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Angústia

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ANGÚSTIA
		Destituído de palavras
Dissolvido em um sonho
O cálice da vida apenas tocado
Num despertar
Minha garganta saciada com veneno
Meu corpo e carne desintegrado
Minha alma bêbada vazia
Ferido no reino da angústia
Queimado e chamuscado
Muito quente - tudo passado
(Wolf , 1995)
	Para compreendermos a angústia em sua essência precisamos antes conhecer aquilo que a gera e, para que essa compreensão seja significativa para nós, enquanto seres existenciais, necessitamos vivenciá-la e refletir sobre nossa experiência com esta. O texto de Paul Tillich (1972) associa esta angústia ao ser e ao não-ser, denominando-a como ansiedade. É fato que há uma dependência do ser com o não-ser, uma vez que o motivo da existência de algo é a possibilidade de sua não-existência, sua finitude, seu objetivo final. Com isso podemos considerar-nos vivos enquanto não alcançamos a morte. 
	O ser representa a capacidade de existir enquanto sujeito em uma lógica existencial humanística. O não-ser como especificado por Demócrito (apud Tillich, 1972) pode ser identificado como um espaço vazio, capaz de tonar o movimento [do ser] possível. O contraste do não-ser age como motivador ao ser, nos tornando capazes de sustentarmos nossa existência. Nessa lógica pode-se dizer que a morte é o motivo de nos dedicarmos com tanto afinco a viver. Seria como pensar que ao chegarmos ao fim de todos os nossos sonhos alcançaríamos a morte. Enquanto seres existentes, somos movidos por sonhos, metas e durante esse percurso nos deparamos com uma enorme gama de acontecimentos, muitas vezes imprevisíveis, e estamos propensos a experimentar demasiadas sensações inconstantes e diversas. Como cantado por Amy Lee Hartzler (2011b): “siga seu coração até sangrar, conforme corremos para o fim do sonho. Siga seu coração até sangrar, e então nós alcançamos o fim do sonho”.
	Um dos sentimentos que mais consigo associar a angústia é o medo, como se a ansiedade representasse o medo do que está por vir, medo do desconhecido. Como dito por Paul Tillich (1972): “o medo e ansiedade são distintos mas não separados. São imanentes um dentro do outro: o acicate do medo é a ansiedade, e a ansiedade se esforça na direção do medo”. Flor Jansen (2002a) ressalta em uma de suas composições: “Próximo de monólito de dúvidas rasteja o medo; medo de você se perder numa reflexão severa”. Esse pequeno trecho pode nos lembrar do motivo pelo qual a angústia é mais constante em alguns indivíduos em relação a outros. Muitos indivíduos tentam mascarar essa angústia fugindo da reflexão sobre si próprio, sobre o caminho que fora trilhado até agora e o que se esperar do que há de vir. Nós, como seres existenciais estamos sujeitos a vivenciar a angústia e devemos dela tirar proveito por meio da reflexão. Não importa de que maneira tentamos mascarar esta angústia, ela existe e requer nossa atenção.
	O homem está trancado na sua solidão pessoal.
Ele fala muito, muito,
Dizendo nada - dando nada,
Absorvendo nada
Apenas continua respeitosamente pintando sua fachada.
(Wolf, 2001)
	Como dito anteriormente sentimos angústia quando refletimos sobre algo que estar por vir e que nos é desconhecido. Isso se reflete na ansiedade do destino que é sempre incerto e da morte que não é programada e representa ir de encontro a possível não existência. Como diz o clichê popular: “existe vida após a morte?”; ninguém sabe ao certo o que nos espera, isso gera grandes discussões teológicas as quais não adentraremos aqui. A finitude de nossa existência é exposta com a morte. Conforme Tillich nossa existência é temporal (fato de existirmos nesse e não em outro período de tempo); espacial (encontramo-nos neste e não em outro lugar, e a estranheza deste lugar a despeito de sua familiaridade). Antes de nosso nascimento e após nossa morte permanece uma imensa escuridão, para nosso futuro investimos em sonhos e nos apegamos a eles enquanto planejamos nossas próximas ações; isso pode nos confortar frente à dura realidade a qual estamos submetidos diariamente.
	Outra grande angústia digna de reflexão é aquela advinda da possibilidade da vacuidade e da insignificação. Por mais que tentamos mascarar, sentimos uma necessidade de sermos reconhecidos. Essa tentativa de reprimir a angústia, bem como as outras maneiras, torna o individuo “condenado a vagar por emoções reprimidas, este refúgio imaginário o impede de despertar” (Jansen, 2002b). Poderíamos considerar esse despertar como abrir-se para angústia e tirar proveito dela. Desejamos ter uma representatividade, queremos dar um significado a nossa existência, representar algo para sociedade ou para determinados indivíduos. Perder o significado de sua existência é algo assombroso, é como se jogar no vácuo do espaço e ser ofuscado pela sua imensidão e condenado a solidão. Devemos estar cientes que somos extremamente pequenos diante do universo para que dessa forma não venhamos a permitir que a arrogância blinde nossos olhos, todavia devemos elevar nossa autoestima ao lembrarmos que nossa existência tem um significado que depende de nossa iniciativa e esforço. Como afirma Paul Tillich (1972): “o ser do homem inclui sua relação com as significações. Ele é humano só por compreender e moldar a realidade, seu mundo é ele, de acordo com significações valores”. É importante valorizar-se e valorizar os outros e toda a existência que nos cerca, essa valorização contribui para a significação de nossa existência.
Estive olhando no espelho por tanto tempo
Que vim a crer que minha alma estava do outro lado.
Todos os pequenos pedaços caindo, quebrados,
Pedaços de mim, afiados demais para serem postos de volta,
Pequenos demais para terem importância,
Mas grandes o suficiente para me cortar em tantos
Pequenos pedaços se eu tentar tocá-los.
E eu sangro, eu sangro,
E eu respiro. Eu não respiro mais.
(Hartzler, 2004)
	Outro grande causador de angústia está relacionado ao medo da culpa e da condenação. Sentir-se responsável por algo que fere a existência alheia nos causa um sentimento de remorso e, se não bastasse, ainda sentimos o receio de sermos condenados. Essa condenação pode vir pela mão do homem e/ou pela vertente espiritual. Essa segunda forma de ser condenado é algo ao qual não estamos aptos a descrever, uma vez que nosso acesso ao contingente espiritual é muito limitado. A cultura do sentimento da culpa e condenação disseminada pela religião pode não ser o melhor caminho, mas é indiscutível que esta exerce uma enorme influência sobre a humanidade, já que somos educados desde cedo a crer em inferno e purgatório, salvo aquelas religiões que não disseminam esse tipo de afirmação. Como cantado por Flor Jansen (2002b): “medo da penitência, condenado a bajulação”. A possibilidade de não atingir o êxito espiritual em sua totalidade ameaça a existência do ser após a morte, se é que existe a possibilidade de sua existência. Novamente as incertezas reforçam a angústia por traz do desconhecido. Conforme Paul Tillich (1972): “o homem, como liberdade finita, é livre dentro das contingências de sua finidade. Mas dentro destes limites ele é requerido a fazer de si o que se supõe ele possa tornar-se para realizar seu destino”. Para contribuir com seu destino o homem necessita da autoafirmação moral, para isso ele necessita da isenção da culpa. A angústia nesse âmbito está condicionada a ameaça infringida a existência pelo não-ser moral. Estar livre para existir de consciência limpa e tranquila é o desejo motivado pela angústia da culpa e condenação.
Desviando para bem longe do limite
Liberdade, liberdade, você não sente o chão se abrindo?
Liberdade, nos dê um motivo para acreditar de novo.
Sinto que está vindo à minha direção
Ainda sou escravo desses sonhos
Será que esse é o sonho de tudo
Ou apenas um jeito novo de sangrar?
(Hartzler, 2011c)
	Como podemos perceber, a angústia está presente e nós e desempenha uma função positiva, é como um mal necessário. Esse sentimento que nos exige tanta reflexão vai bem além do que fora escrito nessa pequenadissertação. Sabemos então que essa angústia tem um significado, uma importância, e devemos usá-la a nosso favor como algo motivador. Como canta a Amy Lee Hartzler (2011b) “Por que devemos desmoronar para entender como voar? Vou encontrar uma maneira, mesmo sem asas”. Não podemos ceder a esse sentimento, não podemos nos apegar ao medo sem tirar dele proveito. Na busca diária pelo significado de nossa existência a muito que percorrer, mesmo que o caminho seja longo e demasiado doloroso, ele vem repleto de representações positivas, alegrias e aprendizado entre outras coisas magníficas. Todavia devemos estar preparados para o desapontamento, para as expectativas frustradas e ás perdas, e para isso precisamos do tempo e da reflexão. Temos nossa existência limitada por um tempo indeterminado, mas isso não nos impede de ir à busca da realização de nossos desejos. Só devemos parar de sonhar quando enfim alcançarmos o fim definitivo dos sonhos.
Você não quer sentir?
Não quer viver sua vida?
Quanto tempo mais você vai ceder ao medo?
Não posso continuar fingindo, então me dê algo de verdade
Não há ninguém no seu caminho além de você
Quanto tempo mais você vai ceder ao medo?
Que te segura até você desaparecer
(Hartzler, 2011a)
	Não há como nos referirmos a angústia sem mencionarmos o desespero ao nos referirmos a Angústia. Toda angústia contribui para um estado de desespero. Conforme Paul Tillich (1972) o desespero é uma situação extrema ou linha de fronteira a qual não se pode ir além. Nesse sentido não há mais esperança no que há por vir. Quantas vezes nos sentimos nessa condição de não esperar nada de bom para nosso futuro. Perder a esperança em nós mesmos e deixar de acreditar em nossos sonhos. Temos a incerteza do amanhã somada à falta de esperança e, como nossa única certeza é a morte, nós acabamos por desejar que ela não demore a nos levar, uma vez que perdemos o sentido que nos mantém no caminho do ser. Deixar de existir, buscando o não-ser passa a ser uma possibilidade de nos libertar dessa angústia, que está bem próxima daquela referente a do destino e da morte, porém é incapaz de nos libertar do medo da culpa e condenação. Conforme Paul Tillich (1972): “Culpa e condenação são qualitativa, não quantitativamente infinitas. Elas tem um peso infinito e não podem ser removidas por um ato finito de autonegação ôntica.” Esse desespero acontece em raras ocasiões, mas nos dão base para interpretação da existência. 
Conflitos entre o velho, que tenta se manter, muitas vezes com novos meios, e o novo, que priva o velho de sua força intrínseca, produzem ansiedades em todas as direções. Não-ser, numa tal situação, tem dupla face, assemelhando-se a dois tipos de pesadelo (que são talvez expressões de uma consciência destas duas faces). Um tipo é a ansiedade de aniquilante estreiteza, da impossibilidade de escapar e o horror de estar sendo agarrado. O outro é a ansiedade de aniquilante vastidão, de espaço infinito e sem forma, no qual se cai sem um lugar sobre o qual tombar. (...) Ambas as faces da mesma realidade despertam a ansiedade latente de cada indivíduo que as contempla. Hoje, a maior parte de nós está a olhá-las (Paul Tillich, 1972, pg. 48).
	
REFERÊNCIAS
Hartzler, A. L. L (2004). Breathe no More do álbum Anywhere But Home. Artista: Evanescence. E.U.A: Wind Up Records.
Hartzler, A. L. L (2011a). Disappear do álbum Evanescence. Artista: Evanescence. E.U.A: Wind Up Records.
Hartzler, A. L. L (2011b). End of Dream do álbum Evanescence. Artista: Evanescence. E.U.A: Wind Up Records.
Hartzler, A. L. L (2011c). New Way to Bleed do álbum Evanescence. Artista: Evanescence. E.U.A: Wind Up Records.
Jansen, F. (2002a). Monolith of Doubt do album Decipher. Artista: After Forever. Holanda: Nuclear Blast.
Jansen, F. (2002b). Leaden Legacy do álbum Prision of Desire. Artista: After Forever. Holanda: Nuclear Blast.
Tillich, P. (1972). A coragem de ser. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 
Wolf, T. (1995). Der Kelch der Lebens do álbum Inferno. Artista: Lacrimosa. Suíça: Hall of Sermon.
Wolf, T. (2001). Fassade do álbum Fassade Artista: Lacrimosa. Suíça: Hall of Sermon.
Gleidson Jordan dos Santos
ANGÚSTIA
Pequena dissertação apresentada como requisito para obtenção de pontos na disciplina Fenomenologia Daseinsanalyse A do curso de Psicologia da Universidade Federal de São João del-Rei, ministrada pelo Professor João Bosco.
São João del-Rei
2013

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