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Apostila de Química Geral I – Fábio Machado Cavalcanti 1 CAPÍTULO 06 – TERMODINÂMICA: A PRIMEIRA LEI A Termodinâmica, o estudo das transformações de energia, é essencial para a química. Ela explica porque as reações ocorrem e permite a predição do calor que elas liberam (ou absorvem) e do trabalho que podem executar. A palavra energia é tão comum em nossa linguagem diária que as pessoas têm uma idéia geral de seu significado. Em química, usamos uma definição prática: energia é uma medida da capacidade de realizar trabalho. A unidade no SI para a energia é o joule, J, em homenagem a James Joule, um cientista britânico que investigou trabalho e calor. 6.1 SISTEMAS E VIZINHANÇAS A energia pode ser transformada de uma forma para outra e transferida de um lugar a outro. Para acompanhar a energia, dividimos o universo, por conveniência, em duas partes: sistema uma região do universo escolhida para estudo vizinhança o restante do universo que não pertence ao sistema OBS: Sistema e vizinhança são separados por uma fronteira. O sistema interage com a vizinhança através da fronteira. Figura 6.1 O sistema (em inglês system) é a amostra que nos interessa. Fora do sistema está a vizinhança (em inglês surroundings). Apostila de Química Geral I – Fábio Machado Cavalcanti 2 Podemos classificar qualquer sistema segundo suas interações com a vizinhança: sistema aberto pode trocar matéria e energia com a vizinhança. Ex: corpo humano, motores de automóveis, etc. sistema fechado pode trocar energia com a vizinhança, mas não matéria. Ex: bolsas de gelo usadas no tratamento de lesões de atletas, etc. sistema isolado não pode trocar matéria nem energia com a vizinhança. Ex: café quente dentro de uma garrafa térmica, etc. Figura 6.2 Um sistema aberto (em inglês open) pode trocar matéria e energia com a vizinhança. Um sistema fechado (em inglês closed) pode trocar energia, mas não matéria. Um sistema isolado (em inglês isolated) não pode trocar matéria nem energia. 6.2 ENERGIA INTERNA A energia interna, U, de um sistema é seu conteúdo total energético – (a capacidade de realizar trabalho). É a soma das energias potencial e cinética dos átomos, moléculas ou dos íons do sistema. A energia potencial é a energia associada às forças de atração e de repulsão entre todos os núcleos e elétrons do sistema. A energia cinética é a energia do movimento dos átomos, íons e moléculas no sistema. Em um gás, as moléculas podem se mover de várias maneiras diferentes e cada modo de movimento (translacional, rotacional, vibracional, etc.) contribui para a energia cinética. Não podemos medir o valor absoluto da energia interna de um sistema porque ele inclui as energias de todos os átomos, de seus elétrons e dos componentes dos núcleos. O melhor que podemos fazer é medir as variações de energia interna, ΔU. Apostila de Química Geral I – Fábio Machado Cavalcanti 3 IMPORTANTE!!! Como sabemos, num gás ideal, não existem forças intermoleculares entre as moléculas do gás (exceto durante as colisões); portanto não há energia potencial. Assim, num gás ideal, a energia interna é a soma apenas das energias cinéticas. Demonstra-se que a energia cinética de uma determinada quantidade de um gás ideal depende apenas de sua temperatura. Com isso, podemos afirmar que, para uma determinada quantidade de um gás ideal, a energia interna (U) só depende da temperatura (T). Para um gás ideal qualquer, temos: T aumenta U aumenta T diminui U diminui T é constante U é constante Segue-se que para um processo isotérmico (processo realizado a uma temperatura constante), ΔU = 0 para um gás ideal. 6.3 TRABALHO E CALOR O trabalho e o calor são formas de transferências de energia e, portanto, são formas de modificar a energia interna de um sistema. 6.3.1 TRABALHO O trabalho, w, é a transferência de energia através do movimento contra uma força oposta. Realiza-se trabalho quando um peso é levantado contra a força da gravidade, quando a reação química em uma bateria empurra uma corrente elétrica em um circuito, quando um gás em um cilindro empurra um pistão, etc. O trabalho necessário para mover um objeto até uma certa distância, contra uma força que se opõe, é calculado multiplicando-se a força pela distância: distânciaforçaTrabalho A unidade no SI para o trabalho é o joule, J, com 1 J = 1 N.m = 1 kg.m².s - ². Apostila de Química Geral I – Fábio Machado Cavalcanti 4 A energia interna de um sistema pode ser alterada pela realização de trabalho: Se o sistema realiza trabalho sobre a vizinhança (por exemplo, pela expansão de um gás em um recipiente fechado), o sistema consume uma parte da energia armazenada e dizemos que sua energia interna diminui. Se a vizinhança realiza trabalho sobre o sistema (por exemplo, pela compressão de um gás em um recipiente fechado), o sistema aumenta sua capacidade de realizar trabalho e dizemos que sua energia interna aumenta. A convenção adotada pela maioria dos livros-texto de termodinâmica e físico- química é que w será o trabalho realizado pela vizinhança sobre o sistema. Então: w é positivo Se a vizinhança realiza trabalho sobre o sistema (por exemplo, pela compressão de um gás em um recipiente fechado). A energia interna do sistema aumenta. w é negativo Se o sistema realiza trabalho sobre a vizinhança (por exemplo, pela expansão de um gás em um recipiente fechado). A energia interna do sistema diminui. Um sistema pode realizar dois tipos de trabalho: trabalho de expansão contra uma força externa envolve variação de volume. Ex: um gás que se expande em um cilindro dotado de um pistão, etc. trabalho de não-expansão não envolve variação de volume. Ex: reação química que provoca um fluxo de corrente elétrica, nossos corpos quando se movem, etc. Antes de prosseguir com nossos estudos, definiremos os processos reversíveis e processos irreversíveis. Eles são muito importantes para o entendimento da termodinâmica. Observe o quadro abaixo. Apostila de Química Geral I – Fábio Machado Cavalcanti 5 Processos Reversíveis Processos Irreversíveis (ou Processos Espontâneos) Em cada etapa ao longo de um processo reversível entre dois estados, o sistema permanece em equilíbrio. Ou seja, mudanças podem ser realizadas perturbando- se minimamente o equilíbrio e deixando que o sistema se reajuste. Processos irreversíveis envolvem condições de não-equilíbrio. Um processo reversível é aquele que ocorre de tal modo que, na conclusão do processo, tanto o sistema como a vizinhança podem ser reintegrados aos seus estados iniciais, sem produzir qualquer mudança no sistema ou na vizinhança. A restauração de um sistema ao seu estado original após um processo irreversível produz uma mudança na vizinhança. As variáveis do sistema, tais como temperatura e pressão, num processo reversível, nunca diferem daquelas da vizinhança por mais do que uma quantidade infinitesimal. Por exemplo, numa expansão reversível temos dppp extint ; fazendo uma aproximação, podemos considerar extint pp . Se o processo irreversível estiver relacionado a uma variação de pressão ou de temperatura, estas variáveis, no sistema e na vizinhança devem diferir por uma quantidade finita (mensurável). Por exemplo, numa expansão irreversível temos intext pp . Estes processossão algumas vezes denominados processos quase-estáticos, visto que eles ocorrem numa velocidade infinitamente lenta. Estes processos ocorrem a Uma velocidade finita. A direção de um processo reversível pode ser alterada fazendo-se uma modificação infinitesimal nas vizinhanças. Ou seja, uma compressão reversível pode ser transformada numa expansão reversível diminuindo-se a pressão externa por uma quantidade infinitesimal. Um processo irreversível não pode ser invertido modificando-se a vizinhança por uma quantidade infinitesimal. O processo irreversível ocorre em uma única direção. Por exemplo, numa expansão irreversível, se pint = 2,0 atm e pext = 1,0 atm, então uma mudança infinitesimal desta última não converte expansão em compressão. Apostila de Química Geral I – Fábio Machado Cavalcanti 6 CÁLCULO DO TRABALHO DE EXPANSÃO IRREVERSÍVEL DE UM GÁS CONTRA UMA PRESSÃO EXTERNA CONSTANTE Calcularemos o trabalho de expansão irreversível realizado por um sistema fechado formado por um gás em um cilindro de área de secção A. A pressão externa, pext, que age na face externa do pistão fornece a força que se opõe à expansão, Fext. No caso de uma expansão irreversível, a pressão externa, pext, e a pressão do gás (pressão interna), pint, diferem por uma quantidade finita (mensurável). Numa expansão irreversível, temos pext < pint. Figura 6.3 Cálculo do trabalho de expansão irreversível de um gás contra uma pressão externa constante Considere que o gás no cilindro se expanda, e o pistão sofra um deslocamento infinitesimal dx. Como o deslocamento é infinitesimal (bem pequeno), a força externa Fext não varia durante o deslocamento dx (conseqüentemente, a pext também não varia). Como A F p extext , o módulo de Fext é ApF extext . Quando um gás se expande contra uma força externa Fext, o sistema está realizando trabalho sobre a vizinhança e w deve ser um número negativo. Apostila de Química Geral I – Fábio Machado Cavalcanti 7 O trabalho de expansão infinitesimal dw realizado pelo sistema durante o deslocamento dx é dado por: dxFdw ext dxApdw extF ext Entretanto, dxAdV (variação infinitesimal do volume do gás) dxA ext dVpdw dVpdw ext O trabalho total realizado é a soma dessas contribuições infinitesimais quando o volume muda do valor inicial até o valor final. Isso significa que o trabalho de expansão irreversível é dado pela seguinte integral: final inicial V V ext dV p w Esta fórmula geral nos permite calcular o trabalho desde que conheçamos como pext depende de V. Se a pressão externa constante for constante, podemos deixar pext fora da integral e escrever que: inicialfinalext V V ext V V ext VVpdV pdV p w final inicial final inicial Vpw ext Se a pressão externa é zero (o vácuo), a equação acima afirma w = 0; ou seja, um sistema não realiza trabalho de expansão quando se expande no vácuo, porque não existem forças que se oponham. A expansão contra a pressão zero é chamada de expansão livre. Não há trabalho executado durante uma expansão livre. A expansão livre é um processo irreversível. Apostila de Química Geral I – Fábio Machado Cavalcanti 8 Em unidades SI, a pressão externa é expressa em pascal, Pa (1 Pa = 1 N.m - ² = 1 kg.m - ¹.s - ²) e a variação de volume, em metros cúbicos, m³. O produto de 1 Pa e 1 m³ é: 1 Pa.m³ = 1 kg.m - ¹.s - ² . 1 m³ = 1 kg.m².s - ² = 1 J Portanto, se trabalharmos em pascals e metros cúbicos, o trabalho será dado em joules. Entretanto, se a pressão externa for expressa em atmosferas e o volume em litros, o trabalho é dado em litro-atmosferas. O fator de conversão de litro-atmosfera para joule é obtido levando-se em conta que 1 L = 10 - ³ m³ e 1 atm = 101325 Pa, exatamente, e, portanto: 1 L.atm = 10 - ³ m³ . 101325 Pa = 101,325 Pa.m³ = 101,325 J (exatamente) Exemplo 6.1 Cálculo do trabalho de expansão irreversível contra uma pressão externa constante Suponha que um gás sofra uma expansão irreversível de 500 mL (0,500 L) contra uma pressão externa constante de 1,20 atm. Qual foi o trabalho, em joules, realizado na expansão? Solução 1º PASSO: Calcular o trabalho de expansão irreversível realizado contra uma pressão externa constante, usando Vpw ext . Vpw ext L 0,500 atm 2,1w atmL 0,600w 2º PASSO: Converter o valor em joules. 1 L.atm 101,325 J –0,600 L.atm w J 8,60w O sinal negativo em J 8,60w significa que o gás sofreu uma expansão e que a energia interna diminui 60,8 J durante o processo. Apostila de Química Geral I – Fábio Machado Cavalcanti 9 CÁLCULO DO TRABALHO DE EXPANSÃO REVERSÍVEL E ISOTÉRMICA DE UM GÁS IDEAL Calcularemos, agora, o trabalho de expansão reversível e isotérmica realizado por um sistema fechado formado por um gás em um cilindro. No caso de uma expansão reversível, pext e pint diferem, apenas, por uma quantidade infinitesimal. Com isso, podemos considerar a pressão externa (pext) igual à pressão do gás (pint) em cada estágio da expansão reversível: pext = pint Em uma expansão isotérmica, a pressão do gás (pint) diminui à medida que ele se expande (Lei de Boyle); logo, para que a expansão isotérmica seja reversível, a pressão externa (pext) deve reduzir-se gradualmente com a variação de volume. Como vimos anteriormente, o trabalho de expansão infinitesimal dw realizado pelo sistema durante um deslocamento dx é dado por: dVpdw ext Como a expansão é reversível, temos pext = pint. Logo: dVpdw int O trabalho total realizado é a soma dessas contribuições infinitesimais quando o volume muda do valor inicial até o valor final. Isso significa que o trabalho de expansão reversível é dado pela seguinte integral: final inicial V V int dV p w Em cada etapa do processo, a pressão do gás (pint) relaciona-se com o volume pela lei dos gases ideais, nRTpV . Admitindo que o gás se comporte idealmente Apostila de Química Geral I – Fábio Machado Cavalcanti 10 V nRT p int , podemos escrever: final inicial final inicial V V V V V dV nRTdV V nRT w A temperatura absoluta T pode ser retirada da integral porque a expansão é isotérmica (T é constante durante todo o processo). Fazendo uso da integral padrão constantexln x dx , temos: inicial final V V lnnRTw Em unidades SI, o número de mols (n) é expresso em mol, a constante dos gases (R), em J.K - ¹.mol - ¹ e a temperatura (T), em Kelvin, K. O produto das unidades mencionadas acima é: wTR 11 n JKmolKJmol Portanto, se trabalharmos em mol, em J.K - ¹.mol - ¹ e em Kelvin, o trabalho será dado em joules. Exemplo 6.2 Cálculo do trabalho de expansão reversível e isotérmica Suponha que 0,100 mol de Ar (g), em 25°C, sofra uma expansão reversível e isotérmica de 1,00 L a 2,00 L. Qual foi o trabalho, em joules, realizado na expansão? Dado: 1-1 molKJ 3145,8R Solução 1º PASSO: Calcular o trabalho de expansão reversível e isotérmica, usando inicial final V V lnnRTw . Do enunciado, temos que Vinicial = 1,00 L e Vfinal = 2,00 L. Lembre-se de converter a temperatura em Kelvin: TK =(TC + 273,15) K inicial final V V lnnRTw L 1,00 L 2,00 lnK 15,298molKJ 8,3145mol 100,0w 11- J 172w Apostila de Química Geral I – Fábio Machado Cavalcanti 11 DIAGRAMA pext versus V Figura 6.4 Diagrama pext versus V O trabalho efetuado por um gás perfeito numa expansão isotérmica e reversível é dado pelo negativo da área subentendida pela isoterma p = nRT/V (verde+amarela). O trabalho feito na expansão irreversível contra a mesma pressão final da expansão anterior é dado pelo negativo da área retangular amarela. Veja que o módulo do trabalho de expansão reversível é maior do que do irreversível. O trabalho de expansão máximo que se pode obter de um sistema que opera entre estados inicial e final bem determinados é o trabalho obtido no processo reversível. EXPANSÃO REVERSÍVEL X EXPANSÃO IRREVERSÍVEL Suponhamos que nosso sistema seja um gás no interior de um cilindro munido de um pistão móvel com bolinhas. Inicialmente, considere que o sistema e a vizinhança estão em equilíbrio. Figura 6.5 Expansão Irreversível versus Expansão Reversível Expansão Irreversível Se retirarmos todas as bolinhas que estão sobre o pistão de uma só vez, a pressão externa é reduzida drasticamente e temos que intext pp . Devido à diferença mensurável entre as pressões, o pistão é empurrado para cima rapidamente, expandindo o gás. Expansão Reversível Se realizarmos o processo de expansão em várias etapas, isto é, retirando uma bolinha de cada vez e esperando que o sistema e a vizinhança entrem em equilíbrio, a expansão será reversível. Apostila de Química Geral I – Fábio Machado Cavalcanti 12 TRABALHO DE EXPANSÃO IRREVERSÍVEL (numa expansão irreversível, pext < pint) REVERSÍVEL (numa expansão reversível, pext = pint) Trabalho de Expansão Irreversível final inicial V V ext dV p w Trabalho de Expansão Reversível final inicial V V int dV p w Trabalho de Expansão Irreversível contra uma Pressão Externa Constante Vpw ext Trabalho de Expansão Reversível e Isotérmica inicial final V V lnnRTw 6.3.2 CALOR O calor, q, é a energia transferida em conseqüência de uma diferença de temperatura. A energia flui na forma de calor de uma região de temperatura alta para uma região de temperatura baixa. A energia transferida na forma de calor é medida, como qualquer forma de energia, em joules, J. Entretanto, uma unidade de energia que ainda é muito usada em bioquímica e campos correlatos é a caloria, cal. Na definição original, 1 cal correspondia à energia necessária para elevar de 1 °C a temperatura de 1 g de água. A definição moderna é: 1 cal = 4,184 J (exatamente) OBS: A caloria nutricional, Cal, corresponde a 1 quilocaloria (kcal). Apostila de Química Geral I – Fábio Machado Cavalcanti 13 A energia interna de um sistema pode ser alterada pela troca de energia com a vizinhança na forma de calor. O sinal de q indica se o calor entrou ou saiu do sistema. Se energia entra no sistema na forma de calor, a energia interna aumenta e q é positivo. Se energia deixa o sistema na forma de calor, a energia interna diminui e q é negativo. Qualquer energia que deixa o sistema na forma de calor, como, por exemplo, a energia liberada durante a combustão, é absorvida pela vizinhança e vice-versa. Portanto, se usamos: q para representar a energia transferida na forma de calor da vizinhança para o sistema; e qviz para representar a energia transferida na forma de calor do sistema para vizinhança, as duas quantidades relacionam-se como q = – qviz. Processos de troca de calor: Processo Endotérmico o sistema absorve energia da vizinhança na forma de calor. Ex: vaporização, fusão, dissolução do NH4NO3 em água, etc. Processo Exotérmico o sistema libera energia na forma de calor para a vizinhança Ex: reações de combustão, condensação, solidificação, etc. Fronteiras entre o sistema e a vizinhança: Fronteira Adiabática não permite a transferência de energia na forma de calor Fronteira Diatérmica permite a transferência de energia na forma de calor Existem dois tipos de calor: Calor Sensível é o calor que, recebido ou cedido por um corpo, provoca nele uma variação de temperatura. Calor Latente é o calor que, recebido ou cedido por um corpo, provoca nele uma mudança de estado físico, sem, no entanto, variar a temperatura. Apostila de Química Geral I – Fábio Machado Cavalcanti 14 CALORIMETRIA – A MEDIDA DO CALOR Capacidade Calorífica É possível medir a energia transferida para um sistema na forma de calor, através da capacidade calorífica, C, isto é, a razão entre o calor fornecido e o aumento de temperatura que ele provoca: T q C Unidade no SI: J.K -1 Conhecida a capacidade calorífica, pode-se medir a variação de temperatura, T , do sistema e, então, calcular o calor fornecido usando a equação TCq . A capacidade calorífica é uma propriedade extensiva (propriedade de uma substância que depende da massa da amostra): quanto maior for a massa da amostra de um dado material, mais calor é necessário para aumentar sua temperatura e, portanto, maior sua capacidade calorífica. É de maior utilidade registrar grandezas que são propriedades intensivas (propriedades de uma substância que independem da massa da amostra), tais como: a capacidade calorífica específica (ou calor específico): m C Cs ; ou a capacidade calorífica molar (ou calor específico molar): n C Cm . Exemplo: Para a água, temos: Cs = 4,184 J.K -1 .g -1 e Cm = 75 J.K -1 .mol -1 . OBS: Capacidades caloríficas, em geral, dependem da temperatura. Para facilitar os cálculos, nós iremos considerar as capacidades caloríficas constantes. Apostila de Química Geral I – Fábio Machado Cavalcanti 15 Exemplo 6.3 Calculando o calor necessário para aumentar a temperatura Calcular o calor necessário para aumentar em 20°C a temperatura de (a) 100. g de água e (b) 2.00 mols de H2O(ℓ). Dados: Para a água, temos: Cs = 4,184 J.K -1 .g -1 e Cm = 75 J.K -1 .mol -1 Solulção 1º PASSO: Considere que todo calor é usado para aumentar a temperatura. A quantidade de calor é dada pela equação TCq . Lembre-se da relação CK TT . Logo: K .20T . a) K .20gKJ 184,4g .100TCmTCq 11 C s kJ 4,8q b) K .20molKJ 75mol 2,00TCnTCq 11 C m kJ 0,3q CALORIMETRIA – A MEDIDA DO CALOR (Continuação) Calorímetro A transferência de energia na forma de calor é medida com um calorímetro, um dispositivo no qual o calor transferido é monitorado pela variação de temperatura que ele provoca, usando-se a capacidade calorífica do calorímetro, Ccal, para converter a mudança de temperatura em calor produzido: TCq calcal A capacidade calorífica do calorímetro é medida através de um processo chamado “calibração do calorímetro”: fornece-se uma quantidade de calor conhecida e registra-se o aumento de temperatura provocado. Apostila de Química Geral I – Fábio Machado Cavalcanti 16 Um calorímetropode ser simplesmente um vaso imerso em um banho de água, equipado com um termômetro. Veremos, no decorrer de nossos estudos, que existem tipos especiais de calorímetros. OBS: Em calorimetria, as vizinhanças são consideradas como fazendo parte do calorímetro. Quando discutimos calorimetria, substituímos o índice “viz” pelo índice “cal” para o calorímetro; então, em lugar da expressão q = – qviz obtida anteriormente, escrevemos q = – qcal. Exemplo 6.4 Determinando a produção de calor através de um calorímetro calibrado Suponha que tenhamos fornecido 80,0 kJ de calor para um calorímetro aquecendo-o eletricamente e que observamos que a temperatura do calorímetro aumenta 8,40°C. Se uma reação ocorrendo neste calorímetro resulta em um aumento de temperatura de 20,0°C para 25,2°C ( C2,5T ), qual o valor de q para a mistura reacional? Solução 1º PASSO: Calibrar o calorímetro, ou seja, calcular a capacidade calorífica do calorímetro, através da equação T q C calcal . Utilizar qcal = + 80,0 kJ e ΔT = + 8,40°C. 1-cal cal C)(kJ 52,9 C40,8 kJ 0,80 T q C 2º PASSO: Conhecida Ccal, calcular o valor de qcal durante a reação, através da equação TCq calcal . Utilizar ΔT = + 5,2°C. kJ 50C2,5C)(kJ 52,9TCq -1calcal 3º PASSO: Sabendo que q = – qcal, temos: kJ 50q Observe que a reação liberou energia Apostila de Química Geral I – Fábio Machado Cavalcanti 17 CALORIMETRIA – A MEDIDA DO CALOR (Continuação) Trocas de Calor Colocando-se dentro de um calorímetro vários corpos a temperaturas diferentes, haverá passagem de calor dos corpos mais quentes para os corpos mais frios. Considerando que os corpos e o calorímetro formam um sistema isolado, o calor cedido pelos corpos quentes dever forçosamente recebido pelos corpos frios. Esse fluxo de calor será interrompido no momento em que for atingido o equilíbrio térmico, isto é, todos os corpos estiverem à mesma temperatura. Percebe-se que: recebidocedido qq ou 0qq recebidocedido OBS: Ao construir um calorímetro, procura-se fazer com que sua capacidade térmica seja a menor possível, de modo que ele exerça pouca interferência nas trocas de calor. Exemplo 6.5 Medindo o calor específico com um calorímetro simples Uma peça de cobre de massa 19,0 g foi aquecida até 87,4°C e então colocada em um calorímetro que continha 55,5 g de água a 18,3°C. A temperatura da água aumentou para 20,4°C. Qual é o calor específico do cobre? OBS: A capacidade térmica do calorímetro é tão pequena que pode ser desprezada. Dado: Para água, temos: Cs = 4,184 J.(°C) -1 .g -1 Solução 1º PASSO: Todo calor perdido pelo cobre é transferido para água e o resto do calorímetro. A capacidade térmica do calorímetro pode ser desprezada. A temperatura de equilíbrio térmico é Tf = 20,4°C. Como nenhum componente do sistema sofre mudança de fase, as transferências de energia na forma de calor podem apenas mudar as temperaturas. Logo: 0qq recebidocedido 0qq recebido água cedido cobre 0TCTC águaáguacobrecobre 0C3,18C4,20cmC4,87C4,20cm águacobre C águaágua C cobrecobre 0C1,2gCJ 184,4g 5,55C67cg 0,19 11cobre 11cobre gCJ 38,0c Apostila de Química Geral I – Fábio Machado Cavalcanti 18 6.3.3 INTERPRETAÇÃO MOLECULAR ENTRE TRABALHO E CALOR Figura 6.6 Interpretação molecular entre trabalho e calor. A distinção entre trabalho e calor está na vizinhança. Trabalho Transferência de energia que faz uso de movimento organizado de átomos ou moléculas. Calor Transferência de energia que faz uso de movimento molecular caótico. 6.4 A PRIMEIRA LEI DA TERMODINÂMICA Enunciados da primeira lei da termodinâmica: A única forma de mudar a energia interna de um sistema fechado é transferir energia para ele como calor ou trabalho: wqU A energia interna de um sistema isolado ( 0q e 0w ) é constante: 0U Podemos dizer, então, que a primeira lei da termodinâmica é simplesmente a lei da conservação de energia, na qual considera com rigor os efeitos da troca de calor e do trabalho realizado. A convenção de sinal da equação wqU é importante. A forma pela qual a energia interna é afetada pelo calor e pelo trabalho é resumida na tabela seguinte: Apostila de Química Geral I – Fábio Machado Cavalcanti 19 CONVENÇÃO DE SINAIS PARA q E w DE UM SISTEMA Mudança Convenção do Sinal Efeito sobre U Trabalho realizado pela vizinhança sobre o sistema (compressão) )( 0w E aumenta Trabalho realizado pelo sistema sobre a vizinhança (expansão) )( 0w E diminui Calor transferido da vizinhança para o sistema )( 0q E aumenta Calor transferido do sistema para vizinhança )( 0q E diminui Exemplo 6.6 Utilizando a primeira lei da termodinâmica Uma amostra de gás aquecida em um cilindro consume 524 kJ de calor. Ao mesmo tempo, um pistão comprime o gás e realiza 340. kJ de trabalho. Qual é a variação de energia interna do gás durante o processo? Solução 1º PASSO: Deduzir os sinais de q e w: w é positivo a vizinhança realiza trabalho sobre o sistema (compressão): kJ 340w q é positivo energia entra no sistema na forma de calor: kJ 524q 2º PASSO: Calcular a variação de energia interna do sistema, U . Como o sistema é fechado, temos: wqU kJ 340kJ 524U kJ 864U O sinal positivo em kJ 864U significa que a energia interna aumentou 864 kJ durante o processo. Apostila de Química Geral I – Fábio Machado Cavalcanti 20 TÓXICO!!! Um número significativo de livros de física e engenharia adota outra convenção: w é o trabalho realizado pelo sistema sobre a vizinhança. Então: w é positivo Se o sistema realiza trabalho sobre a vizinhança (por exemplo, pela expansão de um gás em um recipiente fechado) w é negativo Se a vizinhança realiza trabalho sobre o sistema (por exemplo, pela compressão de um gás em um recipiente fechado) Se considerarmos esta convenção, a primeira lei da termodinâmica deve ser expressa de acordo com a equação wqU . Porém, livros de química são unânimes em usar wqU . Portanto, em seus estudos em livros de física e engenharia, certifique-se de observar qual convenção de sinais está sendo usada na primeira lei. 6.5 FUNÇÕES DE ESTADO Função de estado é uma propriedade cujo valor depende apenas do estado atual do sistema e é independente da maneira pela qual o sistema foi atingido. Alguns exemplos de Funções de Estado: Pressão Volume Temperatura Energia Interna Propriedades das Funções de Estado: Atribuídos os valores de algumas funções de estado, os valores para as demais funções de estado ficam determinados. Ex: Atribuídos valores para V e T de um mol de um gás ideal, sua pressão fica determinada: V RT p . As variações que ocorrem nas funções de estado dependem apenas dos estados inicial e final do sistema e não de como ocorreu a variação. Ex: Energia Interna U, pois ΔU independe de como a mudança foi feita. Apostila de Química Geral I – Fábio Machado Cavalcanti 21 Uma função de estado é como a altitude emuma montanha. Podemos escolher vários caminhos diferentes entre dois pontos da montanha, mas a variação de altitude entre os dois pontos será sempre a mesma, independente do caminho. Figura 6.7 A altitude de uma localidade, em uma montanha, é como uma propriedade termodinâmica de estado: não importa que caminho você escolha entre dois pontos, a variação de altitude é a mesma. O trabalho não é uma função de estado. Ele depende de como a mudança foi produzida. Por exemplo, poderíamos deixar um gás, em 25°C, expandir-se em temperatura constante, até 0,1 L de duas maneiras diferentes: O gás empurra um pistão e realiza trabalho contra uma força externa: 0w . O gás empurra um pistão contra o vácuo (expansão livre): 0w . O estado final do sistema é o mesmo em cada caso, mas o trabalho realizado pelo sistema é diferente Da mesma forma, o calor não é uma função de estado. Ele depende de como a mudança foi produzida. Por exemplo, poderíamos aquecer 100 g de água de 25°C a 30°C de duas maneiras diferentes: Fornecer energia na forma de calor através de um aquecedor elétrico: kJ 2C 5gC)(J 184,4g 100TCmTCq 1-1 C s Agitar a água vigorosamente com pás até que 2 kJ fossem transferidos. Neste caso, toda a energia requerida é transferida como trabalho. Logo: 0q O estado final do sistema é o mesmo em cada caso, mas a energia transferida na forma de calor é diferente. Apostila de Química Geral I – Fábio Machado Cavalcanti 22 Exemplo 6.7 Revendo os conceitos Suponha que 2,00 mol de CO2, tratado como um gás ideal, em 2,00 atm e 300 K, são comprimidos isotérmica e reversivelmente até a metade do volume original, antes de serem usados para carbonatar a água. Calcule w, q e ΔU. Solução 1º PASSO: Cálculo do trabalho de compressão reversível e isotérmica utilizando inicial final V V lnnRTw : inicial inicial11- V V 2 1 lnK 300molKJ 8,3145mol 00,2w kJ 3,46J 1046,3w 3 2º PASSO: Determinação da variação da energia interna: Como a energia interna depende apenas da temperatura para uma determinada quantidade de um gás ideal, temos que para uma expansão isotérmica (T cte): 0U 3º PASSO: Determinação da quantidade de calor transferido, utilizando a 1ª Lei da Termodinâmica wqU : wqU kJ 46,3q0 kJ 46,3q CURIOSIDADE Se o sistema termodinâmico sofre apenas uma variação infinitesimal, podemos escrever a primeira lei na forma dwdqdU Deve ser observado que dq e dw não são diferenciais verdadeiras, porque q e w não são funções de estado, embora dU seja um diferencial verdadeiro. As grandezas dq e dw são chamadas diferenciais inexatas e costumam ser representadas pelos símbolos q e w . Para nossos propósitos, podemos tratá-las simplesmente como transferências de energia infinitesimais. Apostila de Química Geral I – Fábio Machado Cavalcanti 23 6.6 TRANSFERÊNCIA DE CALOR EM VOLUME CONSTANTE Um tipo comum de calorímetro, em que as medidas são feitas em volume constante, é o calorímetro de bomba. A reação ocorre no interior de um vaso de metal resistente (a bomba), que é imerso em água, e a temperatura do conjunto todo é monitorada. Figura 6.8 Um calorímetro de bomba é usado para medir mudanças de calor em volume constante. A amostra é colocada no vaso interno, rígido, chamado de bomba, e a combustão se inicia por ignição elétricaNa figura, temos: termômetro (em inglês thermometer), fios de ignição (em inglês firing leads), entrada de oxigênio (em inglês oxygen inlet), agitador (em inglês, stirrer), amostra (em inglês sample), bomba (em inglês bomb), água (em inglês water) e oxigênio sob pressão (em inglês oxygen under pressure). Suponhamos que uma reação química ocorra no interior de um calorímetro de bomba. Podemos pensar na combustão do carbono (grafite): C(gr) + O2(g) → CO2(g) É liberado calor quando ocorre a combustão. A quantidade de calor liberado pela reação é proporcional à variação de temperatura medida no calorímetro de bomba. Nesta reação, um gás é produzido, mas, como as paredes do calorímetro de bomba são rígidas, o sistema (a mistura reacional) não pode realizar trabalho de expansão. Vamos supor, também, que o sistema não pode realizar outros tipos de trabalho (por exemplo, trabalho elétrico). Como o sistema não realiza nenhum tipo de trabalho, sabemos que 0w . Portanto, de acordo com a 1ª lei da termodinâmica wqU e utilizando vq para o calor a volume constante, temos: vqU Apostila de Química Geral I – Fábio Machado Cavalcanti 24 6.7 TRANSFERÊNCIA DE CALOR SOB PRESSÃO CONSTANTE Em química, estamos mais interessados nas transferências de calor em pressão constante. Muitas reações químicas ocorrem em recipientes abertos para a atmosfera e, portanto, ocorrem em pressão constante de cerca de 1 atm. Se um gás se forma, ele trabalha contra a atmosfera para ocupar espaço. Embora nenhum pistão esteja envolvido, trabalho é realizado. Entalpia A função de estado que permite obter informações sobre as variações de energia em pressão constante é chamada de entalpia, H: Vp UH int em que sistema do volumeV sistema do pressãop interna energiaU int A unidade no SI para a entalpia é o joule, J. Como U, pint e V são funções de estado, a entalpia também é uma função de estado. Segue-se que, como a entalpia é uma função de estado, podemos calcular o valor de ΔH para qualquer mudança de estado, escolhendo o modo mais conveniente para especificar os estados inicial e final. Um calorímetro simples, como o da figura abaixo, aberto para a atmosfera, opera sob condições de pressão constante. Figura 6.9 O calor liberado ou absorvido por uma reação, sob pressão constante, pode ser medido neste calorímetro primitivo. O recipiente externo de poliestireno atua como uma camada extra de isolamento, para assegurar que o calor não entre nem saia do recipiente externo. Na figura temos: termômetro (em inglês thermometer), agitador (em inglês stirrer), copos de espuma de poliestireno (em inglês foamed polystyrene cups) e mistura de reação (em inglês reaction mixture). Apostila de Química Geral I – Fábio Machado Cavalcanti 25 Imaginemos que uma reação química ocorra num calorímetro aberto para a atmosfera. Segue-se pela definição de entalpia VpUH int , que a variação de entalpia é: VpUH int Usamos agora a primeira lei, na forma wqU . Então: Vp w qH int Imaginemos, agora, que o sistema só pode executar trabalho de expansão. Neste caso, Vpw ext : Vp Vp qH intext Por fim, como o sistema está aberto para a atmosfera, a pressão interna é igual à pressão externa, isto é, intext pp . Portanto, os dois últimos termos se cancelam. Utilizando pq para o calor sob pressão constante, temos: pqH Segue-se que: Para um processo endotérmico ΔH > 0. Para um processo exotérmico ΔH < 0. TRANSFERÊNCIA DE CALOR EM VOLUME CONSTANTE SOB PRESSÃO CONSTANTE vqU Esta equação estabelece que quando um sistema está a volume constante, e nenhum tipo de trabalho é realizado, a variação da energia interna é igual à energia transferida na forma de calor. pqH Essa equação estabeleceque quando um sistema está à pressão constante, e só efetua trabalho de expansão, a variação de entalpia é igual à energia transferida na forma de calor. Apostila de Química Geral I – Fábio Machado Cavalcanti 26 6.8 A RELAÇÃO ENTRE ΔU E ΔH Se um gás é formado numa reação, muito trabalho é realizado para dar lugar aos produtos gasosos, de modo que a diferença entre ΔU e ΔH pode ser significativa. Considerando que os gases se comportem idealmente podemos relacionar os valores de ΔU e ΔH. Segue-se pela definição de entalpia VpUH int , que a variação de entalpia é: VpUH int Considerando agora a equação dos gases ideais ( nRTpV ), verificamos que Vp int será igual a RTn gás , em que Δngás é a variação da quantidade de mols gasosos durante a reação. Portanto: RTnUH gás Observe que ΔH é menos negativo (menor em módulo) do que ΔU nas reações exotérmicas que geram gases. Em outras palavras, menos energia pode ser obtida, na forma de calor, em pressão constante do que em volume constante, porque o sistema tem de usar energia para expandir o volume e acomodar os produtos gasosos. No caso de reações em que gases não são produzidos nem consumidos ( 0n gás ), a diferença entre ΔU e ΔH é desprezível e podemos considerar ΔH = ΔU. Exemplo 6.8 Utilizando a relação entre ΔH e ΔU Um calorímetro, em volume constante, mostrou que a perda de calor que acompanha a combustão de 1,000 mol de moléculas de glicose na reação 1 C6H12O6(s) + 6 O2(g) → 6 CO2(g) + 6 H2O(g) é 2.559 kJ em 298 K. Qual a variação de entalpia da combustão de 1,000 mol de C6H12O6(s), em 298 K? Apostila de Química Geral I – Fábio Machado Cavalcanti 27 Solução Dado: 1-1 molKJ 3145,8R 1º PASSO: Calcular a variação do número de mols gasosos para a combustão de 1,000 mol de C6H12O6(s): inicialfinalgás nnn mols 612ngás mols 6ngás 2º PASSO: Como a variação de energia interna da reação é igual à transferência de energia na forma de calor a volume constante, temos que: vqU kJ 559.2U 3º PASSO: Substituir os valores em RTnUH gás : RTnUH gás K 298molKJ 3145,8mol 6kJ 559.2H 1-1 J 1049,1kJ 559.2H 4 kJ 9,14kJ 559.2H kJ 544.2H CAPACIDADE CALORÍFICA Temos de aprimorar nossa definição de capacidade calorífica. Definimos a capacidade calorífica, C, como: T q C . Vimos, também que: vqU e pqH . Portanto: Capacidade Calorífica em Volume Constante: T U CV . Capacidade Calorífica em Pressão Constante: T H CP . As capacidades caloríficas molares são essas quantidades divididas pelo número de mols da amostra e são representadas por m,VC e m,PC . Apostila de Química Geral I – Fábio Machado Cavalcanti 28 As capacidades caloríficas em volume constante e em pressão constante de um sólido têm valores parecidos. O mesmo ocorre em líquidos, mas não com gases. Podemos usar a definição de entalpia ( VpUH int ) e a lei dos gases ideais ( nRTpV ) para obter uma relação quantitativa simples entre m,PC e m,VC para um gás ideal. Para um gás ideal, o termo Vp int da equação VpUH int pode ser substituído por nRT , então: nRTUH Quando uma amostra de um gás ideal é aquecida, a entalpia, a energia interna e a temperatura mudam. Logo: TnRUH Dividindo-se ambos os membros por Tn , temos: Tn TnR Tn U Tn H m,Vm,P CC RCC m,Vm,P Exemplo: Para o Argônio, temos: 11 m,V molKJ 8,12C 1111m,P molKJ 1,21molKJ 3,88,12C 6.9 TERMOQUÍMICA A termoquímica é um ramo da termodinâmica que estuda os calores produzidos ou consumidos nas reações químicas. Como a maioria das reações químicas ocorrem sob pressão constante, iremos utilizar as variações de entalpia para estudar o calor produzido ou absorvido durante estas reações ( pqH ). Apostila de Química Geral I – Fábio Machado Cavalcanti 29 6.9.1 ESTADO PADRÃO O estado padrão de uma substância, numa certa temperatura, é o estado da substância na sua forma mais pura e sob pressão de 1 bar. Para um soluto, na concentração 1 mol.L – 1 . Exemplos: Estado Padrão da água líquida, a 298 K é a água pura sob pressão de 1 bar Estado Padrão do ferro sólido, a 500 K é o ferro puro sob pressão de 1 bar O valor padrão de uma propriedade X (isto é, o valor de X para o estado padrão da substância) é representado por X o . Exemplos: Entalpia Padrão Ho Variação de Entalpia Padrão ΔHo A maior parte dos dados termodinâmicos são registrados em 25°C (mais precisamente 298,15 K). A temperatura não faz parte da definição dos estados padrão. Podemos ter um estado padrão em qualquer temperatura; 298,15 K é, simplesmente, a temperatura mais comum usada nas tabelas de dados termodinâmicos. 6.9.2 ENTALPIAS DE TRANSFORMAÇÕES FÍSICAS Mudanças de fase em que as moléculas ficam mais separadas (como a fusão e a vaporização) requerem energia e são, portanto, endotérmicas. Mudanças de fase que aumentam o contato entre as moléculas (como a solidificação e a condensação) são exotérmicas. Como as transições de fase ocorrem, tipicamente, em pressão constante, podemos identificar a transferência de calor que acompanha a mudança de fase com uma alteração da entalpia da substância. Apostila de Química Geral I – Fábio Machado Cavalcanti 30 Entalpia Padrão de Vaporização ΔHovap é a variação de entalpia por mol quando um líquido puro, a 1 bar, se converte em vapor puro, também a 1 bar. Ex: Para a água, temos: ΔHovap (373 K) = + 40,7 kJ.mol –1 ΔHovap (298,15 K) = + 44,0 kJ.mol –1 Este último valor significa que, para vaporizar 1,00 mol de H2O (que corresponde a 18,02 g de água), em 25°C, devemos fornecer 44,0 kJ de energia na forma de calor. Entalpia Padrão de Fusão ΔHofus é a variação de entalpia por mol quando um sólido puro, a 1 bar, se converte em líquido puro, também a 1 bar. Ex: Para a água, temos: ΔHofus (273 K) = + 6,01 kJ.mol –1 OBS 1: Todas as entalpias de vaporização e de fusão são positivas, porque ambos os processos são endotérmicos. OBS 2: Compostos com interações intermoleculares fortes (como ligações de hidrogênio) tendem a ter as mais altas entalpias de vaporização, pois mais energia será necessária para separar as moléculas. OBS 3: Vaporizar uma certa quantidade de água requer muito mais energia do que fundir a mesma quantidade de água, porque quando a água transforma-se em gás suas moléculas separam-se completamente; na fusão, as moléculas permanecem próximas. Como a entalpia é uma função de estado, as variações de entalpia padrão dos processos direto e inverso só diferem pelo sinal (quando ocorrem na mesma temperatura). Daí: direto processoinverso processo HH Logo, para a água, temos: ΔHocondensação (373 K) = – 40,7 kJ.mol –1 ΔHosolidificação (273 K) = – 6,01 kJ.mol –1 Figura 6.10 ΔHprocesso inverso = – ΔHprocesso direto. Na figura temos, processo direto (eminglês forward process), processo inverso (em inglês reverse process), estado inicial (em inglês initial state), estado final (em inglês final state) e entalpia (em inglês enthalpy). Apostila de Química Geral I – Fábio Machado Cavalcanti 31 Exemplo 6.9 Utilizando entalpias de mudanças de fases Quanto calor é necessário para converter 50,0 g de gelo, a 0°C, em água, a 25°C? Dados: Para a água, temos: Cm = 75,3 J.K -1 .mol -1 ΔHofus (273 K) = + 6,01 kJ.mol –1 M = 18,0 g.mol –1 Solução 1º PASSO: Calcular o número de mols de água: M m n mols 78,2 molg 0,18 g 0,50 n 1- 2º PASSO: Calcular a quantidade de calor 1q necessária para converter todo o gelo em água líquida, utilizando a entalpia de fusão da água: ΔHofus (273 K) = + 6,01 kJ.mol –1 Este valor significa que para fundir 1,00 mol de H2O (que corresponde a 18,0 g de água), em 0°C, devemos fornecer 6,01 kJ de energia na forma de calor. Então: 1 mol 6,01 kJ 2,78 mols 1q kJ 7,16q1 3º PASSO: Calcular a quantidade de calor 2q necessária para elevar a temperatura da água líquida de 0°C para 25°C. Lembre-se da relação CK TT . Logo, K 25T . TCq2 K 25molKJ 3,75mol 2,78TCnq 11 C m2 kJ 23,5q2 4º PASSO: Calcular a quantidade de calor total q durante o processo: 21 qqq kJ 23,57,16q kJ 9,21q Apostila de Química Geral I – Fábio Machado Cavalcanti 32 Entalpia padrão de sublimação ΔHosub é a variação de entalpia por mol quando um sólido puro, a 1 bar, se converte diretamente em vapor puro, também a 1 bar. Como a entalpia é uma função de estado, a entalpia de sublimação de uma substância é a mesma, se a transição ocorrer em uma etapa (diretamente de sólido para vapor), ou em duas etapas (primeiro de sólido a líquido, depois de líquido a vapor). Portanto, para uma mesma temperatura, temos: o vap o fus o sub HHH Figura 6.11 ΔHosub = ΔH o fus + ΔH o vap. Na figura temos, vaporização (em inglês vaporization), fusão (em inglês fusion), sublimação (em inglês sublimation), sólido (em inglês solid), líquido (em inglês liquid), vapor (em inglês vapor) e entalpia (em inglês enthalpy). Exemplo 6.10 Calculando a entalpia de sublimação A entalpia de vaporização do metanol é 38 kJ.mol –1 , em 25°C, e a entalpia de fusão é 3 kJ.mol –1 , na mesma temperatura. Qual é a entalpia de sublimação do metanol nesta temperatura? Solução 1º PASSO: Como a entalpia é uma função de estado, a entalpia de sublimação pode ser expressa como a soma das entalpias de fusão e de vaporização na mesma temperatura: o vap o fus o sub HHH -1-1osub molkJ 3molkJ 38H -1o sub molkJ 41H Apostila de Química Geral I – Fábio Machado Cavalcanti 33 Curvas de Aquecimento Figura 6.12 Curva de aquecimento da água. A temperatura de um sólido aumenta quando se fornece calor. No ponto de fusão, a temperatura permanece constante e o calor é usado para fundir a amostra. Quando já foi fornecido calor suficiente para derreter todo o sólido, a temperatura começa a aumentar novamente. Uma pausa semelhante ocorre no ponto de ebulição. Na figura temos, ponto de fusão (em inglês melting point), ponto de ebulição (em inglês boiling point), sólido que se funde (em inglês solid melting), líquido que se vaporiza (em inglês liquid vaporizing), calor fornecido (em inglês heat supplied). As entalpias de fusão e vaporização afetam a aparência das curvas de aquecimento de uma substância, isto é, o gráfico que mostra a variação da temperatura de uma amostra que foi aquecida em velocidade constante, em pressão constante, e, portanto, em velocidade constante de aumento de entalpia. Nos pontos de fusão e de ebulição, a temperatura permanece constante, e toda a energia adicionada na forma de calor é usada para vencer as forças atrativas entre as moléculas, ou seja, para mudar o estado físico da substância. OBS: A inclinação de uma curva de aquecimento é maior no caso de amostras que têm baixa capacidade calorífica do que no caso das que têm alta capacidade calorífica. A curva de aquecimento da água, por exemplo, mostra que no líquido a inclinação é menor do que no sólido ou no gás e, portanto, o líquido tem capacidade calorífica maior do que o sólido ou o gás. Apostila de Química Geral I – Fábio Machado Cavalcanti 34 6.9.3 EQUAÇÃO TERMOQUÍMICA Uma maneira de se registrar a variação de entalpia que acompanha uma reação química é escrever a equação termoquímica, a combinação de uma equação química com a correspondente variação de entalpia padrão: CH4(g) + 2 O2(g) → CO2(g) + 2 H2O(ℓ) ΔH o = – 890 kJ onde ΔHo é a variação de entalpia quando os reagentes nos seus respectivos estados padrão se transformam em produtos, também nos seus respectivos estados padrão. Os coeficientes estequiométricos indicam o número de mols que reagem para dar a variação de entalpia padrão registrada. 6.9.4 ENTALPIA DE REAÇÃO ΔHr A entalpia de reação é definida como sendo a diferença entre as entalpias molares, Hm, de produtos e reagentes de uma reação química: )reagentes(nH)produtos(nHH mmr em que n são os coeficientes estequiométricos da equação química. UNIDADES Entalpia, H J Entalpia Molar, Hm 1molJ Variação de Entalpia, ΔH J Entalpia de Reação, ΔHr 1molJ A entalpia padrão de reação, ΔHor, é definida em termos das entalpias padrão molares dos produtos e reagentes. )reagentes(nH)produtos(nHH omomor Apostila de Química Geral I – Fábio Machado Cavalcanti 35 A entalpia padrão de reação, ΔHor, tem o mesmo valor numérico da quantidade ΔH o que aparece nas equações termoquímicas, mas sua unidade é -1molJ (joule por mol) e não joule. CH4(g) + 2 O2(g) → CO2(g) + 2 H2O(ℓ) ΔH o = – 890 kJ Assim, para a reação de combustão do CH4(g) escrita acima, a entalpia padrão de reação é ΔHor = – 890 kJ.mol -1 . OBS: Nós interpretamos o “por mol” observando os coeficientes estequiométricos na equação química. No caso da combustão do CH4, o “por mol” em ΔH o r significa “por mol de CH4”, “por 2 mols de O2”, “por mol de CO2”, ou “por 2 mols de H2O”. 6.9.5 ALGUNS FATORES QUE INFLUENCIAM O ΔHo Influência das quantidades de reagentes e produtos A variação de entalpia padrão em uma equação termoquímica refere-se à equação exatamente como ela está escrita. Por exemplo, a equação CH4(g) + 2 O2(g) → CO2(g) + 2 H2O(ℓ) ΔH o = – 890. kJ indica que há liberação de 890 kJ quando 1 mol de metano reage com 2 mols de oxigênio produzindo 1 mol de dióxido de carbono e 2 mols de água. Se a equação for multiplicada ou dividida por um número, o mesmo acontecerá com a variação de entalpia padrão. Assim, por exemplo, se a mesma reação for escrita com todos os coeficientes multiplicados por 2, teremos: 2 CH4(g) + 4 O2(g) → 2 CO2(g) + 4 H2O(ℓ) ΔH o = – 1.780 kJ Apostila de Química Geral I – Fábio Machado Cavalcanti 36 Influência do Sentido da Reação Vimos que a variação de entalpia padrão do processo inverso é o negativo da variação de entalpia padrão do processo direto. A mesma relação se aplica às reações químicas diretas e inversas. CH4(g) + 2 O2(g)→ CO2(g) + 2 H2O(ℓ) ΔH o = – 890. kJ CO2(g) + 2 H2O(ℓ) → CH4(g) + 2 O2(g) ΔH o = + 890. kJ Influência da Temperatura Mudanças de temperatura influenciam o grau de agitação das moléculas, ou seja, seu conteúdo de energia. Assim, ao variarmos a temperatura em que uma reação é executada, variamos a entalpia dos participantes. Geralmente essas mudanças nas entalpias não são iguais para reagentes e produtos, o que provoca uma mudança no ΔHo da reação. Para mais detalhes, pesquise sobre a Lei de Kirchhof. H2(g) + ½ O2(g) → H2O(g) ΔH o (25°C) = – 241,8 kJ H2(g) + ½ O2(g) → H2O(g) ΔH o (100°C) = – 242,6 kJ Influência do Estado Alotrópico dos Reagentes e dos Produtos Alotropia é o fenômeno em que um mesmo elemento químico forma substâncias simples diferentes. Na tabela abaixo, relembre alguns alótropos de certos elementos. Elemento Alótropos Carbono Grafite C(gr) / Diamante C(d) Oxigênio Gás Oxigênio O2(g) / Gás Ozônio O3(g) Enxofre Rômbico S(r) / Monoclínico S(m) Fósforo Vermelho P(v) / Branco P(b) Apostila de Química Geral I – Fábio Machado Cavalcanti 37 Analisando dados obtidos experimentalmente em calorímetros: C(gr) + O2(g) → CO2(g) ΔH o = – 393,5 kJ C(d) + O2(g) → CO2(g) ΔH o = – 395,4 kJ Se a queima de 1 mol de C(d) libera mais energia do que a queima de 1 mol de C(gr), conclui-se que que C(d) é mais energético (menos estável) do que o C(gr) (mais estável). Quanto menor for a energia de um sistema, mais estável ele será. Elemento Variedade Alotrópica mais Estável Carbono Grafite C(gr) Oxigênio Gás Oxigênio O2(g) Enxofre Rômbico S(r) Fósforo Vermelho P(v) Influência do Estado Físico dos Reagentes e dos Produtos Considere os seguintes exemplos: CH4(g) + 2 O2(g) → CO2(g) + 2 H2O(g) ΔH o = – 802 kJ CH4(g) + 2 O2(g) → CO2(g) + 2 H2O(ℓ) ΔH o = – 890. kJ Na primeira reação, a água é produzida como vapor e, na segunda, como líquido. O calor produzido é diferente nos dois casos. Caso vapor de água H2O(g) seja formado, uma quantidade de energia permanece armazenada no sistema. Se o vapor de água H2O(g) subsequentemente é condensado, a energia armazenada será liberada na forma de calor. Por isso, a quantidade de calor liberada na combustão do CH4(g) é maior quando a água é produzida como líquido do que como vapor. Apostila de Química Geral I – Fábio Machado Cavalcanti 38 Figura 6.13 Esquema gráfico das variações de entalpia com respeito à influência do estado físico dos reagentes e dos produtos. 6.9.6 LEI DE HESS A entalpia é uma função de estado; logo, o valor de ΔH é independente do caminho entre os estados inicial e final. No contexto das reações químicas, a regra é conhecida como Lei de Hess. Essa lei estabelece que se uma reação for executada em uma série de etapas, o valor de ΔH para a reação será igual à soma das variações de entalpia para as etapas individuais em que a reação pode ser dividida. Figura 6.14 Se a reação total pode ser separada em um conjunto de etapas, então o valor de ΔH para a reação total é a soma das variações de entalpia de cada etapa. Na figura temos, variação total de entalpia (em inglês overall enthalpy change), caminho alternativo (em inglês alternative path), reagente (em inglês reactants) e produtos (em inglês products). Apostila de Química Geral I – Fábio Machado Cavalcanti 39 A Lei de Hess aplica-se mesmo se as reações intermediárias, ou a reação total, não podem ser realizadas na prática. Exemplo 6.11 Uso da Lei de Hess Calcule o valor de ΔHo para a reação de síntese do gás cloreto de hidrogênio H2(g) + Cℓ2 (g) → 2 HCℓ(g) A partir das seguintes informações: (a) NH3(g) + HCℓ(g) → NH4Cℓ(s) ΔH o = – 176,0 kJ (b) N2(g) + 3 H2(g) → 2 NH3(g) ΔH o = – 92,22 kJ (c) N2(g) + 4 H2(g) + Cℓ2(g) → 2 NH4Cℓ(s) ΔH o = – 628,86 kJ Solução 1º PASSO: Para usar a Lei de Hess, precisamos de uma sequência de reações que, adicionadas, resultem na equação de interesse. 2º PASSO: Como o coeficiente estequiométrico que acompanha o HCℓ(g) na equação de interesse é 2, multiplicaremos a equação (a) por 2 (a) 2 NH3(g) + 2 HCℓ(g) → 2 NH4Cℓ(s) ΔH o = – 352,0 kJ 3º PASSO: Como o HCℓ(g) aparece como produto na equação de interesse e precisamos cancelar o composto não-desejado NH4Cℓ(s), inverta a equação (a), mudando o sinal de ΔHo (a) 2 NH4Cℓ(s) → 2 NH3(g) + 2 HCℓ(g) ΔH o = + 352,0 kJ 4º PASSO: Para cancelar o composto NH3(g), não desejado, inverta a equação (b), mudando o sinal de ΔHo. (b) 2 NH3(g) → N2(g) + 3 H2(g) ΔH o = + 92,22 kJ Apostila de Química Geral I – Fábio Machado Cavalcanti 40 5º PASSO: Depois de realizadas as modificações, adicione as equações (a), (b) e (c). (a) 2 NH4Cℓ(s) → 2 NH3(g) + 2 HCℓ(g) ΔH o = + 352,0 kJ (b) 2 NH3(g) → N2(g) + 3 H2(g) ΔH o = + 92,22 kJ (c) N2(g) + 4 H2(g) + Cℓ2(g) → 2 NH4Cℓ(s) ΔH o = – 628,86 kJ ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– H2(g) + Cℓ2 (g) → 2 HCℓ(g) ΔH o = – 184,64 kJ 6.9.7 ENTALPIA PADRÃO DE COMBUSTÃO ΔHoc A entalpia padrão de combustão, ΔHoc, de uma substância é a entalpia padrão de reação da reação de combustão de 1 mol dessa substância com reagentes e produtos em seus estados padrão. A unidade da entalpia padrão de combustão, ΔHoc, é -1molJ (joule por mol) e não joule. A combustão de hidrocarbonetos e compostos que tenham C, H e O, produz CO2(g) e H2O(ℓ). Se houver nitrogênio, ele é liberado como N2, a menos que outros produtos sejam especificados. Como exemplo, temos a combustão do(a): Glicose (C6H12O6) C6H12O6(s) + 6 O2(g) → 6 CO2(g) + 6 H2O(ℓ) ΔH o = – 2808 kJ Como as entalpias padrão de combustão são expressas em quilojoules por mol, nós registramos ΔHoc (C6H12O6) = – 2808 kJ.mol – 1 . Apostila de Química Geral I – Fábio Machado Cavalcanti 41 Octano C8H18(ℓ) + 25/2 O2(g) → 8 CO2(g) + 9 H2O(ℓ) ΔH o = – 5471 kJ Como as entalpias padrão de combustão são expressas em quilojoules por mol, nós registramos ΔHoc (C8H18) = – 5471 kJ.mol – 1 . OBS: A Lei de Hess permite usar dados de combustão, que podem ser facilmente obtidos, para compilar informações sobre muitas reações. 6.9.8 ENTALPIA PADRÃO DE FORMAÇÃO ΔHof A entalpia padrão de formação, ΔHof, de uma substância é a entalpia padrão de reação para a reação de formação de 1 mol dessa substância a partir de seus elementos (nesse contexto, “elementos” tem o sentido de substâncias simples) – todos no estado padrão, no estado físico mais comum e na variedade alotrópica mais estável. EXCEÇÃO: O Fósforo Branco, P(b), embora seja uma forma alotrópica não estável do Fósforo, ela é a mais reprodutível e fácil de se obter. A unidade da entalpia padrão de formação, ΔHof, é -1molJ (joule por mol) e não joule. Como exemplo, temos a reação de formação do(a): Etanol (C2H5OH, ℓ) 2 C(gr) + 3 H2(g) + ½ O2(g) → C2H5OH(ℓ) ΔH o = – 277,69 Kj Como as entalpias padrão de formação são expressas em quilojoules por mol, nós registramos ΔHof (C2H5OH, ℓ) = – 277,69 kJ.mol – 1 . Apostila de Química Geral I – Fábio MachadoCavalcanti 42 Amônia (NH3, g) 1/2 N2(g) + 3/2 H2(g) → NH3(g) ΔH o = – 46,11 kJ Como as entalpias padrão de formação são expressas em quilojoules por mol, nós registramos ΔHof (NH3, g) = – 46,11 kJ.mol – 1 . OBS: Observe que a substância e seu estado físico são usado para caracterizar a entalpia padrão de formação e permitir que saibamos de que espécie e de que forma dela estamos falando. IMPORTANTE!!! A entalpia padrão de formação de um elemento na sua forma mais estável é definida como zero. Por exemplo: ΔHof (O2, g) = 0 ΔHof (C, gr) = 0 Isso significa que a entalpia padrão de formação de um elemento, em uma forma que não é a mais estável, é diferente de zero. Por exemplo, a conversão do carbono do grafite em diamante: C(gr) → C(d) ΔHo = – 1,9 kJ A entalpia padrão de formação do diamante é registrada como ΔHof (C, diamante) = + 1,9 kJ.mol – 1 . 6.9.9 USO DAS ENTALPIAS PADRÃO DE FORMAÇÃO, ΔHof, PARA CALCULAR UMA ENTALPIA PADRÃO DE REAÇÃO, ΔHor. Conhecidas as entalpias padrão de formação, ΔHof, dos reagentes e produtos de uma reação química, é possível calcular sua entalpia de reação ΔHor, através da equação: )reagentes(Hn)produtos(HnH of o f o r Apostila de Química Geral I – Fábio Machado Cavalcanti 43 onde n são os coeficientes estequiométricos da equação química e o símbolo Σ (sigma) representa uma soma. A primeira soma é a entalpia de formação dos produtos. A segunda soma é o mesmo total para os reagentes. Essa equação é uma consequência lógica da Lei de Hess. Pense nisto! Exemplo 6.12 Uso das entalpias padrão de formação para calcular uma entalpia padrão de reação Calcule a entalpia padrão de reação, ΔHor, para a reação PCℓ3(ℓ) + Cℓ2(g) → PCℓ5(s) Sabendo que: ΔHof (PCℓ3, ℓ) = – 319,7 kJ.mol – 1 ΔHof (PCℓ5, s) = – 443,5 kJ.mol – 1 Solução 1º PASSO: Calcule a entalpia de formação total dos produtos. )s ,PC(H1)produtos(Hn 5 o f o f )molkJ 5,443(1)produtos(Hn -1of -1o f molkJ 5,443)produtos(Hn 2º PASSO: Calcule a entalpia de formação total dos reagentes. Lembre-se de que a entalpia padrão de formação de um elemento, na sua forma mais estável é zero. )g ,C(H1) ,PC(H1)reagentes(Hn 2 o f3 o f o f 0)molkJ 7,319(1)reagentes(Hn -1of -1o f molkJ 7,319)reagentes(Hn 3º PASSO: Da equação )reagentes(Hn)produtos(HnH of o f o r , encontraremos a entalpia de reação ΔHor. )reagentes(Hn)produtos(HnH of o f o r )molkJ 7,319()molkJ 5,443(H -1-1or -1o r molkJ 8,123H OBS: Tente resolver a questão agora utilizando a Lei de Hess! Apostila de Química Geral I – Fábio Machado Cavalcanti 44 6.9.10 ASPECTOS ESTEQUIOMÉTRICOS DA TERMOQUÍMICA O aproveitamento pelo ser humano da energia liberada ou absorvida em reações químicas justifica a necessidade e a importância de se efetuarem cálculos envolvendo variações de energia nas reações. Nos cálculos estequiométricos envolvendo energia, estaremos relacionando em nossos cálculos a quantidade da substância (em massa, em mols, em volume, etc.) com a quantidade de calor liberada ou absorvida numa reação química. Exemplo 6.13 Cálculo do calor liberado por um combustível A equação termoquímica da combustão do butano é 2 C4H10(g) + 13 O2(g) → 8 CO2(g) + 10 H2O(ℓ) ΔH o = – 5756 kJ Que massa de butano deve ser queimada para fornecer 350. kJ de calor? Dado: 104HC M = 58,12 g.mol – 1 Solução 1° PASSO: Encontre a relação entre a variação de entalpia e a quantidade de C4H10, usando a equação termoquímica. 2 C4H10(g) + 13 O2(g) → 8 CO2(g) + 10 H2O(ℓ) ΔH o = – 5756 kJ 2 mols liberam 5756 kJ 2º PASSO: Calcular a massa a partir da relação encontrada. 2 C4H10(g) liberam 5756 kJ 2 · (58,12 g.mol – 1 ) ––––––––– 5756 kJ m ––––––––– 350 kJ 104HC de g 07,7m Apostila de Química Geral I – Fábio Machado Cavalcanti 45 6.9.11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ATKINS, Peter; JONES, Loretta. Princípios de Química – Questionando a Vida e o Meio Ambiente. Porto Alegre, RS: Bookman, 2006. BROWN, Theodore L.; LEMAY, H. Eugene; BURSTEN, Bruce E. Química - A Ciência Central. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007. CANTO, Eduardo Leite do; PERUZZO, Francisco Miragaia. Química na Abordagem do Cotidiano Físico-Química. São Paulo: Moderna, 2006. FELTRE, Ricardo. Química Físico-Química 2. São Paulo: Moderna, 2004. KOTZ, John C.; TREICHEL, Paul M. Química Geral I e Reações Químicas. São Paulo: Cengage Learning, 2008. MAHAN Bruce M.; MEYERS, Rollie J. Química: um Curso Universitário. São Paulo: Edgard Blücher, 1995.
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