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04. LA NA TERRA DO CONTRÁRIO.pdf

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LLLLÁÁÁÁ NNNNAAAA TTTTEEEERRRRRRRRAAAA DDDDOOOO CCCCOOOONNNNTTTTRRRRÁÁÁÁRRRRIIIIOOOO 
 
 
Comédia-farsesca-absurda 
 
 
Texto de: 
JULIO CARRARA 
 
 
Escrita em 1996 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Julio CarraraJulio CarraraJulio CarraraJulio Carrara LLLLá na Terra do Contrá na Terra do Contrá na Terra do Contrá na Terra do Contrárioárioárioário 1111 
 
 
 
PERSONAGENS: 
FELIPE 
NATÁLIA 
CORNÉLIO 
CHIFRONÉSIA 
AMANDA 
LEDESMA 
BABY 
PADRE 
COROINHA 
RAPAZ DO CLUBE 
MOÇAS E RAPAZES 
 
ÉPOCA: Atual 
 
CENÁRIO: Vários prédios ao fundo do palco representando uma cidade 
grande. Nos prédios estão acesas algumas luzes de alguns apartamentos. Esse 
é a única parte fixa do cenário. O resto do cenário é móvel. Para a danceteria 
duas mesas e quatro cadeiras de bar, um globo e strobo. Para a praça dois 
bancos de madeira. Para a casa de Chifronésia um sofá de dois lugares. Para o 
clube uma cadeira dessas que ficam à beira da piscina, com guarda-sol e 
toalhas de banho. Para o ponto de ônibus, um caibro pintado de verde e escrito 
“ponto de ônibus” em preto. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Julio CarraraJulio CarraraJulio CarraraJulio Carrara LLLLá na Terra do Contrá na Terra do Contrá na Terra do Contrá na Terra do Contrárioárioárioário 2222 
 
 
 
PRÓLOGO 
(Danceteria. Uma música alegre vibrante é ouvida num volume quase que 
ensurdecedor. As luzes piscam de uma forma que não dá para identificar direito quem 
está lá. Um grupo de jovens entra pelo lado direito e outro grupo pelo lado esquerdo do 
palco se encontrando no centro e se encarando. A primeira impressão que se tem é que 
se trata de uma briga de “gangues”. Os jovens quebram o clima e começam a dançar, 
ocupando todos os espaços disponíveis. Nada parece perturbar a alegria deles. Felipe 
está sentado numa mesinha, meio isolado. Bebe e fuma, numa fossa tremenda. De 
repente, olha para a pista e observa Natália, que está dançando no centro, 
animadíssima, com sua amiga Amanda. Ela percebe que o rapaz está olhando para ela e 
olha também. Ele sorri maliciosamente e depois pisca um olho para ela. Ela finge que 
não viu e cochicha com Amanda. Felipe pega um guardanapo e escreve um bilhete. 
Pede para um amigo entregá-lo para a menina. Natália recebe o bilhete e lê. Mostra 
certa satisfação e exibe o papel para Amanda. Felipe, impaciente, espera uma resposta. 
Natália olha para ele e acena afirmativamente com a cabeça. O rapaz dá um pulo de 
alegria e sai feliz. Natália, quando percebe a saída do rapaz, corre atrás dele, mas não o 
alcança. Volta desolada e caminha para o lado esquerdo do palco. Todos saem e a 
música cessa.) 
 
 
CENA 1 
(Quarto de Felipe e quarto de Natália. Os quartos de ambos ficam no proscênio. Não há 
móvel algum. O de Natália fica à esquerda e o de Felipe à direita do palco. Foco sobre 
Natália.) 
 
NATÁLIA 
(Dá seu depoimento para o público.) Tudo começou no domingo passado 
numa danceteria. Eu não costumo frequentar danceterias porque não sei 
dançar direito, mas tava de saco cheio de não fazer nada e só fui porque a 
Amanda insistiu muito... Ainda bem que ela insistiu. Se não tivesse ido, não ia 
conhecer aquele gostoso. Pena que ele age como todos os outros meninos. Fica 
Julio CarraraJulio CarraraJulio CarraraJulio Carrara LLLLá na Terra do Contrá na Terra do Contrá na Terra do Contrá na Terra do Contrárioárioárioário 3333 
 
 
olhando pra gente com uma cara de bobo e depois dá uma piscadinha. E 
ainda me escreveu um bilhete marcando um encontro numa pracinha perto do 
colégio. Ainda tô indecisa. Não sei se vou ou não vou. Não sei se vai valer a 
pena. Mas que esse carinha mexeu comigo, mexeu. Ele marcou o encontro pra 
hoje às nove horas da noite. Vou precisar matar aula... Mas o maior problema é 
que eu não fiquei com nenhum menino antes. E o pior: sou BV, boca virgem... 
Ai... tremo só de pensar como vai ser... Ah, se pelo menos eu fosse homem. 
Talvez as coisas fossem diferentes... 
 
(Apaga o foco de Natália. Foco em Felipe.) 
 
FELIPE 
(Dá o seu depoimento.) Eu tava em casa, vendo TV, quando chegou um 
amigo meu e me convidou pra ir à danceteria. Eu tava um bagaço. Tinha 
trabalhado e estudado a semana inteira e queria ficar em casa descansando e 
vendo as baboseiras de todo domingo na TV. Mas ele acabou me convencendo 
e fomos pra lá. E valeu a pena porque acabei conhecendo aquela gatinha... Uh, 
fiquei louco!!! No bilhete que escrevi pra ela, marquei um encontro pra hoje à 
noite... Tenho medo que ela não apareça!... Gozado, nunca senti por ninguém o 
que eu sinto por ela. Não dá pra dizer com palavras... Espero que ela não seja 
como essas meninas que a gente encontra toda a hora... Algo me diz que ela 
tem alguma coisa que as outras não têm e que tá me deixando louco... Mas se 
ela for como as outras, juro que nunca mais vou correr atrás de mulher. Nunca 
mais! 
 
(Apaga o foco de Felipe.) 
 
 
CENA 2 
(Praça pública. Noite. Movimentação habitual. Entram em cena com cadernos e livros 
nas mãos Natália e Amanda.) 
 
Julio CarraraJulio CarraraJulio CarraraJulio Carrara LLLLá na Terra do Contrá na Terra do Contrá na Terra do Contrá na Terra do Contrárioárioárioário 4444 
 
 
AMANDA 
Ô Natália era só o que faltava eu ficar aqui de vela no dia do seu 
primeiro encontro com aquele carinha... 
 
NATÁLIA 
É que eu preciso de segurança, Amanda. Só de pensar naquele 
gostosinho, começo a tremer. Olhe como minhas mãos tão suadas. (Impaciente.) 
Ah, não quero ficar aqui, não. Vamos embora, vai. 
 
AMANDA 
(Furiosa.) Essa não, Natália. Por sua causa eu matei aula e você sabe que 
eu tô fodida em Matemática. E aquele professor não vai com a minha cara e 
pode até me reprovar. Se você der mancada comigo e desistir, você vai ver. 
 
NATÁLIA 
Então volta lá. Vai assistir à aula de Matemática, vai. 
 
AMANDA 
Tudo bem, eu vou voltar. Mas nunca mais conte comigo, viu, sua grossa! 
(Levanta-se.) 
 
NATÁLIA 
(Puxa Amanda pelo braço, confidencial.) Amanda, você tá menstruada! 
 
AMANDA 
(Apavorada.) O quê? 
 
NATÁLIA 
O sangue manchou sua calça... Mas por que esse espanto? Vai dizer que 
você... 
 
 
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AMANDA 
(Sem jeito.) Bem... 
 
NATÁLIA 
(Admirada; fala alto.) Você nunca ficou menstruada???? 
 
(As pessoas que estão na praça olham para as meninas.) 
 
AMANDA 
Natália, você não vai contar isso pra ninguém, né? 
 
NATÁLIA 
Pode ficar sossegada... Bem, vamos pra minha casa. Não tem ninguém 
lá, eu lhe explico tudo a respeito da menstruação e te empresto um absorvente. 
(Natália tira sua jaqueta e oferece para a amiga.) Põe a jaqueta na cintura pra 
disfarçar e vamos embora, vai... 
 
AMANDA 
Mas e o carinha? 
 
NATÁLIA 
Fica pruma próxima. 
 
(Saem. Do lado oposto surge Felipe. Ele olha para o relógio, verifica se Natália está na 
praça, anda de um lado para o outro, volta a olhar no relógio, senta-se no banco, 
impaciente. Tira um cigarro do bolso. Fuma. Dá três ou quatro tragadas e joga-o no 
chão, pisando em cima. Depois caminha até o seu foco, que o isola.) 
 
FELIPE 
Puta mancada! Eu tava tão ansioso pra ver ela de novo e ela dá esse 
furo?! Fiquei como um trouxa, um panaca esperando por ela... Queria nunca 
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mais me apaixonar. Mas se eu encontrar com ela novamente, ela vai ter que me 
dar uma boa, mas uma boa desculpa mesmo. 
 
(Apaga o foco de Felipe e do outro lado acende o foco de Natália.) 
 
NATÁLIA 
Eu não tive culpa. Como podia adivinhar que justo naquele dia a 
Amanda fosse ficar menstruada? Eu não podia deixar ela sozinha, não é? Foi 
mancada minha, eu sei. E agora, o que será que ele tá pensando a meu 
respeito? Que sou uma furona, tratante, uma garota indecisa que não sabe o 
que quer?!... Não vejo a hora de me encontrar com ele e esclarecer tudo. Oh, 
mundo cruel... 
 
(Apaga o foco.) 
 
CENA 3 
(Casa de Chifronésia. Ela está varrendo a casa, totalmente mal vestida, com creme no 
rosto, bobs no cabelo e cheia de pregadores de roupa no avental. Ouve-se a campainha. 
Ela vai atender. Entra Cornélio, um caipira. Ele é alto, magro, cabelos avermelhados, 
com os dentes podres, pernas tortas e peito-e-pombo. Usa também uns óculos fundo de 
garrafa. Ela se assusta.) 
 
CHIFRONÉSIA 
Quem é o senhor? (Ele para e fica olhando para ela.) O que é isso? Por que é 
que tá me olhando dessa maneira? 
 
CORNÉLIO 
É que eu tô que num guento mai de vontade de casá. A sinhora num qué 
sê minha marida? 
 
CHIFRONÉSIA 
Se o senhor repetir essa bobagem eu chamo a polícia. Fique quieto! 
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CORNÉLIO 
Mai ficá quieto na frente da sinhora eu num guento... Se a sinhora pará 
num sinar de trânsito, ninguém mai vai passá... 
 
CHIFRONÉSIA 
Por quê? 
 
CORNÉLIO 
Ah, o sinar vai ficá vermeio pra tudo os lado, né? 
 
CHIFRONÉSIA 
(Ri.) O senhor é engraçado! 
 
CORNÉLIO 
Engraçado é ligá ventiladô em piquenique de baiano, né? Só farofa que 
avoa!... (Charmoso.) Sabe que a sinhora é bunitona? Se fosse um porco dava pra 
fazê uns quinhentos metro de linguiça... Ah, dona-muié, casa com eu. Tô tão 
doido de vontade de casá que inté tô ficano um bestaião. 
 
CHIFRONÉSIA 
Eu não. Vou casar com um moço que é uma joia... Ele é contador... 
 
CORNÉLIO 
Ah, se qué marido pá contá pega eu, né, qui eu sei contá inté vinte! 
 
CHIFRONÉSIA 
Então fugiu da escola! 
 
CORNÉLIO 
Fugi coisa ninhuma. Só de jardim da infância fiz uns oito ano. 
 
 
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CHIFRONÉSIA 
O senhor não tem namorada? 
 
CORNÉLIO 
Quando eu tive a úrtima namorada o Corcovado inda era um montinho 
de areia... 
 
CHIFRONÉSIA 
Onde foi que o senhor aprendeu tanta bobagem? 
 
CORNÉLIO 
Lá na minha casa. A sinhora num qué conhecê minha casa pra vê se 
serve prá mora lá como minha marida? 
 
CHIFRONÉSIA 
Mas o senhor é horrível! Parece uma bananeira... 
 
CORNÉLIO 
A sinhora num qué virá macaco e me estraçaiá, dona? 
 
CHIFRONÉSIA 
Chiii, essa conversa tá engrossando! Acho melhor parar por aqui... E o 
senhor é um caipira! 
 
CORNÉLIO 
Frango tamém é caipira, né, mai ele dá suas bicada. 
 
CHIFRONÉSIA 
Chega. O senhor perdeu o seu tempo comigo... Vá embora daqui. 
 
 
 
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CORNÉLIO 
(Triste.) Num faiz mar, puxa vida, num faiz mar. Um dia eu acerto e caso 
cuma muié que nem que seja de prástico... Eu já tentei com uma. Mas na nossa 
primeira noite de amor, eu deitei ela de bruço, agarrei e quando dei uma 
mordida na bunda dela, ela soltou um peido na minha cara e ainda saiu 
voando pela janela... 
 
CHIFRONÉSIA 
(Para o público.) Como é chato ser gostosa. (O caipira vai saindo.) Espera... 
(Ele para.) Eu aceito me casar com o senhor. 
 
CORNÉLIO 
(Feliz.) Iuhh! Num falei? Falam di mim, mai eu num nego fogo! 
 
(Pega Chifronésia nos braços, limpa a boca com a mão e lhe beija, fazendo um enorme 
barulho. Black-out.) 
 
 
CENA 4 
(Foco sobre Felipe. Ele está deitado no chão, sem camisa e com uma cueca box. Se 
masturba. Ouve-se batidas na porta do quarto do rapaz.) 
 
MÃE DE FELIPE 
(Off.) Felipe, acorda! Tá na hora de ir pro colégio. 
 
FELIPE 
(Assustado.) Saco!!! Já vou mãe!... (Para a plateia.) Essa garota não sai da 
minha cabeça. Fico virando na cama, de um lado para o outro, só pensando 
nela!!! Naquela pele macia, naqueles lábios, naquele olhar... Até quando vou 
ficar nessa agonia? 
 
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(Apaga o seu foco e acende o foco de Natália que conversa com Ledesma, uma garota 
que foi picada pela mosca tsé-tsé, a mosca do sono e vive sonâmbula.) 
 
NATÁLIA 
...Até quando, Ledesma? 
 
LEDESMA 
(Boceja, falando mole.) E eu sei lá! 
 
NATÁLIA 
Não consigo parar de pensar nele. Onde quer que eu olhe eu vejo ele: no 
meu caderno, no prato de comida... Em tudo que é lugar! 
 
LEDESMA 
Quem mandou se apaixonar? 
 
NATÁLIA 
Eu não tive culpa. Rolou, não deu pra segurar... 
 
LEDESMA 
Você acha que ele te esqueceu? (Vai se deitando no chão.) 
 
NATÁLIA 
Não sei. O que sei é que não sei quando vou ver ele de novo... (Furiosa.) 
Droga, justo naquele dia tinha que chover na horta da Amanda? (Ledesma está 
dormindo e roncando.) Ô, mosca-morta... Ih, o casamento do Cornélio com a 
Chifronésia é hoje!!! 
 
(Foco desce em resistência até o black-out.) 
 
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CENA 5 
(Música de casamento: “Carruagens de Fogo”. Luz sobe em resistência revelando uma 
igreja. O padre está no centro do palco com uma bíblia na mão. Ao seu lado está o 
coroinha ouvindo jogo de futebol num radinho de pilha. O padre, vez ou outra pede 
para escutar para saber o resultado do jogo. Ledesma, cochilando, está com Amanda e 
Natália. Chifronésia está à espera do noivo no altar, trajando terno e gravata, um 
bermudão do Havaí, um sapato de boiadeiro e brincando com um “minigame”. Luz na 
plateia. Cornélio aparece no fundo trajando um vestido de noiva e segura um 
espanador de pó no lugar do buquê de flores. Seus passos se assemelham aos passos dos 
atletas na corrida de São Silvestre, só que ele realiza esses movimentos em câmera 
lenta. Atravessa a plateia e sobe ao palco. Chifronésia entrega o minigame a Natália, 
que continua o jogo. O padre realiza a cerimônia. Faz todas as perguntas necessárias e 
após declarar o tradicional “eu vos declaro marido e mulher”, fica atento ao radinho e 
grita: “GOOOOOOOOOOLLLLLLL”. Todos se assustam. Cornélio joga o espanador 
e duas moças disputam a posse do mesmo. Na saída, os convidados jogam feijão nos 
noivos, que saem. Uma música brega é tocada e todos dançam, fazendo coreografias de 
acordo com a música, até desaparecerem. Natália começa a rir sem controle e Ledesma, 
que tinha desabado no chão, acorda e vai até a amiga.) 
 
LEDESMA 
Do que você tá rindo, Natália? 
 
NATÁLIA 
(Rindo sem controle.) Eu queria ser uma mosca só pra saber como vai ser a 
noite de núpcias deles. Deve ser a maior comédia... 
 
 
CENA 6 
(Ouve-se a música “Docinho, Docinho”, de Gugu Liberato. Cornélio e Chifronésiaentram no palco. Um pelo lado esquerdo e outro pelo direito. Chifronésia está com uma 
camisola horrorosa e Cornélio ainda está vestido de noiva. Começam a dançar e vão se 
despindo ficando apenas com a roupa de baixo. Cornélio fica só de ceroula e percebe-se 
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um enorme coração na parte traseira desta com uma flecha atravessando-o. Cornélio 
corre atrás da mulher que, meio que foge. A situação se inverte e agora é ela que corre 
atrás dele. Quando consegue agarrá-lo, joga-o no chão e pula em cima dele. Black-out.) 
 
 
CENA 7 
(Luz sobe em resistência. Natália está no centro do palco e continua rindo.) 
 
NATÁLIA 
Deve ser muito engraçado, Ledesma. 
 
FELIPE 
(Dirigindo-se à Ledesma.) Ô garota, você não viu o... (A garota desaba no 
chão. O rapaz fica surpreso ao ver Natália.) Você? 
 
NATÁLIA 
Sim, sou eu... (Repete como Felipe.) Você? 
 
FELIPE 
Sim, sou eu. Pensei que nunca mais fosse te encontrar. 
 
NATÁLIA 
Pois é. 
 
(O diálogo dos dois deve ser monótono, pois procuram assunto para conversar.) 
 
FELIPE 
Você não foi à praça, né? 
 
NATÁLIA 
Pois é. Eu fui, mas uma amiga tava junto comigo e o chico dela chegou... 
 
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FELIPE 
Chico? 
 
NATÁLIA 
(À parte.) Ih, falei bobagem. (Tenta consertar.) O chico é o... é o... ah, meu 
Deus... é o... ah! é o namorado da minha amiga... Pois é. 
 
FELIPE 
O dia tá quente, né? 
 
NATÁLIA 
Eu acho que vai chover. 
 
FELIPE 
Mas não tem nenhuma nuvem carregada no céu... 
 
NATÁLIA 
Nunca se sabe... (Silêncio.) Você se chama Felipe, não chama? 
 
FELIPE 
E você Natália, não é? 
 
NATÁLIA 
Hum, hum... (Silêncio mortal.) 
 
FELIPE 
Natália... (Aponta o céu.) O que é aquilo? 
 
(Natália olha para cima e Felipe dá um beijo em sua boca. A garota se assusta e quando 
ele afasta seus lábios dos lábios dela, ela o agarra e beija-o. O rapaz chega a ficar roxo, 
vai perdendo o fôlego e solta um peido barulhento. Solta-se da garota, incomodado.) 
 
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NATÁLIA 
O que foi Felipe? 
 
FELIPE 
Natália... Peido pesa? 
 
NATÁLIA 
(Pensa.) Hum... pelas leis da Física... deixa eu ver... O peido é constituído 
de gases. Uns fedem e outros não, uns são barulhentos e outros silenciosos, 
uns são peidos secos e os outros peidos molhados... Acho que só os peidos 
molhados pesam... Por quê? 
 
FELIPE 
Então eu acho que fiz besteira. Tchau, Natália. 
 
NATÁLIA 
Pega o meu telefone! 
 
FELIPE 
Não, hoje não. Me encontre amanhã no Clube de Campo, na piscina lá 
pelas três da tarde... 
 
NATÁLIA 
Eu te espero. 
 
(Felipe sai correndo e Natália corre para o seu foco, pulando de alegria.) 
 
NATÁLIA 
Eu beijei, beijei. Dei o meu primeiro beijo. Foi o maior beijaço!!! Coitado 
do Felipe... até cagou na calça... (Suspira.) Pelo menos agora eu sei o que é 
beijar. Não vou precisar ficar mentindo para as minhas amigas... Eu sei que 
elas também nunca beijaram. Que sensação estranha! O beijo até que era bom. 
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O que mais me incomodou foi aquela língua assanhada, que quase me deixou 
engasgada. 
 
(Apaga o seu foco. Acende o foco de Felipe.) 
 
FELIPE 
(Tenso.) Tem uma coisa que tá pesando na minha consciência... Há 
alguns meses eu... Bem, é difícil conversar com alguém sobre esse assunto. É 
um assunto muito delicado. Um assunto que não tive coragem de falar pra 
ninguém. Nem pros os meus pais. Acho que se eles soubessem disso, me 
colocavam pra fora de casa. O problema é relacionado à minha... identidade 
sexual. A Natália vai levar um choque quando souber que eu sou... gay! Nunca 
consegui sentir atração por menina nenhuma, mas quando via um menino, 
subia pelas paredes de tanto tesão. Até o dia em que um amigo tirou aquele 
pau duro da cueca e pediu pra que eu batesse uma pra ele. Fiquei com medo, 
mas bati. A gente se via frequentemente e transamos uma vez, depois uma 
segunda, uma terceira, uma quarta, uma quinta, uma sexta, um sábado, um 
domingo... Eu procurei sair com meninas, mas na hora H o “bicho” não se 
animava e eu passava a maior vergonha... É foda você ficar com uma menina e 
tá pensando num cara... A Natália é uma garota especial e preciso me abrir 
com ela e ver se ela me entende. Seria bem pior se eu contasse pra ela depois 
de estarmos namorando sério. Aí... aí eu não iria me perdoar nunca. Amanhã 
vai ser um dia infernal pra mim... 
 
(Foco desce em resistência.) 
 
 
CENA 8 
(Entra Cornélio com uma enorme barriga. Está sendo auxiliado por Chifronésia. Traja 
um vestido de gestante e faz a respiração de cachorrinho. A cabeça da criança já 
aparece. Chifronésia põe o marido deitado no centro.) 
 
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CORNÉLIO 
Ai, Chifrô, chama arguém pá me ajudá. A borsa estorô e o bacuri já vai 
nascê. 
 
CHIFRONÉSIA 
Calma, meu amor. Vou ver se chamo alguém... 
 
CORNÉLIO 
Rápido que tá nasceno. Ai, num guento mai. 
 
(Entram Amanda e Ledesma.) 
 
CHIFRONÉSIA 
Ledesma, me ajuda que o meu filho tá nascendo. 
 
LEDESMA 
Mas o que vou fazer. Eu não sou parteira. 
 
CORNÉLIO 
Ai, vai nascê. 
 
AMANDA 
(Estranha.) Ei, Chifronésia não era pra você ter a criança? 
 
CHIFRONÉSIA 
Era, né. Mas não sei o que aconteceu que ele é quem acabou 
engravidando. 
 
(Ledesma dorme num canto.) 
 
 
 
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AMANDA 
Só gostaria de saber por onde a criança vai nascer... (Vai xeretando e vê que 
a criança sai pelo ânus de Cornélio.) Ah, meu Deus. 
 
CORNÉLIO 
Ai, tá nasceno. 
 
CHIFRONÉSIA 
Pega a criança, Ledesma. 
 
(A mulher vê Ledesma dormindo e fica brava.) 
 
AMANDA 
Deixa que eu pego. Vamos lá, Cornélio. Força!!!! 
 
(Cornélio grita e a criança nasce. No áudio o som de um peido ensurdecedor. A criança 
sai de dentro dele como uma rolha de garrafa de champanhe quando é aberta e como 
uma bolinha de borracha, bate na parede quicando de um lado para o outro e cai no colo 
de Ledesma, que acorda. Todos tapam o nariz devido ao odor. O bebê é verde, tem os 
dentes podres, barbichas e duas anteninhas de marciano.) 
 
AMANDA 
(Cai dura.) Minha Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, o que é isso? 
Deus que me perdoe, mas isto não é uma criança, é um ET! 
 
BABY 
(Engatinha para Chifronésia.) Eu quero mamá. Quero mamá... 
 
CHIFRONÉSIA 
(Traz Baby para o outro lado do palco.) Meu filhinho querido do coração da 
mamãe, ai que gutegute. 
 
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AMANDA 
Não faz isso, Chifronésia quenão foi cortado o cordão... (O cordão 
umbilical está esticado e tem mais ou menos três metros de comprimento. Amanda vai 
falando e pondo a mão nele.) ...um-bi-li-cal! (Desmaia.) 
 
CORNÉLIO 
Corta o “imbigo”, Chifrô... (Chifronésia pega da mala uma tesoura de 
jardineiro e o corta.) Ô porquera do pai... 
 
BABY 
Baby qué tetê... 
 
CORNÉLIO 
(Tira seu sutiã e um enorme peito flácido cai na boca do filho.) O pai tem 
bastante leite. 
 
(O menino mama bastante. Após a refeição solta um enorme arroto. Black-out.) 
 
 
CENA 9 
(Clube de campo; à beira da piscina. Natália está sentada numa cadeira, de biquíni e 
com óculos de sol prendendo o cabelo. Lê uma revista. Está esperando Felipe chegar. 
Seu olhar possui um brilho enorme. Sem que ela perceba, Felipe aparece trajando uma 
sunga e fica observando-a, até tomar coragem e se por na frente dela.) 
 
NATÁLIA 
(Abraçando-o, sorridente.) Felipe, meu amor... 
 
FELIPE 
(Soltando-se dela; frio.) Não me abrace, Natália. 
 
 
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NATÁLIA 
(Estranhando.) Por quê? 
 
FELIPE 
Eu preciso te dizer uma coisa muito importante... 
 
NATÁLIA 
Fala. 
 
FELIPE 
(Meio embaraçado.) Eu quero terminar com você. 
 
NATÁLIA 
Por quê? 
 
FELIPE 
(Procura uma resposta.) Porque... porque... porque eu não sinto mais nada 
por você. Tô apaixonado por outra menina... 
 
NATÁLIA 
Bem, se você quer assim... (Mente.) Ainda mais agora que eu tava saindo 
com o... (Não encontra o nome.) Com o... com o... com o... 
 
FELIPE 
Com o...? 
 
NATÁLIA 
Ninguém. Eu tô saindo com o NINGUÉM. 
 
FELIPE 
Tenta me entender, Natália. Você é bonita, legal, inteligente, mas não 
serve pra mim... 
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NATÁLIA 
Tudo bem, Felipe... E fique sabendo que tem mais de mil homens 
querendo me namorar. Pena que eu ainda não os encontrei! (Chora e abraça 
Felipe.) Por que você fez isso comigo, hein? 
 
FELIPE 
Não chora, Natália. Não chora senão eu choro também... (Assua o nariz 
no ombro dela.) 
 
NATÁLIA 
Não consigo compreender. A gente tava tão bem! Lembra quando a 
gente se beijou pela primeira vez? A emoção que você sentiu foi tanta que até 
cagou na calça, lembra? 
 
FELIPE 
Natália... Eu... eu... jogo água fora da bacia... 
 
NATÁLIA 
O quê? 
 
FELIPE 
Jogo em outro time. 
 
NATÁLIA 
Não sabia que você jogava num time... Que interessante. É time do quê? 
Futebol, vôlei, basquete? 
 
FELIPE 
Não é nada disso... 
 
NATÁLIA 
Então o que é? 
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FELIPE 
(Rápido.) Eu sou gay... É isso, pronto, falei! (Mais devagar.) Eu sou gay! 
(Anasalando a voz.) Sou mona! Gosto de dar ré no quiabo, sentar no pepino... 
 
NATÁLIA 
(Chocada.) O quê? 
 
FELIPE 
É isso mesmo, Natália. Você não faz ideia do que tô passando agora. 
Você seria a última pessoa do mundo que eu queria magoar. Queria que me 
perdoasse! 
 
NATÁLIA 
Eu não tenho nada que te perdoar. A escolha é sua, mona... 
 
 
FELIPE 
Então vai um convite... À noite eu faço show numa boate lá do centro. 
Meu nome artístico é Odete Furacão... (Solta a franga.) Tem cada bofe escândalo 
lá, racha. Cruzes!!!! Fico doidinha. (Volta a si.) Desculpa por ter te iludido. Mas 
meu negócio é homem... (Estende a mão.) Amigas? 
 
NATÁLIA 
(Abraça-o.) Amigas! Você é sensacional! 
 
FELIPE 
Você também. 
 
(Felipe vai saindo lentamente e ela fica sentada, chorando em silêncio. Entram Ledesma 
e Amanda conduzindo Baby, que tem no pescoço o cordão umbilical feito coleira de 
cachorro.) 
 
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LEDESMA 
(Ao ver Natália.) Olha a Natália ali, Amanda. 
 
AMANDA 
É mesmo... Nossa, ela tá com uma cara tão esquisita. O que será que 
aconteceu? 
 
LEDESMA 
(Bocejando.) Acho que brigou com o namorado. 
 
(Baby engatinha até Natália, que não o vê.) 
 
AMANDA 
Ué, cadê o Baby? (Procura.) Baby, Baby. Onde esse menino se meteu meu 
Deus?! 
 
(Baby cutuca Natália e ela ao vê-lo, grita assustada. O menino começa a chorar.) 
 
AMANDA 
(Encontrando-o.) Ô Baby, você tá aqui... (Para Natália.) Oi, Natália, não se 
assuste. Esse aqui é o Baby, o filho do Cornélio com a Chifronésia. (Para Baby, 
que soluça.) Calma, calma. Ai, meu Deus, e a Chifronésia que não aparece? E 
você, Natália, o que está fazendo sozinha aqui? 
 
NATÁLIA 
Vim me encontrar com o Felipe, mas... a gente terminou. 
 
AMANDA 
Mas, por quê? Vocês tavam tão bem! 
 
NATÁLIA 
Ele não curte mulher... 
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AMANDA 
(Tentando entender.) Peraí, você tá querendo me dizer que aquele deus 
grego... que aquele gostoso... que aquele tesudo... que aquele touro... é gay? 
 
NATÁLIA 
Pois é. 
 
AMANDA 
(Suspira.) Ai, que desperdício! 
 
NATÁLIA 
Mas não quero conversar sobre isso. Pretendo esquecer tudo... Ledesma, 
você passa o bronzeador em mim? 
 
(Ledesma que estava dormindo, acorda e começa a passar o bronzeador na menina. 
Aparece um rapaz alto e atlético e fica observando Natália. Amanda caminha até ele e 
cochicha algo em seu ouvido. Ele sorri malicioso. Amanda tira o bronzeador das mãos 
de Ledesma e entrega ao rapaz, que imediatamente faz a tarefa que Ledesma estava 
fazendo. Amanda coloca Ledesma perto de uma cadeira. A garota deita-se e ali 
permanece.) 
 
AMANDA 
Natália, você me desculpa, mas eu preciso ir embora. Tenho que levar o 
Baby pra mamar. O Cornélio já deve ter chegado. 
 
NATÁLIA 
Mas não é a Chifronésia a mãe dele? 
 
AMANDA 
É, mas quem amamenta é o Cornélio. Tchau, amiga. A Ledesma vai ficar 
aí te fazendo companhia... 
 
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(Amanda sai puxando Baby pelo cordão umbilical. O rapaz continua passando o 
bronzeador nas costas de Natália.) 
 
NATÁLIA 
(Pensa que quem está lá é Ledesma.) Ledesma, como sua mão é grande e 
calejada. Nossa que pegada gostosa, Ledesma. Ai, que delícia... (Olha para a 
perna do rapaz e se assusta.) Nossa, Ledesma que perna grossa e... peluda. 
Quanto tempo você não se depila? (O rapaz segura a risada.) Se você quiser, 
vamos lá pra casa e eu faço uma depilação pra você com cera quente! (Fica 
arrepiada.) Ai, Ledesma, que mão pesada... tô toda arrepiada... Desse jeito eu 
vou virar lésbica... Ai que gostoso! (Tem uma crise sucessiva de arrepios e relaxa.) 
Por que você tá quieta, Ledesma? (Ao ver o rapaz, se assusta.) Que gato!!! 
 
(Desmaia nos braços dele. O rapaz sai de cena carregando a garota com um sorriso 
maroto. Black-out.) 
 
 
EPÍLOGO 
(Luz sobe em resistência. Felipe está no ponto de ônibus vestido como Odete Furacão: 
vestido curto, meia-calça, salto alto e uma peruca loura. Lixa as unhas.Entra Cornélio 
e ao ver aquele “peixão”, fica boquiaberto. O caipira caminha até Felipe e belisca sua 
bunda.) 
 
FELIPE 
(Fala como Odete.) Ai atrevido! (Ao ver Cornélio.) Que horror! Meu 
senhor... há quanto tempo o senhor não escova os dentes, hein? O seu bafo tá 
pior do que o bafo de dinossauro! Sai de perto de mim, sai. 
 
CORNÉLIO 
Mai nunca. Isso aí é muié de esvaziá o Pacaembu em dia de jogo de São 
Paulo e Corinthians, né? 
 
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FELIPE 
Se continuar me enchendo o saco eu chamo o meu bofe e ele vai te 
quebrar a cara, ouviu, seu trash? Não tô podendo, ouviu? 
 
CORNÉLIO 
Ouvi, mai num me importo. Pra ficá cocê largo inté a Chifronésia e o 
Baby que acabou de nascê. 
 
FELIPE 
E quem disse que a mona aqui vai ser crazy o suficiente pra casar você? 
Se fizer isso vão ter que me internar no Juqueri, porque aí vou tá pinel de vez. 
Desaqüenda, vai... Se não tem aqüé, desaqüenda... 
 
CORNÉLIO 
(Agarra o rapaz.) Ocê vai casá cumigo custe o que custá, muierão bão. 
 
FELIPE 
Me solta, seu caipira fedorento. Me solta, seu rascunho do demônio. 
Socorro... Polícia. Pára de me assuntar, seu ocó trash! 
 
CORNÉLIO 
Vou te levá pra casa! 
 
FELIPE 
(Consegue se soltar.) Mas antes preciso lhe esclarecer algumas coisas... 
Primeiro: meus cabelos não são da cor natural. 
 
CORNÉLIO 
Num faiz mar. 
 
 
 
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FELIPE 
(Procura sempre uma desculpa para se safar.) Eu fumo, fumo o tempo todo. 
Pareço uma maria-fumaça: Piuí... tchuc, tchuc, tchuc, tchuc... (Imita uma maria-
fumaça.) Piuí.... 
 
CORNÉLIO 
Num me importo. 
 
FELIPE 
Eu tenho um bofe. Vivo há três anos com um guitarrista de punk-rock. 
 
(Faz os gestos de quem toca guitarra e tira sons desconexos da boca.) 
 
CORNÉLIO 
Num sô ciumento... 
 
FELIPE 
(Faz um dramalhão mexicano.) Nunca poderei ter filhos... 
 
CORNÉLIO 
A gente adota uns par deles. 
 
FELIPE 
(Perde a paciência.) Ô anta, você não entende... (Tira a peruca e engrossa a 
voz.) Eu sou homem... 
 
CORNÉLIO 
(Pega Felipe no colo e diz com a maior naturalidade.) Mai ninguém é 
perfeito... 
 
FELIPE 
(Olha para a mão.) Ai... 
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CORNÉLIO 
O que foi? 
 
FELIPE 
Quebrei minha unha!!!! 
 
(Cornélio sai com Felipe nos braços, que esperneia. Todos os jovens invadem o palco e 
fazem a mesma coreografia da cena da danceteria no prólogo. Até Chifronésia e Baby 
entram na dança. Estão felizes, à exceção de Felipe, que foi obrigado a viver com 
Cornélio eternamente.) 
 
 
FIM 
 
 
Janeiro/1996

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