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COLEÇÃO CULTURA, ESCOLA E ENSINO Coordenação Geraldo Oaiduino Horn e Tánia Maria E Braga Garcia DIÁLOGOS E PERSPECTIVAS DE INVESTIGAÇÃO Organizadores Marta Auxiliadora Schmidt, GeraidO Baiduino Hora e T*Øa Marta E Braga Carda 2 SABERESE PRÁTICAS NO ENSINO SUPERIOR Organizadoras TAnta Marta E Braga Carola, Leiiah Santiago Quitem e TAnta Maria Baiblch.Farla FIGINAL RAL cói, -CEFD-CaCA Pát: 3 APRENDER HISTÓRIA: PERSPECTIVAS DA EDUCAÇÃO HISTÓRICA Organizadoras; Maria Auxiliadora Schmldt e Isabel Barca CONSELHO EDITORIAL COLEÇÃO CULTURA, ESCOLA E ENSINO --,**- _____ HISIORIA PEOSPICII VIS DA IIUCAÇAD IIIS1DIIICA = ORIGINAL CTRAL CÓPIAS ; LCCEOCE Ora. Relmira Améjia de Barros Oliveira Bueno - Faculdade de Educação, Programa de Pós-Gra- duação em Educao da Universidade de São Paulo. Dr. Domênico Costeila Pontiftcia Universidade Católica do Paraná Dr. Fernando Bastar - Faculdade de Educação, da Universidade Féderal do Rio Grande dá Sul. Dr. Geraldo Balduino Ijomn - Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Paraná. - Dr. Gilberto de Castro - Programa do Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Paraná.' Ora. Isabel Brca- Instituto de Educação e Psicologia, Universidade do Minho, Braga, Portugal. Or. Jasús Rodrtguer Rodriguez Universidade de Santiago de Compostela, Espanha- Dra. LelIali Santiago Butrein - Departamento de Gestão da Intormaçã4/1 2rograma de Pós-Gradua- ção em Educação da Universidade Federal do Paraná, Ora. MarI Margarete dos Santos Forster - Programa de Pós-Graduação em Educação, Universida- de do Vale do Rio dos Sinos, Rio Grande do Sul. Ora. Maria Auxiliadora Moreira dos Santos $chmldt - Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Paraná. Ora. Maria do cahro Guedes - fontiffcla Universidade Católica de São Paulo. Dr. Hilton Marcos DiaS Carola -Programa de Pós-Graduação em Tecnologia da UniVersidade Tec- nológica Federal do Paraná/Piógrama de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Paraná. Dr. Roberto Nardi - Programa de Pós-Graduação em Educação para a Ciência, Universidade Esta- dual Paulista, Campus de Bauru, São Paulo. Ora. Rosa Maria Cardoso Dalla Costa - Departamento de Comunicação/ Programa de Pós-Gradu- ação em Educação da Universidade Federal do Paraná. Ora. Tênia Maria Figueiredo Braga Carda - Programa de Pós-Graduação em Educação da Univer- sidade Federal do Paraná. Prelácio Lis Cercadilho Organizadoras Maria Auxiliadora Schmidt Isabel Barca c* CRUJUI Ilui 2009 Catalogação na Publicação: Biblioteca Universitária Mailo (isorio Marques- Unijuf Aprender história : perspectivas da educação histórica organizadoras Maria AuxlUadora Schmkft Isabel Barca. —ljuí: Ed.UniIuf, -312 P. - (Coleção cultura, escola e ensino). ISBN 978-85-7429-775.0 1. Educação. 2. História. 3. Ensino - História. 4. Práticas docentes. 1. Schrnkit, Maria Atediladora. II. Barca, Isabel, III. lilulo. IV Titulo: Perspectiva da educação histórica. V. Série, CDU: 37 37.02 371.13 7 1 Prefácio Aprender História: Perspectivas da Educação Histórica 11 1 Apresentação 21 Çognição histórica situada: que aprendizagem histórica é esta? Maria Auxiliadora Moreira eks Santos Schmidt 53 1 Educação Histórica: pesquisar o terreno, favorecer a mudança Isabel Barca 77 1 Relações entre ensino e aprendizagem histórica: desafios para a pesquisa em Educação Histórica Tánia Maria RBrga Garra 117 1 Educaço Histórica: o desafio de ensinar História no ensino fundamental Man'àe Cainefli 139 1 Narrar: uma maneira de aprender História na sala de aula Rasi Terqinba Ferrarini Geameni 175 Usó(s) e "utilidades" da narrativa histórica na aula: um olhar de professores acerca da aprendizagem dos estudantes Mania Gago 197 1 Aprendendo História com as histórias em quadrinhos Marcelo Frona 2003. r-ditor:: Rua 'i Coméri. 1364 98 7 000- .- RS - h'ast on' . 1- 5)333.Q17 IaxS'-13332- 16 E-mait editorac ..flhjUicoribr Htlp://www.edfloIaunuj.combt Editor Gilmar Antonio Bedin Editor-Adjunto: doei Corso Capa / Foto da Capa: Maurício Corréa Projeto Gráfico: Mauricio Corrêa Olagremação: Gustavo lurk Responsabilidade Editorial, Gráfica eAdminist,(iva: Editora Unijur da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuf; Ijul, RS, Brasil) A revisão técnica dos textos é de responsabilidade dos seus autores e organizadores. - -- .,. •' www ww ww w W WWW WWW ww WWWw W WW WW Maria Auxiliadora Moreira dos Santos Schtnjtcj* Coguiçao histÕrIa afinada: Que aprendizagem histérica é 07* * s significados do que é "aprender História" têm acom- panhado e fundamentado os processos de produção da História enquanto disciplina escolar no Brasil. Neste sentido, diferentes abordagens da aprendizagem • histórica têm servido de referência para questões, como propostas curriculares e manuais didáticos destinados à formação de alunos e professores. Uma análise da construção do "código disciplinar da • História" (CUESTA FERNANDEZ 1997; 1998) indi- ca, claramente, o processo de pedagogização da Histó- ria,,o qual apresenta, entre outros, os fundamentos do ensino e da aprendizagem do conhecimento histórico, a partir de teorias da Didática e da Psicologia Educado- ' Professora e pesquisadora do Programa de Póa-Graduação em Educação da Universidade Federal do Paranú. Professora de Metodologia e Prútica de Ensino de História na UFPR. Trabalho relacionado ao projeto "Aprender a ler, aprender a escrever em His- tória", financiado pelo CNPq e Fundação Araucdria. 221 Aprender História: Perspectivas da Educaçào HislóHistórica Maria Auxiliadora Moreira dos Santos Schmldt 23 nal. Ao reconstituir o "código disciplinar da História", esse autor Na mesma época, Murilo Mendes, cuja obra foi publicada em analisa os "textos visíveis", como currículos e manuais, e também 1935, criticava a aprendizagem "tradicional", centrada somente os "textos invisíveis", como as práticas escolares que, historica- no conhecimento do passado. Este autor defendia a necessidade mente, têm contribuído para a produção da História como disci- de o' aluno aprender a História a partir do presente. Para ele, os plina escolar. alunos precisavam conhecer os critérios que presidem a investiga- ção dos fatos, seu agrupamento, seleção, interpretação e exposi- Na esteira das investigações já desenvolvidas acerca da Histó- ção histórica. Também deveriam aprender a dar vida ao passado ria como disciplina escolar, de forma ativa, usando suas próprias iniciativas, bem como adqui- lise das idéias sobre aprenm histórica_conddasm propos- rir a técnica da "reconstrução histórica", buscando atingir a lógica tas curriculares, manuais didáticos destinados a p rofessores, bem --.- .".. ...'--.--. do conhecimento histórico a partir do estudo e não a partir da como aqueles destinados * junos. lógica dos próprios conteúdos históricos. Ao defender esses crité- qu rios, o autor enfatizava a importância do métódo de ensino, o qual fundamentam. .as finalidades e os processos de aprendizagemem poderia superar a mera aquisição passiva de conhecimentos pelos História. O diálogo com essas concepções será feito a partir da alunos, substituindo-se, assim, a aprendiz agem tradiciànal' pela referência e adesão à concepção da tgição histó rica si cujos . aprendizagem crítica. princípios e finalidades ancoram-se na própria ciência da História . . Baseando-se na psicologia científica da adolescência difundida e servem de embasamento à área de pesquisa da Educação Histó- . no Brasil naquele momento, Mendes (1935) afirmava que não se rica, devia esperar que os adolescentes se transformassem em historia- 1.DA APRENDIZAGEM TRADICIONAL À APRENDI- dores, e que apretider História não era apenas conhecer fatos lis- tóricos, mas, principalmente, adquirir e desenvolver idéias e atitu- ZAGEM CRÍTICA . des positivas com relação à sociedade. Observa-se que esse autor Pesquisa realizada em manuais de Didática da História desti- tem como refçrência elementos da psicologia das adtude "qu,é nados a professores, e publicados no Brasil no período de 1917 a . uma tendência aa" (MENDES, 1935, p.55). Assim, o jovem 2004, evidenciam o embate entre o que foi chamado de "aprendi- adolescente deveria aprender com a História a ter aides posit- zagem ttadicional" e "aprendizagem crítica" da História. N~a_s para com o Brasil e as outras nações, a partir de objetivos mo- Tal é a perspectiva de vários autores, destacando-se a proposta GILSsociais. Para o jovem aprender a ter atitudes históricas corre- de J asSerran que, já em 1917, em seu livro Metbodolola da tas seria necessário adquirir vários conceitos. Entre eles estão em História na Escola Primária, faz uma crítica contundente à "apren- destaque o conceito da c2uidade e da uiidade da epênç dizagem' tradicional da História", a qual descreve como centrada Fixia, o do diso e evolucionismo da oranizacã,QJQd e no professor, na passividade do aluno e na memorização dos COfl o o do passado. A responsa- teúdos. Em contraposição, ele defende uma aprendizagem basea- bilidade do presente para com o futuro, a relação entre indivíduo e da na aecessidd psicológica dos unos. - - ....................................._________________________ sociedade, as diferenças entre os povos, os costumes e as institui- wwu WWWWWWWWW rn w ,j.w .wwww Wwvw 24! 1 Aprender História: Perspectivas da Educação Histórica çôes, o conceito de mudan ça ou instabilidade da niza - O cQn ode diferença. também eram considerados corno Prioritários. Cr Esses pressupostos estão em conson ância corri, as "instruções metodológicas" para o ensino de História, sugeridas pela Reforma .p Francisco Campos, em 1931. Segundo Hoilanda (1957, essa: Ins- trui-20 de Historia no sentido de uma real aprenclizagem. tivoded crítico autê- norno, forno, sem so O Decreto-Lei n° 4.244, de J"proposto pelo ministro Qu explicitava uma concepção de aprendizagem hi s-tórica com nítida influência da psicologia do desenvolvimento. Essa proposta reforçava a. idéia de q ue aprender História serviria Para o desenvolvimento integral da personalidade do jovem e de sua Consciência patriótica, e humanista Talerspectiva foi corro-. Psicologia do desenv botada por Castro (1952) em seu manual de Didática da Hist6,ja, A olvimento fundamentava a concepção de aprendizagem desta autora, para quem os jovens aprendizes eram considerados "adolescentes imaturos", pois a sua personalidade estava em formação. Portanto, os conteúdos' de História serviriam Para que esses "jovens imaturos" conquistassem sua plena reali-zação Como homens e membros da sociedade. Eles deveriam aprender conteúdos de História para modificarem a sua conduta, a sua atividade, o seu pensamento e a sua afetividade. Além de se orientar elas instruções desse Decreto-Lei Castro , apoiavase nas idéias d ohn Dewe Pa men te quando este autor defendia a necessidade da aprendizagem histórica para o enri- quecimento e expansão da vida pessoal dos alunos, bem como pa- ra ajudá-los compreender relações espaciais e humanas, além de de- senvolver a curiosidade em relação à sociedade contemporâne a. Maria Auxiliadora Moreira dos Santos SCIiInirIt Assim, aprender História passava a ser aprender a pensar, re- fletir, raciocinar- sobre a vida das sociedades humanas; aprender a extrair dessas sociedades significados sobre vários fenômenos da vida comum, por exemplo, a vida política, econômica e religiosa, aprendendo a desenvolver interesses e curiosidades que tornas- sem a vida mais completa. Para a autora Precis ava der a integrar-se na sociedade e na comunidade em que vive, na somente seda possível se 55- elpre1dessefI 'Jd e dando siflca- dpsete. Essa dimensão da aprendizagem da História é também encon.. • trada na obra de Guedes (1963). Para este, enquanto a escola tra- dicional era baseada em uma aprendizagem exaustiva, realizada com a aplicação de técnicas de memorização em que o aluno, guia- do pelo professor, decorava nomes e datas a partir de uma série de artificios, além de adquirir exaustivamente os conteúdos, para a escola renovada a aprendizagem tinha o objetivo de dar uma base deórao humanística ao educando. Ele deveria aprender His- tória para formar aj,jj... des éticas e espírito cívico, m~eranoênfase da aprendizage educando. A influência da ia cõfrtv fez-se sentir já no final da década de 1960, como se pode observar no manual publicado por Leit (1969). CQni..ta autort zagein de conceitos e da relação entre o conceito de j A autora informa que os manuais didáticos da época enfatizavam uma aprendizagem base- ada na cronologia da vida política e numa memorização incoeren- te, sem realizar qualquer ligação com o presente. Em sua opinião, isso resultaria na impossibilidade de ligar o educando, crianças e jovens, com o que é estudado, e de tomar corno ponto de partida a sua curiosidade e vontade de conhecer, ou seja, "A impressão da 26 Aprender História: Perspectivas da Educação Histórica Maria Auxiadora Moreira dos Santos Schmi(t 27 criança é que a história é sempre a mesma coisa, e que ela já sabe tudo aquilo" (LEITE, 1969, p.28). Observa-se que ela defende uma valorização da aprendizagem gradativa das. noções temporais porque é somente a partir dos 9 anos que a criança consegue ori- entar-se no tempo, mas apenas no tempo do passado próximo. O referencial da psicologia cognitivista está subjacente à pro- posta de plantação do ensino de Estudos Sociais, pelo Parecer n° 853 71, ue estabeleceu o Núcleo Comum para os currículos do ensino de 1°c 2° Graus bem como a doutrina do currí cujo na Lei (MEC, 1972). Segundo os propósitos dos Estu- dos Sociais, que substituíram o ensino de História na Escola Fun- damental, durante o período da Ditádura Militar Brasileira (1971- 1984), apren a em deveria ser desenvolvida em acqQ2m as etapas do desenvolvimento cogititivo do educando, tendo como o "ajustamento do mais amplo e complexo, emeve não apenas viver corno con- viver, dando-se ênfase ao conhecimento doBra rstiva atualdQSçu desenvolvimento" (MEC, 1972, p.72). A trajetória da ambistó no Brasil, identificada a partir de elementos abstraídos da legislação e dos manuais desti- nados à forma - de professores e alunos, indica que, desde o iní- cio do-sécul. como mostra , a obra de Serrano (1917), já exis- tia um debate em tomo da contraposição entre uma aprendizagem TII&ia, mas sempre ' tendo como referência os princípios da psicologia científica —'e Como apontou NadaL(199), naçde 1990 algumas - pectivas diferenciadas indicaram renovações nos encaminhamen- tosiiïino com o conhecimento histórico, bem como posta _do uso escolar do documento histórico. No entanto, do de vista ,. .-.--. vzaj ela influência psicologia, já nas vertentes coi- trutivis tas,mo aqa.elas presentes nnsPa râmetros urriculares I'innaia..dlljs.toria 1998). As mesmas perspectivas foram as- sumidas por Bittencourt (2004), a única autora, entre as que pu- blicaram obras sobre Didática da História nesse período, que re- serva um capitulo sobre a temática daíaprendizagem histórica. - 2. A PROPOSTA DOS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS E A APRENDIZAGEM HISTÓRICA A proposta dos Parâmetros Curriculares de História, encami- nhada pelo Ministério da Educação aos educadores brasileiros em 59:831 contém, em suaestrutura, osl!iios Tetnatico\ sugeridos para o ensino de História de 3° e 4° ciclos, isto é, o conhecimento a ser ensinado de 5* a 8* séries do ensino fundamental. Ademais, tanto o documento Introdução aos Pardmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998a), quanto o documento História - Par€mekvs Cur- nculares Nacionais (BRASIL, 1998b) apresentam um item específi- co sobre concepção de ensino e aprendizagem, como referências para o currículo. O documento introdutório (BRASIL, 1998) partiu do psto • de qça s1jse_ osnicadores daie- cessidade de se , tomar como referência uma nova ode aprendizagem, que pr0piciasse m.aiQr çodaluns çpin a realidade. Nesse particular, em nota de rodapé, o documento dis- corre sobre os novos marcos explicativos da aprendizagem dentro da ppecdva construtivista de enfoques cognitivos, destacando o que chamou de marco de referência para a proposta curricular. São enunciados, brevemente, três enfoques dentro dessa perspec- tiva: a teoria genética, sendo citados Jean Piaget e seus colabora- dores da escola de Genebra, da qual se absorvem a concepção dos processos de mudança, as formulações estruturais clássicas do de- - - - 28 AprendetHistória:PerspectivasdaEd ucaçáo Histódca senvojvjmen os Procedimen tos de resolução de pro- blemas; a E daadvida citandose Vygotsky, Luria e Leoritiev e colaboradores referente à maneira de 's entender as relações entre aprendiza gem e desenvolvimento, bem como a importância conferida aos Processos de relaçâo interpessoal; a integração dos conceitos de aprendizagem, cultura e educação, provenientes das teses no campo da Psicologia cultural; e a verbal significativa , de Ausubel. A partir desses pressupostos adotados como referência, o do- cumento assume a defesa de que o aluno, ao aprender a resolver problemas e a construir atitudes em relação às metas que quer atingir nas mais diversas situações de vida, faz aquisições dos dosnmniõs, cognitivo e lingüístico, que inçluem formas de comunicação e de representação es-paciais, temporais e gráficas (BRASIL, 1998, p.73). Nesses termos, fica explícito o que se entende por aprender, Pautado em referenciais da struris perspectiva que irá flmdamentar, também, a concepção de aprendizagem his-tórica (BRASIL, 1998, p.37-41). -Prúneiro entendimento da aprendiza gem histórica sugerido no documento dos PCN5 enfatizá as formas pelas quais jovens e crianças tais como pelo convívio social e farrnhar, festejos de carater local, re onaI, nacional e rn nd meiosd tels~a-!CAMO—ParteQãÕ,yarte ainda do pessupostode que "os jovens sempre parlici-parn, a seu modo, do trabalho de memória, que sempre recria e interpreta o tempo e a História" (p.38), e a"arn às suas vivências informaçôes explicações e valores oferecidos na sala de aula, in- dicando um segundo entendimento de que as informações 'e ques- tões históricas podem ser incorporadas sigrxificativ amente pelo Maria Auxiliadora Moreira dos Santos Schmfrjt 1 29 adolescente, que as ~jt. e\ge1ez.iza.r que "o_que sernsjgjflcativo e relevante consolida seu ap.ren- o" (p.38). Um terceiro entendimento parte do pressupost o da diferencia - 0o entre um saber que os alunos ad urem de u triã m outro a que denomina'saber escolar, . Nessa perspe r cva ea- firma que a apropriação de noções, métodos e temas próprios do co- ahecjenento histórico, pelo saber histórico escolar, não signifi-ca que se pretende fazer do aluno um "pequeno histo&do" e nem que ele deve ser capaz de escrever monografias. A 42j4 extrair de ierç .n?!.caráctias ep -de da- da realidadado .çtQmoe P SIL,1998,p t Observa-se a apropriação de urna concepção de aprendizagem que, em primeiro lugar, diferencia o conhecimento escolar do cien-tífico, no processo de aprendizagem, confun dindo o aprender com o ensinar, este, sim, objeto daJ à Naerpec*j va , da na ciência de oonhecjmento necessita ser a rendido elo —1 ia a forni Del2 qual aluno deve ter corno base a Dronna t. uevem ser os mesmos daprpia epistemoloja da ciência da His-tória. Outra questão a destacar na concepção de aprendizagem referida nos PCNs de História é a ênfase na temporalidade crono-lógica como forma de orientação temporal. Segundo Rusen (2004), a orientação no tempo e sobre o tempo 9mSPartirdos casos sua artÍ çomo pesentp Categorias 30 Aprender História: Perspectivas da Educaçio Histórica O documento dos PCNs para História especifica, ainda, obje- tivos da aprendizagem para o terceiro e quarto ciclos. Com relação ao terceiro ciclo, o des que favoreçam a compreensão em dimensões his- ffi._por._açío de çomo pesqt.itsas ç. esti doso meio. Ora, segundo Husbands (2003), aprender História é mais do que isto, pois deve ser, acima de tudo, produzir um pro- cesso de compreensões históricas, tendo como referência formas de oucipnceitos (LEE, 2005). Ao descrever os objetivos da aprendizagem histórica no tercei- rocido, o documento seleciona alguns objetivos, tais como "conle- cer" "rqey" e «xiIizar fontes histór', deli- mitando categorias do pensamento que indicam ações a serem de- senvolvidas em relação a determinados conteúdos, e não formas de compreensões históricas. Esta mesma perspectiva está presen- te nos pressupostos e objetivos para o quarto ciclo, de maneira mais ampliada. 3. A COGNIÇÃO HISTÓRICA SITUADA É necessário destacar o significado das teorias psicológicas e de suas categorias nos processos de aprendizagem de crianças e jovens, particularmente na importáncia que tais fundamentos têm para as mediações didáticas que ocorrem durante a relação entre ensino e aprendizagem em aulas de História. No entanto, é funda- mental destacar que tais categorias não dizem respeito à especifi- ca cognição histórica, a qual pode ser designada de cognição his- tórica situada na ciência da História. A perspectiva da aprendizagem histórica situada a partir da pró- pria ciência da História é uma questão relevante em face dos re- sultados de investigações, indicativos de desinteresse de crianças e adolescentes pelo conhecimento histórico escolar, bem como Maria Auxiliadora Moreira dos Santos Schmidt 31 das demandas provenientes de insucessos escolares no que diz respeito às aprendizagens históricas significativas para a ëonstru- ção da consciência histórica, num contexto de formação de contraconsciência para além do capital (MÉSZÁROS, 2007). Esta perspectiva, segundo Mészáros, põe em questão o significado da aprendizagem de modo geral, particularmente no que se refere ao seu sentido e significado para os sujeitos, a partir de uma pergunta crucial: Será que a aprendizagem conduz à auto-realização dos indiví- duos como "indivíduos socialmente ricos" humanamente, ou ela está a serviço da perpetuação, consciente ou não, da or- dem social alienante e definitivamente inéóntrojávet do capi- tal? Será o conhecimento o elemento necessário para trans- formar em realidade o ideal da emancipação humana, em conjunto com urna firme determinação e dedicação dos indi- víduos para alcançar, de man&acm-sucedida, a auto-eman- cipação da humanidade, apesar de todas as adversidades, ou será, pelo contrário, a adoção pelos indivíduos, em particular, de modos de comportamento que apenas favorecem a concretização dos objetivos reificados do capital? (MÉSZÁ- ROS, 2007, p.208). Esse autor afirma que os processos educacionais e os processos sociais mais abran- gentes de reprodução estão intimamente ligados, e urna refor- mulaçio significativa da educação é inconcebível sem a cor- respondente transformação do quadro so'cial no qual as prá- ticas educacionais da sociedade devem cumprir as suas vitais e historicamente importantes funções de mudança (MÉSZA-POS, 2007, p.196). Trata-se de uma relação dialética produzida no interior de uma sociedade em que o trabalho imaterial tomou-se predominante e em que a chamada economia do conhecimento responde, em grande parte, pela ampliação da riqueza. Nesse contexto, urna nova de- 32f Aprender Ifistóda : Perspendyas da Educação Hica Mede Aadora Moreira dos Santos sChmidt 33 manda cognitiva se impõe, relacionada com uma aprendizagem 3.1. A importância da cognição histórica situada "comprometida com a sociabilidade humana, com a preparação Segundo Rüsen (1993, p.52), aprendizagem histórica é "a cons- trabalho material". para o conhecimento, além do mero adestramento ao exercício do ciência humana relacionada ao tempo, analisando o tempo para OCHNN, 2008, p.4). ser sificativo, adquirindo a competência de dar senrido (sifi A nova demanda cognitiva recoloca o significado da aprendi- cado) ao tempo e desenvolver esta competência". Para ele, esta gni zagem escolar, a qual, historicamente baseou-se na didatização aprendizagem que constitui a consciência histórica fica em evidên- ou «transposição didática" (CHEVALLAIW 2000) do conheci- cia quando mento os sujeitos narram a história, construindo formas coe- — ência rentes de comunicação de suas identidades históricas. Isso é viá- na mediaç da Psicologia cru suas interfaces com a educação vel porque as narrativas são produtos da mente humana e, por Nesse aspecto, a formação do professor de História fundamenta- meio delas, os sujeitos envolvem lugar e tempo, de uma forma va-se na dicotoznia entre a formação relacionada aos chamados aceitável para eles próprios. conteúdos específicos e aquela referenciada nas teorias pedagógi- Ainda em acordo com as proposições de Rüsen (1993), apren- cas e psicológicas, as quais seriam responsáveis pela aplicabilidade der é um processo dinâmico, io qual a pessoa que aprende muda do conhecimento histórico científico nas aulas de História. . porque algo é obtido, algo é adquirido, num( h habilidade ou Essa dicotomia, segundo Rüsen (1987), se deve à crescent na mistura de ambos. Noaprendizadohjstóncoa "história" b institucionalização e profissionalização da Historia, que fez co tida porque fatos objetivos, coiQas que aconteceram no tempo, que os historiadores substituíssem a didática da História pci tornam-se. ugnk,q et9. efltOConscienteousej metodologia da pesquisa histórica, transformando-a em disciplin tornam-se subjetivos. Eles começam a ter um papel na mente de Pedagógica e empurrando "a didática da historia para mais pert urtia pessoa, porque aaprendzagem de História eu processo d, da pedagogia" (p.280). Entre os debates contemporâneos acerca consc1entemnte, localizar fatos entre dois vólos, caracterizado dessa questão o autor inclui a problemática da grande distância pomo um ainda existente entre a percepção programática do que ;seria um de experiência no decor c!2!(jcrmuladode -Ro jr bom professor de História e a sua formação inicial e continuada / ' "trata e 45sWietivism,odo ob eto e, em segundo lugar, e a possibi- relacionada à prática do ensino de História. Para Rüsen (1987,( '' lidd do sujeito para analisar (ou seja, o objetivismo do sujeito). p284), "a razão desse dístanciamento , é que as discussões referen- Isto não significa que essa aprendizagem seja empiricamente apre- tes à consciência histórica e aos fatores constitutivos do pensa- sentada de forma fragmentada e seca (objetiva) e simplesmente mento histórico não têm sido integradas, na pragmática do ensino \ reproduzida conscientemente - ou seja, simplesmente objetiva. Isto e aprendizado". Tais considerações põem em relevo a importância \ não significa que a pessoa que está aprendendo seja simplesmente de serem sistematizados referenciais teóricos que indiquem os ca- e passivamente entregue ao que a História está ensinando, mas minho ossív í de Uma cognição histórica situada na própria que ocorre um movimento de autoconhecimento, que pode ser racionalidad tória expresso por meio da narrativa histórica. 34 Aprender História: Perspectivas da Educação Histórica Nessa direção, à medida que aprendem História os sujeitos podem aumentar sua competência de encontrar significadbs e de se localizar, isto é, nesta dimensão da aprendizagem o aumento da experiência e conhecimento é transformado em uma mudança pro- dutiva no modelo ou padrão de interpretação. Tais modelos ou padrões de interpretação integram diferentes tipos de conhecimento e experiência do passado humano em um todo compreens -ivo - isto é, um "quadro da História". Eles conferem aos fatos um signi- ficado histórico. Estabelecem significados e fazem diferenciações possíveis de acordo com a concepção do que é importante. A relação de jovens e crianças com o conhecimento histórico necessita ser pensada, assim, a partir do pressuposto de que tanto um como outro muitas vezes tem experiências de fracasso com a aprendizagem escolar. Na maior parte das vezes, a aprendizagem da História pressupõe a aquisição de conteúdos ou habilidades que não levam ao aprender para construir-se, em um triplo processo de "ho- minização" (tornar-se homem), de singularização (tornar-se exemplar único de homem), de socialização (tornar-se mem- bro de uma comunidade, partilhando seus valores e ocupan- do um lugar nela). Aprender para viver com outros homens com quem o mundo é partilhado. Aprender para apropriar-se do mundo, de uma parte desse mundo, e para participar da construção de um mundo pré-existente (CHARLOT, 2000, p.53). Para que isto ocorra, a aprendizagem da História demanda um processo de internalização de conteúdos e categorias históricas viabilizadores de processos de subjetivação, isto é, de interiorização com intervenção dos sujeitos, com vistas às ações transformadoras e de mudança da realidade. Assim, ao ser pensada a relação com o conhecimento e, portanto, a aprendizagem da História como internalização de determinada consciência histórica pelos sujei- Maria Auxiliadora Moreira dos Santos Schmidt 35 tos, pode-se falar em internalizar para manter e conservar, ou em subjetivação, isto é, interiorização mais ação dos sujeitos com vis- tas às intervenções e transformações na vida prática. Seja em função da manutenção ou da mudança de uma deter- minada concepção de mundo, mostra-se como fundamental a ne- cessidade de modificar, de maneira duradoura e concreta, os mo- dos de internalização do conhecimento historicamente existentes, desafiando as formas atualmente dominantes de cognição, conso- lidadas em favor do capital, pois, na esteira do pensamento de Rüsen (2007, p.IOI), a formação da consciência histórica não é, por conseguinte, poder dispor de saberes, mas de for- mas de saber, de princípios cognitivos que determinam a apli- cação dos saberes aos problemas de orientação. Naturalmen- te, essas competências dependem dos conteúdos do saber. Elas não podem estar vazias da experiência do tempo passa- do, elaborada e interpretada cognitiv-amentc (uma questão de competência cognitiva na perspectiva temporal da vida práti- ca, da relação de cada sujeito consigo mesmo e do contexto comunicativo com os demais. O conceito de "consciência histórica", apreendido a partir de Rüsen (2001), para quem "a consciência histórica é o modo pelo qual a relação dinâmica entre experiência do tempo e intenção no tempo se realiza no processo da vida humana" (p.58), pode e deve ser repensado à luz de uma educação para além do capital e, por- tanto, da formação de uma contraconsciência histórica. Assim, se para Rüsen a História tem uma função didática de formar a consciência histórica, na perspectiva de fornecer elementos para uma orientação,interpretação (para dentro, construindo iden- tidades, e, para fora, fornecendo sentidos para a ação na vida prá- tica), pode-se, na esteira de Mészáros, falar da importância da 1-lis- tória para uma "contra-internalização" ou uma "contra-consciên- cia histórica", que não se esgote na pura "negação" ou "consciên- wwww wwwwwwwwww wwwwww~www W a qp w 1;; .W o 361 Aprender História: Perspectivas daEducaçao Histórica Maria Auxiliadora Moreira dos Santos Schmidl 1 37 cia crítica" à moda de Rüsen', mas uma "contra-consciência" que abrange a situação objetiva e a reação subjetiva das pessoas cri- volvidas. Nesse sentido, o princípios orientadores de uma contra cs- ciência histórica devem ser absolutamente desatados da Lógca ÀP posi£~o da orando, também, _ OsSupostoinq[d qe,qqier . rnçlizagem é auto- cducaoipardda .tica siativa da auto aest~o que s jovens e c' ssej tes ativos desu ria edu Para isto, é preciso também - que se pensem as crianças e os jovens comó nastncaentsa determinadas socialmente e cuhuralmente, o que aponta a importante relação entre escolarização, condição infantil e condição juvenil. Isto. é, crianças e jovens são sujeitos "no universo escolar" e as relações que eles estabelecem com o conhecimento devem ser pensadas a partir desses pressupostos. 3.2. A natureza da cognição histórica situada Para Rüsen (2004), os Princípios de urna cognição histórica si- tuada são tJ rientação e Esses princípi- os cogniuvos exercem a função diferenciadora do processo cogni- tivo da ciência da História e, pressupõem determinados recursos 'Segundo Rsen (199, os tipos de consciência histórica *50: tradicional, em que a totalidade temporal é apresentada como continuidade dos modelos de vida e cultura do passado; exem-plar, em que as experiências do passado s5o casos que representam e personificam regras gerais da mudança temporal e da conduta humana; critica, que permite formular pontos de vista históricos, por ncgaç5o de outras posições; e genética, em que diferentes pontos de vista podem ser aceitos porque se articulam cnn uma perspectiva mais ampla de mudança temporal, e a vida social é vista cm toda a sua complexidade. A perspectiva critica e genética se aproxima do que o educador Paulo Freira define como a passagem da consciência ingênua para a cons- ciência crítica. Para o autor, esse processo nâo implica que o educador e o educando, em de- terminado estágio de aprrndizado, entendam todo o significado das palavras e conceitos, mas que tenham possibilidades de explicitar as rrs4anças em sua compreenaSo do mundo. ou materiais pelos quais são construídas as teorias históricas. Es- ses.recursos ou materiais são denominados pelo autor de concei- tos históricos e categorias históricas (RÜSEN, 2007b). Indo ao encontro dessas reflexões, Lee (2005) estabelece ai- guris princípios da cogrução histórica situada, quais sejam, os con- ceitos ou oslos específicos da• iria, tais como Renascimento, Revolução Industrial Inglesa, e os conceitos de segunda ordem, que estão envolvidos em qualquer história, qualquer que seja o conteúdo a ser aprendido. Entre os conceitos de segunda ordem estão as categorias temporais, que designam contextos temporais gerais de estados de coisas que, conforme Rüsen (2007b, p.93), "não se referem diretamente a nenhum es dQde £Qas,jnas .stabeiecem .a progressQ,. dy». toevoI , oca». Incluem-se também como conceitos de se- gunda ordem aqueles relacionados àformas de compreensão ou pensamento brstor, com,qc onceito de narrativa fereiiczXnaaiaçãje (xhcaçâohistoric (LEB, 2005) Nessa perspectiva, ap ei,yins gpffica- O principalojyoé elabqpar ,~ orientação relacionada constodaidentidade de cada ume, tanbéõrgaiiizarró.. P..çjg..iadutas. açeg...4pprçsente,- individual e coletjy- Tais considerações põem em relevo um primeiro principio que norteia a cognição situada na História, a de que esta História é sempre urna ciência em construção, aberta, e, como outras ciênci- as humanas, uma construção social, na qual é dificil contar com um corpo estável e imóvel de conhecimentos produzidos indivi- dualmente. A produção do conhecimento histórico é uma ativida- de indi'vidual e coletiva. 38 Aprendei História: Perspectivas da Educação Hislõrço Uni outr princípio iam beti . , erece ser destacado c mo (lamento da :Ogfl.lÇáO situa. na 541stória. Hoje, vive-se o proc so de transiço de urna sor edade da informação para uma socia:- dade do conhecimento, na qual, além da função de socializar o sa- ber elaborado, a escola enfrenta o desafio de oferecer aos alunos os instrumentos necessários à compreensão das formas pelas quais o conhecimento científico é produzido, para que eles possam ela- borar seus próprios argumentos e critérios de seleção e elaboração do conhecimento. Assim, aognção ocupaçào de i.agar quais seriam os mecanismos de urna apren - dizaem criativa e autônoma, que possam contribuir para que os ........................ alunos transformem informaçes em idéias forma mas complexa, O pressupos- to é buscar a construção de umalB acta sïórica, ou seja, da realização do processo de alfabetização histórica de cada um. O conceito de literacia histórica (LEE, 2006; BARCA, 2006) sugere que a finalidade do ensino de História é levar à. população os conteúdos, temas, métodos, procedimentos e técnicasquo historiador utiliza para produzir o conhecimento histórico, ressal- vando que não se trata de transformar as pessoas em historiado- res, mas de ensinar a ensariIstocamente. A partir dessas considerações, é possível sistematizar alguns elementos da natureza da cognição situada na História: - A apreadira,gem histórica é multt.rerspectivada e baseada na idéia da interpretaçüo histórica. Esta perspectiva põe em discussão a con- cepção de que existe uma única e verdadeira história a ser contada, mas que a História é sempre multiperspectivada. Tal concepção não significa que se caia no absoluto relativismo, mas sugere a idéia de que o ensino de História deva contri- buir para a educação histórica. O objetivo é fazer com que os alunos estabeleçam relações cada vez mais complexas com as idéias históricas e possam se ver como produtores do conhe- cimento, no sentido possível da recriação das relações entre a Maria Auxuan' v'ia das S.iriiu Schmiclr .cúrn da prcsc inc e d pa.'ad. lal procdimento dá a en- mdcc .r aprender 1 ic.r-ja di.. 'tiiLC lntcq,retar, ex- licar, rar e narrar-s. à da, lulaa, ínncntos sonhos do prcscnte. - E..jsie ii,,,a ei,ita relaçào nti aprewda,geni histórica e narrativa PA/ e./ieaçào histórica. Ao assumir esta relação, parte-se do en- tendimento de que as novas correntes historiográ ficas, ao questionarem as grandes narrativas baseadas nas análises macroestruturais, puseram em relevo o chamado "retorno da narrativa". Este retorno da narrativa não sigiflçç,rgnizaro material em uma ordem cronológica, mas compreende uma perspectiva mais especifica segundo a q ual aconstniçao dos argumentos históricos explicativos pressu a análise da ação, necessário falar de situações específicas do passado, bem como realizar sua interpretação, ressignificancio o presente, do pon- to de vista individual e coletivo, de forma a construir uma orientação para a ação e intervenção na realidade social. - A apirndir,yçern histórica tem cwma finalidade aformaço da vns- ciémia histórica. Isto significa que o ensino de História deve ter por objetivo aiação de uma determinada consciência liaióribuscando superar formas tradicionais e exemplares da consciência histórica, responsáveis pela consolidação de narrativas baseadas em organizações lineares do tempo, bem como da visão de que a História é a mestra da vida Ao mes- mo tempo, procura-se também evitar a formação de consciên- cias críticas pautadasem narrativas que rompam com qual- quer possibilidade de rever o passado. O objetivo é uma cons- ciência néti em que a relaçào presente e passado seja fundamentada em narrativas mais complexas, que se pres- tem a uma orientação temporal para a vida presente, basea- das em princípios como liberdade, democracia e direitos hu- manos, fundamentos de uma formação para a cidadania. A partir desses elementos cnstitutjvos da natureza da cognição histórica, pode-se afirmar que as três dimensões da aprendizagem o 40 1 Aprender História: Perspectivas da Educação Histórica em História são a Experiência, a Orientação e a Interpretação, as quais estão sempre intimamente relacionadas, pois rãoe,steex- ou orientação histórica sem experiência, o que implica algumas conseqüências. Uma delas é o fato de que nunca se pode dissociar a aprendizagem histórica do Assim, saber História não é a mesma coisa que pensar historicamente correto, pois o . conheciineno histórico apreendido apenas como algo dado não desenvolve a capacidade de conferir significados à História ' e orientar aquele que aprende de acordo com a própria éxperiência histórica. 4. A COGNIÇÃO HISTÓRICA E OS MANUAIS DIDÁTI- COS PARA OS ALUNOS Para este trabalho foi selecionado o pressuposto da explicação histórica, tomando-se como perspectiva de investigação a forma pela qual manuais didáticos têm proposto a sua utilização no ensi- no e aprendizagem da História. Alguns conceitos de segunda ordem não são estranhos aos pro- cedimentos didáticos relacionados ao ensino e aprendizagem da História.. Um estudo exploratório em manuais didáticos de Histó- ria aprovados pelo PNLD - Programa Nacional do Livro Didático (2008) indica a presença de categorias como «explicação" nas pro- postas de atividades destinadas à aprendizagem dos alunos. Este estudo tomou como objeto de análise os manuais da coleção "HIS- TÓRIA - Projeto Araribá"2 , de 5* a 8* séries; nos quatro volúmes da coleção, cada unidade é acompanhada de urna proposta de a- 2 Obra coletiva concebida, desenvoh'ida e produzida pela Editora Moderna. 5' a 8' séries. São Pulo: Moderna, 2006. A escolha deste manual justifica-se porque, no último PNLD, dentre 37 escolas públicas pesquisadas na cidade de Curitiba-PR, 14 o escolheram. Maria Auxiliadora Moreira dos Santos Schmidt 41 vidades para o aluno. Um dos itens das atividades é: "Explique". Em todos os volumes este item diz respeito à análise de textos ou fragmentos de textos históricos, sem recorrer aos significados que a explicação histórica tem para o historiador Assim, o ato de ex- plicar passa a servir como indicação de uma ação didática, como pode ser observado em alguns exemplos encontrados nos manuais da coleção. Explique: 1. Leia e responda. 2. Analise o texto a seguir. 3. Compare o mapa abaixo com o mapa político da Euro- pa, no fim do livro. 4. Analise o gráfico. S. Observe a imagem e responda. Segundo Topolsky (1973), a tarefa da explicação histórica pode ser interpretada, pelo, menos, das seguintes maneiras: 1. Explicação por descrição ou explicação descritiva. 2. Explicação pela indicação da origem de um fenômeno con- creto ou explicação genética. 3. Explicação pela indicação do lugar do fenômeno numa determinada estrutura ou explicação estrutural. 4. Explicação pela definição de uni fenômeno ou explicação definitóna. S. Explicação pela indicação de uma ou mais causas ou expli- cação monocausal ou pluricausaL Um exemplo da explicação descritiva pode se dar quando se pede: "Explique as Cruzadás" ou "Explique a política americana após a Segunda Guerra Mundial". A explicação genética consiste em destacar os sucessivos estágios de desenvolvimento de um fato histórico concreto. Ao fazer uma explicação genética, procura-se responder à pergunta: "Como aconteceu?", que é distinta da per- gunta "Por que aconteceu?". 42 1 Aprender Historia: Perspectivas da Educação Histórica Quando se faz uma pergunta para explicação genética, deseja- se, sobretudo, saber e ter uma descrição dos fatos SUCCSSjVOS que conduziram, por exemplo, à Primeira Guerra Mundial, Existem formas diferentes de se perguntar que dào origem a explicações diferentes. Por exemplo, ao se perguntar sobre a ori- gem do exército polonês após a Segunda Guerra Mundial, quer-se urna explicação sobre os passos do desenvolviment o que deu lu- gar a urna situação predominante em um período dado. Quando se pergunta sobre a origem da política exterior do Primeiro Ministro, o desejo' é que seja dada urna explicação sobre os fatores que ex- plicam seus movimentos, ou seja, quer-se saber as causas. Uma explicação estrutural ou funcional destaca as funções de um elemento específico de um todo concreto. Por exemplo: "Ex- plique o papel de...". Essa explicação revela o papel do historia- dor, que é o de assinalar a função de determinados fatos dentro de estruturas mais amplas. Também é feita uma explicação estrutu- ral ou funcional quando se situam certos processos dentro de uma série maior. Por exemplo, quando as greves na Rússia no perío- do 1905-1906 são interpretadas como componentes da revolução de 1905-1907. Urna explicação definitória é um pouco mais com- plexa, segundo o autor. Para ele, existem duas classes desta expli- cação: - Respostas a perguntas do tipo: O quê (quem) é isso (esse)? - Respostas a perguntas do tipo: Por quê? No primeiro caso, a pessoa que fez a pergunta quer a explica- ção sobre, por exemplo: O que era a Inquisição que mandou Gior- dano Bruno para a fogueira? O que era o Grande Parlamento? O que foi a Guerra da Criméia? Quem eram os plebeus romanos? No segundo caso, a explicação definitória responde à pergunta: "Por quê?" Por exemplo: Por que se chamou.., num determinado perío- do de sua vida, de...?. Maria Auxiliadora Moreira dos Santos Schmidt 43 No entanto, para o autor, somente a explicação causal pode ser considerada explicação no sentido estrito do termo, porque é um procedimento fundamental adotado pelo historiador e se identifi- ca,, segundo ele, com o processo de compreensão histórica. Para Aróstegui (2006, p.361), é preciso entender a natureza da explicação histórica. Segundo ele, a natureza da explicação históri- ca não pode ser confundida com a explicação da ação social, ainda que não possa ser abordada fora do marco dessa mesma ação. Esse autor faz uma abordagem da evolução das idéias sobre a explicação histórica e propõe um "modelo integrado de explica- ção histórica". Segundo Aróstegui, trata-se de uma explicação do social que tem que se basear nas circunstàncias reais em que os sujeitos - indivíduos, grupos, entidades, classes, instituições - exe- cutam as suas ações e significa "argumentar por que um estado social se transforma em outro" (p.386). Ele inclui, ainda, argu- mentações sobre a mudança das sociedades, os resultados e os produtos da mudança em seu sentido temporal, na dimensão glo- bal e particular, descrevendo seus estados anteriores e posteriores. Para ó autor, essa argumentação sé sustenta nos seguintes pontos: 1. Nas estruturas existentes - toda ação tem um contexto que tor- na possível a sua realização, tem relações estabelecidas e definíveis e urna lógica de funcionamento e regulação:' 2. 'Na ação com o sujeito - todo processo é posto em marcha pela ação de um sujeito ou por urna ação com sujeito, individual ou coletivo, histórico. As causas têm que ser buscadas em cada caso. Do ponto de vista da cognição histórica situada, a explicação histórica constitui parte fundamental da narrativa histórica, pro- cesso inerente à natureza do próprio conhecimento histórico. As- sim, a cognição histórica situada assume como pressuposto da aprendizagem a própria natureza narrativ-istica da ciência da His- tória. RWWW RErW R EV VWWVWRWWWWWWWWW UW 1 Aprender História: Perspectivas da Educação Histórica Maria Auxiliadora Moreira dos Santos Schmidl 1 45 Como a formação da Wisriuij histd,i?1 é um dos pressupostos da aprendizagem na perspectiva de Rüsen (1992; 1993; 2001), é fundamental a Contribuição desse autor para se entender a impor- tinia da narrativa na sua formação. Ele privilegia e analisa a CCII!. iu,,da hitónca como uma forma de consciência humana que está relacionada com a vida humana prática, argumentando que um dos elementos dessa consciência é o tempo, pois o homem, ao estabelecer um quadro interpretativo do que experimenta como mudança de si mesmo e de seu mundo, precisa assenhorear-se do tempo para que possa realizar as intenções do seu agir. O autor questiona: como o resultado da consciência histórica pode ser descrito como uma operação unitária da consciência e como uru processo coerente de pensamento? Ele responde que esta sintetização se realiza nos atos da, fala, por meio da narrativa histórica, destacando que a consciência histórica se constitui me- diante a narrativa sempre que determinadas condições sejam sa- tisfeitas na operação mental ou intelectual. Uma das condições aludidas por Rüsen (2001) diz respeito ao fato de que a narrativa, como constitutiva da consciéncja histórica, recorre a lembranças para interpretar as experiências do tempo. Neste sentido, o passado seria como uma floresta, para dentro da qual os homens, pela narrativa histórica, lançam seu clamor, a fim de co mpreenderem,mediante o que dela ecoa, o que lhes é pre- sente sob a forma de experiência do tempo (mais precisamente: o que mexe com eles) e poderem esperar e projetar um futuro com sentido (RÜSEN, 2001, p.63). Mas não é somente pela lembrança que se recupera o passado. Seja qual for o modo como a crrnsciincia histórica penetra no passa- do, como no itinerário dos arquivos da memória, o impulso para esse retorno é sempre dado pelas experiências do tempo presente: Ou seja, a m#sdi#tia histórica é o local em que o passado é levado a falar, e. este só vem a falar quando questionado; e a questão que o faz falar origina-se da carência de orientação na vida prática atual, diante das suas experiências no tempo. Trata-se de uma lembrança interpretativa que faz presente o passado, no aqui e agora. Uma segunda condição enunciada por Rüsen (2001) é a "repre- sentação de continuidade", que o autor define como a íntima interdependência entre passado, presente e futuro e que serve à orientação da vida humana prática atual. Ou seja, "a narrativa histórica torna presente o passado, de forma que o presente apare- ce como uma continuação no futuro". (p.64). Os critérios determinantes das representações de continuidade formam a terceira condição da narrativa corno operação intelec- tual decisiva para a constituição da consciência histórica. O elemen- to unificador no processo da relação presente, passado, futuro, mediante a narrativa, é a resistência do ser humano à perda de si e seu esforço de auto-afirmação, e se constitui como identidade. A consciência histórica se constitui mediante a operação gené- rica e elementar da vida prática, do narrar, com o qual os homens orientam seu agir e sofrer no tempo. Mediante a narrativa histórica são formuladas representações de continuidade da evolução tem- poral dos homens e seu mundo, instituidoras de identidade, por meio da memória, e inseridas, como determinação de sentido, no quadro de orientação da vida prática humana (RÜSEN, 2001, p.67). Foram tomados também como referência teórica os estudos de Husbands (2003) sobre a narrativa histórica escolar. Para este au- tor, diferentemente dos historiadores, os alunos nas escolas não buscam gerar "novo" conhecimento por meio de evidências e nar- rativas históricas, mas geram novas compreensões históricas pes- soais. Assim, uma das formas como os alunos e professores confe- rem significado ao passado é pensar acerca da construção de nar- rativas ou versões deste passado. 46 J Aprender História: Perspectivas da Educação Histórica .! Maria Auxiliadora Moreira dos Santos Schmidt 47 Segundo Husbands (2003), no ensino de História o emprego da narrativa em aula e a relação que o aluno estabelece com ela têm sido constantemente associados a um didadsmo ativo do pro- fessor e a uma passividade do aluno. Ele chama a atenção para as sobre-simplificações que constantemente professores esboçam acerca dos personagens e contextos históricos, caricaturando-os ou apresentando-os como arquétipos do bem e do mal. Nestas reduções, dificultam aos alunos, nas relações que estabelecem com as narrativas já produzidas, incluindo a do professor, ou na cons- trução de narrativas, utilizá-las como argumentos e meios para alcançar um fim, ou seja, a construção da compreensão histórica.. A narrativa, portanto, não é um fim por si só, mas sua finalidade é contribuir para gerar. compreensão sobre o passado, ativando o pensamento de quem aprende. Desta forma, ela precisa ser explo- rada em aulas de História, pois narrar significa contar e recontar histórias. Isto significa contar histórias, mas também pedir aos alunos que as recontem: submetê-las a um exame crítico, criando um sentido ao que chamei de verossimilhança e à sua lógica. En- volve uma dúvida construtivamente céptica sobre a natureza das histórias que contamos. Significa relacionar histórias com os princípios organizativos - as idéias de causa, continuidade, mudança - do discurso histórico complexo (HTJSBANDS, 2003 9 p.39). CONSIDERAÇÕES FINAIS As concepções de aprendizagem tomadas como referência nas propostas curriculares e manuais didáticos analisados encontram guarida em teorias psicológicas representadas, atualmente, pela teoria construtivista. Esta adesão tem encaminhado os processos de cognição para fora da ciência da História, a qual tem seus pró- prios processos de elaboração de um aprender especificamente histórico, Como foi apontado neste trabalho. O ato de situar OS processos de cognição fora da epistemologia da História tem con- tribuído para o excesso de "pedagõgização" nos modos de apren- der, o que sugere aprendizagens mais relacionadas com aquisi- ções de competências ou habilidades que não são propriamente históricas. Observa-se, assim, a permanência de lacunas relacionadas às categorias da cognição histórica situada, que possam estabelecer os sentidos e finalidades da aprendizagem da História, tanto nas propostas curriculares como nos manuais destinados a professo- res e alunos. Entende-se que essas lacunas têm provocado o "se- qüestro da cognição histórica" (SCHMJDT; GARCIA, 2007). O uso deste conceito encontra referência nos trabalhos de Faria e Meneghetti (2001), que analisam a ação do atual modelo de pro- dução e sua capacidade de "seqüestrar a subjetividade do traba- lhador e estabelecer mecanismos de controle psicológico, subsu- rnindo-o à lógica do capital". Assim, a subjetividade, ou, usando a expressão empregada por Dubet (1996), a consciência que os su- jeitos têm do mundo e deles próprios, pode ser capturada ou se- qüestrada, restringindo processos de subjetivação, pelos quais os sujeitos se representam e agem, como sujeitos críticos, confronta- dos com uma determinada sociedade e sistema de produção e do- ininação. Entende-se ser possível, por homologia, pensar que as concep- ções de aprendizagem histórica, particularmente em propostas curriculares e manuais didáticos destinados a professores e alu- nos, como no caso brasileiro, têm agido no sentido de seqüestrar a cognição histórica dos sujeitos. Isto ocorre quando eles estabele- cem formas de ensinar e aprender que restringem as possibilida- des de formação de uma consciência histórica que possa contri- buir para o processo de formação de uma contraconsciêncjabistó-
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