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VILANOVA ARTIGAS

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VILANOVA ARTIGAS: A função social do arquiteto.
Caro leitor assíduo deste blog (rs),
Segue o texto datado de 28 de junho de 1.984, redigido por Vilanova Artigas e intitulado: A função social do arquiteto.
Vou analisar esse tema do ângulo específico da arquitetura moderna. no Brasil. E assumo aqui a definição de Tafuri: a arquitetura moderna nasceu das esperanças de transformação social do mundo, frente à Revolução Russa de 1917 e das perspectivas de um mundo novo aí oferecidas. A característica da arquitetura moderna é a unidade, a reunião entre arte e funcionalidade: arte indo integrar-se com a vida na abertura de uma nova idade de ouro.
Nesse contexto. o arquiteto assume sua responsabilidade. que ainda hoje se mantém, de participar, com a arquitetura, das mudanças sociais do mundo ocidental.
Naquele momento de exaltação social, nos anos 20, o arquiteto pensa as casas para o povo. E a casa popular afirma-se como o maior monumento do século XX. A cidade, sendo o conjunto das casas ligadas entre si. A cidade ideal podendo estabelecer o diálogo da beleza formal entre as casas, onde a arquitetura não termina nas soleiras das portas: é necessário alargar seu conceito, para o de habitat humano.
Mas foi difícil a aceitação da arquitetura moderna. Na exposição das Arts Décoratifs, em Paris, em 1925, criaram até um muro para separá-las do pavilhão do Espírit Nouveau, de Le Corbusier.
Mas, enquanto ele dizia “des canions, des munitions, non, des logis”, marcando a posição e a responsabilidade dos arquitetos, enquanto os arquitetos racionalistas, como Gropius e as siedlungen, souberam fazer propostas contra a guerra, vivia-se o período do nazismo, do fascismo, da preparação para a Segunda Grande Guerra.
No Brasil, como 1embra Lúcio Costa, as classes dominantes tinham uma visão da arquitetura moderna como sendo produto de “comunistas” e “judeus”. E o que se aceitava como “moderno” era o art -déco, caracterizando até mesmo as posturas municipais, como as do Código Artur Saboya, em São Paulo (1934).
Foram também os arquitetos a única categoria ligada internacionalmente, então, através da UIA, em defesa da paz. Mas a guerra e suas seqüelas vieram mesmo assim. Antes mesmo que ela chegasse ao fim, nos primeiros meses de 1945, fazíamos no Brasil o I Congresso de Arquitetura, onde se destaca a participação do colega Eduardo Kneese de Mello. Seus temas: o papel social do arquiteto, na nova sociedade pós -Vargas; éramos poucos, precisávamos forjar novos quadros; arquitetura e indústria: era necessário industrializar a produção para fazer casas para o mundo. Quanta vocação e sensibilidade demonstravam os arquitetos, naquele instante!
Para nós, o Brasil do período pós-45 tinha semelhanças com a década de 20 pós –revolucionária européia. Havia a oportunidade para fazer uma revolução social no Brasil, com a queda de Vargas. Talvez tenha sido um idealismo filosófico a postura que então abracei: conhecer os problemas do povo, consolidar a paz internacional, contrariamente aos que desejavam que a guerra se prolongasse, contra a URSS.
É nessa época que participava politicamente, como militante do PC, desenvolvendo uma prática leninista; projetava o Edifício Louveira; idealizava o estádio de futebol do São Paulo. O que mostra que é possível ser cidadão e artista, ao mesmo tempo. É dessa época também o artigo “Caminhos da Arquitetura”.
Nesse texto, parto da constatação da impossibilidade de o capitalismo resolver a temática social, e obter a harmonia entre as necessidades sociais, a arquitetura e o desenvolvimento histórico do país. Esse artigo é válido até hoje, e o final dele – onde afirmo que até lá, até que a arquitetura tenha a suma glória de ser discutida nas fábricas e nas fazendas, não haverá arquitetura popular – também é válido ainda. Afirmo a necessidade de uma atitude crítica em face da realidade. Mas reservo o direito do arquiteto pensar utopicamente.
Utopia. Brasília cercada de favelas. De formulação tipicamente Ville Radieuse, década de 20, as quatro funções da Carta de Atenas. Mas onde o homem está nelas ? Qual homem ? O que ele é ?
A arquitetura brasileira não tem merecido a atenção dos intelectuais, exceto de um pequeno grupo que se interessa por arquitetura. Mas há, por exemplo, a bela análise do filósofo alemão Habermas, Modernidade versus Pós -Modernidade.
Em 1962, fiz o projeto para o edifício da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, minha universidade, campo cultural onde sempre trabalhei. Este prédio acrisola os santos ideais de então: pensei-o como a espacialização da democracia, em espaços dignos, sem portas de entrada, porque os queria como um templo, onde as atividades são lícitas.
Com o golpe de 1964, e vinte anos depois, os problemas do Brasil são de tal ordem, as cidades que dobrarão de população em vinte anos, o que significa o dobro de casas, o dobro de empregos, que o arquiteto exaspera-se, como profissional.
Hoje, sou conservador. Penso que o simples diálogo casa/ edifício é suficiente para perceber o diálogo cultural de uma época . Creio que o desenho passa a extravasar o edifício, passa a ser desenho ambiental. E por isso sou conservador: não se deve demolir, mas conservar o patrimônio arquitetônico que já temos.
Reafirmo as posições de 1953: só mudanças profundas, na estrutura em que vivemos, poderão trazer o equilíbrio entre as formas arquitetônicas.
Desejo dedicar esta aula a meu discípulo e amigo Rodrigo Lefévre, que morreu recentemente pela função social do arquiteto brasileiro.

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