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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL DEMIN - Departamento de Engenharia de Minas ENG 05102 Geologia de Engenharia II Prof. André Cezar Zingano RELATÓRIO DE CAMPO ROTA DO SOL – RS 486 Daniel da Silva Porto Alegre, 03 de Dezembro de 2015 Introdução A Rota do Sol atravessa todo o estado do Rio Grande do Sul, no sentido Leste-Oeste, iniciando-se no município de Terra de Areia, entroncamento da Rodovia RS 486 com a Rodovia RS 389 - Estrada do Mar - e percorrendo 773 km até São Borja. O trecho visitado, na Rodovia RS 486, localizado na Serra do Pinto, faz a ligação entre a Planície Costeira e o Planalto da Serra Geral. A cerca de 8 km de seu entroncamento com a BR-101 encontra-se afloramento do contato entre derrames basálticos e o arenito Botucatu, posicionado a cerca de 50 metros de altitude. Como na borda sul da bacia, próximo ao início deste perfil geológico, também nesta face dos contrafortes da Serra Geral encontramos a interdigitação de basaltos e sedimentos eólicos da base da bacia. Este limite se dá através de uma linha irregular decimétrica, ao longo da qual misturam-se as lavas básicas e os sedimentos inconsolidados das dunas do Botucatu. O basalto encontra-se intensamente vesiculado. Na descida da Serra do Pinto ocorre um conjunto de derrames de basalto, contrastantes com os derrames riolíticos que afloram no topo dos Aparados da Serra. Normalmente são finos, apresentando um limite irregular entre os derrames, porções do topo intensamente vesiculadas e porções centrais com disjunção colunar bem desenvolvida. O objetivo dessa saída de campo foi conhecer os desafios de se construir uma estrada em encostas e conhecer as estruturas de contenção utilizadas diante de cada situação. Além do perfil geológico do local e dos aspectos relacionados às estruturas de contenção, foi possível visualizar aspectos relacionados à execução das fundações das pontes e à abertura do túnel da reversão. O detalhe de cada ponto visitado está descrito como se segue. Parada 1 – Análise do perfil geológico A proximidade da Planície Costeira e a presença do Rio do Pinto e lagos em uma das margens evidencia a presença de material mole; com a cheia do rio e a erosão da margem, solo e seixos arrastados da serra pela chuva, junto com argila oriunda dos colúvios, formam a várzea. Na margem oposta vimos derrames basálticos, onde nota-se a presença de vesículas. Esse tipo de rocha, basalto vesicular, por ser muito fraco, não serve para leito de estrada. Em termos de estabilidade, podemos dizer que trata-se de uma geologia complicada, o que pode ser evidenciado conforme nos deslocamos em sentido à serra, onde percebemos a presença de colúvios e trechos com fortes tendências ao descolamento. Derrames basálticos Basalto vesicular Região com presença de rio e predominância de várzea Parada 2 – Análise da presença de colúvios Colúvios são solos e fragmentos rochosos transportados ao longo das encostas, devido à ação combinada da gravidade e água das chuvas. Nesse ponto, a existência de colúvio se deve à presença de encostas nos dois lados da rodovia, dessa forma, a mesma encontra-se sobre um aterro. Pra proporcionar a construção do aterro foi utilizado o enrocamento como estrutura de contenção pra reter a movimentação da massa. Enrocamento é um tipo de revestimento permeável, feito com pedra de mão - diâmetros médios acima de 15 cm -, que utiliza rochas resistentes ao intemperismo, de preferência ígneas ou metamórficas como granitos, basaltos, diabásios, etc. Os vazios remanescentes do encaixe deverão ser preenchidos com pedras de dimensões inferiores, porém de forma a não serem arrastadas pela corrente. Dependendo das condições locais, é necessário o rejuntamento das pedras com argamassa, no entanto, providenciando um sistema adequado de drenagem. No ponto visitado, a água superficial flui através de um canal, passa sob a rodovia e desemboca no rio. Estrutura de contenção: Enrocamento Sistema de drenagem: escada hidráulica O início do colúvio é solo residual (a presença de estrias evidencia o deslocamento da massa) Parada 3 – Estrutura de contenção: gabião Gabião é um tipo de estrutura passiva, auto drenante, que, devido à sua construção, permite a passagem da água. Constituída por gaiolas de tela de arame, dependendo da aplicação pode ter formato de caixas, sacos ou colchões que são preenchidos com pedras e empilhadas de acordo com as especificações de projeto. As telas de arame que formam as gaiolas são de aço especial zincado – podendo ser revestida em PVC -, garantindo proteção adequada à corrosão. O enchimento deverá proporcionar o menor índice de vazios no interior do gabião – ao final ele fica em torno de 30%. No local visitado, o gabião utilizado é o tipo caixa; na parte da frente, entre o gabião e o leito da estrada, existe um canal de drenagem e, na parte de trás, pra facilitar a percolação foi colocado brita e, pra evitar que a lama danifique o gabião, uma manta de bidim. Sistema de contenção por gabião – os eucaliptos ajudam a “sugar” a água do solo Parada 4 – Observação de depressão na estrada e fratura no asfalto Depressão é uma concavidade no pavimento que gera deformações localizadas, acentuadas ou não, podendo ocorrer em qualquer porção da superfície do pavimento e principalmente no encontro e travessia de obras de arte. A principal causa da depressão está relacionada à presença de água nas camadas inferiores do pavimento, causada por falhas no sistema de drenagem, infiltração por trincas, dentre outros. A fratura observada, uma ruptura de forma circular, indica descolamento do aterro, que, provavelmente, tenha ocorrido por uma falha no sistema de drenagem. Depressão na margem da estrada Ruptura de forma circular, indicando descolamento de aterro Parada 5 – Estrutura de contenção – tela de espera Esse sistema utiliza rede de aço de alta resistência como barreira para absorver o impacto. É constituído por redes e malhas de aço sustentadas por postes estruturais, que são ancorados geralmente em posição transversal ao maciço - ou com inclinação indicada pelo projeto - por meio de tirantes protendidos, chumbadores injetados com calda de cimento ou outras alternativas técnicas. A malha de aço é maleável e, em caso de queda de uma rocha, ela se deforma, absorve o impacto e acomoda o bloco rochoso - há soluções que suportam até 8 mil kJ de energia. Os cabos de ancoragem normalmente incorporam dispositivos para freio ou dissipação de força. Contenção por tela de espera – serve, inclusive, para conter galhos de árvores Os postes que sustentam a malha são ancorados através de tirantes fixos nas rochas Parada 6 – Fundação da ponte Devido à dificuldade de acesso ao local e por utilizar equipamento de pequeno porte, a execução da fundação dessa ponte foi feita com estaca raiz, que é solução mais indicada para as condições adversas. A estaca raiz é normalmente utilizada quando é necessário atravessar camadas de matacões ou quando a estaca necessita de um trecho com perfuração em rocha; com exceção do diâmetro, que namaioria das empresas é de no máximo 410 mm, sua execução praticamente não tem restrições técnicas. Quando se tem que definir uma fundação, a estaca-raiz é sempre a ultima opção, mas, seja por condições de acesso, por características de solo, ou quando é necessária a penetração em rocha, que nenhuma outra tecnologia conseguiria, ela acaba sendo a única opção. Devido à condição do local, foi usado o método de estaca raiz. São várias estacas de pequeno diâmetro, revestidas por camisas de aço. Parada 7 – Túnel da reversão Foi construído utilizando o método NATM – New Austrian Tunneling Method (em português, novo método austríaco de execução de túneis), que caracteriza-se por obter a estabilização da cavidade por meio de um alívio de pressão controlado e, dessa forma, o maciço que circunda o túnel, que inicialmente atuaria como elemento de carga, passa a se constituir em elemento de escoramento. Nesse processo a primeira atitude a tomar é a execução de investigações geológicas para prévia classificação e divisão do maciço ao longo do seu traçado em até cinco classes de rocha. A escavação é feita obedecendo a uma parcialização adequada da frente de escavação e o avanço se dá em função do comportamento do maciço, que é constantemente monitorado por instrumentos. A face do túnel é em concreto projetado e o maciço foi classificado dentro das classes II, III e IV. No emboque foi utilizado gabião em conjunto com um muro atirantado. Essa opção se deve à impossibilidade de fixação do gabião no solo. Conclusão O grande desafio de se construir uma estrada em encostas, conciliando, à medida do possível, conforto e segurança para o usuário com medidas de proteção ao meio ambiente, não se restringe apenas aos estudos geológicos e geotécnicos de forma a lidar com a complexidade do perfil da região; mais do que isso, esses estudos possibilitam que determinadas técnicas – e tecnologias - sejam aplicadas à solução de problemas. Algumas dessas técnicas foram visualizadas ao longo do trajeto, nos variados métodos de contenção utilizados de acordo com cada situação. A eficiência desses métodos pode ser comprovada, desde os mais simples, como um sistema de drenagem por canais à margem da estrada ou através de tubos de até 25m pra dentro do morro, até sistemas passivos como o gabião, a utilização de tecnologias como os geotêxteis, tirantes e telas de proteção. Ademais, um estudo mais aprofundado do perfil geológico, através de sondagens e coleta de materiais, permite determinar as tecnologias a serem empregadas tanto nas fundações de pontes e viadutos como na perfuração e contenção de túneis, além de permitir, através de instrumentação adequada, o monitoramento das encostas e de maciços rochosos quando da execução de túneis. Em suma, o desafio é grande, porém, somente com o trabalho em conjunto das várias áreas envolvidas e a aplicação adequada das tecnologias existentes ele será vencido. Referências Bibliográficas Target.com.br - Matéria Técnica – NBR 11682: a estabilidade de encostas https://www.target.com.br/Home.aspx?pp=27&c=3018 Artigo – Tecnologia: Gabiões http://techne.pini.com.br/engenharia-civil/108/artigo287069-1.aspx Site Infraestrutura Urbana - Fundações e contenções http://infraestruturaurbana.pini.com.br/solucoes-tecnicas/24/solucoes-tecnicas-2-barreira-para-contencao- de-rochas-277852-1.aspx Revista Téchne – Artigo: Tecnologia – Fundações e contenções http://techne.pini.com.br/engenharia-civil/200/artigo301312-2.aspx Site CRPM Serviços Geológicos do Brasil http://www.cprm.gov.br/Aparados/ponto_20.htm ELIESER ANTONIO ZANELATO. ESCAVAÇÃO DE TÚNEIS - MÉTODOS CONSTRUTIVOS Trabalho de Conclusão de Curso http://engenharia.anhembi.br/tcc-03/civil-09.pdf
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