Buscar

Técnica de ponderação no Novo CPC

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 6 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 6 páginas

Prévia do material em texto

Técnica de ponderação no Novo CPC. Debate com o
Professor Lênio Streck
Jornal Carta Forense. Matéria de capa de fevereiro de 2016.
Publicado por Flávio Tartuce ­ 3 meses atrás
Jornal Carta Forense. Matéria de Capa do Mês de Fevereiro de 2016.
Técnica de Ponderação no Novo CPC: posição favorável (Flávio Tartuce) e posição
contrária (Lênio Luiz Streck).
Técnica da Ponderação no Novo CPC: posição favorável
Flávio Tartuce
O Novo CPC consagrou expressamente um mecanismo importante para a solução de
problemas jurídicos, qual seja a técnica de ponderação de princípios, regras e normas.
O seu art. 489, ao tratar dos elementos da sentença, estabelece que, “no caso de
colisão entre normas, o juiz deve justificar o objeto e os critérios gerais da ponderação
efetuada, enunciando as razões que autorizam a interferência na norma afastada e as
premissas fáticas que fundamentam a conclusão” (§ 2º).
A sistematização dessa ideia de pesagem ou sopesamento remonta ao estudo de
Robert Alexy, professor da Universidade de Kiel, Alemanha (Teoria dos direitos
fundamentais. São Paulo: Malheiros, 2008). Parece­nos que foram as lições do jurista
que influenciaram a elaboração do dispositivo inserido no CPC/2015. De toda sorte,
vale lembrar que Alexy trata da ponderação de direitos fundamentais. A ponderação
constante do Novo CPC é mais ampla, relativa a normas. Essa é a diferença essencial
entre as duas ponderações, a conduzir à uma espécie de ponderação à brasileira.
JusBrasil ­ Artigos
14 de maio de 2016  
Abordando a inserção do preceito no Novo CPC, demonstram Fredie Didier Jr., Rafael
Alexandria de Oliveira e Paula Sarno Braga a insuficiência de a ponderação ser
utilizada para resolver apenas os conflitos entre direitos fundamentais. Segundo os
autores, citando a posição de Humberto Ávila, “a ponderação não é exclusividade dos
princípios: as regras também podem conviver abstratamente, mas colidir
concretamente; as regras podem ter seu conteúdo preliminar no sentido superado por
razões contrárias; as regras podem conter hipóteses normativas semanticamente
abertas (conceitos legais indeterminados); as regras admitem formas argumentativas
como a analogia. Em todas essas hipóteses, entende Ávila, é necessário lançar mão da
ponderação. (...). Por outro lado, Ávila entende que nem mesmo o sopesamento é
exclusivo dos princípios; as regras também possuem uma dimensão de peso. Prova
disso seriam os métodos de aplicação que relacionam, ampliam ou restringem o seu
sentido em função dos valores e fins a que elas visavam resguardar” (Curso de direito
processual Civil. 10. Ed. Salvador: JusPodivm, 2015. V. 2, p. 325).
Pois bem, Alexy parte de algumas premissas que são tidas como básicas para que a
pesagem ou o sopesamento entre os princípios seja possível, o que serve, em parte,
para guiar a incidência da ponderação à brasileira.
Como primeira premissa, o doutrinador alemão traz o entendimento de que os
direitos fundamentais têm, na maioria das vezes, a estrutura de princípios, sendo
mandamentos de otimização, “caracterizados por poderem ser satisfeitos em graus
variados e pelo fato de que a medida devida de sua satisfação não depende somente
das possibilidades fáticas, mas também das possibilidades jurídicas” (p. 91).
Em seguida, como segunda premissa, reconhece que, em um sistema em que há o
comprometimento com valores constitucionais, pode ser frequente a ocorrência de
colisões entre os princípios, o que, invariavelmente, acarretará restrições recíprocas
entre os valores tutelados.
Presente o conflito entre princípios, sem que qualquer um deles seja retirado do
sistema, como terceira premissa, o aplicador do Direito deve fazer uso da técnica de
ponderação. Em tal sopesamento, na presença da lei de colisão, os princípios são
numerados por P1 e P2; C são as condições de procedência de um princípio sobre o
outro, enquanto T1, T2 e T3 são os fatores fáticos que influenciam a colisão e a
conclusão final.
A quarta e última premissa é a de que a pesagem deve ser fundamentada, calcada em
uma argumentação jurídica com solidez e objetividade, para não ser arbitrária e
irracional. Para tanto, deve ser bem clara e definida a fundamentação de enunciados
de preferências em relação a determinado valor constitucional. Sem essa
fundamentação, a ponderação não pode ser utilizada, como consta expressamente do
Novo CPC.
Para o presente autor, a ponderação tem se mostrado como técnica eficiente no Brasil
para resolver numerosos dilemas e conflitos relativos ao Direito Privado. Cite­se, de
imediato, as várias contendas envolvendo, de um lado, o direito à imagem e à
intimidade (art. 5º, incisos V e X, da CF/1988); e, de outro, o direito à informação e à
liberdade de imprensa (art. 5º, incisos IV, IX e XIV, da CF/1988). Nesse contexto, a
propósito, lembramos que a ponderação foi utilizada por alguns Ministros do STF
quando do julgamento, em 2015, do caso das biografias não autorizadas (ADIn.
4.815).
Acreditamos, com o devido respeito, que não se sustentam as críticas feitas à
ponderação, especialmente aquelas que alegam a sua inconstitucionalidade. Muito ao
contrário, trata­se de um artifício civil­constitucional, que deve ser incrementado nos
próximos anos, para apresentar caminho de resolução às hipóteses fáticas complicadas
ou de difícil solução, o que é percebido já por esses exemplos.
No âmbito do Direito de Família, a ponderação, igualmente, é meio eficiente para
resolver muitos dilemas. Mencione­se a inviabilidade da obrigatoriedade do exame de
DNA, com condução coercitiva, acarretando a sua negativa a presunção relativa da
paternidade. Foi a partir da ponderação realizada pelo STF no HC 71.373/RS que a
legislação foi modificada (arts. 231 e 232 do CC). Cite­se, em complemento, que a
relativização da coisa julgada nas ações de investigação de paternidade tem sido a
solução adequada para resolver lides pelos Tribunais, a partir da ponderação.
Por derradeiro, no campo do Direito Contratual, tornou­se comum, em Tribunais e em
painéis arbitrais, lides com a alegação de um e de outro princípio (ou regra), em teses
firmes construídas pelas partes da avença, calcadas na boa­fé objetiva, na função
social do contrato, na conservação negocial, na exceção de contrato não cumprido e no
adimplemento substancial. Mais uma vez, sendo a lei insuficiente ou ausente para
revolver tais problemas, não resta outro caminho ao julgador que não seja a
ponderação, sempre devidamente fundamentada.
Em suma, diante da hipercomplexidade contemporânea, sendo a mera subsunção da
lei insatisfatória em muitas hipóteses fáticas, é a técnica de ponderação uma
ferramenta decisória interessante, devendo ser amplamente utilizada pelos julgadores
nos próximos anos, especialmente diante de sua positivação expressa pelo Novo CPC.
Técnica da Ponderação no Novo CPC: posição contrária
Lenio Luiz Streck
Ponderação vem do jurista alemão Robert Alexy. Criou­a para racionalizar decisões
judiciais a partir de um procedimento argumentativo. Através do que chamou de
máxima da proporcionalidade, a ponderação será o modo de resolver os conflitos
jurídicos em que há colisão de princípios, sendo um procedimento composto por três
etapas: a adequação, necessidade e a proporcionalidade em sentido estrito. As duas
primeiras se encarregam de esclarecer as possibilidades fáticas; a última será
responsável pela solução das possibilidades jurídicas do conflito, recebendo do autor o
nome de lei do sopesamento (ou da ponderação), com seguinte redação: “quanto
maior for o grau de não­satisfação ou de afetação de um princípio, tanto maior terá
que ser a importância da satisfação do outro”. A resposta obtida pela ponderação
resultará numa norma de direito fundamental atribuída (zugeordnete
Grundrechtnorm), uma regra que deverá ser aplicada subsuntivamente ao caso
concreto (e que servirá para resolver tambémoutros casos).
De há muito critico o modo como a ponderação foi recepcionada no Brasil,
transformada em “pedra filosofal da interpretação”. O problema é que, embora Alexy
seja um dos autores mais referenciados, há inúmeros equívocos sobre o tema, tais
como: a. Chamar a ponderação de princípio (quando a ponderação faz parte de um
procedimento lógico interpretativo criado por Alexy); b. Aplicar a ponderação na
colisão de normas; e c. Desconsiderar que o resultado da ponderação é uma regra, a
ser aplicada por subsunção. Por outro lado, não é possível encontrar tribunal que
tenha aplicado as fórmulas criadas por Alexy, o que revela que sua tentativa de criar
um “processo decisório rígido” fracassou diante do uso desse procedimento como
mero “método de ocultação” da discricionariedade. Podemos até dizer, depois que o
tribunal decidiu, que ali teria havido uma ponderação quando, em vez do princípio X,
o juiz aplicou y (mas isso está equivocado, porque não é assim que funciona a
ponderação). Não esqueçamos, ademais, que Alexy admite a discricionariedade
interpretativa do Judiciário para chegar ao resultado.
Vejo, agora, que a ponderação chegou ao NCPC. No § 2º. Art. 489: no caso de colisão
entre normas (sic), o juiz deve justificar o objeto e os critérios gerais da ponderação
efetuada, enunciando as razões que autorizam a interferência na norma afastada e as
premissas fáticas que fundamentam a conclusão. O que são normas? Regras são
normas. Logo, a palavra “normas” não é sinônimo de leis. Normas quer dizer: regras e
princípios. Como já referi, os juristas do Brasil têm simplificado a ponderação,
colocando um princípio contra (ou em relação de colisão com) outro. O resultado
dessa colisão advirá da escolha discricionária do juiz. Por vezes, ocorre alguma
justificação. O caso Elwanger (HC 82.424) é um bom exemplo, em que dois ministros
do STF usaram a ponderação e chegaram a conclusões diferentes. Mas, ao fim e ao
cabo, o que tem sido visto é a simples contraposição. Esse problema agora pode vir a
ser agravado com a “colisão entre regras” que está no CPC. Se o juiz alegar que “há
uma colisão entre normas” (sic), pode escolher a regra X ou o princípio Y.
O parágrafo é incompatível com o art. 93, IX, da Constituição, além do descompasso
com outros dispositivos do próprio CPC, como o art. 10, o 926 e o art. 489. E que não
se invoque a doutrina de Dworkin, porque, nem de longe, o balancing quer dizer
ponderação. Por isso, há que se ter muito cuidado para que o CPC não folclorize a
ponderação, mormente se for levada em conta uma alegoria contada pelo Min.
Roberto Barroso. Pela anedota­alegoria, uma pessoa comprou um Opala e resolveu
testar a potência do carro. Ao chegar em uma cidade, em alta velocidade, o sujeito se
deparou com um cortejo fúnebre pela frente. Ao ver que não conseguiria frear a
tempo, pensou: ‘vou mirar no caixão”. Guardado o lado anedótico, no fundo é assim
que a ponderação à brasileira vem sendo feita. Faz­se uma escolha. Só que decisão não
é escolha. Como se estivesse na esfera do juiz escolher. Como se a lei e os fatos
estivessem a sua disposição. Por isso, mira­se no caixão.
Outro problema do novel dispositivo é a alusão às premissas fáticas que fundamentam
a conclusão, o que pode fazer pensar que o juiz primeiro decide e depois busca a
fundamentação. Grave equívoco filosófico. Acreditar que o juiz primeiro conclui e
depois busca as “premissas fáticas” é recuar no tempo em duzentos anos. É confessar
que ele é livre para decidir e que a fundamentação é apenas um ornamento. Aí entra a
ponderação. E fecha o círculo não­hermenêutico. Bingo.
O parágrafo que trata da ponderação lesa o princípio da segurança jurídica, que é
exatamente prestigiado por outros dispositivos do CPC. Outro argumento a favor da
não aplicação do dispositivo é que a colisão (de ­ ou entre ­ normas) não é um
conceito despido de intenções teóricas prévias. É diferente de alguns consensos que já
temos, como a garantia da não surpresa, o respeito à igualdade e a coerência que
devem ter as decisões, etc. A ponderação ainda depende do esgotamento de um debate
teórico, circunstância que prejudica sua colocação em um texto de lei nestes moldes.
Se princípios colidem (a prevalência de um sobre o outro em um caso concreto não
implica seu afastamento definitivo para outros casos), regras entram conflito. Eis o
imbróglio. Em caso de conflitos entre regras, o resultado de sua equalização será uma
determinação definitiva da validade de uma sobre a outra. Ora, se todas as normas
lato senso puderem colidir, perderemos o campo de avaliação estrito da validade, algo
que, novamente, prejudica a segurança jurídica. Veja­se que não é admissível que seja
negada aplicação, pura e simplesmente, a uma regra (lei)“sem antes declarar
formalmente a sua inconstitucionalidade” (Recl. 2645­STJ), problemática que
aprofundo nas minhas seis hipóteses pelas quais o judiciário pode deixar de aplicar
uma regra. Se juiz pode escolher entre uma regra e outra, está legislando. Mirando no
caixão, pode até acertar. Mas um relógio parado também acerta a hora duas vezes por
dia. São essas as razões de minha contrariedade à ponderação (à brasileira). A outra, a
de Alexy, parece não ter chegado por aqui.
Disponível em:  http://flaviotartuce.jusbrasil.com.br/artigos/302533403/tecnica­de­ponderacao­no­novo­cpc­debate­com­o­
professor­lenio­streck 
Seguir668
publicações
9
livros
11.143
seguidores
Flávio Tartuce
Advogado e consultor em São Paulo. Doutor em Direito Civil pela USP. Mestre em Direito Civil
Comparado pela PUCSP. Professor do programa de mestrado e doutorado da FADISP. Professor
dos cursos de graduação e pós­graduação da EPD, sendo coordenador dos últimos. Professor da
Rede LFG. Autor da Editora...

Outros materiais