Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Ma cr oe co no mi a Au la 08 - De te rm ina çã o de R en da 114Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno uvb Aula 08 - Determinação da Renda Nesta aula, prosseguiremos o estudo da Macroeconomia através do modelo keynesiano básico. Você conhecerá: - As Propensões Marginais à Consumir e à Poupar; - A função Consumo e a função Poupança; - O Investimento e seus determinantes; - O multiplicador de gastos da economia; - A teoria keynesiana básica sobre a demanda de moeda e a taxa de juros. Introdução Objetivos e Dilemas da Macroeconomia A Macroeconomia estuda os grandes agregados econômicos: Produto, Renda, emprego, inflação, Balanço de Pagamentos, etc. Sua principal preocupação é com o curto prazo. Lembre-se de que, em Microeconomia, o curto prazo caracteriza-se pela existência de fatores de produção fixos. Em Macroeconomia, pressupomos que o estoque agregado de fatores de produção – terra, trabalho, capital – e as tecnologias disponíveis, são constantes. O que muda é o nível de utilização desses fatores em cada conjuntura. A Macroeconomia tem como preocupação central o crescimento econômico e o pleno emprego. Esses objetivos já foram equiparados à melhora da qualidade de vida do conjunto da sociedade. Críticas posteriores levaram a relativizar essa identificação (nem sempre, crescer com altas taxas de emprego melhora a vida de todos), mas tais objetivos continuam sendo desejáveis. Melhorar a distribuição de renda da sociedade é outro objetivo macroeconômico importante, complementando a lista dos temas necessários à melhora efetiva do nível de vida. Preços estáveis – ou seja, baixa inflação – acrescenta-se a essa lista. Há muitas dificuldades e problemas para se chegar a esses objetivos. Um deles é formado pelos chamados dilemas macroeconômicos: alguns Ma cr oe co no mi a Au la 08 - De te rm ina çã o de R en da 115Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno uvb objetivos são relativamente contraditórios entre si. Por exemplo, políticas que1 enfatizam o crescimento econômico podem piorar a distribuição de renda; por outro lado, medidas mais distributivas podem reduzir a taxa de crescimento. Inflação e desemprego aparecem como outro dilema fantasmagórico para os formuladores da política econômica: deve-se escolher a “assombração” com que se prefere conviver, pois ambas são contraditórias. O estímulo ao crescimento econômico com ampliação do emprego embute, muitas vezes, o risco de aceleração da inflação; políticas que reduzem esta última costumam causar queda do crescimento e do emprego. O arsenal de medidas macroeconômicas também é complexo e, além dos dilemas acima, interfere no funcionamento de diversas outras variáveis. As finanças do governo (déficit público) e o Balanço de Pagamentos (as transações econômicas e financeiras com o Exterior) são afetados pelas medidas adotadas buscando os objetivos assinalados acima. Avaliar todos esses impactos é tarefa difícil e sujeita sempre a surpresas empíricas (práticas), que geram novas revisões teóricas. 2. O Modelo Keynesiano Simples Como vimos na aula passada, a Macroeconomia está ligada a Keynes. Neste capítulo, examinaremos os principais conceitos elaborados por esse grande economista para explicar como a Renda Nacional é determinada. Vamos ressaltar alguns aspectos metodológicos necessários para iniciar o estudo do modelo macroeconômico básico, desenvolvido por Keynes. Em primeiro lugar, assinalamos uma diferença importante entre a Contabilidade Nacional e a Macroeconomia: a primeira baseia-se em dados reais já observados, ao passo que a Macroeconomia trabalha com variáveis pretendidas. Quando falamos em Consumo ou Investimento, em Contabilidade Nacional, estamos nos referindo a gastos já ocorridos; em Macroeconomia, aos gastos que as famílias e empresas pretendem fazer. Usamos as expressões latinas “ex post” e “ex ante” para nos referirmos a elas: a Contabilidade Nacional afere despesas “ex post” e a Macroeconomia estima gastos ”ex ante”. Ma cr oe co no mi a Au la 08 - De te rm ina çã o de R en da 116Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno uvb O segundo aspecto refere-se às variáveis de que estamos tratando. Você deve sempre lembrar-se de que a Macroeconomia trabalha com agregados: aqui, a despesa é despesa agregada, isto é, de todos os agentes econômicos ao mesmo tempo. A oferta agregada constitui o produto total, o montante de bens e serviços produzidos pelo conjunto da economia. Comecemos por uma visão panorâmica. Keynes, como vimos, preocupava- se em compreender a situação de desemprego em massa, que perdurou por quase toda a década de 1930 nos países mais avançados do capitalismo. Ao reformular a teoria neoclássica, ele derrubou dois pilares dessa escola: a lei de Say e o princípio da flexibilidade salarial. Jean-Baptiste Say (1767-1832), economista francês ligado à escola clássica (a primeira escola do pensamento econômico moderno), desenvolveu uma teoria aceita pela maioria dos economistas até 1930. Em síntese, essa teoria – que levou seu nome – dizia que “a oferta cria sua própria demanda”. Isso quer dizer que a renda (salários, lucros, juros e aluguéis) gerada no processo de produção retorna a esse processo em forma de consumo ou investimento, permitindo, assim, escoar toda a produção de bens e serviços da economia. A parte da renda não consumida (chamada de poupança) seria atraída para os investimentos em bens de capital. A taxa de juros equilibraria a poupança e o investimento: se os juros fossem muito baixos, haveria excesso de investimento e escassez de poupança, elevando a taxa de juros; se esta fosse muito elevada, haveria mais estímulo para a poupança e menos para o investimento, levando o excesso de poupança a pressionar os juros para baixo. (Dica: perceba a semelhança desse mecanismo com o equilíbrio entre oferta e procura de bens em concorrência perfeita, visto na Aula 4). Nessas condições, não havia lógica numa situação de alto desemprego. Os economistas influenciados pela lei de Say supunham que o desemprego podia ser apenas eventual. O mercado de trabalho também seguia a lei da oferta e procura: se houvesse desemprego, seria um sinal de excesso de oferta de trabalho frente à demanda dos empresários. No mercado de bens, o excesso de oferta em concorrência perfeita ocorre com preços acima do equilíbrio (reveja a Aula 4); os economistas acreditavam que essa mesma Ma cr oe co no mi a Au la 08 - De te rm ina çã o de R en da 117Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno uvb situação no mercado de trabalho traduzia salários elevados demais. Bastaria reduzi-los para ocorrer uma ampliação da demanda de trabalho e acabar com o problema. Keynes demoliu a lei de Say e a hipótese de redução dos salários. No primeiro caso, afirmou que o fluxo de renda tem “vazamentos”: uma parte dela não retorna para o circuito produtivo. O tamanho desses vazamentos é determinante para o funcionamento da economia. O nível de atividade e de emprego decorrem da demanda e não da oferta. A oferta só pode se ampliar no curto prazo se houver capacidade ociosa, ou seja, desemprego de fatores de produção. E, nesse caso, só o fará se for pressionada pela demanda. A oferta correspondente ao pleno emprego é o que chamamos de Produto potencial, aquele nível geral de produção de bens e serviços resultante do uso pleno dos fatores de produção disponíveis. Essa oferta só se amplia em prazos mais longos, com o crescimento físico dos fatores de produção– trabalho, capital ou novas terras – ou, ainda, com inovações tecnológicas que aumentem a produtividade. Assim, a variável- chave para a definição da renda, do produto e do emprego no curto prazo é a demanda efetiva. O princípio da demanda efetiva, enunciado por Keynes, inverteu a lógica da Lei de Say. Keynes também discordou da hipótese de redução dos salários nominais (ou seja, o valor em moeda corrente pago aos trabalhadores). Acreditava que os sindicatos se oporiam fortemente a isso, o que inviabilizava a retomada do nível de emprego. Keynes achava mais provável uma redução do salário real – o salário dividido pela quantidade de bens produzidos pelo trabalhador. Atualmente, os sindicatos dão muita importância também a esse item, reivindicando a reposição da inflação nos salários, além de aumentos reais. Talvez na época de Keynes isso não fosse tão importante, porque a maior preocupação era o desemprego e não a atualização dos salários. Podemos ver agora que, na ótica keynesiana, a teoria neoclássica 2 era incapaz de explicar o que ocorria nos anos 1930. Mesmo que a hipótese de redução dos salários nominais fosseplausível – e não era -, não havia qualquer certeza de que toda a oferta agregada seria consumida. Havia um Ma cr oe co no mi a Au la 08 - De te rm ina çã o de R en da 118Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno uvb problema de insuficiência da demanda efetiva. As propostas de Keynes iam no sentido de elevar a demanda agregada, e ele concluiu que os gastos do Governo eram a chave para esse aumento. O raciocínio básico é que o equilíbrio macroeconômico – a igualdade entre demanda agregada e oferta agregada – pode ocorrer numa situação de desemprego parcial dos fatores de produção. O equilíbrio a pleno emprego – a situação mais desejável, e que desde então passou a ser uma das metas principais das políticas macroeconômicas – é apenas uma das situações possíveis, e nem é a mais provável. Quando existe desemprego de fatores de produção, aumentos da demanda agregada poderão fazer crescer o produto e a renda, elevando a utilização dos fatores e reduzindo o desemprego. Isso ocorrerá até que a economia atinja a situação de pleno emprego. A partir daí, aumentos na demanda não obterão respostas pelo lado físico da oferta, mas apenas dos preços. A pressão da demanda contra uma oferta agregada que já atingiu a barreira do pleno emprego acarreta tensões que resultam em alta de preços (inflação). O dito acima pode ser expresso no seguinte gráfico: RNpe é a renda nacional de pleno emprego. Percebemos que, enquanto a Oferta Agregada está longe de RNpe, os incrementos da Demanda Agregada aumentam a Renda Nacional sem afetar o nível de preços (caso do aumento de DA0 para DA1, que faz aumentar a renda de RNo para RN1, sem afetar o nível de preços P1). Já na etapa de pleno emprego, os incrementos da Demanda Agregada causam apenas aumentos no nível de preços, como quando a demanda aumenta de DA2 para DA3, sem poder ultrapassar a Ma cr oe co no mi a Au la 08 - De te rm ina çã o de R en da 119Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno uvb barreira de RNpe e fazendo, portanto, crescer o nível de preços de P2 para P3. A seguir, construiremos os principais conceitos desenvolvidos por Keynes na formulação de seu modelo, que aqui será apresentado na forma básica. Isso significa que adotaremos algumas hipóteses simplificadoras: ignoraremos a inflação, suporemos a existência de desemprego e consideraremos a taxa de juros fixa. Começaremos analisando o mercado real, isto é, de bens e serviços e de fatores de produção. Num segundo momento, integraremos o mercado monetário ao modelo. 3. As Variáveis Reais a) Propensão Marginal a Consumir (PMgC) Este conceito relaciona-se ao que Keynes denominou a “lei psicológica fundamental”: “Os homens estão dispostos, quase sempre e em média, a aumentar seu consumo à medida que a sua renda aumenta, mas não pela quantia do aumento na sua renda”. Essa observação nos indica que uma parcela da renda adicional é destinada ao consumo, enquanto outra parte é destinada à poupança. Há duas conclusões relevantes. A primeira é a PMgC, que expressa exatamente a porcentagem do aumento na renda direcionada ao consumo. Em termos formais, A segunda conclusão é que o Consumo Total guarda estreita relação com a Renda. Na verdade, há diversos fatores explicativos do consumo, mas sem dúvida a renda é o mais importante. Podemos isolá-la dos demais fatores e explicitar uma relação funcional, em forma de equação: Ma cr oe co no mi a Au la 08 - De te rm ina çã o de R en da 120Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno uvb C = Consumo Total C0 = Consumo autônomo B = PMgC Y = Renda pessoal disponível O consumo autônomo representa aquele consumo mínimo que as famílias realizarão, mesmo que não recebam nenhuma renda. Nessa hipótese extrema, haverá a queima de poupanças realizadas anteriormente, ou de bens patrimoniais acumulados (chamamos a isso, despoupança). Quanto à Renda Pessoal Disponível, foi vista na aula anterior: extraímos da Renda Nacional (PNLcf) as parcelas não distribuídas às famílias (lucros retidos, etc.) e os impostos diretos pagos por estas últimas. A representação gráfica da função Consumo tem a seguinte forma genérica: Alguns elementos desse gráfico irão nos acompanhar nesta aula. O primeiro é a reta de 45. Ela divide a área do gráfico em duas metades iguais. Cada ponto dessa reta é eqüidistante dos dois eixos, ou seja, essa reta é o lugar geométrico de todos os pontos em que C = Y. Observe que a função Consumo do gráfico intercepta essa reta no ponto cujas coordenadas são (Y1, C1). Nesse ponto, com a função Consumo acima, toda a renda será gasta em consumo. À direita desse ponto, Y > C, ou seja, a renda excede o consumo. À esquerda do ponto citado, C > Y, isto é, o consumo excede a renda. Vemos no gráfico que b (na verdade, PMgC) é a inclinação da reta da função Consumo, isto é, seu coeficiente angular. Aqui, convém indicar que b obedece sempre a seguinte condição: 0 < b < 1. Isto é, a Propensão Marginal Ma cr oe co no mi a Au la 08 - De te rm ina çã o de R en da 121Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno uvb a Consumir sempre será positiva e menor que 1. Igualmente, C0 > 0, ou seja, existe sempre um consumo autônomo positivo. b) Propensão Marginal a Poupar (PMgP); Já definimos poupança como a diferença entre a renda disponível e o consumo, isto é, a parcela da renda não gasta em bens e serviços. Da mesma forma que o consumo, a poupança também depende da renda. É empiricamente constatado que rendas maiores implicam em maior fatia de poupança. Rendas mais baixas têm alta PMgC, restando pouco para ser poupado. Definimos a Propensão Marginal a Poupar (PMgP) como a parcela da renda adicional dirigida à poupança. Se considerarmos que a renda distribui-se entre consumo e poupança, então concluímos que PMgC + PMgP = 1 , ou seja, PMgP = 1 – PMgC. 3 A função Poupança também pode ser deduzida da complementaridade entre consumo e poupança. Enquanto a função Consumo tem um componente autônomo positivo, a função Poupança inicia-se com um componente autônomo negativo. Ele é exatamente a despoupança de que falamos ao identificar C0. As famílias de renda mais baixa possuem poupança negativa, porque tendem a consumir acima da sua renda. PMgP, por sua vez, é o coeficiente angular (ou a inclinação) da reta representativa da função Poupança. Assim, podemosafirmar que a forma genérica da poupança é: Vamos representar as duas curvas conjuntamente: Ma cr oe co no mi a Au la 08 - De te rm ina çã o de R en da 122Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno uvb Percebe-se a equivalência entre o consumo autônomo e a despoupança (C0 e –C0, respectivamente). Também podemos observar que o intercepto entre a função consumo e a reta de 45º equivale ao intercepto da função poupança com o eixo horizontal: daí para a direita, a renda supera o consumo e a poupança passa a ser positiva. c) Investimento Definimos Investimento como ampliação da capacidade física de produção de bens e serviços, através do aumento do estoque de bens de capital (instalações, construções, máquinas e equipamentos). Também se inclui no Investimento a variação nos estoques, como já visto. O enfoque da Macroeconomia é diferente daquele da Contabilidade Nacional, porque a primeira considera a variação esperada e a variação indesejada nos estoques como distintas (o segundo caso é expressão de desequilíbrio macroeconômico e origem de queda no Produto e no emprego). Abordagem bem diferente da Contabilidade Nacional, que só observa as variáveis ex post e não distingue intenção e realização. A principal característica do Investimento é que ele é muito instável. Vários fatores contribuem para a decisão de investir dos empresários, entre elas as expectativas sobre o futuro, que são de difícil previsão. Entre os fatores explicativos, dois adquirem maior importância: a taxa de juros de mercado e a rentabilidade ou retorno esperado do investimento. Keynes denominou “Eficiência Marginal do Capital” a taxa de desconto que iguala os rendimentos líquidos futuros esperados com a compra de um bem de capital com o dispêndio efetuado na sua aquisição. Caso a taxa de juros supere o retorno esperado, a empresa não investirá: se tiver recursos próprios, terá maior vantagem emprestando-os no mercado financeiro; se não os tiver, evitará tomar empréstimos, uma vez que a aplicação produtiva dos mesmos redundará em prejuízo líquido. Portanto, há uma relação inversa entre taxa de juros e Investimento: juros em queda implicam em aumento de investimentos e alta dos juros leva ao “esfriamento” das decisões de investir. Ma cr oe co no mi a Au la 08 - De te rm ina çã o de R en da 123Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno uvb d) Injeções e Vazamentos de Recursos Vamos recordar a Aula 7, especificamente a última equação de igualdade entre renda e produto: S + T + M = I + G + X Essa equação nos informa que a soma da poupança, da tributação e das importações deve igualar a soma dos investimentos, dos gastos do governo e das exportações, para que ocorra o equilíbrio macroeconômico. Relembrando o fluxo circular da renda, podemos considerar que o lado direito apresenta injeções ao fluxo, uma vez que são fatores de demanda para a produção agregada, ao passo que o lado esquerdo mostra os vazamentos, isto é, as parcelas da renda das famílias que não retornam às empresas. e) O Multiplicador de Gastos Keynes identificou o impacto do aumento dos gastos sobre a renda agregada. Esse impacto é medido pelo multiplicador de gastos, que se refere aos itens da equação acima indicada. De fato, um acréscimo de investimentos, de gastos do Governo ou de exportações produz um efeito sobre a renda, de magnitude maior que o aumento original. Imaginemos um investimento adicional de $ 100. Esse gasto será feito junto às empresas fornecedoras de bens de capital, que remunerarão os acionistas e empregados na mesma magnitude (simplificadamente), por meio de lucros e salários. Se PMgC = 0,8, então essa remuneração voltará ao fluxo de renda no montante de $ 80 (já que $ 20 serão poupados). Esses $ 80 serão gastos pelas famílias em bens e serviços, fluindo para as empresas que os produzem. Estas distribuirão os novos recursos da mesma maneira citada. Mantendo-se PMgC, teremos 80% de $ 80 ($ 64) retornando ao fluxo, e assim sucessivamente. Ao final desse processo, a renda total terá sido acrescida de $ 100 + $ 80 + 64 + ..., até o esgotamento do efeito multiplicador. Ao final, a renda e o produto (portanto, a renda de equilíbrio) terão sido elevados em $ 500. Ou seja, o investimento teve um efeito multiplicador de cinco vezes Ma cr oe co no mi a Au la 08 - De te rm ina çã o de R en da 124Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno uvb sobre a renda de equilíbrio. A fórmula do multiplicador do Investimento é: k = multiplicador do Investimento b = PMgC Visto que PMgC + PMgP = 1, podemos também expressar o multiplicador como: k = 1/(PMgP) Assim, quando PMgP = 0,2 -> k = 1/0,2 = 5. Ocorre o mesmo com o multiplicador de gastos do governo e com o multiplicador de exportações. Deve-se notar, porém, que esse efeito pode ser benéfico ou maléfico: uma queda nessas três injeções também reduzirá a renda de equilíbrio em um múltiplo da magnitude da própria queda, dependendo de PMgC e PMgP. Por outro lado, os multiplicadores associados aos vazamentos têm um comportamento diferenciado entre si. As importações (M) exercem efeito oposto às exportações (X) e têm um multiplicador simétrico a estas, apenas com sinal trocado: k = -1/(PMgP). Já a tributação apresenta o seguinte multiplicador: Sabemos que b < 1. Assim, o multiplicador de tributos é menor que o multiplicador de gastos do Governo. Isso nos leva ao teorema do orçamento equilibrado: se o Governo elevar seus gastos, financiando-os com uma elevação de impostos da mesma magnitude, haverá um efeito líquido positivo na economia, com elevação da renda de equilíbrio. Vamos representar graficamente as mudanças no equilíbrio macroeconômico quando acrescentamos ao consumo o investimento e os gastos do governo. Consideraremos esses gastos já líquidos dos impostos que os financiam, pois, como acabamos de ver, permanece um efeito multiplicador líquido. k = -b/(1-PMgP) Ma cr oe co no mi a Au la 08 - De te rm ina çã o de R en da 125Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno uvb Podemos observar como o acréscimo dos Investimentos e dos gastos do Governo, sucessivamente, elevam a renda de equilíbrio. Enquanto a Demanda Agregada constituía-se apenas do Consumo, o equilíbrio ocorria em Y0. O Investimento eleva-o para Y1 e os gastos públicos, para Y2 (estes três níveis de renda de equilíbrio equivalem aos pontos E0, E1 e E2 do gráfico acima, ou seja, os três pontos sucessivos de equilíbrio). f) Os Hiatos do Produto Agora, vamos identificar os dois tipos de desvios possíveis em relação ao equilíbrio de pleno emprego. Trata-se das situações em que a Demanda Agregada supera a Oferta Agregada (DA > OA) e em que a primeira fica abaixo da segunda (OA > DA). No primeiro caso, como a economia já atingiu o nível de pleno emprego, o excesso da Demanda agregada sobre o Produto (Oferta Agregada) resulta apenas em inflação. Daí porque chamamos a distância entre o equilíbrio de pleno emprego e o novo equilíbrio com demanda excessiva, de hiato inflacionário. No caso de Demanda Agregada insuficiente para absorver a Oferta Agregada, a diferença a menor entre o nível de equilíbrio de pleno emprego e a demanda efetiva é chamado de hiato deflacionário. Essa foi a situação dos países capitalistas avançados na época em que a obra keynesiana foi lançada. Ma cr oe co no mi a Au la 08 - De te rm ina çã o de R en da 126Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno uvb4. As Variáveis Monetárias O lado real da economia, visto até aqui, interage com o lado monetário. Deixaremos para aprofundar o conceito de moeda na Aula 12. Aqui, é suficiente considerá-la como o instrumento básico das trocas e transações econômicas. A moeda substitui com muitas vantagens a troca direta entre produtos e serviços. Com o desenvolvimento das trocas monetárias, houve o desenvolvimento de todo um mercado monetário cada vez mais sofisticado. Os bancos são o principal elemento desse mercado. A regulamentação desse mercado é sempre uma atribuição do governo, que detém o monopólio da emissão da moeda e impõe a sua aceitação em todo o território nacional (daí falarmos em moeda de curso forçado). O mercado monetário também se constitui de uma demanda agregada por moeda e de uma oferta agregada de moeda. A oferta, como dito, é do governo, que decide o volume de moeda que pretende manter em circulação. Para isso, ele é o emissor exclusivo da moeda e dispõe, ainda, de instrumentos que regulam o volume de moeda que estará circulando a cada momento (detalharemos tais instrumentos na aula indicada). Assim, a oferta de moeda é autônoma, depende dos objetivos da política econômica do governo. A inovação de Keynes ocorreu na explicação da demanda por moeda e no mecanismo de determinação da taxa de juros do mercado. A demanda por moeda constitui-se de três segmentos: transações precaução especulação A demanda de moeda para transações varia diretamente com o produto e a renda, por razões fáceis de entender (quando a atividade econômica cresce, aumenta a necessidade de moeda nas diversas transações que a compõem). A demanda por precaução busca prevenir situações inesperadas; Ma cr oe co no mi a Au la 08 - De te rm ina çã o de R en da 127Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno uvb vamos desconsiderá-la aqui. Por fim, a demanda especulativa de moeda é constituída por um participante normal nos mercados – o especulador – que costuma jogar contra a corrente geral, apostando em tendências futuras do mercado que ele julga antecipar, o que lhe permite obter lucros futuros com esse jogo. O especulador procura sempre adivinhar o próximo momento do mercado: se a taxa de juros estiver muito baixa, ele guardará moeda aguardando a elevação da taxa para comprar títulos no futuro, quando poderá ganhar maior retorno financeiro; inversamente, quando a taxa é alta, não há estímulo para reter moeda e sim para usá-la na compra de títulos que rendem juros. Assim, há uma relação inversa entre a demanda de moeda para especulação e a taxa de juros do mercado. Por sua vez, a taxa de juros é o instrumento que equilibra a oferta e a demanda de moeda. Keynes rejeitou a interpretação, baseada na Lei de Say, de que a taxa de juros resulta do equilíbrio entre poupança e investimento. Esses dois processos – S e I – obedecem a motivações diferentes entre si e não estão sempre em equilíbrio. Os juros decorrem da demanda por moeda, decomposta acima, e das decisões do governo que determinarão a oferta monetária. Assim, podemos compreender as crises econômicas. Quando a demanda efetiva é insuficiente, existe um excesso de poupança sobre o investimento, porque as pessoas estão guardando uma parcela proporcionalmente elevada de sua renda, sem consumi-la, enquanto os empresários não se sentem motivados a investir, porque percebem que o mercado não absorverá sua produção. Há um ciclo de quedas na produção e no emprego, enquanto existirem estoques indesejados, que representam investimento sem retorno (lembre- se de que na Contabilidade Nacional tudo é investimento). O equilíbrio se restabelece num nível mais baixo de produto e renda, mas longe do pleno emprego. Ma cr oe co no mi a Au la 08 - De te rm ina çã o de R en da 128Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno uvb A política monetária pode ser usada para elevar a demanda agregada, através de emissões ou compra de títulos pelo governo – que aumentam o volume de moeda em circulação. Isso pode bastar para eliminar o risco de recessão e desemprego. No entanto, há situações em que a política monetária não funciona. Se e a crise for muito grande, quedas na taxa de juros decorrentes da expansão do volume de moeda podem não ser suficientes para animar os empresários a investir. Os especuladores começam a apostar que o governo terá que recuar e elevar os juros mais à frente, até pela ineficácia da política monetária. Eles passam a reter toda a moeda adicional e, assim, frustram o objetivo da autoridade econômica, que era aumentar as transações. Nesses casos, a política fiscal, com o aumento dos gastos do governo ou a redução dos impostos (ou uma combinação de ambas), terá o papel principal na elevação da demanda agregada para tirar a economia da recessão e do desemprego. Síntese Nesta aula, você apreendeu o que é a Propensão Marginal a Consumir e a Poupar. Observou a função Consumo e a função Poupança. Conheceu os multiplicadores de gastos e seu efeito sobre a renda de equilíbrio. Ficou sabendo como esses conceitos são importantes no modelo keynesiano básico, que busca explicar as flutuações da renda e do emprego. Também foi apresentado à concepção keynesiana sobre oferta e demanda de moeda e a determinação da taxa de juros, o que permite entender melhor o mecanismo das crises de insuficiência de demanda. O próximo tema de interesse macroeconômico será o Emprego e o desemprego. Trataremos do mesmo na próxima aula. Até lá! Ma cr oe co no mi a Au la 08 - De te rm ina çã o de R en da 129Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno uvb Notas 1 No Brasil, tivemos uma experiência de crescimento com piora na distribuição de renda durante o chamado “milagre econômico brasileiro” (1967/73). 2 Keynes referia-se a todos os economistas que o antecederam como clássicos, mas há algumas diferenças entre estes e a escola neoclássica, surgida a partir de 1870. 3 Estamos considerando as propensões como decimais (por exemplo, PMgC = 0,8 e PMgP = 0,2). Neste exemplo, de cada 100 reais adicionais ganhos, 80 serão consumidos e 20, poupados. 4 A dedução desta e das próximas fórmulas não será feita aqui. Recomendamos aos alunos a consulta à bibliografia da disciplina, particularmente Passos & Nogami (2003) pág. 424/426, ou Viceconti e das Neves (2004), págs. 319/320 e 335/337. 5 Ver nota anterior.
Compartilhar