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27. A TORTA DE MAÇÃ.pdf

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AAAA TTTTOOOORRRRTTTTAAAA DDDDEEEE MMMMAAAAÇÇÇÇÃÃÃÃ 
 
 
Infantil 
 
 
Texto de 
JULIO CARRARA 
 
 
Escrita em 2009 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Julio CarraraJulio CarraraJulio CarraraJulio Carrara A Torta de MaçãA Torta de MaçãA Torta de MaçãA Torta de Maçã 1111 
 
 
PERSONAGENS: 
VELHINHA 
CAMPONESA 
MARIDO 
MULHER 
MOÇO 
MÃE 
CRIANÇA 
VELHO 
 
CENÁRIO: Descrição no texto. Tudo muito simples e despojado. Pode ser 
apenas elementos que entram e saem conforme as necessidades das cenas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Julio CarraraJulio CarraraJulio CarraraJulio Carrara A Torta de MaçãA Torta de MaçãA Torta de MaçãA Torta de Maçã 2222 
 
 
CENA 1 
(Entra velhinha bonitinha, de touquinha, varrendo a casa. Encosta a vassoura, limpa 
as mãos no avental e vai para o fogão.) 
 
VELHINHA 
(Falando sozinha, agradavelmente.) E que doce eu vou fazer hoje? (Abre um 
livro de receitas e procura.) Bolo de creme, bolo de chocolate, hummm, torta de 
ananás, torta de ameixa, não... Ah! Torta de Maçã. Hum, que delícia. Há quase 
um ano que eu não como torta de maçã. Também o tempo das maçãs é só uma 
vez por ano. Mas agora está no tempo... Vamos ver o que eu tenho aqui. 
Farinha, açúcar, passas, fermento, ovos, leite... Tenho tudo menos as maçãs! E 
não se pode fazer torta de maçãs sem maçãs. Acho que não há outro remédio 
senão sair para comprar. (Pega uma caixinha-cofrinho.) Vamos ver se o 
dinheirinho dá. (Abre e tira uma única moedinha.) Oh, não dá. Bem, paciência... 
Faço outro doce. (Sem entusiasmo.) Doce de ameixa. (Vê o vidro de ameixas.) 
Tenho tantas ameixas... (Para.) Mas o que eu tenho vontade mesmo é de comer 
torta de maçã. Hum! Torta de maçã é o doce que eu mais gosto no mundo. 
Que pena que o dinheirinho não dá para comprar maçãs... as ameixas sim 
estão sobrando. (Ideia.) Estão sobrando? Mas claro. Vou ao mercado vender as 
minhas ameixas! Vendo as ameixas e compro maçãs! Como é que eu não 
pensei nisso antes? 
 
(Com passinhos apressados, pega uma cestinha, enche de ameixas, cobre com um 
guardanapo bem limpinho. depois vai se arrumar. Troca a touca simples por uma com 
rendas, troca o avental simples por um branquinho, o xale por outro mais bonito, 
suspende um pouco a saia para ver se as botinhas estão limpas, balança a cabeça pega 
uma escova e lustra-as um pouco gemendo com o esforço e finalmente sai com a sua 
cestinha. Anda com passinhos miúdos, alegre, cantarolando com voz de velhinha um 
tema antigo. Ouve um passarinho, para para escutar um pouco e continua andando.) 
 
 
Julio CarraraJulio CarraraJulio CarraraJulio Carrara A Torta de MaçãA Torta de MaçãA Torta de MaçãA Torta de Maçã 3333 
 
CENA 2 
(Velhinha passa por um galinheiro onde uma camponesa joga milho para as galinhas 
com ruídos típicos.) 
 
VELHINHA 
(Parando diante do cercado, muito amável.) Bom dia, vizinha! 
 
CAMPONESA 
Muito bom dia, vovozinha. 
 
VELHINHA 
Bom mesmo, não é? Lindo, lindo dia! E como vão as galinhas hoje? E os 
galos? E os frangos? E os pintinhos? 
 
CAMPONESA 
Vão muito bem. Comem que dá gosto! Não há milho que chegue para 
eles! 
 
VELHINHA 
Mas em compensação botam ovos, não é? 
 
CAMPONESA 
(Orgulhosa.) Ah, lá isso é verdade! As minhas galinhas botam os ovos 
mais bonitos da redondeza! E os maiores também. Não deixam de botar todos 
os dias. Quer ver? (Abaixa-se até um ninho e tira um ovo.) Está vendo, 
vovozinha? 
 
VELHINHA 
Mas que beleza de ovos! Está de parabéns pelo seu galinheiro, vizinha! 
 
 
 
Julio CarraraJulio CarraraJulio CarraraJulio Carrara A Torta de MaçãA Torta de MaçãA Torta de MaçãA Torta de Maçã 4444 
 
CAMPONESA 
Obrigada. E a senhora para onde vai tão cedo e tão faceira assim? Se 
fosse domingo, pensaria até que ia à missa. 
 
VELHINHA 
Eu vou ao mercado vender minhas ameixas. 
 
CAMPONESA 
A senhora tem ameixas para vender? Oh, que maravilha! 
 
VELHINHA 
Gosta de ameixas, minha filha? 
 
CAMPONESA 
Hum... E como eu gosto. 
 
VELHINHA 
Não quer comprá-las, então? 
 
CAMPONESA 
Não posso... Meu dinheiro já está contado para essa semana. 
 
VELHINHA 
Que pena! (Ideia.) Sabe de uma coisa? Eu quero vender as ameixas para 
poder comprar maçãs pra fazer uma torta. Se quiser eu troco essas ameixas 
por maçãs! Quer? 
 
CAMPONESA 
Eu faria essa troca de bom grado, vovozinha. Mas acontece que as maçãs 
que eu tinha já acabaram. Não sobrou nenhuma. Oh, que pena! Eu queria 
tanto comer umas ameixas hoje. O meu pai também gosta muito de ameixas. 
Se a senhora quiser trocar por outra coisa... Olha eu tenho um saquinho de 
Julio CarraraJulio CarraraJulio CarraraJulio Carrara A Torta de MaçãA Torta de MaçãA Torta de MaçãA Torta de Maçã 5555 
 
penas de ganso bem macias. Dá para fazer um travesseiro digno de uma 
princesa. Quer trocar as ameixas pelo saquinho de penas, vovozinha? 
 
VELHINHA 
Estou vendo que a sua vontade de comer ameixas é tanta como a minha 
de comer torta de maçã. E como eu sou da opinião que é melhor uma pessoa 
contente do que duas descontentes... aceito a troca! 
 
CAMPONESA 
Muito obrigada. Eu já vou buscar as penas. 
 
(Sai correndo. Velhinha fica “conversando” com as aves. A camponesa volta logo com 
um saquinho.) 
 
CAMPONESA 
Aqui estão as penas. 
 
VELHINHA 
Aqui estão as ameixas! Estenda o avental, minha filha! (A moça obedece, 
Velhinha despeja as ameixas no avental dela.) E bom proveito, vizinha. 
 
CAMPONESA 
Obrigada, vovozinha. Boa sorte. Durma bem no seu travesseiro de 
penas. 
 
VELHINHA 
Até logo. (Põe o saquinho na cesta e sai com seu passinho miúdo e falando 
sozinha.) Se não estou mais perto da minha torta de maçã, não faz mal. Um 
bom travesseiro também é gostoso. E afinal, as penas são mais leves do que as 
ameixas. 
 
(Continua a caminhar.) 
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CENA 3 
(Velhinha para na frente de um jardim com muitas flores para cheirá-las e um casal sai 
de casa, brigando.) 
 
MARIDO 
Palha! 
 
MULHER 
Algodão! 
 
MARIDO 
Palha, mulher! 
 
MULHER 
Algodão, homem! 
 
(Velhinha fica escondida entre as flores, espiando-os.) 
 
MARIDO 
Mas que mulher teimosa! Quando eu digo que é palha é porque sei o 
que estou dizendo! 
 
MULHER 
Teimoso é você. Quer saber mais do que eu sobre essas coisas? Eu digo 
que é algodão e tem que ser algodão! 
 
VELHINHA 
(Balançando a cabeça e sorrindo.) Tsk, tsk, tsk... Que é isso? Um casal tão 
simpático discutindo assim? (Ambos olham para ela enfezados, mas mudam de 
expressão ao ver a carinha dela.) Bom dia. 
 
 
Julio CarraraJulio CarraraJulio CarraraJulio Carrara A Torta de MaçãA Torta de MaçãA Torta de MaçãA Torta de Maçã 7777 
 
MULHER 
Bom dia, vovozinha! 
 
MARIDO 
Bom dia. (Ideia, cutuca a mulher.) Olhe, a vovozinha pode nos ajudar. 
 
MULHER 
É mesmo. (Para velhinha.) Quem sabe poderá nos ajudar a decidir a nossa 
discussão. 
 
VELHINHA 
Se for coisa de que eu entendo, com muito gosto. Não me agrada ver 
pessoas simpáticas brigando... E de que se trata, meus amigos? Parece que a 
dúvida é entre algodão e palha? 
 
MARIDO 
É que a minha mulher é teimosa. 
 
MULHER 
(Interrompendo-o.) Deixa eu explicar primeiro. Acontece que a almofada 
da poltrona do meu avô está velha e é preciso fazer-lheuma almofada nova. 
Eu já costurei e preparei tudo. Só falta encher a almofada. Acho que uma boa 
almofada tem que ser cheia com algodão. 
 
MARIDO 
(Interrompe.) Eu acho que fica melhor com palha! 
 
MULHER 
Algodão fica muito melhor. 
 
MARIDO 
Palha que é melhor! E mais barato também. 
Julio CarraraJulio CarraraJulio CarraraJulio Carrara A Torta de MaçãA Torta de MaçãA Torta de MaçãA Torta de Maçã 8888 
 
MULHER 
Algodão! 
 
MARIDO 
Palha! 
 
MULHER 
Algodão! 
 
MARIDO 
Palha! 
 
(Velhinha fica olhando para um e para o outro como jogo de tênis e já está com uma 
ideia na cabeça.) 
 
VELHINHA 
(Agitando as duas mãos.) Chega! Chega! 
 
MULHER 
Então diga vovozinha. A senhora não encheria o travesseiro com 
algodão? 
 
VELHINHA 
(Ar travesso.) Algodão? Não. Certamente que não! 
 
MULHER 
(Desapontadíssima.) Não? 
 
MARIDO 
(Triunfante.) Viu, viu, viu mulher teimosa? A gente enche o travesseiro 
com palha. Não é, vovozinha? Com uma boa palha seca! 
 
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VELHINHA 
Palha? Não! Eu nunca encheria o travesseiro do vovô com palha! 
 
MARIDO 
Não? 
 
(Marido e Mulher se olham espantados.) 
 
MULHER 
Mas vovozinha, então o que nos aconselha a fazer? 
 
MARIDO 
Sim, o que nos diz, então? Nem algodão nem palha... Mas então... 
 
VELHINHA 
Vocês não acham que não existe melhor travesseiro do que travesseiro 
de penas? Um travesseiro de penas de ganso, macias e leves? 
 
MULHER 
Penas de ganso? Isso é para gente rica! 
 
MARIDO 
Nós não podemos permitir um luxo desses! 
 
VELHINHA 
Quem sabe, quem sabe... (Velhinha tira o saquinho de penas da cesta.) Nesse 
saquinho há penas para encher uma boa almofada para a poltrona do vovô. 
 
MULHER 
Mas vovozinha! Nós não temos dinheiro para pagar isso. 
 
 
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VELHINHA 
Eu não estou pedindo dinheiro... Eu troco esse saquinho de penas por 
algumas maçãs... Estou com vontade de comer uma torta de maçã hoje. 
 
MULHER 
(Triste.) Oh, que pena! Não temos nenhuma maçã. 
 
MARIDO 
Que pena! 
 
VELHINHA 
Não fiquem tristes! Se vocês não tem maçãs eu troco por qualquer outra 
coisa. (Olha em volta.) Por um raminho dessas lindas flores, por exemplo. 
 
MULHER 
Oh, vovozinha. Tire quantas quiser. 
 
MARIDO 
Eu mesmo vou fazer um raminho. (Os dois arrancam algumas flores e logo 
está feito um raminho.) Aqui estão as suas flores, vovozinha. 
 
VELHINHA 
E aqui estão as suas penas. 
 
MULHER 
Essas penas valem muito mais do que as flores. Fez um mau negócio, 
vovozinha. 
 
VELHINHA 
É o que você pensa, minha filha. Fiz um ótimo negócio. Podem ser que 
em dinheiro as penas valham mais do que as flores, mas a minha satisfação de 
ver vocês contentes, não há dinheiro que pague. Até loguinho. 
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(Os dois acenam para a velhinha que sai pela estrada com as flores na cestinha.) 
 
CENA 4 
(Velhinha na estrada encontra com um moço bonito, bem trajado, mas de cara muito 
amarrada.) 
 
VELHINHA 
Bom dia, moço. Não está lindo o dia hoje? 
 
MOÇO 
(Enfezado.) Dia lindo ou dia feio, frio ou quente, pouco me importa. 
 
VELHINHA 
Tsk, tsk, tsk. Um moço tão rico, tão bonito e tão mal humorado! Isso é 
mau, meu filho. O que foi que lhe aconteceu? 
 
MOÇO 
(Caindo em si.) Desculpe os meus modos, vovozinha, mas é que estou 
muito aborrecido. 
 
VELHINHA 
Aborrecido? O que é isso, menino? Um moço tão bonito... 
 
MOÇO 
É que eu vou até a casa da minha namorada... 
 
VELHINHA 
E isso é motivo para ficar aborrecido? Não me parece... 
 
MOÇO 
Hoje eu queria pedi-la em casamento. 
 
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VELHINHO 
Cada vez me parece que você tem menos razões para ficar triste, meu 
filho. 
 
MOÇO 
Pois é. Seria tudo muito bom, mas acontece que encomendei um lindo 
anel para dar a ela como presente de noivado. E o joalheiro não aprontou o 
anel para hoje. E agora eu tenho que ir à casa da minha noiva com as mãos 
vazias. 
 
VELHINHA 
Vocês jovens, tem cada uma. Não acha melhor ir de mãos vazias do que 
de coração vazio? Não é o presente que importa. 
 
MOÇO 
Bem, isso é verdade. Mas é que gostaria de levar um presente pra minha 
noiva. Já está na hora de ir pra lá e não dá mais tempo de arranjar nada. 
 
VELHINHA 
Ah, juventude, juventude... (Suspira.) Bom, o juízo não vem mesmo 
antes do tempo. Não fique triste, mocinho. Não irá de mãos abanando... 
 
MOÇO 
Não? Como assim? 
 
VELHINHA 
Você não acha que não há presente mais lindo para uma jovem do que 
um bonito ramo de flores? 
 
(Tira o ramo da cestinha e entrega ao moço.) 
 
 
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MOÇO 
São lindas vovozinha. Mas não vão lhe fazer falta? Não ia levá-las a 
algum lugar, para alguém? 
 
VELHINHA 
Bem, para falar a verdade eu queria trocá-las por algumas maçãs. Estou 
com tanta vontade de comer torta de maçã... Mas eu prefiro que você leve 
essas flores para a sua noiva. Você vai ficar contente, a moça vai ficar contente, 
as flores ficarão contentes... Tome-as, meu filho. 
 
MOÇO 
(Pegando o ramo.) Obrigado, vovozinha. Sinto não ter maçãs para lhe dar. 
(Põe a mão no bolso.) 
 
VELHINHA 
(Fazendo que não com as mãos.) Não, não! Não quero dinheiro! 
 
MOÇO 
(Rindo.) Tem razão, vovozinha... Gentileza como a sua não há dinheiro 
que pague! Mas então aceite essa lembrança minha. (Tira uma corrente do 
pescoço.) É uma correntinha que uso desde pequeno. 
 
VELHINHA 
Mas eu não posso aceitar. É de ouro, não posso. 
 
MOÇO 
Vou ficar ofendido se não aceitar o meu presente. A senhora me deu 
alegria hoje... Vamos, aceite! 
 
VELHINHA 
Bem, já que você insiste. Muito obrigada. (Põe a correntinha na cestinha.) 
 
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MOÇO 
Adeus, vovozinha. Estou com pressa. 
 
(Moço sai cantando. Velhinha, parada, segue-o com os olhos. Fica sozinha examinando 
a correntinha.) 
 
VELHINHA 
Uma corrente de ouro! Agora sim posso ir ao mercado e comprar 
quantas maçãs couberem na minha cestinha! E ainda vai sobrar dinheiro! Que 
torta de maçã eu vou comer hoje. Mas tenho que me apressar senão chego 
tarde. 
 
(Começa a andar com passos apressados.) 
 
CENA 5 
(Conforme vai andando, a velhinha ouve um choro de uma criança e logo vê uma pobre 
mulher sentada à porta de um casebre, toda esfarrapada, com uma criança ao lado e um 
cachorrinho.) 
 
MÃE 
(Consolando a criança.) Não chore meu filho... Não chore! 
 
VELHINHA 
Bom dia. O que aconteceu? Por que estão tão tristes? 
 
MÃE 
Ah, vovozinha... Estamos muito mal. Faz seis meses que fiquei viúva e a 
única riqueza que nos ficou, a mim e ao meu filho, era uma vaca. E ontem a 
vaca morreu... Agora não tenho mais o leite para vender para comprar um 
pouco de comida. 
 
 
Julio CarraraJulio CarraraJulio CarraraJulioCarrara A Torta de MaçãA Torta de MaçãA Torta de MaçãA Torta de Maçã 15151515 
 
CRIANÇA 
Estou com fome, mãe! 
 
MÃE 
Também estou com fome, filho... Não sei o que vai ser de nós, 
vovozinha. Se ao menos eu tivesse um pouco de dinheiro. Não posso nem 
trabalhar. (Chora.) 
 
VELHINHA 
Que horror! Uma pobre mãe e uma criança sem ter o que comer e eu, 
velha egoísta pensando na torta de maçã enquanto uma criancinha pequena 
passa fome. (Tira a corrente da cestinha e põe no colo da mulher.) Essa corrente é de 
ouro. Dará para comprar comida para vocês por vários dias. 
 
MÃE 
Uma corrente de ouro? Não é possível! 
 
VELHINHA 
Tudo é possível e nada acontece sem razão. Foi sorte eu ter encontrado 
aquele moço bonito. 
 
MÃE 
Mas... mas isso é demais, vovozinha. 
 
VELHINHA 
Demais? Não, não é demais. Com o dinheiro que sobrar poderá comprar 
alguma coisa. Roupas, sapatos... Adeus, boa mulher. Felicidades. (Vai saindo.) 
 
MÃE 
(Alcançando-a.) Vovozinha! Eu nem pude lhe agradecer. 
 
 
Julio CarraraJulio CarraraJulio CarraraJulio Carrara A Torta de MaçãA Torta de MaçãA Torta de MaçãA Torta de Maçã 16161616 
 
VELHINHA 
Não é preciso. 
 
MÃE 
Mas eu gostaria de retribuir de algum modo. 
 
VELHINHA 
O sorriso de uma criança é a melhor retribuição. 
 
(Acaricia a cabeça da criança que está com o cachorrinho no colo.) 
 
CRIANÇA 
(Puxando a mãe pela manga.) Mãe, mãe... 
 
MÃE 
O que é meu filho? (A criança cochicha-lhe algo.) Você quer fazer isso? 
 
CRIANÇA 
Quero sim. Ela é tão boazinha. Fala pra ela, mãe. Fala! 
 
VELHINHA 
O que você quer me dizer, garoto? 
 
MÃE 
Ele quer te dar o cachorrinho para ficar em sua casa e lhe fazer 
companhia. 
 
VELHINHA 
Quer me dar o seu cachorrinho? Que menino bom. 
 
CRIANÇA 
É um cachorrinho bonzinho. A senhora vai gostar dele. 
Julio CarraraJulio CarraraJulio CarraraJulio Carrara A Torta de MaçãA Torta de MaçãA Torta de MaçãA Torta de Maçã 17171717 
 
VELHINHA 
Tudo o que é dado de boa vontade traz alegria, meu filho. Aceito o seu 
cachorrinho e muito obrigada. (Põe o bichinho na cesta.) Adeus! 
 
MÃE 
Adeus, vovozinha. Abençoada seja! 
 
(Velhinha sai com o cachorrinho na cesta, andando com seu passinho.) 
 
VELHINHA 
(Acariciando o cachorrinho.) Não sei o que vou fazer com você, bichinho! 
Mas a gente não recusa presente de criança!... Mas quantos negócios eu fiz 
hoje! Um saquinho de penas por uma caixa de ameixas, um ramo de flores por 
um saquinho de penas, uma corrente de ouro por um ramo de flores e um 
cãozinho por uma corrente de ouro. Mas o que importa? O meu coração está 
contente. (Sai andando, cantarolando.) 
 
 
CENA 6 
(Velhinha de repente para e vê uma macieira carregada de maçãs dentro de um 
jardinzinho. Fica muito feliz.) 
 
VELHINHA 
Que maçãs bonitas... E quantas. (Aproxima-se e encosta na cerca e vê um 
velho sentado embaixo da macieira. Para o Velho, alto.) Bom dia, tiozinho! Que 
linda a macieira a sua. Parabéns! 
 
VELHO 
(Enfezado.) Parabéns nada! De que me adianta essa macieira? 
 
 
 
Julio CarraraJulio CarraraJulio CarraraJulio Carrara A Torta de MaçãA Torta de MaçãA Torta de MaçãA Torta de Maçã 18181818 
 
VELHINHA 
Como de que lhe adianta? Uma árvore tão linda e as maçãs 
vermelhinhas, madurinhas! 
 
VELHO 
Sei, sei. Vivo aqui sozinho. Não tenho nem um cachorro para me fazer 
companhia. 
 
VELHINHA 
Cachorro? Gostaria de ter um cachorro? 
 
VELHO 
Um cachorro é melhor do que ninguém, não acha? Late, faz festa pra 
gente, guarda a casa. 
 
VELHINHA 
Pois não seja por isso. Eu tenho aqui na minha cestinha exatamente o 
que o senhor precisa. 
 
VELHO 
Como é que é? 
 
VELHINHA 
Eu acabo de ganhar um cachorrinho e não sei o que fazer com ele. 
(Esperta.) Se quiser eu lhe dou o cachorrinho em troca de uma cesta de maçãs. 
 
VELHO 
(Animado.) Mas não é que é um cãozinho mesmo? E de boa raça! 
 
VELHINHA 
Quando crescer vai guardar a casa e lhe fazer companhia. 
 
Julio CarraraJulio CarraraJulio CarraraJulio Carrara A Torta de MaçãA Torta de MaçãA Torta de MaçãA Torta de Maçã 19191919 
 
VELHO 
Vai me fazer companhia desde já! (Pega o bichinho.) E vai se chamar Fido, 
porque será meu fiel amigo. 
 
VELHINHA 
Então, negócio fechado? Posso levar as maçãs? 
 
VELHO 
Naturalmente. Pode encher a sua cestinha, fique a vontade. 
 
VELHINHA 
Obrigada! (Começa a encher a cesta enquanto o velho brinca com o 
cachorrinho.) Pronto. Enchi a cestinha. Que torta de maçã eu vou fazer hoje! 
 
VELHO 
Torta de maçã? Hum... Bom apetite! 
 
VELHINHA 
Obrigada... Adeus. 
 
VELHO 
Eu é que agradeço. Adeus! 
 
 
CENA 7 
(Velhinha agora volta mais do que depressa, passa por todos os cenários, cumprimenta 
todos que encontra e finalmente chega à sua casinha. Entra, põe as maçãs em cima da 
mesa, tira a roupa de passeio e coloca a roupa em que estava na primeira cena e põe-se a 
trabalhar, toda assanhada, cantarolando. Passagem de tempo marcada pela iluminação. 
Ela retira do forno uma linda torta de maçã e põe em cima da mesa.) 
 
 
Julio CarraraJulio CarraraJulio CarraraJulio Carrara A Torta de MaçãA Torta de MaçãA Torta de MaçãA Torta de Maçã 20202020 
 
VELHINHA 
Hum... Como cheira bem! (Começa a cortar a torta. Ouvem-se palmas.) 
Entre, a porta está aberta. 
 
VELHO 
(Entrando.) Dá licença, vovozinha! 
 
VELHINHA 
Oh, é o senhor? Que surpresa! 
 
VELHO 
Quando a senhora me falou em torta de maçã, eu pensei... 
 
VELHINHA 
Em me fazer companhia. Mas que boa ideia. Comer torta de maçã 
sozinha é muito bom, mas com companhia, é melhor ainda. 
 
VELHO 
Sou da mesma opinião... Nada como uma boa torta de maçã e uma boa 
companhia... 
 
VELHINHA 
Então o que está esperando? Sente-se... 
 
(Serve-lhe um grande naco e pega outro. Ambos começam a mastigar com grande 
apetite e com os olhinhos brilhando.) 
 
 
FIM 
 
Novembro/2009

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