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A Crianca e o adolescente no brasil: uma historia de tragedia e 
sofrimento. 
 
 
Juliana Paganini. 
Academica. 
Inserido em 16/02/2011 
Parte integrante da Edição no 752 
Código da publicação: 2195 
 
 
Resumo 
 
Este artigo aborda do tratamento dado a criança e ao adolescente no Brasil colônia, 
destacando o quão estes foram desrespeitados e humilhados, atingindo o statustão 
somente de objeto perante a sociedade. Descreve o Brasil império, percorrendo pelas 
nomenclaturas estigmatizantes e rotulatórias em relação a meninas e meninos. 
Analisa o Brasil república, bem como a transformação lenta e gradual que ocorreu 
com a promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil e Estatuto da 
Criança e do Adolescente. O método de abordagem é o dedutivo. O método de 
procedimento é monográfico. 
 
Palavras – Chave: Adolescente. Criança. História. Sofrimento. 
 
Introdução 
 
 
 
O artigo tem como escopo analisar a trajetória da criança e do adolescente 
no Brasil colônia, tendo como base alguns autores que foram de extrema 
importância no entendimento de que a infância, fase que deveria ser 
desfrutada pela criança e respeitada por todos, foi ao contrário, negada e 
ignorada durante tanto tempo. 
Em seguida, buscar-se-á com a bibliografia atualizada, textos doutrinários 
e legislação específica descrever qual o tratamento dado à criança e ao 
adolescente no Brasil imperial. 
Por fim, o artigo ora proposto, abordará a criança e o adolescente no Brasil 
república tratando de pontos relevantes tais como o abandono da 
nomenclatura de menoridade, que foi de vital importância para a 
consolidação e respeito da teoria da proteção integral. 
 
 
 
1. As crianças e os adolescentes no Brasil Colônia 
 
 
 
No Brasil colônia, a idéia de proteção e sentimento em relação a criança 
não existia, ou seja, as crianças eram consideradas animais que deveriam 
ter aproveitada sua força de trabalho enquanto durassem suas curtas vidas, 
ou seja, a expectativa de vida era de 14 anos de idade, onde metade dos 
nascidos vivos morriam antes de completar os 7 anos de idade (PRIORE, 
2000, p. 20). 
Meninas e meninos viviam em extrema pobreza, então, uma das 
alternativas encontradas nessa época para livrar as crianças da pobreza e 
consequentemente ganhar dinheiro, era entregá-los para a marinha. 
Nesse contexto, nas embarcações portuguesas em 1500, estiveram 
presentes os grumetes, pagens e as órfãs do rei, onde os grumetes eram 
os que tinham as piores condições de vida, atuando nos trabalhos mais 
arriscados e sendo vítimas de inúmeras tragédias a bordo, além da péssima 
alimentação. 
Os pagens por sua vez, eram os acompanhantes das famílias, tinham um 
cotidiano menos árduo, pois cabia a eles servir a mesa dos oficiais, arrumar 
os camarotes e as camas. Tais pagens trabalhavam menos que os grumetes 
e eram considerados superior a estes, porém estavam sujeitos a má 
alimentação e exploração sexual (RAMOS, 2000, p. 19) 
Sendo assim, enquanto os meninos pobres menores de 16 anos eram 
embarcados como grumetes e pagens nas naus portuguesas do século XVI, 
e alguns dos filhos dos oficiais, mesmo não sendo pagens, embarcavam 
simplesmente como acompanhantes de seus pais a fim de aprender seu 
ofício, as meninas órfãs de pai e pobres eram arrancadas à força de sua 
família e embarcadas sob a categoria de órfãs do rei.” (PRIORE, 2000, 
p.32). 
Desse modo, as órfãs do rei eram as meninas brancas, pobres, menores de 
16 anos de idade, que tinham o pai falecido e eram utilizadas para venda, 
onde algumas eram virgens e outras prostitutas (PRIORE, 2000, p.33). 
Enfim, chega-se a conclusão de que a história do cotidiano infantil a bordo 
das embarcações portuguesas quinhentistas,foi uma história tão somente 
de tragédias pessoais e coletivas. 
Assim, em 29 de março de 1549 desembarcaram na Vila de Pereira, quatro 
padres e dois irmãos liderados pelo padre Manuel de Nóbrega, onde vinham 
com o objetivo de ensinar as crianças a doutrina, mas também os modos 
de vida, ler, escrever, cantar, trabalhar, tudo através da Companhia de 
Jesus (CHAMBOULEYRON, 2000, p.56). 
A Companhia de Jesus, além das ordens missionárias, se encarregava de 
orientar na formação de crianças e adolescentes e influenciou muito na 
criação de colégios, onde vinham inclusive pessoas “de fora” para receber 
não somente os ensinamentos mas também vigilância e enquadramento. 
Nesse sentido, os padres tinham a difícil missão de perseverar os bons 
costumes, fazendo com que as crianças influenciassem seus pais na 
efetivação e implementação de tais condutas. 
Logo, as crianças foram no Brasil, instrumento de propagação da fé cristã, 
ou seja, eram objetos de convencimento e influência aos pais e aos mais 
velhos que devido a idade, não poderiam comparecer à igreja 
(CHAMBOULEYRON, 2000, p.63). 
Porém, com o passar do tempo, os padres, foram percebendo a dificuldade 
de evangelizar os nativos, onde chegou-se a conclusão que pelo medo os 
índios se converteriam mais rápido do que pelo amor, por estarem 
afastados de seus abomináveis costumes e da fé cristã. 
Assim, nas aldeias administradas pelos jesuítas, Mem de Sá mandara fazer 
tronco e pelourinho, que por sua vez eram utilizados sempre que as 
crianças ou adolescentes fugissem da escola (CHAMBOULEYRON, 2000, 
p.63).Entretanto, embora o castigo físico fosse normal, os padres tinham o 
cuidado de não o aplicar pessoalmente, delegando a tarefa, de preferência, 
a alguém fora da companhia. Posteriormente em 1726 surgiu a então 
denominada roda dos expostos, que foi uma das instituições brasileiras de 
mais longa vida, sobrevivendo aos três grandes regimes de nossa história. 
Criada na Colônia perpassou e multiplicou-se no período imperial, 
conseguiu manter-se durante a República e só foi extinta definitivamente 
na recente década de 1950 (MARCÍLIO, 2000, p. 51).Sendo assim, quase 
por século e meio a roda de expostos foi praticamente a única instituição 
de assistência à criança abandonada em todo o Brasil.O sistema de rodas 
de expostos foi inventado na Europa medieval, onde seria ele um meio 
encontrado para garantir o anonimato do expositor e assim estimulá-lo a 
levar o bebê que não desejava para a roda, em lugar de abandoná-lo pelos 
caminhos, bosques, lixo, portas de igreja ou de casas de família, como era 
o costume, na falta de outra opção. Assim procedendo, a maioria das 
criancinhas morriam de fome, de frio ou mesmo comidas por animais, antes 
de serem encontradas por almas caridosas (MARCÍLIO, 2000, p.52).O 
nome roda, provém do dispositivo onde se colocavam os bebês que se 
queriam abandonar. Sua forma cilíndrica, dividida ao meio por uma 
divisória, era fixada no muro ou na janela da instituição, onde no tabuleiro 
inferior e em sua abertura externa, o expositor depositava a criancinha que 
enjeitava. A seguir, ele girava a roda e a criança já estava do outro lado do 
muro. Puxava-se uma cordinha com uma sineta, para avisar a vigilante ou 
rodeira que um bebê acabava de ser abandonado e o expositor 
furtivamente retirava-se do local, sem ser identificado (MARCÍLIO, 2000, 
p. 55).A origem desses cilindros rotatórios de madeira vinha dos átrios ou 
vestíbulos de mosteiros e de conventos medievais, usados então como 
meio de se enviar objetos, alimentos e mensagens aos seus residentes. A 
finalidade era a de se evitar todo contato dos religiosos enclausurados com 
o mundo exterior, garantindo-lhes a vida contemplativa escolhida.Como os 
mosteiros medievais recebiam crianças doadas por seus pais, para o serviço 
de Deus, muitos pais que queriam abandonar um filho utilizaram a roda 
dos mosteiros para neladepositarem o bebê. Esperavam eles que o 
pequeno não só teria os cuidados dos monges, como seria batizado e 
poderia receber uma educação aprimorada.Desse uso indevido das rodas 
dos mosteiros, surgiria o uso da roda para receber os expostos, fixada nos 
muros dos hospitais.Entretanto, em meados do século XIX, seguindo os 
rumos da Europa liberal, que fundava cada vez mais sua fé do progresso 
contínuo, na ordem e na ciência, começou forte a campanha para a abolição 
da roda dos expostos. Esta passou a ser considerada imoral e contra os 
interesses do Estado. Aqui no Brasil, igualmente iniciou-se movimento para 
a extinção da Roda dos Expostos, que partiu inicialmente dos médicos 
higienistas, horrorizados com os altíssimos níveis de mortalidade reinantes 
dentro das casas dos expostos, entretanto, o movimento insere-se também 
na onda da melhoria da raça humana, levantada com base nas teorias 
evolucionistas pelos eugenistas ( MARCÍLIO, 2000, p. 66).Logo, percebe-
se que a roda dos expostos surgiu na verdade para proteger de alguma 
forma os senhores, a burguesia, pois muitas vezes tais enjeitados eram 
filhos destes, que de forma bem cômoda colocavam na roda, para não se 
dividir a herança, para não abalar a imagem da “nobre” família e para poder 
continuar explorando a mãe dessa criança.Porém, a Santa Casa de 
Misericórdia (nome dado ao local onde se localizava a Roda dos Expostos) 
não poderia acolher todas as crianças, pois não teria lugar para tantas. 
Então, preocupada com essa situação, a Roda buscava casas de famílias 
que pudessem receber as crianças como aprendizes no caso dos meninos 
de algum ofício ou ocupação e das meninas como empregadas domésticas. 
Em Santa Catarina a roda dos expostos surgiu em 1828 e se extinguiu em 
1990. As primeiras rodas dos expostos foram instaladas em Salvador, Rio 
de Janeiro, Recife e São Paulo (MARCÍLIO, 2000, p.64).Dessa maneira, 
poder-se concluir que a criança e o adolescente no Brasil imperial foram 
tratados como meros objetos perante a sociedade, onde tais consequências 
irão refletir em épocas posteriores, ocasionando barreiras para efetivação 
dos direitos de meninas e meninos. 
 
2. As crianças e os adolescentes no Brasil Império 
 
Em 1822, século XIX, o Brasil foi marcado pela rígida divisão de classes, 
onde a nobreza descobriu a infância de suas crianças, mas os escravos 
terão que esperar algumas décadas para esse reconhecimento (CUSTÓDIO, 
2009, p.11).Assim, no período imperial brasileiro, é instituído um modelo 
de governo centralizado, onde a primeira Constituição brasileira não 
apresentava uma atenção especial em relação à criança, refletindo o papel 
ainda periférico da infância na legislação neste período.A Constituição 
Política do Império do Brasil preocupava-se com questões relativas à 
menoridade do príncipe, por tratar de uma questão de interesse para a 
manutenção das condições hereditárias de poder, mas não faz qualquer 
referência significativa em relação à infância ou ao desenvolvimento da 
criança Desse modo, no período imperial brasileiro, a constituição de 1824 
não apresenta uma atenção especial em relação à criança, onde esta era 
vista tão somente como um ser marginal que deveria ser submetido ao 
controle policial (VERONESE, 1999, p. 19). Nesse sentido, havia grande 
preocupação nessa época com a higiene e educação, quando foram criadas 
as primeiras escolas de primeiras letras com vistas a atender as crianças 
oriundas de famílias com melhor condição econômica. No período imperial, 
é muito evidente a preocupação relativa à educação, à saúde e à assistência 
das crianças, mas não se pode desconsiderar que a herança político-social 
das raízes coloniais brasileiras e a manutenção da escravidão foram fortes 
componentes numa estrutura hierarquizada que visava, antes de tudo, a 
unificação do território nacional com a defesa e a afirmação de fronteiras, 
mediante um poder centralizador, no qual a criança pouco 
importava.(VERONESE, 1999, p. 26).Percebe-se que gradativamente 
reconhecia-se a infância como etapa específica do desenvolvimento, no 
entanto, esta descoberta não significou imediatamente a valorização 
indistinta da criança como elemento prospectivo da humanidade. Antes 
disso, serviu para demarcar uma radical diferença de classe, privilegiando 
as crianças da elite mediante o reconhecimento de uma identidade própria 
e particular que se afirmou diante dos demais segmentos estigmatizados 
como órfãos, expostos, menores (MAUAD, 2000, p.25).Desse modo, 
durante o império a criança e o adolescente foram ignorados, não tendo 
qualquer direito assegurado, sendo à exploração no trabalho frente ao 
modelo liberal que surgia em busca do progresso com a instauração da 
república. Ou seja, a dinâmica era a seguinte: quanto mais pobres, mais 
delinquentes, quanto mais delinquentes mais se recolhiam tais crianças, 
quanto mais se recolhia, mais se fazia elas trabalharem, quanto mais se 
trabalhasse, mais se enriquecia o país. Enfim, em 1888, a abolição da 
escravidão não viria significar a abolição da exploração das crianças no 
trabalho, mas substituir um sistema por outro, considerado mais legítimo 
e adequado aos princípios norteadores da chamada modernidade. O 
trabalho infantil continuará como instrumento de controle social da infância 
e de reprodução social das classes, surgindo, a partir daí, outras instituições 
fundadas em novos discursos. 
 
3. As crianças e os adolescentes no Brasil República 
 
Com a proclamação da república e a abolição da escravidão, crianças 
circulavam pelas cidades em busca de comida, casa, na total miséria. 
Porém, estas eram tidas como “baderneiras”, ou seja, a presença da 
pobreza incomodava a classe alta, pois tais crianças traziam consigo a 
“criminalidade”, furtando a beleza e a paz social (CUSTÓDIO, 2009, p14). 
Dessa forma, na “defesa da sociedade”, e como forma de “solucionar” esse 
“problema”, foi aprovado o código penal da República inserindo acriança 
num âmbito criminal, reduzindo sua condição na de marginal, objeto vazio 
de direitos.O Brasil tinha nessa época um ideal muito claro: “a criança é o 
futuro do país”, nesses termos, tinha-se que corrigir suas condutas e ações 
enquanto fosse tempo para que no futuro esta criança se tornasse um bom 
e honesto adulto. Logo, o Estado com base em tal objetivo acabou 
construindo uma prática de intervenção sobre a criança pela via da 
criminalização, inaugurando o modelo menorista. Nesses termos, em 1927 
foi aprovado o Código de Menores, que inseriu o Direito do Menor no 
ordenamento jurídico brasileiro e em 1979 um “novo” Código de Menores, 
no qual de novo não tinha absolutamente nada, baseado na ideia de 
situação irregular (VERONESE, 1999, p. 26). O então código de menores 
de 1927 representava a elite da época, sendo carregado de conteúdo 
moral, surgindo para resolver os ditos “incômodos da delinquência” e 
ignorando por completo a desigualdade social e a exploração econômica. 
Assim, pode-se considerar que a infância acaba sendo descoberta através 
da negação, ou seja, por aquilo que não pode, não sabe, não é capaz, enfim 
através de cláusulas de barreira de direitos. Assim tal Código 
institucionalizou o dever do Estado em assistir os menores que, em face do 
estado de carência de suas famílias, tornavam-se dependentes da ajuda ou 
mesmo da proteção pública, para terem condições de se desenvolver ou, 
no mínimo, subsistirem no caso de viverem em situações de pauperização 
absoluta, ou seja, não era qualquer criança que estava submetida a tal 
Código. 
A tônica predominante desta legislação menorista era corretiva, isto é, 
fazia-se necessário educar, disciplinar, física, moral e civicamenteas 
crianças oriundas de famílias desajustadas ou da orfandade. O código 
instituía uma perspectiva individualizante do problema do menor: a 
situação de dependência não decorria de fatores estruturais, mas do 
acidente da orfandade e da incompetência de famílias privadas, portanto 
culpabilizava de forma quase que exclusiva a desestrutura familiar 
(VERONESE, 1999, p.28). 
Em 1941 foi organizado o SAM, Serviço de Assistência a Menores, através 
do Decreto-Lei nº 3779, com a tarefa de prestar, em todo território 
nacional, amparo social aos menores desvalidos e infratores, isto é, tinha-
se como meta centralizar a execução de uma política nacional de 
assistência, desse modo, portanto o SAM se propunha ir além do caráter 
normativo do Código de Menores de 1927 (VERONESE, 1999, p.32). 
Acoplado à perspectiva corretiva, tinha o SAM alguns objetivos de natureza 
assistencial, quando enfatizava a importância de estudos e pesquisas, bem 
como o atendimento psicopedagógico às crianças e adolescentes carentes 
e com problemas de conduta, os quais eram denominados desvalidos e 
delinqüentes. No entanto, o SAM não conseguiu cumprir suas finalidades, 
devido à sua estrutura emperrada, sem autonomia e sem flexibilidade e a 
métodos inadequados de atendimento, que geraram revoltas naqueles que 
deveriam ser amparados e orientados. (VERONESE, 1999, p.32). 
Assim, no dia 1º de dezembro de 1964 é criado a FUNABEM, Fundação 
Nacional do Bem Estar do Menor, pela Lei nº 4513, onde veio responder ao 
“clamor público” que passou a exigir, por parte do Governo, alguma solução 
diante do descrédito que se tornou o SAM (VERONESE, 1999, p.33). A 
FUNABEM era voltada para uma parcela estigmatizada da sociedade, ou 
seja, para os marginais. Sendo assim, o estado preocupado com o 
oferecimento das necessidades básicas, esquecia-se das necessidades 
integrais e utilizava a família desestruturada como a principal causa da 
marginalização da criança. Dessa forma, o estado se resumia por meio do 
assistencialismo, em criar instituições próximas de famílias para “cuidar” 
das crianças, ou seja, estas eram retiradas de suas famílias 
“desestruturadas” e colocadas a conviver com pessoas que não conheciam 
tudo pelo “bem da nação” (CUSTÓDIO, 2009, p.19). 
O menor era um problema que o estado com toda sua “bondade” tentava 
resolver de sua forma, remetendo a culpa a família desestruturada da 
criança, se livrando por completo de qualquer responsabilidade. 
Destarte, no final da década de 1970 a FUNABEM era alvo de profundas 
críticas, o governo brasileiro então cria em 11 de dezembro de 1978 a 
Comissão Nacional do Ano Internacional da Criança, que serviria de base 
para a declaração da Doutrina do Menor em Situação Irregular no Brasil, 
ou seja, o segundo Código de Menores de 1979 (VERONESE, 1999, p. 33). 
Dentro desse panorama surge o Código de Menores de 1979, lei nº 6697, 
de 10 de outubro de 1979, no Ano Internacional da Criança, onde com tal 
Código se dá o estabelecimento de um novo termo: “ menor em situação 
irregular”, que dizia respeito ao menor de 18 anos de idade que se 
encontrava abandonado materialmente, vítima de maus-tratos, em perigo 
moral, desassistido juridicamente, com desvio de conduta e ainda o autor 
de infração penal (CUSTÓDIO, 2009, p.35). Sendo assim, o Código de 
Menores de 1979 nada mais foi que um Código de Menores de 1927 com 
novas roupagens, onde a verdadeira vítima (criança) era a protagonista de 
um palco marcado pela violência, humilhação, estigmas e rótulos, 
reduzindo-a a objeto “vilão” da história. Dessa forma, em consonância com 
o Código de Menores, uma criança ou adolescente, sobre a qual se 
entendeu como tendo uma conduta desviante, mesmo que jamais tivesse 
cometido ato anti-social, poderia ser privada de sua liberdade de ir e vir, e 
perder vínculos familiares e comunitários, pelo simples fato de estar em 
situação irregular. Destarte, a Doutrina da Situação Irregular caracterizou-
se pela imposição de um modelo que reduzia a criança a mero objeto, não 
se reconhecendo dessa forma nenhum direito a ela, pois esta tinha como 
característica elementar a incapacidade. Nesse contexto, seguindo tal 
Código, o poder judiciário se aliou inclusive à polícia, apoiando-a nas 
práticas violentas contra crianças por serem estas pobres e destituídas de 
poderes políticos, facilitando então a retirada de sua dignidade e a negação 
de seus direitos. Com o fortalecimento dos movimentos sociais, o Brasil 
passa de um cenário estático e autoritário para crítico e democrático, onde 
diversos setores da sociedade passam a exigir a mudança de modelo. A 
miséria, desigualdade social, as precárias condições de vida da maioria das 
crianças foram alguns dos fatores que contribuíram para a transição da 
Doutrina da Situação Irregular pela Teoria da Proteção Integral. Dessa 
forma, a promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil, 
em 5 de outubro de 1988 inseriu a concretização do novo direito, trazendo 
a democracia participativa e a formulação de políticas públicas como 
ferramentas no combate à exclusão social (BRASIL, 2010). Desse modo, a 
Constituição da República Federativa do Brasil trouxe em seu artigo 6º os 
direitos sociais, tais como o direito à educação, à saúde, ao trabalho, à 
segurança, à previdência social, à proteção a maternidade e à infância, bem 
como à assistência aos desamparados (BRASIL, 2010). 
Nesse sentido, o artigo 227 dispõe que é dever da família, da sociedade e 
do Estado assegurar à criança, ao adolescente, e ao jovem, com absoluta 
prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, 
à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à 
convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda 
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e 
opressão (BRASIL, 2008). 
Seguindo tais direitos, no dia 13 de julho de 1990 surge a Lei 8.069, 
denominado Estatuto da Criança e do Adolescente, com votação expressiva 
nas duas casas do Congresso Nacional, trazendo o Direito da Criança e do 
Adolescente como ramo jurídico autônomo. 
Tal Estatuto trouxe um conjunto de normas disciplinadoras dos direitos 
fundamentais de meninos e meninas, destinando-se a implantação do 
sistema de garantias, assumindo a responsabilidade de assegurar e efetivar 
os direitos fundamentais de crianças e adolescentes, não devendo mais 
atuar como antes, com repressão e força, mas com políticas públicas de 
atendimento, promoção, proteção e justiça. 
 
Considerações finais 
 
A história do direito da criança e do adolescente no Brasil foi marcado por 
um sem número de tragédias, sofrimentos e humilhações, onde meninas e 
meninos até praticamente a promulgação da Constituição da República 
Federativa do Brasil foram considerados meros objetos de fácil manipulação 
na sociedade. 
Baseado nisso, percebe-se que o processo de concretização dos direitos 
fundamentais de crianças e adolescentes no Brasil precisa superar as 
práticas históricas de disciplinamento, violência e exclusão a que foram 
submetidas pelas instituições por longo período. 
Com o surgimento da Constituição da República Federativa do Brasil e 
Estatuto da Criança e do Adolescente, e consequentemente com a 
incorporação do Direito da Criança e do Adolescente no ordenamento 
jurídico brasileiro, ocorreu a oportunidade de reconhecimento de novos 
direitos fundamentais a meninas e meninos até então não instituídos. 
 
 
Referências 
 
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do 
Brasil. São Paulo: Saraiva, 2010. 
 
BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatutoda 
Criança e do Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial [da] União, 
Poder Executivo, Brasília, DF, 16 de jul. 1990. 
 
CHAMBOULEYRON, Rafael. Jesuítas e as crianças no Brasil quinhentista. In: 
PRIORE, Mary Del (Org). História das Crianças no Brasil. São Paulo: 
Contexto, 1999. 
 
CUSTÓDIO, André Viana. Direito da criança e do adolescente. Criciúma: 
UNESC, 2009. 
 
MAUAD, Ana Maria. A vida das crianças de elite durante o Império. 
In:PRIORE, Mary Del (Org). História das Crianças no Brasil. São Paulo: 
Contexto, 2000. 
 
MARCÍLIO, Maria Luisa. A roda dos expostos e a criança abandonada na 
história do Brasil 1726-1950. In: FREITAS, Marcos Cezar de. (Org). História 
social da infância no Brasil. São Paulo: Ed. Cortez, 1999. 
 
PRIORE, Mary Del (Org.) História das crianças no Brasil. São Paulo: 
Contexto.1999. 
 
RAMOS, Fábio Pestana. A história trágico-marítima das crianças nas 
embarcações portuguesas do século XVI. In: PRIORE, Mary Del (Org). 
História das Crianças no Brasil. São Paulo: Contexto, 2000. 
 
VERONESE, Josiane Rose Petry. Os direitos da criança e do adolescente. 
São Paulo: LTR, 1999. 
 
Data de elaboração: novembro/2010 
Juliana Paganini. 
Academica. 
Inserido em 16/02/2011 
Parte integrante da Edição no 752 
Código da publicação: 2195 
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