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5 - Renascimento

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RENASCIMENTO
	Vicente Keller
Admite-se comumente que a filosofia moderna começa com Descartes. Isto não passa de uma visão simplista e falsa. A filosofia moderna começa com a Renascença. Os séculos XV e XVI apresentam um borbulhamento de ideias, doutrinas e tendências bastante confusas e até incoerentes. Todas, no entanto, apresentam um traço comum: reação contra a Escolástica e, em parte, contra a Igreja e até contra o cristianismo ou qualquer outra religião.
Antes de mais nada, é preciso dar valor aos novos movimentos: o movimento teológico e o movimento científico (sobretudo este último). Se eles não são de ordem filosófica, pois o primeiro é supra-filosófico e o segundo infra-filosófico, ambos tem profundas repercussões filosóficas.
No plano teológico, destaca-se como acontecimento capital a Reforma. Os princípios estabelecidos por Lutero e Calvino, ultrapassam o domínio estritamente teológico. O princípio do “livre exame”, base da nova religião, é uma recusa de toda autoridade em matéria de fé e de moral. Com isso ganha corpo o individualismo, pois cada homem, cada consciência é autônoma. O individualismo conduz, por sua vez, ao subjetivismo. Não só a vida religiosa, como também a vida intelectual transtorna-se com a concepção luterana da fé. A fé, para Lutero, é essencialmente confiança, ou seja, uma adesão do sentimento e da vontade, estranha à razão e até contrária a ela. Deus só pode ser conhecido pela fé e não pela razão que é cega no que tange ao transcendente. O valor e a capacidade da razão se restringe ao conhecimento da natureza. Enfim, a concepção de Lutero da natureza humana intrinsecamente má, corrompida pelo pecado original é uma visão pessimista do ser humano, naturalmente falando. Mas este pessimismo converte-se num otimismo porque a fé basta para a salvação.
No plano científico opera-se uma verdadeira revolução na concepção do mundo. Com Copérnico, Kepler e Galileu nasce a astronomia moderna, o sistema de Ptolomeu é substituído pelo heliocentrismo, dá-se valor sobretudo ao método de observação e experimental. O interesse pela natureza data do século XIII. A Idade Média teve grandes cientistas. Agora começa-se a fazer distinção entre ciência e filosofia. A causa do desenvolvimento científico foi que os homens começaram a investigar a natureza por própria conta e começaram a não se fiar mais em autoridades. Surgem as formulações de hipóteses. A observação e a experiência são métodos estimados. Quanto à observação não se deve não se deve exagerar o seu valor. A observação ordinária não basta, pois facilmente conduz ao erro. Se a natureza responde as hipóteses, estas se tornam teorias. As investigações abrangem os mais variados campos. Leonardo da Vinci descobre, a priori, a circulação do sangue, que foi confirmada por Harvey. Este último dedicou-se também à anatomia. Sua influência foi pequena por não ter publicado os seus estudos. Vesálio faz muitas experiências com animais. Com ele começa a ser usada a experiência controlada. Com Newton aperfeiçoa-se ainda mais a concepção quantitativa da natureza. Outros que contribuíram para o desenvolvimento das ciências: Torricelli, com a invenção do barômetro; Huyguens, com a teoria ondulatória da luz; Robert Boyle, fundador da química moderna, demonstra que a matéria composta, consta de partes componentes mínimas ou elementos últimos.
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Enfim, pode-se indagar: o que era a concepção quantitativo-mecanicista da natureza? Suas características:
Método – um novo método, a indução. Aristóteles, tão combatido nesse tempo, já o conhecia e o achava indispensável. O que Aristóteles não tinha era o aparelhamento, agora mais prático e aperfeiçoado. O verdadeiro Aristóteles seria o primeiro a servir-se desses novos meios. Ora, este verdadeiro “Aristóteles” não era conhecido nem pelos defensores, nem pelos adversários. 
Campo da ciência – restringe-se aos fenômenos e seus processos. É a ciência dos fatos e não das essências. Não se indaga mais como da substância procedem os acidentes e como podem ser entendidos sem sua dependência, mas procura-se compreender, experimentalmente, a interdependência fenomenal dos diversos fatores contidos nos processos. A ideia de substância é substituída pela ideia de função e a de essência das coisas pelas leis. 
Ideia do ser – surge uma nova ideia do ser, chamada causal-dinâmica. O seu fundamento é a quantidade (extensão) da massa e da força. Todo fenômeno depende do “quantum” e do seu peso. Surge a lei da conservação da energia. O mundo é uma máquina que funciona “por si”. Não há necessidade da Providência divina. Mas com isso se ameaça a liberdade do ser humano. O ser humano, como parte da natureza, e sendo que esta está inteiramente determinada, as atividades do homem são também determinadas. O determinismo invade, assim, a esfera humana e abafa a liberdade humana.
A visão mecanicista do mundo pode favorecer o deísmo (teoria que afirma que Deus existe e criou o mundo, mas não tem nenhuma relação com ele nem com suas criaturas), como de fato favoreceu. O desenvolvimento das ciências não abalou a religião, como se afirma muitas vezes gratuitamente. Embora as causas finais fossem postas de lado. Não se abandonou a causalidade como tal. Galileu, por exemplo, afirma que o mundo pode ser explicado matematicamente, Leibniz diz que se deve explicar mecanicamente o que é possível. Apenas se consideram a matemática e a física como estradas reais da ciência. Mas não são consideradas as únicas ciências. No entanto, elas levaram à concepção mecanicista do mundo – o mundo é matematicamente estruturado; a matéria se compõe de átomos e não é nada mais do que extensão e movimento (qualidades primárias); as qualidades secundárias (cor, dor, calor...) não são consideradas mais como propriedades da matéria e sim como existentes no sujeito.

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