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UESB Curso de Engenharia Florestal ANATOMIA DA MADEIRA DFZ 010 Prof. Gilmar Correia Silva 2015.1 Anatomia da Madeira Introdução ANATOMÉ (grego) = incisão, dissecação + sufixo latino “IA”. - Conceito: Estudo dos diversos tipos de células que constituem o lenho (xilema secundário), suas funções, organização e estrutura. - Objetivos da Anatomia da madeira: Distinguir madeiras aparentemente idênticas Subsídio a órgãos de fiscalização para identificação das madeiras comercializadas e/ou ameaçadas de extinção Indicar a utilização adequada em função das características Prever e compreender o comportamento da madeira quando em serviço O que é MADEIRA? - Orgânico - Heterogêneo - Anisotrópico - Poroso - Composto basicamente: celulose, polioses, lignina, extrativos e alguns minerais Estes constituintes estão agrupados em estruturas celulares com propriedades e funções específicas. Material Heterogêneo Constituído de diferentes tipos de células, sendo as 3 principais: - Parenquimáticas - Prosenquimáticas - Meristemáticas Variação longitudinal e radial Tipos de Células - Parenquimáticas Funções: - Armazenar e transportar nutrientes - Mantém relação com a fotossíntese e exerce função de cicatrização Formam: - Parênquima Axial - Parênquima Radial (raios) - Medula - Prosenquimáticas Funções: - Sustentação da árvore e condução de líquidos Formam: - Traqueídeos - Vasos - Fibras - Meristemáticas Funções: - Produção de novas células Formam: - Meristema Apical - Meristema Cambial Componentes de uma Árvore Sistema radicular --> parte inferior (raízes) Tronco, caule, fuste parte intermediária (sustentação da copa e condução da seiva) - -> medula, xilema (cerne e alburno), câmbio, floema e casca Copa --> parte superior (galhos, folhas, flores e frutos) Componentes Macroscópicos do Tronco - Casca composição interna = floema (condução da seiva elaborada) e externa = córtex, periderme e ritidoma identificação de árvores vivas. Funções - Câmbio tecido meristemático (gera novos elementos celulares) entre o xilema e o floema, visível ao microscópio, ativo durante toda a vida do vegetal e influenciada pelas condições climáticas - Anéis de Crescimento incremento de crescimento regiões tropicais: câmbio vascular permanentemente ativo (diferenciação das células cambiais) para formação de xilema e floema; em regiões temperadas estações e condições bem definidas (diferenças nas células formadas – câmbio vascular estacional) Um anel típico: - Lenho Inicial (primaveril) - Lenho Tardio (outonal ou estival) Aspecto da seção transversal da madeira, onde a- detalhe do limite entre o lenho inicial e tardio; b- parênquima em faixas; c- poros geminados; d- poros múltiplos tangenciais (aumento de 50x). - Lenho Inicial: Crescimento no início do período vegetativo Células com paredes delgadas, lumes grandes e coloração mais clara - Lenho Tardio: Crescimento iniciado com o fim do período vegetativo Células com paredes espessas, lumes menores e coloração escura Largura dos anéis função {espécie, ambiente (luz, T ºC, precipitação, disponibilidade de água, comprimento do período de crescimento), manejo silvicultural (espaçamento, desbaste, competição)} Evidência dos anéis: coníferas (gimnospermas) x folhosas (angiospermas) - Folhosas destaque de algumas características específicas: a) Presença de faixa de células parenquimáticas nos limites dos anéis de crescimento (parênquima marginal) aparece macroscopicamente como uma linha tênue de tecido mais claro / alargamento dos raios (mogno (Swietenia macrophylla)) b) Concentração ou maior dimensão dos poros no início do período vegetativo (porosidade em anel) – cedro (Cedrela fissilis) c) Espessamento diferencial das paredes das fibras de forma análoga ao que ocorre nas gimnospermas - pereira (Pyrus communis) e bracatinga (Mimosa scabrella) d) Alteração no espaçamento das faixas tangenciais de um parênquima axial (reticulado ou escalariforme) – em sapotáceas e lecitidáceas, pode vir acompanhado por um número menor ou ausência de poros – ceru (Cariniana decandra) Tauari-amarelo Identifique a distribuição dos poros em relação à formação dos anéis de crescimento d) Outros casos: - duas ou mais características podem aparecer na mesma madeira - espécies com anéis indistintos (umiri – Humiria floribunda) - Anéis de crescimento descontínuos (não formam um círculo completo em torno da medula), especialmente em árvores velhas (copas assimétricas) inatividade do câmbio numa estação - Falsos anéis de crescimento (qdo se forma mais de um anel por período vegetativo) perda temporária da folhagem por geadas, ataques de fungos ou xilófagos ou ainda condições favoráveis - Anéis excêntricos - Anéis ondulados (excelente prop. acústica) Disposição dos anéis de crescimento de uma conífera, destacando-se a regularidade dos anéis e o efeito de uma desrama, liberando o restante da madeira limpa (“clear”), sem a formação dos nós. Técnicas para evidenciar os anéis de crescimento: a) Aplicação de corantes: diferença na absorção b) Imersão em ácido: ex.: coníferas (corrosão lenho inicial) c) Exposição à chama de um bico de Bunsen: partes negras mais brilhantes d) Medição da intensidade luminosa e) Aparelhos tateadores: esforço mecânico à penetração de agulha f) Exposição a raios X: medida a intensidade de raios que atravessam o lenho ao longo dos anéis Relação entre a formação do anel de crescimento e a qualidade tecnológica da madeira. Relação dos anéis com a dendrocronologia, dendroclimatologia e dendroecologia. - Cerne e Alburno parte interna do tronco com cor mais escura (cerne) causa: com exceção das células parenquimáticas (maior longevidade) apenas a camada mais externa do tronco é fisiologicamente ativa fluxo ascendente na parte mais externa do xilema e a seiva elaborada pelo floema e a formação de novas células pelo câmbio. consequência: perda da atividade vital e adquirem cor mais escura pela deposição de tanino, resinas, gorduras, carboidratos e outras substâncias da transformação dos materiais de reserva dos parênquimas (brasilina do pau-brasil; lapachol da Tabebuia). A proporção de alburno e cerne se encontra relacionada diretamente com a idade da árvore.. Madeiras de maior idade e mais próximas da base apresentaram maior porcentagem de cerne (SILVA, 2002). Idade (anos) Tora Volume médio (m 3) Cerne (%) Alburno (%) Cerne/ Alburno 10 Base 0,246 72,77 27,23 2,67 2 0,200 72,08 28,24 2,55 14 Base 0,372 68,71 31,30 2,19 2 0,319 68,34 31,66 2,16 20 Base 0,440 72,43 27,57 2,83 2 0,383 71,72 28,28 2,53 25 Base 0,599 78,17 21,83 3,58 2 0,495 75,90 24,10 3,15 - Árvores adultas quantidade relativa de alburno é menor que a encontrada nas árvores mais jovens. - Em geral árvore com alta taxa crescimento possui maior quantidade de alburno. - Existe forte correlação entre a área de alburno e a quantidade de folhagem existente na copa. - O cerne possui uma maior quantidade de extrativos que o alburno = peso específico mais alto. - Em algumas espécies: extrativos presentes no cerne reduzem a permeabilidade da madeira (dificulta secagem e o tratamento com substâncias preservantes) e conferem maior durabilidade natural e podem ser abrasivos. Parâmetro Cerne Alburno Coloração mais escura mais clara Umidade menor Maior Atividade fisiológica menor Maior Resistência e durabilidade maior Menor Geralmente, as madeiras que apresentam o cerne durável são conhecidas como “madeiras de lei”, termo remanescente do Brasil Colônia, em que determinadas madeiras, sabidamentemais duráveis e de maior interesse comercial, eram proibidas por lei de serem comercializadas no comércio interno, ficando restritas ao uso pela Coroa Portuguesa, que as utilizava para construção naval. O termo madeira de lei é usado popularmente até hoje para designar as madeiras que possuem boas propriedades físico- mecânicas, alta durabilidade natural, grande opção de usos e, frequentemente, nas listas das espécies ameaçadas de extinção. Outros aspectos associados à formação do cerne Ocorrência de TILOSE Obstrução do lume dos vasos por tilos no cerne --> proliferação de células parenquimáticas adjacentes que neles penetram pelas pontoações. Diferença de pressão entre os vasos e células contíguas ou estímulos por ferimentos externos a fim de bloquear a entrada de ar na coluna de líquidos em circulação ou ainda pela degradação enzimática das membranas das pontoações por fungos xilófagos. - Ocorrência de pontoações aspiradas (gimnospermas) Mecanismo de controle de economia de água para a árvore. A presença de extrativos e a formação de tilos reduzem a quantidade de ar e umidade disponíveis para o crescimento dos fungos. Tilos invadindo os vasos X T Tiloses (ty) em vasos (v) da madeira de folhosa (Robinia pseudoacacia) Tiloses em vasos da madeira de eucalipto. Pontoações A disposição da parede celular não ocorre de forma regular e contínua no interior das células; ao contrário, existem interrupções nas paredes secundárias dos traqueídeos e outras células lenhosas = pontoações. Função: estabelecer comunicação com as células vizinhas, para a passagem de líquido, permitindo o fluxo ininterrupto de água ao longo do tronco. Principalmente nas Gimnospermas processos de secagem, preservação e difusão de substâncias químicas durante os processos de preparação de polpa para papel. Tipos básicos: A) Pontoações Simples Interrupção na parede secundária como uma forma de comunicação com a célula vizinha. Comum nas fibras libriformes e nas células do parênquima axial e radial, não ocorrendo entre os traqueídeos. A cavidade da pontuação permanece com igual largura ou se torna mais ampla ou estreita, gradualmente na direção do lume. Esquema de par de pontuação simples (Chimelo, 1986). B) Pontoações Areoladas Interrupção que ocorre nos traqueídeos (Gimnopermas) e elementos de vaso e fibrotraqueídeos (Angiospermas) Quando a parede secundária se afasta da parede primária, formando um abaulamento, de forma circular, sobre a cavidade da pontuação (câmara da pontuação), deixando uma abertura (poro) no centro da saliência. Esquema de par de pontuação areolada (Chimelo, 1986). Nos traqueídeos, a membrana primária da pontuação apresenta espessamento central, denominado tórus, que é sustentado pelo margo porção da parede em que as microfibrilas de celulose apresentam arranjo reticulado que circunda o tórus. Normalmente, a pontuação de uma célula = à pontuação da célula adjacente, formando um par de pontuações duas pontuações em traqueídeos adjacentes formam um par de pontuações areoladas. Par de pontuações simples ( A ) e par de pontuação areolada ( B ) (Chimelo, 1986). Quando isso não acontece, a pontuação é dita cega. As paredes das células do parênquima axial ou radial são providas de pontuações simples = não apresentam aréola. Quando houver correspondência entre duas pontuações simples = par de pontuações simples. Quando o contato ocorrer entre uma célula parenquimática ou elemento de vaso (pontuação simples) com um traqueídeo longitudinal (pontuação areolada) forma-se um par de pontuações semi-areolado, estando a aréola situada do lado do traqueídeo. Traqueídeos de Spruce com Pontuações Essa obstrução, que pode ser causada por pressões oriundas de tensões exercidas por fluidos nas aberturas da membrana, está relacionada com a permeabilidade das gimnospermas. Passagem de Líquido pela Pontuação Par de Pontuação Areolada Pontuação areolada – Pinus stobus Pontuação areolada – Pinus stobus TO – Torus MO - Margo Pontuações do traqueídeo Pontuações simples do parênquima Pontuações Areoladas em Folhosa ELEMENTO FUNÇÃO Casca externa Proteção física e biológica Floema Condução de alimentos, crescimento em diâmetro Câmbio Crescimento em diâmetro Raios Armazenamento e fluxo alimentar no sentido radial (lateral) do floema das células vivas do câmbio e cerne Xilema Anéis de crescimento: *Madeira de primavera * Madeira de verão Condução de seiva bruta (água e sais minerais) até as folhas Madeira de baixa densidade para condução de água Madeira de alta densidade que dá resistência e suporte à árvore Cerne Proporciona resistência e suporte a árvore, freqüentemente possui baixo teor de umidade, coloração escura Composição Média de Madeiras de Coníferas e Folhosas Constituinte Coníferas Folhosas • Celulose 42 ± 2% 45 ± 2% • Polioses 27 ± 2% 30 ± 5% • Lignina 28 ± 2% 20 ± 4% • Extrativos 5 ± 3% 3 ± 2% Celulose componente majoritário, perfazendo aproximadamente a metade das madeiras tanto de coníferas, como de folhosas propriedades químicas e físicas, e estrutura o principal componente da parede celular dos vegetais. Polioses (hemiceluloses) estreita associação com a celulose na parede celular. Cinco açucares: hexoses: glucoses, manose e galactose; e as pentoses : xilose e arabinose, são os principais constituintes das polioses folhosas, em geral, contém maior teor de polioses que as coníferas, e a composição é diferenciada. Lignina constituídas por um sistema aromático composto de unidades de fenil-propano maior teor em coníferas do que em folhosas substância amorfa localizada na lamela média e parede secundária fortalecendo, enrijecendo as paredes celulares. CELULOSE (C6 H10 O5)n moléculas lineares de glicose formada por microfibrilas que se reúnem em feixes maiores (fibrilas) associada a outros polissacarídeos, principalmente hemiceluloses (xiloglicanos e xilanos) e compostos pécticos (galacturonanos). Esquema de formação da estrutura da parede celular. (Adaptado de IPT. VI,1988 por ANDRADE 2005). - Várias centenas de microfibrilas podem ser alinhadas juntas = macrofibrilas, visíveis ao microscópio como estriações da parede celular. Composição da Parede Celular - As macrofibrilas são organizadas lateralmente como lamelas e certo número destas compõe a parede celular. - A parede celular de um traqueídeo (conífera) ou de um vaso ou fibra (folhosa) é formada por camadas individuais. Lamela média – formada durante a telófase da mitose (divisão celular) e atua como cimentante entre as células adjacentes, cujos componentes básicos são os compostos pécticos. Analogia com a argamassa cimentante que liga os tijolos de uma estrutura. Parede primária – composta de microfibrilas que se acumulam sobre a lamela média,. Possui a celulose como o principal componente, acompanhada de outras substâncias não celulósicas, como a hemicelulose e compostos pécticos composta de uma membrana mais ou menos rígida que envolve o protoplasto da célula e é a primeira parede celular que se desenvolve numa célula jovem. Parede secundária – formada por dentro da parede primária quando a célula está próxima ou já alcançou o tamanho máximo tem a celulose como componente, acompanhada da hemicelulose e da lignina, mas não apresenta a presença de compostos pécticos formada por três camadas: S1, S2 e S3, de fora para dentro, respectivamente. S1, S2 e S3 - Camadas da parede secundária pr - Parede primária ml - Lamela médiaAs camadas S1 e S3 delgadas e de pouca importância e a S2 é espessa e forma a porção principal da célula. Células meristemáticas e a maioria das células parenquimáticas não são lignificadas e não apresentam a parede secundária, à exceção das células parenquimáticas que fazem parte do xilema e da medula de algumas plantas. Paralelamente à deposição da parede secundária inicia-se o processo de lignificação que é mais intenso na lamela média e na parede primária. A rede de microfibrilas, que era irregular na parede primária, já toma uma posição mais uniforme, tendendo a horizontal ou com um ângulo aberto na camada S1, ocorrendo o mesmo tipo de orientação na camada S3; na camada S2, justamente a camada mais espessa e mais importante da fibra, as microfibrilas adquirem uma orientação helicoidal ângulo formado pelas microfibrilas com o eixo da fibra é o ângulo fibrilar e ele é muito importante na definição de certas características, pois se relaciona com o comprimento e a resistência individual da fibra. Os ângulos fibrilares médios: S1 = 50 a 70º /// S2 = 10 a 30º /// S3 = 60 a 90º. Camada Espessura, m Ângulo Fibrilar LM 0.2-1.0 ---- P 0.1-0.2 Ao acaso S1 0.2-0.3 50-70° S2 1-5 10-30° S3 0.1 50-90° W ---- ---- Estrutura de uma Folha de Papel
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