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PERSPETIVAS DO SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE

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PERSPETIVAS DO SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE 
 
INTRODUÇÃO 
O Serviço Social, segundo Montaño (1998) tem sua gênese marcada por determinações 
históricas da evolução da sociedade capitalista. Essa afirmação pertence a primeira das 
duas teses que tentam explicar a origem e a natureza do Serviço Social. 
A segunda tese, endogenista, afirma que o Serviço Social é uma “profissionalização, 
organização e sistematização da caridade e da filantropia” (MONTAÑO, 1998, p.16), 
portanto a histórica, e, segundo o autor, equivocada, pois não considera os processos 
históricos, políticos e econômicos da divisão social de classe, espaço esse que se 
configura como campo de atuação do Serviço Social. 
Do ponto de vista da tese histórica-crítica, a qual esse curso adota como fundamento 
teórico-metodológico, o Serviço Social se desenvolve como profissão reconhecida na 
divisão social do trabalho, enquanto produto do desenvolvimento do capital industrial e 
da expansão urbana (IAMAMOTO E CARVALHO, 2001). Sendo assim, o Serviço 
Social é uma profissão que se consolida no interior das lutas de classe e que tem, 
portanto, esta realidade social enquanto objeto de intervenção profissional. 
Exatamente por se tratar de uma profissão histórica, o Serviço Social sofreu (e sofre) 
influências do contexto político-econômico e social de cada época. Exemplo disso é a 
sua própria institucionalização, determinada pelo contexto do capitalismo monopolista, 
que pela figura do Estado os assistentes sociais são profissionais requisitados para 
responder às expressões da questão social via operacionalização das políticas sociais, 
ainda que nesse momento se tratasse de uma prática esvaziada de concepção teórico 
metodológica e que se apresentava como prática conservadora. 
O trabalho do assistente social e o seu exercício profissional tornam-se objeto desse 
curso dada a necessidade de reflexão coletiva sobre os consequentes rumos do fazer 
profissional diante das mudanças no mundo do trabalho, desencadeadas no Brasil na 
década de 1990, mesmo período em que o Serviço Social tem aprovada sua lei de 
regulamentação da profissão (Lei n° 8.662, de 07 de junho de 1993) e o novo código de 
ética profissional, resultado do amadurecimento teórico-metodológico do Serviço Social 
nas décadas anteriores. 
 
Para tanto, este curso tem como objetivo refletir os desafios e perspectivas do Serviço 
Social dadas pelos aspectos contemporâneos de mudanças no mundo do trabalho e a 
consequente retração do Estado no trato das expressões da questão social. 
 
O TRABALHO E O ASSISTENTE SOCIAL 
O trabalho é a categoria central na constituição da sociabilidade humana; é a capacidade 
de transformar a natureza em valores de uso, ou seja, em tudo aquilo que é necessário 
para a vida e reprodução humana. Por isso, podemos afirmar que o trabalho é condição 
de existência do homem – é uma necessidade eterna, resultado do intercâmbio orgânico 
entre o homem e a natureza (LUKÁCS, 1979). 
O assistente social ao se inserir na divisão social e técnica do trabalho coletivo 
(IAMAMOTO, 2001) torna-se responsável por uma utilidade social que permite ao 
profissional vender sua força de trabalho numa relação mercantilizada e, portanto, 
assalariada. Não queremos com isso defender a tese do Serviço Social como trabalho, 
apenas destacar a sua utilidade enquanto espaço sócio ocupacional. 
Mas quem então contrata a mão de obra do assistente social e para fazer o quê? O 
desenvolvimento das forças produtivas no capitalismo estabeleceu na sociedade a 
existência de duas classes fundamentais, os proprietários dos meios de produção e os 
trabalhadores, através de relação social no processo de produção. Essas classes são, 
antes de qualquer coisa, antagônicas: possuem interesses diferentes, portanto, 
contraditórios. 
É nesta relação que se gesta a questão social, enquanto manifestação cotidiana da 
contradição de classes. 
 A questão social não é senão as expressões do processo de formação e desenvolvimento 
da classe operária e do deu ingresso no cenário da sociedade, exigindo seu 
reconhecimento enquanto classe por parte do empresariado e do Estado (IAMAMOTO; 
CARVALHO, 2001, p. 77). 
A questão social, por si só, não determina o surgimento do Serviço Social (NETTO, 
1996 apud MONTAÑO, 1998). Ela passará a ser objeto de intervenção da profissão 
apenas quando é assumida pelo Estado, no estágio do capitalismo monopolista, que sob 
pressão e interesse do capital e da classe trabalhadora, ver-se-á obrigado a absorver suas 
demandas e a dar respostas através das políticas sociais sem que, contudo, isso afete os 
interesses dos capitalistas. Isso inclusive é condição para legitimação do Estado diante 
das duas classes (IAMAMOTO E CARVALHO, 2001). 
De acordo com Netto (2011) as funções políticas do Estado imbricam-se com suas 
funções econômicas, pois vai incidir na organização e na dinâmica econômica, de forma 
continua e sistemática. 
Para esse autor a intervenção do Estado é para garantir os superlucros do capitalismo 
monopolista, daí a denominação de Karl Marx recuperada por Netto (2011) do papel do 
Estado enquanto “comitê executivo” da burguesia monopolista. 
É necessário destacar que paralelo a esse contexto houve um salto significativo na 
organização da luta da classe de proletariados, que diante das péssimas condições de 
vida, de trabalho e de salário e, cientes da exploração vivida passam a reivindicar ações 
que possibilitassem novas condições para o conjunto da classe trabalhadora. 
Por isso dizer que as respostas do Estado às demandas da classe trabalhadora não são 
naturais, nem ocorrem normalmente e nem cordialmente. Para Netto (2011) são 
respostas positivas que podem ser “refuncionalizadas para o interesse direto e/ou 
indireto da maximização dos lucros” (p.29). 
[...] a funcionalidade essencial da política social do Estado burguês no capitalismo 
monopolista se expressa nos processos referentes à preservação e ao controle da força 
de trabalho – ocupada, mediante a regulamentação das relações 
capitalistas/trabalhadores; lançada ao exército industrial de reserva, através dos sistemas 
de seguro social. (NETTO, 2011, p. 31) 
É, portanto, no momento em que o Estado passa a intervir na relação capital/trabalho 
através da constituição das políticas sociais que o Serviço Social se afirma enquanto 
profissão no mercado de trabalho. 
É somente na ordem societária comandada pelo monopólio que se gestam as condições 
histórico-sociais para que, na divisão social (e técnica) do trabalho, constitua-se um 
espaço em que se possam mover práticas profissionais como as do assistente social. A 
profissionalização do Serviço Social não se relaciona decisivamente à “evolução da 
ajuda”, à “racionalização da filantropia” nem à “organização da caridade”; vincula-se à 
dinâmica da ordem monopólica (grifos do autor). (NETTO, 2011, p. 73) 
A legitimação do Serviço Social enquanto profissão se dá pela ocupação de um espaço 
sócio ocupacional garantido pela ampliação dos serviços prestados, principalmente pelo 
Estado, maior órgão empregador da categoria e, em seguida, pelas empresas privadas, 
no enfrentamento e nas respostas às expressões da questão social. Segundo Iamamoto e 
Carvalho (2001), a demanda da ação profissional do assistente social não deriva dos 
trabalhadores, daqueles a quem se destina a sua intervenção, mas sim do patronato, 
colaborando dessa forma para sua legitimação. 
Diante deste fato cabe-nos refletir sobre o papel do assistente social no processo de 
reprodução das relações sociais, tendo em vista os interesses de classes onde estão 
colocados os determinantes do seu exercício profissional. 
Primeiramente, precisamos situar algumas característicasdo Serviço Social. De acordo 
com Iamamoto e Carvalho (2001) o Serviço Social é uma profissão liberal, embora não 
detenha os meios necessários para sua concretização, uma vez que os mecanismos e 
instrumentos através dos quais exerce sua atividade são disponibilizados pelas 
instituições em que se insere – sejam elas mediatizadas pelo Estado, pelas empresas ou 
outra entidade empregadora. Por ser uma profissão liberal lhe é facultada legalmente a 
existência de código de ética, enquanto instrumento de orientação ético-política para a 
categoria. Essa característica permite à profissão uma dinamicidade na sua intervenção, 
dada a liberdade, ainda que relativa, no exercício de suas funções institucionais. 
É ainda caracterizada pela relação estabelecida no contato direto com o usuário, que se 
configura num espaço de atuação técnica com distintas possibilidades de intervenção e, 
consequentemente, de reorientação do exercício profissional diante da função atribuída 
pela instituição empregadora. 
A terceira característica definida pela autora é a “indefinição ou fluidez” do que é e do 
que faz o Serviço Social. Para ela, esta indefinição permite ao assistente social a 
possibilidade de ampliação dos espaços e da autonomia de atuação, podendo inclusive 
superar as demandas institucionais, além de que o mesmo se afirma como profissional 
capacitado e necessário para instituição, resultante desta visão totalizadora da realidade 
que o cerca. 
Estando o Serviço Social situado na divisão social e técnica do trabalho e atuando 
diretamente com duas classes sociais fundamentais na sociedade capitalista, vale dizer 
que é uma profissão que participa ativamente do processo de reprodução das relações 
sociais. Como vemos, 
[...] a reprodução das relações sociais é a reprodução da totalidade do processo social, a 
reprodução de determinado modo de vida que envolve o cotidiano da vida em 
sociedade: o modo de viver e de trabalhar, de forma socialmente determinada, dos 
indivíduos em sociedade (IAMAMOTO; CARVALHO, 2001, p. 72). 
Para os mesmos autores a atuação do assistente social é polarizada pelos interesses das 
classes sociais, podendo ser cooptada pela classe que possui maior poder. Nesse sentido, 
o exercício profissional do assistente social Reproduz também, pela mesma atividade, 
interesses contrapostos que vivem em tensão. Responde tanto a demandas do capital 
como do trabalho e só pode fortalecer um ou outro polo pela mediação do seu oposto. 
Participa tanto dos mecanismos de dominação e exploração como ao mesmo tampo e 
pela mesma atividade, da resposta às necessidades de sobrevivência da classe 
trabalhadora e da reprodução do antagonismo nesses interesses sociais, reforçando as 
contradições que constituem o móvel básico da história (IAMAMOTO; CARVALHO, 
2001, p.75). 
Diante disso, é necessário que o assistente social se perceba histórica e criticamente 
dentro desta dupla função, pois isso lhe permite, no fazer profissional, uma reorientação 
ética-política, teórico-metodológica e técnica-operativa, tendo em vista os interesses e 
necessidades da classe trabalhadora, que pode contribuir, inclusive, para sua legitimação 
e o fortalecimento dos trabalhadores na luta de classes. 
 
CONJUNTURA E SUAS CONSEQUÊNCIAS NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL 
DO SERVIÇO SOCIAL 
Sendo o Serviço Social uma profissão inscrita na divisão social do trabalho, todo e 
qualquer novo contexto do mundo do trabalho repercute diretamente no exercício 
profissional, seja pela ampliação da demanda, seja pela redução dos recursos destinados 
ao exercício dessa profissão. 
Nesse sentido, vejamos uma pequena síntese da situação do mundo do trabalho nas 
últimas décadas e suas repercussões na esfera do Estado e consequentemente no 
trabalho do assistente social. 
São vastas as publicações que tratam das profundas transformações que o mundo do 
trabalho vem passando em sua esfera produtiva desde as crises capitalistas iniciadas na 
década de 1970. Essas mudanças ocorridas na economia mundial, denominadas por 
Antunes (2008) de metamorfoses no mundo do trabalho se dão com a substituição do 
modelo de acumulação taylorista/fordista pelo modelo de acumulação flexível. É o que 
muitos autores têm chamado de reestruturação produtiva. 
Essa nova forma de acumulação acaba por reestruturar o capital com a inclusão de 
novas tecnologias, provocando alterações no processo produtivo a fim de ganhar 
concorrência e lucratividade no mercado cada vez mais globalizado, o que tem alterado 
profundamente as condições e relações de trabalho, a vida e a identidade da classe 
trabalhadora. 
A precarização estrutural do trabalho em escala global (ANTUNES, 2008) chama 
atenção pelo aumento significativo de trabalhadores com mão-de-obra disponível no 
mercado que acabam exercendo trabalhos parciais, precários, temporários e sem vínculo 
empregatício. 
Barbosa (2007) revela que segundo a Organização Internacional do Trabalho – OIT, o 
desemprego vem mantendo um ritmo ascendente mundialmente desde a década de 
1980, chegando em 2003 a contabilizar 185,9 milhões de trabalhadores desempregados, 
que equivale a 6,2% da força de trabalho mundial. 
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD 2009 revelou que comparada 
a 2008 houve em 2009 um aumento de 18,5% da população desocupada no Brasil (de 
7,1 para 8,4 milhões de pessoas de 10 anos ou mais de idade). Revelou também que 
20,5% da população ocupada eram trabalhadores por conta própria e que entre os 54,3 
milhões de empregados, 28, 2% não tinham carteira de trabalho assinada. 
Para Mattoso (1999) o desemprego provocado pelas mudanças no mundo do trabalho é 
a ponta de um enorme iceberg, pois “estas condições de trabalho tornaram-se 
crescentemente informais, precárias, com trabalho e salários descontínuos, de curta 
duração e sem contribuição para previdência” (p. 15-16). Todo esse processo 
desencadeou-se no Brasil tardiamente, em relação aos demais países, principalmente 
europeus, isso devido ao grande processo de mobilização em torno da redemocratização 
brasileira da década de 1980 com o fim do regime militar. 
Essas mudanças não atingem apenas os trabalhadores no processo de produção, mas 
também os assistentes sociais, profissionais assalariados que atuam frente às 
contradições de classes. 
Com as mudanças no mundo do trabalho o assistente social, como qualquer outro 
trabalhador que vende sua força de trabalho, fica a mercê das novas regras e impactos 
que recaem sobre as formas de inserção e de permanência em postos de trabalho, 
observados nos contratos temporários, nas reduções de salário, na precarização das 
condições de trabalho entre outros, que refletem profundamente no exercício 
profissional como afirma o autor, 
Estes elementos combinados entre si implicarão notórias dificuldades ao exercício 
profissional qualificado e balizado por fundamentos éticos consagrados no atual Código 
de Ética (BRAZ E VINAGRE, apud BRAZ, 2004, p. 59). 
Junta-se a este cenário uma concepção político-ideológica que se propaga cada vez mais 
dominante e que ganhou fôlego com a crise do capitalismo na década de 1970. 
Essa concepção, denominada de neoliberalismo, combate ferozmente o Estado 
intervencionista e de bem-estar social e se caracteriza pelo afastamento do Estado 
enquanto regulador do mercado, pelas políticas de ajustes fiscais e monetárias, 
privatizações, desemprego estrutural, perseguição aos sindicatos, ampliação do exército 
de mão-de-obra, pela lógica mercadológica das políticas públicas, entre outras. 
(ANDERSON, 1995). 
Para essa concepção o Estado é uma esfera burocratizada, inchada e ineficiente para 
gerir os recursos públicos e que por isso, justifica-se sua reforma. 
No Brasil,a reforma do Estado encaminhada pelo governo FHC, desde a PEC nº 173 de 
agosto de 1995, possui como diretrizes fundamentais: a redução dos custos e 
racionalização do gasto público; mais agilidade e eficiência no aparelho estatal; 
descentralização dos serviços, transferindo do Estado para o setor privado, parte das 
atividades originalmente de trato público. (ORTIZ, 2002, p. 98) 
Este cenário apresenta um novo panorama no mercado de trabalho, no que diz respeito 
aos espaços sócio ocupacionais dos assistentes sociais, dada a flexibilização trabalhista, 
a desresponsabilização do Estado com as políticas públicas e sua consequente 
deteriorização como maior campo de atuação profissional (BRAZ, 2004). 
É por isso que nesse contexto, as políticas sociais são alvos de constantes reformas e 
cortes no orçamento, com a intenção de desresponsabilizar o Estado pela sua promoção, 
dificultar o acesso dos trabalhadores às essas políticas, que foram historicamente 
conquistadas pela luta da classe trabalhadora e ainda constata-se a transferência dessas 
responsabilidades para o setor privado e para sociedade civil. 
Por outro lado e, contraditoriamente, ampliam-se as demandas do Serviço Social, seja 
no setor público ou privado, dadas às altas taxas de desemprego e as péssimas de 
condições de vida condicionadas à população em geral. 
Essa realidade se reflete sensivelmente nos espaços de atuação do assistente social, pois, 
[...] se persistirem as políticas neoliberais postas na direção da (contra-) reforma do 
Estado, teremos uma redução/degradação dos serviços públicos que podem indicar, 
mais uma vez, um aviltamento das condições de trabalho dos assistentes sociais nestes 
espaços e, articuladamente, progressivas dificuldades para a efetivação de princípios 
históricos que partilhamos e defendemos, circunscritos na defesa das políticas públicas 
de responsabilidade estatal, tanto na saúde, na previdência, na assistência social e nas 
demais políticas sociais (BRAZ, 2004, p. 59-60). 
As consequências deste panorama são contraditórias, próprias do sistema capitalista e 
das regras neoliberais, pois se de um lado o Serviço Social sente-se ameaçado pela 
precarização do Estado/Políticas Públicas, por outro lado, novos espaços sócio 
ocupacionais para o assistente social vão surgindo, seja pela transferência dos serviços 
para o terceiro setor, seja pela regulamentação dos direitos constitucionais, 
principalmente nas esferas da municipalização, descentralização e controle social das 
políticas públicas e pela própria complexificação das expressões da questão social que 
tem demandado novos serviços, criando novos espaços para o exercício profissional até 
então desconhecidas e não ocupados por esta categoria. 
Destacam-se como novos espaços de atuação profissional as entidades do terceiro setor, 
identificadas como organizações que nem são Estado e nem são mercado, prestando um 
grande serviço ao capital e à ofensiva neoliberal na luta pela hegemonia da sociedade 
civil no interior do processo de reestruturação do capital ao desenvolver um papel 
ideológico claramente fundamental dos interesses do capital, promovendo a reversão 
dos direitos da cidadania por serviços e políticas sociais e assistenciais (MONTAÑO, 
2002). É no universo do terceiro setor que estão as ONG’S – organizações não 
governamentais que exercem atividades e executam ações de natureza pública, em 
contrato e parcerias com o Estado, mas independentes e com flexibilidade. 
O debate acerca das organizações não governamentais como possibilidade de ampliação 
de mercado de trabalho para os assistentes sociais não é tranquilo no interior da 
categoria, exatamente por que esse segmento tem crescido graças ao processo de 
desresponsabilização estatal e transferência de responsabilidade para essas entidades, 
que imprime numa ação pontual, focalizada e compensatória. 
No entanto, nesse mesmo caminho estão as ações de iniciativas públicas estatais, dado 
processo de reformas no âmbito do Estado, que vêm priorizando também ações 
pontuais, compensatórias e de transferência de renda para atender segmentos mais 
vulneráveis da população. 
[...] as ações demandadas ao Serviço Social referem-se a segmentos cada vez mais 
diversificados, incluídos por sua vez, em programas sociais ainda mais fragmentados 
por público-alvo, por áreas de políticas sociais e por problemáticas específicas 
seccionadas neste âmbito. (SERRA, 2001, p. 169) 
 
É, portanto, nesse emaranhado de contradições que o assistente social se encontra e que 
tem seu fazer profissional comprometido pelas estruturas impostas com as mudanças 
contemporâneas, seja enquanto trabalhador assalariado mal remunerado, com condições 
de trabalho precárias, seja como gestor ou executor direto de políticas sociais que estão 
cada vez mais na rota da desregulamentação. 
 
ESAFIOS DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL NA ATUALIDADE 
Refletir o Serviço Social na contemporaneidade é antes de tudo perceber a realidade 
política, econômica, social e cultural da sociedade analisada. É reconhecer que ela é 
mutável e, portanto histórica. Pois o Serviço Social intervém na realidade, nos processos 
de reprodução das relações sociais estabelecidas e determinadas historicamente. Assim, 
O Serviço Social não atua apenas sobre a realidade, mas atua na realidade [...] a 
conjuntura não é pano de fundo que emolduram o exercício profissional; ao contrário 
são partes constitutivas da configuração do trabalho do Serviço Social devendo ser 
apreendidas como tais. (IAMAMOTO, 2001, p. 55). 
Nesse sentido, compreender a realidade em toda a sua complexidade é um desafio 
apresentado ao assistente social, que tem sido convocado a dar novas respostas no 
âmbito do exercício profissional, não mais apenas na execução, mas também na 
formulação e gestão das políticas públicas, assim como na formulação de novas 
elaborações teóricas, compreendendo que 
[...] o esforço está, portanto, em romper qualquer relação de exterioridade entre 
profissão e realidade, atribuindo-lhe a centralidade que deve ter no exercício 
profissional [...] e o reconhecimento das atividades de pesquisa e o espírito indagativo 
como condições essenciais ao exercício profissional. (IAMAMOTO, 2001, p.55-56). 
É nesse contexto que a mediação aparece como categoria fundamental para o trabalho 
do assistente social. Para Pontes (2000), a mediação é uma categoria objetiva e 
ontológica que está presente na realidade. Ela é estudada como uma das categorias 
centrais da dialética, pois pertence ao real, mas é também elaborada na razão. A 
mediação é permeada de dinamismo e articulação que se move no interior das 
contradições estruturais sócio históricas. 
Como o Serviço Social tem sua essência de atuação na intervenção da realidade, a 
categoria da mediação se torna fundamental para o “desvendamento dos fenômenos 
reais e a intervenção do assistente social” (PONTES, 2000, p. 43), através da tríade 
singularidade – particularidade – universalidade (PONTES, 2007), necessárias para 
apreensão de mediações nas determinações dos complexos sociais. 
O desenvolvimento do modo de produção capitalista e o consequente aprofundamento 
da desigualdade social e das expressões da questão social se configuram como a atual 
realidade que precisa ser apreendida pelo Serviço Social. Nesse sentido, o assistente 
social, ao apreender a realidade, percebe novas possibilidades de demanda e atuação, 
podendo transformá-las segundo sua intencionalidade e instrumentalidade em novos 
espaços e perspectivas para o exercício profissional. 
A instrumentalidade é analisada por Guerra (2011) enquanto condição de 
reconhecimento social da profissão, pois ela se dá no cotidiano do trabalho do assistente 
socialpor meio da capacidade de criação, adaptação e transformação das condições 
objetivas e subjetivas do fazer profissional. 
A intencionalidade dos assistentes sociais, presente na instrumentalidade, é mediada 
pela lógica da instituição em que está inserido e na qual em muitos casos o profissional 
fica submetido. Mas, exatamente por tratar a instrumentalidade enquanto prática de 
mediação e como campo da cultura profissional é que se possibilita, contraditoriamente, 
ao assistente social usar os conhecimentos disponíveis e construir um modo de fazer que 
lhe é próprio. Assim, produz elementos novos e reconstrói sua prática profissional 
composta de referenciais teóricos e metodológicos, ético-políticos e técnico operativos 
que possibilitam a negação da prática puramente imediata e espontânea, reelaborando 
novas respostas sócio profissionais. (GUERRA, 2011). 
Sendo assim, compreender as transformações da sociedade é também perceber que o 
Serviço Social precisa responder e antecipar essas novas demandas, e para isso os 
espaços de atuação do assistente social exigem um profissional cada vez mais 
qualificado e especializado, que analise criticamente a realidade social e que faça uso 
das mediações no exercício profissional; que seja um profissional não apenas 
interventivo, mas também propositivo e pesquisador diante dessas demandas, requisitos 
necessários para inserção, permanência e identificação de novos espaços de ocupação 
deste profissional no mercado de trabalho. 
Note-se que “novas possibilidades de trabalho se apresentam e necessitam ser 
apropriadas, decifradas e desenvolvidas; se os assistentes sociais não o fizerem, outros o 
farão absorvendo progressivamente espaços ocupacionais até então a eles reservados” 
(IAMAMOTO, 2001, p. 48). 
A responsabilidade da compreensão e, mesmo, do enfrentamento desse contexto 
desafiante do qual os assistentes sociais vivenciam deve partir de uma ação coletiva do 
conjunto da categoria. 
 
Por isso, cabe as unidades de ensino, de pesquisa, de organização e representação dos 
assistentes sociais, oportunizar espaços (para estudantes e profissionais) de formação e 
reflexão que possibilitem desvendar e construir estratégias de enfrentamento das 
múltiplas determinações impostas ao Serviço Social na contemporaneidade. 
 
CONCLUSÃO 
Ao compreendermos que o Serviço Social é uma profissão historicamente constituída, 
percebemos também que ela é mutável e, portanto, suas determinações estão dadas na 
realidade. 
Sendo assim, o aprofundamento das expressões da questão social tem colocado novas 
demandas para o Serviço Social e consequentemente novos espaços sócio ocupacionais 
estão surgindo. Estes espaços já são pré-definidos pela Lei de Regulamentação da 
Profissão (8.662 de 7 de junho de 1993) que prevê em seu artigo 4º o exercício 
profissional do assistente social em “entidades e organizações populares”, “em órgãos 
de administração pública direta e indireta”, “aos movimentos sociais” e “outras 
entidades”. 
No entanto, é preciso ainda entendermos e analisarmos esses novos espaços, a sua 
representatividade, suas condições de trabalho, os interesses que permeiam a reprodução 
das relações sociais e até mesmo de que forma esses novos espaços oportunizam um 
exercício profissional tendo em vista o Código de Ética da Profissão. Este que preconiza 
a liberdade como valor ético central e o compromisso com autonomia e valores 
emancipatórios dos indivíduos. 
A própria compreensão da função do assistente social nesses novos espaços já se 
configura como um desafio para a profissão, de forma que os mesmos sejam 
conscientemente ocupados e sirvam de instrumentos de consolidação dos princípios da 
ética profissional e de superação da ordem social do capital. 
 
O Serviço Social é uma profissão inscrita na divisão sócio técnica do trabalho 
capitalista. Exerce, portanto, seu fazer profissional no contexto da contradição e luta das 
classes fundamentais; burguesia e proletariados. Nesse espaço sócio ocupacional o 
assistente social participa do processo de reprodução das relações sociais, fazendo com 
que a mesma ação interventiva atenda aos interesses das duas classes sociais. As 
mudanças no mundo do trabalho com a consolidação dos ideais neoliberais têm 
refletido (e muito) no Serviço Social, condicionando novas relações de trabalho e 
redução dos seus espaços de atuação, resultado da precarização das políticas públicas. 
Ao mesmo tempo e contraditoriamente novos espaços de atuação profissional estão 
surgindo, tanto como entidades não-governamentais, resultado da transferência de 
responsabilidades do Estado, quanto em espaços diversos, resultado de novas demandas 
impostas pela complexificação da questão social. Cabe ao assistente social estar 
capacitado e atento à realidade para poder antecipar novas demandas, garantindo a sua 
inserção e permanência no mercado de trabalho sem perder de vista os princípios da 
ética profissional e a perspectiva da transformação da ordem social vigente. 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
ANDERSON, Perry. BALANÇO DO NEOLIBERALISMO. Rio de Janeiro: Paz e 
Terra, 1995. 
ANTUNES, Ricardo. ADEUS AO TRABALHO? ENSAIOS SOBRE AS 
METAMORFOSES E A CENTRALIDADE DO MUNDO DO TRABALHO. 13ª 
Ed. rev. ampl. – São Paulo: Cortez, 2008. 
BARBOSA, Rosangela Nair de Carvalho. A ECONOMIA SOLIDÁRIA COMO 
POLÍTICA PÚBLICA: UMA TENDÊNCIA DE GERAÇÃO DE RENDA E 
RESSIGNIFICAÇÃO DO TRABALHO NO BRASIL. São Paulo: Cortez, 2007. 
BRASIL. LEI Nº 8.662 DE 07 DE JUNHO DE 1993. LEI DE 
REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO. Disponível em www.cfess.org.br, acesso 
em: 11 dez. 2011, 20:31. 
BRAZ, Marcelo. O GOVERNO LULA E O PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO 
SERVIÇO SOCIAL. IN: REVISTA SERVIÇO SOCIAL E SOCIEDADE Nº 
78. São Paulo: Cortez, 2004. 
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