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capitulo 9

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Capítulo 9 
ASPECTOS HISTÓRICOS, POLÍTICOS E LEGAIS DA 
INQUISIÇÃO 
SAMYRA HAYDÊE NASPOLINI
1
 
 
SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Aspectos históricos e políticos. 
3. Aspectos legais: 3.1 O processo penal acusatório; 3.2 O 
processo por inquérito; 3.3 A tortura; 3.4 A condenação. 4. 
Conclusão. 5. Referências bibliográficas. 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
Pode-se dizer, de forma segura, que o fenômeno da Inquisição é um dos fatos 
históricos mais controvertidos entre os estudiosos do período em que ela se desenvolveu. 
O estudo ora proposto observará, portanto, este caráter polêmico da interpretação 
dos fatos históricos a seguir narrados. 
Inicialmente, a grande cruzada religiosa empreendida pela Igreja Católica contra 
os hereges, nos séculos XII e XIII - a denominada Inquisição Medieval -, também é sinônimo 
da grande caça às bruxas e hereges que ocorreu principalmente entre os séculos XV e XVII 
em toda a Europa Ocidental e em suas colônias. 
O presente trabalho não tem por escopo explicar o porquê do acontecimento da 
Inquisição, nem dar conta de todas as suas causas. Pelo contrário, enfoca principalmente as 
mudanças no direito penal, como precondição necessária para o acontecimento desse fato 
histórico, associadas aos aspectos políticos e ao contexto social nos quais a Inquisição 
encontrou potenciais aliados para atingir o seu apogeu. 
Tratar-se-á, primeiramente, dos aspectos históricos da Inquisição. De como foi 
possível o seu surgimento e os seus objetivos. A análise do contexto social, bem como dos 
aspectos políticos que embasaram a união do poder espiritual ao poder temporal na caça aos 
hereges; procurará elucidar, ainda, de forma superficial (por não ser o verdadeiro objeto do 
presente estudo), as relações entre a Igreja e o Estado naquele período. 
 
1
 Professora do Curso de Direito e Coordenadora de Pesquisa do CESUSC (SC). Mestre em Direito pela UFSC. 
Doutora em Direito na PUC/SP. 
Numa etapa posterior, abordar-se-á a questão jurídica. Sob a influência da Igreja, 
todo um sistema de direito penal (o acusatório) foi alterado, para que os crimes de heresia e 
bruxaria pudessem ser eficazmente combatidos. Novas regras para o processo, que lhe 
conferiram feição inquiritória, aliadas à reintrodução da tortura como meio de extrair a 
confissão, redundavam num processo do qual dificilmente o acusado escapava sem 
condenação. 
Essas questões legais fizeram da Inquisição uma operação essencialmente judicial. 
O número de condenados por heresia variou conforme a área geográfica, tendo sido a 
Inquisição muito mais intensa em algumas regiões do que noutras. Em virtude da destruição 
de muitos registros judiciais, é impossível determinar precisamente o número total de 
julgamentos e execuções realizadas. As cifras variam entre os historiadores. Alguns chegam a 
afirmar a ocorrência de nove milhões de execuções, outros um milhão; o historiador Brian P. 
Levack estimou que as efetivas condenações somente por bruxaria foram de 100 mil.
2
 A 
metade delas concentrou-se em terras germânicas pertencentes ao Sacro Império Romano. A 
outra metade dividiu-se entre os territórios em que hoje se situam a Itália, a França, a Suíça, a 
Polônia, Portugal e Espanha. Essas eram as áreas de maior concentração, pois - frise-se - a 
Inquisição foi um fenômeno ocorrido em toda a Europa ocidental e suas colônias. 
 
2. ASPECTOS HISTÓRICOS E POLÍTICOS 
 
No apagar das luzes da Antigüidade, a religião pregada por Cristo impôs-se ao 
Império Romano, tomando-o cristão. O cristianismo intitulava-se a única religião verdadeira 
para a universalidade dos homens, mas a Igreja só começou a desempenhar um papel 
importante na vida política e social do Império Romano em 313 d.C. com o Edito de 
Tolerância de Milão. A partir dessa data, pouco tempo transcorreu até o cristianismo tomar-se 
a religião oficial do Estado, transformando a Igreja em uma de suas principais instituições. 
Foi no período da Baixa Idade Média (séculos XII e XIII) que o poder eclesiástico 
atingiu o seu apogeu; os reis recebiam o seu poder da Igreja, que os sagrava e podia 
excomungá-los. 
Nesse período é que teve início a Inquisição, criada para combater toda e qualquer 
forma de contestação aos dogmas da Igreja Católica. Recebeu essa denominação devido ao 
processo per inquisitionem utilizado pelas cruzadas religiosas no combate às heresias. 
 
2
 Cf. LEVACK, Brian P. A caça às bruxas na Europa moderna. 2. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1988, p. 63-95. 
1
O termo heresia englobava qualquer atividade ou manifestação contrária ao que 
havia sido definido pela Igreja em matéria de fé. Dessa forma, na qualificação de hereges 
encontravam-se os mouros, os judeus, os cátaros e albigenses no sul da França, bem como os 
supostos praticantes de bruxaria. 
Na sua origem, a Inquisição foi denominada de Inquisição Medieval e consistia na 
identificação, julgamento e condenação de indivíduos suspeitos de heresias. Essa tarefa, 
primordialmente desempenhada por membros do clero, no início da Idade Moderna já se 
encontrava dividida entre Tribunais Eclesiásticos e Tribunais Seculares. 
Dentre outros fatores, o fato de a Igreja possuir enorme influência sobre o poder 
temporal e necessitar do auxílio do Estado para combater as heresias, esse tipo de crime 
passou a ser considerado crime de “lesa-majestade”, razão pela qual a competência para o seu 
julgamento foi estendida aos Tribunais Seculares. 
Os dois tipos de tribunais adotaram o mesmo procedimento: aprisionavam as 
pessoas com base em meros boatos, interrogavam-nas, fazendo o possível para conseguir-lhes 
a confissão que, ao final, levava à condenação. Variando conforme a gravidade do crime, a 
condenação consistia na execução do condenado pelo fogo, banimento, trabalho nas galeras 
dos navios, prisão e, invariavelmente, no confisco dos bens. 
A Inquisição Medieval penetrou em vários países da Europa Ocidental, chegando 
a alguns países da Europa oriental, mas foi na época Moderna, nos séculos XVI, XVII e 
XVIII, que ela atingiu o seu apogeu, estendendo-se inclusive às colônias.
3
 
Ao final da Idade Média e início da Idade Moderna, ocorreu na Europa uma 
explosão demo gráfica violenta, o que levou ao aumento da pobreza e a uma pressão crescente 
sobre a oferta limitada de recursos. A introdução do capitalismo mercantil e agrário em muitas 
regiões ocasionou um grande aumento no preço de todas as mercadorias. 
Por outro lado, a situação de fome era acrescida de períodos de más colheitas, 
pragas, pestes e surtos de doenças epidêmicas em quase todas as regiões. 
Outro grande flagelo a recair sobre a população e tomar a situação de miséria 
ainda mais crítica foram as guerras nas quais os povos digladiavam-se freqüentemente durante 
todo período e em todas as regiões. 
Não resta dúvida, entre a maioria dos historiadores, de que todo este clima de 
tensão e miséria vivenciado pela sociedade tenha gerado entre os detentores do poder o medo 
de rebeliões e desordens, e que, portanto, tenha levado ao acirramento da Inquisição. 
 
3
 Cf. NOVINSKY, Anita W. A inquisição. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1982, p. 15-20. 
A Inquisição Medieval, inicialmente criada pela Igreja para combater as heresias, 
em sua versão moderna, além de revelar-se muito mais violenta, apresenta também uma 
dimensão política, que foi sendo desenvolvida desde o seu surgimento, principalmente com 
sua utilização pela nobreza na perseguição de indivíduos que constituíam ameaça ao seu 
poder. 
Um exemplo claro das implicações políticas da Inquisição encontra-se naPenínsula Ibérica, mais precisamente na Espanha moderna. 
Durante a Idade Média, a Espanha mostrou-se como um dos países mais 
tolerantes da Europa em relação aos hereges. Durante esse período, cristãos, muçulmanos e 
judeus coexistiram num mesmo território de forma pacífica e até mesmo em solidariedade. 
Por essa razão, até o século XV a Inquisição não obteve quase nenhuma penetração no país.
4
 
Por ocasião do casamento da princesa Isabel de Castela com o príncipe Fernando 
de Aragão, em 1469, a Península Ibérica encontrava-se dividida em três monarquias: Portugal, 
Castela e Aragão. 
Em 1469, Fernando herdou o reino de Aragão e, em 1474, Isabel, o reino de 
Castela. Após essa data houve a unificação dos dois reinos. Porém, os reinos herdados pelos 
chamados reis católicos encontravam-se em um caos político e financeiro devido a disputas 
travadas entre os membros da nobreza. 
Com sua política de pacificação, os reis católicos fizeram muitas concessões aos 
nobres, tanto de terras quanto de poder para dirigir o país. Ocorre que a ocupação de cargos 
importantes no Estado por mouros e judeus, bem como a sua facilidade em crescer 
financeiramente com o comércio, revelou-se um entrave aos interesses da nobreza. 
Em 1492, a nobreza, movida pelos ideais da reconquista, expulsou os mouros de 
Granada, através do controle que obtinha de todo o aparato militar do reino. No mesmo ano, 
um edito decretou a expulsão dos judeus da Espanha, caso não se convertessem ao 
catolicismo. 
Alguns milhares de judeus preferiram deixar a Espanha, outros milhares, que 
aceitaram o batismo e permaneceram no país, foram chamados de conversos. Os conversos 
continuaram a manter o domínio sobre o comércio e o capital. Portanto, a expulsão e o 
batismo forçado não conseguiram acabar com essa classe que seguia sendo uma ameaça aos 
interesses da nobreza. 
Foi nesse contexto que a Inquisição ganhou força na Espanha; instituída sob o 
 
4
 Cf. NOVINSKY, Anita. Op. cit., p. 21-34; KAMEN, Henry. A inquisição na Espanha. Rio de Janeiro: 
Civilização Brasileira, 1966, p. 3-16. 
2
pretexto de verificar a sinceridade da conversão dos judeus, foi utilizada pda nobreza e pelo 
clero para atingir o ideal que a explusão não realizou.
5
 
 
O que emerge de tal situação é que a Inquisição nada mais era que uma arma de 
classes, usada para impor, em todas as comunidades da península, a ideologia de 
uma única classe: a aristocracia dos leigos e dos eclesiásticos.
6
 
 
O exemplo da Inquisição Espanhola serviu para evidenciar que somente tendo 
uma compreensão do contexto histórico e político é que se pode pensar em estudar a 
Inquisição. 
 
3. ASPECTOS LEGAIS 
 
O direito canônico,
7
 que era o direito da comunidade religiosa dos cristãos, 
desempenhou um papel importante durante toda a Idade Média. Foi um direito redigido, 
comentado e analisado desde a Alta Idade Média, tendo sido o único direito escrito durante a 
maior parte do período. Elaborado inicialmente para aplicar-se aos membros e as autoridades 
do clero católico, sua influência sobre as legislações da Europa ocidental deveu-se ao 
alargamento do poder jurisdicional dos Tribunais Eclesiásticos que, durante a Idade Média, 
estendeu-se aos leigos. 
Em matéria penal, era de competência dos Tribunais Eclesiásticos processar e 
julgar todas as pessoas que praticassem alguma infração contra a religião (heresia, apostasia, 
simonia, sacrilégio, bruxaria, etc.), bem como o adultério e a usura. No apogeu da Inquisição, 
os Tribunais Seculares da Europa ganharam jurisdição sobre tais crimes, suplementando os 
Tribunais Eclesiásticos como instrumentos judiciais da perseguição. 
Decorrem, assim, da explanação acima, os vários fatores que levaram à 
significativa influência do direito canônico sobre o direito laico. Primeiramente, porque era 
um direito escrito e formalizado. Por constituir-se objeto de vários estudos doutrinais e ter 
sido sistematizado antes que o laico, teve grande influência na sua formulação e no seu 
desenvolvimento. Em virtude das relações entre Igreja e Estado, o poder da Igreja acabou 
refletindo-se sobremaneira nos princípios e na lógica de ordenação do direito laico. 
Finalmente, a extensão da competência dos Tribunais Eclesiásticos tomou a caça aos hereges 
 
5
 Cf. KAMEN, Henry. A inquisição na Espanha. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966, p. 9-14; 
NOVINSKY, Anita. A inquisição. 8. ed. São Paulo: Brasiliense, 1992, p. 30-33. 
6
 KAMEN, Henry. Op. cit., p. 10. 
7
 A expressão canon (regra, o que regula), de origem grega, foi utilizada nos primeiros séculos da Igreja para 
nomear as deliberações dos concílios. 
essencialmente uma operação judicial. Igreja e Estado uniram-se no combate à proliferação 
dos seguidores de Satã, que ameaçavam não somente o poder da Igreja, como o poder do 
soberano. 
Todo esse aparato legal não pode ser considerado como a causa da Inquisição, 
mas, segundo Levack, foi uma condição necessária, aliada a fundamentos culturais e 
teológicos, tais como a crença na existência de seitas de indivíduos adoradores de Satã, bem 
como a convicção na capacidade que tais indivíduos adquiriam de praticar maleficios após um 
pacto firmado com o Diabo.
8
 Todos esses fatores encontravam-se inter-relacionados, uma vez 
que cada processo, cada sentença lida em público, fornecia novos dados para a elucidação 
sobre os crimes de heresia, alimentando o imaginário popular, bem como o dos juristas, 
teólogos, filósofos e demais intelectuais da época. 
 
3.1 O processo penal acusatório 
 
Em termos legais, o que realmente propiciou um julgamento intensivo dos 
hereges, com todos os seus requintes de barbárie, ao final da Idade Média e início da Idade 
Moderna, foi a mudança ocorrida no sistema penal, entre os séculos XII e XIII. 
O período mais importante na formação dos direitos europeus, quando passou-se 
de um sistema irracional para um sistema racional de direito, principalmente no que dizia 
respeito à prova, foi a mudança do processo acusatório para o processo de inquirição 
(inquisitio). 
No sistema acusatório, a ação penal só poderia ser desencadeada por uma pessoa 
privada, que seria a parte prejudicada ou seu representante. A acusação era pública e feita sob 
juramento, resultando na abertura de um processo contra o suspeito. Se as provas apresentadas 
pelo acusador fossem inequívocas ou se o acusado admitisse sua culpa, o juiz decidiria contra 
ele. 
Em caso de dúvida, a determinação da culpa ou inocência era feita de modo 
irracional, recorrendo-se à intervenção divina para que fornecesse algum sinal contra ou a 
favor do acusado. Não cabia ao homem a investigação do crime, pois o assunto era colocado 
nas mãos de Deus. 
A forma comumente utilizada era o chamado ordálio, teste ao qual o acusado 
submetia-se como meio para verificação de sua inocência. Os exemplos de prática do ordálio 
 
8
 Cf. LEVACK, Brian P. A caça às bruxas na Europa moderna. 2. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1988, p. 65-72; 
KRAMER, Heinrich; SPRENGER, James. O martelo dasjeiticeiras. 5. ed. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1991. 
3
são variados: entre outros, o acusado mergulhava o braço em água fervente ou então 
carregava ferro em brasa, sendo que, após um certo número de dias, caso fosse inocente, 
deveria mostrar a ferida milagrosamente curada por obra de Deus; ou então era mergulhado 
num rio e seria considerado inocente caso afundasse (pois, neste caso, Deus tê-lo-ia acolhido). 
Além do ordálio, eram freqüentes os duelos judiciais, nos quais o acusado ou o 
seupadrinho duelava com o acusador ou padrinho, e a vitória daquele era sinal de sua 
inocência. Outra forma de provar a inocência era obter um número considerável de 
testemunhas que jurassem a honestidade do acusado. Chamado de processo por compurgação, 
aplicava-se a crimes considerados menores.
9
 
Em qualquer das formas descritas acima, utilizadas no processo, a atuação do juiz 
era somente a de árbitro imparcial, que orientava todo o processo, mas nunca julgava o 
acusado. O papel de promotor era desempenhado pelo próprio acusador, que seria julgado 
caso o réu provasse a sua inocência. 
Esse sistema apresentava sérias deficiências: a) tomava os crimes ocultos difíceis 
de serem julgados; b) consistia num risco para a pessoa do acusador, que responderia um 
processo em caso de inocência do acusado; c) o apelo a meios sobrenaturais de prova poderia 
ensejar a manipulação do processo em benefício do acusado; d) uma maior resistência à dor e 
a facilidade para a cura de ferimentos, bem como técnicas respiratórias poderiam facilitar a 
passagem pelo ordálio; e) homens de renomada reputação ou muitas posses poderiam reunir 
muitas testemunhas e ser inocentados através da compurgação. 
 
3.2 O processo por inquérito 
 
O processo por inquérito, que veio substituir o processo acusatório no século XIII, 
consolidando-se em toda a Europa continental no século XVI, alterou profundamente todo o 
sistema penal, atribuindo ao juízo humano um papel essencial, condicionado pelas regras 
racionais do direito. As falhas do antigo sistema demonstravam a ineficácia para o combate à 
crescente criminalidade.
10
 Esse fenômeno, aliado à restauração do estudo do direito romano, 
estimulou de uma forma direta a mudança do sistema penal. Outros fatores políticos e 
filosóficos, como, por exemplo, a influência dos humanistas historicistas, foram de real 
importância para essa mudança, que foi reflexo de toda uma reformulação da concepção de 
direito. 
 
9
 Cf. LEVACK, Brian P. A caça às bruxas na Europa moderna. 2. ed, Rio de Janeiro: Campus, 1988, p. 66-67. 
10
 LEVACK, Brian P. Op. cit., p. 68-72. 
Mas, foi a Igreja que, principalmente, influenciou e incentivou a adoção dos 
novos procedimentos no sistema penal. Mudando inicialmente a forma do processo nos 
Tribunais Eclesiásticos, a Igreja proi, biu, no IV Concílio de Latrão (1215), a participação dos 
clérigos nos ordálios. O ordálio, que apelava à providência divina para estabelecer a culpa ou 
inocência do réu, requeria a presença de clérigos para abençoar a operação. Estando estes, a 
partir do Concílio, proibidos de participar dos ordálios, não mais poderiam ser realizados. 
Entretanto, a atitude da Igreja não foi movida por motivos humanitários. A 
introdução de novos procedimentos - dentre os quais se incluía a proibição do ordálio - 
ocorreu principalmente pelo fato de que o novo sistema mostrava-se muito mais eficiente no 
combate aos crimes de heresia, que aumentava em enormes proporções ameaçando o seu 
poder. 
No processo por inquérito, o desencadeamento da ação penal ainda poderia ser 
feito pela acusação privada, mas o acusador não tinha nenhuma responsabilidade em caso de 
inocência do réu. A denúncia também poderia ser feita por habitantes de uma comunidade 
inteira. Os oficiais do tribunal poderiam intimar um suspeito de crime com base em 
informações por eles mesmos obtidas. Segundo Robert Mandrou, “todas as pequenas 
querelas, todas as tagarelices de aldeia podem servir de base para denúncias”. 11 
A iniciação do processo nesta modalidade facilitou não só o julgamento de todos 
os crimes, como demonstrou-se muito eficaz na caça aos hereges. No temor cotidiano vivido 
pela população, quanto aos poderes de Satã, tudo poderia significar sinais da prática de 
bruxaria e heresia; desde extravagâncias no comportamento, mau humor, até o exercício do 
curandeirismo. Era comum atribuir às feiticeiras as tempestades e as pragas que se abatiam 
sobre a plantação, bem como as pestes sobre o gado. Doenças como reumatismo, cálculo renal 
e até impotência sexual encontravam sua justificação na pessoa da bruxa. Para tanto, 
bastavam alguns boatos e dificilmente ela escaparia do processo. 
Outro fator que diferenciou o processo por inquérito do processo acusatório, foi a 
oficialização de todas as etapas do processo judicial a partir da apresentação da denúncia. O 
juiz, no novo sistema, já não era mais um árbitro imparcial que presidia um conflito a ser 
resolvido pelo sobrenatural. Ao contrário, ele e os demais oficiais do tribunal assumiam a 
investigação dos crimes e determinavam a culpabilidade ou não do réu, normalmente através 
do interrogatório de testemunhas e do próprio réu, tudo registrado por escrito. Como elucida 
Michel Foucault, o processo criminal, até a sentença, permanecia secreto, não apenas para o 
 
11
 MANDROU, Robert. Magistrados e feiticeiras na França do século XVII. São Paulo: Perspectiva, 1979, p. 81. 
4
público, como também para o acusado, que não conhecia as acusações contra ele, os 
depoimentos das testemunhas e nem as provas colhidas: 
 
(...) era impossível ao acusado ter acesso às peças do processo, impossível conhecer 
a identidade dos denunciadores, impossível saber o sentido dos depoimentos antes 
de recusar as testemunhas, impossível fazer valer, até os últimos momentos do 
processo, os fatos justificativos, impossível ter um advogado, seja para verificar a 
regularidade do processo, seja para participar da defesa.
12
 
 
Ainda, segundo Foucault, a forma secreta e escrita do processo conferia o poder 
de estabelecer a verdade, única e exclusivamente aos juízes e profissionais do direito, o que 
em última instância correspondia ao direito de punir do soberano. 
Mas, apesar do segredo, o estabelecimento da verdade obedecia a certas normas. 
As evidências do crime eram investigadas e avaliadas mediante regras meticulosamente 
formuladas, o que dava ao processo de inquérito o caráter de racionalidade, que fazia com que 
os padrões de prova, nesse tipo de processo, fossem extremamente rigorosos. Toda uma 
tradição de direito romano-canônico prescrevia exatamente a natureza e a eficácia da prova. 
As provas dividiam-se em: diretas, indiretas, manifestas, imperfeitas ou, ainda, as provas 
plenas (testemunho ocular de duas pessoas), indícios próximos (chamados de provas 
semiplenas) e os indícios longínquos (opinião pública, má fama do suspeito, etc.). 
As provas plenas poderiam acarretar qualquer condenação, as semiplenas ensejar 
suplícios, mas nunca a pena capital, e os indícios bastavam para declarar um suspeito e iniciar 
investigações. Todas essas provas poderiam ser combinadas entre si, de modo que duas 
provas semiplenas transformavam-se em uma prova direta. Vários indícios poderiam gerar 
uma meia prova etc. O problema estava no fato de que toda esta aritmética penal, além de 
ensejar sérias discussões quanto à forma de combinação das provas, obstruía seriamente a 
averiguação dos crimes de heresia. Todas as demais provas, por mais combinações que 
pudessem sofrer, não se transformariam em prova plena. Como os crimes de bruxaria e 
heresia eram crimes ocultos, as provas obtidas dificilmente seriam, por exemplo, de duas 
testemunhas que houvessem presenciado uma bruxa criar uma tempestade. Fazia-se mister a 
confissão. Além de constituir uma prova tão forte, a ponto de prescindir de outras, a confissão 
era o assentimento do próprio acusado em relação à culpabilidade no crime a ele imputado. 
 
(...) a confissão ganha qualquer outra prova. Até certo ponto ela as transcende; 
elemento no cálculo da verdade, ela étambém o alo pelo qual o acusado aceita a 
acusação e reconhece que esta é bem fundamentada; transforma uma afirmação feita 
 
12
 FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. 9. ed. Petrópo1is: Vozes, 1991, p. 35. 
sem ele em uma afirmação voluntária. Pela confissão, o próprio acusado toma lugar 
no ritual de produção de verdade penal. Como já dizia o direito medieval, a 
confissão torna a coisa notória e manifesta.
13
 
 
3.3 A tortura 
 
A enorme importância dada à confissão explica o meio utilizado pelos juízes e 
inquisidores para obtê-la: a tortura. A utilização “da tortura na heresia, bruxaria e outras 
causas foi, portanto, o resultado direto da adoção do processo por inquérito. A lógica de um 
levou à aplicação da outra.”14 
O emprego da tortura como um meio de obter a confissão, ou informação de uma 
pessoa acusada, ou ainda de uma testemunha recalcitrante, ressurgiu na Europa do século XIII 
não como uma inovação, mas como uma restauração, dado o fato de ter sido amplamente 
aplicado na Antigüidade e início da Idade Média. 
A Igreja, que até então havia condenado esse procedimento, autorizou, através da 
Bula do Papa Inocêncio IV, em 1252, a adoção da tortura pelosinquisidores nos julgamentos 
de bruxaria e heresia, o que foi seguido pelos juízes dos Tribunais Seculares. 
O argumento para o uso da tortura era o de que, quando uma pessoa fosse 
submetida ao sofrimento físico durante o interrogatório, inevitavelmente, confessaria a 
verdade. Entretanto, o uso indiscriminado da tortura, seu grau excessivo e as perguntas 
capciosas formuladas pelos interrogadores redundavam no que foi definido por Mandrou 
como “processo infalível”, em que o índice de condenação chegava até “noventa e cinco por 
cento”.15 
Eram várias as técnicas de tortura, que aprimoravam-se conforme o seu emprego e 
variavam conforme o crime a desvendar. No caso do crime de bruxaria, por acreditar que a 
bruxa, através de um pacto diabólico, adquiria de Satã o poder de suportar a dor, os juízes 
utilizavam a tortura da insônia forçada, em que o suspeito era mantido acordado por quarenta 
horas ou mais, até que confessasse o crime. Outros métodos podem ser citados, como o de 
amarrar o suspeito a uma mesa cheia de espinhos, forçá-lo a ingerir grandes volumes de água, 
arrancar-lhe os olhos e unhas, cortar-lhe as orelhas, entupir suas narinas com lodo e água, 
queimar aguardente ou enxofre sobre o seu corpo ou ainda esmagar seus órgãos genitais. 
Havia também a cadeira da bruxa, aquecida por uma fogueira, muito empregada na 
 
13
 FOUCAULT, Michel. Op. cit., p. 38. 
14
 LEVACK, Brian P. A caça às bruxas na Europa moderna. 2. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1988, p. 72. 
15
 LEVACK, Brian. Op. cit., p. 79; MANDROU, Robert. Magistrados e feiticeiros na França do século XVII. 
São Paulo: Perspectiva, 1979, p. 78 
5
Alemanha.
16
 
Porém, o instrumento de tortura mais utilizado era o strappado, uma roldana em 
que, de um lado, amarravam-se pesos de 18 a 300 quilos e, de outro, os pés ou os braços do 
suspeito para suspendê-Io do chão. Nessa categoria de instrumentos de distensão havia 
também a roda e o potro. A vantagem para os torturadores em empregar tais instrumentos 
residia no fato de que, além de graduarem a intensidade do suplício, poderiam afrouxá-los 
quando ocorresse a confissão. Da mesma forma eram os instrumentos de compressão, dentre 
os quais destacavam-se anéis de ferro, que prendiam os dedos ou as pernas, capacetes e 
torniquetes. 
As principais conseqüências do uso indiscriminado da tortura nos processos por 
bruxaria e heresia foram, segundo Levack: a) a contribuição para a formulação do conceito 
cumulativo de bruxaria (os juízes, alimentados pelo que haviam lido nos tratados de bruxaria, 
através da tortura, confirmavam suas suspeitas e realizavam suas fantasias); b) a exigência 
que se fazia ao torturado, para que fornecesse o nome de seus supostos cúmplices. Este último 
fator foi o responsável pela grande dimensão da Inquisição, pois cada processo individual 
dava origem a dezenas de novos processos, todos contra nomes extraídos sob tortura de um 
suspeito inicial.
17
 
Não só a tortura tornava o processo infalível, como também a crença de que 
tratando-se das bruxas, estas, ao pactuarem com o Diabo, recebiam deste uma marca no 
corpo, que tornava a área insensível. Isto levava a que, no início do processo, o corpo do 
suspeito fosse raspado e um cirurgião procurasse - através de picadas de agulha - alguma 
região em que a picada não causasse dor. O resultado serviria como prova. A marca do pacto 
poderia também ser comprovada caso fossem encontradas quaisquer regiões de coloração ou 
textura diferenciada do resto do corpo. Não escapavam, portanto, nenhum sinal de nascença 
ou cicatriz. Esta marca consistia numa boa prova, mas, como já mencionado, nada substituía a 
confissão. 
Caracterizado encontra-se, portanto, o sistema inquisitório. Inspirado nos 
procedimentos adotados pela Igreja desde o século XIII e acrescido da tortura herdada do 
direito romano. Este período da história do direito é denominado de “vingança pública”, no 
qual- diferentemente do sistema acusatório em que a vítima era a principal interessada na 
punição de seu ofensor - o soberano vem substituir a vítima. O crime passa a ser uma ofensa 
não de um indivíduo a outro, mas ao Estado. 
 
16
 LEVACK, Brian P. A caça às bruxas na Europa moderna. 2. ed, Rio de Janeiro: Campus, 1988, p. 77. 
17
 Cf. LEVACK, Brian P. Op. cit., p. 78-79. 
 
3.4 A condenação 
 
Após a confissão, vinha a condenação e, em seguida, a execução da pena. Mas, 
antes disso, o condenado era obrigado a confessar sua culpa em uma igreja, pedindo perdão a 
Deus e aos Santos por ter-se entregue ao Diabo. Nesse evento, denominado auto-de-fé, a 
multidão comparecia para ouvir o relato de suas maldades e seu arrependimento. Em seguida, 
era conduzido ao cadafalso, normalmente situado em praça pública, onde seria queimado pelo 
carrasco. Algumas vezes, e dependendo da gravidade do crime, o juiz concedia o 
estrangulamento antes que fosse acesa a fogueira; em outras, o condenado era queimado vivo. 
Durante a execução, a sentença era lida em público para que todos tomassem ciência dos 
malefícios por ele praticados. 
Normalmente, a sentença pronunciada era imediatamente executada. Havia alguns 
casos de apelação, o que era raro, pois os condenados, na maior parte pessoas humildes e não 
assistidas por advogados, ignoravam a existência desse direito. 
Após a morte na fogueira, os bens da pessoa executada eram todos confiscados a 
pretexto de prover as custas do processo, o que leva muitos historiadores a atribuírem o zelo 
pela condenação à cupidez de alguns juízes. 
Mas nem tudo estava acabado. Pelo fato de ainda não existir o Princípio da 
Pessoalidade da Pena e devido à crença de que a propensão para prática de certos crimes era 
hereditária, dificilmente os familiares de um condenado escapavam dos processos. 
 
Tantos lares, tantos juízes obsequiosos em subjugar Satã. Os Sabás, imaginários, as 
missas às avessas e os feitiços de impotência não representam simplesmente os 
descaminhos dos simples de espírito, pobres indivíduos afligidos pelas misérias 
cotidianas que procuravam uma compensação em uma evasão polimorfa. São 
também os horizontes mentais dos homens cultos, eloqüentes, nutridos de direito 
canônico e direito civil, que são encarregados dos processos criminais onde quer que 
se exerça a alta justiça, nas senhorias, nos bailiados, e presisiais e nas cortes 
superiores que constituem osParlamentos. De uns aos outros, o consenso permanece 
o mesmo durante muito tempo: as ondas de perseguições em fins do século XVI o 
provam com toda a evidência.
18
 
 
4. CONCLUSÃO 
 
Em suma, ainda que de uma forma embrionária, tentou-se situar historicamente a 
Inquisição e demonstrar que o tema de fundo da caça aos hereges e às bruxas foi o fato de que 
 
18
 MANDROU, Robert. Magistrados e feiticeiros na França do século XVII. São Paulo: Perspectiva, 1979, p. 99. 
6
a Igreja, ao ver-se ameaçada por críticas aos seus dogmas e pelo surgimento de religiões 
diferentes da católica, ergueu a bandeira de combate aos chamados crimes religiosos. Em uma 
época em que o poder da Igreja estava de tal forma imbricado ao poder do Estado, 
confundindo-se com este em alguns casos, todas as rebeliões e manifestações políticas 
assumiam caráter religioso e eram combatidas por um sistema de repressão especificamente 
montado, com o objetivo de justificar a existência da própria instituição eclesiástica. Por outro 
lado, a Inquisição espanhola foi citada como um exemplo claro da utilização, por parte da 
nobreza, dos crimes de heresia como um pretexto na perseguição de adversários políticos 
ameaçadores do seu poder e de sua riqueza. 
Como se observou, foram as mudanças no sistema penal e a reintrodução da 
tortura, com seu uso indiscriminado nos interrogatórios, os temas que mais mereceram 
atenção neste artigo. 
A demonstração dessas mudanças, bem como dos motivos pelos quais elas 
ocorreram, teve a finalidade de elucidar como o direito sofreu influência direta dos interesses 
da Igreja, servindo-lhes por um longo período de tempo. 
A Inquisição, que é hoje um dos capítulos encerrados da história da humanidade, 
apresenta profundadas semelhanças com os regimes totalitários e racistas espalhados pelo 
mundo ainda em pleno século XX. O emprego da tortura e a manipulação do direito, que são 
lugar-comum nestes regimes, nos dão provas disso. 
 
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
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