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Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Direito Empresarial I 1 I. TEORIA GERAL DO DIREITO EMPRESARIAL 1. PRINCÍPIOS E CARACTERÍSTICAS DO DIREITO EMPRESARIAL 1.1 Princípios do direito empresarial Liberdade de iniciativa: Art 170, CF: “A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre-iniciativa, tem por fim assegurar a todos a existência digna, conforme ditames da justiça social, observados os seguintes princípios”. Nas palavras de André Luis Santa Cruz “A ideia de que a livre iniciativa é algo antagônico a outros princípios ditos “sociais” é deveras equivocada. A história é pródiga em exemplos que demonstram que as sociedades mais livres e que defendem com mais veemência o princípio da livre iniciativa são mais desenvolvidas, social e economicamente, e ostentam menos desigualdade e mais qualidade de vida.” Liberdade de concorrência Proteção à propriedade privada. Art 170, CF: “A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre-iniciativa, tem por fim assegurar a todos a existência digna, conforme ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: II – Propriedade privada” Regime mais benéfico às micro empresas e empresas de pequeno porte Segurança jurídica (Tutela da confiança) Preservação da empresa. (da atividade empresarial e não do sujeito) 1..2 Características do direito empresarial Avesso às formalidades. Voltado ao patrimônio mobiliário e a bens imateriais. Cosmopolita: voltado à internacionalização Voltado para as massas e não ao sujeito 2. A EMPRESA 2.1 Conceito: A definição de empresa possui relação direta com o âmbito de atuação do direito empresarial, já que este regula tanto a atividade empresarial quanto os atos praticados por quem exerce essa atividade. Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Direito Empresarial I 2 Conceito econômico de empresa: É uma noção ligada à organização dos fatores de produção (capital, trabalho e natureza) para realização de uma atividade econômica. Partindo dessa noção econômica determina-se o conceito jurídico de empresa: Atividade: É o conjunto de atos destinados a uma finalidade comum. Econômica: Criação de novas utilidades. Criação de riquezas, que consiste na basicamente na transformação de matéria prima ou interposição na circulação de bens, aumentando o valor destes. Organizada: Coordenação e programação dos atos para atingir um fim. A organização deve ter um caráter relevante dentro da atividade. Finalidade: A atividade deve ser dirigida ao mercado e não para uso pessoal. A empresa não se confunde com o empresário, que é quem exerce atividade empresarial, nem com o estabelecimento empresarial, que é o conjunto de bens que o empresário utiliza para exercer a empresa. 2.2 Quatro perfis da empresa – Alberto Asquini: “o conceito de empresa é o conceito de um fenômeno jurídico poliédrico, o qual tem sob o aspecto jurídico não um, mas diversos perfis em relação aos diversos elementos que ali concorrem”. (Alberto Asquini) A) Perfil subjetivo A empresa como sujeito (empresário). PF ou PJ. B) Perfil funcional Empresa como atividade empresária. “particular força em movimento que é a atividade empresarial dirigida a um determinado escopo produtivo” C) Perfil Objetivo Empresa como estabelecimento empresarial D) Perfil Corporativo Empresa como “comunidade laboral, uma instituição que reúne o empresário e seus auxiliares ou colaboradores”. “Núcleo organizado em função de um fim econômico comum.” (Concepção ultrapassada) Art 966 “ (...) atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços” Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Direito Empresarial I 3 3. O EMPRESÁRIO 3.1 Conceito: Pode ser tanto pessoa física (empresário individual) como pessoa jurídica (sociedade empresária). CC, Art. 966: Elementos característicos da condição de empresário: Economicidade: Exerce atividade para criação de riquezas Organização: Organiza os fatores de produção (natureza, trabalho e capital). A organização dos fatores de produção é preponderante sobre a atividade pessoal. Profissionalidade: Deve exercer a atividade com estabilidade e habitualidade. Assunção do risco: O empresário assume o risco total da empresa Direcionamento ao mercado: A atividade é voltada para satisfação de necessidades alheias e não pessoais. 3.2 Exclusão do conceito de empresário Art 966, Parágrafo único, CC “Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa.” Nesses casos, a atividade pessoal é preponderante em relação à organização dos fatores de produção, não constituindo o “elemento de empresa”. Enunciado 194, III JDC “Os profissionais liberais não são considerados empresários, salvo se a organização dos fatores da produção for mais importante que a atividade pessoal desenvolvida” Caso a situação se inverta e a organização dos fatores de produção torne-se mais relevante que a atividade pessoal, a sociedade passará a ser considerada empresária. (Ex.: Consultório médico que, incialmente explora atividade médica, passa a contratar diversos médicos, a vender produtos, abre filiais etc.. Sendo que os sócios pouco exercem atividade pessoal, dedicando-se exclusivamente à organização dos FP) “Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços.” Em suma, empresário é aquele que exerce empresa. Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Direito Empresarial I 4 3.3 O empresário individual Empresário individual é a pessoa natural que exerce profissionalmente atividade econômica organizada para produção ou circulação de bens ou serviços. Se não fizer de forma empresarial, será considerado profissional liberal. Empresário individual não tem patrimônio próprio e distinto da empresa. (como acontece na maioria das sociedades), logo não possui autonomia patrimonial, possuindo no máximo, um benefício de ordem, segundo o qual primeiro os bens da empresa devem ser executados e depois os do empresário. Enunciado 5, I JDC “Quanto às obrigações decorrentes de sua atividade, o empresário individual tipificado no artigo 966 do Código Civil responderá primeiramente com os bens vinculados à exploração de sua atividade econômica, nos termos do artigo 1.024 do Código Civil”. Responsabilidade: É direta e ilimitada. Responde com todos os seus bens pelas dívidas contraídas tanto na vida civil quanto no exercício da atividade empresarial. O empresário individual só pode iniciar uma empresa se tiver capacidade civil plena ou quando for emancipado, como no caso do estabelecimento civil ou comercial, desde que tenha economia própria e no mínimo 16 anos. Contudo, poderá o empresário incapaz continuar a atividade empresarial, se preenchidos os requisitos legais. 3.4 Impedimentos para o empresário individual Há duas hipóteses de impedimento para o exercício individual da atividade empresária: A) Impedimento legal; B) Incapacidade civil - Impedimentos legais (exemplificativo) Militares Membros ministério público e magistrados Servidores públicos federais - Incapacidade A regra é que o incapaz não pode exercer individualmente a atividade de empresa. Exceção:◌ Por meio de representante ou assistido ◌ Para continuar a empresa (o incapaz NÃO pode abrir uma empresa) Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Direito Empresarial I 5 ◌ Incapacidade superveniente (o sujeito já era empresário individual e torna-se incapaz) OU ◌ Sucessão causa mortis (adquire a titularidade por sucessão) ◌ O magistrado observará a conveniência do caso e os riscos (mediante jurisdição voluntária) Se o assistente ou representante for impedido – Juiz nomeará um ou mais gerentes. Se o juiz achar conveniente -- Nomeará um ou mais gerentes. o Não exime o Representante Ou assistente dos atos praticado pelos gerentes nomeados. Os bens do incapaz não ficam sujeitos ao resultado da empresa, desde que não pertencentes ao acervo desta. Esses bens, juridicamente protegidos, devem constar no alvará de autorização para exercício da atividade. (Apenas os bens que o incapaz possuía ao tempo da interdição ou sucessão e estranhos à empresa) A vedação é para exercício individual de empresa. O incapaz pode ser sócio, pois sócio não é empresário, empresário é a sociedade. Para ser sócio o incapaz: 1) não pode exercer poderes de administração; 2) o capital deve estar totalmente integralizado; 3) deve ser representado ou assistido. A autorização é precária, podendo ser revogada a qualquer tempo, ouvidos os representantes legais. 2.5 O Empresário Rural O ordenamento jurídico confere uma faculdade ao exercente de atividade rural, seja pessoa física ou jurídica, de constituir-se como sociedade empresária, registrando-se devidamente na junta comercial. Se optar por não fazer tal registro, não estará sujeito ao regime empresarial e não será considerado empresário. Art. 971. O empresário, cuja atividade rural constitua sua principal profissão, pode, observadas as formalidades de que tratam o art. 968 e seus parágrafos, requerer inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, caso em que, depois de inscrito, ficará equiparado, para todos os efeitos, ao empresário sujeito a registro. Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Direito Empresarial I 6 2.6 O Empresário Casado Apenas o empresário individual. Sociedade não casa. Art. 977. Faculta-se aos cônjuges contratar sociedade, entre si ou com terceiros, desde que não tenham casado no regime da comunhão universal de bens, ou no da separação obrigatória. Essa regra vale apenas para sociedades criadas a partir de 2002. Apenas para regime de comunhão universal ou separação obrigatória de bens. Apenas entre os cônjuges, já que podem contratar sociedade com terceiros. Art. 978. O empresário casado pode, sem necessidade de outorga conjugal, qualquer que seja o regime de bens, alienar os imóveis que integrem o patrimônio da empresa ou gravá-los de ônus real. 4. REGISTRO DO EMPRESÁRIO O Registro tem como finalidade dar publicidade aos atos e não eficácia. Tem natureza declaratória, visto que a empresa existe mesmo sem estar registrada, e excepcionalmente constitutiva, como no caso do exercente de atividade empresarial, que será considerado empresário apenas após o registro. Enunciado 198 do CJF: “A inscrição do empresário na Junta Comercial não é requisito para a sua caracterização, admitindo-se o exercício da empresa sem tal providência. O empresário irregular reúne os requisitos do art. 966, sujeitando-se às normas do Código Civil e da legislação comercial, salvo naquilo em que forem incompatíveis coma sua condição ou diante de expressa disposição em contrário” Empresário: Registro público de empresas mercantis Sociedade simples: Cartório de registro civil das pessoas jurídicas O registro deve ser feito antes de iniciar as atividades Art. 967. É obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do início de sua atividade. Art. 969. O empresário que instituir sucursal, filial ou agência, em lugar sujeito à jurisdição de outro Registro Público de Empresas Mercantis, neste deverá também inscrevê-la, com a prova da inscrição originária. Os atos de registro de empresários individuais devem ser visados por advogado Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Direito Empresarial I 7 Atos de registro: A) Matrícula: É o registro de determinados profissionais liberais (leiloeiros, tradutores públicos, intérpretes comerciais, trapicheiros e administradores de armazéns gerais). B) Arquivamento: Inscrição de empresários individuais, constituição, dissolução e alteração das sociedades empresárias. C) Autenticação: Registro de instrumentos de escrituração. 5. ESCRITURAÇÃO DO EMPRESÁRIO Apenas o pequeno empresário está dispensado da escrituração (art 1179, § 2, CC). Funções da escrituração: A) Organizar os negócios; B) Servir de prova de atividade para terceiros; C) Servir de prova para o fisco. A escrituração deve seguir o mesmo método contábil durante a vida da empresa (uniformidade temporal), ser fiel a realidade (fidelidade) e goza de sigilo relativo, que pode ser quebrado por interesse público (sigilo). (Princípios da escrituração) Os livros fiscais devem ser autenticados na junta comercial. Único livro obrigatório: Diário (pode ser substituído pelo sistema de fichas ou escrituração eletrônica); Para alguns ramos a legislação exige outros livros obrigatórios. 5.1 Força probatória da escrituração Art. 226. Os livros e fichas dos empresários e sociedades provam contra as pessoas a que pertencem, e, em seu favor, quando, escriturados sem vício extrínseco ou intrínseco, forem confirmados por outros subsídios. Contra o empresário: Livros fazem prova plena, mesmo com vícios. A favor do empresário: Livros só fazem prova se não conterem vícios extrínsecos ou intrínsecos e acompanhados de outros subsídios. 6. ESTABELECIMENTO COMERCIAL Barreto Filho: “É o complexo de bens, materiais e imateriais, que constituem o instrumento utilizado pelo comerciante, para exploração de determinada atividade mercantil”. Art. 1.142. Considera-se estabelecimento todo complexo de bens organizado, para exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade empresária. Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Direito Empresarial I 8 O local onde o empresário exerce sua atividade empresarial é apenas um dos elementos do estabelecimento empresarial. Estabelecimento empresarial não é sinônimo de patrimônio do empresário. Este pode ou não compor aquele. O patrimônio fará parte do estabelecimento se guardar um liame com o exercício da atividade fim do empresário. É a organização do empresário sobre o complexo de bens que dá a este a natureza de estabelecimento comercial. O que define um em bem como pertencente ao estabelecimento é o fato de ser usado como meio para exercício da atividade. O empresário não precisa ser proprietário de todos os bens que compõem o patrimônio, já que podem ser locados. 6.1 Natureza jurídica Teoria Atomista (Ascarelli): Não há um complexo uno com um regime jurídico uno. Cada bem possui um regime de circulação própria e individualizada; Teorias universalistas: Estabelecimento é uma universalidade de fato ou de direito: Universalidade: Conjunto de elementos que, quando reunidos, podem ser concebidos como coisa unitária, algo novo e distinto que não representa mera junção dos elementos componentes. De fato: A reunião dos bens é determinada por um ato de vontade De direito: A reunião dos bens é determinada por lei. A doutrina majoritariamente considera o estabelecimentoempresarial como uma universalidade de FATO. 6.2 Composição O estabelecimento comercial é composto por todos os bens materiais e imateriais que estejam a serviço da atividade fim da empresa. - Materiais: (ex.) Mercadorias do estoque, mobiliário, equipamentos, maquinarias. - Imateriais: (ex.) Patentes de invenção, marcas registradas, nome empresarial, título do estabelecimento, ponto comercial e nomes de domínio. Enunciado 7 da JD comercial: “O nome de domínio integra o estabelecimento empresarial como bem incorpóreo para todos os fins de direito.” Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Direito Empresarial I 9 Ponto comercial: Não se confunde como imóvel utilizado pelo empresário. É um bem imaterial que compõe o estabelecimento comercial. Está relacionado com a localização da realização das atividades. A Clientela não compõe o estabelecimento comercial, não sendo transferível. Aviamento: É um sobrevalor em relação aos valores individuais dos bens que compõem o estabelecimento empresarial. É aptidão da empresa de produzir lucro. O aviamento compõe o valor do estabelecimento: Soma dos componentes do estabelecimento: A + B + C + D = X Valor do estabelecimento: X + Y (y = aviamento) STJ Súmula - 451: É legítima a penhora da sede do estabelecimento comercial. 5.3 Negócios sobre o estabelecimento comercial Art. 1.143. Pode o estabelecimento ser objeto unitário de direitos e de negócios jurídicos, translativos ou constitutivos, que sejam compatíveis com a sua natureza. Com a venda do estabelecimento ocorre alteração na titularidade do controle da sociedade. Publicidade dos atos: Art. 1.144. O contrato que tenha por objeto a alienação, o usufruto ou arrendamento do estabelecimento, só produzirá efeitos quanto a terceiros depois de averbado à margem da inscrição do empresário, ou da sociedade empresária, no Registro Público de Empresas Mercantis, e de publicado na imprensa oficial. O estabelecimento pode ser alienado como um todo (universalidade de fato) através do contrato chamado “trespasse”, alterando-se o titular do estabelecimento. Artigo 1145 protege os credores do alienante. “Se ao alienante não restarem bens suficientes para solver o seu passivo, a eficácia da alienação do estabelecimento depende do pagamento de todos os credores, ou do consentimento destes, de modo expresso ou tácito, em trinta dias a partir de sua notificação.” Cláusula de não concorrência: Art. 1.147. Não havendo autorização expressa, o alienante do estabelecimento não pode fazer concorrência ao adquirente, nos cinco anos subseqüentes à transferência. Enunciado 489 do CFJ: “ A ampliação do prazo de 5 anos de proibição de concorrência pelo alienante ao adquirente do estabelecimento, Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Direito Empresarial I 10 ainda que convencionada no exercício da autonomia da vontade, pode ser revisada judicialmente, se abusiva” Enunciado 233 da III JDC: A sistemática do contrato de trespasse delineada pelo CC, especialmente seus efeitos obrigacionais, aplica-se quando o conjunto de efeitos obrigacionais somente bens transferidos importar a transmissão da funcionalidade do estabelecimento empresarial. Enunciado 59, II JDC: “A mera instalação de um novo estabelecimento, em lugar antes ocupado por outro, ainda que no mesmo ramo de atividade, não implica responsabilidade por sucessão prevista no art. 1.146 do CCB.” 7. NOME EMPRESARIAL O nome empresarial é o traço identificador do empresário. “Nome empresarial é aquele sob o qual o empresário e a sociedade empresária exercem suas atividades e se obrigam nos atos a elas pertinentes.” (IN/DNRC 104/07). Nome empresarial não se confunde com: Nome fantasia: Título de estabelecimento (semelhante a um apelido) Marca: Identifica marcas e serviços do empresário Nome de domínio: Endereço eletrônico Sinais de propaganda: Função de chamar atenção dos consumidores 7.1 Firma x Denominação FIRMA É formada pelo nome completo ou abreviado do empresário, sendo facultativo designação mais precisa de sua pessoa ou gênero de atividade (art 1156,CC). Contudo, a firma não pode conter apenas as inicias do nome do empresário. Pode ser individual ou social Individual: Formada pelo nome do próprio empresário Social: Formada pelo nome de um ou mais sócios. É facultativo: adicionar expressão que designe de forma mais precisa a pessoa do empresário ou ramo de sua atividade. Serve de assinatura Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Direito Empresarial I 11 DENOMINAÇÃO: Caracteriza-se por não levar o nome do empresário, mas sim expressão que indique o local, objeto social ou simplesmente uma expressão fantasia. Só pode ser social Formada por qualquer expressão linguística Deve indicar o objeto da empresa Pode indicar o nome civil ou qualquer outra expressão Não serve de assinatura ADOTA SÓ FIRMA EXEMPLOS Empresário individual Jorge menezes, J. Meneses, J Meneses produções Soc. em nome coletivo Jair & Clara, Jair & Cia, Jair & Cia veículos Soc. comandita simples Joel & Cia ADOTA SÓ DENOMINAÇÃO EXEMPLOS Soc. Anônima S/A tecidos oliva; Tecidos oliva S.A; Tecidos oliva sociedade anônima; Companhia tecidos oliva; tecidos oliva Cia de roupas ADOTA F OU D EXEMPLOS Soc. Limitada Joelma & Cia LTDA; Joelma & Cia Limitada; Sorvetes Ali LTDA; Sorvetes Ali Limitada Soc. Comandita por ações Comandita por ações bijuterias ouro e prata; C.A bijuterias ouro e prata; Bijuterias ouro e prata C.A; Paulo bijuterias comandita por ações Sociedade Regras Sociedade anomia “Sociedade anônima” (S/A) no início ou no fim OU “Companhia” (Cia) no início ou no meio Sociedade limitada “Limitada” (Ltda) no fim Comandita por ações Comandita por ações (C.A) no início ou no fim 7.2 Princípios do nome empresarial Veracidade: O nome empresarial não pode induzir a erro. Não se pode indicar uma atividade que não exerce. Não se pode indicar nome de pessoa que não seja sócio. Art. 1.165. O nome de sócio que vier a falecer, for excluído ou se retirar, não pode ser conservado na firma social. Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Direito Empresarial I 12 Novidade: Art. 1.163. O nome de empresário deve distinguir-se de qualquer outro já inscrito no mesmo registro. Não pode ser idêntico nem semelhante aponte de causar confusão. Não são exclusivos para fins de proteção: Denominações de atividade genéricas, gênero, espécie, natureza, lugar ou procedência, termos técnicos, científicos, literários, de uso vulgar ou nomes civis Como regra a proteção do nome é no âmbito da junta comercial (estadual), mas pode ser registrado de forma especial, estendendo-se ao território nacional. Unicidade: O empresário só pode ter um nome. Uma pessoa pode ter duas empresas individuais, mas cada uma deverá ter apenas um nome. Art. 1.164. O nome empresarial não pode ser objeto de alienação. II. TEORIA GERAL DO DIREITO SOCIETÁRIO 1. O QUE É DIREITO SOCIETÁRIO Para a doutrina Alemã é o direito da cooperação privada. É o fenômeno da cooperação entre duas ou mais pessoas para a exploração, em conjunto, de uma determinada atividade e o atingimento de um fim. Ainda para essa doutrina, o fenômeno associativo é a criação de uma entidade de direito privado para o alcance de um fim. Esse conceito não abarca todos os fenômenos societários,como a sociedade unipessoal, por exemplo. É importante diferenciar a associação lato sensu – gênero - de suas espécies: associação estrito sensu e sociedade. Princípios do direito societário São princípios estruturantes do direito societário: A) O ordenamento das sociedades; B) Ordenamento patrimonial; C) Ordenamento da atividade (empresa) São princípios valorativos do direito societário a proteção aos direitos individuais do sócio, das minorias, dos investidores, dos credores, e aos interesses dos trabalhadores. Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Direito Empresarial I 13 2. DISTINÇÕES BÁSICAS 2.1 Sociedade x Comunhão (copropriedade) Na sociedade o foco está no fim comum e na no bem jurídico. comunhão Naquela o bem está em função da atividade e nesta a atividade em função do bem (Ferri) Ex.: (Comunhão) Um apartamento recebido de herança por três irmãos. Estes resolvem aluga-lo, dividindo o aluguel em ¹/ 3 para cada um. Nesse caso, tudo gira em torno do bem (casa), ela é elemento principal da reunião de esforços e não a atividade. Ex.: (Sociedade) Três irmãos recebem um imóvel de herança e resolvem transformá-lo em um minimercado, onde cada um dos irmãos será sócio e responsável por um setor. O imóvel não é o centro das relações, mas está em função da atividade. A comunhão é uma relação de direito real, podendo ter origem em um contrato ou em um fato/ato não contratual. Cabe ressaltar que nas sociedades personificadas impera em regra o princípio da autonomia patrimonial, onde o ente criado possui patrimônio próprio e distinto do dos sócios, qualidade esta ausente na comunhão. 2.2 Associação estrito sensu x Sociedade Associação Sociedade Atividade não empresária Atividade empresária Finalidade não econômica Finalidade econômica Pode explorar atividade econômica Divide lucro entre sócios Não divide lucro entre associados 2.3 Associação estrito sensu x Fundação Ao contrário da associação e da sociedade, a fundação não é um fenômeno associativo, pois não tem sócios nem associados. É um complexo patrimonial destinado a um fim. 2.4 Sociedade x Empresa Enquanto a sociedade é sujeito, a empresa é objeto. A empresa é exercida pela sociedade. Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Direito Empresarial I 14 2.3.5 Sociedade Simples x Sociedade empresária O Empresário pode ser pessoa física (individual) ou pessoa jurídica (sociedade empresária). Ambas as sociedades, simples e empresária, exercem atividade econômica, porém nem toda atividade econômica configura atividade empresarial. As sociedades simples exercem atividade econômica não empresarial, ou seja, carecem do elemento de empresa. Já as sociedades empresárias exercem profissionalmente atividade econômica organizada para produção ou circulação de bens ou serviços. Um exemplo de sociedade simples é a sociedade formada por profissionais intelectuais cujo objeto social é a exploração da respectiva exploração da profissão intelectual de seus sócios, enquanto não o fizerem com empresarialidade (elemento de empresa – organização dos fatores de produção) Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro (art.967); e, simples, as demais. 3. NATUREZA JURÍDICA DO ATO CONSTITUTUVO 3.1 Teorias anticontratualistas Não buscam no contrato a resposta para a natureza do ato constitutivo da sociedade. Teoria do Ato coletivo: Há diversas partes cujas manifestações de vontade convergem para um determinado sentido, formando uma vontade unitária. A vontade das partes mantém-se paralelas, nunca se cruzam. NO ATO COLETIVO as particularidades (elementos componentes) de cada vontade são visíveis no ato final. É negócio jurídico unilateral, pois representa a formação de uma única vontade, já que não há divergências. Teoria do Ato complexo: Assim como na teoria do ato coletivo: Há diversa partes cujas manifestações de vontade convergem para um determinado sentido, formando uma vontade unitária. A vontade das partes mantém-se Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Direito Empresarial I 15 paralelas, nunca se cruzam. A grande particularidade em relação à teoria mencionada é que nesta o ato unilateral constitutivo dissolve todas as vontades, formando uma única vontade. Essa vontade única é fruto da decisão da maioria dos sócios. Críticas às teorias do ato complexo e do ato coletivo: Nem sempre, no ato constitutivo, há completa convergência de vontades. As relações entre os sócios se cruzam, como por exemplo, na existência de deveres recíprocos entre os sócios. Nem todos os sócios possuem os mesmos fins, e não raro defendem seus próprios interesses. Teoria da fundação ou ato corporativo: Todas as manifestações de vontade dos sócios seriam antecipação de uma única vontade – do próprio ente a ser criado. As declarações dos sócios não possuem validade se consideradas isoladamente. Ao manifestarem suas vontades, os sócios já estariam constituindo a pessoa jurídica. O ato de vontade possui natureza unilateral. Críticas: o Pessoa jurídica e sociedade NÃO se confundem. Existem sociedades que não são pessoas jurídicas; o Não se pode conceber a vontade antecipada do ente, no próprio ato que o cria. 3.2 Teorias Contratualistas Buscam explicar o fenômeno societário com base no contrato. Partem do pressuposto de que em todas as teorias anticontratualistas realiza-se um contrato como ato constitutivo. Porém não há possibilidade de explicar o fenômeno societário sob a ótica de um contrato bilateral. Ao contrário dos atos constitutivos das sociedades, nos contratos bilaterais, as vontades não são convergentes, a exemplo do contrato de compra e venda, onde uma das partes quer comprar e a outra quer vender. Outra diferença consiste na qualidade do chamado “sinalagma” atribuído aos contratos bilaterais, porque deve haver equivalência nas prestações. Diante disso, Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Direito Empresarial I 16 Túlio Ascarelli desenvolve a teoria do contrato plurilateral, a fim de explicar a natureza do ato constitutivo das sociedades. 3.2.1 Características do contrato plurilateral Possibilidade de participação de mais de duas pessoas. Fim comum. As partes apontam recursos para dentro do “circulo” para o desenvolvimento de uma finalidade comum para auferir e posteriormente distribuir resultados. Direitos e deveres recíprocos entre as partes. Se um dos sócios não cumprir com seus deveres, afetará, por exemplo, o lucro dos outros sócios. Função instrumental: O contrato não é um fim em si mesmo. Sua função não termina com o cumprimento das obrigações pelas partes. Nos contratos plurilaterais, Significa que o contrato é um instrumento para atingir determinadas finalidades, gerando continuidade nos deveres de cada sócio. Subsistência ante a vícios: Se um sócio aderiu ao contrato sob coação, apenas a manifestação de vontade desse sócio será anulada e não o contrato como um todo (como aconteceria em um contrato plurilateral). Se um sócio aderiu à sociedade sem um representante ou assistente, é nula sua adesão, não o contrato. Contudo, se a manifestação de vontade desse sócio for indispensável à manutenção das atividades da sociedade, pode ocorrer a dissolução desta, como exemplo: Uma sociedade que explora uma jazida tem a manifestação de vontade de um de seus sócios anulada. Porém é esse sócio quecontém autorização para pratica das atividades, tornando-as inviáveis. Aberto a novas adesões. Não existe limite de adesões ao contrato plurilateral. Ainda que tenha apenas duas partes, é um contrato plurilateral, aberto a novas adesões. Os contratos bilaterais serão sempre de duas partes. Inaplicabilidade da exceção do contrato não cumprido. Exceção é entendida como defesa, apontar um argumento contra. Um sócio não pode deixar de cumprir com seus deveres, alegando que outro sócio também não o fez. O inadimplemento de um dos sócios não justifica o de outros. Duração não instantânea. Podem ser de prazo indeterminado ou até mesmo determinado, mas não instantâneos. A duração pode ser certa (com data definida) ou incerta (após a realização de determinado fim). As deliberações ocorrem, em regra, por decisão de uma maioria. (Princípio majoritário). Já nos contratos em geral, não pode ocorrer alterações sem o consentimento de todas as partes. Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Direito Empresarial I 17 3.2.2 Teoria da instituição: Segundo M. Hauriou as sociedades são “uma organização social, estável em relação à ordem geral das coisas, cuja permanência é assegurada por um equilíbrio de forças ou por uma separação de poderes, e que constitui, por si mesma, estado de direito.” Essa teoria reduz a importância da vontade dos sócios, considerando que estes apenas aderem ao modelo de sociedade pré-estabelecido e aceitam tal disciplina; o Exemplo: Lei 6.404/76, Art 116, parágrafo único: “o acionista controlador deve usar o poder com o fim de fazer a companhia realizar o seu objeto e cumprir sua função social, e tem deveres e responsabilidades para com os demais acionista da empresa que nela trabalham e para com a comunidade em que atua, cujos direitos e interesses deve lealmente respeitar e atender.” Percebe-se que o sócio deve fazer esforções para consecução dos fins da sociedade e adequar- se (aderir) aos direitos e interesses já estabelecidos, atendendo-os e respeitando-os. Crítica: Há situações em que o modelo pré-estabelecido é moldado pela vontade dos sócios. (não apenas aderem, como modificam) 4. RELAÇÃO SÓCIO SOCIEDADE - Quem pode ser sócio de uma sociedade: Pessoa Natural Pode ser sócio desde que: o Não seja com seu cônjuge, quando casados no regime comunhão universal de bens (Art 977,CC). A restrição é apenas entre os cônjuges, nada impede que sejam sócios de terceiros. (Apenas para sociedades criadas a partir de 2002) o Se incapaz: (Não pode ser empresário, mas sócio pode) Estiver devidamente representado ou assistido Não exercer poderes de administração Capital social deve estar totalmente integralizado (Porque nas sociedades limitadas todos os sócios respondem pela integralização do capital social (Art 1052), esse requisito é uma proteção ao incapaz, já que impede a sua responsabilização pela integralização do capital). Apenas em sociedades de responsabilidade limitada (Atenção: Esse requisito não consta expressamente no art. 974, § 3º, CC.) Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Direito Empresarial I 18 Observações sobre o incapaz: Art. 1.030. Ressalvado o disposto no art. 1.004 e seu parágrafo único, pode o sócio ser excluído judicialmente, mediante iniciativa da maioria dos demais sócios, por falta grave no cumprimento de suas obrigações, ou, ainda, por incapacidade superveniente. Críticas ao artigo 1030: A) Contradiz o artigo 974, que permite que o incapaz seja sócio quando a incapacidade for superveniente, permitindo a sua exclusão. B) Quem deveria excluir o incapaz da sociedade é o seu curador. É apenas uma possibilidade, uma faculdade, em caso de omissão dos sócios, o incapaz permanece na sociedade (cumpridos os demais requisitos). Funcionário público: Devem ser observadas as disposições pertinentes ao regime jurídico a que o servidor esteja vinculado, como a exemplo dos servidores públicos federais, a lei 8.112. Mas como regra, nada impede que o servidor seja sócio, já que quem exerce a atividade empresarial é a sociedade e não o sócio. Pessoa jurídica: A regra geral é que a PJ pode ser sócio de sociedade. Nada impede também que as associações e fundações sejam sócias de uma sociedade. Há polêmica sobre a constituição de uma EIRELI por pessoa jurídica, pois o artigo 980 do código civil menciona apenas o termo “pessoa”, não especificando se jurídica, natural ou as duas. Na prática, atualmente, a EIRELI é constituída apenas por PESSOA NATURAL. O Objeto social da sociedade pode ou não trazer a previsão de participação em outra sociedade. Se determinada sociedade for participar de outra do mesmo ramo de atividade, não precisa constar tal previsão, se for de ramo de atividade distinto exige-se que no objeto social conste a determinação de que a sociedade pretende participar como sócia de outra(s). (Ex.: O Zaffari pode comprar participação no Rissul mesmo que o objeto social não traga previsão de participação em outras sociedades). 5. ELEMENTOS EXISTENCIAIS E REQUISITOS DE VALIDADE 5.1 Elementos existenciais contrato societário Consenso: Todos os sócios devem demonstrar vontade de participar de ingressar na sociedade. O consentimento pode ser explícito ou implícito, mas deve ser exteriorizado de alguma forma. Vícios: Manifestação de vontade com erro, dolo ou coação; Incapacidade civil – em se tratando de sociedades de responsabilidade ilimitada. Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Direito Empresarial I 19 Objeto lícito: É Conjunto das atividades que a sociedade se propõe a explorar. Deve ser determinado e possível fática e juridicamente, estando de acordo com a lei, a moral e os bons costumes. Forma: Em regra a forma é livre. O ordenamento exige forma escrita (art 967 e 968,cc), contudo terceiros podem provar a existência da sociedade por qualquer meio (art 987,cc). A sociedade pode ser formada por um acordo expresso ou tácito, escrito ou verbal. 5.2 Requisitos de validade Contribuição para o capital social: Exige-se um patrimônio inicial, composto pelas contribuições de cada sócio. No momento da constituição da sociedade, patrimônio e capital social se confundem. Participação nos lucros e nas perdas: Nem todo patrimônio líquido precisa ser distribuído entre os sócios, e o ideal é que não seja feito, mas uma quantia mínima deve ser repartida proporcionalmente à participação de cada sócio. Se a contribuição for em serviços a participação se mede pelo valor das quotas do sócio. Alguns autores não tratam a participação nas perdas como requisito de validade, outros, a exemplo de Marlon Tomazette, o fazem. Affectio societatis: Vontade de cooperação ativa dos sócios para atingir um fim comum. É o propósito comum aos contratantes de se unirem para alcançar um resultado almejado. Pluralidade de partes: Como regra geral, exige-se a pluralidade de sócios. Excepcionalmente admite-se a criação de sociedades com apenas um sócio, como as sociedades subsidiárias integrais (PJ única acionista de uma S/A). 6. OBJETO, FIM E INTERESSE SOCIAL O objeto social é o conjunto dos atos que a sociedade se propõe a praticar. É a cláusula do contrato que descreve as atividades que determinada sociedade pretende exercer. Requisitos do objeto social (visto brevemente no tópico anterior) Deve ser lícito: É importante distinguir ato ilícito de objeto ilícito. Se uma sociedade pratica um ato ilícito não torna seu objeto ilícito e vice-versa (ex.: Um bar que venda bebidas alcoólicas a menores de idade não tem objeto ilícito, maspratica ato ilícito). Objeto lícito é o que não contraria a lei, os bons costumes e a ordem pública. Deve ser possível: Possibilidade jurídica (não impedimento pelo ordenamento) e fática (na prática). Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Direito Empresarial I 20 Determinado: Conforme artigo 2º, § 2 da Lei das SA, o objeto deverá ser definido de modo preciso e completo. Não basta que o objeto social seja determinável, tem de ser determinado. (Nos EUA permite-se a indeterminação do objeto social). Não há impedimentos para que o objeto social estabeleça diversas atividades de ramos distintos a serem exploradas, desde estejam plenamente determinadas. Sociedade de propósito específico: Não constitui novo tipo societário. É um instrumento jurídico para realização de determinados empreendimentos. Diversas empresas se unem para realização, por exemplo, de uma grande obra como um estádio de futebol, uma ponte ou uma estrada. Concluído o propósito ocorre o fim da sociedade de propósito específico. O objeto social marca o nascimento, o desenvolvimento e, em algumas situações, o fim da sociedade. Nascimento: Não existe sociedade sem objeto social definido. É o objeto social que determina, na maioria dos casos, se uma sociedade é empresária ou não. Se o objeto social for a exploração de atividade intelectual, por exemplo, a sociedade será não empresária. (Nem sempre o que definirá o caráter empresarial será o objeto social, como nas cooperativas, que serão sempre simples, ou nas sociedades anônimas, que serão sempre empresárias, tendo por definição um critério formal, isto é, definido por lei). Desenvolvimento: Os sócios e administradores devem agir em conformidade com o objeto social previamente definido. Art. 117, § 1º da Lei das SA (6404/76): “São modalidades de exercício abusivo de poder: a) orientar a companhia para fim estranho ao objeto social (...)”1. o A vinculação quanto ao objeto social é: Fática: Atos praticados deve estar de acordo com objeto social. Jurídica: A alteração do objeto social depende de quórum específico de deliberação, de acordo com o tipo societário, ressalvado ao sócio dissidente – que não concorda com a alteração – a saída da sociedade nos casos em que o quórum exigido não for a unanimidade. o A questão dos atos praticados pelo administrador além do objeto social: 1 Cita-se artigos da lei das sociedades anônimas porquanto podem ser usados por analogia na ausência de disposição mais específica. Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Direito Empresarial I 21 O administrador não é empregado, logo possui maior discricionariedade nos meios e modos para realização do objeto social. Os administradores devem agir com a diligência que se espera do homem médio na concretização do objeto social. Abuso de poder x Excesso de poder: Abuso é quando o ato é praticado além dos poderes definidos no objeto social, já o excesso de poder é o ato pratico dentro do objeto social, mas fora das atribuições previstas no contrato (ex.: Administrador comercial faz um contrato com o banco, sendo que essa atribuição é do administrador financeiro). TEORIA DA APARÊNCIA: Não se pode penalizar terceiros de boa- fé que realizaram atos com sujeito que, pelas circunstâncias, aparentava possuir aptidão para realizar determinado ato. Nesse caso, a sociedade responde perante terceiros e o praticante do ato responde perante a sociedade em direito de regresso. Uma das justificativas para essa teoria é o dinamismo das relações comerciais, onde nem sempre o contratante terá tempo hábil e razoável para verificar se a pessoa com quem contrata possui limites expressos no objeto social ou não. Art. 1.015. No silêncio do contrato, os administradores podem praticar todos os atos pertinentes à gestão da sociedade; não constituindo objeto social, a oneração ou a venda de bens imóveis depende do que a maioria dos sócios decidir. Parágrafo único. O excesso por parte dos administradores somente pode ser oposto a terceiros se ocorrer pelo menos uma das seguintes hipóteses: I - se a limitação de poderes estiver inscrita ou averbada no registro próprio da sociedade; (aqui se aplica crítica devido o dinamismo das relações, pois nem sempre o acesso ao registro é rápido). II - provando-se que era conhecida do terceiro; III - tratando-se de operação evidentemente estranha aos negócios da sociedade (Enunciado 11 da 1ª JD Comercial: A regra do art. 1.015, parágrafo único, do Código Civil deve ser aplicada à luz da teoria da aparência e do primado da boa-fé objetiva, de modo a Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Direito Empresarial I 22 prestigiar a segurança do tráfego negocial. As sociedades se obrigam perante terceiros de boa-fé.) TEORIA ULTRA VIRES: Presume-se o abuso de poder nos contratos celebrados pelos administrados evidentemente estranhos ao objeto social. Fim da sociedade (extinção) Art. 1.034. A sociedade pode ser dissolvida judicialmente, a requerimento de qualquer dos sócios, quando: (...) II - exaurido o fim social, ou verificada a sua inexeqüibilidade. o O objeto social compõe o fim social. Se este for exaurido ou impossibilitado de execução, a exploração do objeto social torna-se inviável. O importante é ter em mente que o objeto social pode ser causa também para o fim da sociedade. Sobre o interesse social, remonta a discussão acerca da função social da empresa, se é atender aos interesses dos acionistas, dos trabalhadores, dos consumidores ou da sociedade em geral. 7. CAPITAL SOCIAL E PATRIMÔNIO O capital social é a contribuição dos sócios, de expressão monetária, no começo e no desenvolvimento dos negócios, ou ainda a reserva financeira que a sociedade possui para investimento nas atividades. Pode estar integralizado ou a em vias de ser integralizado - subscrito Capital integralizado: Quando o sócio compra sua cota de participação, comprometendo-se a investir determinada quantia na sociedade. Quando ele realiza o ato a que se comprometeu, integralizou o capital. Capital Subscrito: O capital é subscrito quando houve comprometimento por parte do sócio com a integralização, mas esta ainda não ocorreu. Art. 1.004. Os sócios são obrigados, na forma e prazo previstos, às contribuições estabelecidas no contrato social, e aquele que deixar de fazê-lo, nos trinta dias seguintes ao da notificação pela sociedade, responderá perante esta pelo dano emergente da mora. Art. 1.058. Não integralizada a quota de sócio remisso, os outros sócios podem, sem prejuízo do disposto no art. 1.004 e seu parágrafo único, tomá-la para si ou transferi-la a terceiros, excluindo o primitivo titular e devolvendo-lhe o que houver pago, deduzidos os juros da mora, as prestações estabelecidas no contrato mais as despesas. Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Direito Empresarial I 23 O Sócio remisso (que se encontra em inadimplência) pode: Ficar obrigado a indenizar os danos emergentes da mora (Art 1.004,cc) Ter sua cota reduzida ao montante já integralizado Ser excluído da sociedade pelos demais sócios, caso em que será devolvido ao remisso o capital por ele já integralizado. Em regra, o quórum para exclusão do remisso é de maioria absoluta: Enunciado 216 – CFJ - O quorum de deliberação previsto no art. 1.004, parágrafo único, e no art. 1.030 é de maioria absoluta do capital representado pelas quotas dos demais sócios, consoante a regra geral fixada noart. 999 para as deliberações na sociedade simples. Esse entendimento aplica-se ao art. 1.058 em caso de exclusão de sócio remisso ou redução do valor de sua quota ao montante já integralizado. O simples fato de o capital ser subscrito não deixa o sócio em inadimplência, pois a integralização não precisa, necessariamente, ser à vista. O capital social pode ser constituído por dinheiro ou outros bens passíveis de avaliação econômica (Art 7º Lei das SA). Em algumas sociedades é possível o aporte (contribuição) em prestação de serviços, como na sociedade em conta de participação e na sociedade simples, contudo a relação do sócio com a sociedade não se torna subordinada, ou seja, não se transforma em uma relação trabalhista -- empregado e empregador. 7.1 Funções do capital social O capital social possui duas funções, uma interna e outra externa, sendo que a primeira divide-se em função de produção e função política. Função interna do capital social: Função de produção: O capital social como aporte necessário para início das atividades da sociedade. Funciona como meio para realização das primeiras atividades relacionadas ao objeto social. Por isso, o capital social deve ser compatível com o objeto social, sendo incompatível, por exemplo, que um sócio integralize um quadro de um pintor famoso no capital social de uma empresa de mineração. Função política: Exerce a função de medida de direitos e deveres, gerando proporcionalidade entre os votos nas decisões, participação nos lucros e prejuízos com a correspondente participação do sócio no capital social. Sendo assim, quanto maior for a participação do sócio na sociedade (possuir mais quotas ou ações), maior devera ser sua participação nos lucros e prejuízos, e maior será o peso do seu voto (em regra, pois em algumas sociedades o voto não é medido pela participação). Em decorrência da função política do capital Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Direito Empresarial I 24 social, é vedada a chamada “cláusula leonina”, a qual prevê desproporção entre a participação do sócio no capital social e sua correspondente participação nos lucros. (Sócio investe mais e ganha menos que os demais) o Art. 1.007. Salvo estipulação em contrário, o sócio participa dos lucros e das perdas, na proporção das respectivas quotas, mas aquele, cuja contribuição consiste em serviços, somente participa dos lucros na proporção da média do valor das quotas. Art. 1.008. É nula a estipulação contratual que exclua qualquer sócio de participar dos lucros e das perdas. Função externa do capital social: O capital social é um mecanismo indireto de garantia aos credores, sendo o patrimônio da sociedade a garantia direta. A função social do capital social não é simplesmente uma “garatia” aos credores da sociedade, como menciona grande parte da doutrina, porquanto há inúmeras regras e princípios que protegem o capital social de não ser executado antes do patrimônio da sociedade. Capital social x Patrimônio da sociedade Enquanto o o patrimônio da sociedade é dinâmico. Este é capital social é estático, constituído por valores ativos (o que a sociedade possui) e passivos (o que a sociedade deve) – bens, direitos e obrigações –, sendo líquido o patrimônio correspondente à diferença entre ativo e passivo. Já o capital social está designado no contrato social e corresponde a soma dos valores de todas as participações (quotas ou ações). Nas sociedades de responsabilidade limitada, há uma maior proteção ao capital social, sendo que este só será executado quando o patrimônio reduzir-se a zero. Ex.: A, B, C e D decidem abrir uma sociedade. No contrato dessa sociedade está prevista a quota de participação de cada sócio, que é de R$ 5.000,00. Assim, quando integralizado o capital social, este terá o valor de R$ 20.000,00. Esses R$ 20.000,00 serão utilizados para que a sociedade desempenhe as suas atividades e gere patrimônio líquido. Quando o patrimônio líquido ultrapassar a quantia do capital social, a quantia excedente poderá ser distribuída entre os sócios, permanecendo R$ 20.000,00 como uma espécie de “fundo”, que será utilizado para gerar mais patrimônio líquido. Nem sempre o excedente será distribuído, aumentando o patrimônio total da sociedade (na compra de equipamentos, bens, aumentando estoque...) Sendo assim, o capital social funciona como um limitador da responsabilidade dos sócios nas sociedades limitadas, pois cada sócio responderá, em regra, até o limite do capital por ele integralizado. Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Direito Empresarial I 25 É permitida a redução do capital social para cobrir perdas ou se o capital torna- se excessivo em relação ao objeto da sociedade (não precisa tanto capital para exploração da atividade) Art. 1.082. Pode a sociedade reduzir o capital, mediante a correspondente modificação do contrato: I - depois de integralizado, se houver perdas irreparáveis; II - se excessivo em relação ao objeto da sociedade. O capital social também pode sofrer aumento de acordo com artigo 1.081,cc. Tanto para aumento, como para redução, exige-se a modificação do contrato social. No caso da confusão patrimonial, percebe-se a ausência de respeito por parte sócio com a separação patrimonial, o que justifica a desconsideração da personalidade jurídica. 8. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA Personalidade jurídica é a aptidão genérica para adquirir direitos e contrair obrigações (Caio Mário). A sociedade personificada possui personalidade jurídica, adquirida com o registro no órgão competente, e patrimônio distinto do de seus sócios. A personalidade jurídica atribui à sociedade uma diversidade de vantagens, mas a principal é a autonomia patrimonial, que significa, sobretudo, um incentivo ao empreendedorismo, reduzindo os riscos da atividade. Como regra, portanto, o sócio não responde com seu patrimônio pelas dívidas contraídas pela sociedade e vice- versa. Todavia, nem sempre o empreendedor utiliza esse benefício da forma correta, o que o submeterá a consequências jurídicas previstas no ordenamento (desconsideração) e na jurisprudência (desconsideração inversa). Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica. Com a desconsideração da personalidade jurídica, desconsidera-se o princípio da autonomia patrimonial, respondendo o sócio pelas dívidas da sociedade ou esta pelas do sócio (desconsideração inversa). Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Direito Empresarial I 26 8.1 Requisitos para desconsideração da personalidade jurídica 8.1.1 Teoria maior Exige mais requisitos, sendo mais difícil ocorrer a desconsideração. Não basta que o patrimônio da sociedade tenha se esgotado, é necessário também desvirtuamento da função da autonomia patrimonial, seja por confusão patrimonial ou por desvio de finalidade. A jurisprudência reconhece a teoria maior como regra no sistema jur. brasileiro. Teoria maior Subjetiva – Exige: o Inadimplemento não solvido pelo patrimônio da sociedade o Desvio da função da pessoa jurídica: Ocorre em casos de fraude ou abuso de direito relativos à autonomia patrimonial. Teoria maior Objetiva – Exige: o Inadimplemento não solvido pelo patrimônio da sociedade o Confusãopatrimonial (inexistência de separação clara entre o patrimônio da PJ e da PF) 8.1.2 Teoria Menor Exige menos requisitos, sendo mais fácil ocorrer a desconsideração. Exige apenas a insolvência da pessoa jurídica (não possui ativos suficientes para solver as dividas). É mais restrita, sendo aplicada somente ao direito do consumidor e do meio ambiente. Para passivos trabalhistas não há autonomia patrimonial. O CC abrange tanto a Teoria maior subjetiva quanto a objetiva. A desconsideração não se confunde com despersonalização. A Pessoa jurídica não perde sua personalidade. 8.2 Desconsideração inversa da personalidade jurídica Ocorre quando se alcança o patrimônio da sociedade por dívida contraída pelo sócio. Enunciado 283 do conselho da Justiça Federal: “É cabível a desconsideração da personalidade jurídica denominada “inversa” para alcançar bens de sócio que se valeu da pessoa jurídica para ocultar ou desviar bens pessoais, com prejuízo a terceiros.” Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Direito Empresarial I 27 9. CLASSIFICAÇÃO DAS SOCIEDADES Art. 983. A sociedade empresária deve constituir-se segundo um dos tipos regulados nos arts. 1.039 a 1.092; a sociedade simples pode constituir-se de conformidade com um desses tipos, e, não o fazendo, subordina-se às normas que lhe são próprias. A sociedade empresária DEVE organizar-se em uma das seguintes formas: Sociedade em nome coletivo Sociedade em comandita simples Sociedade em comandita por ações Sociedade limitada Sociedade anônima (Estudada no próximo semestre) A sociedade simples PODE organizar-se em uma das seguintes formas: Sociedade simples pura Sociedade em nome coletivo Sociedade em comandita simples Sociedade limitada A sociedade simples não pode constituir-se em sociedade comandita por ações nem em sociedade anônima (são sempre empresárias). Lembrando: O que define se a sociedade é empresaria ou não, em regra, não é o tipo societário adotado, mas o elemento de empresa. A exceção fica por conta dos tipos societários que a lei estabelece como sendo sempre simples (cooperativa) ou sempre empresária (comandita por ações e S/A). 9.1 Sociedades dependentes de autorização: Exercem determinadas atividades de indiscutível interesse público como atividades financeiras, de seguro, relacionadas à saúde e à educação. 9.2 Sociedade Nacional: CC,Art. 1.126. “É nacional a sociedade organizada de conformidade com a lei brasileira e que tenha no País a sede de sua administração.” Não diz respeito à nacionalidade dos sócios ou à origem do capital e sim que a sociedade tenha sede no Brasil e esteja organizada em conformidade com a lei brasileira. 9.3 Sociedade estrangeira: Não preenche os requisitos do artigo 1126 do código civil, necessitando de autorização governamental para funcionamento no país. Contudo, não precisa de autorização para ser acionista de sociedade anônima brasileira. Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Direito Empresarial I 28 9.4 Sociedade Unipessoal Unipessoalidade originária: Três casos PODEM ser considerados como unipessoalidade originária. São exceções, sendo a regra a constituição da sociedade por mais uma pessoa. A) Quando uma sociedade brasileira é a única acionista de uma S/A. (sociedade subsidiária integral) B) Empresa pública unipessoal: Toda participação societária está nas mãos de uma PJ de direito público (apenas alguns autores citam) C) EIRELI (alguns autores consideram como Soc. unipessoal, outros não). Unipessoalidade superveniente: É a sociedade que nasce pluripessoal, mas por qualquer razão torna-se unipessoal. Além de superveniente e acidental é momentânea: Art. 1.033. Dissolve-se a sociedade quando ocorrer: IV - a falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo de cento e oitenta dias; Parágrafo único. Não se aplica o disposto no inciso IV caso o sócio remanescente, inclusive na hipótese de concentração de todas as cotas da sociedade sob sua titularidade, requeira, no Registro Público de Empresas Mercantis, a transformação do registro da sociedade para empresário individual ou para empresa individual de responsabilidade limitada, observado, no que couber, o disposto nos arts. 1.113 a 1.115 deste Código. 9.5 Classificação das sociedades quanto à responsabilidade dos sócios Essa classificação diz respeito à responsabilização do sócio pelas dívidas da sociedade. A responsabilidade dos sócios será sempre limitada ou ilimitada, a da sociedade será sempre ilimitada (alguém tem que responder pela dívida). Responsabilidade limitada: A responsabilidade dos sócios é limitada ao capital social (aquilo que investiu ou que pretendia investir). Responsabilidade ilimitada: Sócio responde com a integralidade do seu patrimônio. Em regra, primeiro responde o patrimônio da sociedade e após este o do sócio. Responsabilidade mista: São constituídas por duas categorias de sócios: Uma que não responde com seu patrimônio e outra que responde. Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Direito Empresarial I 29 RESPONSABILIDADE Empresário individual (ñ é sociedade) ilimitada S. em nome coletivo ilimitada S. Anônima Limitada S. Limitada Limitada Cooperativa Limitada Eireli Limitada S. CoMandita Simples Mista S. CoMandita por ações Mista 2.9.5 Classificação das sociedades quanto à composição Sociedade de pessoas – O affectio societatis – vínculo psicológico que une os sócios – é muito importante. A entrada de novos sócios sofre maiores restrições. Sociedade de capital – O capital investido é importante do que “quem” investe, a exemplo das sociedades anônimas. III. SOCIEDADES EM ESPÉCIE Principais tipos societários no Brasil Não personificadas Sociedade em comum Sociedade em conta de participação Personificadas Sociedade limitada Sociedade Anônima EIRELI Cooperativa Sociedade em nome coletivo Sociedade em comandita simples Sociedade em comandita por ações Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Direito Empresarial I 30 1. SOCIEDADE EM COMUM Art. 986. Enquanto não inscritos os atos constitutivos, reger-se-á a sociedade, exceto por ações em organização, pelo disposto neste Capítulo, observadas, subsidiariamente e no que com ele forem compatíveis, as normas da sociedade simples. Art. 981. Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados. Sociedades em comum são as que, tendo ou não ato constitutivo, ainda não realizaram o devido registro no órgão competente. As consequências diretas da falta de registro são a ausência de personalidade jurídica e de patrimônio próprio distinto do de seus sócios. O termo sociedade em comum substitui os antigos termos utilizados pela doutrina “sociedade de fato”, que é a que não possui contrato escrito, e “sociedade irregular”, que possui contrato escrito, mas ainda não o arquivou. A sociedade em comum não é um tipo irregular, podendo os sócios escolher conscientemente se sujeitarem a tal regime societário, contudo, fazendo essa opção submetem-se a um regime muito mais gravoso e com menos benefícios que os demais tipos societários personificados. Cabe ressaltar que a sociedade em comum pode ser tanto empresária quanto simples. 1.1 Patrimônio Art. 988. Os bens e dívidas sociais constituem patrimônio especial, do qual os sócios são titulares em comum. Traço característicoda sociedade em comum é a ausência de patrimônio próprio, existindo apenas um “patrimônio especial”, que pertence aos sócios e não à sociedade. O grande problema é provar qual a porcentagem de cada sócio sobre o patrimônio especial. Nesse caso, presume-se que o patrimônio especial é divido em partes iguais. 1.2 Responsabilidade dos sócios Art. 990. Todos os sócios respondem solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais, excluído do benefício de ordem, previsto no art. 1.024, aquele que contratou pela sociedade. Art. 1.024. Os bens particulares dos sócios não podem ser executados por dívidas da sociedade, senão depois de executados os bens sociais. Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Direito Empresarial I 31 Sócio que contratou pela sociedade: responde com todo seu patrimônio, não sendo necessária a execução do patrimônio social para tanto. Sócios que não contrataram pela sociedade: Possuem benefício de ordem previsto no artigo 1024 do código civil, sendo-lhes garantida primeiramente a execução do patrimônio especial (que pertence a todos sócios) e, somente depois de esgotado este, é que seus patrimônios pessoais responderão pelas dívidas contraídas em nome da sociedade. Art. 989. Os bens sociais respondem pelos atos de gestão praticados por qualquer dos sócios, salvo pacto expresso limitativo de poderes, que somente terá eficácia contra o terceiro que o conheça ou deva conhecer. Se o ato foi praticado dentro dos limites de poderes, o patrimônio social está vinculado à dívida. O limitativo de poderes só terá eficácia contra terceiro que o conheça ou deveria conhecer. (como não há registro do limitativo, protege-se credor de boa-fé) 1.3 Prova da existência Art. 987. Os sócios, nas relações entre si ou com terceiros, somente por escrito podem provar a existência da sociedade, mas os terceiros podem prová-la de qualquer modo. É uma penalidade pela falta de registro Pode qualquer prova escrita, e não apenas contrato (caderno de anotações, cartão de visitas...) Art. 227. Salvo os casos expressos, a prova exclusivamente testemunhal só se admite nos negócios jurídicos cujo valor não ultrapasse o décuplo do maior salário mínimo vigente no País ao tempo em que foram celebrados. Terceiros podem provar a existência da sociedade em comum mesmo sem observância desse artigo. (de forma exclusivamente testemunhal, independente do valor da causa) Em outras relações o sócio pode usar prova testemunhal, com observância do artigo 227,CC. (Ex: Sócio entra em juízo acerca de um contrato de compra e venda. Poderá usar prova exclusivamente testemunhal, desde que menor que 10x salário mínimo) 1.3 Restrições Por não terem o devido registro, as sociedades em comum arcam com alguns ônus: (ex.) Não possuem CNJP nem conta em banco, não podem contratar com o poder Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Direito Empresarial I 32 público, não podem arquivar seus livros obrigatórios na Junta comercial, não podem requerer recuperação judicial ou extrajudicial, estão sujeitas à falência. 2. SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO Assim como a sociedade em comum, não possui personalidade jurídica nem patrimônio próprio. Sua composição é dividida em duas categorias de sócios, o ostensivo, que é quem realmente pratica os atos para consecução dos resultados, e o sócio participante, que investe de alguma forma no empreendimento. Art. 993. O contrato social produz efeito somente entre os sócios, e a eventual inscrição de seu instrumento em qualquer registro não confere personalidade jurídica à sociedade. Mesmo que o contrato social seja levado a registro, a SCP não obterá personalidade jurídica. Os efeitos do contrato operam apenas entre os sócios ostensivo e participante. 2.1 Sócios Art. 991. Na sociedade em conta de participação, a atividade constitutiva do objeto social é exercida unicamente pelo sócio ostensivo, em seu nome individual e sob sua própria e exclusiva responsabilidade, participando os demais dos resultados correspondentes. Sócio ostensivo: Pode ser tanto pessoa física quanto jurídica Exerce a atividade em nome próprio. ( A SCP não firma contrato e sim o SO). É o sócio ostensivo quem explora a atividade e não a SCP. Age como empresário individual, se pessoa natural, ou sociedade, se pessoa jurídica. (A pessoa jurídica é o sócio ostensivo e não a SCP). Deve agir com diligência na gestão do negócio, sob pena de obrigar-se a restituir os valores investidos pelos sócios participantes. Uma coisa é o negócio fracassar por motivos naturais, outra é fracassar por conta de falta de comprometimento. Sócio participante: Pode ser tanto pessoa física quanto jurídica. Não aparece perante terceiros. Por isso já foi chamado de “oculto”. Não possui qualquer responsabilidade perante terceiros, mas apenas perante o sócio ostensivo, de acordo com o que com este foi tratado. Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Direito Empresarial I 33 o Art 991, Parágrafo único. Obriga-se perante terceiro tão-somente o sócio ostensivo; e, exclusivamente perante este, o sócio participante, nos termos do contrato social. Se tomar parte nas relações do sócio ostensivo com terceiros responderá solidariamente pelas obrigações contraídas nestas relações (Art 993, parágrafo único). Tem o risco limitado ao que investiu na sociedade. (Pode haver acordo entre as partes para o sócio participante responda além do que investiu nas dívidas contraídas, mas apenas quando previsto). Não faz um empréstimo para o sócio ostensivo, porquanto participa dos resultados e das perdas. Caso o empreendimento venha a ser mal sucedido e o lucro for zero, o sócio ostensivo, se não agiu de má-fé, não terá com o sócio participante obrigação alguma. Aqueles que não podem explorar atividade empresarial em nome próprio não podem ser sócios ostensivos, todavia podem ser sócios participantes. (Ex.: Alguns servidores públicos e o incapaz) 2.2 Características O fato de a sociedade em conta de participação não “aparecer” para o mercado não faz dela uma sociedade fraudulenta, pois é totalmente regular e de grande importância para o mercado, ainda que por vezes tenha uso em negócios ilegais. Art. 992. A constituição da sociedade em conta de participação independe de qualquer formalidade e pode provar-se por todos os meios de direito. O acerto entre os sócios pode ser feito de forma verbal ou escrita A existência da SCP pode ser provada por qualquer meio. (Não precisa preencher requisitos do artigo 227 do CC, ou seja, pode prova exclusivamente testemunhal, independe do valor da causa). Art. 994. A contribuição do sócio participante constitui, com a do sócio ostensivo, patrimônio especial, objeto da conta de participação relativa aos negócios sociais. Há um destaque de certos bens para liga-los a certa atividade. Não há transferência de bens. O sócio participante não transfere bens para o sócio ostensivo, mas juntos formam um patrimônio especial que será usado na exploração da atividade pelo ostensivo. Art 994, § 1º, “A especialização patrimonial somente produz efeitos em relação aos sócios.” Art. 995. Salvo estipulação em contrário, o sócio ostensivo não pode admitir novo sócio sem o consentimento expresso dos demais. Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Direito Empresarial I 34 Em regra, a sociedade em conta de participação é uma sociedade de pessoas, mas pode ser considerada como de capital se for estipulado a entrada de novos sócios sem o consentimento dos demais. A entrada de novossócios depende do consentimento dos demais, assim como a circulação de participação (cessão/transferência). Art. 1.003. A cessão total ou parcial de quota, sem a correspondente modificação do contrato social com o consentimento dos demais sócios, não terá eficácia quanto a estes e à sociedade. Como regra aplica-se este artigo à SCP, mas o contrato pode prever de forma diversa, não exigindo modificação no contrato social como condição para eficácia. 2.3 Extinção da sociedade Caso a sociedade em conta de participação tenha como finalidade uma operação determinada, a dissolução da sociedade dependerá de justo motivo, entretanto se a finalidade for operar por tempo indeterminado, a dissolução poderá ser feita a qualquer tempo. Dissolução: Exige-se que a SCP tenha no mínimo um sócio ostensivo e um participante, caso esse pressuposto não venha a ser cumprido, ocorrerá a dissolução total da sociedade. A SCP pode dissolver-se por outras formas, como: por vontade dos sócios, por atingir resultado almejado, por exaustão do objeto social, ou por qualquer hipótese prevista no contrato social. Falência: Quem fale ou torna-se insolvente são os sócios e não a sociedade. Art. 994, § 2o A falência do sócio ostensivo acarreta a dissolução da sociedade e a liquidação da respectiva conta, cujo saldo constituirá crédito quirografário. (Se o sócio ostensivo faliu, não há como a SCP continuar) Art. 994, § 3o Falindo o sócio participante, o contrato social fica sujeito às normas que regulam os efeitos da falência nos contratos bilaterais do falido. ( Se quem faliu foi o sócio participante, a SCP pode continuar de acordo com a conveniência do ostensivo, caso ainda tenha outro sócio participante). Nesses casos a sociedade é considerada como um contrato, sendo que os efeitos ocorrem apenas entre os sócios (um acerto de contas entre os contratantes) Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Direito Empresarial I 35 3. SOCIEDADE SIMPLES (apenas até a aula 24/11/15) Está regrada entre os artigos 997 e 1038 do CC. Todas as sociedades estão submetidas a estes artigos de forma supletiva – em caso de omissão. É um tipo societário não empresário Em regra, são sociedades de pessoas. Pouco utilizado na prática, devido a falta de limitação da responsabilidade. Os escritórios de advocacia são obrigados a constituir-se em sociedades simples.
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