de um a dois terços, se o agente, em virtude da perturbação de saúde 
mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era 
inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de se determinar 
de acordo com esse entendimento (art. 26, parágrafo único, do CP). 
 Dentre os critérios existentes para determinação da imputabilidade, 
destacam-se: 
 a) o sistema biológico (adotado como exceção pelo Código Penal 
brasileiro); 
 b) o sistema psicológico; e 
 c) o sistema biopsicológico (adotado como regra pelo Código Penal 
brasileiro). 
 Segundo o sistema biológico, considera-se inimputável aquele que 
apresenta alguma anomalia psíquica, tenha ela influenciado ou não a 
vontade do agente no momento da ação ou omissão (MIRABETE, 2006, p. 
207). O Código Penal brasileiro adota esse critério apenas em relação aos 
menores de 18 anos, por sobre os quais pesa uma presunção absoluta de 
inimputabilidade. 
 Pelo critério psicológico, basta a verificação da consciência sobre a 
ilicitude no momento da ação ou omissão (o que gera uma grande 
dificuldade prática), sendo indiferente se o agente possui ou não alguma 
anomalia mental. 
 Já o critério biopsicológico é uma combinação dos critérios 
anteriormente apresentados e é o critério adotado pelo Código Penal 
brasileiro. Segundo ele: 
 1º) deve-se verificar se o agente possui alguma anomalia mental: 
 a) se não possuir, não será considerado inimputável; mas 
 b) se possuir, deve-se prosseguir na averiguação. 
 2º) possuindo anomalia mental, deve-se verificar se o agente possuía 
capacidade para entender o caráter ilícito do fato: 
 a) se possuir (capacidade para entender o caráter ilícito do fato), não 
será considerado inimputável; mas 
 b) se não possuir (capacidade para entender o caráter ilícito do fato) 
deve-se prosseguir na averiguação. 
 3º) possuindo anomalia mental e não possuindo

Outros materiais

Materiais relacionados

Perguntas relacionadas

Materiais recentes

Perguntas Recentes