Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
autor: Rodolfo Langhi revisado por: Marcelo Breganhola 2002 CURSO BÁSICO DE ASTRONOMIA PRÁTICA SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO.................................................................................................. 2 2. OBSERVAÇÃO DO CÉU Localize-se!............................................................................................... 3 Tudo se movimenta..................................................................................................... 4 As diferenças das estrelas............................................................................................ 4 As constelações.................................................................................................. 5 Usando a carta celeste................................................................................................. 7 Constelações da época................................................................................................. 8 Condições para observações astronômicas........................................................... 8 3. SISTEMAS DE MEDIDAS O tempo universal............................................................................................... 11 Magnitude aparente............................................................................................. 11 Tamanho aparente....... .. .. . .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. . .. .. .. .. .. .. .. . 12 Esfera celeste...................................................................................................... 13 Como localizar um astro?.................................................................................... 15 Outra maneira de localizar um astro..................................................................... 17 Medindo os astros............................................................................................... 19 Medindo distâncias aparentes.............................................................................. 20 Medindo distâncias reais............................................................................. 21 A unidade astronômica....... .. .. .. .. .. .. . .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. . 21 O ano-luz........................................................................................................... 22 4. INSTRUMENTOS ASTRONÔMICOS O telescópio........................................................................................................ 24 Tipos de telescopios..................................................................................................... 24 A ampliação de um telescópio.............................................................................. 26 Ampliação máxima de um instrumento................................................................. 26 As oculares................................................................................................ 27 O campo da ocular...... .. .. .. .. .. .. .. .. . .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. . . 28 Medindo a resolução e a luminosidade relativa de um telescópio............................ 29 A Lente Barlow........................................................................................................... 29 Outro acessório importante: a carta celeste................................................................... 30 Localizando os astros na carta celeste.......................................................................... 31 Mapas estelares.................................................................................................. 31 Mapas lunares.................................................................................................... 32 Sugestões para uma observação com telescópios........................................................... 32 5. NOSSO SISTEMA SOLAR A Lua........................................................................................................................ 36 Quando observar a Lua.............................................................................................. 36 O que observar na Lua............................................................................................... 37 O Sol......................................................................................................................... 39 Quando observar o Sol............................................................................................... 39 O que observar no Sol................................................................................................ 40 A observação dos planetas................................................................................. 41 Júpiter....................................................................................................................... 42 O que observar em Júpiter.......................................................................................... 42 Saturno...................................................................................................................... 43 O que observar em Saturno........................................................................................ 43 Marte........................................................................................................................ 44 O que observar em Marte........................................................................................... 44 Vênus........................................................................................................................ 45 O que observar em Vênus........................................................................................... 45 Mercúrio.................................................................................................................... 48 O que observar em Mercúrio...................................................................................... 48 Urano........................................................................................................................ 49 O que observar em Urano........................................................................................... 49 Netuno....................................................................................................................... 49 O que observar em Netuno......................................................................................... 49 Plutão........................................................................................................................ 50 O que observar em Plutão.......................................................................................... 50 Asteróides.................................................................................................................. 50 Como observar os asteróides...................................................................................... 50 Cometas.................................................................................................................... 51 Como observar os cometas ........................................................................................ 51 Meteoros ................................................................................................................... 52 Como observar meteoros ........................................................................................... 53 6. O CÉU PROFUNDO As estrelas................................................................................................................. 55 Estrelas duplas........................................................................................................... 55 Estrelas variáveis.......................................................................................................56 Aglomerados estelares................................................................................................ 57 Aglomerados abertos.................................................................................................. 57 Aglomerados globulares............................................................................................. 58 Nebulosas.................................................................................................................. 59 Galáxias.................................................................................................................... 60 7. FENÔMENOS CELESTES Satélites artificiais...................................................................................................... 63 Chuvas de meteoros.................................................................................................... 63 Ocultações.................................................................................................................. 63 Trânsitos.................................................................................................................... 64 Novas e supernovas.................................................................................................... 64 Eclipses...................................................................................................................... 65 Eclipses solares.......................................................................................................... 65 Eclipses lunares.......................................................................................................... 66 8. PROJETOS Ficha de observação................................................................................................... 67 Gabaritos de observação............................................................................................. 67 Lua............................................................................................................................ 67 Planetas...................................................................................................................... 68 Chuvas de meteoros.................................................................................................... 68 Variáveis.................................................................................................................... 69 Eclipses lunares.......................................................................................................... 69 Eclipses solares.......................................................................................................... 69 Sol............................................................................................................................. 70 Cometas..................................................................................................................... 70 Ocultações................................................................................................................. 71 Analisando detalhadamente cada constelação.............................................................. 71 Astrofotografia........................................................................................................... 72 O CCD...................................................................................................................... 75 9. APÊNDICES Apêndice nº 1 – Nomes das constelações e suas abreviaturas............................... 77 Apêndice nº 2 – A astrologia não é científica............................................................. 79 Apêndice nº 3 – Mapas dos eclipses solares totais e anulares............................... 80 Apêndice nº 4 – Eclipses lunares................................................................................ 81 Apêndice nº 5 – Tabelas de astrofotografia................................................................. 82 Apêndice nº 6 – Mapa simples da Lua........................................................................ 85 10. BIBLIOGRAFIA BÁSICA............................................................................... 86 2 1. INTRODUÇÃO Há milênios o céu estrelado tem fascinado pessoas de todas as idades. Observar e pesquisar um céu repleto de estrelas faz o homem meditar profundamente sobre a sua própria existência. O céu estrelado sempre nos deixa impressionados por possuir tantos pontinhos reluzentes e brilhantes. Conseguiríamos contar as milhares de estrelas que salpicam o céu noturno? O Universo é muito maior do que enxergamos em uma noite! Na verdade, o Universo é muito maior do que nós imaginamos! Por isso, sempre teremos muito mais para aprender. Este curso preparado especialmente para todos os que desejam saber mais a respeito do imenso Universo, tem por objetivo aguçar o nosso anseio pelo aprendizado a respeito desta maravilhosa ciência. Além disso, conhecer um pouco mais sobre o Universo, nos fará entender melhor qual é a nossa real posição e quais são as nossas responsabilidades como seres humanos. Como o próprio título do curso sugere, pretende-se apenas fornecer informações básicas a respeito do cosmo. Apenas aprenderemos uma pequena “beirada” sobre esta praticamente infinita ciência: a astronomia. Mas faremos isto do modo mais prático possível, sem muitas delongas em conceitos teóricos. Por isso, se precisar de mais detalhes sobre teorias em astronomia, procure livros apropriados. Aqui, teremos projetos de verdadeiras observações astronômicas práticas com uma breve explicação teórica antecipada. Durante a leitura, será possível perceber que surgem tabelas, fotos e figuras (a maioria obtida através da Internet, com o seu respectivo endereço eletrônico ao lado de cada uma) que serão úteis para as observações astronômicas. Além disso, dependendo do assunto em questão, utilizaremos uns poucos cálculos matemáticos e simples regras de geometria. Longe de ser perfeito, este curso está sujeito a alterações, e desde já agradecemos quaisquer sugestões, visando sua melhoria. Assim, prepare-se para iniciar uma viagem no Universo do conhecimento cósmico. Tome os primeiros passos para uma observação astronômica de qualidade. Aprenda o funcionamento e o manuseio de um telescópio. Identifique as constelações no céu com suas principais estrelas. Veja como medir o céu estrelado de um modo bem simples. Descubra em que lugares do céu se encontram os objetos celestes que quer observar. Explore os detalhes da superfície do Sol, da Lua e dos principais planetas. Encontre nebulosas, galáxias, aglomerados de estrelas e sistemas de estrelas múltiplas. Realize projetos de verdadeiras observações astronômicas. Estude detalhadamente os fenômenos celestes. Aprenda a fotografar de um modo simplificado o céu noturno. Observe e deleite-se com os tesouros cósmicos que cada região do céu tem a oferecer. Finalmente, perceba através do estudo da astronomia, que esta ciência é uma verdadeira escola de paciência, humildade e de outras qualidades. Portanto, embora este curso seja apenas um conhecimento superficial do que os astrônomos até hoje conseguiram descobrir, acreditamos que tiraremos muito proveito se estudarmos esta ciência, uma das mais antigas da história universal – a astronomia! 3 2. OBSERVAÇÃO DO CÉU Para uma agradável noite de observações astronômicas, temos de ter em mente alguns pontos que nos auxiliarão a desfrutar ao máximo desta fascinante ciência. Como nos localizar? O que são constelações e como identificá-las? Como realizar as observações em boas condições? Localize-se! Antes de qualquer coisa precisamos nos localizar, identificando aproximadamente os pontos cardeais: Leste, Oeste, Norte e Sul. Dê uma breve olhada ao redor. Localizeos lugares mais afastados que você consegue ver. Dando um giro completo em torno de si mesmo, notará que este limite visual nada mais é do que o encontro de terra e céu, lá ao longe... Este “encontro” ou limite é chamado de horizonte. Agora, identifique a região do horizonte onde o Sol se esconde ao anoitecer. Esta região é o Oeste. Abra os braços como se fosse bater asas e deixe-os na posição horizontal. Gire todo o seu corpo de modo que o braço esquerdo aponte para o Oeste. Agora, identifique os pontos restantes: o seu braço direito estará apontando para o Leste, o lugar definido da alva da manhã; na sua frente estará o Norte e atrás de você estará o Sul (fig. 2.1). É claro que esta é apenas uma orientação aproximada, pois para se determinar os pontos cardeais exatos requer-se uma técnica um pouco mais precisa, porém não muito complicada. Leste Norte Sul Oeste Figura 2.1 – Localização aproximada dos pontos cardeais. Outra necessidade para as observações astronômicas, embora nem sempre obrigatório, são as coordenadas geográficas: a latitude e a longitude do local onde nos encontramos, o que pode ser conseguido aproximadamente ao se examinar um mapa rodoviário ou da cidade que contenham as coordenadas, ou ainda, usar um método mais sofisticado de localização: um GPS (Global Position System). 4 Tudo se movimenta Ao observar o céu ao longo das horas, notará que os objetos celestes não estarão mais na posição onde inicialmente você os observou. Isto acontece porque eles estão se movimentando. O Sol, por exemplo, ao se movimentar pelo céu ao longo do dia, provoca a variação da posição das sombras na superfície da Terra, ou de qualquer outro planeta. Mas, por que se dá este movimento? E em que direção? Este movimento se dá porque o nosso planeta está girando e nós estamos em cima dele. Então na verdade, apenas temos a impressão de que os corpos celestes se movimentam. É como se estivéssemos dentro de um ônibus em movimento, e olhando pela janela: perceberemos que as árvores e as casas começam a surgir em uma extremidade da janela e movimentam-se até sumirem na outra extremidade da janela. Na verdade é o ônibus que se move e não a paisagem. O mesmo se dá com os objetos celestes: eles parecem surgir ou nascer em uma extremidade do horizonte (no caso, o Leste) e parecem se pôr em outra extremidade oposta (no caso, o Oeste). Portanto, não apenas o Sol, mas também a Lua, as estrelas, os planetas, todos os corpos celestes nascem no Leste e se põem no Oeste, por causa do movimento da Terra em torno de si mesma. Este movimento do céu é chamado de movimento aparente da esfera celeste (fig. 2.2). Leste Norte Sul Oeste Figura 2.2 – O movimento aparente dos astros. As diferenças das estrelas Olhe para o céu estrelado. Consegue perceber as diferenças entre uma estrela e outra? Se fixar o seu olhar perceberá que elas diferem basicamente em brilho e cor. Algumas brilham mais, outras menos, e ainda outras brilham tão fracamente que nem as enxergamos. Este brilho aparente das estrelas é chamado de magnitude. Quanto a sua coloração, algumas são visivelmente brancas, outras são avermelhadas. A sua cor varia conforme a temperatura da superfície da estrela. As estrelas mais quentes tendem a ser brancas, enquanto as menos quentes são avermelhadas. Conforme a temperatura, as estrelas recebem uma letra para indicar o seu tipo (tabela 2.1). 5 Tipo Coloração Faixa de temperatura (k) Estrela como exemplo O Azul 28.000 a 45.000 δ orionis B Azul 10.000 a 28.000 Rigel (β orionis) A Branco-azulada 10.000 a 7.500 Sirius (α canis majoris) F Branca 7.500 a 6.000 Procyon (α canis minoris) G Branco-amarelada 6.000 a 5.000 Sol K Alaranjada 5.000 a 3.500 Arcturus (α boötis) M Vermelho-alaranjada 3.500 a 2.500 Antares (α scorpii) Tabela 2.1 – Classificação de estrelas conforme sua temperatura. As constelações Ao olhar para as estrelas, os antigos as ligavam com linhas imaginárias e formavam figuras de heróis mitológicos, animais e objetos (como alguém que olha para as nuvens e imagina formatos de rostos, objetos e animais). Ao unir tais estrelas em determinados conjuntos, eles davam nomes para eles e os relacionavam a uma história com estes personagens, facilitando assim a memorização destes conjuntos. Estas figuras imaginárias que unem algumas estrelas são chamadas de constelações. Ao todo, temos no céu inteiro (hemisfério norte e sul) 88 constelações, ou seja, todo o céu que enxergamos de todos os lugares do nosso planeta foi dividido em 88 partes ou regiões, como se cada área destas estivesse costurada umas às outras, ou emendadas, de tal forma que ocupam todo o céu acima de nossas cabeças (veja no apêndice nº 1, tabela 9.1, a lista das 88 constelações). Cada constelação possui o seu nome próprio e ocupa uma determinada área no céu. Por exemplo, temos a constelação de Órion (um caçador, cujo cinto é formado pelas famosas “três marias”), a constelação de Escorpião (um animal), a constelação do Cruzeiro do Sul (um objeto), e assim por diante. Figura 2.3 – Área de Órion no céu. w w w .se ds .o rg /M ap s/ Pi cs /o rio n. gi f 6 Figura 2.4 – Área de Crux no céu. Como as estrelas estão classificadas dentro de suas próprias constelações? Conforme o seu brilho, ou magnitude. A estrela mais brilhante de uma constelação leva a primeira letra do alfabeto grego, α (alfa). A segunda estrela mais brilhante, é a β (beta), e assim por diante (tab. 2.2). Além da letra grega, segue-se o nome da constelação no genitivo e minúsculo, ou seja, o próprio nome da constelação com final “is”, geralmente. Por exemplo, a estrela mais brilhante da constelação do Cruzeiro do Sul (em grego, Crux) é chamada de α cruxis (alfa cruxis); a segunda estrela mais brilhante da constelação de Órion é chamada de β orionis (beta orionis). Porém, nada impede que utilizemos uma nomenclatura em português, tal como: Alfa do Cruzeiro do Sul, e Beta de Órion, conforme os exemplos acima. α Alpha β Beta γ Gamma δ Delta ε Epsilon ζ Zeta η Eta θ Theta ι Iota κ Kappa λ Lambda µ Mi ν Ni ξ XI ο Omicron π Pi ρ Rho σ Sigma τ Tau υ Upsilon ϕ Phi χ Chi ψ Psi ω Omega Tabela 2.2 – Alfabeto grego em letras minúsculas. Além destes nomes, algumas estrelas possuem nomes próprios, que foram dados no decorrer da história da humanidade. Por exemplo, a estrela α orionis (ou alfa de Órion) chama-se também Betelgeuse. A estrela α canis majoris (ou alfa do Cão Maior) chama- se Sírius, que é a estrela mais brilhante do céu noturno, e também a quinta mais próxima de nós (tab. 2.3). w w w .le ar nw ha ts up .c om /a st ro /c on st el la tio ns /c ru x. sh tm l 7 Nome Classificação Constelação Sirius α Canis Major Canopus α Carina Proxima Centauri α Centaurus Arcturus α Boötes Veja α Lyra Rigel β Orion Capella α Auriga Agena β Centaurus Altair α Áquila Betelgeuse α Orion Tabela 2.3 – Nomes próprios de algumas estrelas e suas constelações. Usando a carta celeste Mas ao olhar para o céu infinitamente estrelado, como podemos distinguir estas constelações no firmamento? Para sermos capazes de identificar as constelações no céu estrelado, é necessário utilizar um mapa celeste, conhecido como carta celeste. Ali encontramos as constelações que visualizamos a partir do local em que estamos situados na superfície da Terra. Isto significa queexistem constelações que só são visíveis em outras partes do planeta. Também percebemos na carta celeste os pequeninos círculos pintados de branco ou amarelo que representam as estrelas, e estes círculos variam de tamanho para indicar o brilho (ou magnitude) da estrela; ou seja, as “bolinhas” maiores denotam estrelas mais brilhantes, e as menores, as menos brilhantes. Pegue uma carta celeste (fig. 2.5). Perceberá que ela é na verdade um mapa giratório. Em sua borda, encontramos doze divisões que correspondem aos doze meses com seus respectivos dias, contados de cinco em cinco. Para se obter a representação correta do céu em uma determinada hora, basta segurar a carta com a mão esquerda, sobre a cabeça, alinhando os pontos cardeais, e com a outra mão girar o disco, até fazer coincidir a data do mês (no disco) com a hora (na cobertura fixa) correspondente ao momento da observação astronômica. Por exemplo: para encontrar o aspecto do céu visível às 20h 30min do dia 15 de maio, gire o disco móvel das estrelas até que 15 de maio coincida com a hora de observação, isto é, 20h 30min. Verá então que a constelação de Escorpião está próximo do horizonte Leste; que Cão Maior está a Oeste; e ao Sul, encontra-se o Cruzeiro do Sul. Ao passar das horas, você deve ir girando a carta celeste para corresponder a data ao horário. Ao fazer isso, perceberá na carta que as estrelas estão nascendo no Leste e se pondo no Oeste, exatamente como acontece do céu real. w w w .m ur an et .c om .b r/@ st ro no m ia / C ar ta C el es te 1. ht m Figura 2.5 – Modo correto de se usar uma carta celeste. 8 Constelações da época A aparência do céu noturno varia conforme a época do ano, pois conforme a Terra se movimenta em torno do Sol, ela passa por “cenários” diferentes de estrelas ao fundo do espaço. Como este movimento também provoca as estações do ano, então cada estação terá o seu próprio “cenário celeste”. Assim, as estrelas que vemos às 23:00 no verão, por exemplo, não são as mesmas que vemos no inverno, no mesmo horário. Isto ocorre porque as estrelas nascem quatro minutos mais cedo a cada noite que passa, justamente devido ao movimento do nosso planeta em torno do Sol. Por exemplo, suponhamos que Betelgeuse surgiu no horizonte Leste (ou “nasceu”) hoje às 20:00 h; então amanhã ela nascerá às 19:56 h aproximadamente. Isto provocará uma mudança no aspecto do céu com o passar dos dias e das estações do ano. Para facilitar o reconhecimento das constelações, adotou-se uma constelação principal para cada estação do ano. Ao olhar para o céu e identificar tal constelação principal, torna-se mais fácil localizar as demais, tomando como ponto de partida esta constelação. As constelações principais relacionadas com as estações do ano são: Céu de verão Órion Céu de outono Leão Céu de inverno Escorpião Céu de primavera Pégasus Tabela 2.4 – Constelações das estações do ano. Em que estação do ano nos encontramos agora? De acordo com estação de hoje, pegue a sua carta celeste e identifique a constelação da época lá no céu estrelado. A seguir, localize outras constelações a partir desta principal (lembre-se de uma coisa: o tamanho da constelação na carta celeste é bem diferente do tamanho da constelação verdadeira no céu). A constelação do Cruzeiro do Sul (ou Crux) é visível para nós na maior parte do ano, o que nos facilita localizar outras constelações, já que podemos utiliza-la como ponto de partida. Condições para observações astronômicas Quais são algumas condições para se realizar uma boa observação astronômica? São muitas, mas as mais comuns são: condições atmosféricas, iluminação externa, local da observação e conforto. Analisemos cada uma delas. Costuma-se dizer que um dos grandes inimigos do astrônomo são as nuvens. Elas impedem que a luz dos objetos celestes que parte lá do espaço sideral chegue finalmente na retina de nossos olhos. Mas, existem períodos do ano que merecem atenção especial para observações astronômicas. Por exemplo, nas épocas das grandes w w w .p a. m su .e du /a br am s/ P ro gr am s/ Pu bl ic .h tm l Figura 2.6 – Órion, com sua figura mitológica. 9 chuvas (verão) dificilmente o céu estará aberto para realizarmos uma pesquisa, pois as nuvens surgem em grandes quantidades, embora nestas épocas, depois de uma forte chuva, o céu pode ficar incomparavelmente limpo. Por outro lado, nas épocas de intenso frio (inverno) a quantidade de nuvens torna-se reduzida, o que facilita as observações, sem contar que o ar geralmente fica mais seco, o que evita a formação de orvalho na lente do telescópio. Outro fator que influencia negativamente nas observações é a turbulência do ar. O que vem a ser a turbulência? Nós estamos como que mergulhados na atmosfera da Terra, que é composta de gases que formam o ar que respiramos. É como se estivéssemos mergulhados na água de uma piscina, tentando observar os objetos acima da superfície. Ao ser aquecido pelo Sol, o ar atmosférico começa a se movimentar muito, e isto continua durante toda a noite. Embora a olho nu não percebamos este agito e o céu possa estar bem estrelado, quando olhamos através de um telescópio percebemos que a imagem fica trêmula e mal definida, semelhante ao que acontece quando olhamos através do ar quente que sobe de uma fogueira, ou de um asfalto aquecido pelo Sol. Esta turbulência é muito freqüente nas noites de verão, uma vez que a atmosfera foi bem aquecida pelo longo dia nesta estação do ano. Tendo em vista o prejuízo que a turbulência traz à qualidade da imagem, torna-se necessário o cuidado de não montar o telescópio sobre uma área que foi muito aquecida pelo Sol durante o dia, como um telhado, por exemplo, pois nas primeiras horas da noite, as telhas quentes aquecerão o ar bem acima delas, e qualquer objeto observado que estiver na direção logo acima do telhado, sofrerá turbulência na imagem. Temperatura é diferente de umidade. Assim, o dia pode estar quente, mas também pode estar bastante úmido, ou o dia pode estar frio e o ar muito seco. Portanto, noites em que o ar se encontra seco e frio são as melhores para se realizar trabalhos astronômicos que exigem boa qualidade de imagem, como fotografias dos astros (astrofotografia). Grandes quantidades de partículas em suspensão no ar (poeira, gotículas de água, orvalho) fazem com que a luz proveniente do espaço sofra muitos desvios, diminuindo a qualidade da imagem observada através do telescópio. Estas são as noites em que a olho nu o céu parece estar limpo, mas ao olhar pelo telescópio, a imagem não tem definição, o que impede de usarmos fortes aumentos no telescópio. Quando isto ocorre, os iniciantes têm a tendência de culpar o aparelho, quando na verdade é o ar atmosférico que está prejudicando as observações. Esta seria uma ocasião para se observar os astros com baixas ampliações. Não só as nuvens, a turbulência, ou a umidade atrapalham, mas também a iluminação externa. Locais com luzes fortes ao redor reduzem muito a qualidade de um céu estrelado, por mais limpo que possa estar. Isto é chamado de poluição luminosa. Portanto, apague as luzes! Para avaliarmos a qualidade do céu noturno para observação, costuma-se usar uma escala, conforme apresentada abaixo. Nesta escala, quanto menor o número, melhor a imagem. Ela usa como referência alguns pormenores na superfície lunar ou a sua borda, conforme observada através de um telescópio, notando-se a turbulência na imagem conforme a seqüência seguinte: 10 1. Imagem imóvel, de excelente qualidade; 2. Pequena oscilação da imagem ou ondulações lentas; 3. Agitação da imagem com brevevisão dos pormenores; 4. Rodopios e misturas de contrastes e pormenores; 5. Perturbação intensa, com invisibilidade dos pormenores. Tabela 2.5 – Escala para avaliação da qualidade da atmosfera. Onde observar? Locais em grandes altitudes são os melhores, enquanto que nos litorais, por exemplo, a qualidade do céu noturno cai consideravelmente, pois a luz do objeto celeste deve atravessar uma camada mais grossa de atmosfera antes de atingir nossos olhos. Não se esqueça também que os locais mais afastados dos centros das cidades são os melhores, pois estão mais longe da iluminação urbana. Como observar? O conforto também conta muito, já que se pretende ficar em posições diferentes das que estamos acostumados no dia a dia. Para isso, um banco de altura apropriada impedirá dores nas costas durante todo o tempo da observação astronômica. Além disso, é bom lembrar que em noites frias, uma boa bebida quente não alcoólica ajuda a manter-nos aquecidos, não esquecendo também de levarmos agasalhos sobressalentes. 11 3. SISTEMAS DE MEDIDAS Tudo à nossa volta parece ter sido cuidadosamente medido e calculado. O céu estrelado não deixa de ser uma espantosa prova disso. Portanto, para conseguirmos localizar determinados astros, conhecer seus movimentos, seu brilho, suas dimensões, seus horários corretos de observação, e suas características, temos de usar alguns sistemas de medidas, bem como um pouco de matemática e geometria simples. O tempo universal Conforme a Terra vai girando em torno de si mesma, o Sol vai iluminando uma parte dela, e a outra fica na escuridão: são os dias e as noites. O resultado é que cada lugar do mundo possui o seu próprio horário, pois enquanto em alguns países o céu ainda se encontra claro, em outros já é noite. Isto é chamado de fuso horário. Alguns periódicos de astronomia fornecem dados de certos fenômenos astronômicos que poderão ser observados por todos. Por exemplo, um determinado eclipse lunar começará em certo dia às 23h 30min. Mas, se este fenômeno será observado por tantos países, o horário fornecido é para quem? Justamente para se eliminar este problema, adotou-se um horário padrão que serve para todos: o tempo universal (o tempo universal é na verdade o horário local do meridiano de Greenwich). Assim, os fenômenos são informados em TU (Tempo Universal), e cada país se encarregará de transformar o horário em TU para seu próprio horário local, ou TL (Tempo Local). Por exemplo, para o local onde nos encontramos, em São Paulo, temos que subtrair 3 horas do TU. Desta forma, se ouvirmos que um eclipse lunar ocorrerá às 23:30 TU, na verdade para nós ele ocorrerá às 20:30 TL (pois 23:30 menos 3h é igual a 20:30). No entanto, poderemos estar dentro do “horário de verão”, que nos obriga avançar uma hora no relógio. Quando isto ocorrer, não poderemos subtrair 3h do TU, mas sim apenas 2h. Desta maneira, se um eclipse lunar ocorrerá às 23:30 TU, e se estivermos no “horário de verão”, então o eclipse na verdade ocorrerá às 21:30 TL para nós. Portanto, os horários fornecidos para fenômenos astronômicos geralmente aparecerão em TU, e nós precisaremos fazer a conversão para o horário de nosso local de observação, ou seja, para TL. Magnitude aparente Lembra-se do termo magnitude? Ele é usado para indicar o quanto um determinado astro está brilhando para nossos sentidos visuais. Assim, o valor da magnitude está relacionado com o brilho de um objeto celeste. Mas, o valor da magnitude é inversamente proporcional ao brilho. Isto significa que quanto maior o valor da magnitude, menor é o brilho do astro, e vice-versa. Assim, uma estrela de magnitude 2, por exemplo, é mais brilhante do que uma estrela de magnitude 3. Utiliza-se como referência uma estrela chamada Vega, da constelação de Lira, cuja magnitude é aproximadamente 0 (zero). Estrelas mais brilhantes que Vega possuem magnitudes negativas (-1, -2, -3,...) e estrelas menos brilhantes que ela, possuem magnitudes positivas (+1, +2, +3,...). Em excelentes condições do céu, nosso olho nú consegue distinguir objetos celestes de até no máximo magnitude +6. 12 Esta designação de brilho é chamada de magnitude aparente, pois estrelas de maior brilho não necessariamente estão mais próximas de nós, ao passo que estrelas menos brilhantes podem estar bem mais próximas. Portanto, só porque determinada estrela brilha mais que a outra, isto não significa que obrigatoriamente ela está mais próxima de nós. Por exemplo, considere duas lâmpadas exatamente iguais de 100 Watts cada uma. Coloquemos uma a apenas 1 metro de nós, e a outra a 100 metros. Ao observa-las, os brilhos aparentes delas são diferentes, pois nos dá a impressão de que a mais próxima brilha mais e a afastada brilha menos, mas na verdade, as duas são de 100 Watts e, portanto, possuem o mesmo brilho. Estrelas são semelhantes, pois além de possuírem distâncias diferentes em relação à Terra, também possuem um brilho próprio diferente umas das outras (tab. 3.1). Sol Lua cheia Sirius Canopus Arcturus Vega Rigel Altair -26.72 -12.70 -1.46 -0.72 -0.04 +0.03 +0.12 +0.77 Tabela 3.1 – Magnitudes aparentes de alguns dos corpos celestes mais brilhantes. Tamanho aparente O Sol é maior que a Lua? Depende do ponto de vista. Ao compararmos os dois no céu, temos a impressão de que ambos possuem o mesmo tamanho, ou diâmetro, pois até mesmo em eclipses solares totais, a Lua encobre completamente o disco solar. No entanto, esta é apenas uma dimensão aparente, pois na verdade o Sol é mais de um milhão de vezes maior que a Lua, em volume. Acontece que o Sol está muito afastado de nós, a uma distância física de cerca de 150 milhões de quilômetros, e a Lua está bem perto de nós, a uns 384 mil quilômetros. Como exemplo, podemos segurar com o braço esticado uma bola de tênis, e ao longe olharmos para uma bola de futebol no chão. Dependendo da distância que estivermos da bola de futebol, teremos a impressão de que as duas bolas possuem o mesmo tamanho aparente, embora na verdade, a bola de futebol seja bem maior. Também, com o braço esticado e um dos olhos fechados, podemos usar o nosso dedo para encobrir o diâmetro todo da Lua cheia, e isto não significa que o nosso dedo possui o mesmo diâmetro real da Lua! É apenas uma questão de diferença na distância dos objetos em questão. O mesmo se dá ao olharmos para o céu, pois é difícil para nós daqui da Terra percebermos a noção de distâncias dos corpos celestes. Por isso, temos a impressão de que todos os astros estão na mesma distância de nós, como se estivessem “grudados” numa enorme esfera transparente bem acima de nossas cabeças e nós estivéssemos bem no centro desta esfera. Portanto, assim como acontece com a magnitude, o tamanho dos astros que enxergamos também é aparente, e só porque um astro aparenta ser do mesmo tamanho que outro, ele na verdade pode não ser, como acontece com a Lua e o Sol, por exemplo. Por outro lado, um astro pode parecer tão pequenino e frágil, mas na verdade é muito maior do que imaginamos, como acontece com as estrelas, por exemplo, onde encontramos algumas que são dezenas de vezes maiores que o próprio Sol, a nossa estrela. Então, se o Sol é apenas uma estrela comum, por que brilha tanto assim, bem mais do que as outras estrelas no céu? Lembre-se do que acabamos de considerar: ele só brilha tanto assim por estar bem mais perto de nós do que qualquer outra estrela, e por 13 isso todas elas apenas nos parecem pequeninos pontos de luz no céu, por estar tão afastadas de nós. Esfera celeste Como já consideramos, ao olharmos para o céu estrelado, temos a impressão de que nós estamos situados bem no centro de uma enorme esfera transparente e giratória, em que os astros estão afixados em sua superfície, toda ela divididaem 88 regiões ou áreas com suas respectivas constelações, formando uma enorme abóbada celeste. Aliás, era justamente esta a idéia que os antigos astrônomos tinham a respeito do céu noturno, e seus cálculos astronômicos baseavam-se nesta teoria da esfera celeste, sendo que muitos conceitos e cálculos são usados até hoje e funcionam muito bem (fig. 3.1). Quais são algumas das características desta esfera celeste? É importante estudarmos algumas delas para nos familiarizarmos, pois estes conceitos são muito utilizados em astronomia. Incline sua cabeça para o céu e observe o ponto mais alto acima de você. Este ponto mais alto do céu é chamado de zênite. É como se uma linha imaginária saísse de sua cabeça em direção ao alto e cruzasse a superfície da esfera celeste neste ponto. Agora, imagine uma linha que parte desde o ponto cardeal Sul, percorre a superfície circular da esfera celeste, cruza o zênite e termina no ponto Norte. Esta linha curva imaginária, na verdade um arco de circunferência, é o meridiano celeste. Com o decorrer das horas, todos os astros seguem os seus movimentos de Leste para Oeste e sempre acabam cruzando esta linha. Este cruzamento é chamado de passagem pelo meridiano. Por exemplo, o Sol cruza o meridiano celeste sempre ao meio-dia (fig. 3.2). Se observarmos noite após noite e dia após dia, notaremos que existe uma faixa no céu, por onde percorrem o Sol e a Lua, no decorrer das horas. Eles nunca estarão, por exemplo, pelos lados do horizonte Sul, ou do horizonte Norte, aqui em São Paulo. Figura 3.1 – A esfera celeste. Figura 3.2 – Ficando de pé na superfície da Terra, temos a impressão de que estamos em cima de um enorme plano circular, delimitado pela linha do horizonte, e que acima de nossa cabeça está metade de uma enorme esfera giratória – a esfera celeste. 14 Parece que eles percorrem um caminho pré-determinado. Este caminho, ou faixa imaginária, é chamada de faixa da eclíptica, que não é percorrida apenas pelo Sol e pela Lua, mas também pelos planetas e asteróides principais, ao nascerem no Leste e se esconderem no Oeste. Nesta faixa da eclíptica, encontramos o caminho que o Sol percorre, que é uma linha imaginária, chamada linha da eclíptica ou simplesmente eclíptica (o nome eclíptica significa “a linha dos eclipses”). No caminho da eclíptica, existem várias constelações, sendo ao todo 12 delas, que deram origem à crença pagã da astrologia (veja no apêndice nº 2 por que a astrologia não é confiável). Na verdade, o Sol atravessa 13 constelações no decorrer do ano ao percorrer a eclíptica, e estas são chamadas de constelações do zodíaco, e leva este nome porque a maioria destas constelações possui nomes de animais (do grego, “zodiakos” significa “circulo dos animais”, e se refere à faixa do céu por onde passam o Sol, a Lua e os planetas, através das constelações que representam animais, com exceção da constelação da Balança, ou Libra). – tab. 3.2. Aquarius Capricornus Libra Sagittarius Virgo Aries Gemini Ophiuchus Scorpius Cancer Leo Pisces Taurus Tabela 3.2 – As 13 constelações zodiacais. Figura 3.3 – Na esfera celeste, encontramos a faixa da eclíptica, onde percorrem todos os planetas, a Lua e grande parte dos asteróides. Nesta faixa vemos a linha da eclíptica propriamente dita, que é percorrida pelo Sol, com o passar do tempo. Note que a eclíptica cruza a linha do meridiano, onde o Sol a atravessará sempre ao meio-dia do local. 15 Como localizar um astro? Conforme esta “esfera celeste” vai girando, os astros e as constelações vão nascendo no Leste e se pondo no Oeste, com um rumo fixo. Como podemos medir o movimento destes astros, suas distâncias, e tamanhos aparentes? Utilizaremos um sistema de medida desenvolvido há muito tempo atrás: uma geometria simples. Olhe para o horizonte ao seu redor e sinta-se como estando de pé bem no centro de um enorme círculo plano no solo, cuja extremidade é o próprio horizonte. Sabemos que uma volta completa na circunferência é de 360°, e que se der uma volta completa em torno de si mesmo, esta volta foi de 360°, se der meia volta é de 180°, e finalmente se der um quarto de volta, é de 90°. Mas, a partir de que ponto é iniciado a contagem dos graus? É justamente a partir do ponto cardeal Norte (fig. 3.4). Localize o ponto Norte no horizonte a sua volta. Fique de frente para ele e vá girando o corpo lentamente para a direita. Contando desde o Norte, teremos 90° (ou um quarto de volta) até o Leste; 180° (ou meia volta) até o Sul; e 270° (ou três quartos de volta) até o Oeste. Esta medida circular, em graus, contada a partir do Norte para a direção do Leste até completar uma volta é chamada de azimute. Outra medida que precisamos conhecer é em que altura do céu um determinado astro se encontra. Por exemplo, um astro que está exatamente no horizonte, possui 0° de altura. Outro astro que está exatamente no zênite possui 90° de altura, e outro que está a meio caminho entre o horizonte e o zênite, possui 45° de altura (fig. 3.5). Figura 3.4 – Contando os graus de azimute a partir do ponto cardeal norte. 16 Deste modo, fica muito simples e fácil localizar um astro quando conhecemos o seu azimute e sua altura no momento que fazemos a observação. Estas são chamadas de coordenadas altazimutais (fig. 3.6). Mas os astros não se movimentam? Sim, e a cada segundo estão numa posição diferente do céu. Por isso, as coordenadas altazimutais de um determinado astro variam conforme o passar dos minutos. É como se estas coordenadas altazimutais estivessem impressas em uma outra esfera celeste transparente e fixa, e os astros ficassem se movendo atrás deste sistema de coordenadas. A cada momento cada astro teria uma coordenada altazimutal diferente. Figura 3.5 – Medindo a altura de pontos diferentes. Aqui temos duas alturas diferentes (45º e 90º), mas pode-se medir qualquer altura numa faixa de 0º a 90º. Figura 3.6 – As coordenadas altazimutais. O observador (O) posicionado na superfície da Terra tem acima de sua cabeça o zênite (Z) e ao seu redor os pontos cardeais (N, E, S e W). O meridiano celeste (P) passa por N, Z e S. Quais as coordenadas do astro R no céu? O azimute (A) é contado a partir de N, passando por E, por S e por W, até chegar num ponto do horizonte C, onde parte uma linha curva em direção ao astro R. A altura (h) deste astro é medida pelo ângulo desta linha. 17 Outra maneira de localizar um astro Existe ainda um outro tipo de sistema de coordenadas que facilita encontrar uma estrela ou astro. Este outro sistema não muda com o passar dos minutos, pois estão praticamente fixos para cada estrela no céu. Este sistema é muito simples: é como se fosse a latitude e longitude do nosso planeta. Por exemplo, um certo local na superfície esférica do planeta possui uma determinada localização, dada em latitude e longitude. Porém, caso se trate de um veículo móvel (um ônibus, por exemplo) sua latitude e longitude mudarão com o passar dos minutos, pois está se movendo na superfície esférica do planeta. Por outro lado, caso se trate de um objeto fixo (um prédio, por exemplo) sua latitude e longitude não mudarão com o passar do tempo. longitude latitude Equador Meridiano de Greenwich Figura 3.7 – Coordenadas terrestres. Como o céu acima de nossas cabeças está sendo considerado uma esfera, também podemos dizer que cada estrela possui sua própria coordenada fixa e particular (além das coordenadas altazimutais). Este sistema é chamado de coordenadas equatoriais. Assim como na Terra usam-se a latitude e a longitude, nestas coordenadas,usam-se a ascensão reta e a declinação. A ascensão reta é medida em horas (h), minutos (min) e segundos (s), enquanto que a declinação é medida em graus (º), minutos (’) e segundos (”). Mas atenção: as horas, minutos e segundos da ascensão reta não têm nada que ver com horas, minutos e segundos de tempo. Do mesmo modo, os minutos e segundos da declinação não têm nada que ver com os minutos e segundos de tempo. Mais tarde aprenderemos detalhes a respeito destes sistemas de medidas. Por enquanto, basta saber que estas coordenadas não mudam com o passar dos minutos de tempo, a não ser que se tratem de objetos celestes que se movem pelas estrelas que enxergamos, assim como se dá com um veículo em movimento na Terra que tem suas coordenadas mudadas conforme a sua posição na superfície do planeta no decorrer do tempo. Quais são estes astros que se movem em relação às estrelas de fundo? São eles: Lua, Sol, planetas, asteróides e satélites artificiais. Todos eles estão a cada momento num ponto diferente do nosso céu, pois se movem por entre as estrelas da esfera celeste com o passar do tempo – uns mais velozmente (satélites artificiais) e outros mais vagarosamente (Sol e planetas). Por isso, as coordenadas equatoriais deles variam com o passar dos dias, ou das horas. Porém, para as estrelas, as coordenadas equatoriais são praticamente fixas, mantendo seus valores por muitos e muitos anos, pois por estarem tão afastadas de nós, não percebemos um deslocamento considerável (tab. 3.3). 18 Coordenadas Nome A.R. h min s Dec. º ’ Constelação Sirius 06 44 57 -16 43 Canis Major Arcturus 14 15 26 +19 12 Boötes Vega 18 36 49 +38 47 Lyra Rigel 05 14 20 -08 12 Orion Betelgeuse 05 54 56 +07 24 Orion Sol (em 21/03) 00 00 00 00 00 Pisces Sol (em 21/06) 06 00 00 +23 27 Taurus Sol (em 22/09) 12 00 00 00 00 Virgo Sol (em 22/12) 18 00 00 -23 27 Sagittarius Lua - - (Variável) Planetas - - (Variável) Tabela 3.3 – Coordenadas equatoriais de alguns astros. A estrela Sirius, por exemplo, poderá ser encontrada nas coordenadas equatoriais de AR=06h 44min 54s e dec.= -16º 43’. O Sol, porém, estará em coordenadas diferentes a cada período de tempo, acontecendo o mesmo com a Lua e os planetas, pois eles mudam a sua posição em relação às estrelas com o passar do tempo. As coordenadas impressas nas cartas celestes são as coordenadas equatoriais, com sua ascensão reta e declinação. Desta forma, quando possuímos a ascensão reta e a declinação de um astro qualquer, num determinado dia (um cometa, por exemplo), basta marcarmos a posição deste astro na carta celeste e o procurarmos no céu, pois já saberemos de qual estrela ele estará mais próximo, o horário que vai surgir no horizonte Leste, ou o horário que vai se esconder no horizonte Oeste, o horário que estará no ponto mais alto do céu, e outros detalhes que poderemos obter por simplesmente girarmos a carta celeste. Portanto, podemos localizar um objeto celeste de dois modos diferentes: utilizando o sistema de coordenadas altazimutais ou o sistema de coordenadas equatoriais. Quais delas é a mais usada? Depende da forma como o tubo do telescópio está montado. Ele pode possuir uma montagem equatorial ou uma montagem altazimutal, ou ainda, se for um telescópio eletrônico, poderá conjugar os dois sistemas e poderemos localizar o astro utilizando qualquer um destes sistemas, com o simples apertar de um botão. Figura 3.8 – A esfera celeste é como uma abóbada com a Terra no centro. A ascensão reta é contada como se conta a longitude terrestre. A declinação é contada como se conta a latitude terrestre. w w w .m ea de .c om /m an ua ls /e tx 90 ec /im ag es /c el es tia ls ph er e. gi f 19 Medindo os astros Ao localizarmos algum astro, nem sempre é costume dizer que ele está a 150 milhões de quilômetros, ou que possui um diâmetro de 12 mil quilômetros, pois estas são medidas reais de tais astros. Quando realizamos observações astronômicas, usamos termos aparentes. Lembra-se da comparação do tamanho do Sol e da Lua? Embora na realidade, um seja muito maior que o outro, estes astros aparentam ter o mesmo tamanho para nós, lá no céu. Assim, a questão é: como medir o tamanho aparente dos astros? Conforme vimos, o céu pode ser dividido em graus de arco da geometria. Assim, uma volta em torno de nós mesmos, resulta em 360°, e dando meia volta, resulta em 180°; e contando desde o horizonte até o ponto mais alto do céu (zênite) teremos 90°, e se continuarmos desde o zênite até o horizonte oposto, teremos mais 90°, totalizando assim 180° de um ponto no horizonte até o ponto oposto do mesmo, passando pelo zênite (fig. 3.5). Cada grau de arco é dividido em 60 minutos de arco (ou 60’), e cada minuto é dividido em 60 segundos de arco (ou 60’’). Deve-se tomar o cuidado para não confundir minutos de arco com minutos de tempo, e o mesmo se dá com os segundos. Minutos de arco é uma coisa bem diferente de minutos de tempo, e o mesmo se dá com os segundos. É desta maneira que medimos as distâncias e os tamanhos dos objetos celestes: utilizando os graus de arco da geometria. Então, qual é o tamanho aparente da Lua? Ela mede cerca de meio grau, ou 0.5°, ou 30’ (trinta minutos de arco) de diâmetro. E o Sol? Também possui aproximadamente o mesmo tamanho aparente. Segue abaixo uma tabela onde constam os tamanhos aparentes de alguns astros. Nome Tamanho aparente Estrelas Pontos luminosos sem diâmetro definido Urano 4” Saturno No máximo 20” Marte No máximo 25” ou quase 0.5’ Lua 0.5º ou 30’ Sol 0.5º ou 30’ Nebulosa de Orion 66’ x 60’ ou 1º 6’ x 1º Constelação inteira de Orion Aproximadamente 27º x 22º Desde o horizonte até o zênite 90º Tabela 3.4 – Tamanhos aparentes de alguns astros. Uma volta completa possui 360º. Meia volta possui 180º. 1º (um grau) é dividido em 60 partes iguais, chamadas minutos (’). 1’ (um minuto) é dividido em 60 partes iguais, chamadas segundos (”). Assim, 1º possuirá 3600”, pois cada grau possui 60’ e cada minuto possui 60”. 20 Medindo distâncias aparentes Quando falamos de distâncias aqui, não nos referimos às distâncias reais, mas novamente, às distâncias aparentes, e como são medidas em graus de arco (ou ângulos), é mais correto chamá-las de distâncias angulares. Já vimos que o diâmetro aparente da Lua, por exemplo, é de meio grau, ou seja, a distância angular de um ponto na borda da Lua até a outra borda oposta é de meio grau, ou trinta minutos de arco (fig. 3.9). Lua 0.5° ou 30’ Sol 0.5° ou 30’ Figura 3.9 – Medidas angulares dos diâmetros do Sol e da Lua. A distância angular entre o horizonte e o zênite é de 90°. Calcule quantas luas equivalem a esta distância. Precisaríamos de 180 luas para preencher esta distância de 90º, pois o diâmetro dela é de meio grau. Em outras palavras, enfileirando 180 luas lado a lado iniciando no horizonte, chegaríamos até o zênite. Mas, como medir as distâncias entre os objetos celestes, mesmo que de uma maneira aproximada? É muito simples: temos um instrumento de medida fantástico que nos auxiliará sempre que precisarmos – a nossa mão. Se esticarmos o braço e mantivermos os dedos juntos, temos o equivalente a 10°, ou seja, 20 vezes o diâmetro aparente da Lua ou do Sol. Abrindo livremente o polegar, a distância abrangida é da ordem de 15°, enquanto que todos os dedos estando largamente abertos, alcança-se 20° ou 25º. Abaixo, seguem algumas outras sugestões de medidas. Figura 3.10 – Medindo o céu com as próprias mãos. Para treinar o uso desta técnica, experimentemedir distâncias entre estrelas conhecidas, ou mesmo tamanhos de constelações inteiras. Confirme, por exemplo, como a distância do horizonte até o zênite é realmente de 90° utilizando o seu palmo aberto e com o braço estendido. A distância angular entre as estrelas que formam o madeiro maior do Cruzeiro do Sul, por exemplo, é de 6° aproximadamente. Entre a estrela beta do Centauro (Hadar) e alfa do Cruzeiro do Sul (Acrux), a distância angular aproximada 21 é de 12°. Entre alfa e beta do Centauro o ângulo é de 4,5°. Entre as estrelas mais brilhantes da constelação de Órion - Rígel e Betelgeuse - a distância angular é de aproximadamente 18,5°. Esse último valor, portanto, corresponde quase a uma mão espalmada. Medindo distâncias reais Até agora vimos os conceitos sobre como medir distâncias aparentes na esfera celeste, ou seja, ângulos que informam o quanto um astro está distante do outro quando olhamos para o céu. E quanto às distâncias verdadeiras que separam um astro do outro no espaço sideral? Esta distância é medida em quilômetros e representa o quanto os astros estão distanciados uns dos outros fisicamente e não aparentemente. Quando olhamos para o alto, no céu noturno, parece que todos os astros estão a uma mesma distância de nós, como se estivessem fixados numa abóbada giratória, bem alto acima de nossas cabeças. Por exemplo, ao olharmos a Lua no céu ao lado do brilhante planeta Júpiter e com algumas estrelas ao fundo, temos a impressão de que todos estes astros estão a uma mesma distância de nós, observadores terrestres. Isto ocorre porque eles estão tão longe de nós (praticamente no infinito), que nossos olhos não conseguem distinguir uma profundidade entre um astro e outro. No entanto, sabemos que a Lua está a uma distância de uns 384.000 km, mas Júpiter está a 628.000.000 km de nós, e as estrelas a distâncias incrivelmente grandes, que para representá-las em quilômetros, usaríamos muitos “zeros”. Numa mesma constelação também ocorre o mesmo: algumas estrelas estão mais próximas de nós, outras bem mais afastadas. Veja por exemplo, a constelação do Cruzeiro do Sul com suas cinco estrelas principais: embora todas elas façam parte de uma só constelação (dividida pelo homem), umas estão mais próximas de nós do que as outras. Estas são, portanto, as distâncias reais dos astros. A unidade astronômica Para facilitar as medidas de distâncias somente dentro do Sistema Solar, convencionou-se que a distância média Terra-Sol (149.600.000 km) seja uma distância padrão. Esta distância foi chamada de unidade astronômica ou simplesmente UA Assim, a distância média Terra-Sol vale 1 UA; as distâncias dos planetas mais afastados do Sol do que a Terra, possuem UA maior do que 1; as distâncias dos planetas mais próximos do Sol do que a Terra, possuem UA menor do que 1. O mesmo se dá se quisermos avaliar as distâncias de qualquer corpo astronômico no Sistema Solar. Por exemplo, se um cometa estiver a uma distância de 1,8 UA, isto significa que ele está 1,8 vezes mais distante do Sol do que a Terra. Quando este cometa se aproximar do Sol e estiver com uma distância de 0,5 UA, ele estará apenas na metade do caminho entre o Sol e a Terra (tab. 3.5). 22 Planeta Distância média do Sol em km Distância média do Sol em UA Mercúri o 57.900.000 0.387 Vênus 108.200.000 0.723 Terra 149.600.000 1.000 Marte 227.900.000 1.524 Júpiter 778.200.000 5.203 Saturno 1.428.000.000 9.539 Urano 2.869.200.000 19.188 Netuno 4.495.200.000 30.060 Plutão 5.905.000.000 39.430 Tabela 3.5 – Distância real dos planetas do Sistema Solar. O ano-luz Como as distâncias no espaço começam a ficar cada vez maiores, torna-se impossível de entendê-las se continuássemos a usar o quilômetro como unidade de medida, ou ainda a própria UA. Por exemplo, a estrela mais próxima de nós é Próxima Centauri, com uma distância de aproximadamente 40 trilhões de km. Fica difícil para a nossa mente imaginar o quanto esta distância representa, pois vivemos num planeta de “apenas” 12.756 km de diâmetro. Ora, a própria distância entre nós e o Sol já dificulta a compreensão, que é de uns 150 milhões de km. Por isso, criou-se esta unidade de medida astronômica: o ano-luz. Um ano luz equivale a 9 trilhões e 500 bilhões de km. Como o ano-luz funciona? Bem, a luz possui uma velocidade de movimento, assim como tudo o que se move, porém, ela é o que existe de mais rápido no Universo, com uma velocidade de uns 300.000 km por segundo. Se pudéssemos viajar a tal velocidade, poderíamos dar umas 7 voltas em torno da Terra em apenas um segundo! Pois bem, a luz que parte do Sol viaja com sua incrível velocidade e para chegar até nós, 150 milhões de km depois, leva cerca de 8 minutos para percorrer esta distância. Assim, dizemos que o Sol está a uma distância de 8 minutos-luz de nós. Quanto à estrela mais próxima, Próxima Centauri, sua luz leva cerca de 4 anos para percorrer a incrível distância de 40 trilhões de km. Dizemos que ela está a 4 anos-luz de nós. Mas existem estrelas tão distantes que sua luz leva até milhões ou bilhões de anos para nos atingir. Isto significa, que ao olharmos para o céu estrelado, estamos vendo as luzes das estrelas que partiram delas há muitos anos no passado e só agora que estão chegando aqui. A luz do próprio Sol, por exemplo, leva cerca de 8 minutos para sair de sua superfície e chegar até a retina de nossos olhos; assim, quando você olhar para o Sol, estará vendo como ele foi há 8 minutos no passado, pois a luz dele que chegou até o seu olho partiu há 8 minutos atrás! Portanto, para cada estrela que olharmos, estaremos vendo um passado diferente do Universo! 23 Nome Distância da Terra em ano-luz Sol 0.000015 (8.2 minutos-luz) Proxima Centauri 4.2 Estrela de Barnard 6.0 Wolf 359 7.7 Sirius 8.6 Nebulosa Saco de Carvão na direção da constelação do Cruzeiro do Sul 550 Núcleo de nossa galáxia 30.000 Galáxia de Andrômeda 2.200.000 Quasar G2237 + 0305 8.000.000.000 Tabela 3.6 – Distâncias de alguns objetos celestes. 24 4. INSTRUMENTOS ASTRONÔMICOS Quais são os melhores instrumentos? Como aproveitar ao máximo a capacidade de um telescópio? Quais os aumentos apropriados para uma boa observação? Como utilizar os outros acessórios? Estas são questões importantes se queremos realmente ampliar nossos horizontes do conhecimento astronômico, usando instrumentos para nos auxiliar. O telescópio Este instrumento tem dois principais objetivos: captar a maior quantidade de luz possível e aumentar a imagem do objeto observado para o distinguir melhor. Nem sempre o aumento é mais importante do que a luminosidade, pois é ela quem nos dará mais detalhes do objeto. A maioria das pessoas pensa que o mais importante é o quanto um telescópio aumenta, ou seja, o seu “número de vezes”, mas o que realmente conta é a sua luminosidade, ou seja, o quanto de luz o telescópio consegue coletar. Quanto mais luminoso um telescópio for, melhor ele será. Do que depende a luminosidade de um telescópio? Depende do que chamamos de abertura, ou simplesmente do diâmetro do espelho. Quanto maior for o seu diâmetro de abertura, mais luminoso ele será, pois maior quantidade de luz ele poderá captar na área do espelho. Por isso, ao conversarem sobre telescópios, os astrônomos sempre citam a sua abertura e não a sua ampliação. Vejamos o quanto um telescópio capta mais luz do que um olho humano, por exemplo. Digamos que a pupila do nosso olho se abra até 6 mm de diâmetro na escuridão. A área da superfície da pupila será então de 28 mm2. Um telescópio de 100 mm de abertura, por exemplo, terá uma área de captação de luz de 7850 mm2. Dividindo 7850 por 28, obtém-se 280, ou seja, estetelescópio capta 280 vezes mais luz do que a pupila do nosso olho no escuro. Por este motivo, com o auxílio de um telescópio, conseguimos enxergar estrelas que normalmente não vemos a olho nu. Mas, como são constituídos os telescópios? Tipos de telescópios Existem basicamente dois tipos de telescópios. A diferença entre eles é que para observar um objeto distante, um utiliza uma lente e o outro um espelho côncavo. O telescópio que utiliza a lente é chamado de telescópio refrator ou simplesmente luneta, pois a lente faz com que os raios luminosos do alvo que se está observando, refratem até um ponto em comum. O telescópio que utiliza o espelho é chamado telescópio refletor, pois o espelho côncavo faz com que os raios luminosos do alvo que se está observando, também reflitam até um ponto em comum. Um terceiro tipo de telescópio é o que combina lentes e espelhos, chamado de catadióptrico. Os telescópios catadióptricos mais conhecidos são os Schmidt-Cassegrain e o Maksutov. O objetivo de todos eles é sempre o mesmo: captar a maior quantidade de luz possível e aumentar a imagem do objeto observado para o distinguir melhor. Portanto, 25 em todos os telescópios, ocorre uma convergência dos raios luminosos para um ponto em comum. É justamente neste ponto que se forma uma minúscula imagem do alvo. Este ponto é chamado de ponto focal, e a distância deste ponto até o espelho principal (ou lente principal) do telescópio é chamado de distância focal. Estes parâmetros são muito importantes, pois são sempre usados em observações astronômicas (fig 4.1 a 4.3). Figura 4.1 – O telescópio refrator, ou luneta, usa uma lente principal que concentra os raios luminosos do alvo em um único ponto, chamado ponto focal. Figura 4.2 – O telescópio refletor usa um espelho côncavo que também concentra a luz do alvo num único ponto focal. Neste telescópio, existe um segundo espelho plano e pequeno que desvia o ponto focal para fora do tubo do telescópio. Este sistema é chamado newtoniano, pois seu idealizador foi Isaac Newton. Figura 4.3 – Este espelho refletor também usa um espelho côncavo para concentrar os raios luminosos, mas possui um furo em seu centro, pois um segundo espelho pequeno e convexo reflete o ponto focal para fora do tubo do telescópio. Este sistema é chamado de Cassegrain. si te s.u ol .c om .b r/t el es co pi os /im ag en s/ di ag 2. gi f bu llw in kl e. as .u te xa s.e du /fi s2 07 /re fle to r.j pg fr ee sp ac e. vi rg in .n et /g ar et h. ja m es /a st ro /a le ve l/c as se gr ai n. gi f 26 A ampliação de um telescópio Mas, como é realizada a ampliação propriamente dita? Bem, basta agora colocar uma outra lente bem menor, próxima do ponto focal do telescópio. Esta pequena lente funcionará simplesmente como uma lupa, que ampliará a imagem do objeto, formada no ponto focal. Esta lente é chamada de ocular, pois é nela que colocamos o nosso olho. Desta forma, é a ocular que dará o aumento de um telescópio, já que se utilizarmos uma ocular forte, ela ampliará mais a imagem no ponto focal; por outro lado, se utilizarmos uma ocular fraca, ela ampliará menos a imagem no ponto focal. Portanto, é sábio possuirmos um conjunto de oculares, para conseguirmos diferentes aumentos. O que faz cada ocular dar uma ampliação diferente, já que o telescópio é o mesmo? Poderá notar que cada uma possui seu próprio valor de distância focal. A distância focal de uma ocular é sempre pequena (de 3 mm a 50 mm). Como calcular o aumento de um telescópio? Basta saber qual ocular você está usando, e dividir a distância focal do telescópio (que é sempre igual) pela distância focal da ocular utilizada no momento. Distância focal do telescópio (F) Aumento em vezes (A) = Distância focal da ocular (f) Por exemplo, um telescópio de 2000 mm de distância focal usando uma ocular de 20 mm de distância focal, proporcionará 100 x de aumento, pois: F 2000 A = , então: A = = 100 x f 20 Se usarmos agora uma ocular de 10 mm, o aumento será de 200 x, pois: F 2000 A = , então: A = = 200 x f 10 Portanto, oculares de menores distâncias focais são as mais potentes, pois produzem um maior aumento. Porém, em geral, quanto menor for a distância focal, menor será o diâmetro da lente da ocular, e mais difícil será manter o olho fixo na lente. Outra desvantagem de se utilizar grandes aumentos é que a imagem torna-se menos luminosa e com poucos detalhes. Então, qual é o máximo aumento que se pode usar em um telescópio? Ampliação máxima de um instrumento O máximo aumento de um telescópio será determinado pela ótica do próprio instrumento e pelas condições atmosféricas. Existe um fator que pode ser utilizado para calcular rapidamente uma faixa de aumento apropriado para o telescópio. Basta multiplicar o diâmetro da lente (ou espelho) do telescópio (em mm) por 1,2. Por exemplo, uma luneta de 60 mm de abertura trabalha muito bem com uma ampliação de 27 70 a 75 vezes (pois 60 x 1,2 = 72). Excepcionalmente quando a turbulência da atmosfera é fraca, é possível multiplicar pelo fator 2,5. Assim, a mesma luneta de 60 mm poderá ampliar nesta noite até aproximadamente 150x (pois 60 x 2,5 = 150). Em termos práticos, porém, usa-se o fator 2 multiplicado pelo diâmetro em mm do aparelho. Por exemplo, um telescópio de 200 mm de diâmetro, trabalharia na prática, com um aumento máximo de 400 vezes, pois 2 x 200 = 400. As oculares Como vimos, dependendo da ocular que usamos, conseguimos aumentos diferentes. Mas, por que não usar logo o maior aumento para ver melhor? Bem, acontece que nem sempre os melhores aumentos nos dão a imagem melhor. Isto acontece porque ao ampliarmos um determinado alvo, sua luminosidade cai bastante, o que nos faz perder nitidez ou detalhes na imagem. Desta forma, só poderemos utilizar grandes aumentos quando as condições atmosféricas forem muito favoráveis. Além disso, dependendo do que estamos querendo observar, não podemos utilizar grandes aumentos, como por exemplo, um cometa, ou uma nebulosa, pois estes objetos já são pouco luminosos, e perderão sua definição ao os ampliarmos demais. Por isso, convém possuirmos um jogo de oculares capazes de nos fornecer aumentos variados. A sugestão é que tenhamos no mínimo três oculares principais: a de fraco aumento, a de médio aumento, e a de forte aumento (fig. 4.4). Como saber quais são as oculares mais apropriadas para se usar? Depende de quais são seus alvos. Uma ocular fraca é ideal para nebulosas e objetos pouco luminosos e difusos. Uma ocular média é conveniente para os planetas e aglomerados estelares. Uma ocular potente nos dará mais detalhes de um objeto quando as condições atmosféricas forem favoráveis, pois ao se ampliar muito, as turbulências atmosféricas também são ampliadas na imagem, o que dará a impressão de que a imagem “dança” ou “treme”. Na prática, uma ocular fraca é aquela que proporciona uma ampliação de 3 a 4 vezes por centímetro de abertura do telescópio, uma ocular média aumenta 10 a 12 vezes por centímetro de abertura e uma ocular potente aumenta 18 a 20 vezes por centímetro de abertura do telescópio. Por exemplo, para um telescópio de 200 mm de abertura, ou 20 cm, recomenda-se dispor de basicamente três oculares:Fraca, que ampliará 20 x 4 = 80 vezes Média, que ampliará 20 x 10 = 200 vezes Potente, que ampliará 20 x 18 = 360 vezes Figura 4.4 – É conveniente possuir um jogo de oculares para os mais diversos tipos de observações. w w w .v er no ns co pe .c om /im ag es /p ho to 9. jp g 28 Eventualmente, poderia até se cogitar em possuir uma ocular muito potente, para ser utilizada apenas em condições atmosféricas excepcionalmente favoráveis, que aumentará 24 a 25 vezes por centímetro de abertura do telescópio. Assim, para o caso do nosso telescópio de 20 cm de abertura, a ocular seria aquela que proporcionaria um aumento de 500 vezes (pois 20 x 25 = 500). – tab. 4.1. Ampliação fraca (0,4 d) Ampliação normal (1,2 d) Ampliação forte (2,0 d) Ampliação máxima (2,4 d) Diâmetro do telescópio Em mm (d) Para observar nebulosas e aglomerados Para observar planetas Para observar estrelas duplas Dificilmente aplicável 50 20 x 60 x 100 x 120 x 60 24 x 72 x 120 x 144 x 75 30 x 91 x 152 x 182 x 80 32 x 96 x 160 x 192 x 100 40 x 120 x 200 x 240 x 150 60 x 180 x 300 x 360 x 200 80 x 240 x 400 x 480 x 250 100 x 300 x 500 x 600 x 300 120 x 360 x 600 x 720 x Tabela 4.1 – Características reais de um telescópio com oculares de diversos aumentos. O campo da ocular Chama-se campo da ocular a região em forma de círculo que enxergamos ao colocarmos o nosso olho para observar. Ao usar o telescópio de dia, o grande circulo claro que enxergamos através da ocular é o campo da mesma. Quando se utiliza oculares potentes (ou de pequenas distâncias focais) para grandes ampliações, o campo da ocular torna-se reduzido. Por outro lado, quanto mais fraca for uma ocular (ou de grandes distâncias focais), maior será o campo de observação, ou seja, maior será a região do céu que se observa através do telescópio. O campo da ocular é medido em graus. Por exemplo, sabemos que o diâmetro angular da Lua cheia é de meio grau aproximadamente. Assim, se ao olharmos através de um telescópio usando uma determinada ocular, e enxergarmos a Lua inteira e por completo no campo da ocular, então este campo será de 0.5°, ou 30’. Caso a Lua não caiba em todo o campo, e só a enxergamos em parte, então o campo da ocular é menor que meio grau. Por outro lado, se a Lua novamente couber no campo da ocular e ainda sobrar espaço em sua volta, então o campo é maior que meio grau. Podemos realizar uma medida mais precisa deste campo da ocular. Basta escolher uma estrela bem alta no céu, como Procyon ou uma das três marias, e a observarmos através de uma determinada ocular. Desligando o acompanhamento automático do telescópio, observa-se o deslocamento da estrela através do diâmetro do campo da ocular, contando o tempo em segundos que ela levou para atravessar de uma borda a outra do campo da ocular. Multiplica-se este número por 15 e o resultado será o número de segundos de arco (’’), que resultará exatamente no diâmetro do campo. Por 29 exemplo, numa dada ocular, se a travessia levou 50 segundos, o diâmetro do campo desta ocular é de 750 segundos de arco, pois 50 x 15 = 750. Se preferir, 750 segundos é o mesmo que 12 minutos e 30 segundos (ou 12’ 30”) de arco. Como a Lua possui um diâmetro de 0.5° ou 30’ (trinta minutos), conclui-se que a ela não caberá neste campo da ocular de apenas 12’ 30”, e veremos apenas uma parte da superfie da Lua abrangendo todo o campo da ocular. Medindo a resolução e a luminosidade relativa de um telescópio O que dá nitidez em uma imagem telescópica não é o seu aumento, e sim a sua abertura. Usando 100x de aumento em um pequeno instrumento, nós teremos um resultado bem diferente se o mesmo aumento for utilizado num grande telescópio, embora o tamanho da imagem do astro continue o mesmo na ocular. Por exemplo, examinando o planeta Júpiter com 100x de aumento, sua imagem sempre aparecerá do mesmo tamanho (ou diâmetro) na ocular em qualquer telescópio, seja de grande ou pequena abertura. Porém, a diferença estará no maior numero de detalhes que o telescópio de maior abertura mostrará da superfície do planeta, ou de qualquer astro que esteja sendo observado (poder de resolução). Outra importante característica de um telescópio é a sua relação focal. Esta característica é conhecida como f/D. Como calculá-la? Como o próprio símbolo nos mostra, basta dividir a distância focal do telescópio pelo diâmetro da sua abertura. Por exemplo, um telescópio que possui 2000 mm de distância focal e uma abertura de 200 mm, possuirá um f/D=10 (pois 2000 : 200 = 10). Note que ambos os valores estão na mesma unidade (mm), e que o número resultante não é dotado de unidade. Agora, analisemos um outro telescópio que possui a mesma abertura e metade da distância focal, ou seja, de 1000 mm. Este instrumento terá um f/D=5 (pois 1000 : 200 = 5). Qual a diferença? O último é mais luminoso que o primeiro, pois concentra muito mais a luz proveniente do astro no ponto focal. Portanto, quanto menor o valor do f/D de um telescópio, mais luminoso ele é. Qual é o f/D ideal? Depende qual o tipo de observações que desejará fazer. Para realizar astrofotografias, o recomendado é que não se ultrapasse um f/D=10, pois qualquer valor acima disso, poderá comprometer a qualidade das imagens, e o telescópio acaba se tornando pouco luminoso. Para realizar observações de objetos pouco luminosos, como nebulosas ou cometas, também não se deve usar um telescópio acima de f/D=10. Quanto menor este valor, melhor será a imagem de um objeto tão difuso quanto uma nebulosa ou um cometa. A Lente Barlow Vamos relacionar o que acabamos de aprender com as ampliações do telescópio. Suponhamos agora, que conseguíssemos dobrar a distância focal do nosso telescópio, passando de 2000 mm para 4000 mm, sem mudar, contudo, a abertura de 200 mm. Isto proporcionaria um ganho nas ampliações, pois lembre-se: a ampliação de um telescópio é a divisão da distância focal do mesmo pela distância focal da ocular. Assim, ao usarmos uma ocular de 20 mm antes de dobrarmos a distância focal do telescópio (ainda com F=2000 mm), a ampliação será de 100 x (pois 2000 : 20 = 100). Agora, ao dobrarmos a distância focal do telescópio para 4000 mm, e usarmos a mesma ocular de 30 20 mm, a ampliação passa a ser de 200 x (pois 4000 : 20 = 200). Ganhamos bastante em ampliação, não é? Sim, mas perdemos do outro lado: na luminosidade. Por que? Lembre-se da razão f/D. Nós agora temos um telescópio de 4000 mm de distância focal, com os mesmos 200 mm de abertura. Assim, o f/D passa a ser 20, pois 4000 : 200 = 20. Como aumentou o f/D (de 10 para 20), perdemos em luminosidade na imagem, e conseqüentemente em qualidade de detalhes. Temos a impressão de que a imagem ficou mais escura, com menos nitidez. Mas, surge uma nova pergunta: é possível realmente dobrarmos a distância focal de um instrumento? Sim, usando lentes especiais chamadas Barlow. Estas lentes foram desenvolvidas justamente para aumentar a distância focal de um telescópio, e são encaixadas entre o porta-oculares do instrumento e a ocular propriamente dita. Estas lentes conseguem duplicar, triplicar ou até quadruplicar a distância focal do telescópio. Mas, lembre-se: embora ganhamos em ampliação, infelizmente perdemos em luminosidade. Portanto, estas lentes devem ser usadas preferencialmente para objetos razoavelmente luminosos, como a Lua ou os planetas, exceto em raras condições atmosféricas favoráveis. Outro acessório importante: a carta celeste Já aprendemos como utilizar uma carta (ou mapa) celeste. Mas ainda faltam alguns pormenores que nos ajudarão em muito para nossas observações. Lembra-se das coordenadas equatoriais (ascensão reta e declinação)
Compartilhar