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INSTITUTO PIERON ESPECIALIZAÇÃO EM ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL Claudia Alessandra Macedo A ABORDAGEM DA PSICOLOGIA INTEGRAL COMO FUNDAMENTO TEÓRICO E PRÁTICO PARA A ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO. SÃO PAULO 2012 2 CLAUDIA ALESSANDRA MACEDO A ABORDAGEM DA PSICOLOGIA INTEGRAL COMO FUNDAMENTO TEÓRICO E PRÁTICO PARA A ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO. Monografia apresentada como requisito para obtenção do título de Especialista em Orientação Profissional, sob a orientação da Prof.ª Maria Luiza Dias Garcia e do Prof. Walter de Paula Pinto Filho. São Paulo 2012 3 A abordagem da Psicologia Integral como fundamento teórico e prático para a Orientação Profissional: Um estudo exploratório com base em bibliografia. Claudia Alessandra Macedo Aprovada em ___/___/_____ Banca Examinadora 4 Dedico essa pesquisa: A todos os meus familiares, em especial: Ao meu marido, a minha mãe, meus irmãos, minha tia paterna, a meu pai que jamais deixou de ter esperança no amanhã e a todos os familiares que me precederam e me permitiram estar aqui, hoje. Também dedico a todas as pessoas: ...que acreditam que o trabalho oferece ao homem uma possibilidade de desenvolver e aperfeiçoas os talentos que faz de cada um de nós um ser único e especial. ...que desenvolvem seu trabalho com respeito e gratidão pela natureza. ...que honram todos os tipos de trabalho que levam o homem a dignificar-se e ser útil. ...que possuem o dom de frutificar esse trabalho e plantar em cada ser humano uma semente de esperança na busca por sentido na vida. ...que são capazes de cair, se levantar e seguir em frente. ...que escolhem e nem sempre acertam, porém estão sempre preparadas para tentar de novo. 5 Agradecimentos: ى Em especial ao Professor Walter de Paula Pinto Filho por acreditar na proposta dessa pesquisa, pelas sugestões, idéias e críticas, por toda atenção e paciência. E à Professora Maria Luiza Dias Garcia pela paciência e auxílio na orientação da pesquisa. ى À Professora Giovanna Albuquerque M. de Lima que demonstrou sua paixão e envolvimento com a Orientação Profissional despertando em mim a vontade de seguir em frente. ى À Professora Adriana Gomes pelas discussões e reflexões realizadas durante a especialização que me fizeram pensar de maneira decisiva acreditar que o homem pode ser feliz em suas atividades profissionais. ى A Delmar Franco que me ensinou a caminhar com mais amorosidade, carinho e ampliou a minha visão de mundo por intermédio da Abordagem Integral. ى Ao meu carinhoso amigo Carlos Turato Junior que em nossas conversas na parada para o café me trazia alegria e a crença positiva de vencer os obstáculos com paciência. ى Ao eterno amigo Giovanni Gigliozzi que me auxiliou no esclarecimento da teoria Integral, pelas indicações de textos, pesquisas e as infindáveis discussões que trouxeram à luz idéias sobre a pesquisa. ى Ao amigo Marcelo Cardoso que me auxiliou na descoberta de meu propósito de vida. ى Aos meus colegas do Instituto Evoluir que apoiaram a idéia desse trabalho. ى Aos meus colegas de Arautos que apoiaram o desenvolvimento de meu trabalho como orientadora profissional. ى Aos amigos da terapia em grupo que tanto me estimularam doando vibrações positivas para a conclusão desse trabalho. ى A todos aqueles que de alguma forma contribuíram para a realização dessa pesquisa. 6 "Podemos escolher recuar em direção à segurança ou avançar em direção ao crescimento. A opção pelo crescimento tem que ser feita repetidas vezes. E o medo tem que ser superado a cada momento." ( Abraham Maslow) “Ninguém ignora tudo, ninguém sabe tudo. Por isso aprendemos sempre”. (Paulo Freire) 7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ......................................................................................................................10 1 ABORDAGEM INTEGRAL .........................................................................................15 1.1 Teóricos Integrais ...............................................................................................................15 1.2 O Criador da Abordagem Integral - Ken Wilber ...............................................................16 1.3 O que é a Abordagem Integral? .........................................................................................17 1.4 Mapa Integral .................................................................................................................... 20 1.4.1 As Cinco Dimensões do Mapa Integral ......................................................................... 21 1.4.1.1 Quadrantes .................................................................................................................22 1.4.1.2 Níveis/Estágios de Desenvolvimento ...........................................................................29 1.4.1.3.Estados .........................................................................................................................30 1.4.1.4.Linhas ou Correntes do Desenvolvimento ..................................................................33 1.4.1.5.Tipos .............................................................................................................................37 1.5 Abordagem Integral: Exemplo de Aplicação na Política .................................................. 39 2 PSICOLOGIA INTEGRAL ..........................................................................................41 2.1 Psicologia Integral ..............................................................................................................41 2.2 Filosofia Perene e o Grande Ninho do Ser .........................................................................44 2.2.2 Hólons .............................................................................................................................46 2.3 A Concepção do Eu ...........................................................................................................48 2.3.1 O eu e as Subpersonalidades ...........................................................................................52 2.3.2 O Eu e a Sombra ............................................................................................................ 55 2.4 Evolução da Consciência ...................................................................................................58 2.4.1 Modelo Global do Desenvolvimento da Consciência .................................................... 59 2.4.1.1 Estruturas Básicas ........................................................................................................60 2.4.1.1.1 Divisão das Estruturas Básicas ................................................................................ 61 2.4.1.2 Estruturas de Transição ................................................................................................65 2.5 Modelo de Desenvolvimento da Consciência Proposto por Carol Gilligan .................... 68 2.5.1 Estágios do Desenvolvimento Segundo Gilligan ...........................................................692.6 O Desenvolvimento da Consciência Visto por Intermédio de Níveis de Profundidade Interior do Eu ....................................................................................................................71 2.7 Terapia do Espectro Total e a Inclusão dos Quadrantes ...................................................80 8 3 DIFERENTES MODELOS DE DESENVOLVIMENTO HUMANO .......................84 3.1 Espiral Dinâmica - Um Modelo de Leitura do Desenvolvimento Baseado nos Valores Humanos ..................................................................................................................................84 3.1.1 Níveis de Consciência de Primeira Ordem .....................................................................93 3.1.2 Níveis de Consciência de Segunda Ordem ........................................................................118 3.2 Modelo de Altitudes de Consciência ..........................................................................123 3.3.Modelo de Desenvolvimento Baseado na Maturidade e Identidade do Ego ..................125 3.3.1.Estágios do Desenvolvimento do Ego Segundo Modelo de Jane Loevinger ................127 3.4 Desenvolvimento do Ego Segundo Modelo de Susanne Cook-Greuter ..........................129 4 ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL ..............................................................................130 4.1 História e Trajetória da Orientação Profissional ..............................................................130 4.1.1 Trajetória da Orientação Profissional no Cenário Internacional ...................................131 4.1.2.Trajetória da Orientação Profissional no Cenário Nacional (Brasil) ............................134 4.2.Abordagens em Orientação Profissional .........................................................................139 4.2.1 Teorias Não-Psicológicas ..............................................................................................140 4.2.2 Teorias Psicológicas ......................................................................................................141 4.2.2.1 Teoria de Traço-e-Fator .............................................................................................141 4.2.2.2 Teorias Psicodinâmicas ..............................................................................................143 4.2.2.3 Teorias Desenvolvimentistas .....................................................................................145 4.2.2.4 Teorias Decisionais ....................................................................................................155 4.2.3 Teorias gerais ................................................................................................................156 4.3 Orientação Profissional no Brasil e as Abordagens que mais influenciaram .................. 158 4.4 Uma nova forma de classificar as Teorias em Orientação Profissional ..........................160 4.4.1 Teorias Tradicionais .....................................................................................................160 4.4.2 Teorias Críticas ............................................................................................................ 162 4.4.3 Teorias para Além da Crítica ........................................................................................164 4.5 Orientação Profissional e a Estratégia Clínica .................................................................167 4.5.1 Principais Considerações sobre Estratégia Clínica .......................................................171 4.5.2 O Psicólogo e o Orientador Profissional ......................................................................174 4.5.3 Psicoprofilaxia ..............................................................................................................179 4.5.4 Importância da entrevista para Bohoslavsky ................................................................180 9 4.5.4.1 Papéis e Intervenções na Entrevista ...........................................................................182 4.5.4.2 Técnicas da Entrevista ...............................................................................................184 4.5.4.3 Os cinco momentos da Entrevista ............................................................................. 186 4.5.4.4 Comunicação na Entrevista ........................................................................................187 4.5.5 O Diagnóstico – Primeira Entrevista ............................................................................191 4.5.6 Prognóstico ...................................................................................................................196 4.5.7 Utilização de Testes Projetivos para Bohoslavsky .......................................................199 4.6 Temas observados na Análise da História da Orientação Profissional no Brasil ............201 5 ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL E A ABORDAGEM INTEGRAL: UMA POSSIBILIDADE ................................................................................................................204 5.1 Exemplos de Trabalhos com uma Visão Integral ............................................................204 5.1.1 Coaching Integral ......................................................................................................... 204 5.1.2 Excelência em 360º graus .............................................................................................211 5.2 A Proposta da Abordagem Integral na Orientação Profissional ..................................... 216 5.2.1 Objetivo da Proposta ....................................................................................................218 5.3.Estratégia Clínica e Abordagem Integral – Principais Diferenças e Similaridades...........................................................................................................................219 5.3.1 Diferenças .................................................................................................................... 219 5.3.2 Similaridades .................................................................................................................220 5.3.3 O Psicólogo e o Orientador Profissional na perspectiva Integral .................................225 5.3.4 Psicoprofilaxia na Visão Integral ..................................................................................226 5.3.5 Adaptações na entrevista de Orientação Profissional para o modelo da Abordagem Integral ...................................................................................................................................228 5.3.5.1 Diagnóstico (Primeira Entrevista) e a Visão Integral ................................................232 5.3.6 A Utilização de Testes Projetivos na Abordagem Integral ...........................................233 5.4 Leitura Integral da Problemática Vocacional ...................................................................234 5.5 Conclusões .......................................................................................................................236 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................246 10 INTRODUÇÃO Este estudo exploratório foi por mim escolhido como tema para realização desta monografia, parte das exigências do Curso de Especialização Pós Lato Sensu denominado “Orientação Profissional: Teoria e Prática”, realizado no Instituto Pieron. O curso proporcionou-me um encontro mais aprofundado com a Orientação Profissional, assim como, subsídios teóricos para a prática profissional e a revisão de minha própria trajetória.O primeiro contato com a Orientação Profissional foi na época da faculdade, mas o contato mais aproximado ocorreu quando realizei um curso de extensão com a perspectiva Sócio Histórica na Coordenadoria Geral de Especialização, Aperfeiçoamento e Extensão da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (COGEAE/PUC-SP). A princípio busquei um curso de extensão, porque necessitava de conhecimento teórico mais específico para responder às questões que surgiram em meu trabalho (voluntário e remunerado). Nesse período atuava em recursos humanos concomitantemente com a Clínica de Psicologia. Alguns candidatos participantes de processos seletivos, colaboradores da empresa e clientes do consultório, me procuravam particularmente para desabafar seus medos, decepções, dificuldades, bem como, para falar sobre projetos relacionados ao campo profissional. A partir de tais questionamentos, iniciei o delineamento mais consciente de minha identidade profissional fazendo uma re-leitura da trajetória na área da psicologia, desde os estágios realizados na época da Universidade até o contexto em que atuava naquele momento: a Psicologia Organizacional e Clínica. Nesta releitura inclui todos os trabalhos anteriores a formação em psicologia, os trabalhos que de certa forma nutriram meu crescente interesse pela área de formação atual. A compreensão que obtive de meus objetivos profissionais resultou na vontade de realizar uma possível transição de carreira, sem muita clareza de qual caminho percorrer. Ao pensar nesta transição, surgiram quatro questões que precisavam ser analisadas antes de seguir adiante, são elas: 11 1) Descobrir os princípios e valores1 que haviam embasado a construção de minha carreira até o momento. 2) Reconhecer princípios, valores, interesses, crenças e visão de mundo que dão sentido para minha vida atual. 3) Sair da zona de conforto e enfrentar o medo do desconhecido. 4) Compreender o novo desafio. Identifiquei que os princípios norteadores de minha trajetória e crescimento profissional, até o momento, estavam baseados no trabalho, autonomia e perseverança, enquanto, os valores predominantes eram a lucratividade e a estabilidade financeira. Visava o sucesso profissional, que na época, significava ter um emprego que me proporcionasse aquisição de bens materiais e reconhecimento social e financeiro privilegiados. Posteriormente, re-signifiquei e ampliei os princípios, os valores, os interesses, as crenças e a visão de mundo que me davam base para seguir em frente. Minha carreira, hoje, esta fundamentada em princípios que vão além do trabalho, autonomia e perseverança, inclui o amor, a prosperidade e a evolução. Os valores presentes estão voltados para o aprendizado, autoconfiança, integridade, realização, honestidade, ética, responsabilidade, prazer pelo trabalho, cooperação no desenvolvimento de outras pessoas e alegria. A prosperidade financeira e a lucratividade são consequências de um trabalho realizado em sintonia com meu modo de pensar e sentir. Meus principais interesses são: o ser humano e a valorização de suas experiências. Creio nas potencialidades humanas e na capacidade que o indivíduo possui em descobrir respostas a partir de si mesmo, transformar-se e evoluir individualmente e coletivamente. Vejo o homem como alguém que está em constante processo de desenvolvimento, inserido em variados contextos sociais e culturais, dotado de características biológicas, psicológicas e espirituais. Todos esses aspectos tornam cada pessoa única e especial. _______________ 1 As palavras “princípio e valor” foram adotadas de acordo com o significado atribuído por Mendes (2008). Segundo o autor os princípios são tidos como leis, preceitos ou pressupostos que conduzem nossa existência e são universais. Determinam as regras que devem orientar uma sociedade. São válidos para elaboração da constituição de um país, para acordos políticos entre as nações ou estatutos de condomínio. Valores são considerados como pessoais, subjetivos e podem ser questionados. A escolha dos valores tem relação com o ambiente no qual a pessoa está inserida. O que vale para determinada pessoa, pode não valer para outra, ainda que essas duas pessoas façam parte da mesma sociedade. A aplicação desses valores pode ou não ser ética e depende muito do caráter ou da personalidade da pessoa que os adota. 12 O terceiro passo, rumo à mudança profissional, foi sair da zona de conforto e enfrentar o medo do desconhecido. Durante algum tempo, pensei que ao fazer outra escolha teria que abrir mão de uma área na qual me encontrava estabilizada2. Migrar para uma nova experiência profissional, um terreno ainda não explorado, causava-me certo receio. Quando compreendi que poderia manter tudo o que aprendi como elementos integrantes de minha vida, fui capaz de superar esse medo. O último passo foi compreender o novo desafio mediante a situação que se configurava. Observei que vivia uma grande incerteza e decidi apenas experimentar novas possibilidades. Pensei no que gostava e sabia fazer: atendimento em psicologia clínica3 e assuntos relacionados ao campo do trabalho e carreira. Compreendi desta forma qual era meu objetivo e gradualmente passei a me dedicar à Orientação Profissional. Pela primeira vez senti a conexão com meu propósito profissional. Encontrei uma força interna, capaz de vencer obstáculos e buscar a realização de meus “sonhos”. Penso que, um “sonho” ou “desejo” sem ação permanece no quadro da idealização, sempre que possível um sonho deve ser precedido de uma ação e mesmo que não obtenha o resultado esperado, a tentativa poderá trazer a sensação de êxito. Sinto que a vida nos proporciona diferentes caminhos para realização e, quanto mais abertos estivermos para as experiências que ela nos proporciona, mais possibilidades de vivenciar nossos sonhos, mesmo que eles se configurem de uma maneira diferente daquela pensada no início. Neste período, muitas mudanças ocorriam em minha vida e, tinha a sensação de experimentar as coisas de forma mais consciente. Tudo se tornava mais colorido e eu passei a me sentir “igualmente” viva, mesmo diante algumas dificuldades e enfrentamentos. Havia ao mesmo tempo “em meu mundo interior” a quietude e o movimento. O encontro dos paradoxos não me assustava mais e a sensação de conexão com uma esfera maior de conhecimento e sabedoria se fazia presente. Tive a impressão de vivenciar um espaço de união aonde tudo fazia sentido e tocava a minha percepção de maneira profunda. Uma parte tinha vontade de buscar o silencio e outra parte continuava inquieta e após analisar as questões que trouxeram clareza sobre minha profissão. Notei que outro questionamento surgiu. Esse assunto referia-se a abordagem teórica que orientava a minha _______________ 2 A palavra estabilizada é utilizada no sentido de sentir-se segura com a realização de atividades conhecidas e exploradas. Atuava com recrutamento, seleção e treinamento na área de Recursos Humanos de uma empresa, e na clínica, como psicoterapeuta no atendimento individual de adultos e adolescentes. 3 Realizo este trabalho desde minha habilitação perante o Conselho Regional de Psicologia, ocorrida em março de 2003. As horas semanais dedicadas a esta atividade me trazem uma grande realização e satisfação pessoal. 13 atuação profissional. A psicologia possui diversas áreas de atuação e variados teóricos que oferecem muitas maneiras de interpretar a natureza humana e os fenômenos psíquicos. Durante o curso de formação tive contato com as principais teorias da psicologia e compreendia que todas as abordagens tinham e tem seu grau de eficácia, mas nemsempre as ferramentas que oferecem são compatíveis para o momento que o cliente está vivenciando e, diante este cenário uma visão mais ampliada e mais inclusiva seria válida, além disto, creio que possamos encontrar pontos de convergência ou complementaridade entre muitas e diferentes teorias. De qualquer forma, particularmente, a escolha da abordagem teórica, ocorreu com base em diversos fatores, como: visão de mundo, crenças, valores e princípios e, principalmente, um senso interno de algo que me tocou profundamente, algo que conversou comigo e que me permitiu respirar e sentir uma conexão com minha essência, uma conexão com minha própria humanidade, algo que me permitiu sentir a conexão com tudo e todos. A primeira abordagem que contemplei foi a Teoria Humanista Centrada na Pessoa de Carl Rogers. Num segundo momento estava em busca de uma visão que abarcasse o sentido da transpessoalidade, o que me guiou até a psicologia Transpessoal. O contato com essas duas teorias (Humanista e Transpessoal4) me levou ao conhecimento da abordagem Integral proposta por Ken Wilber. Compreendi o sentido de minha trajetória na direção da teoria Integral após a leitura de alguns capítulos do livro de Maslow: Introdução à Psicologia do Ser. Abraham H. Maslow corrobora com a idéia de que a psicologia Transpessoal surge num movimento de evolução da psicologia Humanista e faz referência a essa abordagem como a quarta força da psicologia. [...] considero a Psicologia Humanista, ou Terceira Força da Psicologia, apenas transitória, uma preparação para uma Quarta Psicologia ainda “mais elevada”, transpessoal, transumana5, centrada mais no cosmo do que nas necessidades e interesses humanos, indo além do humanismo, da identidade, da individuação e quejandos6. Essas Psicologias comportam a promessa de desenvolvimento de uma filosofia de vida, de um substituto da religião, de um sistema de valores e de um programa de vida cuja falta essas pessoas _______________ 4 O Contato com a psicologia Transpessoal ocorreu de forma muito superficial. 5 Segundo o dicionário eletrônico Aurélio Secúlo XXI, a palavra transumano significa - A que se deu natureza humana; que se transumanou; transumanado. 6 O termo “quejando”significa, que tem a mesma natureza ou qualidade. Disponível no site: http://www.priberam.pt/dlpo/default.aspx?pal=quejando. Acesso no dia 06 de junho de 2010. 14 estão sentindo. Sem o transcendente e o transpessoal, ficamos doentes, violentos e niilistas, ou então vazio de esperança e apáticos. Necessitamos de algo “maior do que somos”, que seja respeitado por nós próprios e a que nos entreguemos num novo sentido, naturalista, empírico, não-eclesiástico. (MASLOW, 1962, p. 12) Pedrassoli (2006) informa as quatro forças da psicologia: a primeira força é a abordagem comportamental ou behaviorismo, a segunda é a psicanálise, criada por Sigmund Freud, a terceira força é a psicologia humanista e a quarta é a psicologia Transpessoal. Ken Wilber fez parte do movimento da psicologia Transpessoal, segundo informações de Raynsford (2009). Ele foi considerado um dos fundadores deste movimento, mas se desligou do mesmo em 1983 e criou terreno para os “Estudos Integrais”, do qual faz parte a psicologia Integral. A abordagem Integral oferece uma visão de mundo mais globalizada e amplia a minha perspectiva de ação. Essa ação pode ser constantemente aperfeiçoada e, o primeiro passo nesse sentido foi a realização da pós-graduação em Orientação Profissional. O curso estabelece a conclusão de uma monografia a qual propus desenvolver com foco na Psicologia Integral, o que considerei um desafio, devido ao fato de ser uma abordagem relativamente nova. O objetivo deste trabalho é refletir sobre as possibilidades da Psicologia Integral contribuir com a prática da Orientação Profissional/Vocacional. Esse objetivo pretende ser alcançado por meio de um estudo exploratório com apoio da pesquisa bibliográfica. Sobre o significado da pesquisa exploratória, Reis (2008, p. 55) esclarece: A pesquisa exploratória é o primeiro passo de qualquer pesquisa, que acontece quando o tema escolhido é pouco explorado é o pesquisador precisa incorporar características inéditas e buscar novas abordagens. Ela é feita por meio de levantamento bibliográfico, entrevistas, análise de exemplos sobre o tema estudado. No caso deste trabalho não foram utilizadas entrevistas, apenas o levantamento bibliográfico e análise de trabalhos que se aproximam do tema em questão. Reis (2008, p.55) também relata que a pesquisa bibliográfica possibilita: aproximar o pesquisador do tema e objeto de estudo; construir questões importantes para a pesquisa; proporcionar uma visão geral acerca de determinado fato ou problema; 15 aprofundar conceitos preliminares sobre determinada temática; identificar um novo aspecto sobre o tema a ser pesquisado; possibilitar a primeira aproximação do pesquisador com o tema de estudo, quanto a análise de exemplos que estimulam a compreensão do assunto pesquisado. Esta pesquisa pode trazer à tona uma idéia sobre como trabalhar com a orientação profissional, utilizando como quadro de referência uma nova teoria. Acredito que este trabalho é apenas um início. Para que haja uma compreensão mais aprofundada da aplicação da Abordagem Integral a Orientação Profissional/Vocacional, será necessária uma pesquisa de campo que demonstre na prática sua eficácia. Esta tarefa fica como sugestão para os próximos trabalhos. 16 1 ABORDAGEM INTEGRAL 1.1 Teóricos Integrais Antes do surgimento da Abordagem Integral introduzida por Wilber, outros teóricos7 importantes já falavam sobre teorias com uma visão “Integral”. Muitos desses são citados e incluídos pelo autor em sua obra, afinal, um dos pressupostos da “Integral” é incluir diversos ensinamentos8 trazidos por teóricos da pré-modernidade, modernidade e pós- modernidade sejam estes integrais ou não. O autor encontrou terreno fértil para sua obra e este solo possui sementes de diversos teóricos Integrais, nas palavras de Wilber (2007b, p. 95): Os primeiros pioneiros modernos de uma abordagem integral foram abundantes, tais como Goethe, Schelling, Hegel, Fechener e James. Esses primeiros pioneiros tiveram acesso cada vez maior a dados científicos a respeito da evolução e dessa maneira entenderam, de forma cada vez mais clara, algumas coisas a respeito do Grande Ninho que os pioneiros pré- modernos geralmente não entendiam; isso mostra o desenvolvimento não apenas nos indivíduos, mas também na espécie; não apenas ontogeneticamente, mas também filogeneticamente. Neste século, embora o número de pioneiros também seja abundante – de Steiner a Whitehead e Gebser – eu gostaria, em particular de mencionar James Mark Baldwin, Jürgen Habermas, Sri Aurobindo e Abraham Maslow. Wilber (2007b) apresenta alguns desses teóricos de maneira bem resumida. James Mark Baldwin (1861 – 1934) é tido como o mais importante dos quatro e poderia ser considerado pela História como o maior psicólogo dos Estados Unidos. Foi responsável por uma psicologia e filosofia integrais que está sendo reconhecida apenas neste momento. Também foi o primeiro a definir de maneira clara um estágio de desenvolvimento. O segundo citado é Jürgen Habermas (nascido em 1929) aplicou sua visão integral a diversos campos, entre estes: filosofia, psicologia, antropologia, teoria evolutiva e política. O terceiro teórico é Sri Aurobindo (1872 – 1950) um grande filósofo – sábio da Índia que trabalhou com a Ioga Integral. Por último, não menos importante, Abraham Maslow(1908 – 1970). Suas idéias causaram grande impacto na educação, nos negócios e nas pesquisas sobre valores. _______________ 7 Para compreensão mais aprofundada desses teóricos sugiro leitura do livro Psicologia Integral de Ken Wilber. 8 O autor denomina esta inclusão de Pluralismo Metodológico. 17 1.2 O Criador da Abordagem Integral - Ken Wilber Segundo Raynsford (2009) o nome completo do criador da abordagem Integral é Kenneth Earl Wilber Jr., conhecido como Ken Wilber. Nasceu em 31 de janeiro de 1949 na cidade em Oklahoma, Estados Unidos da América. Seu pai fazia parte da Força Aérea Americana e por isso durante a vida escolar Wilber viveu em diversas cidades. Atualmente, vive em Denver, Colorado. Wilber completou o segundo grau em Lincoln, Nebraska e iniciou a faculdade de medicina na Duke University, porém logo no primeiro ano deixou de se interessar pela carreira médica e começou a estudar psicologia e filosofia ocidentais e orientais. Dedicou-se também à prática espiritual, desde então atividade essencial em sua vida e sua obra. Regressou ao estado de Nebraska para estudar bioquímica, mas passado alguns anos, largou o mundo acadêmico (com um mestrado em bioquímica) e entregou-se para escrita em tempo integral. Wilber preocupa-se com a união da ciência e da religião. De acordo com Raynsford (2009) essa preocupação sustenta-se em sua própria experiência e na experiência de vários místicos de grandes tradições de sabedoria, incluindo ocidentais e orientais. Sua obra é centralizada fundamentalmente na integração de todas as áreas do conhecimento: ciência, filosofia, arte, ética e espiritualidade. O Modelo Integral pode ser utilizado em diversos campos de atividades como: Psicologia, Política, Ecologia, Medicina, Educação, Direito, Negócios, Arte, Espiritualidade, entre outras. Wilber possui 23 livros e dezenas de artigos sobre espiritualidade, filosofia e ciência difundidas em mais de 30 idiomas. É considerado como um dos fundadores do movimento da “Psicologia Transpessoal”, porém no ano de 1983, separou-se do mesmo e deu origem ao campo dos “Estudos Integrais”, do qual faz parte a “Psicologia Integral”. No ano de 1998 nasceu o Instituto Integral - Integral Institute. Uma organização voltada para o detalhamento, divulgação e implantação do “Modelo Integral”, criado por ele ao longo das últimas três décadas. Conforme Raynsford (2009) Wilber se auto define como um contador de histórias que trata de perguntas universais. É o autor acadêmico mais traduzido nos Estados Unidos e pela natureza básica e pioneira de seus insights, foi chamado de o "Einstein da consciência". 18 1.3 O que é a Abordagem Integral? Inicialmente para esclarecer o que é Abordagem Integral é importante lembrar do significado da palavra “Integral”. O Dicionário Aurélio Eletrônico Século XXI (1999) traz a definição de Integral como sinônimo de total, inteiro e global. Integral – essa palavra significa integrar, reconciliar, juntar as partes, unir, abarcar. Ela não tem sentido de uniformidade, nem relação com a tentativa de eliminar todas as extraordinárias diferenças, a multiplicidade de cores e o ziguezaguear dos diferentes matizes do arco-íris humano. Essa palavra remete à idéia de unidade na diversidade, de compartilhar atributos comuns e respeitar nossas incríveis diferenças. Buscar, não só a humanidade, mas no Kosmos [...] uma visão abrangente. (WILBER, 2003, p. 14) Um dos principais fatores dessa visão abrangente é proporcionado pela chamada globalização acompanhada do intenso desenvolvimento da tecnologia, o que facilita a comunicação com pessoas ao redor do mundo sem sair de casa. Essa comunicação é feita por intermédio de diversas tecnologias, entre as mais comuns estão o telefone e os meios de comunicação de massa: televisão, rádio, jornal, revistas e internet. As próprias pesquisas atualmente podem ser realizadas em bibliotecas virtuais ou sites especializados em diversos assuntos, o que facilita e muito o acesso as informações. Wilber (2003) nos adverte que pela primeira vez na humanidade, o conhecimento, a sabedoria e a reflexão de todas as civilizações humanas, englobando os períodos da pré- modernidade, modernidade e pós-modernidade, podem ser acessados por todos que desejem estudá-los. Ao utilizar esse acesso, a Abordagem Integral pretende abarcar o maior número possível de perspectivas surgidas em diferentes períodos da humanidade a fim de criar uma visão mais inclusiva e coerente da realidade. Logo, usando subsídios teóricos das mais variadas disciplinas espera criar um modelo integrativo com as principais contribuições do pensamento humano. Para administrar esse modelo integrativo, Wilber emprega, o que ele denomina de generalização orientadora. Isso significa: se conduzir (orientar) por meio de um assunto de caráter geral (generalizações) e considerar a partir disso as várias maneiras de abordar o assunto. Dito de outra forma, o autor se orienta por meio de pressupostos ou conclusões majoritariamente aceitos em determinado campo de conhecimento, em seguida ele explica as diferentes maneiras de se compreender o mesmo assunto em pauta e amplia a visão a respeito 19 deste tema. O ponto em comum que existe entre diferentes áreas do conhecimento é o que permite a conexão entre elas. Crittenden (2007, p. 8) exemplifica a generalização orientadora: Qual é realmente o método de Wilber? Ao trabalhar com qualquer campo, ele simplesmente dá uma guinada, retira para um nível de abstração, no qual diferentes abordagens em conflito na verdade concordam umas com as outras. Vejamos, por exemplo, as grandes tradições religiosas do mundo. Será que todas concordam que Jesus é Deus? Não. Então devemos descartar isso. Será que todas concordam que existe um Deus? Depende do significado de “Deus”. Será que todas concordam sobre Deus, se como “Deus” queremos dizer um Espírito que é inqualificável de diversas maneiras, do Vazio dos budistas ao mistério judeu do Divino? Sim, isso funciona como generalização – o que Wilber chama de “generalização orientadora” ou “firme conclusão”. A visão ampliada do autor possibilita que cada área de conhecimento seja criticada em suas parcialidades e não em suas diferenças, pois as diferenças são tidas como complemento umas das outras. A teoria Integral adota e inclui inúmeras perspectivas diferentes no estudo de diversos fenômenos, por esse motivo é importante explicar que essa abordagem não segue um estilo eclético. O ecletismo escolhe aquilo que parece ser melhor entre vários métodos, teorias e estilos, ao passo que a abordagem Integral propõe um experimento não apenas de tirar o melhor possível de várias teorias e épocas diferentes, mas procura interligar essas diversas teorias por meio daquilo que há em comum entre elas e desta forma amplia a visão sobre determinados assuntos. A abordagem Integral é o oposto do ecletismo. Ele tem proporcionado uma visão coerente e consistente que entrelaça, sem emendas, verdades de campos como a física e a biologia; as ecociências; a teoria do caos e as ciências de sistemas; a medicina, a neurofisiologia, a bioquímica; a arte, a poesia e a estética em geral; a psicologia do desenvolvimento e um espectro de esforços psicoterapêuticos, de Freud a Jung e Piaget; os teóricos da Grande Corrente, de Platão e Plotino, no Ocidente, a Shankara e Nagarjuna, no Oriente; os modernista, de Descartes e Locke a Kant; os idealistas, de Schelling a Hegel; os pós-modernistas, de Foucault a Derrida a Taylor e Habermas; as tradições hermenêuticas principais, de Dilthey a Heidegger e Gadamer;os teóricos dos sistemas sociais, de Comte e Marx a Parsons e Luhmann; as escolas místicas e contemplativas das grandes tradições meditativas, do Oriente e do Ocidente, nas principais tradições religiosas do mundo. (Crittenden, 2007, p. 8 - 9) [...] Wilber, então, arranja essas verdades em cadeias, ou redes, de conclusões interligadas. Nesse ponto, ele de repente dá uma guinada, indo de um método de mero ecletismo para uma visão sistemática. 20 A “essência” de uma teoria Integral contém a idéia de que muitas visões tidas como contrárias e incompatíveis são apenas diferentes formas de compreender o mundo. Para o autor é importante que o conhecimento global e transcultural, seja utilizado em favor do desenvolvimento do potencial humano, individual e coletivo. Todas essas perspectivas podem ser integradas em uma esfera de significado mais ampliado e universal. Uma forma de aproveitar esse conhecimento, facilitar a comunicação entre os diversos saberes e compreender vários pontos de vista é a utilização de um modelo criado por Wilber, denominado de “Mapa Integral”. Conforme Wilber (2006) esse mapa inclui diversas perspectivas desde os antigos sábios até as modernas descobertas da ciência cognitiva. É denominado de AQAL9 (All Quadrants, All Levels – Todos os Quadrantes, Todos os Níveis), subentende-se que o autor refere-se a todos os aspectos que abordagem Integral trabalha – quadrantes, níveis de consciência, linhas, estados e tipos. São cinco elementos que devem ser levados em conta quando houver referência ao mapa integral. AQAL é uma potente ferramenta para integração mental. Ela identifica algumas distinções simples que podem capacitá-lo a reconhecer, classificar e por fim transcender (e incluir) perspectivas. [...] AQAL significa “todos os quadrantes, todos os níveis, todas as linhas, todos os estados e todos os tipos”. (WILBER, PATTEN, LEONARD E MORELLI, 2011, p. 91) O autor esclarece que apesar de ter criado esse modelo abrangente não acredita ter criado uma visão final, nem mesmo uma interpretação fixa das relações entre estas disciplinas, mas sim uma primeira proposta abrangente para sua integração. _______________ 9 AQAL é uma abreviação para AQALALASAT (todos os quadrantes, todos os níveis, todas as linhas, todos os estados e todos os tipos). 21 1.4 Mapa Integral Os principais elementos que devem ser levados em conta na utilização do mapa integral são explicados de maneira resumida. Os estágios ou níveis de desenvolvimento foram explicados por intermédio de metáforas. Os conceitos de quadrantes, linhas, estados e tipos, foram apenas resumidamente esclarecidos. Importante ressaltar que no presente trabalho o desenvolvimento será enfatizado no quadrante superior esquerdo, relativo à dimensão interna individual. Ao iniciar a leitura de um mapa integral, primeiramente, pode-se concluir que um indivíduo também é considerado como uma entidade (hólon)10, que se desenvolve ao longo de níveis e estágios progressivos de consciência. O conjunto desses níveis de consciência é chamado pelas tradições espirituais pré-modernas de Grande Cadeia do Ser11. Essa Grande Cadeia do Ser também denominada de Grande Ninho do Ser. Representa o espaço no qual ocorre o desenvolvimento dos indivíduos de maneira individual e coletiva. De acordo com Wilber, esse espaço é simbolicamente representado pelo quadrante. Para o autor a evolução existe em quatro grandes dimensões ou Quadrantes que incluem: a consciência do indivíduo, seu corpo, seu comportamento, as estruturas sociais e a cultura que ele está inserido. A primeira metáfora foi utilizada pelo próprio Wilber. Os símbolos que a representam são: a escada e o arco-íris e simbolizam os Estágios ou Níveis de desenvolvimento. Imaginemos uma escada multicolorida com as cores de um arco-íris, cada degrau dessa escada revela um estágio de desenvolvimento. Conforme o indivíduo sobe essa escada, ele passa para o andar seguinte e alcança um estágio de desenvolvimento mais complexo. Os andares anteriores da escada não se desfazem porque representam uma estrutura básica do indivíduo. Pode-se dizer que a estrutura básica desse indivíduo é transcendida e incluída pelo próximo degrau. A cada degrau o arco-íris se torna mais colorido e uma cor é sempre permeada pela outra cor. A segunda metáfora compara as lentes de um binóculo com as Estruturas de Transição. Imagina-se que em cada degrau da escada existe um tipo de binóculo com _______________ 10 Para uma compreensão mais aprofundada sobre o conceito de hólons sugiro leitura do artigo intitulado (Hólons, Amontoados e Artefatos) escrito por Fred Kofman (2008). 11 O termo Grande Cadeia do Ser também pode ser denominado de Grande Ninho do Ser. A explicação sobre o seu significado encontra-se no capítulo II do livro Psicologia Integral. 22 graduação de lentes variadas – as lentes desses binóculos representam as estruturas de transição e cada lente permite uma visão mais ampliada do mundo. Conforme a pessoa sobe um andar, ela abandona o binóculo do andar anterior e utiliza um novo, com lentes mais potentes, desta forma, sua visão de mundo é gradativamente ampliada. O desenvolvimento do indivíduo ocorre de uma forma descontínua e essa descontinuidade se explica pela existência das Linhas ou Correntes de Desenvolvimento. Esse conceito segue um princípio similar ao conceito de inteligências múltiplas12, por exemplo, uma pessoa pode ser mais desenvolvida em sua inteligência lógico-matemática e menos desenvolvida em sua inteligência lingüística. Isso pode representar uma maior habilidade com o raciocínio dedutivo e em soluções de problemas matemáticos e menor aptidão em se expressar de maneira clara e objetiva. Cada linha ou corrente de desenvolvimento se amplia de forma relativamente independente das demais, por isso uma pessoa pode estar num nível bastante elevado na linha cognitiva e ter o desenvolvimento menor na linha moral. Outro elemento importante são os Estados. Esses estados são passageiros enquanto os estágios (níveis) são permanentes. Os principais estados são divididos em dois tipos: alterado e natural. Independente do (nível/estágio) de consciência que uma pessoa se encontra ela poderá ter acesso a um estado natural ou alterado. Por exemplo: o sonho (estado natural) pode ser vivenciado por qualquer pessoa. O que modifica será a interpretação que cada indivíduo fará dessa experiência. A última variável do modelo integral são os Tipos. Os tipos representam, por exemplo, diferentes personalidades que darão o contorno pessoal ao desenvolvimento de cada indivíduo em particular. 1.4.1 As Cinco Dimensões do Mapa Integral O Mapa Integral é composto por cinco dimensões essenciais: quadrantes, níveis, estados, linhas e tipos, e tem como objetivo orientar o indivíduo em sua descoberta e despertá- lo, além de facilitar os conhecimentos inter e multidisciplinares. _______________ 12 O conceito de Inteligências Múltiplas foi desenvolvido por Howard Gardner (psicólogo e pesquisador norte- americano). 23 1.4.1.1 Quadrantes Os trabalhos mais recentes de Wilber têm como princípio condutor o modelo do quadrante que é utilizado como uma forma de visualizar o funcionamento do sistema Integral. O quadrante oferece uma compreensão mais ampliada acerca das dimensões que afetam a vida do indivíduo. Pode ser alegoricamente apresentado pelo desenho de um quadrado dividido em quatro fatias ou quatro partes iguais. Essas partes são denominadas de quadrantes superiores (esquerdo e direito) e quadrantes inferiores (esquerdo e direito). Cada quadranterepresenta as dimensões exteriores e interiores do ser humano em suas manifestações individuais e coletivas, conforme figura1: Figura 1 - Representação do Quadrante. De acordo com Wilber (2006; 2007b) o modelo do quadrante também pode ser chamado de “os três grandes” porque representa experiências vividas em três perspectivas. A perspectiva de primeira pessoa (EU), de segunda pessoa (NÓS) e de terceira pessoa (ELE/ELES). Essas dimensões podem ser consideradas exteriores e interiores, pois representam o dentro e o fora tanto do indivíduo quanto do coletivo. Conforme descreve o autor, de modo bem simplificado: [...] O “eu” (o dentro do indivíduo), o “ele” (o fora do indivíduo), o “nós” (o dentro do coletivo) e o “eles” (o fora do coletivo). Ou seja, os quatro quadrantes – que são as quatro perspectivas fundamentais em qualquer ocasião (ou os quatro modos básicos de se analisar qualquer coisa) – acabam sendo relativamente simples eles são o dentro e o fora do indivíduo e do coletivo. (WILBER, 2006, p. 35 – 36) Para o autor, tudo o que ocorre no mundo manifesto abrange essas três realidades do nosso próprio ser e são representadas simbolicamente pelos quadrantes. A figura 2 mostra o posicionamento de cada uma dessas dimensões. Quadrante Superior Esquerdo Individual - Interior Quadrante Superior Direito Individual - Exterior Quadrante Inferior Esquerdo Coletivo – Interior Quadrante Inferior Direito Coletivo - Exterior 24 Figura 2 - Quadrante e as Três Dimensões do Ser. O quadrante também pode ser considerado, de maneira figurada, o espaço em que ocorre o desenvolvimento humano. A leitura feita por intermédio deste modelo possibilita um modo de integrar o ser humano e suas partes. Cada uma dessas partes por si só são completas e estão interconectadas. Todas evoluem, crescem e se desenvolvem. Todos os quatro quadrantes apresentam crescimento, desenvolvimento, ou evolução. Ou seja, todos mostram algum tipo de estágio ou nível de desenvolvimento, não como degraus rígidos em uma escada, mas como ondas fluidas e variáveis de desdobramento. Isso acontece por toda a parte no mundo natural, assim como um carvalho surge de uma bolota através de estágios de crescimento e de desenvolvimento, ou um tigre siberiano cresce a partir de um óvulo fecundado, até se tornar um organismo adulto, com estágios de crescimento e desenvolvimento bem definidos, da mesma maneira que ocorre com os seres humanos em certos aspectos relevantes. Já vimos vários desses estágios aplicados aos seres humanos. No quadrante superior esquerdo, ou “eu”, por exemplo, o self desenvolve de egocêntrico para etnocêntrico até globocêntrico, ou de corpo para mente até espírito. No superior direito, a energia sentida fenomenologicamente se expande de densa para sutil até causal. No quadrante inferior esquerdo, o “nós” se expande de egocêntrico (“eu”) para etnocêntrico (“nós”) até globocêntrico (“todos nós”). Essa expansão de percepção grupal permite que os sistemas sociais – no quadrante inferior direito – se expandam de simples grupos para sistemas mais complexos, por exemplo, nações e, por fim, até mesmo a sistemas globais. (WILBER, 2006, p. 39 - 40) Dimensão de 1ª Pessoa/Quadrante Superior Esquerdo - Utiliza-se da linguagem do “Eu” e simboliza o interior do indivíduo, a consciência, o self, a percepção individual, o ponto de vista pessoal, os aspectos subjetivos: pensamentos, sentimentos, sensações corporais. Dimensão de 2ª Pessoa/Quadrante Inferior Esquerdo - Representa a 2ª pessoa “tu” ou “você” simbolizando o “nós”. Wilber (2006) faz uma ressalva sobre a utilização do pronome pessoal – nós - aplicado como 2ª pessoa do singular, visto que ao partirmos das Quadrante Superior Esquerdo: Dimensão da 1ª pessoa = EU Interior Individual Quadrante Superior Direito: Dimensão da 3ª pessoa no singular = ELE. Exterior Individual Quadrante Inferior Esquerdo: Dimensão da 2ª pessoa “tu” ou “você” = NÓS Interior Coletivo Quadrante Inferior Direito: Dimensão da 3ª pessoa no plural = ELES. Exterior Coletivo 25 regras gramaticais o pronome pessoal – nós – ocupa a posição de 1ª pessoa no plural e não o lugar de 2ª pessoa no singular (tu), no entanto, neste caso o “nós” é mencionado como sendo uma 2ª pessoa (eu + você = nós). Conforme exemplo: se eu estiver conversando com outra pessoa, eu representarei o 1º indivíduo e a pessoa que está conversando comigo representará o 2º indivíduo, ambos fazemos parte do nós, enquanto, a pessoa ou a coisa à qual estamos citando na conversa refere-se à dimensão de 3ª pessoa – ele ou eles. A dimensão de 2ª pessoa é coletiva e representa a percepção interna do grupo, o modo como os outros nos vêem. Também pode ser denominada de dimensão ou quadrante cultural porque inclui a cultura e sua visão de mundo. Neste quadrante encontram-se os padrões de consciência compartilhados por diferentes culturas ou sub-culturas, idiomas, percepções, visões de mundo, práticas culturais, princípios morais, valores partilhados. Wilber (2007b, p. 79) expõe que o quadrante inferior esquerdo está ancorado ao quadrante inferior direito, conforme ele mesmo relata: “[...] a cultura não paira no ar como fumaça. Assim como a consciência individual está ancorada em formas objetivas, materiais (tais como cérebro), todos os componentes culturais estão ancorados em formas exteriores, materiais, institucionais.” Dimensões de 3º Pessoa - Essas dimensões utilizam a linguagem do “ele”, no singular e do “eles”, no plural. Refere-se à(s) pessoa(s) ou coisa(s) de que se fala, são os fatos objetivos do evento. Localizam-se no quadrante superior direito (ele) e no quadrante inferior direito (eles). Quadrante Superior Direito - O quadrante superior direito (ele) refere-se a qualquer evento individual visto pelo lado de fora, é o exterior do indivíduo. Inclui o comportamento físico, a matéria, a energia, os objetos e os aspectos da ciência objetiva: estados orgânicos, bioquímica, fatores neurobiológicos, neurotransmissores, estruturas orgânicas do cérebro, estruturas moleculares complexas, as células, os órgãos, o DNA e assim por diante. [...] O quadrante Superior Direito representa os correlatos objetivos ou exteriores desses estados de consciência interiores (localizados no quadrante superior esquerdo). Sem nos preocuparmos no momento com a relação exata entre mente interior e o cérebro objetivo, podemos notar que os dois estão, pelo menos, intimamente correlacionados. [...] células simples (procariotes e eucariotes) já manifestam “irritabilidade” ou uma resposta ativa aos estímulos. Os organismos neuronais têm sensação e percepção; o tronco 26 cerebral reptiliano apresenta também a capacidade de ter impulsos e comportamentos instintivos; o sistema límbico tem, além disso, emoções e certos sentimentos rudimentares, mas intensos; o neocórtex apresenta uma característica a mais: a capacidade de formar símbolos e idéias e assim por diante. [...] Os pesquisadores que estudam esse quadrante concentram-se nos mecanismos cerebrais, nos neurotransmissores e nas computações orgânicas que dão suporte à consciência (neurofisiologia, ciência cognitiva, psiquiatria biológica, etc.). A linguagem desse quadrante é a linguagem dos objetos, dos “istos” relatos de terceira pessoa, ou relatos objetivos de fatos científicos a respeito do organismo individual. (WILBER, 2007b, p. 78 - 79) Quadrante Inferior Direito - O quadrante inferior direito utiliza a linguagem do “eles”.É considerado como uma dimensão coletiva que representa as formas externas do grupo. O ambiente e o sistema social. Segundo Wilber (2007b, p. 79): “[...] Esses sistemas sociais incluem instituições materiais, formações geopolíticas e as forças de produção (que se estendem da coleta à horticultura, ao agrário, ao industrial e ao informacional).” São as estruturas físicas e instituições, modos tecno-econômicos (coleta, horticultura, marítimo, agrário, industrial, informacional), estilos arquitetônicos, estruturas geopolíticas, modos de transferência de informação (sinais sonoros, ideogramas, microchip); estruturas sociais (clãs de sobrevivência, tribos étnicas, ordens feudais, antigas nações, estados corporativos e assim por diante). Este quadrante relaciona-se diretamente com o quadrante cultural na medida em que cada estrutura social representa determinada cultura. Outra maneira de compreender cada quadrante é apresentada pela figura 3. Nesta figura pode se observar cada quadrante com os devidos estágios de desenvolvimento. Nas palavras de Wilber (2007b, p.77): “A metade superior do diagrama é o individual, a metade inferior é o comunal ou coletivo; a metade esquerda é o interior (subjetivo, consciência) e a metade direita é o exterior (objetivo, material).” O autor observa que o quadrante superior esquerdo (interior do indivíduo, aspecto subjetivo da consciência e a percepção individual) é retratado por meio do desenvolvimento cognitivo que passa por diversos estágios e chega à visão-lógica, sem a inclusão dos estágios transpessoais. O correlato objetivo deste quadrante é o superior direito. [...] são realidades fenomenológicas, ou realidades vivenciais, mas há uma maneira mais simples e menos esquisita de analisá-los, dessa vez fundamentada em ciência realista: cada nível de consciência interior é acompanhado por um nível de complexidade física exterior. Quanto maior a consciência, mais complexo o sistema que a abriga. 27 Por exemplo, em organismos vivos, o tronco cerebral reptiliano é acompanhado de uma consciência interior rudimentar de impulsos básicos como alimento e fome, sensações fisiológicas e ações sensório-motoras. Quando chegamos ao sistema límbico mamífero, mais complexo, as sensações básicas se expandem e evoluem para incluir sentimentos bastante sofisticados, desejos, impulsos e necessidades sexuais e emocionais. Com o decorrer da evolução para estruturas físicas ainda mais complexas, por exemplo, o cérebro triuno com seu neocórtex, a consciência mais uma vez se expande para uma percepção globocêntrica de “todos nós”. (WILBER, 2006, p. 33) Figura 3 – Os Quatro Quadrantes13. Segundo Wilber et al. (2011) os quadrantes também se referem a quatro perspectivas correlativas a nossa percepção presente: Eu, Nós, Isto e Istos. O Eu é o seu espaço, seu interior como ser consciente. Uma entidade senciente intencional com um senso de “si mesmo”. Somente cada um de nós pode responder o que acontece na paisagem de nossa consciência. Seu “olho interior” é o mais apropriado para responder perguntas sobre suas sensações, suas emoções e as dinâmicas psicológicas que ocorrem nesse espaço chamado _______________ 13 Essa figura é representada por Wilber no livro Psicologia Integral, página 79. 28 “eu”. Por mais que seus comportamentos deem sinais, seu interior é o espaço invisível aos outros. Nas palavras dos autores: “Pensamentos, idéias, opiniões, motivações, propósito, visão de mundo, filosofia de vida existem no seu interior pessoal.” (WILBER, PATTEN, LEONARD E MORELLI, 2011, p. 53) De acordo com os autores, existe um espaço “nós” quando as pessoas compartilham reconhecimento, compreensão e comunicação entre si. Existe uma diversidade de espaços “nós”, no trabalho, na família, entre vizinhos, nos variados grupos que fazemos parte, o “nós nacional, o nós global” e assim por diante. Em contraste com a compreensão mútua do espaço “nós”, o espaço “isto” é a perspectiva de olhar superfícies, objetivar coisas e pessoas e perceber comportamentos. O espaço “isto” tem clima de “coisidade” porque é o domínio dos exteriores individuais. Coisas que consegue ver, tocar, sentir o gosto, cheirar, ouvir e apontar. Volte a atenção para a dimensão exterior de si mesmo, o seu espaço “isto”. O corpo físico ou grosseiro é realmente um veículo extraordinário (e uma obra de arte), permitindo que você interaja como o mundo. Muitas camadas de complexidade – partículas subatômicas, átomos, moléculas, células, tecidos, órgãos e sistemas – compõe o corpo físico. (WILBER, PATTEN, LEONARD E MORELLI, 2011, p. 55) De que forma você se mostra ao mundo e o que faz. A quarta perspectiva correlativa a nossa percepção presente é o espaço do “Istos14”. Pode-se referir a esse espaço como o ambiente imediato que você se encontra, por exemplo, na cama, na biblioteca, numa sala, no ônibus, no metrô etc. Esteja onde estiver o indivíduo se relaciona com seus “arredores exteriores”, casas, prédios, outros organismos e diversas formações geográficas (rios, montanhas, etc.). Um sentimento de interconectividade é natural quando compreendemos a nossa participação nos incontáveis sistemas entrelaçados do mundo. Exemplos de exteriores compartilhados incluem sistemas políticos, legais e econômicos. Instituições (educacionais, governamentais, por exemplo), empresas (como a Google) e organizações sem fins lucrativos (como a Cruz Vermelha) se entrelaçam para formar a infraestrutura da sociedade. A malha dos sistemas sociais afeta profundamente e de incontáveis maneiras a nossa vida e o nosso desenvolvimento. (WILBER, PATTEN, LEONARD E MORELLI, 2011, p. 57 - 58) _______________ 14 A palavra “istos” não existe na língua Portuguesa, entretanto a mesma é utilizada como um termo adotado pela abordagem Integral. 29 Os autores constatam que essas quatro dimensões não existem separadamente ou independentemente das outras, entretanto ao pensar nelas, tende-se a explorá-las separadamente. A tendência é reduzir cada dimensão da existência de acordo com o que se deseja explorar. Esse não é um tipo de pensamento Integral. Um recurso essencial para a consciência Integral é a capacidade de sustentar um paradoxo. A teoria integral é as vezes descrita como pensamento “ou/ou”. Embora possamos escolher conscientemente nos concentrar em um ou em outro quadrante, dependendo da situação, podemos também reconhecer implicitamente que o Eu e o Isto são ambos importantes, assim como o Nós e o Istos. Todos o quatro simultaneamente. (WILBER, PATTEN, LEONARD E MORELLI, 2011, p. 59 - 60) As quatro dimensões oferecidas pelo quadrante estão presentes em todas as situações da vida. De acordo com Wilber et al. (2011, p. 95 - 96) os fenômenos surgem nas quatro dimensões ao mesmo tempo, conforme exemplo: [...] Visualize-se chegando ao escritório de manhã... Quadrante Superior Esquerdo, espaço “Eu” Interior-Individual: você está empolgado e um pouco nervoso com a reunião de hoje. Pensamentos sobre a melhor maneira de se preparar disparam pela sua mente. Quadrante Inferior Esquerdo, espaço “Nós” Interior-Coletivo: você penetra numa conhecida cultura empresarial de expectativas, valores e significados compartilhados que são comunicados, de forma explícita ou implícita, todos os dias. Quadrante Superior Direito, espaço “Isto” Exterior-Individual: o seu comportamento físico é óbvio – andar, dar bom-dia, abrir uma porta, sentar- se à mesa, ligar o computador e assim por diante. A atividade cerebral, o ritmo cardíaco e a transpiração aumentam à medida que a importante reunião se aproxima. QuadranteInferior Direito, espaço “Istos” Exterior-Coletivo: elevadores, movidos a eletricidade gerada a muitos quilômetros de distância, o levam ao seu andar. Você navega com facilidade pelo ambiente conhecido, chega à sua mesa e entra na intranet da empresa para ver os últimos resultados de vendas nos vários mercados internacionais da empresa. 30 1.4.1.2 Níveis/Estágios de Desenvolvimento15 A explicação deste conceito será iniciada a partir do significado dos termos: estágio e nível. Estágio, segundo o Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa (2001) significa cada uma das sucessivas etapas na realização de algo, enquanto a palavra nível de acordo com o Dicionário Aurélio Eletrônico Século XXI (1999)16, exprime situação, estado, plano ou altura relativa numa escala de valores. As duas palavras apresentam significados diferentes, porém quando se fala em desenvolvimento na abordagem Integral, o termo estágio também pode ser chamado de nível. Sobre esse assunto Wilber (ANO apud Figueiredo 2007, p. 6 - 7) relata: Em termos de desenvolvimento, os estágios podem ser denominados níveis, segundo a ideia de que cada estágio representa um nível de organização ou complexidade, como na sequência de átomos, moléculas e células até organismos, na qual cada um desses estágios evolutivos encerra um nível de complexidade maior. O desenvolvimento existe em todos os quadrantes. Quadrante superior da esquerda (Eu) ocorre a evolução da consciência individual, quadrante superior da direita (Isto) acontece a evolução de física e biológica, quadrante inferior da esquerda (Nós) a evolução cultural e quadrante inferior da direita (Istos) a evolução socioeconômica. Todos os quadrantes mostram níveis evolutivos. Os quadrantes da esquerda medem o desenvolvimento em termos de profundidade interior, ou consciência. Os quadrantes da direita medem o desenvolvimento em termos de complexidade exterior. No entanto, como os quatro quadrantes “tetraocorrem”, um aumento em consciência interior corresponde, em geral, a um aumento em complexidade exterior. A emergência do complexo neocórtex no quadrante Superior Direito corresponde ao surgimento de inteligência superior no quadrante Superior Esquerdo. Este, por sua vez, se alinha ao florescimento de culturas humanas no quadrante Inferior Esquerdo e ao desenvolvimento de civilizações no quadrante Inferior Direito. As quadro dimensões evoluíram simultaneamente (e continuam a evoluir!) para ondas superiores de consciência e complexidade. [...] Se qualquer um dos quadrantes ficar para trás, ele tenderá a puxar os outros para baixo. (WILBER, PATTEN, LEONARD E MORELLI, 2011, p.99) _______________ 15 O conceito de níveis será mais bem detalhado no capitulo sobre a “Psicologia Integral”. 16 A página não está destacada, pois no dicionário eletrônico não consta o número das mesmas. 31 1.4.1.3 Estados Segundo o Dicionário Aurélio Eletrônico Século XXI (1999) a palavra estado pode significar uma situação, disposição ou ocasião em que as pessoas ou as coisas estão em determinado momento. Essa mesma definição é utilizada pela abordagem Integral. Tal abordagem compreende que os estados de consciência são temporários e modificam-se constantemente. Por mais profundos que sejam se mantém apenas por certo período e depois retornam a posição anterior. Todos os dias as pessoas percorrem vários estados, por exemplo, estado de euforia, cansaço, alegria, irritação, alerta, dentre outros. Os fenômenos relativos a cada quadrante passam por estados e as mudanças transitórias ocorrem em cada um desses quadrantes. Por exemplo: Se uma empresa enfrenta um período de perdas econômicas e depois se recupera, pode-se concluir que ela passou por uma mudança temporária de estado representada pelo quadrante Inferior Direito. Outro exemplo, agora representando o quadrante Inferior Esquerdo, uma cultura que vive a experiência de um ataque terrorista, pode vir a sofrer um período no qual os estados (transitórios) de medo e ira prevalecem. A figura 417 mostra um exemplo de estados em todos os quadrantes. INTERIOR EXTERIOR IN D IV ID U A L Estados emocionais Estados meditativos Estados criativos Estados fluentes Estados de desempenho de pico (relativo a meditação) Estados cerebrais Estados biológicos (saúde, doença) IN D IV ID U A L C O L E T IV O Estados interpessoais de relacionamento Estados de sentido compartilhado Estados de emoções compartilhadas Estados de comunicação Estados políticos Estados econômicos Estados climáticos Estados de guerra C O L E T IV O INTERIOR EXTERIOR Figura 4 - Estados nos quadrantes. _______________ 17 Essa figura é uma adaptação do livro A Prática de Vida Integral. 32 Existe uma correlação direta entre o quadrante superior esquerdo (estados de consciência) e o quadrante superior direito (ondas cerebrais correspondentes). O quadrante da direita (exterior) apresenta níveis de complexidade material e energética e o quadrante da esquerda representa o interior e é dotado de consciência. Esse fenômeno pode ser observado na figura 518. INTERIOR EXTERIOR IN D IV ID U A L Mente Estado causal sem sono Estado sutil de sonho Estado grosseiro de vigília Cérebro Ondas cerebrais Delta Ondas cerebrais Teta Ondas cerebrais Beta IN D IV ID U A L Figura 5 – Correlação de estados mentais e cerebrais. Os estados relativos ao quadrante superior esquerdo são mencionados, com mais profundidade, no presente trabalho. Esses estados são denominados de estados de consciência19 que, segundo Wilber (2006) expressa a realidade subjetiva dos indivíduos. Os principais estados são divididos em dois tipos: alterado e natural. O estado alterado de consciência é considerado um estado incomum, “não-normal”. Pode ser endógeno e exógeno, por exemplo, estados endógenos podem ser treinados por meio da meditação e os exógenos podem ser ocasionados pela utilização de drogas. Experiências de quase-morte também geram o estado alterado de consciência. O estado natural de consciência, também denominado de estado comum, pode ser acessado por qualquer indivíduo. São divididos em cinco estados: vigília (estado grosseiro ou denso), sonho (estado sutil), sono profundo (estado causal), o observador e não dual. Cada qual vivenciado de maneira diferente. A seguir os cinco estados: 1) Estado de vigília, denso ou estado grosseiro - É o estado que a pessoa encontra-se desperta. Ocorre, nesse momento, quando leio este texto ou quando pratico uma atividade física. Conforme a filosofia perene, o estado grosseiro é a morada do nosso ego. _______________ 18 Idem ao anterior. 19 Para uma compreensão mais ampliada à respeito do conceito de estados sugiro a leitura da obra Espiritualidade Integral, cuja referência completa encontra-se na bibliografia do presente trabalho. 33 2) Estado de sonho ou sutil - Refere-se ao que posso vivenciar em um sonho nítido, em um exercício de visualização, em um devaneio vívido ou por meio de algumas meditações. A filosofia perene diz que esse estado do sonho ou onírico permite o acesso aos estados da alma. 3) Estado de sono profundo ou causal - Refere-se aos tipos de sono sem sonhos, experiências de imensidão ou vazio. Também pode ser acessado por meio de meditações plenas. Para a filosofia perene o estado de sono profundo nos dá acesso ao domínio de pura ausênciade forma. Os estados profundos podem nos mostrar importantes segredos e podemos ter acesso a eles de forma consciente. 4) Estado observador – Refere-se à capacidade de observar e presenciar outros estados, por exemplo, a capacidade de ter um sonho muito lúcido ou então a capacidade de atenção no estado de vigília. 5) Estado não dual – Não é bem um estado e sim uma percepção não-dual. Uma sensação de vacuidade, e ocorre quando a consciência atinge um estado no qual se torna uniforme. Wilber (2006) relata que todas as pessoas têm ao seu alcance os principais estados de percepção (grosseiro, sutil, causal e não-dual), porém, até certo ponto, estes estados serão vivenciados e interpretados de acordo com o estágio de desenvolvimento de cada pessoa. O que significa dizer que cada indivíduo fará uma interpretação baseada no seu grau de compreensão e na sua forma de enxergar o mundo. Não existe o conceito de “certo ou errado” apenas interpretações baseadas em diferentes experiências de vida. O mais importante é incluir o conceito de “estados”20 no cabedal das experiências humanas e olhar para essa dimensão como algo que faz parte de cada indivíduo, independente de sua crença ou religião. _______________ 20 Importante relembrar que além dos estados de consciência temporários, existem também os estágios de consciência permanentes, esses demarcam o crescimento e desenvolvimento do indivíduo e podem ser denominados de Níveis, Ondas ou Memes. 34 1.4.1.4 Linhas ou Correntes do Desenvolvimento Entre os cinco elementos essenciais do Mapa Integral, encontra-se o conceito das linhas de desenvolvimento. Segundo Wilber (2006) as linhas de desenvolvimento podem ser comparadas às Inteligências Múltiplas, conceito que foi muito bem difundido por Howard Gardner: [...] a teoria das inteligências múltiplas postula um pequeno conjunto de potenciais intelectuais humanos, talvez tão poucos quanto sete em número, dos quais todos os indivíduos são capazes em virtude de sua filiação na espécie humana. Devido à hereditariedade, treinamento precoce ou, com toda a probabilidade, a uma interação constante entre esses fatores, alguns indivíduos desenvolverão determinadas inteligências muito mais do que os outros; mas todo o indivíduo normal deveria desenvolver cada inteligência até certa extensão, recebendo nada além de uma modesta oportunidade de fazê-lo. (GARDNER, 1994, p. 214) O conceito de “linha” que a abordagem integral utiliza é similar ao de Gardner, todavia de acordo com a integral essas inteligências múltiplas também podem ser denominadas de linhas de desenvolvimento porque “revelam desenvolvimento, crescimento e desdobram-se em estágios progressivos”. Wilber (2007b) também concorda com Gardner que o desenvolvimento dessas inteligências ocorre de maneira independente umas das outras, o que significa que o indivíduo pode ser muito desenvolvido em determinadas linhas e menos em outras. Essas linhas são “relativamente independentes”, significando que, em sua maior parte, elas podem se desenvolver independentemente umas das outras, em diferentes proporções, com dinâmicas diferentes e sob cronogramas diferentes. Uma pessoa pode ser muito avançada em algumas linhas, razoável em outras, inferior em algumas outras – e tudo ao mesmo tempo. Desse modo, o desenvolvimento global – a soma total de todas essas diferentes linhas – não mostra nenhum tipo de desenvolvimento linear ou sequencial. No entanto, a maior parte das pesquisas continuou a constatar que cada linha de desenvolvimento tende a se desdobrar de uma maneira sequencial, holárquica: os estágios superiores de cada linha tendem a se desenvolver sobre estágios anteriores ou a incorporá-los, não se pode pular nenhum estágio e estes aparecem numa ordem que não pode ser alterada por condicionamento ambiental nem por reforço social. (WILBER, 2007b, p. 44) 35 As Inteligências Múltiplas de Gardner são divididas em oito: lingüística, musical, lógico matemática, espacial, corporal cinestésica, interpessoal, intrapessoal e naturalista. A abordagem integral fala de mais de uma dúzia de linhas de desenvolvimento21. Wilber et al. (2011) relata que as linhas podem ser agrupadas em quatro categorias principais: 1- Linha cognitiva – representa sua própria categoria. Não é considerada a mais importante, mas fornece a capacidade de assumir perspectivas. Para que as pessoas possam atuar sobre algo é necessário que se tenha o conhecimento. A pergunta relacionada a essa linha é “do que o indivíduo tem conhecimento?”. 2- Linhas relacionadas ao eu – Estas linhas estão especialmente ligadas ao desenvolvimento do eu por meio das principais ondas de consciência, e costumam estar próximas em seu desenvolvimento. Algumas linhas que fazem parte deste grupo são: linha do ego, linha moral, linha de necessidades, linha de valores, linha de auto- identidade. 3- Linhas de talento – As Inteligências Múltiplas de Gardner entram neste grupo. 4- Outras linhas importantes - Linha espiritual, linha psicossexual, linha estética, linha interpessoal, linha emocional ou afetiva, linha da visão de mundo entre outras. Os indivíduos costumam se deparar com alguns questionamentos específicos de cada linha de desenvolvimento, por exemplo: Linha de desenvolvimento Cognitiva – Do que eu tenho conhecimento? Linha de desenvolvimento de Necessidades – Do que eu preciso? Linha de desenvolvimento de Autoidentidade – Quem sou eu? Linha de desenvolvimento de Valores – O que é importante para mim? Linha de desenvolvimento da Inteligência Emocional – Como eu me sinto a esse respeito? Linha de desenvolvimento Estética – O que é belo ou atraente para mim? Linha de desenvolvimento Moral – Qual é a coisa certa a fazer? Linha de desenvolvimento Interpessoal – Como devo interagir? _______________ 21 Algumas linhas de desenvolvimento serão mais bem detalhadas no item sobre a “Psicologia Integral”. 36 Linha de desenvolvimento da Habilidade Cinestésica – Como devo fisicamente fazer isso? Linha de desenvolvimento da Espiritualidade - O que é de suma importância? As linhas de desenvolvimento acima citadas, foram estudadas separadamente por diversos autores/pesquisadores, conforme relata Wilber (2006): Linha cognitiva – Piaget e kegan (Jean Piaget e Robert Kegan). Linha do Self – Loevinger (Jane Loevinger). Linha de Valores – Graves, Espiral Dinâmica (Clare W. Graves). Linha Moral – Kohlberg (Lawrence Kohlberg). Linha Interpessoal – Selman, Perry (Robert L. Selman e Perry Wood). Linha Espiritual – Fowler (James Fowler). Linha das Necessidades – Maslow (Abraham Maslow). Linha Cinestésica – Gardner (Howard Gardner). Linha Emocional – Goleman (Daniel Goleman). Linha Estética – Housen (Abigail Housen). Outra linha de desenvolvimento citada é a linha da Visão de Mundo22. Cada altitude23 básica de consciência tem sua própria visão de mundo, sua maneira de interpretar e compreender as coisas, conforme se desenvolve, a visão de mundo abrange mais consciência e complexidade. Uma linha especialmente útil é a linha da visão de mundo porque tangencia as suposições fundamentais de uma pessoa ou de uma cultura sobre o mundo. Como não vivemos num mundo predeterminado que todos experimentam da mesma forma, existem diferentes visões de mundo – diferentes maneiras de categorizar, apresentar, representar e organizar nossas experiências. A visão de mundo de uma pessoa é subjacente à maneira pelo _______________ 22 Os autores relatam que a linha da Visão de Mundo e a linha de
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